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Conceito de discurso

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Análise do Discurso 
Licenciatura em Ciências da Linguagem 
Alexandra Guedes Pinto 
Professora Auxiliar da FLUP 
Membro do Conselho Científico do CLUP 
mapinto@letras.up.pt 
 
 
Material Pedagógico Aula 2 
 
Linguística do Sistema e Linguística do Uso 
 
“(…) a Linguística permanece dividida, em profundidade, entre duas tendências que 
se opõem e completam, uma tendência para a austeridade, outra para o fascínio. 
Talvez uma herança genética do «pai» Saussure, irremediavelmente dividido entre a 
realidade austera e patenteável das estruturas e o mistério fascinante e oculto dos 
anagramas… A imagem «pública» da Linguística, no entanto, preserva 
porfiadamente uma aparência ascética e austera, de que não quer abdicar. Tem-se 
verificado, até, no âmbito de certas escolas, um recrudescer da afirmação de um 
estatuto de «cientificidade» e «tecnicismo» para a Linguística que chega a levar esta 
disciplina a sentir-se mal enquadrada nas Faculdades de Letras e Ciências Humanas 
em que estão integradas a sua investigação e o seu ensino. Uma tal auréola de 
«dificuldade», por vezes de «esoterismo», afasta as outra Ciências Humanas, que 
vão tomando em relação à Linguística uma atitude de indiferença em que se 
misturam, em doses variáveis, respeito e antipatia. Atitude característica também de 
grande parte dos estudantes que frequentam cadeiras de Linguística, habitualmente 
pouco apreciadas e/ou consideradas «as mais difíceis».” (…) É tempo de chamar a 
atenção para quanto há de errado nesta atitude e de reconhecer, com Hagège, que 
«Les travaux de linguistique ne peuvent pas continuer à mener impertubablement la 
vie retirée qui est celle des écrits confidentiels, alors que le langage est au centre 
même de l’espèce humaine.» (Hagège, 1984: 10). Sendo a linguagem a condição e 
matriz de todas as actividades especificamente humanas, a Linguística está ligada a 
todas as outras Ciências Humanas pelos mais estreitos laços de família, não por 
meras relações de coabitação.” (Fernanda Irene Fonseca, Deixis, Tempo e Narração, 
1992). 
 
Linguística do Discurso 
mailto:mapinto@letras.up.pt
 
“A língua é, com certeza, um inventário de signos e de princípios que regem a sua 
organização e a sua actualização em discurso. Mas importa ver este complexo de 
recursos não em si mesmos, antes enquanto vivos na multiplicidade dos «jogos de 
linguagem» que os falantes realizam, neles e por eles (se) conhecendo e (se) dando a 
conhecer, neles e por eles se inscrevendo activamente na praxis social. Na verdade, a 
língua objectiva-se nesta pluralidade de «jogos de linguagem» que se projectam na 
multiplicidade dos discursos – cada um dos quais traz em si e consigo, no sempre 
inacabado diálogo com outros discursos / outros «jogos», o homem, a sua relação 
com outros homens e com o mundo. Nos discursos palpita, efectivamente, essa 
«forma de vida» de que se falou acima: neles se concretizam ou objectivam 
diferentes experiências e vivências do real, neles se perscrutam e actualizam ou 
presentificam «mundos possíveis», neles se pressupõem tanto quanto se criam e se 
transformam relações intersubjectivas, neles se contêm a representação e activação 
da interacção social, neles se avalia, recria e perpetua a identidade da comunidade.” 
(Joaquim Fonseca, Linguística e Texto / Discurso – Teoria, Descrição, Aplicação, 
1992). 
 
Conceito de Discurso 
 
Em Linguística, a noção de discurso entra numa série de oposições 
clássicas: 
 
Discurso vs Frase 
O discurso é uma unidade de análise linguística transfrástica, constituída, 
normalmente, por uma sucessão de frases (cf. Z.S. Harris, 1952, quando, 
pela primeira vez, fala em Análise do Discurso no domínio dos Estudos 
Linguísticos.) 
 
Discurso vs Língua 
Equivalente à oposição saussuriana de Língua / Fala. 
Relacionada com a oposição Chomskiana de Competência /Performance 
A língua definida como um sistema de valores virtuais, um sistema 
partilhado pelos membros de uma comunidade linguística que pode ser 
descrito enquanto entidade homogénea, invariável, através de um 
processo de abstração operado sobre a sua realidade material: os atos de 
fala. A língua como uma realidade social e psicológica contrariamente à 
realidade individual e material da fala. 
 
O discurso definido enquanto o uso da língua num contexto particular, a 
materialização, o lado individual, físico da língua. 
Para Émile Benveniste – ‘pai’ da Teoria da Enunciação – o discurso é: “la 
langue en tant qu’assumée par l’homme qui parle, et dans la condition 
d’intersubjectivité qui seule rend possible la communication linguistique.” 
(1966:266) 
 
“(…) é um fato simultaneamente original e fundamental o de estas formas 
«pronominais» não remeterem para a «realidade» nem para posições 
«objetivas» no espaço ou no tempo, mas para a enunciação, sempre 
única, que as contém, e refletirem, assim, a sua própria utilização. 
Mediremos a importância da sua função pela natureza do problema que 
estas formas ajudam a resolver, e que não é outro senão o da 
comunicação intersubjetiva. A linguagem resolveu este problema ao criar 
um conjunto de signos «vazios», não referenciais em relação à 
«realidade», sempre disponíveis, e que se tornam «plenos» desde que um 
locutor os assuma em cada instância do seu discurso(…) O seu papel é o 
de fornecerem o instrumento de uma conversão, a que podemos chamar 
a conversão da linguagem em discurso.(…) 
A linguagem instituiu um signo um signo único, mas móvel, eu, que pode 
ser assumido por cada locutor com a condição de apenas remeter para a 
instância do seu próprio discurso. Este signo está, pois, ligado ao exercício 
da linguagem e declara o locutor como locutor. É esta propriedade que 
funda o discurso individual, onde cada locutor assume por sua conta toda 
a linguagem. O hábito torna-nos facilmente insensíveis a esta diferença 
profunda entre a linguagem como sistema de signos e a linguagem 
assumida como exercício pelo indivíduo.” (Benveniste, O homem na 
linguagem, 1986) 
 
Discurso vs Texto 
O discurso é concebido como a integração de um texto no seu contexto. O 
texto é, por sua vez, um objeto abstrato, uma vez depurado da 
contextualização que faz dele discurso (Adam, 1989:25) 
 
Discurso vs Tipo de discurso 
Também assistimos a um deslize constante entre discurso no sentido de 
um determinado conjunto de textos com características prototípicas, 
sinónimo de género de discurso ou tipo de discurso e entre os enunciados 
concretos efetivamente produzidos dentro desse género ou tipo. 
Michel Foucault dá o nome de “formação discursiva” a este conjunto de 
características prototípicas que une conjuntos de textos concretos: “On 
appellera discours un ensemble d’énoncés en tant qu’ils relèvent de la 
meme formation discursive” (1969:153). 
Assim discurso tanto significa “um determinado dispositivo enunciativo e 
institucional associado a um espaço social de produção e circulação 
específico, que o determina, e a propriedades prototípicas que o 
identificam – género de texto/discurso”; como significa “os objectos 
materiais que se inscrevem dentro de uma determinada configuração 
discursiva.” (Pinto, 2008: 12) 
 
Bakhtin (2003: 279) definiu “género discursivo” como “tipos relativamente estáveis de 
enunciados elaborados nas diferentes esferas sociais de utilização da língua”. Devido à sua 
grande heterogeneidade, organizou esses tipos de enunciados em dois grupos: géneros 
discursivos primários, ou simples, e géneros discursivos secundários, ou complexos. 
Os géneros discursivos secundários – por exemplo, romance, palestra, tese científica, discurso 
político – ocorrem em situações comunicativas mais complexas e elaboradas e são 
normalmente escritos. Os géneros discursivos primários – como o bilhete, o diálogo, a 
mensagem de correio eletrónico, o aviso – correspondem a atos comunicativos diretos, 
imediatos, espontâneos e informais. Dentrode cada grupo, o número total de géneros 
discursivos é ilimitado podendo surgir continuamente novos géneros conforme vão surgindo 
novas atividades e novos grupos sociais que criam novos modos de comunicar. 
De acordo com Bakhtin (2003: 279) o género discursivo de um enunciado é caracterizado pelos 
seus “conteúdo temático, estilo e construção composicional”. 
Discurso vs Enunciado 
Duas formas de perspetivar as unidades de análise linguística 
transfrásticas. Normalmente estes conceitos estão separados por uma 
questão de dimensão – nem todos os discursos se compõem por uma 
sequência de unidades maiores do que a frase, mas normalmente o 
discurso é composto por uma sequência de enunciados. 
O conceito de enunciado é um conceito de unidade mínima de análise em 
Pragmática, correspondente ao conceito de ato ilocutório. Acima do ato 
ilocutório estão unidades compósitas (sequências de atos de fala de um 
mesmo falante ou de vários falantes em interação). 
 
Enquanto na Linguística do Sistema o objeto de análise tem, no máximo, a dimensão da frase, 
podendo descer até ao fonema, é o enunciado – cuja dimensão pode ir da palavra isolada até 
ao texto e ao discurso – o objeto de análise mínimo na AD.1 
O enunciado tem uma natureza eminentemente social e comunicativa. O enunciado é 
proferido por um enunciador, dirigido a um enunciatário, que, quando compreende o que o 
enunciador quis dizer, e com que intenção, lhe devolve um enunciado-resposta. 
Um texto longo, uma única palavra, ou apenas uma expressão, podem constituir enunciados 
desde que, quando proferidos, pressuponham um ato comunicativo, num dado instante e num 
dado local. Por exemplo, (2) como resposta a (1) ou (4) como resposta a (3): 
(1) “Vou tirar mais uma fatia de bolo…” 
(2) “Força!” 
(3) “Chumbei no exame de condução.” 
(4) “Oh!” 
 
1
 Na génese da abertura da Linguística a unidades de análise superiores e ao tratamento do texto 
e do discurso, encontraram-se linguistas precursores, como é o caso de Halliday (1976), que contestou 
desde cedo o fechamento da Linguística ao tratamento do texto, de que é prova o seu trabalho clássico 
Cohesion in English. 
 
 
Falar de discurso em Linguística pressupõe: 
 
- O discurso possui uma organização transfrástica. Cada discurso é uma 
unidade complexa que apenas se deixa explicar por regras de organização 
textual e contextual, relativas ao tipo de discurso onde se integra e a 
outros planos da situação de comunicação que o condiciona; 
 
- O discurso é orientado: todo o discurso é argumentativo, transporta uma 
visão do seu locutor e é construído para agir sobre o alocutário; o discurso 
é uma forma de ação, ou seja, toda a enunciação constitui um ato que visa 
modificar a situação de produção; 
 
- O discurso é subjetivo: todo o discurso transporta, em maior ou menor 
grau, marcas de modalização do seu locutor; 
 
- O discurso é interativo: a manifestação mais natural da interatividade do 
discurso é a conversação, onde os interlocutores coordenam a 
comunicação em conjunto. No entanto, mesmo os discursos escritos e 
monologais são constitutivamente interativos, na medida em que existe 
sempre um “diálogo”, explícito ou implícito com outros locutores virtuais 
ou reais. Toda a enunciação pressupõe a presença de um Outro a quem o 
enunciador se dirige e por referência a quem constrói o seu discurso. O 
alocutário está presente no discurso do locutor, na medida em que este 
antecipa uma imagem daquele antes de construir o seu discurso. 
 
- O discurso é contextualizado: não existe discurso senão em contexto. O 
sentido do discurso é construído em contexto, não pré-existe. O discurso é 
influenciado pelo seu contexto de produção, mas também contribui para o 
definir e pode, inclusivamente, modificá-lo no decurso da enunciação; 
- O discurso é regido por normas: todo o discurso é regido por normas de 
natureza linguística e de natureza social; 
- Todo o discurso é um interdiscurso: todo o discurso estabelece um 
diálogo real ou virtual com outros discursos já produzidos e apenas ganha 
sentido pleno dentro desse universo de outros discursos face aos quais ele 
se posiciona.

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