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Sara Carlos Farias PNE Tratamento odontológico a pacientes gestantes Fisiologia da gestação: ✓ Alterações fisiológica sistêmicas que podem modificar a conduta de atendimento: Alteração Endócrina: ✓ Alteração de produção hormonal: Aumento de produção de estrógeno e progesterona, que objetivam fazer com que a placenta fique viável e permita que aquele embrião consiga se implantar e se desenvolver. Além disso, a própria placenta produz hormônios e esses hormônios podem acarretar complicações sistêmicas (ex: aumento da resistência periférica à insulina – diabetes gestacional) Além disso, os hormônios produzido por todas as outras glândulas endócrinas apresentam-se em maior proporção, para que esse hormônio chegue até o feto. Esse aumento hormonal também estar relacionado ao aumento de proliferação de alguns tipos celulares. Alterações cardiovasculares: Adaptação fisiológica da quantidade de sangue circulante que existe no organismo (+40%) – para suprir as necessidades do feto que estar em desenvolvimento (nutrientes e oxigênio). E para que o coração consiga bombear um volume maior de sangue também acontece um aumento do débito cardíaco, em torno de 30- 40%. Alterações Hematológicas: ✓ Anemias: Aumento do volume de sangue – aumento quantitativo de hemácias em torno de 15-20%. Portanto, podemos perceber, que o aumento do número de células não é proporcional ao aumento do volume de sangue. Sendo esperado, então, que essas gestantes apresentem anemia dilucional, onde é caracterizado por uma menor quantidade de hemácias para o volume sanguíneo total. Além disso, elas também apresentam, de maneira frequente, anemia ferropriva, pois a demanda por ferro no organismo aumenta significativamente. Por isso, normalmente, os médicos prescrevem ferro para ser utilizado em todo o período gestacional. ✓ Hipercoagulação e risco hemorrágico: Existe ainda, um aumento nos fatores de coagulação (estado hipercoagulável), sendo comum quadros de tromboses ou o uso de medicações para evitar isso. Portanto, precisamos ter mais atenção em relação a isso, já que algumas medicações elevam o risco hemorrágico. Sara Carlos Farias PNE ✓ Aumento de leucócitos: Também estar presente alteração de leucócitos, principalmente no 2º trimestre (processo fisiológico). Existe uma alteração na resposta imunológica, passando a ser mais Th2 do que Th1. Então, mesmo que tenham aumento de leucócitos, elas são mais susceptíveis a processo infecciosos. Por isso, elas devem evitar situações de infecção durante a gestação. Alterações Respiratórias: Compressão do diafragma, devido ao crescimento do útero, principalmente no 3º trimestre de gravidez. Isso aumenta a frequência respiratória, pois como ela não consegue encher o pulmão por completo precisa aumentar o número de vezes que respira, para assim, conseguir suprir a demanda de oxigênio. Além disso, desde o inicio da gestação existe um aumento do metabolismo basal, devido as necessidades do feto no desenvolvimento embrionário. O que leva a um aumento da frequência respiratória também Alteração cardiovascular: ✓ Taquicardia: Mesmo que aconteça um aumento de debito cardíaco de maneira fisiológica (o volume de sangue é aumentado e, por isso o coração precisa trabalhar mais para bombear todo esse sangue), existe uma baixa na resistência periférica. Então, aquela musculação periférica estar mais relaxada, fazendo com que tenha uma variação de como a pressão se comporta no decorrer dos trimestres. Portanto, é normal que nos primeiros trimestres ocorra uma baixa de PA (desmaios, queda de pressão súbita). Além disso, nos últimos trimestres (sobretudo no ultimo), é esperado um leve aumento de PA. Entretanto, uma PA elevada precisa de acompanhamento médico. Síndrome da hipotensão supina: Relacionada a uma súbita perda de consciência/desmaio, quando ela passa muito tempo em posição supina (posição clássica do atendimento odontológico). Isso ocorre, pois quando o bebê estar maior e se a gestante é colocada nessa posição, ocorre uma compressão da veia cava inferior e da aorta, fazendo com que aconteça uma diminuição do suprimento sanguíneo. Ocorre muito mais no 3º trimestre de gestação, quando o bebê já tem um tamanho aumentado. Como evitar? Evitar consultas prolongadas durante a gestação (principalmente no 3º trimestre); realizar movimentos frequentes de um lado para o outro, evitando que ela fique comprimindo; pedir que ela fique mais virada para o lado esquerdo. Alteração renal: Espera-se um aumento na excreção em torno de 30 a 50%. Por isso, mulheres grávidas vão ao banheiro excessivamente. Principalmente ao ir chegando no 3º trimestre gestacional, pois o bebê acaba comprimindo a bexiga e a capacidade de retenção urinária e armazenamento da bexiga se torna menor. Sara Carlos Farias PNE Além disso, devido ao aumento de excreção, ocorre uma eliminação de medicamentos de maneira mais rápida. Mas, normalmente, isso não altera a prescrição. Alterações alimentares: Devido ao aumento da demanda metabólica, existe o aumento da fome, aumento da necessidade de ingesta, aumento calórico. E, por questão cultural, as gestantes acabam ingerindo mais alimentos açucarados (vontades). O que pode influenciar no risco a carie. Além disso, é comum que existam processo de náuseas e vômitos, principalmente nos primeiros meses. Mas existem mulheres que passam por um processo de hiperêmese gravídica, fazendo com que ocorra um quadro de vômitos durante todo o período gestacional, podendo implicar na presença de erosões nos dentes. Complicações sistêmicas: ✓ Diabetes gestacional: Alteração sistêmica que pode ser acarretada pelo aumento da resistência periférica a insulina, e o pâncreas não consegue produzir insulina em quantidade suficiente para suprir essa demanda, e com isso, a gestante entra em processo diabético. Devemos nos atentar as mesmas complicações que existem no diabetes comum. Alto risco infeccioso – ainda maior, pois já existe um risco aumentado no processo gestacional. ✓ Hipertensão: É esperado que a PA esteja diminuída durante todo o período da gestação. E quando temos uma elevação na PA, a paciente corre o risco de desenvolver um quadro de pré-eclampsia. Pré-eclampsia: alteração que causa risco de morte a gestante e ao feto. Sinais clínicos: hipertensão, proteinúria, edema e visão turva. PA = 14 x 90: essa paciente precisa de atendimento médico com urgência e deve-se parar o atendimento odontológico. Precisa ser barrada nesta fase, pois se ela evoluir a um episódio de eclampsia a gestante pode entrar em convulsão, risco de morte do feto e coma. Trimestres gestacionais: ✓ 1º trimestre – período inicial: O feto estar em pleno desenvolvimento, formação das principais estruturas e órgãos. A gestante apresenta muita fadiga e náuseas. Evitar atendimento odontológico. ✓ 2º trimestre: A gestante apresenta poucos sintomas. Normalmente, o feto apresenta a maioria dos seus órgãos e estruturas formados. Sara Carlos Farias PNE Devemos preconizar atendimento odontológico nesse período. ✓ 3º trimestre: O feto já cresceu muito, ocorre desconforto respiratório e a gestante volta a sentir fadiga. Evitar atendimento odontológico. Observação: Entretanto, em situações de infecção importante ou dor intensa, esses atendimentos devem ser realizados independente do trimestre gestacional. Alterações patológicas orais: ✓ Doença periodontal: Existem receptores de estrógeno localizados na gengiva, e devido a maior produção de estrógeno no período gestacional, pode favorecer a formação de hiperplasia gengivais. Risco aumentado a DP, gengiva mais sangrante, maior possibilidade de vascularização em região gengival. Por isso, devemos ter uma escovação mais intensa, evitar o acumulo de biofilme. Pois temos uma resposta mais intensa a esse acumulo de biofilme.✓ Granuloma piogênico: Em alguns casos posso vir a ter desenvolvimento de GP com uma maior quantidade de vasos sanguíneos. “Granuloma piogênico regride após gestação, não necessitando de intervenção” – mito Em grande parte dos casos, essa lesão não regride e é necessário intervenção cirúrgica no período pós-parto. O tratamento (excisão cirúrgica) é recomendado ainda na gravidez, pois trata-se de uma proliferação que gera sangramento frequente (em pacientes que já tem anemia fisiológica), intensificando. Além disso, favorece o acumulo de biofilme, pois existe uma dificuldade de higienização. E a presença de processos infecciosos não é NADA interessante para gestantes. Granuloma gravídico – granuloma piogênico que ocorre na gestação: Ocorre devido ao aumento na produção de estogeno e progesterona, ocorrendo uma alteração da resposta gengival. Além disso, a microbiota que se acumula na região é mais agressiva. ✓ Erosão: Devido episódios frequentes de vômitos. Planejando atendimento odontológico: Avaliação geral História médica: atentar as medicações que a gestante faz uso História gestacional: histórico de elevação de PA, descolamento de placenta, necessidade de repouso em algum momento, índices glicêmicos, idade gestacional. Sara Carlos Farias PNE ✓ Tratamento odontológico x feto: Os principais efeitos que o atendimento pode trazer ao feto estar relacionado ao: estresse, uso de radiação e as drogas que podem vir a ser prescritas. Prevenção – prevenir a necessidade de procedimentos: Técnicas de higiene: Orientar sobre a alimentação – o paladar do feto é formado durante o período gestacional e fonte de nutrição do feto “Como ocorrem vários episódios de vômitos, deve-se escovar frequentemente os dentes” – incógnita?? Uso do flúor: Indicado de forma tópica a depender do risco de cárie da gestante. Suplementação de flúor de forma oral não é indicado. Perdas dentárias: “Cada gestação, menos 1 dente” – mito Não existe nenhuma aceleração do processo carioso ou da microbiota. O que acontece é uma alteração da ingestão de alimentos e deficiência da higienização. Alteração da resposta imune, podendo agudizar processos crônicos. Cálcio: “O bebê tira o cálcio do dente da mãe” – mito O cálcio utilizado para o desenvolvimento do feto e dos ossos do bebê em desenvolvimento é removido da reabsorção realizada no intestino e mediada por vit D (removido da alimentação). Se não for suficiente, a ação do PTH (liberado pelas glândulas paratireoides), promovendo a reabsorção de cálcio dos ossos. O cálcio que existe no dente não é mobilizado. Então, mesmo havendo necessidade de cálcio para o feto em desenvolviemento, não tem como ser removido do dente. Anestesia: “Grávidas não podem tomar anestesia” – mito Para as gestantes é muito pior que fiquem sentindo dor, pois liberam vários mediadores que podem afetar o desenvolvimento do feto. E a dor pode também impossibilitar a alimentação. Os fármacos, em sua grande maioria, têm a capacidade de cruzar a barreira placentária. Entretanto, o feto é capaz de metabolizar grande parte deles. Classificação FDA – categoriza as medicações em letras (de A – Z) Utilizar, de maneira preferencial, a Lidocaína. Prilocaína aqui no Brasil vem junto a filepressina – evitar o uso Benzocaína (anestésico tópico) é bom evitar também. Sara Carlos Farias PNE ✓ Contraindicação de anestésicos: Risco de metaemoglobinemia: Prilocaína e Articaína – podem se ligar a hemoglobina de maneira irreversível, dificultando o transporte de oxigênio ao feto. Contrações uterinas: Felipressina (análogo ocitocina – promove as contrações uterinas) – vasoconstrictor utilizado em associação com a prilocaína e intensifica as contrações uterinas. Hepatotoxicidade e Cardiotoxicidade: Bupivacaína (longa duração) e Mepivacaína (evitada em gestantes e lactantes) – dificuldade de metabolização pelo feto. Risco de teratogênese: Na maioria das vezes, não existe associação com o atendimento odontológico. Analgésicos e anti-inflamatórios: Paracetamol (preferencialmente); Dipirona (evitar!) Analgésico de ação central – codeína e tramadol (evitar!) Antiinflamatórios não-esteroidais são CONTRAINDICADOS durante a gestação. Então, diante a necessidade de prescrever antiinflamatorios, optamos por corticoides (pouco tempo). Preferencialmente utilizar Prednisona. Observação: devemos avaliar o risco benefício. Se compensar, podemos prescrever. Antibióticos: Penicilinas. Clindamicina – evitar no 1º trimestre Metronidazol – evitar no 1º trimestre Tetraciclina – é contraindicado, pois gera manchamento nos dentes. Mas é um medicamento que não utilizamos muito em Odontologia, pois não tem um espectro de ação bom para os MO de cavidade oral. Amamentação e atendimento odontológico: A grande maioria das medicações são transferidas pelo leite. Mas, normalmente, as medicações que são seguras para a gestação, também são nesse período. Mas para tentar minimizar a presença dessas substancias no leite, o ideal é que a gente faça um intervalo de 4 horas entre a tomada da medicação e a amamentação. Radiografias: “Grávidas não pode fazer radiografia” – mito Risco mínimo – Não existe a possibilidade da radiação chegar até a barriga, pois são áreas muito distantes, mas precisamos tomar os cuidados necessários (de sempre) Sara Carlos Farias PNE A radiosenssibilidade do feto é maior da 2ª a 8ª semana de vida intrauterina, e, geralmente, nesse período a mulher nem sabe que estar grávida. A teratogênese é dose-dependente. E a dose de radiação utilizada em odontologia é mínima. A radiação ambiental diária ao qual estamos expostos é 700x maior. Porém, em casos de dentistas/auxiliares gestantes, precisa-se de um cuidado maior. Pois a exposição é constante. Infecções dentárias: “Infecções dentárias podem acarretar nascimento de bebês de baixo peso” – verdade!! Atenção: processos infecciosos sempre devem ser removidos! ✓ Periodontite: Gestantes com a doença mais avançada tem mais chances de parto prematuro, pré-eclampsia e bebês de baixo peso. Porém, essa microbiota não é transmissível ao bebê. Mas pode migrar ao útero, alterando o ambiente uterino e gerando partos prematuros. Será? “Gestantes só podem fazer intervenção odontológica no 2º trimestre” – mito É o período mais propício. Entretanto, presença de infecção e urgências devem ser realizadas sempre.
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