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ELETROTÉCNICA Diogo Braga da Costa Souza Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 S719e Souza, Diogo Braga da Costa. Eletrotécnica [recurso eletrônico] / Diogo Braga da Costa Souza, Rodrigo Rodrigues. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado como livro em 2017. ISB N 978-85-9502-055-9 1. Eletrotécnica. 2. Engenharia elétrica. I. Rodrigues, Rodrigo. II. Título. CDU 621.3 Livro_Eletrotecnica.indb IILivro_Eletrotecnica.indb II 06/03/2017 15:20:1306/03/2017 15:20:13 Correção do fator potência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar as grandezas e as características das cargas que interferem no fator de potência. Dimensionar os elementos para correção do fator de potência. Defi nir as vantagens da correção do fator de potência. Introdução Um sistema com fator de potência controlado, isto é, que possui valor quase unitário, possibilita a otimização do sistema elétrico da instala- ção. Isso diminui a taxa de ocupação do sistema de distribuição interna, adiando investimentos e evitando a cobrança do consumo de potência reativa, que é uma taxa cobrada caso o fator de potência seja menor que o valor determinado pelo órgão nacional responsável. No Brasil, o valor mínimo do fator de potência definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é 0,92. Neste capítulo, você vai conhecer os benefícios e as necessidades da aplicação dos métodos de correção do fator de potência e aprender a dimensionar os equipamentos para tal finalidade. Características gerais do fator de potência O fator de potência (FP) é a grandeza referente à relação entre a potência ativa e a potência aparente. Lembre-se: quanto maior for essa relação, maior será a igualdade entre as duas potências. O triângulo de potências da Figura 1 ilustra bem esta grandeza, na qual o ângulo φ representa o seu ângulo: Eletrotecnica_U04_C02.indd 219Eletrotecnica_U04_C02.indd 219 06/03/2017 15:21:5406/03/2017 15:21:54 Figura 1. Triângulo de potências. No triângulo de potências, todas as relações trigonométricas para o triângulo retângulo são válidas, o que permite o relacionamento entre as potências e o ângulo do FP (NAHVI; EDMINISTER, 2014). Onde: S = potência aparente (kVA) P = potência ativa (kW) Q = potência reativa (kVAr) φ = Ângulo do fator de potência Potência aparente A potência aparente é a potência total de consumo da carga formada pela soma vetorial das potências ativa e reativa. Essa potência possui um módulo e um ângulo (o qual é referente ao fator de potência). Sua unidade é o vout-ampère (VA) (NAHVI; EDMINISTER, 2014). Para obter o módulo da potência aparente em circuitos monofásicos, você utiliza a seguinte fórmula: Onde: V = tensão de alimentação da carga. I = corrente total do sistema. E, para expressar essa grandeza, você utiliza a seguinte fórmula: Eletrotécnica220 Eletrotecnica_U04_C02.indd 220Eletrotecnica_U04_C02.indd 220 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Potência ativa A potência ativa é a potência que é transformada em trabalho, como emissão de luz, geração de calor, movimentação de cargas, entre outros tipos de trabalhos. Sua unidade é o watt (W) (NAHVI; EDMINISTER, 2014). Com o levantamento de sua relação no triângulo de potências da Figura 1, esta grandeza é obtida por: Potência reativa A potência reativa é a potência elétrica que não produz trabalho útil, mas que é capaz de produzir potência ativa. Esse tipo de potência é ocasionado por instalações que possuam cargas com características reativas (capacitivas ou indutivas). Sua unidade é o vout-ampère reativo (VAr) (NAHVI; EDMI- NISTER, 2014). Com o levantamento de sua relação no triângulo de potências da Figura 1, esta grandeza é obtida por: Cargas resistivas As cargas resistivas são aquelas que possuem valor de FP unitário, ou seja, toda sua potência demandada é ativa. Assim, a potência aparente possui o mesmo valor da potência ativa, conforme representado na Figura 2 (MARKUS, 2001). Figura 2. Triângulo de potências quando FP = 1. Você já deve conhecer alguns exemplos de cargas puramente resistivas, como as resistências de aquecimento (chuveiro) e a lâmpada incandescente (cujo filamento é uma resistência de tungstênio). 221Correção do fator potência Eletrotecnica_U04_C02.indd 221Eletrotecnica_U04_C02.indd 221 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Cargas indutivas As cargas indutivas são cargas formadas por bobinas, comumente presentes em transformadores e motores, o que proporciona o consumo de potência reativa indutiva, atrasando a corrente em relação à tensão. As cargas elétricas comuns com essa característica não são puramente indutivas, fazendo o fator de potência ter um valor menor que 1, mas não zero (MARKUS, 2001). Figura 3. Diagrama fasorial de uma carga indutiva. Cargas capacitivas As cargas capacitivas são cargas que atrasam a tensão em relação à cor- rente nos sistemas elétricos. Em sua maioria, essas cargas são constituídas com equipamentos que possuem capacitores de entrada, como as fontes de alimentação presentes em computadores e lâmpadas LED. Outra carga capacitiva muito usual é a aplicação de capacitores para correção do fator de potência. Como estes componentes possuem apenas a finalidade de correção, eles consomem, teoricamente, apenas potência ativa (MARKUS, 2001). As cargas elétricas com características capacitivas possuem valor de fator de potência menor que 1. Eletrotécnica222 Eletrotecnica_U04_C02.indd 222Eletrotecnica_U04_C02.indd 222 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Figura 4. Diagrama fasorial de uma carga capacitiva. Os elementos elétricos com características resistivas transformam toda energia elétrica entregue em trabalho. No entanto, essa característica não garante que este tipo de elemento possua alto rendimento, ela apenas determina que toda potência demandada é ativa. Por isso, não confunda fator de potência com rendimento! Cálculo da correção do fator de potência A correção do fator de potência é realizada pela inserção de um componente elétrico cujo consumo de potência reativa seja o contrário do consumo reativo do sistema. Ou seja, em sistemas cujo FP é demasiado indutivo, você deve inserir cargas capacitivas. Em sistemas com FP muito capacitivo, você precisa inserir cargas indutivas. Estes elementos de correção de FP muitas vezes não realizam trabalho de conversão de energia, sendo então instalados apenas com a fi nalidade da correção do FP. Outra característica do cálculo do fator de potência é que não é necessária a correção de toda a potência reativa do sistema. O objetivo aqui é que seu valor alcance um valor permitido conforme a legislação vigente. Na correção do fator de potência, não ocorre a variação da potência ativa do circuito, mas, sim, a variação da potência reativa. Assim, a correção tem a finalidade justamente de fazer essa redução (MARKUS, 2001). 223Correção do fator potência Eletrotecnica_U04_C02.indd 223Eletrotecnica_U04_C02.indd 223 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Para determinar o valor da potência reativa a ser corrigida, você deve calcular o valor da potência reativa do circuito atual e, depois, subtrair do valor da potência reativa com o fator de potência que deve ser alcançado: Considerando que: Em que: Qc = potência reativa de correção. P1, Q1, S1, φ1 = são as grandezas iniciais do circuito (sem a correção). P2, Q2, S2, φ2 = são as grandezas finais do circuito (após a correção). A maioria dos capacitores aplicados na correção do FP é dimensionada pelo valor da tensão de aplicação e pela potência ativa a ser compensada. Assim, o cálculo da capacitância do capacitor é necessário apenas quando o elemento de correção utilizar capacitores não dedicados a essa finalidade. Com o valor da potência reativa de correção, é possível obter o calor da reatância do elemento de correção, logo, sua especificação.Como o tipo de correção mais comum é o de excedentes reativos indutivos, você vai ver a seguir o método de obtenção da capacitância de correção. Em que: Xc = reatância capacitiva necessária para compensação do FP. C = capacitância para correção do FP. f = frequência da rede. Eletrotécnica224 Eletrotecnica_U04_C02.indd 224Eletrotecnica_U04_C02.indd 224 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Correção de FP em circuitos trifásicos Em circuitos trifásicos, a correção do fator de potência é realizada por meio de um banco de capacitores. Este elemento é constituído de, no mínimo, três capacitores iguais, para que não haja desequilíbrio de correção entre as fases (MARKUS, 2001). Para o cálculo dos elementos de correção, você deve prestar atenção ao nível de tensão aplicada em cada capacitor. Lembre-se de que a tensão de linha (tensão entre fases) pode não ser igual à tensão de fase (tensão direta no capacitor) se o banco estiver ligado em estrela. Lembre-se ainda de que as potências trifásicas são aplicadas em todo o sistema de compensação. Assim, você precisa transformar essas potências em potências monofásicas (potências em cima de cada capacitor), utilizando, para isso, a seguinte fórmula: Onde: P1~= potência monofásica; P3~= potência trifásica. Um dispositivo Z, de FP = 0,7(indutivo) e consumo de 2,4kW, é alimentado por um gerador monofásico CA 127 V/60 Hz. Determine o valor da capacitância de correção do FP para o valor de 0,92. Resolução: Esse valor obtido não é comercial e, para uma escolha segura, você deve escolher o capacitor com valor comercial acima do calculado, cuja tolerância não permita que o FP seja menor que o valor estipulado. 225Correção do fator potência Eletrotecnica_U04_C02.indd 225Eletrotecnica_U04_C02.indd 225 06/03/2017 15:21:5506/03/2017 15:21:55 Vantagens da correção do fator de potência O controle do valor do FP em valores próximos a 1 proporciona uma série de vantagens à instalação elétrica da empresa. Essas vantagens estão relaciona- das à redução da corrente que circula nos seus condutores de alimentação, e representam: eficiência no consumo de energia elétrica. adiamento de investimentos na instalação. redução no custo de instalação de equipamentos (principalmente refe- rente a cabeamentos). redução da perda joulica nos condutores da instalação. menor queda de tensão no sistema, melhorando, assim, a qualidade da energia. Vamos verificar essa redução em um exemplo simples de uma instalação trifásica com tensão de alimentação 220 V, cujo consumo é de 100 Kw. Seu FP é igual a 0,75, e desejamos corrigi-lo para 0,95. Nesse exemplo, há uma redução de 73,67 A no valor da corrente elétrica, gerando uma redução de perdas joulicas nos cabos (perdas relacionadas à resistência dos cabos, Pj = R · I 2) de, aproximadamente, 38%. A seção do cabo, no melhor caso, é reduzida de 150 para 95 mm² (WEG, [2015]). As vantagens econômicas são visíveis para a empresa, principalmente na redução do custo da energia elétrica, devido à isenção da cobrança do con- sumo de potência reativa. No Brasil, de acordo com a Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), atualizada em alguns aspectos pela Resolução Normativa nº 569, de 23 de julho de 2013, as concessionárias de energia podem cobrar o consumo reativo de instalações cujo FP alcance valores menores que 0,92, no período de consumo, de consumidores que recebem níveis de tensão acima de 2,3 kV, os denominados consumidores classe A (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2015). Eletrotécnica226 Eletrotecnica_U04_C02.indd 226Eletrotecnica_U04_C02.indd 226 06/03/2017 15:21:5606/03/2017 15:21:56 Para a concessionária de energia elétrica, além das vantagens comuns em relação à empresa, é possível (WEG, [2015]): obter um menor custo de geração; reduzir a taxa de ocupação das redes de transmissão e de distribuição; proporcionar uma maior entrega de potência ativa aos consumidores. Para saber mais sobre os cuidados na aplicação e instalação de capacitores para a correção do fator de potência, leia o Manual para Correção do Fator de Potência (WEG, [2015]). 1. Marque a opção que contém um possível problema ocasionado pelo baixo valor do fator de potência de uma instalação: a) A ocorrência de uma elevação do valor da potência ativa da instalação. b) A corrente elétrica de alimentação é menor que a necessária para o fornecimento de potência ativa. c) Redução das perdas joulicas nos condutores elétricos da instalação. d) A isenção do pagamento do excedente de consumo de potência reativa. e) Superdimensionamento de condutores para a instalação elétrica. 2. A instalação elétrica de uma empresa apresenta consumo mensal de 1,7 MW com fator de potência indutivo 0,866. Qual é o valor da potência reativa a ser compensada e qual tipo de elemento deve ser instalado para a correção do fator de potência para o valor de 0,92? a) Instalação de elemento capacitivo que compense uma potência reativa de aproximadamente 982 kVAr. b) Instalação de elemento indutivo que compense uma potência reativa de aproximadamente 982 kVAr. c) Instalação de elemento capacitivo que compense uma potência reativa de aproximadamente 257 kVAr. d) Instalação de elemento indutivo que compense uma potência reativa de aproximadamente 257 kVAr. 227Correção do fator potência Eletrotecnica_U04_C02.indd 227Eletrotecnica_U04_C02.indd 227 06/03/2017 15:21:5606/03/2017 15:21:56 e) Instalação de elemento capacitivo que compense uma potência reativa de aproximadamente 724 kVAr. 3. Especifique o capacitor necessário para corrigir o fator de potência para 0,95 de um motor monofásico com as seguintes especificações: V = 127 V, I = 20 A, F = 60 Hz e FP = 0,85. a) C = 220,05 uF, 127 V. b) C =103,35, 127 V. c) C = 103,35 uF, 220V. d) C = 68,79 uF, 220 V. e) C = 220,05 uF, 220 V. 4. Um sistema trifásico – com especificações 220 V, 25 A, 60 Hz e FP indutivo = 0,89 – necessita de capacitores para correção do fator de potência para o valor de 0,92. Sabendo que no estoque da empresa só existem capacitores para 127 V, determine qual é o fechamento dos capacitores e qual é a capacitância necessária para essa finalidade. a) Fechamento estrela de três capacitores de 238,05 uF. b) Fechamento triângulo de três capacitores de 79,35 uF. c) Fechamento estrela de três capacitores de 40,11 uF. d) Fechamento triângulo de três capacitores de 79,35 uF. e) Fechamento estrela de três capacitores de 238,12 uF. 5. De acordo com os métodos usuais de correção do fator de potência, marque a opção correta: a) Para correção de fator de potência indutivo, não é possível a aplicação de motores síncronos, pois estes se comportam sempre como carga indutiva. b) Instalações em que são utilizados poucos motores e muitos computadores, as lâmpadas de LED possuem fator de potência tendencialmente indutivo. c) Para correção de fator de potência indutivo, é possível a aplicação de motores síncronos, pois estes se comportam sempre como carga capacitiva. d) Os capacitores são utilizados para correção do fator de potência em instalações nas quais o fator de potência é indutivo, sendo que esse componente não permite uma correção linear do fator de potência, pois os bancos de capacitores utilizados não possuem capacitâncias variáveis. e) Os capacitores são utilizados para correção do fator de potência em instalações nas quais o fator de potência é capacitivo, sendo que esse componente não permite uma correção linear do fator de potência, pois os bancos de capacitores utilizados não possuem capacitâncias variáveis. Eletrotécnica228 Eletrotecnica_U04_C02.indd 228Eletrotecnica_U04_C02.indd 228 06/03/2017 15:21:5606/03/2017 15:21:56 AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Condições gerais de fornecimento de energia elétrica. Brasília: ANEEL, 2015. Disponívelem: <http://www2.aneel.gov.br/ arquivos/PDF/REN2010414_Texto_Atualizado_Compacto(rev_670_2015).pdf>. Acesso em: 07 jan. 2017. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010. Brasília: ANEEL, 2010. Disponível em: <http://www.aneel.gov. br/documents/656877/14486448/bren2010414.pdf/3bd33297-26f9-4ddf-94c3- f01d76d6f14a?version=1.0>. Acesso em: 07 jan. 2017. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa nº 569, de 23 de julho de 2013. Brasília: ANEEL, 2013. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/ audiencia/arquivo/2012/065/resultado/ren2013569.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2017. MARKUS, O. Circuitos elétricos: corrente contínua e corrente alternada. São Paulo: Érica, 2001. NAHVI, M.; EDMINISTER, J. A. Circuitos elétricos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014. (Coleção Schaum). WEG. Manual para correção do fator de potência. Jaraguá do Sul: WEG, [2015]. Disponível em: <http://ecatalog.weg.net/files/wegnet/WEG-correcao-do-fator-de-potencia-958- -manual-portugues-br.pdf>. Acesso em: 05 jan. 2017. Leitura recomendada PEREIRA, R. F. et al. Correção do fator de potência: estudo de viabilidade da implantação de um banco capacitor em uma empresa de mineração localizada em Cataguases - MG. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO, 35., Fortaleza. Anais... Fortaleza: ENEGEP, 2015. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ TN_STP_214_267_27339.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2017. 229Correção do fator potência Eletrotecnica_U04_C02.indd 229Eletrotecnica_U04_C02.indd 229 06/03/2017 15:21:5606/03/2017 15:21:56 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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