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Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 - Capítulo 22: Mycobacterium e Bactérias Acidorresistentes Relacionadas Micobactérias ---------------------------------------------------------------------------------- INTRODUÇÃO Bactérias do gênero Mycobacterium Possuem características e comportamentos peculiares, não geral quadro muito agudo, sem ação de muitos neutrófilos (não geram pus) e com crescimento muito lento Produzem ácidos graxos de cadeia longa ramificados (raros), denominados ácidos micólicos Exemplos: micobactéria que causa tuberculose (Mycobacterium tuberculosis, M. bovis e M. africanum) e micobactéria que causa hanseníase (Mycobacterium leprae) Microrganismos intracelulares facultativos (infectam e proliferam-se no interior de macrófagos): vive fora da células mais dentro das células é melhor Não possuem: flagelos, esporos, toxinas e cápsula São bacilos imóveis, não formadores de esporos, Gram-positivos aeróbios, acidorresistentes quanto à coloração (resistem à descoloração com soluções ácidas fracas a fortes) devido à presença de cadeias médias a longas de ácidos micólicos na sua parede celular CARACTERÍSTICAS DAS PAREDES MICOBIANAS Possui muitos lipídeos (60% da parede) Pouco peptídeoglicano Muito ácido micólico e arabinogalactano: substâncias que garantem baixa permeabilidade (maior resistência à antibióticos) Não consegue fazer coloração de gram Formato de bacilo (bastão) e é álcool, ácido resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis 7 espécies: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. cane6, M. micro7, M. pinnipedi e M. caprae PATOGENESE E IMUNIDADE Patógeno intracelular capaz de estabelecer infecção persistente Bacilos Gram-positivos, acidorresistentes e aeróbios Possui parede celular rica em lipídios → garante resistência à: colorações tradicionais, desinfetantes, detergentes, antibióticos antibacterianos comuns e resposta imune do hospedeiro Podem crescer dentro de macrófagos alveolares: o patógeno, ao entrar nas vias aéreas respiratórias, realiza a penetração de partículas infecciosas, que impedem a fagocitose pelo patógeno, impedindo a fusão do fagossoma com os lisossomos, e possibilitando sua fusão com outras vesículas intracelulares, facilitando a replicação dentro dos vacúolos As bactérias fagocitadas são capazes de evitar a morte pelos macrófagos, através do nitrogênio formado entre o óxido nítrico e ânions e de forma catabólica, catabolizando os oxidantes formados, assim, as bactérias “fogem” do sistema imunitário e replicam-se Nesse processo, os macrófagos secretam interleucina (IL)-12 e fator de necrose tumoral (TNF)-α, que aumentam a inflamação recrutando células T e NK para irem em direção à área dos macrófagos infectados, fazendo com que as células T se diferenciem em T auxiliadoras e secretem interferon. → Na presença de IFN-γ (interferons), os macrófagos infectados são ativados, levando ao aumento da fusão fagossoma-lisossoma e à morte intracelular Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 - Capítulo 22: Mycobacterium e Bactérias Acidorresistentes Relacionadas Pacientes com níveis diminuídos de interferon ou de fatores de necrose tumoral tendem a possuir infecções mais graves Ocorre a formação de um granuloma: massa necrótica formada por macrófagos alveolares, células epitelióides e de Langhans (epitelióides fundidas com micobactérias) circundadas por macrófagos e células T que impedem a disseminação das bactérias EPIDEMIOLOGIA: Doença altamente contagiosa (cerca de 1/3 da população mundial) 8,6 milhões de novos casos por ano e 1,3 milhões de mortes Seres humanos são o único reservatório natural da doença Transmissão: ocorre por via aérea em aerossóis (partículas que ficam suspensas no ar por longos períodos) de pessoas doentes, eliminam bacilos pela tosse, espirro ou perdigotos Fatores para risco: concentração de organismos em uma partícula exalada, característica aerodinâmica e taxa de ventilação e a duração da exposição A população sob maior risco de infecção são: pacientes imunocomprometidos (HIV) e indivíduos que façam uso abusivo de álcool ou drogas, desabrigados ou são expostos a pacientes doentes DOENÇAS Infecção primária: pulmonar Infecção disseminada: ocorre disseminação hematogênica dos bacilos durante a fase inicial de multiplicação Infecção secundária: que ocorre no mesmo indivíduo depois de um período de tempo percorrido sem a doença TIPOS DE INFECÇÃO Infecção latente: 3 semanas de intensa multiplicação, em seguida o sistema imunitário suprime a replicação bacteriana, normalmente antes dos sintomas ou sinais aparecerem, os focos dos bacilos no pulmão ou em outros locais se transformam em granulomas O equilíbrio entre a resistência do hospedeiro e a virulência microbiana determina se a infecção irá desaparecer sem tratamento, se permanecerá dormente ou se tornará ativa Focos infecciosos podem gerar cicatrizes fibronodulares: → Focos de Simon: costumam resultar de disseminação hematogênica a partir de outro local da infecção ou de pequenas áreas de consolidação (nódulo de Ghon, que com envolvimento de linfonodos torna-se complexo de Ghon que, se calcificado, é chamado complexo de Ranke) Doença ativa: indivíduos saudáveis infectados pela bactéria têm aproximadamente 5% a 10% de risco durante a vida de desenvolver doença ativa Em mais da metade dos pacientes que desenvolvem doença ativa, a tuberculose reaparece dentro dos 2 primeiros anos, mas também pode ocorrer décadas depois (tuberculose secundária) Qualquer órgão inicialmente infectado pode tornar-se um local de reativação, mas esta ocorre com frequência nos ápices pulmonares, devido as condições locais favoráveis Doenças que comprometem a imunidade celular facilitam a reativação Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição – Seção 4 - Capítulo 22: Mycobacterium e Bactérias Acidorresistentes Relacionadas SINTOMAS Refletem o local da infecção, com a doença primária usualmente restrita ao trato respiratório inferior Pacientes apresentam queixas não específicas: mal-estar, perda de peso, tosse e suores noturnos Escarro: pode ser escasso ou sanguinolento e purulento (escarro com raios de sangue (hemoptise) está associada a destruição tecidual) DIAGNÓSTICO 1. Evidência radiográfica de doença pulmonar 2. Reatividade positiva no teste da pele Teste cutâneo da tuberculina 3. Detecção laboratorial da micobactéria (microscopia ou em culturas) Microscopia: coloração de Ziehl-Neelsen (acidorresistência a quente) ou coloração de Kinyoun (acidorresistência a frio) Cultura: meio contendo ovo ou ágar ou meio líquido (meio em caldo) Obs: um ou ambos os lobos superiores dos pulmões estão em geral envolvidos em pacientes com doença ativa que inclui pneumonite ou formação de abscesso e cavitação TRATAMENTO A maioria se inicia com 2 meses de isoniazida (isonicotinil-hidrazina [INH]), etambutol, pirazinamida e rifampicina, seguidos de 4 a 6 meses de INH e rifampicina, ou combinação de fármacos alternativos VACINA A vacinação com M. Bovis atenuado (BCG) Geralmente usado em países com tuberculose endêmica e responsável por mortalidade significativas Menos eficaz em adultos Não pode ser usado em pacientes imunocomprometidos Problema com a BCG: pode desenvolver uma reatividade positiva ao teste cutâneo Mariana Marques - TXXIX Microbiologia Médica | Patrick R. Murray, Ken S. Rosenthal and Michael A. Pfaller 8ª Edição– Seção 4 - Capítulo 22: Mycobacterium e Bactérias Acidorresistentes Relacionadas Mycobacterium leprae Causa a doença lepra (também chamada de doença de Hansen) → Hanseníase PATOGENESE E IMUNIDADE Bacilos Gram-positivos, acidorresistentes, BAAR +, não móveis e não produtores de esporos Parede celular rica em lipídios Não consegue cultiva-los em meios artificiais A doença se dá principalmente pela resposta do hospedeiro à infecção As bactérias se multiplicam muito lentamente, dessa forma, o período de incubação é prolongado, sendo que os sintomas se desenvolvem até 20 anos após a infecção EPIDEMIOLOGIA: Principais países: Índia, Nepal e Brasil A forma lepromatosa da doença, é altamente infecciosa Transmissão: disseminação pessoa a pessoa por contato direto ou inalação de aerossóis infecciosos Afeta todas idades e ambos sexos: mais frequente homens Rara em crianças: período longo de incubação da bactéria Fatores de risco: condições individuais e condições socioeconômicas Predisposição genética: genes de susceptibilidade comprovados TIPOS HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (doença de Hansen paucibacilar): possui baixa infectividade, apresentam uma forte reação imune celular às bactérias, com a indução da produção de citocinas que medeiam a ativação de macrófagos, fagocitose e eliminação bacilar Características: apresentam máculas cutâneas hipopigmentadas com centros lisos e bordas elevadas, causando danos no nervo periférico com perda sensorial completa, há também, aumento visível dos nervos Diagnóstico: realizado pela reatividade nos testes cutâneos aos antígenos micobacterianos (lepromina) e as colorações acidorresistentes são geralmente negativas Tratamento: rifampicina e dapsona por um período mínimo de 6 meses HANSENÍASE LEPROMATOSA (doença de Hansen multibacilar): possui elevada infectividade, com forte resposta dos anticorpos, mas um defeito específico na resposta celular aos antígenos de M. leprae; assim (ocorre abundância de bactérias nos macrófagos da derme e nas células de Schwann dos nervos periféricos), pode ocorrer a morte por apoptose de células de Schwann e neurônios Características: apresentam lesões cutâneas deformadoras, nódulos, placas, destruição tecidual intensa (espessamento da derme e envolvimento da mucosa nasal), envolvimento nervoso difuso com perda sensorial heterogênea, nesse caso, há ausência de aumento do nervo Diagnóstico: Laboratorial - baciloscopia (coloração de Ziehl-Neelsen: raspados de pele, mucosa nasal ou amostras de biópsia da pele do lobo da orelhas) Tratamento: rifampicina e dapsona + clofazimina por pelo menos 12 meses
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