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MATRIZES ROMÂNTICAS & PÓS- ROMÂNTICAS I HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Prof. Pedro Milanesi Recapitulando: Exercício anterior “Tendemos a dizer, muitas vezes de modo precipitado, que se uma coisa se segue a outra, aquela foi provavelmente causada por esta – de acordo com o antigo princípio o qual post hoc, ergo propter hoc (depois disto, logo causado por isto – SE isto, ENTÃO aquilo). (Exemplo, se bebo água digo que é por causa da sede que sinto) (...) Mas onde estão esses sentimentos e estados mentais? De que material são feitos? A resposta tradicional é que estão situados num mundo que não possui dimensões físicas, chamado mente, e que são mentais. Como pode um fato mental causar ou ser causado por um fato físico? (...) Penso que a prática mais comum seja simplesmente ignorá-las [as supostas causas mentais]. É possível acreditar que o comportamento expresse sentimentos; antecipar o que uma pessoa irá fazer, adivinhando, ou perguntando-lhe como se sente; e mudar o ambiente na esperança de modificar os sentimentos, e, enquanto isso ocorre, não dar nenhuma atenção a suposições teóricas”. (SKINNER, 1999 p. 13-14). Possíveis respostas A refutação de suposições teóricas em prol do que é diretamente observado. →Indica o emprego dos princípios metodológicos das ciências naturais. As relações comportamentais são entendidas como interação do indivíduo com o meio. →Indica características Funcionalistas e Organicistas. Essas relações são organizadas por uma regra simplificada (SE-ENTÃO). →Indica característica Mecanicista (embora não explicitamente atomicista). As Matrizes Românticas e Pós-Românticas (MRP-R) Relembrando! As Matrizes Românticas e Pós-Românticas – que abarcam as TENTATIVAS de ocupação do espaço psicológico que criam ou tentam crias outros preceitos metodológicos e teóricos. Por que Românticas e Pós-Românticas? – Diferente do que o senso comum diz sobre o romantismo, o movimento romântico foi um importante marco de questionamento e crítica do conhecimento científico e do iluminismo. Ele vigorou especialmente na Alemanha entre os séculos XVIII e XIX. Por esta via, o autor decidiu usar o nome. Mas, é verdade que algumas das matrizes que compõem esse grupo não partilham dos princípios pregados pelo romantismo e até são antirromânticas. Topografia das MRP-R Matrizes Românticas e Pós- Românticas Matriz Vitalista e Naturista Matrizes Compreensivas Matriz Historicista Idiográfica Estruturalismos Fenomenologia Matriz Vitalista e Naturista Segundo o próprio autor: “Tudo o que fora excluído pelas matrizes cientificistas é recolhido pelo conjunto de atitudes e perspectivas intelectuais que estou denominando de vitalismo naturista: o ‘qualitativo’, o ‘indeterminado’, o ‘criativo’, o ‘espiritual’ etc. Trocam-se os sinais, mas permanece a divisão entre razão e ‘vida’”. (p. 31). Os pensadores dessa matriz “são a favor da ‘vida’ e contra a razão” (p.32) . Vamos entender melhor o que isso significa. A começar pelo nome dado à matriz Matriz Vitalista e Naturista Que quer dizer Vitalismo? O vitalismo é um princípio filosófico pré-científico, embora também presente em discussões na modernidade científica, que pressupõe que a vida tenha uma essência própria que a mantenha e impulsione para o desenvolvimento e expansão. Essa força vital seria o elemento diferencial que distingue os objetos inanimados dos seres vivos, mas também entre seres vivos e mortos. Do ponto de vista químico, a composição de um corpo vivo e que acabou de morrer é idêntica, falta a centelha da vida, ou o ElánVital, como diria Aristóteles. O que é naturismo? Naturismo é um preceito ético, muito presente em estilos literários e filosóficos do século XVIII e XIX, que prioriza o modo de vida em contato com a natureza em estado bruto. Por esta via, espera-se compreender melhor a essência do mundo e do ser humano. Essa perspectiva está presente, especialmente no campo das artes desde o arcadismo. Matriz Vitalista e Naturista Que quer dizer Vitalismo Naturista? Vitalismo Naturista é o nome dado por Luis Claudio Figueiredo (autor do texto base) para o conjunto de pensamentos e princípios que tem como base o princípio vital e a busca pela condição essencial do humano a partir da ideia de natureza inata. Os princípios dessa matriz se apoiarão na ideia de que a vida nos é dada e que sua essência não pode ser conhecida pela razão, mas pela intuição. Intuição→ Intuição no campo da filosofia e da ciência é sinônimo de conhecimento imediato dado aos sentidos. Quer dizer, a intuição seria a primeira e mais pura impressão que temos de nós mesmos e do mundo. O Romantismo, movimento filosófico e literário, foi quem consagrou a intuição como caminho de conhecimento, defendendo que ele seria mais elementar e verdadeiro que a razão. Essa matriz é portanto antirracionalista. Assim, a matriz vitalista e naturista, tal como entendida pelo autor aponta para as psicologias que se apoiam na intuição para a construção do conhecimento. Matriz Vitalista e Naturista A Matriz Vitalista e Naturista na Psicologia e na filosofia No campo da filosofia, encontramos nos escritos de Friedrich Nietzsche e Henri Bergson fortes apelos vitalistas. No pensamento estadunidense vemos os princípios éticos de Henry David Thoreau. Todos esses (e outros) pensadores influenciaram e influenciam até hoje o conhecimento psicológico em diversas leituras. As relações estabelecidas entre Nietzsche e Bergson e a Psicanálise ou entre Thoreau e a Psicologia Humanista estadunidense são alguns exemplos. Na psicologia, encontramos uma expressão mais forte dessa matriz nos pensamentos de Carl R. Rogers, importante pensador da Psicologia Humanista estadunidense. Por exemplo, em sua obra tardia, Rogers afirma que o ser humano possui uma força interna e inata que o impulsiona para a autorrealização, a Tendência Atualizante. Também, em sua prática, ele orienta que devemos sempre desconfiar das construções teóricas e racionais e nos atentarmos ao que brota espontaneamente na consciência. Isso seria uma forma de compreensão da intuição. Matrizes Compreensivas Introdução As matrizes compreensivas podem ser compreendidas pelas TENTATIVAS de ocupação do espaço psicológico que tem por princípio a historicidade radical do ser humano. O que isso quer dizer? Que o ser humano só pode ser compreendido e determinado historicamente e não (por vezes nunca) por princípios universais, como vemos na ciência natura. O problema da compreensão Essas matrizes são assim nomeadas por serem hermenêuticas. A hermenêutica é uma disciplina filosófica que discute o modo como compreendemos as coisas, ela lida com a construção do entendimento humano. Por exemplo, uma pessoa que está com uma grave doença e consegue se recuperar, entende que foi intervenção divina. A hermenêutica vai tentar esclarecer: 1. Como a realidade divina se mostrou na cura, pois a cura não é propriamente a realidade divina; entende que a realidade divina se expressou na cura. 2. Como a partir da cura o doente interpretou e nomeou como intervenção divina. Matrizes Compreensivas A Hermenêutica A hermenêutica pode ser assim concebida como a disciplina filosófica que tentará esclarecer o entendimento humano a partir da expressividade dos fenômenos, da compreensão deles e das suas possibilidades de interpretação (nomeação, determinação, definição). O elemento central na hermenêutica é a compreensão. Na filosofia ocidental, a hermenêutica está presente desde Aristóteles, como o princípio filosófico máximo para o estabelecimento da ética (o estudo do bem supremo com vistas a orientar o bem viver dos humanos em suas relações e princípios); • mas também em Agostinho de Hipona, ao fundar a Teologia, pois precisamos interpretar os textos sagrados para compreender a realidade divina; • No campo do direito, na tarefa de compreender e interpretar a lei como expressão da justiça; • No surgimento das Ciências Humanas, por entender que as característicashumanas fundamentais (a saber a criação artística, a história e a linguagem) não podem ser conhecidas pelo método das Ciências Naturais. Matrizes Compreensivas A Hermenêutica Também, é válido ressaltar que a questão da compreensão implicará numa mudança da linguagem na produção e comunicação do conhecimento. A linguagem técnica, marcada pela impessoalidade, objetividade e distanciamento dá lugar à narrativa histórica e à linguagem poética. Por isso, é comum encontrar em textos da psicologia que partilham dos preceitos dessas matrizes o uso de figuras de linguagem como a analogia e a metáfora. Vejamos dois exemplos Exemplo 1: Tese vencedora do premio de teses da USP (Se olharmos o sumário e o texto que compreende a tese, veremos que ele é todo narrativo). https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-30082019-181514/publico/afonso_corrigida.pdf Matrizes Compreensivas A Hermenêutica (exemplo 2) MAPA DE ANATOMIA: O OLHO O Olho é uma espécio de globo, é um pequeno planeta com pinturas do lado de fora. Muitas pinturas: azuis, verdes, amarelas. É um globo brilhante: parece cristal, é como um aquário com plantas finamente desenhadas: algas, sargaços, miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro. Mas por dentro há outras pinturas, que não se vêem: umas são imagens do mundo, outras são inventadas. O Olho é um teatro por dentro. E às vezes, sejam atores, sejam cenas, e às vezes, sejam imagens, sejam ausências, formam, no Olho, lágrimas. (Cecília Meireles) Matriz Historicista Idiográfica O Historicismo Idiográfico O Historicismo idiográfico é um modo de compreender o movimento historicista (portanto hermenêutico), especialmente ligado ao pensamento de Wilhelm Dilthey. O historicismo visa compreender o sentido da experiência imediata do ser humano em cada cultura ou período histórico. Pressupõe que ao humano não cabem esquemas lógicos definitivos, pois somos constituídos historicamente. Isso implica que conhecer uma cultura ou período histórico (e um indivíduo nessa cultura ou período histórico) significa compreender seu sistema de referência a partir da revivência. O termo idiográfico se refere ao idios, quer dizer, àquilo que é próprio, peculiar e único. Portanto, com o nome Historicismo Idiográfico, o autor quer nomear a compreensão de que cada período histórico e cultura tem uma peculiaridade que não pode ser comparada ou generalizada. Matriz Historicista Idiográfica O Historicismo Idiográfico Sistema de referência → é o conjunto de referência que uma cultura ou período histórico tem e que fundamentam a compreensão do mundo. Esses estudos são muito comuns, por exemplo, nas etnografias da antropologia. Revivência→ A ideia da re-vivência se fundamenta na ideia de que o modo de vida será determinado por aquilo que cada cultura compreende por vida (a vivência). Sendo essa compreensão historicamente determinada, a compreensão de vida precisa ser expressa e partilhada entre os membros da mesma cultura. Um texto, uma obra de arte, por exemplo, são expressões do sentido da vida e de seus modos e ao interpretá-los, podemos reviver um sistema de referência perdido ou diverso do nosso. A Revivência se torna um conceito metodológico do historicismo que permite conhecer o sistema de referência de um indivíduo, cultura ou período histórico. Matriz Historicista Idiográfica O Historicismo Idiográfico na psicologia Na psicologia, o Historicismo Idiográfico está presente, para além das influências de Dilthey, em toda tentativa interpretativa de compreensão humana que prioriza sua peculiaridade. As influências dessa matriz, assim como dos estruturalismos (como veremos) são grandes. Por exemplo, na clínica psicanalítica há grande esforço de compreender a peculiaridade da história singular. Em pesquisas da psicologia social, é comum fazer a chamada “imersão em campo”, para apreender a peculiaridade dos modos de vida de um território urbano, uma cultura tradicional, por exemplo. Pesquisas e estudos no campo da psicologia que lidam com a arte também terão grande influência dos princípios historicistas idiográficos.
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