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1 Teoria da Produção (Aula 9) 1) Introdução A teoria da produção e a teoria dos custos de produção constituem a chamada teoria da firma individual. A teoria da produção propriamente dita preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a quantidade física de produtos (outputs) e de fatores de produção (inputs), enquanto a teoria dos custos de produção relaciona a quantidade física de produtos com os preços dos fatores de produção. 2) Conceitos Básicos da Teoria da Produção a) Produção É o processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. Esse conceito envolve tanto os bens físicos como os serviços. No processo de produção, diferentes insumos ou fatores de produção são combinados, de forma a produzir o bem ou serviço final. As formas como esses insumos são combinados constituem os processos ou métodos de produção (intensivos em mão-de-obra, capital ou terra). Se, a partir da combinação dos fatores, for possível produzir um único produto, teremos um processo de produção simples; se for possível produzir mais de um produto, temos um processo de produção múltiplo. A escolha do método ou processo de produção depende de sua eficiência. Um método é tecnicamente eficiente (eficiência técnica ou tecnológica) quando utiliza menor quantidade de insumos para produzir uma quantidade equivalente do produto. A eficiência econômica está associada ao método de produção mais barato para produzir uma mesma quantidade do produto. b) Função de Produção É a relação que mostra a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade física utilizada dos fatores de produção em determinado período de tempo. É possível representar a função de produção, analiticamente, da seguinte maneira: ( )nxxxxfq ,...,, 32,1= , em que: q = quantidade produzida do bem ou serviço, em determinado período de tempo; nxxxx ,...,, 32,1 = quantidades utilizadas de diversos fatores de produção; Para efeitos didáticos, costuma-se considerá-la uma função de apenas duas variáveis: ( )ΚΝ= ,fq , em que: N = quantidade utilizada de mão-de-obra; K = quantidade utilizada de capital. Supõe-se que todas as variáveis (q, N, K) são expressas num fluxo no tempo (produção mensal, anual etc.) e que o nível tecnológico está dado. 2 c) Fatores Fixos e Fatores Variáveis de Produção (Curto e Longo Prazos) • Fatores de produção variáveis são aqueles cujas quantidades utilizadas variam quando o volume de produção se altera. Exemplos: mão-de-obra e matérias-primas; • Fatores de produção fixos são aqueles cujas quantidades não mudam quando a quantidade do produto varia. Exemplos: instalações e tecnologia. A análise microeconômica considera dois tipos de relações entre a quantidade produzida e a quantidade utilizada dos fatores: • na função de produção, quando alguns fatores de produção são considerados fixos e outros variáveis, identifica-se o que a teoria denomina uma situação de curto prazo; • quando todos os fatores de produção são considerados variáveis, identifica-se uma situação de longo prazo. 3) Análise de Curto Prazo Tomemos uma função de produção simplificada, ou seja, com apenas dois fatores (um fixo e outro variável): ( )ΚΝ= ,fq , em que: N = mão-de-obra (fator variável) e K = capital (fator fixo). A curto prazo, a quantidade produzida depende somente de uma variação da quantidade utilizada do fator variável. Podemos, então, expressar a função de produção como: ( )Ν= fq . a) Conceitos de Produto Total, Produtividade Média e Produtividade Marginal • Produto total: é a quantidade de produto que se obtém da utilização do fator variável, mantendo-se fixa a quantidade dos demais fatores; • Produtividade média do fator: é o resultado do quociente da quantidade total produzida pela quantidade utilizada desse fator. Tem-se então: i) produtividade média da mão-de-obra: N q PMeN = (sendo, N = número de trabalhadores) ii) produtividade média do capital: K q PMeK = (sendo, K = número de máquinas) iii) produtividade média da terra: Τ = q PMeT (sendo, T = área cultivada) • Produtividade marginal do fator: é a variação do produto total quando ocorre uma variação no fator de produção. i) produtividade marginal da mão-de-obra: ( ) ( )if if N NN qq N q PMg − − = ∆ ∆ = ii) produtividade marginal do capital: ( ) ( )if if K KK qq K q PMg − − = ∆ ∆ = 3 iii) produtividade marginal da terra: ( ) ( )if if T TT qq T q PMg − − = ∆ ∆ = b) Leis dos Rendimentos Decrescentes Elevando-se a quantidade do fator variável, permanecendo fixa a quantidade dos demais fatores, a produção inicialmente aumentará a taxas crescentes; a seguir, depois de certa quantidade utilizada do fator variável, continuará a crescer, mas a taxas decrescentes (ou seja, com acréscimos cada vez menores); continuando o incremento da utilização do fator variável, a produção total chegará a um máximo, para depois decrescer. Considerando-se a utilização de dois fatores – terra (fixo) e mão-de-obra (variável) – para a produção de arroz, os aumentos da produção dependerão do aumento da mão-de-obra empregada na lavoura. A tabela abaixo ilustra essa situação: Tais relações permitem traçar os gráficos das figuras 6.1 e 6.2. Figura 6.1: Produto total Terra Mão-de-obra Produto Produtividade Produtividade (fator fixo) (fator variável) total média da marginal da mão-de- (alqueires (em milhares de (toneladas) mão-de-obra obra (toneladas) (1) trabalhadores) (3) (toneladas) (2) (4) = (3) : (2) 10 1 6 6,0 6 10 2 14 7,0 8 10 3 24 8,0 10 10 4 32 8,0 8 10 5 38 7,6 6 10 6 42 7,0 4 10 7 44 6,2 2 10 8 44 5,4 0 10 9 42 4,6 -2 variação em (3) variação em (2) 5 = Produto total (toneladas) Produto total Número de trabalhadores (milhares) 5 10 15 20 25 30 35 40 45 51 2 3 4 6 7 8 9 4 Figura 6.2: Produtividades média e marginal A curva do produto inicialmente sobe a taxas crescentes, depois a taxas decrescentes, até atingir seu máximo; em seguida, decresce. As curvas de produtividade média e marginal são construídas a partir da curva do produto total. O formato dessas curvas deve-se à lei dos rendimentos decrescentes. 4) Análise de Longo Prazo A hipótese de que todos os fatores são variáveis caracteriza a análise de longo prazo. A função de produção simplificada, considerando a participação de apenas dois fatores de produção, é representada da seguinte forma: ( )ΚΝ= ,fq . a) Economias de Escala ou Rendimentos de Escala • Os rendimentos de escala ou economias de escala representam a resposta da quantidade produzida a uma variação da quantidade utilizada de todos os fatores de produção, ou seja, quando a empresa aumenta seu tamanho. Os rendimentos de escala podem ser: • rendimentos crescentes de escala (economias de escala): ocorrem quando a variação na quantidade do produto total é mais do que proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção. Pode-se apontar como causas geradoras desses rendimentos: i) maior especialização no trabalho; ii) a existência de indivisibilidade entre os fatores de produção. • rendimentos constantes de escala: acontecem quando a variação no produto total é proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção; • rendimentos decrescentes de escala (deseconomias de escala): aparecem quando a variação do produto é menos do que proporcional à variação na utilização dos fatores. I) Custos de Produção (Aula 10) 1) Introdução O objetivo básico de uma firma é a maximização de seus resultados quando da realização de sua atividade produtiva. A otimização dos resultados da firma poderá ser conseguida quando for possível alcançar um dos dois objetivos seguintes: Produtividades média e marginal da mão-de-obra (toneladas) Produtividade média da mão-de-obra( )Pmen Produtividade marginal da mão-de-obra ( )Pmgn Número de trabalhadores (milhares)1 2 3 4 5 6 7 8 9 –5 0 5 10 5 • maximizar a produção para um dado custo total; ou • minimizar o custo total para um dado nível de produção. 2) Custos Totais da Produção Define-se custo total de produção como o total das despesas realizadas pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por meio da qual é obtida determinada quantidade do produto. Os custos totais de produção (CT) são divididos em custos variáveis totais (CVT) e custos fixos totais (CFT): CT = CVT + CFT. • Custos variáveis totais (CVT): parcela dos custos totais que depende da produção, e por isso muda com a variação do volume de produção. Por exemplo: folha de pagamentos, gastos com matérias-primas. Na contabilidade privada, são chamados de custos diretos; • Custos fixos totais (CFT): correspondem à parcela dos custos totais que independe da produção. Por exemplo: aluguéis, iluminação. Na contabilidade empresarial, são chamados de custos indiretos. Como na teoria da produção, a análise dos custos de produção também é dividida em curto e longo prazos: • custos totais de curto prazo: são caracterizados pelo fato de serem compostos por parcelas de custos fixos e de custos variáveis; • custos totais de longo prazo: são formulados unicamente por custos variáveis. a) Custos de Curto Prazo Suponhamos que uma firma realize sua produção por meio da utilização de fatores fixos e variáveis. Consideremos a existência de apenas um fator fixo, tamanho da firma, e de um fator variável, mão-de-obra. Como o custo fixo total permanece inalterado, o custo total de curto prazo variará apenas em decorrência de modificações no custo variável total. • Custo total médio (CTMe): é obtido por meio do quociente entre o custo total e a quantidade produzida. É o custo por unidade produzida (custo unitário): qCTCTMe = ; • Custo variável médio (CVMe): é o quociente entre o custo variável total e a quantidade produzida: qCVTCVMe = ; • Custo fixo médio: é o quociente entre o custo fixo total e a quantidade produzida: qCFTCFMe = • Custo marginal (CMg): é dado pela variação do custo total em resposta a uma variação da quantidade produzida: ifif qqCTCTqCTCMg −−=∆∆= Como o custo fixo total não se modifica com as variações da produção, no curto prazo, o custo marginal é determinado apenas pela variação do custo variável total. Para verificar o formato das curvas de custos totais e custos médios, nas figuras 6.3 e 6.4, vamos utilizar os dados da tabela abaixo: Com o aumento do volume produzido, os custos totais, com exceção dos custos fixos, só podem crescer. Os custos médios e marginais, entretanto, podem ser decrescentes em certa etapa do processo de produção. Após certo nível de produto, o custo total passa a crescer mais que o aumento da produção, e os custos médio e marginal passam a ser crescentes. Essa é a chamada lei dos custos crescentes. 6 Figura 6.3: Curvas de custos totais Figura 6.4: Curvas de custos médios e marginais Produção Custo Custo Custo Custo Custo Custo Custo total fixo variável total fixo variável médio marginal (Q/dia) total total (CT) médio médio (Cme) (CMg) R$ (CFT) (CVT) R$ (CFMe) (CVMe) R$ variação em (4) R$ R$ R$ R$ variação em (1) (1) (2) (3) (4)=(2)+(3) (5)=(2):(1) (6)=(3):(1)(7)=(4):(1) 0 10,00 0,00 10,00 1 10,00 5,00 15,00 10,00 5,00 15,00 5,00 2 10,00 8,00 18,00 5,00 4,00 9,00 3,00 3 10,00 10,00 20,00 3,33 3,33 6,67 2,00 4 10,00 11,00 21,00 2,50 2,75 5,25 1,00 5 10,00 13,00 23,00 2,00 2,60 4,60 2,00 6 10,00 16,00 26,00 1,67 2,67 4,33 3,00 7 10,00 20,00 30,00 1,43 2,86 4,28 4,00 8 10,00 25,00 35,00 1,25 3,13 4,38 5,00 9 10,00 31,00 41,00 1,11 3,44 4,56 6,00 10 10,00 38,00 48,00 1,00 3,80 4,80 7,00 11 10,00 46,00 56,00 0,91 4,18 5,09 8,00 Custos totais (R$/dia) Custo total (CT) Custo variável total (CVT) Custo fixo total (CFT) Produto por dia 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 50 Custo marginal (CMg) Custo médio (CMe) Custo variável médio (CVMe) 16 14 12 10 8 6 4 2 10 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Custo fixo médio (CFMe) Produto por dia 7 b) Custos de Longo Prazo Uma situação de longo prazo caracteriza-se pelo fato de todos os fatores de produção serem variáveis, inclusive o tamanho ou dimensão da empresa. Ou seja, os custos totais correspondem aos custos variáveis, uma vez que não existem custos fixos no longo prazo. A curva de custo médio de longo prazo (CMeL) também terá um formato em U, como o custo médio de curto prazo, devido à existência de rendimentos ou economias de escala, pois o tamanho da empresa está variando em cada ponto da curva, como mostra a figura 6.5. Após o ponto A, o custo médio de longo prazo tende a crescer, revelando rendimentos decrescentes ou deseconomias de escala. Figura 6.5: Custo médio de longo prazo O formato U da curva de custo médio de longo prazo deve-se às economias de escala, com todos os fatores variando, incluindo o próprio tamanho da empresa, enquanto o formato U do custo médio de curto prazo deve-se às leis dos custos crescentes (lei dos rendimentos decrescentes), que supõe um fator fixo de produção. 3) Diferenças entre a Visão Econômica e a Visão Contábil-Financeira dos Custos de Produção Existem muitas diferenças entre a ótica utilizada pelo economista e a utilizada nas empresas, por contadores e administradores. Pode-se dizer que a visão econômica é mais global, olhando mais o mercado (o ambiente externo da empresa), enquanto a ótica contábil-financeira é específica, centrando-se mais no detalhamento dos gastos da empresa. As principais diferenças estão nos seguintes conceitos: • custos de oportunidade e custos contábeis; • externalidades (custos privados e custos sociais); • custos e despesas. a) Custos de Oportunidade Versus Custos Contábeis Custos contábeis são custos explícitos, que sempre envolvem um dispêndio monetário. É o gasto efetivo, explícito, na compra ou aluguel de insumos, contabilizado no balanço da empresa. Custos de oportunidade são custos implícitos, que não envolvem desembolso monetário. Esses custos são estimados a partir do que poderia ser ganho no melhor uso alternativo (também chamados custos alternativos ou implícitos). Os exemplos a seguir ilustram sua utilidade: CMeL CMeL A q q* (escala ótima) 8 • o capital que permanece parado no caixa da empresa: o custo de oportunidade é o que a empresa poderia estar ganhando se aplicasse esse capital no mercado financeiro; • quando a empresa tem prédio próprio: deve imputar um custo de oportunidade correspondente ao que ganharia se alugasse um imóvel e utilizasse o valor correspondente ao prédio em outra aplicação (outro negócio, mercado financeiro); • custo de oportunidade do capital: quanto os proprietários ou acionistas ganhariam se aplicassem em outra atividade; • custo de oportunidade da mão-de-obra: qual o menor salário que a empresa deveria pagar aos assalariados para mantê-los empregados. b) Custos Privados e Custos Sociais: as externalidades ou economias externas As externalidades (ou economias externas) podem ser definidas como as alterações de custos e benefícios para a sociedade derivadas da produção das empresas, ou também como as alterações de custos e receitas da empresa devidas a fatores externos. Temos uma externalidade positiva (economia externa) quando uma unidade econômica cria benefícios para outras, sem receber pagamento por isso. Temos uma externalidade negativa (deseconomia externa) quando uma unidade econômica cria custos para outras, sem pagar por isso. O conceito de externalidade revela a diferença entre custos privados e sociais. É particularmente importante para a avaliação social e avaliação privada de projetos de investimentos. c) Custos Versus Despesas A definição contábil colocaque custos são gastos associados ao processo de fabricação de produtos, enquanto despesas são associadas ao exercício social e alocadas para resultado geral do período (despesas financeiras, comerciais e administrativas). Os custos são divididos em custos diretos (variáveis) e custos indiretos (fixos). Os custos diretos são os salários da mão-de-obra direta, custo das matérias-primas e componentes, e gastos com estoque de capital, tais como energia, manutenção e reparação. Os custos indiretos referem-se aos salários da administração, aluguel do prédio, depreciação do equipamento e das instalações, retorno sobre o capital fixo e provisão para risco. II) Maximização dos Lucros Define-se lucro total (lucro contábil) como a diferença entre as receitas de vendas da empresa e seus custos totais de produção. Assim: CTRTLT −= , em que: LT = lucro total; RT = receita total de vendas; CT = custo total de produção. A empresa, desejando maximizar seus lucros, escolherá o nível de produção para a qual a diferença positiva entre RT e CT seja a maior possível (máxima). Define-se como receita marginal (RMg) o acréscimo da receita total da empresa quando essa vende uma unidade adicional de seu produto. Custo marginal (CMg) é o acréscimo do custo total de produção da empresa quando essa produz uma unidade adicional de seu produto. 9 Pode-se demonstrar que a empresa maximizará seu lucro num nível de produção tal que a receita marginal da última unidade seja igual ao custo marginal dessa última unidade produzida: CMgRMg = . Quando RMg > CMg, o empresário terá interesse em aumentar a produção, porque cada unidade adicional fabricada aumenta seus lucros. Quando RMg < CMg, o empresário terá interesse em diminuir a produção, pois cada unidade adicional que deixa de ser fabricada aumenta seus lucros. A Tabela abaixo ilustra esses conceitos. Para o nível de produção de 8 unidades, quando RMg = CMg, tem-se o lucro máximo no valor de R$5,00. a) Conceitos de lucro normal e lucro extraordinário O lucro normal é o valor que mantém o proprietário numa dada atividade: se o lucro fosse mais baixo, o empresário sairia desse mercado, aplicando em outro negócio, ou no mercado financeiro. O custo de oportunidade do capital é também chamado de lucro normal. O que exceder o lucro normal é chamado de lucro extraordinário (lucro extra), também denominado lucro econômico. Existem, desse modo, três conceitos de lucro: • lucro contábil: diferença entre a receita e os custos efetivamente incorridos; • lucro normal: custo de oportunidade do capital; • lucro extraordinário (lucro extra/econômico): diferença entre a receita e o total dos custos contábeis e custos de oportunidade. b) O Conceito de Break-Even Point O ponto de equilíbrio (break-even point) representa o nível de produção em que a receita total é igual ao custo total (lucro total zero), e a partir do qual a empresa passa a gerar lucros. 10 Referências GREMAUD, A. P. et al. Manual de Economia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2004. VASCONCELLOS, A S.; GARCIA, M E. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
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