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monografia Ditadura Militar 1964


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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
UNIDADE ACADÊMICA DE PASSOS
CURSO DE HISTÓRIA
KEMILY ORTIS DELFINO
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A VOZ DA MINORIA: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-1985)
PASSOS
2016
KEMILY ORTIS DELFINO
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A VOZ DA MINORIA: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-1985)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em História da Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade Acadêmica de Passos, como requisito parcial para a aquisição do título de licenciada em História.
Orientador Professor Me. Itamar Teodoro de Faria
PASSOS
2016
KEMILY ORTIS DELFINO
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A VOZ DA MINORIA: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-1985)
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
 
COMISSÃO JULGADORA
Presidente e orientador: Prof. Me Itamar Teodoro de Faria
Primeiro examinador.................................................................................. 
Segundo examinador..................................................................................
Passos ____/_____/________
Dedico esse trabalho a todos da minha família, principalmente meus pais que se esforçaram para que eu pudesse estudar e a memória de meu grande amigo Leonardo Ferreira Pádua, enfim a todos aqueles que apesar de todas as adversidades sempre acreditaram que eu seria capaz de atingir meus objetivos.
AGRADECIMENTOS
O primeiro agradecimento parte da força Divina que me abençoou para que eu tivesse calma, 
Agradeço a minha família, pela paciência e compreensão que tiveram comigo na construção deste trabalho, meus amigos por me ajudarem, dando suporte psicológico e colo amigo, aos amigos do “cursin” Núcleo Dércio Andrade - Educafro Passos, por terem me ajudado a escolher minha profissão e me proporcionar um novo olhar sobre as coisas. 
Aos meus queridos mestres educadores que tive durante a vida. 
Ao meu queridíssimo orientador Ita, que me ajudou a elaborar este trabalho de conclusão de curso, ajudando-me não apenas com material para a proporção deste trabalho, mas também pelo incentivo, positividade e calma que sempre me apresentou quando o ocorria. 
“Antes de dar certo, dá errado. Dá muito errado. Você se desespera, acha que vai enlouquecer, perde a noção. E aí, finalmente, a felicidade chega. ”
Matheus Rocha
LISTA DAS FONTES IMAGÉTICAS 
Foto 1 - Bandeira Da Central Única Dos Trabalhadores De São Paulo.........................15
Foto 2 - Manifestação Do Movimento Da Educação 1980.............................................20 
Foto 3 - Aspetos Da Exploração Do Trabalho Feminino E Infantil Em Diversos Setores Nos Finais Do Sec. XIX.................................................................................................25 
Foto 4 - Mulheres Protestam Contra A Censura............................................................30 
Foto 5 - Passeata Dos Cem Mil.....................................................................................35 
Foto 6 - XXX Congresso Da União Nacional Dos Estudantes Em Ibiúna, São Paulo….45 
Foto 7 - Contra A Ditadura, Estudantes Manifestam Na Universidade De Brasília........50 
Foto 8 - A Reflexão Do Brasil Foi Suspensa Pelo Golpe De 1964..................................55 
Foto 9 - Manifestação Da União Dos Novos Sujeitos Políticos....................................60 
Foto 10 - Karl Marx........................................................................................................65 
Foto 11 - Martin Luther King Em Discurso “I Have A Dream”.........................................70 
Foto 12 - Apresentação De Caetano Veloso No Festival Da Record 1967..................75 
Foto 13 - Faixa De Protesto UEMG Resiste.................................................................80 
Foto 14 - Atores Representativos Da Cultura Jovem Nos Cinemas: À Direita James Jean, No Centro Marlon Brando E À Esquerda Elvis Presley..........................................85
Foto 15 - Movimento Estudantil 1968...........................................................................90 
Foto 16 - 11 De agosto De 1937, Surgimento Da União Nacional Dos Estudantes...95. 
Foto 17 - 11 De agosto: Estudantes Que Estavam Protestando Contra A Ditadura Militar São Duramente Reprimidos.............................................................................100 
Foto 18 - João Goulart................................................................................................105 
Foto 19- Presidentes Do Período Ditadura Militar......................................................110 
Foto 20 - Militares Da Força Pública - Atual Polícia Militar - Protegendo O Palácio Da Guanabara, No Rio De Janeiro, Em 31 De Março De 1964.......................................115 
Foto 21 - Festival MPB 1967.......................................................................................120 
Foto 22 - Chico Buarque, Tom Jobim E Vinicius De Morais.........................................125 
Foto 23- Exilados Em Cuba.......................................................................................130
Foto 24 - Passeata Do Cem Mil.................................................................................135 
Foto 25 - Passeata Diretas Já....................................................................................140
Foto 26 - A Menina Rachel Clemens Se Negou A Cumprimentar O Ex-Presidente Figueiredo..............................................................................................................................145
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Independência Ou Morte De Pedro Américo.................................................10 
Figura 2 - Trabalhadores Rurais Do Século XX.............................................................15 
Figura 3 - Slogan Da Campanha “Basta De Machismo, Racismo E Homofobia. Por Um Mundo Livre De Opressão E Exploração”.....................................................................20 
Figura 4 - Slogan Do Coletivo Queerdel – Transgressão E Memória De Gêneros E Sexualidades Da Região Do Cariri................................................................................25 
Figura 5 - Quadro De Tarsila Do Amaral, Operários......................................................30 
Figura 6 - Caboclo Da Umbada.....................................................................................35 
LISTAS DE SIGLAS
ME - Movimento Estudantil
AI - Ato Institucional
ALN - Ação Libertadora Nacional
PCBR - Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
UNE - União Nacional dos Estudantes
USP - Universidade de São Paulo
NMS - Novos Movimentos Sociais
PSD - Partido Social Democrata
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional
CGT - Comando Geral dos Trabalhadores
IPES - Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais
Ibad - Instituto Brasileiro de Ação Democrática
MAC - Movimento Anti Comunismo
UCF - União Cívica Feminina
PCB - Partido Comunista Brasileiro
FPN - Frente Parlamentar Nacionalista
UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
AP - Ação Popular
DI’s - Dissidências Estudantis Comunistas
CEB’s - Comunidades Eclesiais de Base 
LSN - Lei de Segurança Nacional
PM - Polícia Militar
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PDT - Partido Democrático Trabalhista
DCE - Diretório Central dos Estudantes
PGE - Procuradoria Geral do Estado
MPB – Música Popular Brasileira
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. DESCREVENDO OS MOVIMENTOS SOCIAIS.......................................2
	1.1. Configurações dos movimentos sociais.........................................................2 
	1.2. Os movimentos sociais na História................................................................61.3. Os movimentos sociais no Brasil...................................................................9 
CAPÍTULO 2. HISTORIOGRAFIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS...............................15
	2.1. Marxismo e os movimentos sociais .............................................................16 
	2.2. Identidade dos movimentos sociais.............................................................19 
CAPÍTULO 3. A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NA DITADURA MILITAR NO BRASIL...................................................................................................................27
	3.1. O Nascimento e desenvolvimento dos Movimento Estudantil .....................27 
	3.2. A Ditadura Militar no Brasil ..........................................................................33 
	3.3. A luta e a resistência pela democracia e liberdade.......................................37 
CAPÍTULO 4 PERCURSO METODOLÓGICO.............................................................40
	4.1. Caracterização do estudo............................................................................45
	4.2. Caracterização do local de estudo...........................................................45
	4.3. População estudada....................................................................................46
	4.4. Organização dos dados............................................................................46
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................47
REFERÊNCIAS............................................................................................................48
RESUMO
O Brasil viveu sob o regime ditatorial de 1964 a 1985, período no qual liberdade de expressão e outros direitos civis foram fortemente censurados pelos governantes autoritários. Os movimentos sociais articularam ações que reivindicavam mudanças políticas nessa época, lutando pelo restabelecimento de direitos e pela liberdade democrática. O movimento estudantil foi um dos protagonistas dessa história de luta, pois tinha o foco de resistência e mobilização social perante à Ditadura Militar, organizavam protestos e manifestações e influenciaram bastante na história política do Brasil. Assim, o trabalho tem como objetivo apontar as mudanças ocorridas na Ditadura Militar com a ação dos movimentos sociais, detendo-se especialmente no movimento estudantil. Além disso, descreve os motivos do surgimento e atuação do movimento estudantil durante o período ditatorial e mostra que os movimentos sociais faziam reivindicações sociais e não só políticas. Esta pesquisa, descritiva com abordagem qualitativa, utiliza como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental, a partir do que faz uma leitura e análise crítica. Com a pesquisa, percebeu-se que o movimento estudantil teve um protagonismo importante na resistência à ditadura e na luta pelo restabelecimento de direitos e da democracia.
Palavras-chave: Movimento estudantil; Movimentos sociais; Ditadura militar.
INTRODUÇÃO 
	O Brasil viveu sob o regime ditatorial entre1964 e 1985.Foram 21 anos nos quais a liberdade de expressão e outros direitos foram censurados pelos governantes autoritários. Dentre outros agentes, os movimentos sociais provocaram mudanças políticas nesse período, pois lutavam pelos direitos e liberdade democrática.
	O movimento estudantil, foi um dos protagonistas dessa história, pois tinha o foco de resistência e mobilização social perante à Ditadura Militar, organizavam protestos e manifestações e influenciaram bastante na história política do Brasil. Assim, o trabalho tem como objetivos: apontar as mudanças ocorridas na Ditadura Militar após a entrada dos movimentos sociais, focando-se no movimento estudantil; descrever os motivos do surgimento e atuação do movimento estudantil durante o período ditatorial e mostrar que os movimentos sociais faziam reivindicações sociais e não só política.
Na década de 1960, quando o Brasil passava pelo período ditatorial a democracia começava a sofrer a repressão por parte dos militares, os quais queriam que o povo não tivesse expressão, começa a surgir a partir daí movimentos que buscavam mudanças, começar a reivindicar seus direitos, com passar do tempo esses movimentos começam a crescer, cada vez mais pessoas começam a participar dos atos, em outros países a manifestação dos movimentos sociais é comum, já no Brasil isso vem mudando e a população brasileira vem se tornando cada vez mais participativa.
	De caráter conflitual e coletivo o movimento social demonstra ter um poder que tende a provocar mudanças nos privilégios, nas regras e valores, na qual uns requerem luta pela opressão e outros já lutam pela conservação.
	Para se compreender um movimento social, deve-se sintonizar no período histórico que ele é desenvolvido, o movimento operário é um grande clássico dos movimentos sociais, podemos dizer que é ponto de partida, pois acreditam que podiam livrar a sociedade do sistema capitalista, o que gerou uma revolta em muitos países europeus, pois os trabalhadores não tinham qualquer tipo de direito, estes que foram sendo conquistados com decorrer dos anos com greves e manifestações. Outro grande movimento da história é o feminista, as mulheres estão cada vez ganhando seu espaço, seu respeito e seus direitos, quebrando preconceitos e tabus, conquistando o mundo, lutando pela liberdade. 
	No Brasil, os movimentos sociais são caracterizados pelas carências, insatisfações e desejos. A História do Brasil é marcada pela exploração e escravização, então o século XVIII é marcado por muitas rebeliões e revoltas dos escravos. A primeira manifestação estudantil veio em 1937, o movimento estudantil teve uma alta participação contra o regime militar, a forte participação veio em 1968, com a “Passeata dos Cem Mil”.
	A primeira aparição do movimento estudantil na história foi no fim do Estado Novo e volta após a Segunda Guerra Mundial com toda força, em 1947, com a campanha “O Petróleo é nosso”. No decorrer da história, existe vários relatos sobre escolas que paralisaram, fazendo assim que os professores juntamente com os alunos lutassem por direitos da educação.
	O movimento estudantil tem sua marca importante, pois é um movimento ousado, a coragem e o persistência de correr atrás daquilo que acreditam, na filosofia que seguem. A Cultura Jovem e a Guerra Fria foram ponto de partida para o surgimento do movimento estudantil. 
	Jovens que estudaram na Universidade de Coimbra sob a influência de ideias liberadoras e revolucionarias, voltam para o Brasil cansados e insatisfeitos, com contato com a Cultura Jovem, começam a ir para ruas. 
	Todo homem tem história, todo país tem passado, também no terceiro capítulo é feito um breve resumo sobre o período que deixou profundas marcas no sistema político, econômico e humano, visto que muitas pessoas morreram, foram exiladas e muitas sumiram, lutavam contra o comunismo, grupos ou pessoas que aparentavam ter ideias ou filosofias neste contorno começam a sofrer ameaças e repressões. O povo não tinha vez e nem voz, deviam apenas obedecer, a democracia e livre expressão não existia. 
	Mas após o fato da morte do estudante militante Edson Luís, os protestos e manifestações aumentam de certa forma que o regime autoritário começa a ficar fraco, foi um período de muita resistência e luta, principalmente pelo movimento estudantil, que reuniam as escondidas para traçar planos para a derrubada do governo. Através da cultura, ou seja, da música, do teatro, da arte que protestavam, letras de músicas de duplo sentido, que quando descoberta era censurada, nascendo assim o Tropicalismo, que foi um movimento romântico de esquerda que sonhavam com país livre e democrático. 
	Com pressão dos movimentos, inclusive e especialmente do estudantil, a Ditadura Militar começa a ficar frágil, com a organização das Diretas Já, o movimento ganha bastante força contra o regime. A Lei 6.683 de 28 de agosto de1979, chamada a Lei da Anistia, foi uma vitória dos militantes e familiares, com grave crise econômica, divida externa e a pressão internacional devido ao desrespeito aos Direito Humanos, a ditadura caminha para seu fim. 
	Esta é uma pesquisa pode ser caracterizada como descritiva de abordagem qualitativa, embasada em pesquisa bibliográfica e documental.
A pesquisa subdivide-se em três partes principais, na primeira é descrito a história dos movimentos sociais no Brasil e pelo mundo, na segunda a historiografia dos movimentos sociais, analisando o marxismo e a identidade dos movimentos sociais pela história e por fim na terceira parte a análise da atuação do movimento estudantil na Ditadura Militar, como nascimento e desenvolvimento, um breve resumo sobre o período e a luta e resistência pela liberdade. Além disso, consta do trabalho: Introdução, Percurso Metodológico e Considerações Finais.
CAPÍTULO 1. DESCREVENDO OS MOVIMENTOS SOCIAS
A nova aparência dos movimentos sociais foi se constituindo em ciclos pela expansão da economia do Brasil, após a metade dos anos de 1960 e no decorrer dos 1970 começam a traçar os contornos definidos já no processo da crise da ditadura militar. No progresso da democracia, os movimentos sociais foram obtendo características diferenciadas e comuns, conforme a prática política. As transformações que a sociedade vem passando, rápidas e lentas, foram de certa forma construídas através das atuações dos movimentos sociais.
1.1. Configurações dos Movimentos Sociais
	Vários sociólogos formularam um modo para conceituar movimentos sociais.
			
Um movimento social existe quando um grupo de indivíduos está envolvido num esforço organizado, seja para mudar, seja para manter alguns elementos da sociedade mais ampla. (COHEN, 1980).
Movimento social é uma coletividade agindo com certa continuidade, a fim de promover ou resistir à mudança na sociedade ou grupo de que é parte. (TURNER e KILLIAN, 1980).
Os movimentos sociais podem ser considerados como empreendimentos coletivos para estabelecer nova ordem de vida. Têm eles início numa condição de inquietação e derivam seu poder de motivação na insatisfação diante da forma corrente da vida, de um lado, e dos desejos e esperanças de um novo esquema ou sistema de viver, do outro lado. (LEE, 1962).
Os movimentos sociais nascem de um grupo que é parte da sociedade, possuem um duplo objetivo, buscam transformação e na maioria das vezes mantem a ordem estabelecida. Eva Maria Lakatos afirma: 
Os movimentos sociais como tendo origem em uma parcela da sociedade global, com característica de maior ou menor organização, certo grau de continuidade e derivando da insatisfação e/ou das contradições existentes na ordem estabelecidas, de caráter predominante urbano, vinculado a determinado contexto histórico e sendo ou de transformação ou manutenção dos status quo. (1997, p. 168). 
Ouve-se dizer sobre movimentos sociais desde a década de 1960, ano que o sistema democrático brasileiro passava por repressão política militar, na qual os governantes não queriam que o povo tivesse voz e vez, mas isso mudou quando começaram a reivindicar seus direitos. A cada dia, esses movimentos crescem, pessoas vão para as ruas pedir e exigir seus direitos. Em países como a França é comum essas manifestações, e, no Brasil também aumentando. 
Movimentos sociais são mobilização, os militantes lutam pelos direitos de cidadania e pela igualdade.
Conforme Tomazi (2000), no decorrer da história surgem vários movimentos sociais e eles estão presentes em todos os tipos de sociedade, como um acontecimento em a humanidade busca mudanças, descreve que os primeiros vestígios de movimentos sociais aparecem na Antiguidade, com os movimentos de escravos e religiosos. Já na Baixa Idade Média são a manifestação dos movimentos dos camponeses-servos e na fase de degradação do feudalismo surgem o movimento dos mercadores. Com o capitalismo consolidado, destacam-se os movimentos dos operários que lutam contra as máquinas, pois estes se viram privados de seus meios originais de trabalho. Cada dia surgem novos movimentos sociais como feminista, ecológico, pacifista entre outros.
A Sociologia oferece abordagens para que posamos chegar a uma conclusão sobre o que é movimento social. Na maioria dos confrontos é eminente que a polícia esteja presente, mas não significa que todo ato causado pelos movimentos sociais tenham envolvimento com a polícia e vice-versa.
A sociedade vai se modificando conforme seus indivíduos, pelo comportamento, costumes e valores que são expressados através dos movimentos sociais. As ações coletivas são o desdobramento dos conflitos abertos que se constituem e forma os movimentos.
A decodificação dos discursos e as representações dos indivíduos fazem em prática são fundamentais para entendê-los, o mesmo acontece com os movimentos sociais e suas ideologias. 
O movimento social possui caráter conflitual e coletivo, aparenta ter um poder o que implica nas mudanças de privilégios, valores e regras, em que alguns lutam pela opressão e outros pela conservação.
Nem sempre os movimentos sociais são feitos por oprimidos, dependendo dos participantes de um evento, o movimento pode antecipar uma situação futura, como por exemplo, a apropriação de terras feitas pelo sem terras.
Gohn (1995), historiadora de paradigma da histórico-estrutural, explica que os movimentos sociais são a chave para a democratização do país, mas para os autores do paradigma culturalista, como Rousseau (1712-1778), que identificaria quais eram os fatores políticos e sociais que mostrariam o poder legítimo. Os movimentos sociais não interferem no poder do Estado, podem apenas influenciar e conseguir resgatar os valores da sociedade capitalista. Autores do paradigma autonomistas, afirmaram que os movimentos sociais não influenciaram no poder do Estado, eles estariam voltados na liberdade na construção de indivíduos com autonomia.
FOTO 1: Bandeira da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo
FONTE: Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (SINDIGRU) (2016, online).
Mas, os movimentos sociais não são só feitos de opressão, é necessário que se perceba que com interesses combatíveis possa-se constituir uma identidade e a partir de aí construir uma nova história, libertando do discurso do silêncio.
A consciência que se adquire com o conhecimento sobre os direitos e deveres na sociedade em algumas questões leva a organização de um grupo, que é constituída por vários adeptos, essas consciências é construída por informações sobre como funciona os meios técnicos, políticos e religiosos fazendo com que os interessados no assunto se aprofundem em tal questão.
Atualmente no Brasil, encontra-se três formas básicas de demandas populares, relativas as necessidades do setor urbano, as sociedades formadas pelas associações de amigos de bairros e associações de favelas, possuem lutas e são movimentos específicos que reivindicam moradia ou equipamentos urbanos, todas possuem objetivos bem parecido, mas suas origens, história, ideologias são aspectos que tornam por seus atos nas ações na vida urbana diferentes.
Meksenas descreve sobre uma situação na zona leste de São Paulo, que cerca de três milhões de pessoas moram e reivindicam melhorias:
 À região é carente de serviços básicos como água, luz, asfalto, transporte, saúde e escola. A situação de extrema miséria desses bairros faz com que a sua população se reúna em organizações como Sociedades Amigos do Bairro, Grupo de Mães, Comunidades Eclesiais de Base ou Grupo de Juventude, para discutir questões referentes à vida, aos problemas e à fé de cada um. (1991, p. 111).
Os movimentos sociais surgiram meio autonomamente com objetivo de reflexão por maioria das vezes pela população pobre e marginalizada, os movimentos sociais ocorrem através de princípio que fundamentam programas institucionais como grupo de Igreja, partidos políticos, sindicatos e outros, com passar do tempo foram desenvolvendo suas filosofias atravésdo trabalho de liderança baseando em outros movimentos organizados.
Os movimentos sociais não são apenas um processo de aprendizagem individual, mas sim da consciência individual, que suas práticas reivindicatórias passam por vários processos de transformações.
No Brasil, por volta dos anos 1980 foi o ponto que mudaram a história do avanço da democracia brasileira, eles orientavam para as relações sociais fossem de uma forma menos forçada. Para reivindicar melhorias nas condições de ensino, era preciso que a população estivesse preparada e bons argumentos, realizaram uma pesquisa na tentativa de conhecer melhor a situação escolar, Meksenas descreve uma situação que ocorreu na Zona Oeste de São Paulo:
Os participantes do “Movimento de Educação” entenderam que teriam que recorrer ao secretário da Educação do Estado de São Paulo, com números de jovens sem escolas, com o número das escolas que só tinham o 1º grau, enfim com o resultado da pesquisa. (MEKSENAS,1991, p. 113).
FOTO 2: Manifestação do Movimento da Educação 1980
			FONTE: Gramática Do Mundo (2016, online).
Gohn (1995) afirma que os temas dos movimentos sociais constituíram se nas grandes novidades nos anos de 1970 e 1980. Segundo Gohn o destaque inicial foi a emergência dos movimentos sociais urbanos que reivindicavam bens e equipamentos coletivos de consumo, usualmente articulados ao nível de bairro ou de uma região. 
Gohn destaca:
Eles tiveram papel de destaque nas frentes de luta contra o regime militar. O tempo passou surgiram novos campos temáticos de luta que geraram novas identidades aos próprios movimentos sociais, tais como na área do meio ambiente, direitos humanos, gênero, questões étnicas raciais, religiosas, movimentos culturais. Alguns movimentos transformaram-se em redes de atores sociais organizados, ou fundiram com ONGs, ou rearticularam se com as novas formas de associativismo que surgiram nos anos 1990; outros entraram em crise e desapareceram. (1995, pp. 7 e 8.).
Gohn (1995), analisa que os movimentos sociais dos anos 1970 e 1980 foram bastantes importantes, sempre foram movimentos heterogêneos, o que os unifica são as carências socioeconômicas, foram se desenvolvendo pelos anos 1990 juntos a outros sujeitos sociais, em redes com outros, destaca-se os movimentos nos campos sindicais, nos campos institucionais, no campo político-partidário, no campo religioso e outros, sintetiza que no fim, os movimentos foram sendo criados ou ampliados, se fortaleceram em construção das redes sociais.
Dias (2003) faz um resgate pela História do Brasil e destaca alguns movimentos sociais que marcaram a história, como a Cabanagem / Pará (1835-1840), para demonstrar alguns elementos comuns e diferentes no modo de fazer política dos movimentos sociais nas últimas décadas do século XX.
Dias condiz que os movimentos sociais em acepção ampla nada induzem a exclusão e conclui seguindo a linha de pensamento de Epstein:
Para nós, os movimentos sociais são esforços coletivos de pessoas social e politicamente subordinadas para mudar suas condições de vida. (2003, p. 92).
Com o desenvolvimento do capitalismo, as necessidades da população foram aumentando, as atividades produtivas nas cidades cresceram em uma total desordem, levando a todos a passarem por uma situação precária. Tudo ia se expandindo, levando os trabalhadores para as periferias e estes começam a passar dificuldades com transporte, saúde, moradia.
1.2. Os Movimentos Sociais na História
Para analisar um movimento social, deve-se compreender suas ideologias, os projetos que apresentam o método que eles utilizam para atingir seus objetivos.
	O movimento operário é um clássico, pois eles acreditavam que tinham o potencial de livrar a sociedade do sistema capitalista, assumiram caráter internacional a partir da segunda metade do século XIX, o fato que os levou a tamanha revolta foi a industrialização capitalista em muitos países europeus e nos Estados Unidos. 	Segundo Dantas, os trabalhadores não tinham direitos:
Isso não existia no século XIX, quando os trabalhadores assalariados começaram a existir em grande número. Os direitos dos trabalhadores foram conquistados ao longo de décadas, depois de muitas greves, manifestações e confrontos com a polícia. (2014, online).
Após a exaustiva exploração que os operários eram submetidos, os trabalhadores industriais tornaram possível a identidade entre os operários e a unificação de suas lutas. O movimento operário contava com o apoio numa teoria revolucionária que apontava uma utopia, na qual acreditavam em uma sociedade de homens iguais e livre.
FOTO 3: Aspetos da exploração do trabalho feminino e infantil em diversos setores nos finais do sec. XIX
FONTE: História com História (2016, online).
Muitas lutas ocorreram, verificando em relação aos objetivos e organizações do movimento, o sangue de muitos operários foi o resultado da luta pela liberdade e igualdade.
Conforme explica Tomazi (2000), o movimento operário nasceu e desenvolveu-se no capitalismo industrial, o movimento operário passou por condições degradantes jornadas de trabalho dobradas, sem locais de trabalho apropriados, exploração de trabalhos de mulheres e crianças que desempenhavam as mesmas funções dos homens e recebiam salário menor, muitos acidentes causados pelo cansaço e os patrões nem se importavam, pois, a mão de obra era farta.
Movimentos contra a pesada jornada de trabalho e também por melhores salários foram o ápice do começo das revoltas no século XIX que estavam tornando cada vez mais comuns. Começaram as greves e as ações contra as máquinas e fábricas, pois não tinha outro meio para defender seus interesses.
No século XIX, o movimento cartista foi ao age balançando toda Inglaterra com manifestações em massa, Tomazi descreve os objetivos:
À abolição de votos baseados nas rendas e implantar o voto universal e secreto, pagamento de salários para os operários pudessem participar de assembleias, obtiveram vitória em 1847 quando conseguiram reduzir a jornada de trabalho em toda Inglaterra. (1993, p. 231).
Transportes mais rápidos, meios de comunicação acessíveis de alta tecnologia e prática, o mundo fica menor, hoje podemos acompanhar tudo de uma simples tela de celular, ao vivo e em cores.
O sonho da modernidade, vivido nos Estados Unidos, American way of life, mas logo esse sonho acabou, sofreram muito com a demanda e com a crise econômica.
As mulheres estão cada vez mais ganhando seu espaço, hoje já podem ir à universidade e graduar em qualquer profissão de seu gosto, assim acabando com os preconceitos e com os tabus, graças ao movimento feminista que luta pela igualdade de gênero e direito perante aos homens. 
FOTO 4: Mulheres protestam contra a censura
FONTE: UOL (2016, online).
	Saffioti afirma:
No Brasil, como aliás em outras nações, é impossível separar a produção intelectual sobre o assunto mulher, originalmente desenvolvido no seio das universidades; da militância feminista. Muitas mulheres além de realizarem investigações sobre está temática, militam em grupos feministas e/ou partidos políticos, enfrentando, no interior destes últimos, o machismo ostensivo ou velado, que as excluem sobretudo dos postos de comando. (1987, p.117).
Estes movimentos que não gostam de hipocrisia, criticam a sociedade consumista e as guerras absurdas, em que todos os dias milhares de jovens perdem suas vidas em violência, esses novos movimentos reivindicam pela participação das decisões tomadas pelo Estado. A única diferença existente entre os movimentos sociais são os projetos diversos que criam uma visão do mundo que o respeito à diversidade é o mais importante, ter o direito de espaço, serem tratados igualmente e terem justiça.
1.3. Os Movimentos Sociais No Brasil
Segundo Do Bem (2006), os mecanismos de desenvolvimento da sociedade brasileira são identificados e mostradas através dos movimentos sociais, onde através dos movimentos são revelados as carências, as insatisfações e os desejos.
Demonstra-se que os movimentos sociais não constituem fenômenos periféricos –como pressupostos nas representações hegemônicas- mas são chaves explicativas para a compreensão e interpretação de cada período histórico da sociedade brasileira. (2006, p. 1137).
FIGURA 1: A pintura Independência ou Morte
FONTE: G1 (2016, online).
De longa duração, existem vários movimentos sociais pelo mundo, a Revolução Francesa de 1798, marca o começo das revoluções pelo mundo, incluindo a Independência do Brasil, segundo Dias (2003) é um fato extremamente importante.
Estes fatos são significativos, pois de alguma forma encerram em si mesmos uma memória histórica. Mas não são marcos estanques que signifiquem a conquista da independência, autonomia e soberania nacional no Brasil, pois em termos econômicos ainda hoje permanecem os laços de dependência as grandes potências mundiais. (DIAS, 2003, p.2). 
Desde os escravos negros africanos aos mestiços e mulatos, a história do Brasil é marcada pela exploração dos senhores de engenho. No fim do século XVIII, várias rebeliões, revoltas, distúrbios e quilombos ocorrem no Brasil.
Dias descreve como ocorreram a maioria das manifestações brasileiras:
Como as inserções mineira, baiana e carioca, a revolução nordestina de 1817, a Confederação do Equador em 1824, as revoltas providenciais como a Sabinada na Bahia, Balaiada no Piauí e Maranhão, a Cabanagem no Pará e a Praieira em Pernambuco e a Farroupilha no Rio Grande do Sul, sem falar das pequenas sedições do cotidiano e os quilombos da população negra. (2003, p.1).
Até o fim do século XVIII, de acordo com Maxwell (2005) o Brasil passava pelo processo de Independência, o ponto inicial das manifestações começou com a Conjuração Mineira em 1789, Maxwell sintetiza que o movimento:
O objetivo era de libertar o Brasil do domínio português. O lema da Conjuração Mineira era “Liberdade ainda que tardia”. (2005, online).
O século XIX é o século em que os movimentos sociais surgem na história brasileira. 
Segundo Gohn:
Os movimentos sociais alcançaram uma grande unidade no período, aglutinando forças sociais – as vezes com interesses discrepantes ou mesmo antagônicas – em torno de lutas comuns. (1995, p. 18).
A falta de organização e a formal constituição dos movimentos, no início do século XIX, facilitou o abatimento das bases. Leite (1992) diria que eles se desenvolviam pelo entusiasmo nacional sobre a vida e pelas particularidades tropicais do Brasil. Com o ponto de vista positivo em relação à Independência, os brasileiros com romantismo reforçavam as ideologias dos movimentos.
Segundo Do Bem, a euforia nacionalista constituiu um grande obstáculo para a generalização dos movimentos:
As revoltas de escravos, por exemplo, que iniciaram em 1807 e se estenderam até o ano de 1835, não ficaram incólumes a tal atmosfera, razão pela qual não conseguiram a adesão de amplos setores. (2006, p. 1140).
Reivindicavam o fim da escravidão, o rompimento colonial, o direito à cidadania e o estabelecimento de um República Federal, lutavam pelo fim da monarquia portuguesa. Estes movimentos ficaram marcados pela repressão, que iam enfraquecendo com as manifestações que eram contra o sistema colonial, para amenizar as manifestações e também servir de exemplo para outros militantes:
(...) com prisões, enforcamentos, fuzilamentos, exílios e devassas ou tropas armadas, como cavalaria, artilharia formada em sua maioria de recrutas e mercenários. (2006, p. 1).
O Movimento Estudantil do qual teve uma expressividade destacada na luta contra o regime militar no auge dos anos de 1968, segundo a Santos (2011), acontece eventos como a “Passeata dos Cem Mil”, a “Batalha da Rua Maria Antônia” e o XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, São Paulo. 
FOTO 5: Passeata dos Cem Mil
FONTE: Vertentes Agência de Notícia (2016, Online).
FOTO 6: XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, São Paulo.
FONTE: Info Escola (2016, Online).
Após a promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5), a repressão aumentou sob todos que se opunham ao governo ditatorial, Santos afirma que havia muita violência contra os militantes:
Líderes estudantes e partidários foram perseguidos, muitos foram presos mortos como Carlos Marighella, líder do ALN (Ação Libertadora Nacional), Mário Alves, líder do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), Honestino Guimarães, presidente da União Nacional dos Estudantes em 1971, Alexandre Vanucchi Leme, líder estudantil da Universidade de São Paulo entre muitos outros. (2009, p.102).
A clandestinidade e a ações armadas como sequestros de políticos, segundo Santos (2009), ajudaria a financiar a luta e os ajudariam a preparar para uma guerrilha armada. Durante o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, chamado de anos de chumbo, o Movimento Estudantil foi alvo grande de repressão e dos partidos políticos de oposição, assim sintetiza Santos:
O PCBR no início dos anos 60 tinha um considerável número de estudantes entre seus quadros. Quando do golpe militar de 1964 e da crise no comunismo mundial devido ao relatório de Nikita Krushev, o ME passou a se distanciar do PCBR principalmente após o surgimento das cisões que deram origem a outras organizações. (2009, p.104).
Santos (2011), comenta, assim que o golpe militar instaurado, as universidades começam a ser invadidas e fechadas, professores foram exilados e tiveram a aposentadoria forçada, a União Nacional dos Estudantes foi posta como ilegal e o Movimento Estudantil passou a ser perseguido pelo Departamento da Ordem Política e Social. Os estudantes se uniram em grande conjunto de forças contra a Ditadura Militar, os líderes estudantis foram perseguidos para forçar o fim dos movimentos estudantis, mas isso proporcionou aos movimentos mais forças para continuar a lutar pelas suas ideias.
FOTO 7: Contra a ditadura, estudantes manifestam na Universidade de Brasília
FONTE: Blog Edson Machado (2016, online).
	Segundo Tomazi (1993) surgem então os movimentos de massa, em especial aqueles que lutavam pelas eleições diretas na escolha do presidente da República, Diretas Já (1984-1985), mobilizavam multidões em passeatas pelas ruas e com comícios em todo Brasil, ajudaram também em outros setores, como o de saúde, transporte, educação e outros debates que eram organizados em várias cidades, muitas de suas propostas foram anexadas a Constituição de 1988. 
	Na história política do Brasil, os movimentos sociais aparecem fortemente, algum são resistentes outros estratégicos, segundo Gohn (1995), o importante é destacar a mudança que eles podem ocasionar na sociedade:
A partir dos anos de 1990, os movimentos sociais deram origem a outras formas de organização populares, mais institucionalista, como os fóruns nacionais de luta pela moradia popular. (1995, p. 305).
Gohn (1995) afirma que os movimentos sociais atuais são distintos daqueles dos anos de 1970 e 1980, os atuais são herdeiros e possuem caráter similar. Em 1980, os movimentos sociais lutavam pelo direito de ter direitos, não olhavam para si próprio, mas sim lutavam por conceito comum que envolvia todos.
FOTO 8: A reflexão do Brasil foi suspensa pelo golpe de 1964
FONTE: Brasileiros (2016, online).
Gohn (1995) descreve como os movimentos sociais ajuda na reivindicação de moradias, são contra a violência urbana e realizam movimentos de recuperação estrutural ambiental e físicos-espaciais, também contribuem para melhora na educação e saúde.
CAPÍTULO 2. HISTORIOGRAFIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
	Os movimentos sociais trazem consigo histórias marcadas pelas lutas e busca de conquista dos direitos.
A história do Brasil é plena de movimentos de resistência da população aos padrões de dominação do colonizar europeu desde as populações nativas aos escravos negros africanos e brasileiros, aos mestiços e mulatos, mão de obra explorada pelos donos do meio de produção.
(DIAS, 2003, p. 1).
2.1. Marxismo e os movimentos sociais 
O olhar marxista sobre os movimentos sociais é relatado pelas lutas sociais que batalham no intuito de transformações para melhorias, como descreve Schofield:O envolvimento e o conflito com um marxismo determinista também levaram os historiadores a insistir na importância da luta de classes como agência histórica e desenvolvendo uma perspectiva sobre o passado que admita pelo menos alguns dos que nem sempre pareciam maduros para estudo. (2001, p. 212).
Andreia Galvão, professora de Ciências Políticas, parte de uma hipótese que a teoria marxista dos movimentos sociais não é desenvolvida nem articulada, pois segundo ela, existem vários autores que mantêm ênfase nos partidos e sindicatos. O movimento operário era o grupo que tinha a filosofia de capital e trabalho:
Nesse sentido, o movimento operário era o movimento social por excelência, de modo que a noção de movimento estava vinculada à condição de classe operária e a luta entre capital e trabalho. (2011, p. 107).
FIGURA 2: Trabalhadores Rurais Do Século XX
FONTE: Contornos: Educação e Pesquisas (2016, online).
Aline Nascimento (2014), mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, explica em sua tese “Marxismo e movimentos sociais: um elo possível? ”, que os estudos marxistas priorizam os movimentos operários:
Os estudos marxistas, sobretudo os clássicos, priorizam as discussões sobre os movimentos operários a partir de sindicatos e partidos e da relação entre ambos, é possível pressupor que o quê se aplicou/ aplica aos movimentos operários é também aplicável aos movimentos sociais porque estes são intrínsecos a relação entre capital e trabalho e a luta de classes. (2014, p. 1).
O estudo marxista não enfatiza apenas as revoluções, mas com o andamento das lutas e como as camadas sociais se davam com a situação.
Phillip Schofield, professor britânico, analisa que houve uma distinção entre o marxismo ortodoxo e o marxismo cultural e cita Eric Hobsbawn: 
Para os historiadores no final do século XIX, o impacto dos preceitos fundamentais do marxismo “vulgar” foi descrito como “carga concentradas de explosivo intelectual”, enquanto para os historiadores de gerações posteriores, o conhecimento do materialismo histórico marxista poderia ter efeito libertador. (2001, p. 212).
Muitos veem a análise dos movimentos sociais como se o estudo fosse apenas sobre os movimentos sociais operários mas sabe-se que os movimentos sociais são compostos por pessoas que possuem ideologias parecidas, lutam por seus direitos e buscam melhorias.
A primeira análise feita, segundo Schofield, sobre o pensamento marxista parte do próprio Karl Marx:
Análises, por exemplo, da ascensão capitalista levaram a amplos levantamentos de eventos de longo prazo, como no caso de exame da mudança na duração da jornada de trabalho, que mapeia a legislação trabalhista no contexto da mudança socioeconômicas do século XIV ao XIX. (2001, pp. 212 e 213).
Pode-se afirmar, segundo Marcelo Rosa (2011), geógrafo, que o movimento operário era o movimento social mais representativo e que apenas com a chegada dos novos movimentos sociais em 1960 passam a ser dominantes, visto que passa a crescer teorias para explica-los.
Novas dinâmicas econômicas, políticas e sociais surgem no final dos anos de 1960 e têm, na recessão econômica advinha do choque do petróleo em 1972, o principal motivo para a mudança no modelo fordista/ taylorista de produção. (2011, p .2). 
	
A transição do feudalismo para o capitalismo, empregou o marxismo a fim de explorar o desenvolvimento do processo capitalismo, como diria Schofield (2001), com pensamento Mauricio Dobb, afirma:
Esses períodos eram definidos por seus respectivos modos de produção dominantes. Respondendo à afirmação de Dobb, de que o colapso do feudalismo é explicável em termos de suas próprias contradições econômicas, historiadores italianos, franceses, britânicos e norte-americanos, marxistas e não marxistas, participaram de uma interação carregada de conteúdo teórico. (2001, p. 215).
A importância das contradições das classes, não é apenas pelo conflito gerado pelo trabalho e capital. O termo classe trabalhadora, como explica Galvão (2011), é para referir a um conjunto de diferentes classes sociais, como o operariado, a pequena burguesia e as classes medias, que percebem a diferença entre os tipos de trabalho e as condições da força trabalhista, um campo como concluiria Galvão de bipolarização que colocaria burguesia de um lado e proletariado de outro. 
A base dos conflitos sociais são as contradições que nascem com os problemas conjunturas, estes como enfatiza Galvão (2011):
Os conflitos se expressam de diferentes formas, em diferentes intensidades, e exprimem conteúdos distintos, a depender do perfil político-ideológico das organizações que assumem o papel de mediação da ação dos dominados. (2011, p. 112 e 113).
Lojkine, marxista, afirma que os movimentos sociais se destacam pela seguinte maneira:
(...) pela capacidade de um conjunto de agentes das classes dominadas diferenciar-se dos papéis e funções através dos quais a classe (ou fração de classe) dominante garante a subordinação e dependência dessas classes dominadas com relação ao sistema socioeconômico em vigor. (1981, p.292).
	Nos anos de 1980, a história passa a ser contada por uma nova geração de historiadores, conforme cita Schofield (2001), surge grupos como: feministas, historiadores sociais, de gênero e historiadores culturais.
Se quisermos explicar o processo de formulação de uma historiografia marxista no último século ou por volta dessa época, está claro que não se pode identificar uma única nem uma primeira iniciativa, principalmente porque a identificação de uma única historiografia “marxista” é, sob todas as intenções e propósitos, uma impossibilidade. (2001, p. 216).
De acordo com Schofield alguns historiadores marxistas, diriam que as primeiras reuniões políticas surgiram com a família, com uma tradição liberal e radical, relata:
Muitas vezes desenvolvida a partir do inconformismo, sendo uma característica quase constante da formação dos marxistas britânicos nascidos nas primeiras décadas do século XX – e também durante a universidade, principalmente Oxford nos anos de 1930. Ali, um corpo discente politizado testemunhou a Depressão e ascensão do fascismo. (2001, p. 217).
Em meio a essas novas partituras, surgem como relata Nascimento, uma realidade formada por novos sujeitos políticos:
Mulheres, homossexuais, negros, ambientalistas, sem-terra, com novas práticas sociais e portadores de novas falas, que questionam a ordem estabelecida, e passam a se apresentar como agentes de transformação social. (2014, p.2).
FOTO 9: Manifestação Da União Dos Novos Sujeitos Políticos
– 
FONTE: Horizonte Da Cena (2016, online).
Junto a estes novos movimentos como descreve Nascimento (2014), nascem formas de opressão como racismo, machismo, produtivismo, no qual se baseia na cultura e qualidade de vida do que bem-estar natural. Surge em meados de 1970, os “Novos Movimentos Sociais (NMS) ”, como descreve Rosa:
Os “novos movimentos” negaram o marxismo por entender que ele se atém aos estudos das ações coletivas no nível das estruturas, das relações de classe, numa dimensão macro da sociedade, não pode, assim, explica as ações dos indivíduos independentemente das condições colocadas pelas estruturas. (2014, p.3)
FIGURA 3: Slogan Da Campanha “Basta De Machismo, Racismo E Homofobia. Por Um Mundo Livre De Opressão E Exploração”
FONTE:  Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (2016, online).
Como é descrito acima, rompe-se a ideia hegemonia do movimento operário, a ideia de que eles eram os responsáveis pelas transformações, a nova ideia leva todos à revolução. Sobre os conceitos de classes, Nascimento (2014), destaca:
Em primeiro lugar, descartam-se os conceitos de classe que se fundamentam na renda e/ou na posição ocupada na esfera da produção, pela razão de que esses conceitos não são aceitos pelo marxismo. Em segundo lugar, as classes, como força social em ação não podem ser consideradas meros reflexos da posição na estrutura econômica, pois o economicismo anula a política ao criar o comportamento político da situação objetivade classe. (2014, p.3).
Segundo Rosa (2014), Karl Marx em seu livro “Miséria da Filosofia”, assegura que os trabalhadores em defesa dos seus salários passam a ter um caráter política à medida que e sofrem uma representação, começam a luta, reivindicam.
Assim, Marx entende as coalizações como uma forma de os operários superarem a competição entre si de resistirem ao capitalismo. (2014, p. 7).
Ao mesmo tempo que Marx vê que a luta é importante, ele faz uma crítica aos sindicatos, quando este propõe que os trabalhadores devem partir para o lado do plano econômico e político: 
Os operários não devem superestimar o resultado final dessa luta quotidiana [pela elevação dos salários]. Não podem esquecer que lutam contra os efeitos e não contra as causas desses efeitos, que o que fazem é refrear o movimento descendente, mas não alterar o seu rumo; que aplicam paliativos, e não a cura da doença. Os “Sindicatos” atuam com utilidade como centros de resistência às usurpações do capital. No entanto, deixam inteiramente de o atingir o seu objetivo], quando se limitam a uma guerra de escaramuças, contra os efeitos do regime existente, em vez de trabalharem, ao mesmo tempo, para a sua transformação e servirem-se da sua força organizada como de uma alavanca para a emancipação definitiva da classe trabalhadora, isto é, para a abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado. (1987, pp. 85-86).
 
FOTO 10: KARL MARX
FONTE: Blog da Redação - A Nova Democracia (2016,online).
2.2. Identidade dos movimentos sociais
	Já se tornou hábito relacionar os indivíduos e a sociedade a um passado para descrever suas atitudes atuais. Hoje, vários grupos possuem suas ideologias e buscam suas próprias identidades.
Os primeiros desafios à visão estatista vieram daqueles grupos que defendiam que não eram de elite dentro do Estado-Nação: a classe trabalhadora, mulheres, imigrantes. Mais recentemente, alguns procuraram desmantelar todo o paradigma e as grandes narrativas que ele sustentava. (SCHOFIELD,2001, p. 237.)
FIGURA 4: Slogan Do Coletivo Queerdel – Transgressão E Memória De Gêneros E Sexualidades Da Região Do Cariri
FONTE: Identidade Mandacaru (2016, Online)
	Com o tempo tentaram quebrar o paradigma e ideologia que os sustentavam, analisa Davidson:
Esses desenvolvimentos são o produto da interação entre mudanças na teoria social e crítica, muitas vezes mediadas por disciplinas intimamente relacionadas, e mudanças no contexto político, social e cultural mais amplo. O aumento, desde cerca de 1970, da atenção que os historiadores e outros prestam às questões relacionadas a etnicidade e identidade demonstra particularmente bem a interação de contexto e teoria. (2001, p. 237).
	Ioki explica que o conceito de movimentos sociais pode ter duas definições:
O sentido dos conceitos tem dupla determinação: ele se revela durante uma investigação e se relaciona com os sujeitos do conhecimento, uma vez que o investigador o apreende por um pressentimento positivo, assim como por uma crítica negativa dos elementos que anteriormente tomavam o lugar de conceito. (1995, p. 41).
	O conceito de identidade é complicado, segundo Davidson, é uma palavra cuja etimologia é complexa e significado e bem variado.
A raiz do sentido de identidade, do latim idem, é de similaridade; a palavra mantém o sentido em sua forma adjetival, “idêntico”. A palavra passou ao uso acadêmico em meados do século XX, por meio da psicologia e, particularmente, do trabalho de Erik Erikson. (2001, p. 238).
	Sustenta-se uma ideia que as identidades de um grupo estejam interligadas com a história com relação a língua, cultura e descendência, como analisa Davidson: 
Primordialistas mais recentes, como Clifford Geertz e Edward Shild, afirmam que os vínculos étnicos estão tão enraizados na descendência comum percebida, e em língua, território, costumes e religião compartilhados, que têm “um poder de coerção inefável e por vezes dominantes de si”. Os construtivistas, em contraste, afirmam que as nações, no sentido moderno, são produto do Iluminismo e das revoluções de final do século XVIII, e que identidades étnicas e muitas outras características da vida social foram “construídas” por uma série de desdobramento intelectuais e sociais, “inventados” ou “imaginados” por elites, para responder a uma variedade de finalidades sociais e políticas. (2001, p. 239).
FIGURA 5: Quadro De Tarsila Do Amaral, Operários
FONTE: Revista Eduque (2016, online).
	A crítica e as representações, revelam o sentido das experiências e como os historiadores as descarregam fazendo assim que o mesmo desvenda e ajude na produção dos conhecimentos, por este modo segundo Ioki (1995), a recuperação dos movimentos sociais são levados a crítica e questionado por aquilo que conhecido e desconhecido. 
(...) na recuperação da problemática da terra e dos movimentos sociais no campo, que se constituem como um dos elementos centrais da longa duração no sentido braudeliano, têm escondido as distintas temporalidades que constituem essas relações nos remetendo à recuperação do sentido primeiro e original do seu uso. (1995, pp.41 e 42). 
	Nos anos de 1960, os Estados Unidos começam a ser questionado, possuía desde 1945 um estilo político e intelectual de alto preconceito aos afrodescendentes, surge assim um grupo que questionava os direitos civis:
A necessidade de acomodar a experiência afro americana no entendimento do passado norte-americano questionava os pressupostos assimilacionalistas. As disputas severas com relação ao Vietnã colocaram em questão a força moral da identidade distintiva norte-americana que estava na base da visão assimilacionalistas. (DAVIDSON,2001, p. 239).
FOTO 11: Martin Luther King Em Discurso “I Have A Dream...”
FONTE: Blog The Art of Adventure (2016, online).
	Ioki (1995) relata que desde os tempos do Brasil Colônia, famílias ocupam terras sem se preocupar com o valor da mesma, mas sim o local que posa permitir o sustento familiar. A autora também explica que os grupos acostumavam a ocupar quilombos e terra de santos e viviam da mesma forma que seus antepassados, já as famílias que viviam de práticas capitalista, mantenham-se em uma estrutura parecido com o modo econômico, pois participam da categoria trabalhista, pois o ramo de vida destes são baseados na agricultura e ganham nome de boias-frias.
	 Uma das grandes dificuldades em quanto se estuda movimentos sociais são as fontes escritas, como descreve Ioki:
Percorrido os trabalhos historiográficos sobre os movimentos sociais ao longo do século, percebemos a ausência tanto do conceito de campesinato, quanto a própria existência desses grupos sociais. (1995, p. 42).
	Mas, aos poucos, como Ioki explica, aos poucos e com muita pesquisa é possível:
Entretanto, a literatura nos revela, desde os relatos dos viajantes, as obras dos memorialistas e os vários acervos documentais, a existência de inúmeros grupos que viviam fora dos parâmetros da lógica da acumulação e do mercado. 
Em termos teóricos, as contribuições das várias críticas ao marxismo, a retomada dos pensamentos marxiano, com o retorno as fontes originais, um certo descrédito frente às análises estruturalistas e um olhar que deveria volta-se para a partir e não para o todo. (1995, p.42).
CAPÍTULO 3. O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA DITADURA MILITAR NO BRASIL
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não... (DOS SANTOS, 2007, online).
FOTO 12: Apresentação de Caetano Veloso no Festival da Record 1967
FONTE: Blog Eternas Músicas (2016, online).
	Em plena Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), o Movimento Estudantil teve um grande destaque nas lutas que reivindicavam democracia. 
	Como esclarece Cancian (2007):
Nas décadas de 1960 e 1970, o movimento estudantil universitário brasileiro se transformou em um importante foco de mobilização social. Sua força adveio da capacidade de mobilizar expressivos contingentes de estudantes para participaremda vida política do país. O movimento estudantil dispunha de várias organizações representativas: os DCEs (Diretórios Centrais Estudantis), as UEEs (Uniões Estaduais dos Estudantes) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), entre outras. Com suas reivindicações, protestos e manifestações, o movimento influenciou significativamente os rumos da política nacional. (2007, online).
3.1. O Nascimento e desenvolvimento do movimento estudantil
	Amaral (2005), esclarece que a primeira manifestação do movimento estudantil foi no fim do Estado Novo:
Acompanhando mais ou menos a vida da União Nacional dos Estudantes, é possível dizer que o primeiro grande marco da organização estudantil, como movimento de massas, se dá no final da ditadura do Estado Novo, na campanha pelo rompimento com os países do Eixo e ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial, e sequência inevitável, no grande movimento de massas com vistas à redemocratização do país, movimento que reuniu a ascendente classe média e as massas populares, liberais e socialistas, animados todos, seja pela vitória da democracia contra o totalitarismo nazifascista e a liderança dos Estados Unidos e seu American way of life, seja pelas vitórias do Exército Vermelho, o surgimento dos novos Estados socialistas e a consolidação da União Soviética, como modelo alternativo ao capitalismo dependente do Terceiro Mundo. (2005, pp. 198 e 199).
	A campanha do “Petróleo é nosso”, movimentou o Brasil a partir de 1947, com fim da Segunda Guerra Mundial e a derrubada da Ditadura do Estado Novo, argumenta Amaral:
Os anos 1950, quando parecia consolidar-se a democracia brasileira, já em sua segunda eleição presidencial, voto universal e direto, são também os anos da opção pelo nacional-desenvolvimentismo que marcará o segundo governo Vargas. Havíamos tido a arte de transformar um ditador em presidente constitucional e democrático. O Brasil opta pela industrialização, pela defesa de suas riquezas, discute os custos sociais dos padrões de consumo de suas elites, investe na organização trabalhista e sindical. São os anos da campanha pelo “petróleo é nosso”, a maior mobilização de massas de nossa história. Foi plena a entrega do movimento estudantil. Havia o sonho do desenvolvimento, havia o sonho da industrialização, havia o sonho da emancipação econômica. E um país que não tinha petróleo, que não tinha recursos financeiros, que não tinha tecnologia, criou a Petrobras, criou tecnologia, encontrou petróleo e hoje, graças àquela irracionalidade, pode falar em autonomia de combustíveis fósseis. (2005, pp.199 e 200). 
	Mendes Júnior argumenta que os estudantes passam por um processo muito rápido entre os bancos escolares para a vida profissional e isso pode ser um dos fatos que influenciou as ações do movimento:
A passagem pelos bancos acadêmicos seria uma etapa relativamente rápida, evoluindo para uma integração “real” na vida profissional faria com que o movimento estudantil apresentasse uma certa “fluidez", que o tornaria incapaz de organizar e levar adiante uma ação política de longo prazo. (1981, pp. 7 e 8).
	Com o passar de gerações como explica Mendes Júnior (1981), haveria um conflito de gerações, a sede de justiça desaparecia a partir do momento em que estes jovens chegassem a vida adulta, segue afirmando que o movimento estudantil em vários momentos foram os que tiveram iniciativa, combatiam e ajudavam a sociedade reprimida e oprimida que viviam: 
Ocorre, entretanto, que em muitos momentos da vida nacional os estudantes se converteram em verdadeiros “pontas de lança” de uma sociedade amordaçada, reprimida e oprimida, atuando no sentido de desencadear movimentos de caráter mais amplo e que desembocaram em sérias transformações políticas no País. Bastam alguns exemplos para comprovar isto: na campanha pela entrada do brasil na luta contra o nazi-fascismo, no início da década de 40; na campanha pelo estabelecimento do monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobrás; nos protestos contra a ditadura, nos anos de 1966 a1968; em todos, foi decisiva a participação dos estudantes, ou seja, eles, enquanto componentes de um movimento, assumiram o papel de fenômeno político de primeiro plano. (1981, p. 8).
	Paula explica que ao longo da história várias escolas sofreram com paralisações e assim alunos e professores começaram a reivindicar direitos: 
Nos últimos anos os alunos das escolas públicas, de uma forma geral, tiveram que conviver com longos períodos de greves, ocasionados por descontentamento dos professores e auxiliares de ensino. Essa realidade envolveu, com maior ou menor intensidade, esses estudantes nos movimentos reivindicatórios daquelas categorias profissionais. Além disso, esses alunos participaram em causa própria de movimentos pelo passe livre e pela meia-entrada em eventos culturais. (2007, p.5).
FIGURA 13: Faixa De Protesto UEMG RESISTE
FONTE: Movimento Estudantil UEMG Unidade Passos (2016, online).
	O fundamental para o desempenho do movimento estudantil foi sua ousadia, como descreve Mendes Júnior:
O que permitiu aos estudantes desempenhar este papel foi justamente aquilo que é por muitos apontado como a “falha” do movimento estudantil. Em outras palavras, é a situação de transitoriedade, de descompromisso relativo com o processo de produção, de ausência de responsabilidade. (1981, pp.8 e 9).
	Diferentemente de outros países, a primeira universidade no Brasil, só chegaria no século XIX:
Em primeiro lugar, ao contrário do que ocorreu na América de colonização espanhola, não existem no Brasil escolas de nível superior durante todo o período em que estivemos subordinados à Coroa lusitana. No Peru, por exemplo, a primeira /universidade foi fundada em 1551, e, no México, dois anos depois. Aqui, apenas com a vinda da Corte portuguesa, no começo do século XIX, surgiram as primeiras escolas universitárias. (MENDES JÚNIOR, 1981, p. 12).
	Para Paula os principais eventos como a Guerra Fria e o surgimento da Cultura Jovem foram ponto de partida par ao início do movimento estudantil:	
A Guerra Fria traz a polarização do mundo em torno de dois sistemas econômicos, o socialismo e o capitalismo, e de duas potências a URSS e o EUA. Os desdobramentos desse conflito afetaram o mundo todo, mesmo que de diferentes formas. O Brasil, por exemplo, conhecerá nesse período uma ditadura militar. 
Terminada a segunda grande guerra vemos um mundo polarizado, de um lado o sistema capitalista tendo como seu maior representante o EUA e de outro o socialismo representado pela URSS. A Guerra Fria trouxe no equilíbrio de forças dessas potências a ameaça de destruição mundial, já que um primeiro disparo do lado soviético ou americano possivelmente iniciaria uma série de lançamentos de mísseis e bombas ao inimigo, representado pela potência oposta e suas respectivas áreas de influência. (2007, pp. 7 e 8).
	Mendes Júnior (1981) defende que a primeira manifestação de estudantes ocorreu por meados do século XVII e vai contra os pensamentos de Artur José Poerner, este que reconhece que a primeira manifestação estudantil ocorreu 1710, na qual estudantes expulsaram franceses do Rio de Janeiro. 
	Mendes Júnior explica:
Preferimos adota a segunda metade do século XVIII como época deste “batismo de fogo” político dos estudantes brasileiros. Em primeiro lugar, porque a luta contra o invasor francês configura-se menos no terreno da ação político-ideológica propriamente dita, e mais no da mera reação semi-instintiva de defesa contra os corsários. Em seguida, porque a penetração das ideias liberais e revolucionárias europeias, que influenciaram decisivamente a vida política em geral, e os estudantes em particular, só começou a se efetivar no Brasil nos últimos sessenta ou setenta anos do período colonial. (1981, p.14).
	Os jovens que iam estudar na Universidade de Coimbra, voltavam inspirados pelas ideias francesas libertárias e revolucionárias.
Mas não foi apenas a ideologia revolucionária europeia que influenciou os jovens brasileiros. Do ponto de vista prático houve, da mesma forma,uma grande relação com a independência norte-americana, proclamada em 1776. (MENDES JÚNIOR, 1981, p.15).
	Os estudantes após a Guerra Fria e com surgimento da Cultura Jovem ganham forças no movimento que com envergonhamento começam a ir para as ruas, então como explica Paula, surge na metade do século XX a “cultura jovem”:
A juventude, nesse período conturbado, passara a ser vista não apenas como um estágio preparatório para a vida adulta, mas, em certo sentido, como um grupo social singularmente expressivo, não podendo, portanto, ser confundido com os estágios anterior, a infância, nem posterior, a maturidade. A segunda novidade da cultura juvenil, e o que talvez tenha contribuído tanto para seu reconhecimento e valorização, foi que ela se tornou dominante nas “economias de mercado desenvolvidas”, em parte por que representava uma massa concentrada de poder de compra, em parte porque cada nova geração de adultos fora socializada como integrante de uma cultura juvenil autoconsciente, e ainda por que a mudança tecnológica dava vantagem a essa juventude. A terceira peculiaridade da nova cultura jovem nas sociedades urbanas foi seu internacionalismo, facilitado pela globalização e pela intimidade desses jovens com as inovações tecnológicas da área da comunicação. Esse último fator contribuiu também para uma padronização, onde estava refletida a esmagadora hegemonia cultural dos EUA na cultura popular e nos estilos de vida. (2007, p.8). 
FOTO 14: Atores representativos da Cultura Jovem nos cinemas: à direita James Jean, no centro Marlon Brando e à esquerda Elvis Presley.
FONTE: Mente Flutuante Retro (2016, online).
	Com a cultura jovem, os estudantes passam a ser mais reconhecidos, com a expansão da educação e os contextos sociais revela-se um movimento estudantil mais presente.
	Paula faz uma análise:
Nesse “novo mundo” o crescimento de ocupações que exigiam educação de nível secundário e superior atingia escala mundial, o que justificava a necessidade de expandir a educação, e, por consequência, a infraestrutura que essa e o maior contingente de alunos na cidade demandam. As cidades, então, se espalham pelo globo como uma epidemia, e, na segunda metade do século XX o mundo se vê urbanizado como nunca. A alfabetização, essencial e básico instrumento formador, por causa do crescimento de cargos que necessitavam de maior escolaridade, teve progresso sensacional. Com isso a demanda de vagas na educação superior e secundária multiplicou-se, os estudantes estão pelo mundo inteiro aos milhões. (2007, p.9).
	Juntamente com Maia, como escreve Mendes Júnior, está José Alvares Maciel, este que tornaria um dos protagonistas da Inconfidência Mineira foi também um dos pioneiros dos movimentos de luta do Brasil.
Maciel, como a esmagadora maioria dos demais “inconfidentes”, fazia parte da rica elite de “homens bons” das Gerais, proprietários de terras e escravos, mineradores, e que eram, ao mesmo tempo, os que mais sofriam com o peso da exploração colonial portuguesa. Bebera, enquanto estudante, nas fontes do Iluminismo e foi quem, ao travar conhecimento com Tiradentes, no Rio de Janeiro, o entusiasmou pelas “ideias francesas”. (1981, pp.16 e 17).
	Pode-se constatar que o primeiro evento de manifestação estudantil foi organizado por José Joaquim Maia, que lutava pela independência, este que envia uma carta à Thomas Jefferson que não quis se comprometer, pois ele via com bons olhos o modo autônomo como o melhor modo de governar o país, Mendes Júnior, descreve:
Em vista destes dados, não podemos estranhar que a primeira participação política real de um estudante brasileiro tenha partido de um jovem aristocrata, aluno primeiramente em Coimbra, depois em Montpellier (França): trata-se de José Joaquim da Maia, que, em 1786, com outros onze jovens compatriotas, fundara uma sociedade secreta para lutar pela Independência do Brasil. Uma sociedade secreta para lutar pela Independência ideias francesas libertárias e revolucionárias. (1981, pp.15).
	Juntamente com Maia, como escreve Mendes Júnior (1981), está José Alvares Maciel, este que tornaria um dos protagonistas da Inconfidência Mineira foi também um dos pioneiros dos movimentos de luta do Brasil.
Maciel, como a esmagadora maioria dos demais “inconfidentes”, fazia parte da rica elite de “homens bons” das Gerais, proprietários de terras e escravos, mineradores, e que eram, ao mesmo tempo, os que mais sofriam com o peso da exploração colonial portuguesa. Bebera, enquanto estudante, nas fontes do Iluminismo e foi quem, ao travar conhecimento com Tiradentes, no Rio de Janeiro, o entusiasmou pelas “ideias francesas”. (1981, pp.16 e 17).
	Paula apresenta uma grande característica do movimento estudantil, os explosivos, pois segundo a autora, por causa deles vários movimentos revolucionários aconteceram em todo mundo.
O movimento estudantil tem uma característica particular: A fácil explosão. Por isso funcionava como detonador para movimentos de grande importância e mobilização, só que menos inflamáveis, a exemplo do grupo de operários que juntamente aos estudantes provocou enormes ondas de greves operárias na França e Itália em 1968. Na década de 1980, em países não democráticos como China, Coréia do Sul e Tchecoslováquia o movimento estudantil revelou seu potencial de detonar revolução. Apesar de não chegarem à revolução, os estudantes continuaram tentando, mas onde causavam impacto político eram eliminados pelas autoridades, a exemplo das torturas nas guerras sujas da América Latina, ou enfraquecido pelo suborno, a exemplo das negociações na Itália. (2007, p.10).
FOTO 15: Movimento Estudantil 1968
FONTE: Blog Comunicante (2016, online).
	A União Nacional dos Estudantes (UNE), surge em 1937 como salienta Paula (2007):
O ano de 1937 marca também a criação da UNE, órgão máximo de representação estudantil, que vai de Segunda Guerra Mundial e de Estado Novo, quando iniciam a campanha contra o nazi fascismo e a ditadura de Vargas. No ano seguinte, o movimento se intensifica e passa a exigir o rompimento diplomático do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e, em 1942, a UNE se torna oficial. Apesar de se apresentar com oposição à ditadura de Vargas, a instituição não sofreu repressão. (2007, p. 11).
FOTO 16: 11 de agosto de 1937, surgimento da União Nacional dos Estudantes
FONTE: União Nacional dos Estudantes (2016, online).
	A vinda da Corte Portuguesa, a fundação do Banco do Brasil e a criação da primeira faculdade em terras brasileiras, a Escola de Medicina na Bahia e as Academias de Direito de Olinda E São Paulo foram primordiais para a participação dos estudantes na política.
O surgimento destas escolas de nível superior em nossa terra repercutiu, como não podia deixar de ser, na questão da participação política dos estudantes. Em primeiro lugar, por se transformarem em centros de debates e politização, pois não se conhece processo educativo desacompanhado de um mínimo de atividade critica. Ao mesmo tempo, é preciso recordar que esse processo educativo e essa atividade crítica eram exercidos aqui, e não na Europa, como ocorria antes, possuindo, portanto, uma força e uma penetração muito maiores. Finalmente, devemos dizer que estas modificações atingiram a própria quantidade de estudantes, aumentando (ainda que pouco) a possibilidade de que pessoas oriundas das “camadas médias” – isto é, homens livres não proprietários de terras e escravos – viessem a frequentar um curso superior. (MENDES JÚNIOR, 1981, pp. 18 e 19).
	Mendes Júnior explica que após a chegada dos movimentos republicanos e o abolicionismo, surge a atuação coletiva dos estudantes na política. 
Encontramos os estudantes cariocas defendendo, juntamente com os cadetes da Escola Militar, o Marechal Floriano Peixoto, encarado como Almirante Custódio de Melo, durante a Revolta da Armada (1893).
Encontramos, quatro anos mais tarde, o movimento dos acadêmicos de Direito da Bahia, manifestando sua indignação contra o massacre dos camponeses em Canudos, pelas tropas (no total quase dezmil soldados e três dezenas de canhões Krupp) sob o comando do general Arthur César de Andrade Guimarães. (1981, pp. 26 -27).
	Mendes Júnior afirma que a participação dos estudantes é pequena, no geral, apenas no restante da Primeira Republica ocorre um fato, descreve:
Na Campanha Civilista de Rui Barbosa, candidato oponente ao Marechal Hermes da Fonseca em 1910, os acadêmicos, empolgados pela eloquência do antimilitarista. Para isso contribuiu também uma certa “aversão à farda”, originada pela repressão violenta a uma passeata comemorativa realizada pelos universitários em setembro de 1909, ocorrendo a morte de dois estudantes (fato que passou a ser conhecido como “A Primavera de Sangue”). (1981, p. 28).
	Com Marechal Dutra, eleito democraticamente pelo Partido Social Democrata (PSD) e com apoio do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), começa segundo Paula uma perseguição ao Partido Comunista, pois os conservadores temiam e chamavam de medo vermelho, assim a UNE começa a sofrer repressão. 
A UNE vive os dois primeiros anos de governo Dutra sob direção de direita. Assim, o IX congresso da UNE leva, em julho de 1946, o udenista José Bonifácio Coutinho Nogueira para a presidência da instituição. As campanhas contra a carestia e o câmbio negro são destaques da movimentação estudantil liderada pela UNE contra o governo Dutra, o que pode representar a oposição da UDN ao governo vigente. Já nos anos finais do mandato do marechal, a UNE entra em sua fase socialista influenciada pelo PCB, revelando uma oposição diferente entre estudantes e o governo, que era repressor em relação aos comunistas, para com a corrente mais forte na UNE nesse período, a União da Juventude Comunista, que chegou a ser considerada, em 1947, ilegal pelo governo. (2007, p.11).
FOTO 17: 11 de agosto: Estudantes que estavam protestando contra a ditadura militar são duramente reprimidos.
FONTE: Brasil Escola (2016, online).
	Assim segue Brasil com Getúlio Vargas e depois Juscelino Kubistchek, estes governos já passam um clima de golpe de estado, assume Jânio Quadros, este que segundo Paula (2007) mantinha o comércio exterior ligado aos países socialistas, ele que renuncia seu governo, hoje reconhecido como golpe, tem seu lugar ocupado por João Goulart, que era chamado de comunista disfarçado de democrata. 
Enquanto Jango estava em uma visita oficial na China Comunista, a oposição articulava o golpe que impediria sua posse legal. Entretanto, esse não fora bem-sucedido. Liderado pelo governador gaúcho Leonel Brizola e com ampla participação do movimento estudantil, o povo vai com a Campanha da Legalidade defender a posse de João Goulart. Em 1961, Jango assume, porém, encara um governo conturbado. (2007, p.12).
	Começa assim uma polarização, pois Jango vivia em uma balança em que pela esquerda clamava por reformas e pela direita era frente aos avanços sociais:
A polarização que, assim, se produziu colocaria de um lado Leonel Brizola, Miguel Arraes e Francisco Julião do outro Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, UDN, alguns militares e os generais Olímpio Mourão Filho e Costa e Silva. Se os trabalhadores tinham no CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) uma representação, os empresários também tinham, só que no IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e no Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática); já que os estudantes da esquerda se organizavam na UNE (União Nacional dos Estudantes), os seus adversários formavam a MAC (Movimento Anticomunista); havia as “revolucionárias” ligas camponesas, em contrapartida havia também o ultraconservador Ibad; se a esquerda cristã tinha sua representação na Ação Popular as mulheres católicas formavam a UCF (União Cívica Feminina), que mais tarde organizará a Marcha da Família pela democracia. (Paula, 2007, p.12).
3.2. A Ditadura Militar No Brasil
	Todo homem tem história, todo país tem passado. Soares (1994) alerta que os cidadãos devem se preocupar com futuro da Nação que vivem.
Pensar o legado deste período de autoritarismo militar é tarefa que se impõe aos historiadores e também aos cidadãos interessados no futuro do pais. A sensação de perda anunciada na canção popular exprime uma percepção que atribui aquele período vários retrocessos. Há debates sobre as perdas econômicas, acentuadas com a decolagem da inflação que marcou o fim do regime, e pouco duvidam de que houve um retrocesso institucional: durante mais de duas décadas a democracia regrediu. Os partidos não evoluíram e a legislação eleitoral, cada ver. mais casuística. Deixou marcas que ainda dificultam nossa evolução política. Interrompeu-se a formação da elite política e, após a redemocratização. O Brasil voltou a ser comandado por várias das figuras que o golpe quis apagar. Os novos políticos que entraram em cena foram treinados por um regime que desprezava a política e que pagava tributo. Apenas superficial à democracia. A descrença na atividade política como um canal legitimo de representação dos interesses da população continuou após a redemocratização. (1994, p.1).
	O regime militar deixou profundas marcas, principalmente no sistema político.
No que toca ao sistema político. O regime militar deixou um legado bastante negativo. O amordaçamento das instituições e as restrições à liberdade pública não geraram o efeito utópico, desejado pela extrema direita, de silenciar para sempre toda voz de oposição no país e produziram um efeito perverso para a cultura política e a vida pública do Brasil. Não é demais repetir que as novas gerações foram mutiladas em seus sonhos de participação e cidadania política. (Soares, 1994, p.2).
	E também como continua Soares (1994) no sistema econômico ficou bastante precário. 
No que toca à política econômica, os sucessos obtidos foram cantados em prosa e verso (nem sempre de boa qualidade). Falava-se no "milagre econômico”, que se de fato rendeu ganhos substantivos no que toca ao crescimento econômico, que a diversificação da economia e expansão das atividades industriais, científicas e tecnológicas – deixou um legado bastante precário no que se refere ao investimento social e até mesmo, com respeito aos resultados do que foi efetivamente investido nessa área. (1994, p.2).
	O fim do governo reformista, segundo Napolitano (2011), veio em 03 de março de 1964, apoiado por civis, acabou também com o regime político, chamado de República de 1946. 
O regime democrático e constitucional que, por sua vez, nascera de um golpe militar contra o Estado Novo de Getúlio Vargas, caia diante de outro golpe contra um dos herdeiros do getulismo em sua fase dita “populista-democrática”. O esboço de uma política reformista, calcada em três estratégias –a nacionalização da economia, a ampliação do corpo político da nação e a reforma agrária– seria substituída por um regime militar anticomunista e antirreformista, pautado por uma política desenvolvimentista sem a contrapartida distributivista. (2011, p. 2).
	Napolitano explica que o governo militar não foi homogêneo, as dinâmicas políticas variam de general para general, os grupos eram anticomunistas e rejeitavam a política de massa, o regime não possui uma ideologia constante e nem pouco unida, relata:
Ainda em relação ao golpe, parece-me claro de que se trata de um golpe civil-militar, com tem enfatizado a historiografia atual, que se transmuta em um regime militar. Entretanto, ainda seria necessário aprofundar o papel ativo do Congresso (ou melhor, de forças hegemônicas nesta instituição do sistema político brasileiro) na transformação do levante militar de 31 de março em golpe de estado, culminando no episódio da “vacância da Presidência” e da eleição do General Castelo Branco. (2011, p. 7). 
	Empresários e políticos com medo do ataque comunista no Brasil, começam a acreditar, segundo Soares que o regime militar seria a única solução para afastar a ameaça, descreve:
Setores empresariais e políticos apegaram-se ao setor militar partilhando de uma inabalável convicção de que tal aliança era imprescindível para

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