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ABRAFARMA-2016_Farmacia clinica

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FARMÁCIA CLÍNICA 
E A PRESTAÇÃO DE 
SERVIÇOS FARMA-
CÊUTICOS
Descubra como a emergente área da Farmácia Clínica e dos Serviços Farmacêuticos 
pode ajudar a aproximar pacientes, médicos e demais profissionais da saúde, em 
busca de uma farmácia mais atuante e de melhores resultados de saúde para todos.
Cassyano J Correr
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS
Copyright © 2016 ABRAFARMA
Reservados todos os direitos. Os direitos de uso desta obra foram cedidos por seus autores à ABRAFARMA. É proibida a dupli-
cação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, 
gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da ABRAFARMA. As opiniões aqui expressas 
são de responsabilidade de seus autores, e não refletem necessariamente as da entidade. Esta obra também é parte inerente 
do curso Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos, oferecido na modalidade à distância pela Abrafarma a profissionais de 
todo país.
ABRAFARMA - Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias
Alameda Santos, 2300 - Conj. 71 - São Paulo / SP
CEP 01418-200 | Tel.: (11) 4550-6201
Practice Editora | Grupo Practice Ltda
Supervisão: Graziela Sponchiado | Diagramação: Guilherme Menezes |
Contatos: contato@grupopractice.com.br | http://farmaceuticoclinico.com.br
Os autores desta obra empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publi-
cação, e todos os dados foram atualizados até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o 
constante fluxo de novas informações em administração e saúde, recomendamos enfaticamente que os leitores sempre consultem outras fontes fidedignas (p. ex., Anvisa, diretrizes e protocolos clínicos), 
de modo a se certificarem de que as informações contidas neste manual estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Recomendamos que 
cada profissional utilize este livro como guia, não como única fonte de consulta.
Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis correções 
posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.
Editoração:
 
C345 Correr, Cassyano Januário
 Farmácia Clínica e a prestação de serviços farmacêuti cos /
 Cassyano Januário Correr. 1. ed. Curiti ba: Ed. Practi ce,
 2016. 
 132 p. : il. ( algumas color.) 
 
 ISBN 978-85-68784-10-5
 1. Saúde. 2. Farmácia . I. Título
AUTOR:
Cassyano J Correr, BPharm, MSc, PhD
Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná 
Consultor Abrafarma - Projeto Assistência Farmacêutica Avançada 
projetofarma@abrafarma.com.br
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS5
O que esta imagem
significa para você?
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS6
su-
má-
rio
95
107
113
116
122
Promoção: como o serviço é comu-
nicado aos pacientes e clientes?
Processo: o serviço é bem feito? 
Pessoas: o provedor do serviço é 
bem preparado?
Provas: o que o paciente vê? O que 
ele leva para casa?
Referências
43
62
64
69
83
31
40
Um novo plano para os serviços 
farmacêuticos
Produto: que benefício (valor) o 
serviço gera para o paciente
Ponto: onde o serviço é fornecido? 
Preço: quanto custa para o cliente 
obter o serviço?
O modelo Abrafarma para os servi-
ços farmacêuticos
Os serviços farmacêuticos em far-
mácias e drogarias 
Um pouco mais sobre dispensação 
de medicamentos
07
12
15
16
2 1
24
29
A jornada do paciente
Automedicação e os problemas de 
saúde autolimitados
Um pouco de história 
Os farmacêuticos e os médicos pre-
cisam trabalhar juntos
A voz do consumidor: o que eles 
pensam do farmacêutico? 
Entenda o que é adesão ao 
tratamento
Problemas relacionados à 
farmacoterapia
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS7
“O farmacêutico é tradicionalmente reconhecido como um profis-
sional responsável pela produção e distribuição de medicamentos 
e pouco envolvido no cuidado dos pacientes. O modelo de prática 
de dispensação de medicamentos também corresponde a este pa-
pel tradicional. Esta realidade, entretanto, vem sendo transformada, 
na medida em que cresce a necessidade de uma maior participação 
do farmacêutico no manejo do uso dos medicamentos, tendo como 
foco de trabalho o paciente e não apenas o medicamento. A promo-
ção do uso racional de medicamentos, a diminuição da morbidade e 
mortalidade relacionadas aos medicamentos e a busca da melhoria 
da qualidade de vida da população têm sido o foco das ações pro-
postas.”
Correr; Otuki. A prática farmacêutica na farmácia comunitária. Artmed, 2013.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS8
A jornada do paciente
Vamos começar com uma boa notícia. Nós estamos vivendo mais e melhor e 
essa é uma realidade em todo mundo. Não importa a pobreza do país, todos 
assistiram a um aumento da expectativa de vida no último século. Mas há um 
preço cada vez menos oculto a ser pago. O envelhecimento populacional, as 
famílias com menos filhos, as mudanças no perfil das doenças. Tudo isso cobra 
sua conta sobre quem paga os gastos da saúde.
O aumento da prevalência das condições crônicas é o principal fator que atual-
mente pressiona os sistemas de saúde em todo mundo. Se 100 anos atrás as 
causas de morte eram principalmente as doenças infecciosas e parasitárias, 
hoje a maior carga de morbidade e mortalidade pertence às doenças crônicas 
não transmissíveis1.
As mais importantes são as doenças cardiocirculatórias, o 
câncer, o diabetes, doenças crônicas pulmonares e neurop-
siquiátricas.
Os fatores de risco mais relevantes para essas doenças são: tabagismo, consu-
mo abusivo de álcool, excesso de peso, níveis elevados de colesterol, baixo con-
sumo de frutas e verduras e sedentarismo. No Brasil, 31% dos brasileiros adultos 
afirma ter pelo menos uma doença crônica. Essa proporção aumenta conforme 
a faixa etária, chegando a 79% dos idosos com mais de 65 anos2.
A partir dos 50 anos de idade, a prevalência das doenças crônicas aumenta con-
sideravelmente, e acaba levando à polimedicação, que é o uso simultâneo de 
vários medicamentos. Nos idosos, por exemplo, 1 em cada 3 utiliza mais de 5 
medicamentos contínuos, e isso representa custos crescentes nos gastos em 
saúde3. A importância das doenças crônicas cresce em nosso país, ao mesmo 
tempo em que problemas básicos de saneamento, nutrição infantil e doenças 
infecciosas endêmicas, como a febre amarela, e epidêmicas, com a dengue, con-
tinuam importantes. Adicionalmente, os números da violência, principalmente 
nas grandes cidades, tornam significativas as causas externas de morte. Por 
isso, é comum ver os especialistas referirem que no Brasil convivemos com uma 
tripla carga de morbimortalidade, representada pelas condições crônicas, as do-
enças infecciosas e as causas externas4.
O desafio das doenças crônicas é que elas exigem um outro modelo de cuidados 
em saúde. A lógica tradicional da doença aguda, em que se tem sintomas cla-
ros, diagnóstico, tratamento e cura, não funciona para as doenças crônicas. Para 
doenças como hipertensão e diabetes, os sintomas costumam estar ausentes,o 
diagnóstico muitas vezes é incerto, o tratamento é longo, e não há cura.
O primeiro desafio é a detecção para o diagnóstico precoce. Esse continua sendo 
um desafio no Brasil. Em média, uma pessoa pode levar 12 meses ou mais para 
conseguir percorrer a jornada entre uma primeira consulta médica, fazer os exames, 
retornar ao médico para fechamento do diagnóstico e receber uma prescrição do 
tratamento. Essa dificuldade é maior principalmente na parcela da população com 
mais baixa renda, e na dependência de especialistas e exames mais caros.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS9
Mas o que isso tem a ver com a farmácia?
E uma vez que o paciente recebe o diagnóstico e consegue iniciar o tratamento, 
daí começa uma outra jornada. O acompanhamento, as consultas periódicas, os 
exames, os ajustes necessários na medicação, a aceitação da doença e a força 
de vontade para mudar hábitos de vida.
Mesmo em países desenvolvidos, como a Inglaterra, um 
doente crônico passa, em média, apenas 3 horas por ano 
com o médico.
Isso representa 0,03% das 8.760 horas de um ano. Fica fácil perceber que para 
as doenças crônicas o autocuidado é mais importante do que o cuidado profis-
sional, e esse, de fato, é um dos pilares do modelo de cuidados crônicos 1,5. O 
treinamento e a educação do paciente são fundamentais.
Tem tudo a ver! Por isso, é importante que existam ações que possibilitem a detecção de risco nos pacientes, especialmente nas doenças crônicas mais assintomá-
ticas. Essas ações são chamadas de rastreamento em saúde. Um teste positivo no rastreamento é o primeiro passo para a obtenção de um diagnóstico, que deverá 
ser confirmado pelo médico. Um exemplo bem conhecido é o teste de glicemia, capaz de detectar pacientes com risco de diabetes de uma forma rápida, acessível 
e bastante confiável. Quer outros exemplos? a medida da pressão arterial, a densitometria óssea de calcanhar, o teste de colesterol, o PHQ-2, etc.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS10
O paciente enfrenta uma longa jornada, começando pelo 
pré-diagnóstico
4 meses 4 meses
Paciente busca atendi-
mento médico
TEMPO
DÚVIDAS
INSEGURANÇA
CUSTOS
Médico faz consulta e 
solicita exames
3-4 meses
Paciente realiza os 
exames
Paciente retorna ao médi-
co com os exames
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS11
O diagnóstico é apenas o início.
É durante o tratamento que outros problemas podem surgir.
Adesão ao tratamento
Recaídas / dúvidas
Efeitos colaterais
Acesso aos profissionais
Autogestão da doença
Paciente inicia o tratamento
Paciente faz exames e 
consultas periódicas
Tratamento é ajustado conforme 
os resultados
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS12
A importância crescente das doenças crônicas tornou a adesão ao tratamento 
um dos maiores desafios que temos hoje na saúde.
A Organização Mundial da Saúde estima que 50% dos pa-
cientes tem baixa adesão ao tratamento6.
Um estudo com mais de 150.000 pessoas, feito nos Estados Unidos, mostrou 
que a adesão a medicamentos para glaucoma, dislipidemia, osteoporose, dia-
betes e hipertensão varia de 37% a 72% nos primeiros 12 meses de tratamento. 
Nos hipertensos tratados por 10 anos, 22% interrompem e reiniciam o trata-
mento durante o período e 39% abandonam o tratamento definitivamente7. Em 
pessoas com mais de 40 anos, usando medicamentos contínuos, a taxa de não 
adesão completa aos medicamentos é de 63%. As principais causas são des-
continuidade de acesso, falta de acompanhamento profissional e ter que usar 
medicamentos muitas vezes ao dia8.
ALGUNS NÚMEROS DA NÃO ADESÃO AOS MEDICAMENTOS
50% dos pacientes
possuem adesão
aos medicamentos
abaixo do
necessário
A não adesão ao tra-
tamento para doenças 
crônicas varia de 37% 
a 72% nos primeiros 
12 meses
63% das pessoas 
com mais de 40 anos 
admitem não ter 
adesão completa ao 
tratamento
Fica claro que o cuidado tradicional centrado apenas no médico, com um diag-
nóstico e uma receita de medicamentos, não funciona bem para as doenças 
crônicas. É preciso um trabalho multiprofissional e um acompanhamento conti-
nuo da saúde desses pacientes. É preciso educar e dar suporte ao autocuidado, 
pois essas doenças exigem que o paciente seja o verdadeiro protagonista do 
seu tratamento. A falta dessa abordagem compromete a qualidade do cuidado 
e o controle das doenças crônicas, com grande impacto social e econômico. 
Vejamos a situação do cuidado das principais doenças e fatores de risco.
TABAGISMO: A prevalência de usuários atuais de produtos derivados de tabaco, 
fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, é de 15,0% (21,9 milhões 
de pessoas). Os homens apresentaram percentual mais elevado de usuários 
(19,2%) do que as mulheres (11,2%). Por faixa etária, aqueles com idade entre 
40 e 59 anos apresentaram o maior percentual (19,4%). Mais da metade dos 
fumantes (51,1%) tentou parar de fumar nos últimos 12 meses. Apenas 8,8% 
procuraram tratamento ou profissional da saúde para parar de fumar 2.
SOBREPESO E OBESIDADE: 51% dos brasileiros (54% dos homens e 38% das 
mulheres) apresentam sobrepeso e 17,5% dos brasileiros (16% dos homens e 
18% das mulheres) são obesos9.
HIPERTENSÃO ARTERIAL: 21,4% dos brasileiros com mais de 18 anos referem 
diagnóstico de hipertensão. Do total de pessoas com idade entre 60 e 64 anos, 
44,4% referiram diagnóstico de hipertensão. Um em cada cinco (18,6%) admi-
tem não ter tomado os medicamentos para hipertensão nas últimas duas sema-
nas. Um em cada três (30,3%) não receberam nenhuma assistência médica nos 
últimos 12 meses 2. O controle da hipertensão no Brasil é ruim. Mais de 60% dos 
pacientes controlam mal a condição e é esperado que apenas 3 ou 4 a cada 10 
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS13
pacientes tratados estejam com pressão arterial estabilizada abaixo de 140/90 
mmHg (que é a meta geral do tratamento)10.
DIABETES MELLITUS: 11,5% dos brasileiros com mais de 18 anos nunca fize-
ram exame de sangue para determinar a glicemia 2. Diagnóstico: 6,2% da popu-
lação de 18 anos ou mais de idade referiram diagnóstico médico de diabetes (9,1 
milhões de pessoas). Em pessoas com 65 anos ou mais a prevalência é de 19% 
2. Tratamento: 75% dos diabéticos tipo 2 controlam mal a doença e não atingem 
a meta do tratamento11. Uma em cada quatro pessoas com diabetes (27%) não 
recebeu nenhuma assistência médica nos últimos 12 meses. Um em cada cinco 
(20,%) admitiram não ter utilizado medicamento ou insulina nas últimas duas 
semanas 2.
DISLIPIDEMIAS: 12,5% das pessoas de 18 anos ou mais de idade (18,4 milhões) 
tiveram diagnóstico médico de colesterol alto. A frequência de pessoas que re-
feriram diagnóstico médico de colesterol alto é mais representativa nas faixas 
de maior idade: 25,9% das pessoas de 60 a 64 anos de idade, 25,5% das pessoas 
de 65 a 74 anos de idade e 20,3% para aqueles com 75 anos ou mais. Uma em 
cada sete pessoas (14,3%) acima de 18 anos nunca fez exame de colesterol e 
triglicerídeos 2.
Observa-se a importância de ações que melhorem a gestão e o acompanhamen-
to do tratamento desses pacientes, juntamente com as ações de prevenção e 
rastreamento de doenças. Essa é base dos serviços clínicos que o farmacêutico 
vem desenvolvendo.
Entenda o que é adesão ao tratamento
Entende-se por adesão terapêutica o quanto há de concordância entre o compor-
tamento do paciente na utilização de medicamentos ou seguimento de medidas 
não farmacológicas, e aquelas recomendações feitas pelos profissionais da saú-
de. A adesão terapêutica é mais do que apenas tomar os comprimidos. Trata-se, 
afinal, do quanto o paciente compreende,concorda e participa do seu tratamento.
Outro parâmetro importante é o que chamamos de persistência, que consiste 
no tempo (em dias, meses, ou anos) em que o paciente permanece tomando o 
medicamento, sem interrupção do tratamento. Muitos pacientes abandonam o 
tratamento de forma definitiva ou por períodos de tempo, e isso pode compro-
meter a evolução das complicações crônicas. De maneira prática esses concei-
tos, adesão e persistência, estão correlacionados, e devem “andar juntos” 12.
Nós sabemos que vários fatores podem prejudicar a 
adesão aos medicamentos, funcionando como barrei-
ras. Questões da qualidade do sistema de saúde, como 
o relacionamento médico-paciente, fatores econômicos 
e sociais, como o acesso aos medicamentos, fatores 
ligados ao tratamento, como a polimedicação, a comple-
xidade da terapia, e fatores ligados as doenças, como a 
ausência de sintomas, os prejuízos cognitivos ou funcio-
nais do paciente6.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS14
E os pacientes não aderentes, como as pessoas, não são 
todos iguais.
Há pacientes que omitem doses, que com frequência pulam doses e tomam 
menos medicamento do que foi prescrito. Há pacientes que exageram na dose. 
Eventualmente tomam mais comprimidos do que foi prescrito. Outros aumen-
tam a dose por conta própria. Há os pacientes que tiram ‘férias’ do tratamen-
to: interrompem o tratamento por um período de tempo, depois voltam. Há os 
aderentes pré-consulta, que começam a cumprir o tratamento adequadamente 
apenas nos dias que antecedem a consulta médica. Também os aderentes pós-
-consulta, que após a consulta médica, começam a cumprir o tratamento correta-
mente, mas apenas por um período tempo limitado. Há também os aderentes ale-
atórios, que tomam os medicamentos apenas quando se lembram. E há a adesão 
ligada a sintomas, que são os pacientes que tomam os medicamentos apenas 
quando sentem os sintomas da doença.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS15
Os não aderentes involuntários são pessoas que tem apenas dificuldade de se 
lembrar de tomar os medicamentos, se confundem ou não conseguem orga-
nizar toda medicação adequadamente. Isso é bem comum quando o paciente 
toma muitos medicamentos, em pessoas com baixa escolaridade, ou simples-
mente quando a pessoa não foi bem orientada pelo profissional da saúde.
E há os pacientes que não aderem de forma voluntária. São pessoas que de-
cidem, conscientemente, não tomar os medicamentos conforme prescrito. Os 
motivos são pessoais, multifatoriais e podem ser muito variados. O abandono 
do tratamento geralmente está ligado à experiência do paciente com os medi-
camentos e precisa ser abordado com mais profundidade pelo farmacêutico. 
Nestes pacientes mais resistentes, vá com calma, procure ganhar sua confiança 
e avance aos poucos.
Nós podemos também classificar a não adesão em primária 
ou secundária. “Não adesão primária” é quando o paciente 
não consegue acesso ao medicamento, por ruptura de es-
toque ou por causa do custo, por exemplo. Na “não adesão 
secundária”, o paciente tem o medicamento, mas não adere 
por outros motivos13.
Mas se as pessoas vão ao médico, por es-
pontânea vontade, a fim de obter auxilio para 
um problema de saúde, e recebem uma pres-
crição de medicamentos, por que elas não 
utilizariam esta prescrição? Para compre-
ender melhor este enigma, vamos primeiro 
diferenciar duras formas de não adesão: a 
involuntária e a voluntária.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS16
Há trabalhos na literatura que trazem vários métodos diferentes para diagnos-
ticar a baixa adesão aos tratamentos e diversas estratégias a fim de aumentar 
a adesão. Não existe um método padrão-ouro, que permita avaliar todos os as-
pectos relacionados à adesão. Os métodos de avaliação da adesão são dividi-
dos em diretos (por exemplo, a dosagem do fármaco ou metabólitos no plasma, 
saliva ou urina) e métodos indiretos (por exemplo, a contagem de comprimidos, 
avaliação de resultados terapêuticos e os questionários).
Todos os métodos tem suas vantagens e desvantagens. Em geral, nas pesqui-
sas, os métodos considerados mais robustos são a contagem dos comprimidos 
e o cálculo da taxa de posse dos medicamentos, a partir dos registros da farmá-
cia. Em inglês a taxa de posse é chamada de Medication Possession Ratio, ou 
MPR14. Na prática clínica, o uso de questionários e a própria entrevista com o 
paciente são os métodos mais factíveis e confiáveis.
Entre os questionários validados, sugiro que você conheça 
pelo menos dois: Morisky-Green-Levine e Haynes-Sackett15.
A não adesão aos medicamentos por parte dos pacientes é um problema de 
natureza rara, capaz de unir todos os elos importantes da cadeia farmacêutica, 
desde os laboratórios fabricantes, o governo, os médicos, o varejo farmacêutico 
e os farmacêuticos. Não há um só desses elos que não ganhe com o aumento da 
adesão aos tratamentos, incluindo, obviamente, os pacientes e a saúde pública.
Automedicação e os 
problemas de saúde 
autolimitados
Podemos pensar que no lado oposto ao comportamento de não adesão aos medi-
camentos, está a automedicação. Isto é, tomar medicamentos por conta própria, 
sem supervisão de um profissional da saúde. Todos sabemos que automedicação 
feita de forma errada por levar a dano para os pacientes, e que existe uma cultura 
de automedicação bastante presente entre os brasileiros. Há estudos que mostram 
que menos de 10% das pessoas procura o médico quando tem um problema de 
saúde, enquanto mais de 30% se automedicam16. E os medicamentos mais usados 
por automedicação no Brasil são os analgésicos e os antiinflamatórios não-esteroi-
dais (os AINES). Nas farmácias, existe uma demanda tradicional e constante para 
que o farmacêutico indique medicamentos.
Um levantamento feito pelo IBOPE em 2011 mostrou que
69%
das pessoas, quando decidem se automedicar, procuram 
diretamente pelo farmacêutico e
62%
pedem a ele que seja recomendado um medicamento17.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS17
Se por um lado a automedicação é parte inerente dos sistemas de saúde e é 
importante para sua sustentabilidade, de outro é preciso minimizar os riscos, 
seja liberando para venda sem receita apenas medicamentos com uma relação 
risco/benefício favorável, seja utilizando a farmácia como um ponto de apoio 
para a prática segura da automedicação.
É o chamado “autocuidado assistido”, ou automedicação assistida, que é diferen-
te do autocuidado puro, em que o paciente toma suas decisões de cuidados em 
saúde sem ajuda de nenhum profissional. Nas maiores redes de farmácias do 
país, estima-se que cada farmacêutico faça entorno de 200 atendimentos dessa 
natureza por mês, com alguma indicação de medicamento ao cliente 18. Isso 
representa dezenas de milhões de atendimentos todos os anos.
Essa é uma demanda gigantesca, que exigiu uma melhor regulamentação e pro-
fissionalização desses atendimentos. Esse é um dos grande motivos pelo qual 
o Conselho Federal de Farmácia buscou regulamentar a prática da prescrição 
farmacêutica para medicamentos que não requerem receita médica, por meio 
da resolução no 586, de 2013 19.
Este é o serviço farmacêutico que o CFF denomina manejo 
de problemas de saúde autolimitados.
E a Lei no 13.021 de 2014, em seu artigo 13, reforça a obrigação de um papel 
mais clínico do farmacêutico no atendimento das demandas da população, fa-
zendo a orientação farmacêutica e esclarecendo o paciente sobre os benefícios 
e riscos dos medicamentos.
Existe uma ampla gama de Medicamentos Isentos de Prescrição Médica, os 
MIPs. A Anvisa regulamentou essa classe de produtos em 2003, por meio RDC 
no 138, e recentemente definiunovas regras para o chamado SWITCH, que é a 
passagem de medicamentos tarjados para MIP 20.
Hoje, existem MIPs para tratamentos de uma série de problemas de saúde:
problemas de pele, alergias, dores de cabeça, dores mus-
culares, problemas digestivos, dificuldade para dormir, 
sintomas respiratórios, parasitoses, entre outros.
Atualmente, nas farmácias, esses medicamentos podem ficar diretamente ao 
alcance dos consumidores, nas gondolas. E há uma tendência crescente para 
que a gestão dessas categorias nos estabelecimentos torne a escolha por parte 
dos clientes um processo mais seguro e informado do que vemos hoje.
Problemas relacionados a 
farmacoterapia
Tanto a adesão ao tratamento, como a automedicação, podem ser examinados 
pela ótica mais abrangente dos problemas relacionados aos medicamentos, co-
nhecidos no meio farmacêutico como PRMs. Atualmente, a denominação PRM 
tem caído em desuso, e é mais comum ouvir os especialistas se referindo a 
problemas relacionados à farmacoterapia.
Independentemente da denominação, não há dúvida de que o principal valor 
que o farmacêutico pode entregar à sociedade por meio dos serviços farma-
cêuticos é a solução dos problemas relacionados à farmacoterapia.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18 FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18
E esses problemas são grandes no Brasil. Estima-se que 
aconteçam, por ano no país, entre 1,2 e 3,2 milhões de 
internamentos hospitalares de urgência ligados ao mau 
uso de medicamentos. E o custo somente para o SUS 
pode chegar a 3,6 bilhões de reais por ano34. Precisamos 
entender melhor por que isso acontece e como minimizar 
estes problemas.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS19
Quando uma pessoa tem o diagnóstico de uma doença e começa um tratamento 
com medicamentos, uma série de eventos bem sucedidos precisa ocorrer, para 
que haja melhora da saúde desse paciente. Em primeiro lugar, a prescrição preci-
sa ser adequada para o paciente, então esse paciente precisa utilizar corretamen-
te esse medicamento, ter boa adesão ao tratamento, além disso, o medicamento 
precisa ter uma boa qualidade, enquanto produto, para que o processo biofarma-
cêutico ocorra como planejado. Se tudo isso estiver certo, a biodisponibilidade for 
boa, nós poderemos ter o efeito farmacológico esperado (resultante da farma-
cocinética e farmacodinâmica) e os resultados de saúde surgirão. E nós vamos 
enxergar esses resultados de saúde em termos de efetividade do tratamento e 
ausência de reações adversas. Basicamente é isso. Chamamos a todo esse ciclo 
de “processos da farmacoterapia” 21.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS20
Entretanto, caso haja qualquer problema nesses 
processos, como falhas de prescrição, desvio 
de qualidade no produto, baixa adesão ao trata-
mento, interações medicamentosas, ou dezenas 
de outros fatores que podem interferir nesse 
tratamento, então nós estaremos diante de um 
problema da farmacoterapia. Nesses casos, o 
paciente pode não melhorar de sua doença, ou 
sofrer um agravo, um dano, e nós teremos con-
sequências para a vida dessa pessoa e para o 
sistema de saúde.
Vamos ver alguns números desses problemas no Brasil. Um estudo do Ministé-
rio da Saúde feito em Curitiba com mais de 500 pacientes polimedicados que 
passaram por uma consulta com o farmacêutico, revelou que mais de 80% ti-
nham algum problema ligado ao uso correto dos medicamentos. Um em cada 
três pacientes tinha abandonado algum tratamento, 54% omitiam doses, 14% 
faziam automedicação inadequada, 33% usavam medicamentos em horários 
errados, 21% adicionavam doses não prescritas, 13% não haviam iniciado algum 
tratamento prescrito, e 8% cometiam erros na técnica de administração da for-
ma farmacêutica, entre outros problemas diversos 22
Nesses pacientes, ainda, 20% sofriam alguma reação adversa e quase meta-
de deles fazia algum tratamento que não estava sendo suficientemente efetivo. 
Isto é, não vinha produzindo os resultados esperados. Isso revela uma outra face 
oculta do uso de medicamentos em nosso meio: o baixo controle de doenças 
crônicas no Brasil.
Como já citamos, na hipertensão, por exemplo, que tem uma prevalência de 
mais de 20% entre os brasileiros adultos, apenas 30% dos pacientes tratados 
tem a pressão arterial sob controle. No caso do diabetes tipo 2, apenas 25% 
conseguem controlar bem a doença, o que nos coloca como um dos piores paí-
ses do mundo no controle do diabetes. E nós vemos dados não muito diferentes 
para pacientes com hiperlipidemia, hipotireoidismo, sobrepeso e obesidade.
E nós sabemos que o mau controle de todas essas condições crônicas leva a 
consequência desastrosas. No Brasil, o diabetes mata mais do que AIDS e aci-
dentes de transito. O infarto do miocárdio ainda é responsável por 30% das mor-
tes no país. A cada hora, 23 pessoas morrem por males relacionados ao cigarro. 
E as mortes por obesidade triplicaram no país nos últimos 10 anos.
Esse é o contexto em que a profissão de farmacêutico existe hoje. Uma mu-
dança epidemiológica, o envelhecimento populacional, o uso cada vez maior de 
medicamentos, problemas de adesão ao tratamento, automedicação e falhas 
observadas em todos os processos da farmacoterapia. E o paciente utilizando 
cada vez mais o sistema, com uma expectativa cada vez maior de qualidade de 
atendimento e acesso às novas tecnologias.
Portanto, há muito o que ser feito na promoção do uso racional dos medica-
mentos. Por isso os problemas relacionados aos medicamentos são uma parte 
central do trabalho clínico do farmacêutico e do benefício que ele pode trazer 
para a sociedade.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS21
Fonte: Ministério da Saúde, 2014.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS22
Um pouco de história
Resgatando os últimos cem anos de história da 
prática farmacêutica, três períodos são claramen-
te observados: o tradicional, o de transição e os 
estágios de desenvolvimento do cuidado de pa-
cientes23.
Você já deve ter ouvido esta história muitas vezes, mas não custa lembrar. Na vi-
rada do século 20, o principal papel social do farmacêutico (então boticário) con-
sistia no preparo e dispensa do medicamento magistral. Com a industrialização 
maciça da produção na metade do século, o farmacêutico passou a dispensar 
medicamentos e desenvolveu sua competência em outras áreas emergentes 
naquele momento: a indústria farmacêutica e as análises clínicas. Nos anos 60, 
o desenvolvimento da farmácia clínica marca o início de um período de transi-
ção, em que o farmacêutico passa a exercer novas funções dentro da equipe 
de saúde, particularmente nos hospitais, assumindo um lugar de consultor so-
bre medicamentos e desenvolvendo uma prática mais orientada ao paciente e à 
equipe de saúde, focada na melhoria do processo de uso de medicamentos. Os 
farmacêuticos comunitários, ainda focados no produto, acrescentaram ao ato 
de dispensar medicamentos a função de prover informações aos pacientes so-
bre substituição por genéricos e aconselhar sobre uso de medicamentos isentos 
de prescrição 24.
A Farmácia Clínica é a área da prática farmacêutica que contribui diretamen-
te para o cuidado do paciente, buscando desenvolver e promover o uso racional 
dos medicamentos e produtos para a saúde. Como ciência, a farmácia clínica 
fornece a base técnica e científica, ligada aos medicamentos e à terapêutica, 
sobre a qual se possibilitou construir a prática farmacêutica clínica. Ela teve iní-
cio no âmbito hospitalar, mas atualmente incorpora a filosofia do Pharmaceu-
tical Care e, como tal, expande-se a todos os níveis de atenção à saúde. Esta 
prática podeser desenvolvida em hospitais, ambulatórios, unidades de atenção 
primária à saúde, farmácias, instituições de longa permanência e domicílios de 
pacientes, entre outros. Uma definição mais atual de Farmácia Clínica a coloca 
como a “área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medi-
camentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a 
otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças” 25.
Os primeiros serviços de farmácia clínica, nos hospitais, desenvolveram ativi-
dades voltadas aos pacientes, como a análise de prescrições, a monitorização 
plasmática de medicamentos e o aconselhamento de pacientes. E também vol-
tadas à equipe de saúde, como informação sobre medicamentos e a participa-
ção em comissões de farmácia e terapêutica. Para muitos farmacêuticos hos-
pitalares, essas atividades ainda são sinônimo de farmácia clínica, mas existem 
um “mundo novo” de serviços e atividades que se desenvolveram nos últimos 10 
anos e precisam ser conhecidos.
No plano internacional, os serviços mais populares são:
Conciliação de Medicamentos (Medication Reconcilia-
tion), Gestão da Farmacoterapia (Medication Therapy 
Management), Revisão da Medicação (Medication Re-
view), Programas de Gestão da Doença (Disease State 
Management).
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS23
Enquanto isso, no Brasil, a Lei no 13.021 de 2014 “sacramentou” o acompanha-
mento farmacoterapêutico como uma das principais obrigações do farmacêutico, 
tanto no hospital como nas farmácias e drogarias. Falaremos sobre isso adiante.
Vamos relembrar o 
Pharmaceutical Care e seu 
encontro com a Farmácia 
Clínica
O termo pharmaceutical care foi utilizado pela primeira vez na década de 70, 
todavia o conceito mundialmente difundido foi publicado em 1990 por Hepler 
& Strand, nos Estados Unidos 26. Este termo foi traduzido para vários idiomas 
mundo afora e ganhou diferentes significados, de acordo com as característi-
cas culturais e da prática farmacêutica dos países. Na Espanha foi traduzido 
como “Atención Farmacéutica”, na França “Suive Pharmaceutique”, em Portugal 
“Cuidados Farmacêuticos”, no Brasil inicialmente como “Atenção Farmacêutica”. 
Atualmente, o termo recomendado em nosso país é “Cuidado Farmacêutico”.
A OMS em sua histórica “Declaração de Tóquio” (1993) sobre as funções do 
farmacêutico no sistema de atenção à saúde, reconhece os cuidados farmacêu-
ticos e sua aplicabilidade a todos os países, mesmo considerando as diferenças 
de evolução socioeconômicas entre eles. Além disso, foi a OMS que apresentou 
um conceito mais estendido à comunidade e não somente ao indivíduo, enten-
dendo o farmacêutico como um prestador de serviços de saúde que pode parti-
cipar ativamente na prevenção de doenças e na promoção da saúde junto com 
outros membros da equipe de atenção à saúde 27.
Sabemos que a imensa maioria dos farmacêuticos das farmácias e drogarias 
trabalha separadamente dos médicos e sente dificuldade em avaliar os dados 
do paciente ou contatar médicos sobre aspectos do tratamento.
Por outro lado, os farmacêuticos são muito acessíveis aos pacientes (e vice-ver-
sa) e geralmente sentem pouca dificuldade organizacional em conversar com 
esses pacientes. O intervalo de tempo entre as consultas médicas é raramente 
ditado pelo ritmo da farmacoterapia e os farmacêuticos costumam ver esses 
pacientes por várias vezes entre as consultas médicas. Assim, esses farmacêu-
ticos encontram-se naturalmente em uma boa posição para monitorar o pro-
gresso do tratamento farmacológico 28.
O conceito de farmácia clínica evoluiu e incorporou esses preceitos da prática 
centrada no paciente, dos cuidados farmacêuticos. A visão atual do “American 
College of Clinical Pharmacy (ACCP)” para a profissão, de acordo com seu plano 
estratégico para a prática farmacêutica em 2015, é que o farmacêutico será o 
profissional de saúde responsável pelo uso de forma ideal da farmacoterapia na 
prevenção e tratamento de doenças 25,29. Segundo a ACCP,
“a prática da farmácia clínica abrange a filosofia da atenção farmacêutica ou 
dos cuidados farmacêuticos, dessa forma, combina uma orientação para o 
cuidado com conhecimentos especializados de terapêutica, experiência e ju-
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS24
ízo clínico, com propósito de garantir resultados ideais para o paciente. Far-
macêuticos clínicos cuidam de pacientes em todos os locais onde se pratica 
atenção à saúde. Estes possuem conhecimentos aprofundados sobre medi-
camentos, integrados com uma compreensão fundamental das ciências bio-
médicas, farmacêuticas, sócio-comportamentais e clínicas. A fim de atingir 
metas terapêuticas desejadas, o farmacêutico clínico aplica diretrizes basea-
das em evidências, novos conhecimentos de ciências em evolução, tecnolo-
gias emergentes, além de princípios legais, éticos, sociais, culturais, econômi-
cos e profissionais”.25
Nota deve ser feita sobre a ausência na visão atual da ACCP de qualquer men-
ção à dispensação como uma atividade ligada à área de farmácia clínica. Isso 
ocorre pelo entendimento (cada vez mais presente) de que o serviço de dispen-
sação encontra-se ligado à área de distribuição de medicamentos (serviços não-
-clínicos) e não propriamente dentro da atuação do farmacêutico clínico.
Nos Estados Unidos é comum referir-se ao farmacêutico da dispensação como 
um “farmacêutico da distribuição”, em contraste ao “farmacêutico clínico” que 
atua diretamente no cuidado do paciente e em serviços clínicos. Em grande 
parte, isto vem de uma visão diferente dos farmacêuticos americanos sobre o 
que é “DISPENSING”. Este termo em inglês designa principalmente na atividade 
de receber o receituário, validá-lo, fracionar o medicamento conforme a receita, 
acondicionar e rotular o medicamento, deixando-o pronto para que seja entregue 
ao paciente. A orientação dada pelo farmacêutico juntamente com esta entrega 
é comumente chamada pelos nativos da língua inglesa de “COUNSELING”.
Eventualmente, o paciente pode apresentar um pro-
blema que precisa ser resolvido junto ao prescritor 
ou diretamente pelo farmacêutico. Nestes casos 
pode-se dizer que são realizadas “CLINICAL INTER-
VENTIONS” juntamente com o “DISPENSING & COU-
NSELING” do paciente. Estas intervenções clínicas 
visam a resolução de problemas relacionados aos 
medicamentos e podem ser inclusive remuneradas 
por seguros de saúde ou pelo próprio governo, como 
já ocorreu na Austrália30. Assim, atividades clínicas podem ocorrer através da 
dispensação, mas esta é essencialmente um atividade ligada ao preparo do me-
dicamento para ser entregue ao paciente e mais preocupada em não deixar que 
erros passem (na prescrição e na própria dispensação).
Esta distinção clara no inglês, entre DISPENSING e COUNSELING, não ocorre 
na língua portuguesa, particularmente no Brasil, pois tornou-se senso comum 
dizer que a DISPENSAÇÃO inclui a ORIENTAÇÃO do paciente, isto é, teorica-
mente, pode haver ACONSELHAMENTO sem DISPENSAÇÃO, mas não existe 
DISPENSAÇÃO sem ACONSELHAMENTO.
Eu suponho que o fato dos medicamentos serem vendidos no Brasil em emba-
lagens prontas, sem fracionamento efetivo acontecendo e sem necessidade de 
rotular de forma personalizada os medicamentos, fez com que essa mudança 
na interpretação do termo dispensação ocorresse com o passar dos anos. Por 
outro lado existe também uma clara demarcação de território da profissão. É 
preciso valorizar a dispensação até para aquilo que ela não é (às vezes algumas 
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS25
pessoas até exageram na importância da dispensação), pois aceitar a dispen-
sação apenas por aquilo queela realmente é poderia colocar em cheque mate a 
prática (e o emprego) de milhares de profissionais.
Abalei suas convicções de farmacêutico(a) com essas afir-
mações?
Se a resposta for sim, está na hora de você rever seus conceitos, pois todos nós 
deveríamos pensar naquilo que é melhor para o paciente e moldar a prática a 
isso. E não ficar tentando convencer o mundo da importância de uma prática 
criada em sua origem para preservar a corporação.
Mas uma ressalva. O Conselho Federal de Farmácia no Brasil, no entanto, con-
siderando a realidade da profissão e a legislação nacional, mantém a dispensa-
ção como uma das atribuições clínicas estratégicos do farmacêutico clínico 31. 
Essa, a meu ver, é uma decisão acertada para nosso momento histórico.
Mas nada disso elimina um ponto fraco. Onde 
estão os ensaios clínicos randomizados mos-
trando que a dispensação produz benefícios clí-
nicos palpáveis aos pacientes em comparação 
à entrega simples de medicamentos? Eu ainda 
espero por estes estudos.
Os farmacêuticos e os mé-
dicos precisam trabalhar 
juntos
Duas profissões milenares, que já foram uma só e se sepa-
raram em algum ponto da história. Ambas tão ligadas aos 
medicamentos e à terapêutica. Médico <-> Medicamento. 
Farmacêutico <-> Fármaco. Pare para pensar no poder das 
palavras.
Que tema delicado. Se você é médico e está lendo este livro, fique tranquilo, pois 
os farmacêuticos não fazem diagnóstico de doenças e não irão prescrever me-
dicamentos tarjados a partir desses diagnósticos. Mas é caro para a profissão 
farmacêutica poder avançar em seu papel clínico, recomendando, quando julgar 
necessário, medicamentos que são isentos de receita médica. Está na lei. São 
tratamentos sintomáticos, que dispensam diagnóstico prévio. Isso precisa ficar 
claro. No caso de pacientes crônicos e diagnosticados, os farmacêuticos podem 
auxiliar no acompanhamento e ajustes na terapia, para benefício do paciente 
e de toda equipe, mas sempre com a anuência e encaminhando o paciente ao 
médico que prescreveu o tratamento. Na verdade, o farmacêutico pode ser seu 
melhor parceiro. Nós podemos lhe ajudar com seus pacientes!
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS26
Se você é farmacêutico, esteja atento. Diagnóstico de doenças e prescrição de 
medicamentos tarjados é exercício ilegal da medicina. Seu papel é outro. E para 
fazer modificações em receitas, mudar doses, etc. é obrigatório que você esteja 
em pleno acordo com o médico prescritor, em situações excepcionais, como em 
clínicas, hospitais ou ambulatórios, onde haja trabalho conjunto e protocolos 
comuns. Na farmácia, seu papel é proporcionar uso seguro dos medicamentos. 
Você pode prescrever, sim, medicamentos de venda livre, orientações não far-
macológicas e encaminhamentos a outros profissionais. Guarde que prescrever 
vai além de medicamentos, é aconselhar por escrito!
Diversos documentos publicados con-
juntamente por sociedades médicas e 
farmacêuticas tratam da clara divisão 
de responsabilidades entre essas profis-
sões. Falarei apenas do mais importante. 
A Associação Médica Mundial, durante 
sua 51ª Assembleia Geral em Israel, em 
outubro de 1999, publicou documento 
sobre as relações profissionais entre mé-
dicos e farmacêuticos na terapia com 
medicamentos32. 
É a “Declaração de Tel Aviv”.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS27
Declaração de Tel Aviv. Responsabilidades do médico e do farmacêutico com relação à far-
macoterapia, segundo a Associação Médica Mundial
RESPONSABILIDADES DO MÉDICO: RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTICO:
Diagnóstico de enfermidades, com base 
na formação do médico e seus
conhecimentos como especialista, e 
aceite da responsabilidade somente do 
diagnóstico.
Assegurar a obtenção, armazenamento 
e distribuição segura de medicamentos 
(dentro das regulamentações pertinentes).
Avaliação da necessidade de uma 
terapia medicinal e a prescrição das 
terapêuticas pertinentes (na consulta 
com os pacientes, farmacêuticos e ou-
tros profissionais dasaúde, quando seja 
apropriado).
Repasse de informações aos pacientes, 
que pode incluir o nome do medicamento, 
sua ação, interações potenciais e efeitos 
secundários, como também o uso e arma-
zenamento corretos.
Repasse de informações aos pacientes 
sobre diagnóstico, indicações e objeti-
vos do tratamento, como também ação, 
benefícios, riscos e efeitos secundários 
potenciais da terapia medicamentosa.
Seguimento da prescrição para identificar 
interações, reações alérgicas, contrain-
dicações e duplicações terapêuticas. As 
preocupações devem discutidas com o 
médico.
Controle e avaliação da resposta da te-
rapia medicinal, progresso dos objetivos 
terapêuticos, e quando seja necessária, 
revisão do plano terapêutico (quando 
seja apropriado, em colaboração com os 
farmacêuticos e outros profissionais de 
saúde).
A solicitação do paciente, discussão dos 
problemas relacionados com medicamen-
tos ou preocupações com respeito aos 
medicamentos prescritos.
Fornecimento e divisão da informação Assessoramento aos pacientes, quando
em relação à terapia medicinal com 
outros provedores de atenção médica.
corresponda, sobre a seleção e utilização 
dos medicamentos não prescritos e o ma-
nejo dos sintomas ou mal-estares menores 
(aceitando a responsabilidade do dito as-
sessoramento). Quando a automedicação 
não é apropriada, pedir aos pacientes que 
consultem a seus médicos para tratamen-
to e diagnóstico.
Manutenção dos registros adequados 
para cada paciente, segundo a necessi-
dade de uma terapia e de acordo com a 
legislação (legislação médica).
Informar as reações adversas aos medica-
mentos, às autoridades de saúde, quando 
necessário.
Manutenção de um alto nível de
conhecimentos sobre a terapia me-
dicinal, através da educação médica 
continuada.
Repasse e repartição de informação geral 
e específica relacionada com os medica-
mentos, e assessorar ao público e prove-
dores de atenção médica.
Assegurar a obtenção, armazenamento 
e distribuição segura de medicamentos, 
que deve ministrar o médico.
Manter um alto nível de conhecimentos 
sobre a terapia de medicamentos, atra-
vés de um desenvolvimento profissional 
continuado.
Seguimento da prescrição para identificar 
as interações, reações alérgicas, contrain-
dicações e duplicações terapêuticas.
Informar as reações adversas aos 
medicamentos às autoridades de saúde, 
quando necessário.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS28
Enquanto isso no Brasil...
Ainda impera uma distância oceânica que a medicina, enquanto corporação, faz 
questão de manter em relação às demais profissões da saúde. O argumento ge-
ral é simples, “nenhuma profissão da saúde chega aos pés da medicina no que 
diz respeito a conhecimento e capacidade de cuidado do paciente. São todos 
profissionais subalternos”. Felizmente no dia-a-dia, a maioria dos profissionais 
médicos (principalmente os melhores) tem outra atitude e há entidades que são 
oásis no deserto, como a Medicina de Família e Comunidade. Um exército de 
profissionais médicos que faz uma outra saúde, bem diferente do excesso de 
especialidade de muitas escolas.
Então é uma questão de tempo e de justiça. Faz parte do amadurecimento do 
país, do seu povo, da sua política, do próprio conceito do que é cuidado em saú-
de, uma maior aproximação entre as profissões. Na prática isso é visto pelos 
movimentos das atribuições de cada profissão.
Olhe ao seu redor e veja como está se transformando a en-
fermagem, a nutrição, a fisioterapia, a psicologia, a educa-
ção física. Uma transformação em comum: mais clínica,maior autonomia e mais proximidade do paciente.
Agora voltemos um pouco ao mundo da farmácia. No Brasil, hoje a farmácia 
clínica é vista como uma área de atuação, como são as análises clínicas ou 
a indústria. Os profissionais que atuam nesta área, quando detentores de títu-
lo de especialista, são chamados farmacêuticos clínicos. A área no Brasil que 
compreende a Assistência Farmacêutica é ainda mais ampla, pois inclui todos 
os serviços farmacêuticos, clínicos e não-clínicos. Por serviços farmacêuticos 
não-clínicos entendem-se aqueles relacionados, p.ex., à cadeia logística do me-
dicamento, particularmente atividades de programação, aquisição e distribuição 
de medicamentos.
Pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2013 foi publicada a resolução no 585, 
que trata das atribuições clínicas do farmacêutico31, e a resolução no 586, que re-
gulamenta a prescrição farmacêutica19. É nestas resoluções que o CFF estabele-
ce as bases profissionais para os novos serviços farmacêuticos em farmácias, 
definindo a consulta farmacêutica, o consultório farmacêutico e os diversos pro-
cedimentos que o farmacêutico pode realizar junto ao paciente.
 
O Conselho Federal de Farmácia defende uma visão ampla e integrada de farmá-
cia clínica, abrangendo serviços farmacêuticos voltados ao paciente, à família 
e comunidade. No âmbito ambulatorial e comunitário, esses serviços incluem 
a dispensação, o manejo de problemas autolimitados, a educação em saúde, 
a conciliação de medicamentos, a revisão da farmacoterapia, o rastreamento 
em saúde, o acompanhamento farmacoterapêutico e a gestão das doenças ou 
condições de saúde do paciente.
Em 2014, foi publicada a Lei no 13.021, que nós podemos considerar como a lei 
do ato farmacêutico. Essa lei é um marco histórico, pois redefine a farmácia no 
Brasil, como sendo um estabelecimento de prestação de serviços, destinada a 
prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação individual e 
coletiva. O farmacêutico passa, a partir dela, a ter a responsabilidade de prover 
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS29
cuidados clínicos aos pacientes. Esta lei permite, ainda, que as farmácias dispo-
nham de vacinas para atendimento à população, ampliando o papel do estabele-
cimento no sistema de saúde e junto à população.
A lei no 5.991 de 1973, que regulamenta o comércio de medicamentos, continua 
a valer após a Lei no 13.021/14. Mas um ponto importante é que foi resolvida a 
questão da obrigação da presença do farmacêutico para que a farmácia possa 
funcionar. Apesar da polêmica envolvendo a aplicação da lei junto a micro e 
pequenas empresas, a 13.021 é a que vale atualmente, quando se trata da res-
ponsabilidade técnica.
Cabe destacar também outras resoluções do CFF que fundamentam o trabalho 
clínico do farmacêutico. Entre elas a resolução no 574 de 2013, que define a com-
petência do farmacêutico na aplicação de vacinas e a resolução no 546 de 2011, 
que trata da indicação farmacêutica de plantas medicinais e fitoterápicos.
Somando essas à RDC no 44 da ANVISA, de 2009, que regulamenta boas práti-
cas em farmácias e drogarias, e às demais normas sanitárias que por ventura 
venham a substitui-la, temos as bases legais que precisam ser seguidas quando 
se trata de oferecer serviços clínicos farmacêuticos em farmácias e drogarias.
Também em 2014, o Ministério da Saúde, por meio do 
Departamento de Assistência Farmacêutica, iniciou um 
projeto ambicioso, para a implantação de consultórios far-
macêuticos nas unidades de saúde e a rediscussão de toda 
assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde.
Série de Cadernos do Ministério da Saúde: 
“Cuidado Farmcêutico na Atenção Básica”
Os resultados do Projeto Piloto na cidade de Curitiba foram publicados em 
uma série de Cadernos, intitulados “Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica” 
15,22,33,34. Os resultados impressionaram pelo volume, mesmo para mim que esti-
ve no time executivo do projeto. 
Foram mais de 2.000 consultas farmacêuticas registradas no 
prontuário em 1 ano e uma verdadeira revolução na mentalidade 
(mindset) dos farmacêuticos e da secretaria de saúde. 
Toda problemática envolvendo o mau uso dos medicamentos e que tipo de re-
desenho precisava ser feita para a assistência farmacêutica tornou-se “objeto de 
domínio público”. Foi lindo.
Essa experiência ganhou apoio de vários entidades, como o CONAS e o CONA-
SEMS, e tem sido a nova base para o avanço do papel dos farmacêuticos no SUS 
em diversos estados e municípios.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS30
Na mesma linha, o Conselho Federal de Farmácia mantém uma bem sucedida série de 
publicações sobre experiências exitosas de farmacêuticos no SUS, tanto no âmbito logís-
tico como assistencial.
http://www.cff.org.br/experiencias_exitosas.php
Todo esse avanço político e regulatório tem colocado o farmacêutico em evi-
dência na mídia, como raras vezes esteve. Infelizmente, isso também provocou 
reações por parte de algumas entidades médicas que, em uma posição unica-
mente corporativa, e distante da própria recomendação da Associação Médica 
Mundial, tem combatido para que não haja nenhum avanço nas atribuições e 
responsabilidades clínicas dos farmacêuticos no Brasil. Movimento esse espe-
rado, e que certamente trará evolução para toda discussão sobre o sistema de 
saúde brasileiro e o papel das profissões regulamentadas na saúde.
A voz do consumidor: o que 
eles pensam do farmacêutico?
A farmácia pode (aliás, deve) desempenhar um papel mais rele-
vante na vida do brasileiro quando o assunto é prevenção e manu-
tenção da saúde. Quem faz a afirmação são os próprios cidadãos, 
cuja opinião foi corroborada por uma ampla pesquisa do Ibope, realizada em 
2015 a pedido da Abrafarma, e cujos principais resultados publicados na Revista 
Excelência (Número 5, Dez 2015) reproduzimos parcialmente a seguir.
O principal objetivo do levantamento foi identificar a percepção do brasileiro a 
respeito da assistência farmacêutica nas farmácias e também sobre a impor-
tância do papel do farmacêutico. O estudo consultou 2.002 pessoas em 143 
municípios. Foi realizada também uma análise qualitativa com grupos focais de 
homens e mulheres representando diferentes faixas etárias e de renda.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS31
De acordo com os resultados, novos serviços farmacêuticos serão muito bem 
recebidos pela população.
• Para 53% dos entrevistados, a farmácia seria um local ideal para esclarecer 
dúvidas e se aconselhar sobre os medicamentos que estão utilizando;
• 51% realizariam exames preventivos para várias doenças;
• 48% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento 
para parar de fumar.
“A farmácia proporciona uma experiência muito positiva 
para parcela significativa dos entrevistados”, analisa Már-
cia Cavallari Nunes, CEO do Ibope Inteligência.
* Em relação ao uso de vários medicamentos, 48% dos entrevistados pediriam 
ajuda do farmacêutico sobre a melhor forma de organizar todo o tratamento, 
atitude que é explicada por alguns entrevistados ao dizerem que esse auxílio é 
importante para aqueles que tomam muitos remédios e não conhecem seus 
efeitos. Para eles, o farmacêutico, nesse cenário, poderia tirar essas dúvidas.
• Um total de 46% ainda aceitaria receber materiais educativos e relatórios 
de acompanhamento e
• 43% têm interesse em tomar vacinas na farmácia.
• O acompanhamento e avaliação do tratamento junto com o farmacêutico 
seriam adotados por 41% dos entrevistados, a fim de saber se os medi-
camentos estão produzindo o efeito esperado ou causando algum efeito 
colateral;
• 36% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento 
paraemagrecimento e gerenciamento do peso; e
• 34% procurariam aconselhamento e tratamento para sintomas e mal-esta-
res de baixa gravidade.
Embora a proposta de incremento da assistência farmacêutica tenha sido bem 
recebida, mais da metade dos entrevistados afirmou não ter nenhum envolvi-
mento cotidiano com o farmacêutico. Apenas 42% falam com o farmacêutico 
na maioria das vezes que vão à farmácia, apesar de 45% acreditarem que esse 
professional está sempre acessível.
“A distância deste profissional para o consumi-
dor é abismal. Precisamos mudar esse pano-
rama e parar de relegá-lo à função de entregar 
caixinhas de medicamentos. Mais do que valo-
rizá-lo, vamos contribuir para desafogar o sis-
tema público de saúde e assegurar a milhões 
de brasileiros um acompanhamento mais dig-
no”, endossa Sérgio Mena Barreto, presidente 
executivo da Abrafarma, que foi a entidade que 
encomendou o estudo ao IBOPE.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS32
Os serviços farmacêuticos 
em farmácias e drogarias
Existem diversos serviços que foram testados em farmá-
cias de vários países, e que mostram benefícios para o 
paciente e a sociedade, quando oferecidos por farmacêuti-
cos clínicos bem treinados. No Brasil, o Conselho Federal 
de Farmácia pôs em marcha um documento de referência 
sobre este tema, que traz luz a uma série de conceitos e 
práticas. Vamos aos exemplos sobre os principais serviços 
desse documento. 
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS33
Rastreamento em saúde
É o serviço voltado a pessoas assintomáticas, com objetivo 
de detectar riscos e alterações de saúde que podem sugerir 
uma doença. Um exemplo é a avaliação da glicemia capilar 
e do risco de diabetes, que pode revelar um paciente com 
diabetes mellitus que não sabia que tinha a doença. É im-
portante frisar que o rastreamento não confirma o diagnós-
tico. O paciente precisa ser encaminhado ao médico para 
avaliação e confirmação.
Nos Estados Unidos, redes de farmácias e também empresas de varejo convencional inves-
tem em grandes feiras de saúde, focadas na oferta de testes de saúde e detecção rápida de 
doenças. Exemplos incluem medida da pressão arterial, testes de glicemia, painel lipídico, 
densitometrias rápidas para osteoporose, bioimpedância, testes de HIV, entre outros.
A Walgreens, por exemplo, por mais de 5 anos vem organizando eventos para testes 
rápidos de HIV/AIDS, em parceria com grupos comunitários e ONGs. Segundo Jim Cohn, 
assessor de imprensa da empresa, “Essas feiras já ajudaram mais de 27.000 pessoas a 
conhecer seu resultado de HIV. Em 2015, por exemplo, nós trabalhamos com mais de 215 se-
cretarias públicas de saúde e organizações civis locais e realizamos eventos em mais de 150 
cidades americanas” 35.
Capa da revista DrugStoreNews, importante veículo do varejo farmacêutico Norte Ame-
ricano. No número de fevereiro de 2016 reportagens especiais sobre rastreamento em 
farmácia.
http://www.drugstorenews.com/sites/drugstorenews.com/files/Web_HealthEvents_0.pdf
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS34
Manejo de problemas de 
saúde autolimitados
É o serviço clínico mais típico que um farmacêutico pode oferecer na farmácia. 
Trata-se de fazer uma consulta, geralmente por demanda do paciente, que 
traz uma queixa, sinais e sintomas que poderiam ser tratados na farmácia. O 
farmacêutico pode, nesses casos, recomendar, prescrever medicamentos que 
não exigem receita médica, bem como medidas não farmacológicas. E encami-
nhar o paciente ao médico nos casos mais graves. Inclusive este serviço é uma 
forma eficaz de promover a automedicação responsável.
No Reino Unido, países como a Inglaterra, Escócia e Irlanda tem promovido 
contratos entre o sistema público de saúde e os farmacêuticos, para tratamen-
to de transtornos menores (minor ailments scheme) nas farmácias. O objetivo 
é desafogar a atenção primária de demandas que podem ser resolvidas pelo 
farmacêutico, liberando a agenda do médico para pacientes mais graves. O 
farmacêutico, nestes casos, tem autonomia para recomendar tratamentos e o 
medicamento é coberto pelo sistema público se o paciente estiver no perfil ele-
gível. Existem protocolos para guiar a conduta dos profissionais. Na imagem, 
vê-se a propaganda de uma farmácia do condado de Staffordshire na Inglaterra 
promovendo este tipo de esquema.
Publicidade de uma farmácia inglesa para o programa chamado “Pharmacy First”
http://www.easonpharmacy.co.uk/services/pharmacy-fi rst-winter-pressures-minor-ailments-scheme/
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS35
Educação em saúde
É um termo amplo, que abrange todas as ações que visam 
aumentar o conhecimento e a capacidade dos pacientes 
de tomar melhores decisões em saúde. Inclui o aconse-
lhamento do paciente sobre os medicamentos e as cam-
panhas de saúde que podem ser feitas nas farmácias. 
Possuem uma eficácia bem estabelecida no aumento do 
letramento em saúde e da adesão ao tratamento, podendo 
em alguns casos ter grande impacto sobre desfechos clíni-
cos.
É como ocorre na asma, em que a educação em saúde já provou produzir me-
lhora do controle da doença e redução de hospitalizações36. Evidências como 
essas levam ao surgimento de programas de educação para pacientes, que 
envolvem diretamente os farmacêuticos e as farmácias.
É o caso da Inland Pharmacy, da cidade de Hemet, na Califórnia (EUA). Ela 
participa desde 2013 de um programa de pagamento por performance (pay-
-for-performance) no plano de saúde Empire Health Plan (IEHP), que inclui 
entre suas métricas para pagamento de serviços indicadores para asma, como 
“ausência de utilização de medicamentos de resgate entre os pacientes” e 
“controle sub-ótimo da doença”. Em outras palavras, a farmácia recebe paga-
mentos de medicamentos e serviços conforme os resultados que alcançam 
nos pacientes.
Esse sistema de auditoria e 
pagamento levou a farmácia 
a criar programas de educa-
ção em saúde e acompanha-
mento de pacientes. Como 
diz Bruno Tching [foto], 
farmacêutico PharmD: “Nós 
ligamos e nos encontramos 
com nossos pacientes regularmente, para ter certeza de que está indo tudo 
bem com o tratamento deles, que eles não tem efeitos colaterais e que estão 
sendo aderentes à terapia”.
Na foto abaixo, Dr. Tching conduz o aconselhamento com uma paciente sobre 
o uso correto de dispositivos inalatórios.
Fonte: http://pharmacytoday.org/article/S1042-0991(16)00353-4/fulltext
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS36
A transição do paciente do hospital de volta para sua casa é um momento deli-
cado. Veja alguns números sobre problemas que podem ocorrer:
• Perto de 1 a cada 5 idosos são re-hospitalizados nos 30 dias após a alta.
• Mais da metade desses internamentos é evitável e 66% são relacionados a 
problemas com os medicamentos.
• Pacientes idosos recebem alta com uma média de 10 medicamentos dife-
rentes prescritos.
• Faltam informações sobre os medicamentos no resumo de alta em até 40% 
das vezes.
• Menos de 10% dos pacientes que receberam alta são totalmente aderentes 
ao seu tratamento37.
Nos Estados Unidos estes números tem geralmente mudanças. Alguns hospi-
tais tem sido penalizados, recebendo multas, caso seus pacientes sejam read-
mitidos em 30 dias após alta. Em 2013, o governo Americano aplicou perto de 
280 milhões de dólares em multas.
Conciliação de medicamentos
Na prática ambulatorial, é um serviço pensado para 
pacientes que receberam alta hospitalar recente. 
Muitas vezes o paciente se confunde com prescri-
ções de vários médicos diferentes e não sabe quais 
medicamentos deve continuar a tomar depois que 
sai do hospital. Conciliar significa checar todas as 
prescrições e detectardiscrepâncias que precisam 
ser resolvidas. O produto deste serviço é uma lista 
conciliada dos medicamentos que o paciente deve 
seguir utilizando.
Apesar de historicamente a alta ter sido uma questão unicamente hospitalar, 
isso tem mudado e o papel das farmácias tem sido levantado. Os farmacêu-
ticos podem funcionar como elos de ligação entre esses pontos de atenção à 
saúde, garantindo a continuidade do cuidado37.
Ainda existem barreiras, como por exemplo, o acesso das farmácias a informa-
ções completas sobre os medicamentos dos pacientes utilizadas no hospital e 
o modelo remuneração do serviço. Mas esta é uma tendência para os serviços 
farmacêuticos na comunidade38.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS37
Revisão da farmacoterapia
Na verdade existem diferentes tipos de revisão da farmacoterapia 
ou revisão da medicação. Nas farmácias, o serviço mais prestado 
é uma espécie de checkup dos medicamentos. O farmacêutico 
pede ao paciente que leve os medicamentos para a farmácia e faz, 
durante a consulta, uma revisão detalhada com ele sobre cada 
tratamento. Tira dúvidas, resolve problemas, orienta o paciente e 
promove adesão ao tratamento. Também pode fazer recomenda-
ções de mudanças ao médico e encaminhar o paciente. O produto 
deste serviço costuma ser uma lista precisa dos medicamentos 
que o paciente deve seguir utilizando. Esta revisão melhora a 
adesão ao tratamento, resolve problemas da terapêutica e previne 
consultas e hospitalizações não previstas.
Um tipo de serviço de revisão da medicação que ficou famoso esta todo 
mundo é o Medicines Use Review (MUR), patrocinado pelo NHS inglês. Os 
farmacêuticos que passam por um curso e são qualificados para MUR, podem 
realizar até 400 consultas deste tipo por ano, e a farmácia recebe 27 libras por 
cada atendimento registrado. A recomendação é que cada paciente passe por 
uma consulta como essa com seu farmacêutico pelo menos 1 vez ao ano39.
Fonte: http://www.lloydspharmacy.com/en/info/medicines-check-up
que permite que os pacientes terem uma consulta privada com o farmacêutico 
sobre seus medicamentos. Segundo Kelly Winstanley, brasileira e farmacêutica 
da Lloyds: “A consulta de MUR dura 10-15 minutos e nós nos guiamos por sete per-
guntas muito simples:
1. Como está indo seu tratamento com medicamentos?
2. Como você utiliza cada um de seus medicamentos?
3. Está tendo algum problema ou preocupação com relação a eles?
4. Você acha que seus medicamentos estão funcionando?
5. Você acha que está tendo algum efeito colateral ou inesperado?
6. Você já esqueceu de tomar alguma dose? Quando foi a última vez?
7. Teria algo mais que você gostaria de saber sobre seus medicamentos?
Como exemplo, temos a Lloyds Pharmacy, uma rede de farmácias da Inglater-
ra com mais de 1.600 lojas, que dispensa 150 milhões de prescrições por ano. 
Um de seus serviços é o MEDICINES CHECK UP SERVICE, um serviço de MUR
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS38
Acompanhamento farma-
coterapêutico
Uma iniciativa significativa de implantação do acompanhamento farmacotera-
pêutico como um serviço das farmácias, é o Projeto conSIGUE, do Consejo Gene-
ral de Colegios Oficiales de Farmacéuticos e o Grupo de Investigación en Atención 
Farmacéutica de la Universidad de Granada, na Espanha40. 
O projeto já alcançou, segundo números de fevereiro de 2016, mais de 800 pa-
cientes em 135 farmácias. O acompanhamento é feito em idosos polimedica-
dos e mostrou reduzir 56% os problemas de saúde não controlados, em 49% o 
número de pacientes referindo consultas de urgência e em 55% as admissões 
hospitalares41.
“já temos a evidência de que os farmacêuticos, mediante este serviço, podem 
contribuir para a melhoria da saúde dos cidadãos e da eficiência do sistema. 
A profissão está preparada e agora devemos convencer aos gestores para que 
contem com o farmacêutico, querem melhorar o sistema de saúde”, afirmou 
Jesús Aguilar, presidente do CGF41. 
O objetivo do projeto, portanto, é demostrar a eficácia do serviço, a fim de conse-
guir remuneração junto ao Ministério de Saúde Espanhol para que os farmacêu-
ticos prestem este serviço de forma extensiva nas farmácias.
Fonte: http://www.portalfarma.com/Profesionales/consejoinforma/Paginas/conSIGUE-Implan-
tacion-2016.aspx
A acompanhamento se inicia por uma consulta de re-
visão clínica da farmacoterapia, com um olhar mais 
voltado aos resultados do tratamento. Em segui-
da o farmacêutico trabalha com o paciente em um 
plano de cuidado e organiza consultas de retorno. 
Diferentemente dos serviços anteriores, o acompanha-
mento farmacoterapêutico permite um relacionamento 
mais longo e longitudinal entre o paciente e o farma-
cêutico. Alguns métodos que tratam do acompanha-
mento, como o Dáder (Espanha)42 e o Pharmacothera-
py Workup (EUA)43, são bastante conhecidos no Brasil.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS39
Gestão da condição de 
saúde
Também é chamado de gestão da doença. Neste serviço, o pro-
fissional atende e acompanha o paciente, mas focado em uma 
doença específica, como o diabetes, a hipertensão ou a hiperli-
pidemia. Diferente do acompanhamento farmacoterapêutico em 
que a avaliação é mais global e generalista. O serviço de gestão 
da doença é importante porque pode melhorar a capacidade do 
paciente em cuidar melhor da sua condição, num enfoque para 
o autocuidado apoiado. O processo do ‘coaching’ do paciente é 
fundamental neste trabalho. Existem evidências bastante sóli-
das de que esse serviço melhora o controle de várias doenças 
crônicas44.
As populações tradicionais que recebem este serviço são aquelas com doen-
ças de alta prevalência e alto custo, como asma, diabetes, insuficiência cardía-
ca, DPOC e doença coronariana. Nos Estados Unidos, o mercado entorno deste 
serviço movimentou $30 bilhões em 2013 e existem mais de 160 empresas 
especializadas que oferecem programas de gestão de doenças45. 
Naquele país, há uma forte tendência da oferta desse tipo de serviços em far-
mácias. Esse movimento é impulsionado pelo sucesso das Clínicas de Varejo 
que vem sendo criadas nas grandes redes e do possível pagamento por esses 
serviços por parte das operadoras de planos de saúde e do Medicare45.
Fonte: http://www.walgreens.com/topic/pharmacy/healthcare-clinic.jsp
Um ponto importante neste caso é o trabalho multiprofissional. Clínicas de 
varejo são formadas por médicos e enfermeiras que, em conjunto com o far-
macêutico dessas farmácias, podem oferecer excelentes serviços de gestão 
de doenças. É o que acontece, por exemplo, na Healthcare Clinic da Walgre-
ens, que em seu website divulga serviços de acompanhamento e exames para 
DRGE, asma, bronquite crônica, diabetes, enfisema, hipertensão arterial, hiper-
colesterolemia, depressão, osteoartrite, osteoporose e distúrbios da tireoide.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS40
Recentemente, a Colaboração Cochrane publicou uma revisão 
sistemática com estudos feitos em países em desenvolvimen-
to, incluindo o Brasil 46. Os principais efeitos obtidos do cuida-
do farmacêutico ambulatorial em relação aos cuidados usuais 
são mostrados no gráfico ao lado.
As conclusões dos autores foram as seguintes:
“Os serviços farmacêuticos orientados 
aos pacientes podem melhorar resulta-
dos clínicos como o gerenciamento da 
hiperglicemia em diabéticos, gerencia-
mento dos níveis de pressão arterial e 
colesterol, e pode melhorar a qualidade 
de vida dos pacientes com condições 
crônicas como o diabetes, hipertensão e 
asma. Os serviços do farmacêutico po-
dem reduzir a utilização dos serviços de 
saúde, tais como visitas aos médicos de 
família e as taxas de hospitalização”
Por fim, vale lembrar que todos esses serviçostem uma coisa em comum. Eles acontecem em 
uma consulta farmacêutica. Por isso é fundamental ter um espaço privado na farmácia, seja um 
consultório ou sala de serviços farmacêuticos. E também um plano bem elaborado de marketing e 
remuneração dos serviços, essenciais para a sustentabilidade ao longo do tempo. Falaremos mais 
desses pontos adiante.
Evidências. 
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS41
Um pouco mais 
sobre 
dispensação de 
medicamentos
O modelo tradicional de prática farmacêutica nos 
últimos setenta anos tem sido centrado no forneci-
mento de medicamentos industrializados, associado 
à informação sobre sua utilização para o paciente. 
Este modelo tem na dispensação sua atividade pri-
mordial e é predominante no Brasil até os dias de 
hoje.
Dentro do processo geral de uso de medicamentos, a 
dispensação é o último contato possível do paciente 
com um profissional de saúde antes de iniciar o trata-
mento. Então a razão de ser da dispensação está em 
analisar a prescrição, corrigir eventuais problemas, e 
garantir que o paciente sabe como fazer aquele tra-
tamento. Para analisar bem uma prescrição é preciso 
um bom conhecimento clínico, além de conhecimen-
to sobre legislação. E para orientar bem um paciente, 
além do conhecimento clínico, são necessárias boas 
habilidades de comunicação 21.
Para muitos pacientes, ainda, a dispensação pode 
ser a única oportunidade de atendimento por um 
profissional da saúde, por exemplo, na automedica-
ção. Nesse caso, o farmacêutico pode participar di-
retamente da escolha do medicamento, e orientar o 
paciente sobre o melhor manejo daqueles sintomas. 
Isso vai exigir também habilidades no campo da se-
miologia e da terapêutica.
De fato, a dispensação é um dos poucos 
atos privativos do farmacêutico. Isso está 
no Decreto no 85.878, de 1981, sobre o 
exercício da profissão. A lei no 13.021, de 
2014, reforçou este ato, mas expandiu 
em seu artigo 13, as obrigações do far-
macêutico junto ao paciente, levando a 
profissão definitivamente por um caminho 
mais clínico, que somente a dispensação 
de medicamentos jamais poderia levar. 
Por isso, vamos distinguir dois perfis bem 
diferentes de profissionais. Vamos cha-
má-los de o “farmacêutico dispensador” e 
o “farmacêutico clínico”.
O farmacêutico da dispensação cuida do produto. Da 
distribuição dos medicamentos, da burocracia envol-
vendo as prescrições, do SNGPC, do balcão de modo 
geral. E tem menos contato com os pacientes, por-
que gasta uma boa parte do seu tempo cuidando, di-
gamos, dos bastidores da farmácia. O principal valor 
que este profissional entrega à sociedade é a infor-
mação e a garantia da qualidade dos produtos que 
ele dispensa. Ele precisa ter bons conhecimentos 
e habilidades clínicas, mas acaba aplicando pouco 
essas competências. E com o tempo, se não tomar 
cuidado, ele vai “perdendo a mão” da clínica. Um dos 
motivos disso, é que a remuneração desse farma-
cêutico advém, essencialmente, da margem de lucro 
da venda dos medicamentos, e não da prestação de 
serviços. Novamente, o produto está no centro de 
tudo nesse caso.
Já o farmacêutico clínico que atua na comunidade 
trabalha mais diretamente na prestação de servi-
ços ao paciente. Ele atende dentro de uma sala de 
atendimento, ou consultório, e cumpre uma série de 
atividades, como exames rápidos de rastreamento, 
vacinação, aconselhamento ao paciente, revisão da 
medicação, acompanhamento e monitorização de 
pacientes crônicos, etc. O principal valor que este far-
macêutico entrega à sociedade é a solução de pro-
blemas de saúde, a solução de problemas da farma-
coterapia. E a remuneração deste profissional pode 
advir da prestação de serviços, pagos diretamente 
pelo paciente, ou por terceiros pagadores, como o 
governo ou planos de saúde.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS42
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS43
É importante que o farmacêutico perceba clara-
mente esses dois papéis (dispensador e clínico) 
e avalie em que perfil se encaixa melhor. Com 
o tempo, é esperado que essas carreiras sigam 
caminhos distintos nos planos de cargos e salá-
rios das grandes empresas. Nos dias de hoje, no 
entanto, percebe-se um movimento do mercado 
de trabalho no sentido de contratar profissionais 
que atendam aos dois perfis. Pessoas que sejam 
capazes de cuidar da dispensação de medica-
mentos, e tudo que ela envolve, e também de 
inovar, provendo serviços clínicos de alto nível 
que reposicionem a farmácia junto à comunida-
de. Para as boas empresas, trata-se de um perfil 
de profissional desejado e difícil de encontrar.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS44
A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) 
vem desenvolvendo desde 2013 um modelo de serviços farmacêuticos que 
possa ser aplicados pelas farmácias de suas associadas em todo país.
Esse modelo busca aproximar a 
visão proporcionada pelos exem-
plos de farmácias dos Estados 
Unidos, Canadá e Inglaterra, os 
conceitos técnicos e empresa-
riais aplicados no Brasil e uma 
proposta de valor que possa ser 
facilmente compreendida pela 
população usuária dos serviços.
O Modelo Abrafarma para os Serviços 
Farmacêuticos
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS45
Esse processo deu origem ao Projeto “Assistência Farmacêutica Avançada”. 
Sua primeira etapa consistiu em um amplo levantamento no ano de 2013 so-
bre o perfil do farmacêutico e os serviços e práticas desenvolvidas pelas redes 
de farmácia. Os resultados mostraram uma oferta pequena de serviços, com 
grande potencial de profissionalização e expansão 18. A partir desse estudo, fo-
ram propostos os 8 serviços farmacêuticos a serem implantados pelas empre-
sas13,47–53.
Esses serviços são “frentes de trabalho”, são “bandeiras”. Sua 
inspiração provem das boas experiências, que mostram que o 
foco na prevenção e detecção precoce de doenças, educação 
em saúde, gestão de condições crônicas e promoção da adesão 
terapêutica trazem bons resultados, tanto para o paciente, como 
para o profissional e a farmácia.
Em todos esses serviços, o objetivo não é substituir a consulta médica ou a 
realização de exames adicionais, mas dar suporte e orientação aos pacientes, 
além de compartilhar informações com o médico e demais profissionais da saú-
de, tornando os farmacêuticos e as farmácias atores relevantes na dinâmica do 
cuidado dos pacientes.
As farmácias encerram o potencial de contribuir de forma definitiva para a me-
lhoria do sistema de saúde e produzir uma verdadeira revolução na maneira 
como se promove saúde no Brasil. Vamos conhecer agora com mais detalhes, 
cada um dos oito serviços farmacêuticos promovidos pela Abrafarma.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS46
HIPERTEN-
SÃO EM DIA
É o serviço farmacêutico 
para as pessoas que se en-
contram sob risco de desen-
volver hipertensão arterial e 
aquelas já diagnosticadas, 
que utilizam medicamentos 
para controle da doença.
O objetivo é colaborar com a equipe 
de saúde e com o paciente para detecção rápida, orientação e encaminhamento 
de pessoas com pressão arterial elevada, para diagnóstico médico e tratamen-
to apropriado. Além disso, o programa visa auxiliar pacientes em tratamento 
com medicamentos anti-hipertensivos, para que atinjam um melhor controle da 
pressão arterial, bem como de outros fatores de risco cardiovascular concomi-
tantes47.
Em um ambiente confortável e privativo da farmácia, os pacientes são atendi-
dos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global do controle pressórico 
e dos fatores de risco cardiovascular do

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