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Resenha: Galileu e a Revolução Científica

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RESENHA CRÍTICA:
KOYRÉ, Alexandre. 1955. “Galileu e a Revolução Científica do século XVII”, in Estudos de História do Pensamento Científico.
ENTRE O ARISTOTELISMO E O PLATONISMO: A INSERÇÃO DE GALILEU GALILEI NA EPISTEMOLOGIA CIENTÍFICA
	Quando Galileu Galilei, em meados do século XVI, apontou que “o livro da natureza está escrito em caracteres geométricos”, ele não apenas introduziu um novo conceito para a ciência, mas causou um impacto mensurável na filosofia até então predominante. É isto que Alexandre Koyré busca apresentar neste texto, intitulado “Galileu e a Revolução Científica do Século XVII”, expondo não só “o maravilhoso investigador da natureza”, como carinhosamente o chamava seu amigo Cavalieri, mas também aqueles que o antecederam e, claro, o contexto histórico correspondente, que em hipótese alguma deve ser desconsiderado em qualquer análise cujo viés perpasse o campo das ciências sociais. 
	Tomando como ponto de partida a concepção de que a ciência moderna – e aqui, especificamente, a revolução galileana e cartesiana – fora concebida por um processo demorado de esforço intelectual, o autor traz a importância de se analisar sua origem, seu alcance e o que ela veio a significar. A partir daí, têm-se a física moderna, que embora marcada primordialmente pela preocupação acerca do movimento dos corpos, embrionária de suas leis fundamentais, teve na verdade suas bases constituídas não na terra, mas na busca pelo que se pode compreender a partir do céu. 
	Se os escritos de Shakespeare nos trouxeram a célebre frase de que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”, a modernidade não se propôs a ficar apenas na investigação desse campo intermediário: resolveu ir até o céu. Esta ideia por si só é revolucionária, na medida em que rompe com as ideias teológicas dominantes até então, segundo as quais, como salienta Harari no livro “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, “o que quer que os grandes deuses ou os sábios do passado não tenham se dado ao trabalho de nos contar não era importante”. Assim, a tradição sustentava o cosmo como um espaço inacessível na medida em que seu estudo não interessava, ele já estava hierarquicamente posto. O que a física moderna faz é ressignificá-lo, trazendo-o à tona como um espaço aberto, o Universo, a ser explorado. E tal exploração se deu, evidentemente, com o uso das leis previamente citadas: eis então o ‘casamento’ das físicas, a celeste e a terrestre, que em certa medida geram o entendimento do porquê as ideias de Galileu e Descartes, essencialmente racionalistas, não prosperaram totalmente. 
	Ademais, essa física não se encerrou com os dois: caminhou até o século XX, com Albert Einstein, que dá à Lei da Inércia uma centralidade. A despeito desta lei, Koyré afirma que “(...) embora Galileu nunca tenha formulado explicitamente o princípio da inércia, sua mecânica está, implicitamente, baseada nele”. E foi graças à Galileu e seu contemporâneo que destacou-se na matemática que a inércia parece-nos algo relativamente óbvio; entretanto, pensar que sempre foi assim seria um anacronismo, que negaria um principio da própria história social do conhecimento: o de que a assimilação de uma teoria ou conceito por uma ampla maioria é dependente de sentenças dentro das quais, apenas, ela possa fazer sentido.
	Após uma descrição de viés mais tecnicista sobre a inércia, Koyré pontua que só é possível torná-la como óbvia quando se compreende o isolamento de um corpo, uma concepção de espaço e uma de movimento; não é de espantar, portanto, que se necessitou de uma reformulação filosófica para tal. Galileu teve dificuldades para além do esforço de seu intelecto: o de conseguir inseri-lo no meio social. 
	Voltando então no tempo, se começa a análise de algumas concepções pré-galileanas. Da física aristotélica, é enfatizado que é uma teoria científica, coerente e acordada com o que se mostra no dia-a-dia. Além disso, é empirista, de modo que opõe-e à matemática e à racionalidade. O principal contraste em relação ao pensamento galileiano é o de que nega a possibilidade de relacionar o movimento com leis, e considera o lugar natural do corpo para deduzir sua movimentação: “os corpos terrestres se movem em linha reta; os corpos celestes, em círculos” (KOYRÉ, 1955). 
	O autor ainda explora um pouco do tecnicismo aristotélico antes de chegar em Copérnico, que julga como detentor de uma argumentação fraca, embora importante visto que aplica leis mecânicas celestes aos fenômenos terrestres. Passa por Giordano Bruno, que contraria Aristóteles ao supor que não a relação objeto-lugar natural é importante, mas sim a entre lugar e sistema mecânico. Segue com Tycho Brahe, este essencialmente aristotélico, que chegou à metafísica ao sugerir que os corpos possuíam uma alma poderosa, detentora do entendimento de para onde ir e como fazê-lo. E finaliza esta parte com Kleper, mais próximo de Arisóteles e da Idade Média do que de Galileu e Descartes. Este pressupunha que correntes elásticas ligavam as coisas – tais quais nuvens – à Terra, motivo pelo qual seu movimento a acompanhava. 
	Voltando à Galileu, estes modelos apresentados são alvo de críticas por ele, que ao lançar “Diálogo sobre os Dois Maiores Sistemas do Mundo”, enfrenta não só Kleper, Aristóteles ou Copérnico, mas a tríade autoridade, tradição e senso comum, este que precisaria ser educado para compreendê-lo. Tal educação exige a poderosa arma humana que é o pensamento. “Pois é o pensamento, o pensamento puro e sem mistura, e não a experiência e a percepção dos sentidos, que constitui a base da “nova ciência de Galileu Galilei” (KOYRÉ, 1955).
	Segundo este campo racionalista precedido por ele, o que importa, antes da experimentação, é a teoria, a matemática. Acredita que já somos detentores do conhecimento e somos capazes de encontrá-lo nos moldes apresentados por Platão: em nossa essência suprasensível.
	À guisa de conclusão, Koyré pontua que tanto os contemporâneos de Galileu como o próprio diferenciavam o platonismo e o aristotelismo pelo uso do racionalismo ou do empirismo, respectivamente. E de acordo com as formulações que propusera e defendera, Galileu acreditava que o primeiro encerrava o segundo.
	O que fica mais evidente ao decorrer do capítulo é a influência da filosofia no desenvolvimento de teorias e como foi difícil para Galileu vencer o senso comum em um mundo comandado por uma visão aristotélica da física, pois ninguém estava habituado a pensar matematicamente. Além disso, gerou um extremo avanço ao quebrar o paradigma do empirismo para explicação da natureza e seus fenômenos. Uma questão que ainda fica é: a ciência moderna teria como base a empiria mesmo perdendo esses debates no inicio da era moderna? Outras fontes precisariam ser consultadas para explicações mais precisa: de fato, não é um debate encerrado.

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