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MULTIPLICADORES DE LAGRANGE O objetivo deste item é estudar o método dos Multiplicadores de Lagrange para resolver problemas de máximos ou mínimos condicionados, isto é, sujeitos a um vínculo, ou seja, a uma equação. Solucionar problemas de extremos vinculados requer encontrar extremos de uma função f de diversas variáveis quando estas não são independentes mais, satisfazem uma ou mais condições dadas. Essas condições, normalmente, são representadas por equações, as quais são chamadas equações de vínculos. Inicialmente, vamos resolver problemas de extremos condicionados, com os resultados tradicionais de máximo ou mínimo relativos, utilizados para funções de duas variáveis reais x e y. Exemplo 1: Calcular o valor máximo de f (x , y , z) = x y z , sujeito à condição g (x, y, z ) = 42 , onde g (x, y, z ) = x + y + z . Solução: Equação de vínculo ⇒ x + y + z = 42 Resolver a equação de vínculo para uma variável, digamos para z ⇓ z = 42 – x – y Função a ser maximinizada f (x , y , z ) = f ( x , y , 42 – x – y ) = x y ( 42 – x – y ) Portanto, para resolver a questão proposta, basta calcular o máximo de L(x , y ) = x y ( 42 – x – y ) com os procedimentos conhecidos para máximos ou mínimos relativos de L (x , y ). Neste caso, os pontos críticos de L são dados pelas soluções do sistema { 𝐿𝑥 = 0 𝐿𝑦 = 0 . Resolvendo o sistema { 𝐿𝑥 = 0 𝐿𝑦 = 0 ⇒ { 𝑦 ( 42 − 𝑥 − 𝑦 ) − 𝑥 𝑦 = 0 𝑥 ( 42 − 𝑥 − 𝑦 ) − 𝑥 𝑦 = 0 ⇒ { 42 𝑦 − 𝑥 𝑦 − 𝑦2 − 𝑥 𝑦 = 0 42 𝑥 − 𝑥2 − 𝑥 𝑦 − 𝑥 𝑦 = 0 ⇒ { 42 𝑦 − 2𝑥 𝑦 − 𝑦2 = 0 42 𝑥 − 𝑥2 − 2𝑥 𝑦 = 0 ⇒ S: { 𝑦 ( 42 − 2 𝑥 − 𝑦 ) = 0 𝑥 ( 42 − 𝑥 − 2 𝑦 ) = 0 Resolvendo o sistema S, tem-se: { y = 0 ou 42 – 2 x – y = 0 x = 0 ou 42 – x – 2 y = 0 ⇒ Daí temos: x = 0 ou y = 0 ou { 42 – 2 x – y = 0 42 – x – 2 y = 0 ⇒ x = 0 ou y = 0 ou x = 14 ou y = 14 . Assim, obtêm-se os pontos críticos: A ( 0 , 0 ) , B ( 0 , 14 ) , C ( 14 , 0 ) e D ( 14 , 14 ) . Preparativos para Aplicar o Teste da Derivada Segunda na função L( x, y ) = x y ( 42 – x – y ) = 42 x y - 𝑥2y - 𝑥𝑦2 𝐿𝑥 = 42 y – 2xy - 𝑦 2 𝐿𝑥𝑥 = - 2 y 𝐿𝑦 = 42 x - 𝑥 2 – 2 x y 𝐿𝑦𝑦 = - 2x 𝐿𝑥𝑦 = 42 – 2 x – 2 y ∆ = 𝐿𝑥𝑥 . 𝐿𝑦𝑦 – ( 𝐿𝑥𝑦 ) 2 = ( - 2 y ) . ( - 2 x ) – ( 42 – 2y – 2x )2 ∆ = 4 x y - ( 42 – 2y – 2x )2 Testando nos pontos críticos: Veja que em A ( 0 , 0 ) , B ( 0 , 14 ) e C ( 14 , 0 ) tem-se que ∆ ( 𝐴 ) < o , ∆ ( 𝐵 ) < o e ∆ ( 𝐶 ) < o. 𝑃𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜, esses pontos são todos ponto de sela. Agora, no ponto D ( 14 , 14 ) tem-se: • ∆ ( 14 , 14 ) = 4 . 14 . 14 - ( 42 – 2. 14 – 2. 14 )2 = = 784 – 196 = 588 > 0 • 𝐿𝑥𝑥 ( 14 , 14 ) = - 2 . 14 = - 28 < o Consequentemente, o ponto D ( 14, 14 ) é ponto de máximo relativo, o qual na verdade fornece um valor máximo absoluto para L em D, a saber L ( 14, 14 ) = 14 . 14 . ( 42 – 14 – 14 ) = 14 . 14 . 14 = 2744. Dessa forma, o valor máximo de f( x, y , z ) = x y z , sujeito à condição g (x, y, z ) = x + y + z = 42 é 2744. Exemplos envolvendo extremos não vinculados e extremos vinculados Exemplo 2 : Calcular o valor máximo de f(x , y) = 4 - 𝑥2 − 𝑦2 Solução: Resolver o sistema { 𝑓𝑥 = 0 𝑓𝑦 = 0 ⇒ { − 2 𝑥 = 0 − 2 𝑦 = 0 ⇒ { 𝑥 = 0 𝑦 = 0 Logo o ponto crítico é P (0 , 0 ) Análise desse ponto crítico: f(x , y) = 4 – 𝑥2 − 𝑦2 𝑓𝑥 = - 2 x 𝑓𝑥𝑥 = - 2 𝑓𝑦 = - 2 y 𝑓𝑦𝑦 = - 2 𝑓𝑥𝑦 = 0 𝐶𝑜𝑛𝑐𝑙𝑢𝑠ã𝑜: • ∆ = 𝑓𝑥 . 𝑓𝑦 − ( 𝑓𝑥𝑦 ) 2= (- 2 ) . ( - 2 ) – 0 2 = 4 > 0 • 𝑓𝑥𝑥 = - 2 Assim, ∆ ( 1, 1) = 4 > 0 e 𝑓𝑥𝑥( 1, 1) = - 2 < 0 ⇓ P (0 , 0) é ponto de máximo relativo para f(x , y) = 4 – 𝑥2 − 𝑦2 e como só existe este ponto de máximo, trata-se de um ponto de máximo absoluto. Nesse caso, o valor máximo absoluto de f é f ( 0 , 0) = 4. Exemplo 3: Calcular o valor máximo de f(x , y) = 4 – 𝑥2 − 𝑦2 , condicionado a x + y = 2. Solução: Equação de vínculo : x + y = 2. Explicitando y como função de x ⇒ y = 2 – x Função a ser maximizada : L(x ) = f ( x , 2 – x ) = 4 – 𝑥2 − ( 2 − 𝑥 )2 = - 2 𝑥2 + 4 x Pontos críticos de L(x) = - 2 𝑥2 + 4 x L’ ( x) = - 4 x + 4 L’‘ ( x ) = - 4 L’ ( x) = 0 ⇒ - 4 x + 4 = 0 ⇒ x =1 Mas, L’‘ ( 1 ) = - 4 < 0 ⇒ o ponto S ( 1 , L (1) ) é de valor máximo para L. Conclusão: O valor máximo de f(x , y) = 4 – 𝑥2 − 𝑦2 , condicionado a x + y = 2, é igual a L(1) = - 2 . ( 1 )2 + 4 . 1 = 2 . Síntese sobre cálculo de extremos livres e de extremos condicionados Revendo os exemplos 2 e 3 fica caracterizado as duas situações: a) cálculo de extremos livres de f(x , y) = 4 - 𝑥2 − 𝑦2 , sem restrição. Estratégia: Usar resultados tradicionais e obter máximo { f(x , y )} = 4 , alcançado no ponto P ( 0, 0 ) . b) cálculo de extremos de f(x , y) = 4 - 𝑥2 − 𝑦2 , sujeito a x + y = 2. Estratégia: Explicitar a variável y em termos de x na equação de vínculo. Em seguida substituir essa variável y na equação de f (x , y) , obtendo a função auxiliar L ( x ) = f ( x , 2 – x ) = 4 - 𝑥2 − ( 2 − 𝑥)2 = - 2 𝑥2 + 4 x. Usar resultados tradicionais para calcular o valor máximo de L(x) em x = 1, a saber L(1) = -2 + 4 =2 . Assim, o valor máximo de f(x , y) = 4 - 𝑥2 − 𝑦2 , sujeito a condição x + y = 2 , é L(1) =2. A seguir, a configuração gráfica estabelece o entendimento desses dois conceitos: Método dos Multiplicadores de Lagrange Observando o Exemplo 1 , vimos que para que ele fosse solucionado, foi necessário obter uma função a L( x , y ) = x y ( 42 – x – y ) de duas variáveis reais x e y , através da substituição de z na equação de f (x , y , z ) = x y z, pela expressão z = 42 – x – y obtida da equação de vínculo x +y +z = 42. Como nem sempre é possível explicitar na equação de vínculo, uma variável em função das outras duas, foi idealizado um outro procedimento para determinar os pontos críticos, no caso de problemas com máximos ou mínimos condicionados. Este método, é atribuído Joseph L. Lagrange (1736 – 1813), sendo conhecido como método dos Multiplicadores de Lagrange. A seguir vamos descrever em linhas gerais esse método e, inclusive, ilustrá- lo com exemplos. Problemas envolvendo funções de duas variáveis e uma restrição Proposição: Seja f(x , y) diferenciável em um conjunto aberto U. Seja g(x , y) uma função com derivadas parciais contínuas em U tal que ∇ g ( x , y) ≠ 0 para todo ( x , y) ∈ V , onde V = { ( x, y ) ; g( x, y) = 0 } . Uma condição necessária para que ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 ) ∈ V seja extremante de f em V é que, para algum 𝜆 real , ∇ f ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 ) = 𝜆 ∇ g ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 ) . A proposição anterior assegura que os pontos de máximo e/ou mínimo condicionados de f devem satisfazer, para algum 𝜆 real , as equações: ( S ) : { 𝜕 𝑓 𝜕 𝑥 = 𝜆 𝜕 𝑔 𝜕 𝑥 𝜕 𝑓 𝜕 𝑦 = 𝜆 𝜕 𝑔 𝜕 𝑦 𝑔( 𝑥 , 𝑦) = 0 O número real 𝜆 que torna compatívelo sistema ( S ) é chamado Multiplicador de Lagrange. O método proposto por Lagrange consiste em: a) definir a função auxiliar L de três variáveis x , y e 𝜆 , tal que L ( x , y , 𝜆 ) = f (x , y) - 𝜆 g ( x, y) ; b) Observar que o sistema ( S) é equivalente a ∇ L = 0 ou seja, ( 𝑆1 ): { 𝜕 𝐿 𝜕 𝑥 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑦 = 0 𝜕 𝐿 𝜕 𝜆 = 0 Nessas condições, os possíveis extremantes locais de f sobre a condição g ( x , y ) = 0 são pesquisados entre os pontos críticos de L , através das soluções do sistema ( 𝑆1 ) . Assim, os valores máximos e/ou mínimos de f condicionados a g( x , y) = 0 coincidem com os valores máximos e/ou mínimos livres de L. Ressalta-se que o método dos Multiplicadores de Lagrange só permite determinar potenciais pontos extremantes. A classificação desses pontos deve ser feita por outros meios ( definições, argumentos geométricos etc). Exemplo 4: Um galpão retangular deve ser construído em um terreno com a forma de um triângulo delimitado pelo eixo-x, pelo eixo-y e pela reta x + 2 y = 20, conforme figura indicada a seguir. Usar o Método dos Multiplicadores de Lagrange para determinar a área máxima possível para esse galpão. 10 20 Solução: A solução deste problema consiste em maximizar a área do retângulo dada por f( x, y ) = x y , sujeito a condição x + 2 y =20 ( isto significa que o retângulo tem os lados paralelos aos eixos, com um vértice apoiado na reta ) . Função lagrangeana auxiliar ⇒ L ( x , y , 𝜆 ) = f(x , y) - 𝜆 g (x , y ) ⇓ L ( x , y , 𝜆 ) = x y - 𝜆 ( x + 2 y – 20 ) Sistema para achar os pontos críticos de L: { 𝜕 𝐿 𝜕 𝑥 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑦 = 0 𝜕 𝐿 𝜕 𝜆 = 0 ⇒ { 𝑦 − 𝜆 = 0 𝑥 − 2𝜆 = 0 𝑥 + 2 𝑦 − 20 = 0 Substituindo a 1ª equação e a 2ª equação na 3ª equação temos 2 𝜆 + 2 𝜆 = 20 ⇒ 𝜆 = 5 e daí, segue que x = 10 e y = 5 . Logo, o ponto ( 10 , 5 ) fornece o máximo valor para f, sujeito a condição x + 2 y = 20. Dessa forma, as dimensões do galpão que possibilitam área máxima são x = 10 m e y = 5 m. Consequentemente, a área máxima do galpão nestas condições será A = 10 m . 5 m = 50 m2. Problemas envolvendo funções de três variáveis e uma restrição Proposição: Seja f(x , y , z) diferenciável em um conjunto aberto U. Seja g(x , y, z ) uma função com derivadas parciais contínuas em U tal que ∇ g ( x , y , z ) ≠ 0 para todo ( x , y, z ) ∈ V , onde V = { ( x, y, z ) ; g( x, y , z ) = 0 } . Uma condição necessária para que ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 , 𝒛𝒐) ∈ V seja extremante de f em V é que, para algum 𝜆 real , ∇ f ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 , 𝒛𝒐) ) = 𝜆 ∇ g ( 𝒙𝒐 , 𝒚𝒐 , 𝒛𝒐) . A proposição anterior assegura que os pontos de máximo e/ou mínimo condicionados de f devem satisfazer, para algum 𝜆 real , as equações: ( s) : { 𝜕 𝑓 𝜕 𝑥 = 𝜆 𝜕 𝑔 𝜕 𝑥 𝜕 𝑓 𝜕 𝑦 = 𝜆 𝜕 𝑔 𝜕 𝑦 𝜕 𝑓 𝜕 𝑧 = 𝜆 𝜕 𝑔 𝜕 𝑧 𝑔( 𝑥 , 𝑦 , 𝑧) = 0 O número real 𝜆 que torna compatível o sistema ( S ) é chamado Multiplicador de Lagrange. O método proposto por Lagrange consiste em: c) definir a função auxiliar L de quatro variáveis x , y , z e 𝜆 , tal que L ( x , y , z , 𝜆 ) = f (x , y , z ) - 𝜆 g ( x, y , z ) ; d) Observar que o sistema ( S) é equivalente a ∇ L = 0 ou seja, ( 𝑆1 ): { 𝜕 𝐿 𝜕 𝑥 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑦 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑧 = 0 𝜕 𝐿 𝜕 𝜆 = 0 Nessas condições, os possíveis extremantes locais de f sobre a condição g ( x , y , z ) = 0 são pesquisados entre os pontos críticos de L , através das soluções do sistema ( 𝑆1 ) . Assim, os valores máximos e/ou mínimos de f condicionados a g( x , y , z ) = 0 coincidem com os valores máximos e/ou mínimos livres de L. Ressalta-se que o método dos Multiplicadores de Lagrange só permite determinar potenciais pontos extremantes. A classificação desses pontos deve ser feita por outros meios ( definições, argumentos geométricos etc). Exemplo 5: Calcular o valor máximo de f (x , y , z) = x y z , sujeito à condição g (x, y, z ) = 42 , onde g (x, y, z ) = x + y + z . Solução: Resolver este problema consiste em maximizar a função f(x,y, z) = xyz, sujeito a condição x + y + z = 42 Função lagrangeana auxiliar ⇒ L ( x , y , z, 𝜆 ) = f(x , y , z ) - 𝜆 g (x , y , z) ⇓ L ( x , y , z , 𝜆 ) = x y z - 𝜆 ( x + y + z – 42 ) Sistema para achar os pontos críticos de L: { 𝜕 𝐿 𝜕 𝑥 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑦 = 0 𝜕𝐿 𝜕 𝑧 = 0 𝜕 𝐿 𝜕 𝜆 = 0 ⇒ { 𝑦 𝑧 − 𝜆 = 0 𝑥 𝑧 − 𝜆 = 0 𝑥 𝑦 − 𝜆 = 0 −( 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 − 42) = 0 Multiplicando a 1ª equação por x ⇒ xyz - 𝜆𝑥 = 0 Multiplicando a 2ª equação por Y ⇒ xyz - 𝜆 𝑦 = 0 Multiplicando a 3ª equação por z ⇒ xyz - 𝜆𝑧 = 0 Somando as três parcelas ⇒ 3 xyz - 𝜆 ( x + y + z ) = 0 ⇒ 3 xyz – 42 𝜆 = 0 ⇒ xyz – 14 𝜆 =0 ⇒ xyz = 14 𝜆 ⇒ 𝝀 = 1 / 14 . xyz Substituindo o valor de 𝜆 na 1ª , 2ª e 3ª equação, segue que: a) 𝑦 𝑧 − 𝜆 = 0 ⇒ yz - 1 14 x y z = 0 ⇒ yz ( 1 - 1 14 x ) = 0 ⇒ 1 - 1 14 x = 0 ⇒ x = 14 b) 𝑥 𝑧 − 𝜆 = 0 ⇒ xz - 1 14 x y z = 0 ⇒ xz ( 1 - 1 14 y ) =0 ⇒ y = 14 c) 𝑥 𝑦 − 𝜆 = 0 ⇒ 𝑥y - 1 14 x y z = 0 ⇒ xy( 1 - 1 14 z ) =0 ⇒ z = 14 Veja que o ponto P (14, 14 , 14 ) está sobre o vínculo x + y + z = 42, pois 14 + 14 + 14 = 42. Além disso, o único ponto extremante condicionado da função f(x, y , z) é o ponto P (14, 14 , 14 ). Logo, o valor de f nesse ponto é f ( 14, 14 , 14 ) = 143 = 2744 .
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