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Sara Carlos Farias PNE Atendimento odontológico de pacientes com alterações renais Para entender as implicações nas consultas odontológicas, precisamos relembrar as funções básicas do rim. Rim - função: ✓ Excreção; ✓ Equilíbrio acidobásico e eletrolítico; ✓ Regular volumes de fluidos; ✓ Produção de hormônios: renina, eritropoetina, prostaglandinas. Órgão responsável pela excreção da maioria das substancias do nosso organismo (eliminando tanto medicações e todos os excessos), além de regular o excesso de fluidos (através da urina) e tem relação com o equilíbrio acidobásico do sangue, também é responsável pela regulação eletrolítica (metabolismo do fosforo – importante na regulação do metabolismo ósseo), e por fim, é importante na produção dos hormônios. Quando ele tem problema no rim, ele consegue fazer todas as funções através da hemodiálise, com exceção da produção de hormônios. E, por isso, precisa adquirir esses hormônios através de uma reposição exógena. Mas outros não é possível, portanto, ele continua com deficiência em alguns. E é isso que levara a alterações em nosso atendimento. Hormônios: Um dos hormônios produzidos é a eritropoietina, que está relacionada a produção de hemácias de forma direta. O que acontece? De maneira fisiológica – em pacientes sem alterações renais – quando existe uma diminuição da taxa de oxigênio no sangue, é enviada uma mensagem para o rim, sinalizando que ele necessita produzir mais hormônios para aumentar a produção de hemácias. Então, o rim começa a produzir eritropoetina, que será eliminada na corrente sanguínea, e irá agir nos receptores de EPO, que estão localizados em células progenitoras de hemácias, no interior da medula óssea. Então, essas células progenitoras dão início a um processo de diferenciação e produção de novas hemácias na corrente sanguínea, aumentando assim a oxigenação do sangue. Pois as hemácias tem como função principal o transporte de oxigênio. Por isso, em pacientes com alterações renais, vai existir uma deficiência na produção de eritropoetina. Então, normalmente, esses pacientes fazem a reposição através de fármacos. Mas, muitas vezes, ainda assim, apresentam algum grau de anemia. Outra importante função do rim é agir no metabolismo da vitamina D: É produzida, em forma inativa, pelo fígado (25 hidroxicolecalciferol). E precisa ser transformado em sua forma ativa (1,25 hidroxicolecalciferol), e isso é feito pelo rim. Sara Carlos Farias PNE E em sua forma ativa, tem como alvo o intestino, promovendo o aumento da absorção de cálcio, que será depositado nos ossos. (Pacientes com osteoporose costumam utilizar VIT D por isso – aumentar a intensidade absorção de cálcio pelos ossos). Então, em pacientes com alterações renais, é esperado que exista uma deficiência de VIT D, e como consequência, diminuição da absorção de cálcio e sua deposição nos ossos. Sendo, portanto, comum hipocalemia. (isso mesmo que se faça a administração exógena – medicação) Renina: Faz parte do sistema de regulação da pressão arterial (sistema renina angiotensina aldosterona), que é um composto por uma serie de hormônios que agem para isso. A renina, que é o hormônio secretado pelo rim, age transformando angiotensinogênio em angiotensina 1; e a enzima conversora de angiotensina vai transforma-la em angiotensina 2. A angiotensina 2 tem como função aumentar a vasoconstricção, e com isso, aumentando a pressão arterial. Além disso, promove o aumento da secreção de aldosterona, que por sua vez, vai promover o aumento da absorção de sódio e água pelos rins, aumentando ainda mais a PA. Então, em pacientes com alterações renais, é comum hipertensão. Doenças inerentes: anemia, deficiência no metabolismo de cálcio e hipertensão. Metabolismo e excreção dos fármacos: Metabolizados no fígado e excreção pelos rins. Então, se eu alteração de excreção, é necessário maior cautela em relação a prescrição de fármacos. Em pacientes com insuficiência renal crônica e que não fazem dialise, normalmente, tem uma meia vida de fármaco maior, já que não será eliminado de forma correta. Então, dependendo do nível da insuficiência, haverá necessidade de ajuste na dose, para que não tenha um efeito maior do que o necessário. Por outro lado, em pacientes que fazem dialise, esse tempo de meia-vida é menor, pois, a partir do momento que eles entram em tratamento, todo o medicamento que se encontra na corrente sanguínea será eliminada por completo. Insuficiência renal: É caracterizada pelo declínio do número de néfrons, e normalmente é assintomático ou oligossintomáticos. Normalmente o paciente já tem declínio do número de néfrons e não tem sintomatologia que possa ser relata e tenha ligação a insuficiência renal. Então, quando o pct manifesta sintomas, essa IR já se encontra em um quadro avançado. É importante sabermos que esse declínio de número de néfrons (onde ocorre a filtragem do sangue) é irreversível e progressivo. Principais causas da insuficiência renal: hipertensão, diabetes, pielonefrite ou glomerulonefrite ou cistos, e uso abusivo de fármacos. Sara Carlos Farias PNE É considerado IR quando os níveis laboratoriais estão ente 50-75% alterados, o número de néfrons já caiu significativamente. Pct já apresenta sintomas: aumento da urina, diminuição da urina, edemas em membros. Exames hematológicos que conseguem medir essa IR: taxa de filtração glomerular. (IR = a partir de 90 ml/min) Sinais e sintomas: edemas (excesso de líquidos no corpo), dor de cabeça e náuseas/vômitos (acúmulo de substancias tóxicas), fraqueza, oligúria e poliúria. Devido aos sintomas serem bastante inespecíficos, acaba que os diagnósticos costumam ser tardios. E ao ser diagnosticado, normalmente, vão direto para dialise. Exames que são utilizados para avaliar a função renal: Ureia e Creatinina: aumento de ambas, pois geralmente são eliminadas pelos rins Clearance da Creatinina: avalia a quantidade de creatinina que consegue ser filtrada pelos rins, passando um panorama de como estar ocorrendo essa filtração. Taxa de filtração glomerular Hemograma: os pacientes muitas vezes apresentam anemia. Anemia: A anemia relacionada a IR, geralmente, é uma anemia normocítica e normocrômica. Ou seja, existe uma diminuição da quantidade total do número de hemácias. Entretanto, a quantidade de hemoglobina está sendo produzida de forma normal (normocrômica) e o tamanho da célula também continua normal (normocítica). Outros parâmetros a serem considerados durante o atendimento odontológico: ✓ Risco hemorrágico aumentado: Devido, principalmente, ao uso da heparina, que é utilizada durante procedimento de diálise. Entretanto, a meia vida da heparina é curta. Então, após 6 horas da sua utilização, não existe mais risco hemorrágico real. Então, pacientes com IR devem realizar procedimentos odontológicos em dias alternados da diálise, porque já não vai ter mais heparina na corrente sanguínea. Além disso, esses pct apresentam deficiência de fator III da coagulação, provocando aumento do tempo de sangramento. Entretanto, na prática, essa relação não é muito observada. ✓ Alteração de leucócitos: Essa alteração pode ser tanto qualitativa, quanto quantitativa. Qualitativa: no hemograma observamos valores normais de leucócitos. Entretanto, existe uma diminuição da quimiotaxia, fagocitose e da Sara Carlos Farias PNE capacidade de degranulação dessas células. Ou seja, sua função estar alterada. Quantitativa: diminuição real do número de leucócitos, devido ao acumulo de toxinas urêmicas, que vai acontecer devido o acumulo de toxinas urêmicas, devido a diminuição da filtração dos rins. Então, essas toxinas podem agir diretamente sob os leucócitos, fazendo com que o paciente tenha uma leucopenia real. Nos casos de alterações quantitativas, ao avaliar o hemograma, dependendo dograu de leucopenia, eu posso precisar prescrever profilaxia ou cobertura antibiótica. E nos casos de alterações qualitativas, caso o paciente apresente infecção também é interessante o uso de AB, já que a função destas células se encontram comprometidas. Ou seja, sempre avaliar a necessidade de profilaxia ou cobertura antibiótica. ✓ Hipertensão: Avaliar durante a anamnese, exame físico e durante todas as consultas devemos aferir PA. Risco de contaminação por doenças infecciosas virais (Hepatite e HIV): Devido passarem muitas vezes por procedimentos hemodiálise, existe a possibilidade de se contaminarem com doenças virais que são transmitidas através do sangue. Porém, esse risco tem diminuído bastante. Por isso tudo, é importante avaliar o estado geral do paciente, pois eles tendem a apresentar diversas comorbidade. Lembrando: Doenças inerentes – anemia, deficiência no metabolismo de cálcio e hipertensão. Hemodiálise: Como funciona? Tem o intuito de tentar reproduzir o funcionamento do rim – tentativa artificial de fazer a função do rim. O sangue vai passar por uma maquina onde vai haver a remoção de impurezas e excesso de líquidos. Depois disso, o sangue retornará para a corrente sanguínea do paciente (depurado) Geralmente esse procedimento é realizado 3 vezes na semana, passando, em média 4 horas na maquina para que todo seu sangue tenha a possibilidade de circular. Durante o processo, é utilizado heparina para que o sangue não coagule dentro da máquina. Atenção: somente 15% da função renal é substituída por esse processo. Além disso, é importante que o pct faça a suplementação com hormônios que não são liberados pela máquina, como calcitrol e eritropoetina. ✓ Fístulas arteriovenosas: É feito um procedimento cirúrgico onde existe uma ligação de artéria + veia – shant arteriovenoso, para que seja formado um vaso mais calibroso, deixando o fluxo mais espesso, e onde será ligado os cateteres da hemodiálise. Após o procedimento cirúrgico é necessário aguardar um período de maturação, onde após 4 a 6 semanas, já poderá ser utilizado. Sara Carlos Farias PNE Em uma região mais superior passa o sangue filtrado e em uma mais inferior passa o sangue não filtrado, que ainda irá passar pela máquina. Importante: não aferir PA no braço da fístula, pois a mesma NUNCA deve ser comprimida. Se o pct tiver várias fistulas (pois elas podem perder o efeito), perguntar qual fistula estar sendo utilizada no momento (ativa). Muitas vezes fazemos profilaxia AB para evitar que tenha uma contaminação de bactérias da cavidade oral na região da fístula – O paciente tem uma quantidade limitada de fistulas que podem ser confeccionadas. Doenças orais relacionadas a IR: Gengivite e Periodontite: apresentam algum grau de inflamação gengival; presença de cálculo dental, devido aos altos níveis de fosfato e ureia na saliva; predas dentária mais prevalentes. Hiperplasia gengival: na maioria das vezes acontecem devido o uso de algumas drogas – ciclosporina (imunossupressora – transplante renal) e nifedipina (PA). Xerostomia: relacionada a restrição de ingestão de fluídos, e ao efeito colateral de algumas medicações. Além disso, também existe o risco aumentado à candidíase. Atenção: autores defendem que esses pcts não apresentam risco à cárie aumentado, pois o pct tem PH da saliva mais baixo, devido ao excesso de íons (principalmente do fosfato), e do efeito antibacteriano da ureia (que encontra-se em excesso). Candidíase: geralmente, tem um acometimento mais generalizado e ocorre devido ao uso de imunossupressores e a xerostomia e hiposalivação. Tende a ser encontrada nas seguintes formas: queilite angular, candidíase pseudomembranosa e candidíase eritematosa. Odor urêmico e gosto metálico: devido ao acumulo de toxinas urêmicas e ao excesso de uria Anormalidades dentárias: Geralmente ocorre em pcts que desenvolvem IR durante a infância, quando ainda estar ocorrendo a formação dos dentes. Podendo ocorrer atraso na erupção dentária, podendo estar relacionado a alteração no metabolismo ósseo (principalmente) ou a hiperplasia gengival. Em pcts que tem IRC durante a infância é comum encontrar alteração na formação do esmalte – hipoplasia de esmalte –, devido alterações na produção de ameloblastos e a calcificação dos dentes (deficiência na concentração de cálcio). Calcificação pulpar: relacionado a alteração no metabolismo de cálcio e fosfato. Em pcts que não irão realizar tratamento endodôntico, não traz nenhuma complicação. Sara Carlos Farias PNE Alterações em ossos gnáticos (tumor marrom e Osteodistrofia): Tumor marrom: é uma alteração que acontece devido a reabsorção no interior do tecido ósseo, acarretada pela alteração no metabolismo de vitamina D. Pct com IR, tem uma baixa de vitamina D, para que aconteça, então, uma tentativa do organismo de eliminar essa baixa de VIT D, há, então, um aumento do paratormônio. VIT D baixa, implica em baixa absorção de cálcio. E devido a isso, existe um envio de mensagem para as glândulas paratireoides para que elas comecem a aumentar a produção de paratormônio. Função do paratormônio: quando aumentado, gera uma reabsorção de cálcio, fazendo com que exista um aumento da liberação de cálcio – tentativa do organismo de tentar conter essa baixa de cálcio. Ou seja, ele remove cálcio dos ossos, fazendo com que haja formação de áreas osteolíticas. E no local, vai haver o acumulo de células gigantes, que promovem a remoção desse osso, formando uma matriz de células conjuntivas, associada a fibroblastos. Características clinicas: expansão óssea; indolor; afastamento de dentes Características radiográficas: áreas radiolúcidas (uni ou multiloculares); perda da lâmina dura dos dentes; aparência de vidro fosco. Exames importantes para o diagnóstico: PTH aumentado; Calcio diminuído, fosfatase alcalina aumentada; fosforo diminuído. Biópsia óssea (padrão ouro do diagnóstico): encontramos células gigantes multinucleadas, em meio a deposição de um tecido fibroso, no meio da região de osso. Semelhante à lesão central de células gigantes, então, preciso fornecer ao patologista o quadro clínico e os exames hematológicos. É uma lesão autolimitante. Quando eu tenho uma regulação dos níveis plasmáticos, a lesão para de crescer ou até mesmo involui. Essa lesão estar muito associada aos níveis de PTH, então, preciso buscar sua regulação. Podendo ser através de medicamentos e, caso não consiga, realizar paratireoidectomia. E após o período de estabilização dos hormônios, realizar uma plastia pós- estabilização. Osteodistrofia renal: relacionada de maneira direta com a diminuição da densidade do trabeculado ósseo, tornando-se mais espaçadas. Aspecto radiográfico de vidro despolido, perda da lâmina dura e áreas de reabsorção osteoclástica. Normalmente, essa condição, vem desde um quadro anterior a alteração do PTH. É mais fácil de ser encontrada em pcts que não apresentam IR avançada. Sara Carlos Farias PNE É caracterizada por um padrão diferente de deposição de tecido ósseo e organização. Podendo ser encontrada nas seguintes formas: Osteomalácia: reabsorção do tecido ósseo, deposição da mátria não mineralizada. Então, vou encontrar uma grande quantidade de áreas radiolúcidas. Osteite fibrosa: encontro lesões líticas, algumas áreas de matriz não mineralizada e algumas áreas de fibrose. Osteoesclerose: encontro áreas mais densas, mais escleróticas no osso. Não relacionadas diretamente ao aumento da deposição de cálcio, mas sim a alteração no padrão de intensidade dessa deposição. Podendo ter características radiográficas radiopacas, mistas ou radiolucida. Atenção: essas doenças podem ocorrem em conjunto. Alterações em cavidade oral – Estomatite urêmica: É uma alteração rara, mas que pode acometer pcts com IR, devido ao alto nível de ureia no sangue. Ou seja,essa alta concentração irá alterar a flora salivar, aumentando a amônia livre, causando uma lesão esbranquiçada, não removível a raspagem e que se encontra em língua. Atendimento odontológico: Primeira consulta: Anamnese + Exames = avaliar o estado geral do paciente ✓ Avaliar: Doenças associadas Previsão de transplante renal Medicações em uso Dias de diálise PA Exames hematológicos que devemos solicitar: hemograma, TAP, TTPa, TS, Ureia e Creatinina *Clearance de creatinina, taxa de filtração glomerular, proteinúria = avaliação dos rins/dano renal. Se o pct tiver anemia, podemos realizar procedimentos invasivos, sem maiores preocupações, se o hematócrito estiver entre 28 – 30%. Caso esteja inferior, solicitar avaliação médica, para ver se tem como aumentar a quantidade de eritropoietina e, então, melhor a condição hematológica. Mas, procedimentos mais simples podemos fazer. TS = desuso – hemostáticos locais. Plaquetomeria, TP e TTP normalmente não estão alterados. Mas o parâmetro que usamos para esses pct é INR até 3 (normal) Leucopenia: risco aumentado a infecção, avaliar necessidade de uso AB. Atender os pcts em dias alternados à diálise. E se necessário, no dia, conversar com o médico para não heparinizar Sara Carlos Farias PNE Parâmetro de PA: PA até 160x100 podemos realizar procedimentos invasivos sem maiores problemas. Pode-se utilizar anestésico com vasoconstrictor, pode utilizar adrenalina Avaliar se a medicação estar correta, se tem ingerido muito sódio, se é constante essa descompensação arterial Se necessário, encaminhar ao médico. Prescrição medicamentosa: evitar drogas nefrotóxicas, e atentar ao intervalo de dose (aumentando, se: C.C < 50) Profilaxia AB: Raspagem subgengival, exodontias, implantes, uso de grampos para isolamento que façam retração – uso AB Raspagem supragengival, exodontia de decíduo hígido e restaurações – não uso AB Cobertura antibiótica: Pct que fizeram transplantes (imunossuprimidos crônicos) Infecções graves Leucopenicos Paciente pré-transplante renal: Remover focos infecciosos previamente Avaliar se existe algum dente causando trauma Terceiros molares semi-inclusos, pois o paciente passará por um período de imunossupressão severa, e por isso, tendem a desenvolver quadro de pericoronarite severa. Sempre que um paciente vai fazer transplante – precisamos pedir exame radiográfico e sempre resolver tudo que precise! Ao final, devemos remeter uma carta de liberação (descrever tudo que aconteceu e informar que, NESSE MOMENTO, poderá ser realizado o procedimento – dar prazo de até quando poderá ser realizado segundo aval odontológico). Pacientes pós-transplantados: Avaliar a condição dele segundo parâmetros de imunossupressão. Primeiros 6 meses: não intervir – urgências devemos realizar em ambiente hospitalar Após 6 meses: avaliação junto à equipe médica e possível realizar procedimentos de rotina Lembrar: pcts que apresentam risco de infecção aumentado – avaliar uso de AB
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