Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Séries Numéricas MÓDULO 1 - AULA 10 Aula 10 – Séries Numéricas Metas da aula: Definir séries numéricas. Apresentar os primeiros re- sultados para estabelecer a convergência e a divergência de séries numéricas bem como exemplos de aplicação dos mesmos. Objetivos: Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: • Saber resultados básicos estabelecendo a convergência e a divergência de séries numéricas bem como suas aplicações em exemplos concretos. Introdução às Séries Numéricas Nesta aula iniciaremos nosso estudo sobre as séries numéricas. Estas nada mais são que seqüências (sn) onde o termo geral é escrito na forma sn = x1 + x2 + · · ·+ xn para alguma seqüência de números reais (xn). Definição 10.1 Se x = (xn) é uma seqüência em R, então a série gerada por x é a seqüência s = (sn) definida por s1 := x1 e sn+1 := sn + xn+1. Assim, temos sn = x1 + x2 + · · ·+ xn, para todo n ∈ N. Os números xn são chamados os termos da série e os números sn são chama- dos as somas parciais dessa série. Se lim sn existe, dizemos que a série é convergente e chamamos esse limite a soma dessa série. Se o referido limite não existe, dizemos que a série s é divergente. É usual se adotar as notações ∑ xn ou ∞∑ n=1 xn (10.1) para designar a série (sn) gerada por (xn) como na Definição 10.1. No caso de uma série ∑ xn convergente é usual também usar-se as notações em (10.1) para denotar o lim sn. Portanto, as expressões em (10.1) 137 CEDERJ ANÁLISE REAL Séries Numéricas poderão ser usadas tanto para denotar a série, seja ela convergente ou diver- gente, como o limite da mesma, no caso em que for convergente. Quando houver risco de confusão será mencionado explicitamente o significado dessas expressões no contexto em questão. Em alguns casos, a seqüência x geradora da série pode estar definida a partir de um ı́ndice inicial n0 ∈ N ∪ {0} diferente de 1, como n0 = 0, 2, 5, etc, isto é, x := (xn) ∞ n=n0 . Em tais casos usaremos a notação ∞∑ n=n0 xn para denotar tanto a série como o seu limite, no caso em que este existe. Por exemplo, ∞∑ n=0 1 n! , ∞∑ n=4 n (n− 1)(n− 2)(n− 3) , etc. Exemplos 10.1 (a) Você certamente já está bastante familiarizado com as séries geométricas. Uma tal série é gerada por uma seqüência da forma x := (rn)∞n=0 onde r ∈ R e, portanto, se escreve ∞∑ n=0 rn = 1 + r + r2 + · · ·+ rn + · · · . (10.2) Como já foi visto anteriormente, se |r| < 1, então a série converge a 1/(1− r). De fato, se sn := 1 + r + r2 + · · ·+ rn para n ≥ 0, tomando a diferença entre sn e r vezes sn, obtemos após simplificações sn(1− r) = 1− rn+1. Portanto, sn = 1 1− r − rn+1 1− r , donde segue que ∣ ∣ ∣ ∣ sn − 1 1− r ∣ ∣ ∣ ∣ ≤ |r| n+1 |1− r| . Como |r|n+1 → 0 quando |r| < 1, conclúımos que a série (10.2) converge a 1/(1− r) se |r| < 1. (b) Consideremos a série gerada por ((−1)n)∞n=0: ∞∑ n=0 (−1)n = 1− 1 + 1− 1 + · · · . (10.3) CEDERJ 138 Séries Numéricas MÓDULO 1 - AULA 10 Temos então que sn = 1 se n ≥ 0 é par e sn = 0 se n é ı́mpar; isto é, a seqüência de somas parciais é (1, 0, 1, 0, . . . ). Como essa seqüência não é convergente, a série (10.3) é divergente. (c) Consideremos a série ∑ 1/n(n + 1) e investiguemos a existência do limite ∞∑ n=1 = 1 1 · 2 + 1 2 · 3 + 1 3 · 4 + · · · . (10.4) O truque para analizar essa série é observar que 1 k(k + 1) = 1 k − 1 k + 1 . Portanto, somando-se essas igualdades de k = 1 até n e notando-se que os membros à direita forma uma “soma telescópica”, i.e., (a1 − a2) + (a2 − a3) + (a3 − a4) + · · ·+ (an−1 − an) + (an − an+1), com ak = 1/k, obtemos sn = 1 1 − 1 n+ 1 , donde segue que sn → 1. Portanto, a série (10.4) converge a 1. Apresentamos a seguir uma condição necessária imediata para a con- vergência de uma série, que é bastante útil para determinar casos em que há divergência, porém não é suficiente para determinar convergência. Teorema 10.1 Se a série ∑ xn converge, então lim xn = 0. Prova: Pela Definição 10.1 a convergência de ∑ xn significa que lim sn existe. Agora, xn = sn − sn−1. Com sn e sn−1 convergem ao mesmo limite, xn converge e lim xn = lim sn − lim sn−1 = 0. ¤ Exemplos 10.2 (a) A série geométrica (10.2) diverge se |r| ≥ 1. Isso segue imediatamente do fato de que o termo geral rn não converge a 0 quando |r| ≥ 1. (b) A série harmônica ∑ 1/n diverge. Esse fato foi visto em aula anterior no Exemplo 8.1 (d) onde mostramos que s2n ≥ 1+n/2 e, portanto, sn não é limitada. Essa série constitui um dos mais simples exemplos de que a condição lim xn = 0 não é suficiente 139 CEDERJ ANÁLISE REAL Séries Numéricas para garantir a convergência da série, já que nesse caso xn = 1/n satisfaz tal condição. O seguinte Critério de Cauchy é uma simples reformulação para séries do Teorema 9.1 homônimo para seqüências. A prova é idêntica à do Teo- rema 9.1 e, portanto, vamos omitir. Teorema 10.2 (Critério de Cauchy para Séries) A série ∑ xn converge se, e somente se, para todo ε > 0 existe N0 = N0(ε) ∈ N tal que se m ≥ n > N0, então |sm − sn| = |xn+1 + xn+2 + · · ·+ xm| < ε. (10.5) O próximo resultado é conseqüência imediata do Teorema da Seqüência Monótona e é de grande utilidade. Teorema 10.3 Seja (xn) uma seqüência de números reais não-negativos. Então a série ∑ xn converge se e somente se a seqüência s = (sn) das somas parciais é limitada. Nesse caso, ∞∑ n=1 xn = lim sn = sup{sn : n ∈ N}. Prova: Como xn ≥ 0, a seqüência s = (sn) das somas parciais é monótona não-decrescente, s1 ≤ s2 ≤ · · · ≤ sn ≤ · · · . Pelo Teorema 8.1 (da Seqüência Monótona), a seqüência s converge se, e somente se, é limitada, em cujo caso seu limite é igual a sup{sn : n ∈ N}. ¤ Exemplos 10.3 (a) Mostremos diretamente que a série harmônica ∑ 1/n não satisfaz o Critério de Cauchy para séries. De fato, se m > n temos sm − sn = 1 n+ 1 + · · ·+ 1 m ≤ m− n m = 1− n m . Em particular, se m = 2n temos s2n − sn ≤ 1/2 para todo n ∈ N, o que mostra que a série não satisfaz a condição (10.5) no Teorema 10.2 para ε =≤ 1/2. Uma outra forma engenhosa de mostrar a divergência da série harmônica é a seguinte prova por contradição. Suponhamos que ∑ 1/n seja con- vergente e ponhamos s = ∑ ∞ n=1 1/n. Como tn = ∑n k=1 1/(2k − 1) < CEDERJ 140 Séries Numéricas MÓDULO 1 - AULA 10 s2n−1 e un = ∑n k=1 1/(2k) < s2n, temos então que as séries ∑ 1/(2n− 1) e ∑ 1/(2n) também são convergentes (por quê?). Ponhamos t = lim tn = ∑ ∞ n=1 1/(2n−1) e u = lim un = ∑ ∞ n=1 1/(2n). Como un = sn/2 e s2n = tn + un, temos u = s/2 e t = s/2 (por quê?). Agora, tn − un = n∑ k=1 ( 1 2k − 1 − 1 2k ) = n∑ k=1 1 2k(2k − 1) ≥ 1 2 , e, portanto, temos 0 = s 2 − s 2 = lim tn − lim un ≥ 1 2 > 0, o que nos dá uma contradição, provando que ∑ 1/n diverge. (b) A 2-série ∞∑ n=1 1 n2 é convergente. Como as somas parciais formam uma seqüência crescente (sn), basta mostrar que (sn) possui uma subseqüência que é limitada (por quê?). Seja kn = 2 n−1 e mostremos que (skn) é limitada. Temos sk1 = s1 = 1 e para n > 1 skn = 1 1 + ( 1 22 + 1 32 ) + ( 1 42 + 1 52 + 1 62 + 1 72 ) + · · ·+ ( 1 (2n−1)2 + · · ·+ 1 (2n − 1)2 ) < 1 + 2 22 + 4 42 + · · ·+ 2 n−1 (2n−1)2 = 1 + 1 2 + 1 22 + · · ·+ 1 2n−1 < ∞∑ k=1 ( 1 2 )k = 2. Logo (skn) é limitada, o que mostra que ∑ 1/n2 converge. (c) A p-série ∞∑ n=1 1 np converge quando p é um número real com p > 1. No caso em que p é irracional np := ep log n; a função exponencial ex e sua inversa log x serão definidas rigorosamente e estudadas mais adiante neste curso. Por ora, se preferir, você pode pensar que p é racional. A demonstração é totalmente similar à que foi feita para o caso p = 2. De novo, vamos mostrar que a subseqüência (snk) é limitada, onde 141 CEDERJANÁLISE REAL Séries Numéricas nk = 2 k − 1 e sn = ∑n k=1 1/k p, e dessa forma provar a convergência da seqüência crescente sn. Como no caso p = 2, temos skn = 1 1 + ( 1 2p + 1 3p ) + ( 1 4p + 1 5p + 1 6p + 1 7p ) + · · ·+ ( 1 (2n−1)p + · · ·+ 1 (2n − 1)p ) < 1 + 2 2p + 4 4p + · · ·+ 2 n−1 (2n−1)p = 1 + 1 2p−1 + 1 (2p−1)2 + · · ·+ 1 (2p−1)n−1 < ∞∑ k=1 ( 1 2p−1 )k = 1 1− 2−(p−1) . Portanto, o Teorema 10.3 implica que a p-série converge quando p > 1. (d) A p-série ∞∑ n=1 1 np diverge quando 0 < p ≤ 1. Como np ≤ n quando 0 < p ≤ 1, temos que as somas parciais da p-série sn = ∑n k=1 1/n p são maiores que as somas parciais correspondentes da série harmônica hn = ∑n k=1 1/n; sn ≥ hn. Como a seqüência hn → +∞, o mesmo vale para sn (por quê?), o que prova que a p-série diverge se 0 < p ≤ 1. (e) A série harmônica alternada, dada por ∞∑ n=1 (−1)n+1 n = 1− 1 2 + 1 3 − · · ·+ (−1) n n + · · · (10.6) é convergente. Ponhamos sn = ∑n k=1(−1)k+1/k. Temos s2n = ( 1 1 − 1 2 ) + ( 1 3 − 1 4 ) + · · ·+ ( 1 2n− 1 − 1 2n ) , o que mostra que a subseqüência (s2n) é crescente. Da mesma forma, vemos que a subseqüência (s2n−1) é decrescente, já que s2n+1 = 1 1 − ( 1 2 − 1 3 ) − ( 1 4 − 1 5 ) − · · · − ( 1 2n − 1 2n+ 1 ) . Como 0 < s2n < s2n + 1/(2n + 1) = s2n+1 ≤ 1, conclúımos que essas duas subseqüências convergem, pois são limitadas inferiormente por 0 e superiormente por 1, e para o mesmo limite, devido a igualdade s2n + 1/(2n + 1) = s2n+1. Logo a seqüência de somas parciais (sn) converge, provando que a série harmônica alternada é convergente. CEDERJ 142 Séries Numéricas MÓDULO 1 - AULA 10 Testes de Comparação Em seguida vamos apresentar dois resultados simples que indicam como determinar a convergência de uma série por meio de comparação com uma série cuja convergência já esteja estabelecida. Teorema 10.4 (Teste da Comparação) Sejam x = (xn) e y = (yn) seqüências em R e sonhamos que para algum n0 ∈ N se tenha 0 ≤ xn ≤ yn para n > n0. (10.7) Então: (i) A convergência de ∑ yn implica a convergência de ∑ xn; (ii) A divergência de ∑ xn implica a divergência de ∑ yn. Prova: (i) Suponhamos que ∑ yn seja convergente e, dado ε > 0, seja N1 = N1(ε) tal que se m > n ≥ N1, então yn+1 + · · ·+ ym < ε. Se m > n > N0 := max{n0, N1}, então segue que 0 ≤ xn+1 + · · ·+ xm ≤ yn+1 + · · ·+ ym < ε, donde segue a convergência de ∑ xn. A afirmação (ii) é a contrapositiva de (i). ¤ O seguinte resultado é bastante útil em casos em que é dif́ıcil estabelecer as desigualdades em (10.7). Teorema 10.5 (Teste da Comparação Limite) Sejam x = (xn) e y = (yn) seqüências de números estritamente positivos e suponhamos que existe o seguinte limite em R: r := lim ( xn yn ) . (10.8) Temos: (i) Se r 6= 0 então∑ xn é convergente se e somente se ∑ yn é convergente. (ii) Se r = 0 e se ∑ yn é convergente, então ∑ xn é convergente. 143 CEDERJ ANÁLISE REAL Séries Numéricas Prova: (i) Segue de (10.8) que existe N0 ∈ N tal que 12r ≤ xn/yn ≤ 2r para n > N0, donde r 2 yn ≤ xn ≤ 2ryn para n > N0. Aplicando o Teste da Comparação 10.4 duas vezes, obtemos a afirmação (i). (ii) Se r = 0, então existe N0 ∈ N tal que 0 < xn ≤ yn para n > N0 (por quê?), de modo que podemos aplicar diretamente o Teorema 10.4. Exemplos 10.4 (a) A série ∑ 1/(n2 + n+ 1) é convergente. Claramente temos 0 < 1 n2 + n+ 1 ≤ 1 n2 . Logo a convergência dessa série segue da convergência da 2-série pelo Teorema 10.4. (b) A série ∑ 1/(n2 − 3n+ 3) é convergente. De fato, seja xn = 1/(n 2 − 3n + 3) e yn = 1/n2. Observe que não vale xn ≤ yn. Mas temos xn yn = n2 n2 − 3n+ 3 = 1 1− (3/n) + (3/n2) → 1. Logo, podemos aplicar o Teste da Comparação Limite 10.5 para con- cluir que a série dada converge, como conseqüência da convergência da 2-série. (c) A série ∑ 1/ √ n+ √ n é divergente. Façamos xn := 1/ √ n+ √ n e yn := 1/ √ n. A série ∑ yn é a 1 2 -série que é divergente. Temos xn yn = √ n √ n+ √ n = 1 √ 1 + 1/ √ n → 1. Logo, segue do Teste da Comparação Limite que a série dada diverge. (d) A série ∞∑ n=0 1 n! é convergente. Aqui, usamos a convenção 0! := 1. Já vimos em aula passada que a seqüência das somas parciais dessa série, ( n∑ k=0 1 k! ) ∞ n=0 , converge e seu limite define o número e. Vamos, CEDERJ 144 ANÁLISE REAL Séries Numéricas (c) ∑ 1/(n2 + n+ 2)3/4; (d) ∑ 1/(n3 − n2 + 1)1/3. 6. Seja ∞∑ n+1 xn tal que (xn) é uma seqüência decrescente de números es- tritamente positivos. Se (sn) denota a seqüência das somas parciais mostre (agrupando os termos de s2n de dois modos distintos) que 1 2 (x1 + 2x2 + · · ·+ 2nx2n) ≤ s2n ≤ ( x1 + 2x2 + · · ·+ 2n−1x2n−1 ) + x2n . Use essas desigualdades para mostrar que ∞∑ n=1 xn converge se, e somente se, ∞∑ n=1 2nx2n converge. Esse resultado é muito poderoso e é freqüentemente chamado Teste da Condensação de Cauchy. 7. Use o Teste da Condensação de Cauchy para estabelecer a divergência das séries: (a) ∞∑ n=2 1 n log n ; (b) ∞∑ n=3 1 n(log n)(log log n) ; (c) ∞∑ n=4 1 n(log n)(log log n)(log log log n) . 8. Use o Teste da Condensação de Cauchy para estabelecer a convergência das séries ∞∑ n=2 1 n(log n)2 , ∞∑ n=3 1 n(log n)(log log n)2 . CEDERJ 146
Compartilhar