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A RESENHA ANARQUISTAS GRAÇAS A DEUS

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ANARQUISTAS GRAÇAS A DEUS – ZÉLIA GATTAI 
(Resenha por: Pedro a DuArte - https://medium.com/pedro-a-duarte/resenha-do-livro-anarquistas-gra%C3%A7as-a-deus-1af11217a440 )
Publicado em 1979, Anarquistas, graças a Deus é o livro de estreia de Zélia Gattai (1916–2008) e também seu primeiro grande sucesso. Nele, a autora irá contar as memórias de sua infância e adolescência na cidade de São Paulo, no início do Século XX.
Esta história poderia ser a de muitos outros brasileiros, já que além de versar sobre sua infância, Zélia conta a trajetória da primeira leva de italianos que chegaram ao Brasil no final do Século XIX. A família de Angelina Da Col, mãe da autora, veio para trabalhar nas lavouras de café em São Paulo, enquanto a família do pai, Ernesto Gattai, veio para o país com o intuito de fundar a Colônia Cecília, uma tentativa de se criar uma comunidade anarquista. Assim, Zélia cresce envolta tanto pelos ideais anarquistas de seu pai, como também de grandes obras da literatura mundial, lidas avidamente por sua mãe.
As histórias de infância vão tomando forma: Zélia as narra tanto na voz da mulher adulta que escreve estas memórias, como na visão de seu “eu” - infantil: uma criança que morava em um casarão na Alameda Santos, descrita pela autora como a “vizinha pobre” da Avenida Paulista. Assim, temos como pano de fundo a história da cidade de São Paulo e as mudanças que foram acontecendo ao longo de 1910 a 1930. Os hábitos e costumes da comunidade italiana brasileira são postos em cena através de uma prosa leve e bem-humorada (humor que, logo de cara, é indicado pela contradição presente no título).
A organização em capítulos breves deixa o leitor à vontade e estimula a nossa curiosidade pelo que está sendo contado: são como que pequenas crônicas do cotidiano que traçam não só a identidade de sua autora, como também a de sua família. Em Anarquistas, graças a Deus, o caráter documental se mescla com as memórias afetivas, fazendo com que Zélia Gattai acabe ocupando um lugar no qual poucos escritores brasileiros encontraram espaço: o de memorialista — sua literatura não provém tanto da invenção, mas principalmente de um trato cuidadoso de suas lembranças.
Por este livro, Zélia recebeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979.
Em Anarquistas, Graças a Deus, Zélia Gattai nos conta causos de sua infância em uma divertida biografia. Seus pais, italianos e anarquistas, escolheram morar em São Paulo, onde a comunidade italiana crescia e se assentava. Mais precisamente, na Consolação onde ficavam os imigrantes pobres – ao lado da Paulista, onde ficavam os ricos. (Nada mudou desde então, portanto. rs)
A adaptação dos Gattai no Brasil se deu como que uma amálgama: sua mãe, Dona Angelina, não aprendeu o português direito e passou a vida inventando algumas expressões que não faziam sentido nem em uma língua, nem em outra. Gostava de jogo do bicho e interpretava os sonhos dos filhos – cinco no total – para saber em qual bicho jogar. Invariavelmente acertava. Defensora árdua dos animais, aceitava todos que entravam na casa pelo portão que não fechava – inclusive um bode que acabou causando certos problemas com seu apetite infinito.
Seu pai era mecânico e um italiano típico. Um dos causos mais engraçados é quando Zélia conta que seu pai  – que era responsável por registrar os filhos no cartório – às vezes, mudava os nomes por conta própria. O nome dos filhos tão bem pensados e definidos pela mãe eram alterados de última hora pelo pai que tinha um lampejo de inspiração e decidia o novo nome. Caso típico: quando o primeiro filho nasceu, a mãe escolheu o nome Elson. Na hora de registrar o filho, o sr. Ernesto decidiu que Elson não era nome de homem o suficiente e mudou para Mário. A mãe odiou, mas já estava feito.
Me diverti com essas histórias porque meu avô fez o mesmo com a minha mãe – que reclama até hoje do nome (algo que entretém muito o resto da família).
A parte mais interessante do livro todo para mim, no entanto, é a história da Colônia Cecília (uma colônia onde foi criada uma sociedade anarquista experimental). Há algum tempo me interesso pelo assunto, mas ainda estou apenas começando a ler mais sobre. Zélia Gattai nos conta a história de seu avô – anarquista fervoroso que ficou entusiasmado com o experimento da Colônia nesse país tão distante da Itália, mas que prometia muito. Fato interessante número 1: o terreno para a Colônia foi cedido por D.Pedro II – um imperador que tinha um viés republicano à frente da época. D. Pedro II prometeu, também, apoio financeiro ao empreendimento. Fato interessante número 2: o avô de Zélia foi um dos primeiros voluntários a esse experimento. Fez as malas com a esposa e os cinco filhos e embarcou para o Brasil para viver a experiência de uma comunidade que acreditava que poderia ser mais justa e igualitária.
A Colônia acabou não dando muito certo e os Gattai tiveram que sair sem nada. Os avós por parte de mãe também sofreram absurdamente. Vieram ao Brasil graças a promessas de terra e riquezas (o que aconteceu com muitos imigrantes na época). Quando chegaram, viram que não existia nada daquilo e foram obrigados a aceitar empregos que beiravam a escravidão onde crianças e adultos cumpriam o mesmo horário e poderiam ser surrados a qualquer momento. Foram expulsos quando seu avô impediu que um negro amarrado em uma árvore fosse chicoteado. Pensando bem, era a escravidão em sua forma mais pura.
Esses são alguns dos momentos mais sérios do livro, mas no geral, a leitura é bem leve com momentos graciosos e engraçados. Zélia é uma boa contadora de histórias e tem um humor simples e agradável. Mais do que apenas uma biografia, com um estilo “crônicas da vida cotidiana”, Zélia nos apresenta uma divertida radiografia da vida dos imigrantes da década de 20-30. O cinema era mudo, as ruas eram de terra, os imigrantes vinham de todo lugar e a vida parecia simples.
Zélia Gattai era esposa de Jorge Amado e parece que foi o renomado autor que a incentivou a escrever este livro. Felizmente! Para quem gosta de relatos de época, tem interesse em conhecer mais sobre a São Paulo daqueles tempos ou vem de uma família imigrante italiana que passou por maus bocados, o livro é um prato cheio de macarronada com molho extra que dá vontade de repetir.
http://www.opoderosoresumao.com/resenha-anarquistas-gracas-a-deus/
Anarquistas, Graças a Deus é um livro memorialístico da escritora paulistana Zélia Gattai (1916-2008). Publicado em 1979, faz um importante retrato da imigração italiana no Brasil, da formação do país e da militância política em São Paulo no início do século XX.
O enredo se concentra na infância e adolescência da escritora, no bairro do Paraíso, e tem como personagens, além dela, seus pais (Dona Angelina e Ernesto Gattai), irmãos, avós e algumas figuras típicas da São Paulo provinciana do início do século. Organizado de maneira episódica, com capítulos curtos, o livro é um testemunho do processo de adaptação da comunidade italiana ao Brasil.
A obra reconstrói um ambiente caracterizado pelo ativismo anarquista de origem italiana. Ganha destaque o episódio da Colônia Santa Cecília, uma comunidade experimental anarquista, da qual o avô de Zélia tinha participado. Com uma linguagem fluida, e com humor, o livro não se concentra numa vivência pessoal enclausurada na subjetividade, mas se insere num período histórico marcado por tensões e transformações sociais. Pelo olhar atento de Zélia, ganham nitidez a paisagem e o contexto sociopolítico de uma São Paulo que começa a abandonar os aspectos de cidade pequena e a ganhar ares de grande metrópole.
Em prefácio à obra, Jorge Amado afirma que Anarquistas é “um livro pleno de calor humano. Escrito sem pretensões de fazer literatura ⎼ pretensão de literatura que quase sempre resulta em literatice”1. Para ele, com uma narrativa correntia e simples, a obra se torna uma fonte importante para compreender o crescimento do país e sua originalidade cultural.
Aludindo à potência do fator histórico na leitura da obra, a professoraArlinda Santana Santos afirma que, para além de memórias, Zélia apresenta um testemunho individual e coletivo, que tangencia os impactos de um Estado de Exceção. Segundo a estudiosa, há no livro uma exposição dos mecanismos de intolerância, da violência de um Estado que oprime, mata e aniquila subjetividades, em nome do poder.
Para a historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, o livro é uma oportunidade rara de desvendar, por meio da lembrança, ações de pessoas que, movidas por suas utopias, ajudaram a fazer história: mulheres, jovens, filhos de imigrantes italianos e outros anônimos que, por suas ideias anarquistas, antifascistas e anticlericalistas, foram considerados ameaças à ordem pública e à segurança nacional.
Com o livro, Zélia adentra um campo literário formado majoritariamente por homens e conquista um espaço importante no campo das letras. Por meio da obra, vencedora do Prêmio Paulista de Revelação Literária, em 1979, consegue expandir seu público leitor, incentivando a leitura de mulheres.
Sucesso de público e crítica, o livro é adaptado para a televisão, em minissérie escrita por Walter George Durst (1922-1997) e dirigida por Walter Avancini (1935-2001). A produção vai ao ar na Rede Globo entre 7 e 17 de maio de 1984. Posteriormente, o direito de exibição é vendido para vários países, como Argentina, Estados Unidos, Itália, Portugal e Suíça.
Anarquistas, graças a Deus torna-se uma obra marcante na literatura brasileira e um exemplo raro do encontro entre memória pessoal e testemunho da memória coletiva. Ao retratar um período histórico singular, integra as fontes de conhecimento acerca da cidade de São Paulo e do Brasil.
Notas
1. AMADO, Jorge. O livro de Zélia (Prefácio) In: GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças a Deus. São Paulo: Cia das Letras, 2009.p. 4.
Fontes de pesquisa (6)
· BRAGA, Kassiana. A Senhora Dona da Memória: Autobiografia e Memorialismo em obras de Zélia Gattai. 2016. 208 f. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2016. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/137839. Acesso em: 16 jul. 2019.
· CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Memórias de uma jovem anarquista. In: MYRIAM, Fraga. Gênero e Memória. Salvador: FCJA/Museu Carlos Costa Pinto, 2002, p. 39-54.
· DUARTE, Erica Fernandes Costa. Biodiagrama de uma narradora: memória e história em Zélia Gattai. 11/12/2017 225 f. Doutorado em Letras. Universidade do Estado do Rio De Janeiro, Rio de Janeiro. Biblioteca do Centro de Educação e Humanidades. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=5426835. Acesso em: 01 dez. 2019
· GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças a Deus. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
· SANTOS, Arlinda Santana. Figurações do estado de exceção em Zélia Gattai: memórias de uma testemunha Anarquista-Libertária. Grau Zero: Revista de Crítica Cultural, v.3, n. 1, 2015. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/grauzero/article/view/3282. Acesso em: 18 dez. 2019
· SOUZA, Ana Carolina Cruz de. Gattai e Amado: retalhos de automemoriografias – performance, autofigurações e assinatura. Doutorado em Literatura e Cultura. Universidade Federal da Bahia. Salvador: Biblioteca Universitária Reitor Macedo Costa, 2016. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=4867786. Acesso em: 01 dez. 2019
FONTE: ANARQUISTAS, Graças a Deus. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra70945/anarquistas-gracas-a-deus>. Acesso em: 18 de Fev. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7 https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra70945/anarquistas-gracas-a-deus
Resenha:
Zélia Gattai marcou presença na literatura brasileira ocupando um lugar no qual poucos escritores encontram espaço: memorialista. Partindo de suas próprias experiências e memórias, a autora soube construir um universo literário sensível e abrangente. Por ter vivido intensamente e ao lado de personagens importantes da política e da cultura brasileiras, aproveitou esse vasto celeiro de recordações e aprendizados para compor a sua leitura de parte da história brasileira. Suas narrativas- memórias privilegiam um olhar feminino, mas não feminista, familiar e acolhedor, crítico e humorado. Assim é com este delicioso painel da São Paulo do começo do século XX, de imigrantes em especial italianos, e as suas dificuldades, alegrias e infelicidades, festas e costumes tradicionais a experiência anarquista desejosa de se implantar no Brasil. A Família Gattai é apaixonada, macarrônica, lutadora, exagerada e certamente ficará inesquecível para todos os leitores com suas lutas pela liberdade de pensamento, pela igualdade entre brasileiros e imigrantes e pelas incríveis brincadeiras das crianças.
 
Trecho do livro:
“A dois passos de nossa casa, numa bifurcação que separava a Consolação da Rebouças, entre a avenida Paulista e a alameda Santos, havia um enorme bebedouro redondo, de ferro trabalhado, onde os animais de carga saciavam sua sede. A esse bebedouro o pessoal do circo conduzia diariamente os animais de grande porte: elefantes, camelos, zebras e cavalos. Eu não perdia o espetáculo fascinante e gratuito. Adorava assistir aos elefantes enchendo as trombas da água para espirrar sobre a criançada.
Muitas vezes fui procurada e encontrada longe de casa, completamente desligada de tudo, feliz atrás dos palhaços, sem pensar na aflição de mamãe ao notar minha ausência.” (p. 47)
 
Fonte: https://blog.ataba.com.br/anarquistas-gracas-a-deus/
https://www.monografias.com/pt/docs/Resenha-anarquistas-gra%C3%A7as-a-deus-F36TDD7D9CF
ANARQUISTAS, GRAÇAS A DEUS, DE ZÉLIA GATTAI
6 de June de 2013
Em seu livro Anarquistas, Graças a Deus, publicado em 1979, a escritora
Zélia Gattai conta a história de um grupo particularmente interessante de imigrantes
que vieram ao Brasil, os anarquistas, que influenciaram muito a luta antifascista,
anti-racista e antiimperialista no país, principalmente em São Paulo, durante
a Revolução Tenentista de 1924.
Um relato emocionante da vida dos imigrantes italianos na cidade de São Paulo do começo do século XX. Mas não é só isso.
Nesse romance Zélia narrou a saga da família Gattai. Filha de imigrantes italianos que chegaram a São Paulo no começo do século, Zélia conta histórias da sua família, composta por anarquistas que pregavam a fundação de uma sociedade sem leis, sem religião ou propriedade privada, em que mulheres e homens tivessem os mesmos direitos e deveres. Como pano de fundo, a descrição do cotidiano de uma cidade em desenvolvimento.
Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/anarquistas_gracas_a_deus/
Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/anarquistas_gracas_a_deus/
Um retrato afetivo da vida em família na São Paulo do início do século XX.
GATTAI, Zélia. ANARQUISTAS GRAÇAS A DEUS – Disponível em : https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12741&gclid=Cj0KCQiA4feBBhC9ARIsABp_nbVwUmFvNKb4oc3d2UWWtkpXKTv89oKbXjCgIN9ftcE7I6tMOqPfdLAaAmIZEALw_wcB
Apresentação
Publicado em 1979 e transformado em minissérie da rede Globo em 1984, Anarquistas, graças a Deus é o livro de estreia de Zélia Gattai e seu primeiro grande sucesso.
Filha de anarquistas chegados de Florença, por parte do pai Ernesto, e de católicos originários do Vêneto, da parte da mãe Angelina, a escritora trazia no sangue o calor de seus livros. Trinta e quatro anos depois de se casar com Jorge Amado, a sempre apaixonada Zélia abandona a posição de coadjuvante no mundo literário e experimenta a própria voz para contar a saga de sua família.
É assim que ficamos conhecendo a intrépida aventura dos imigrantes italianos em busca da terra de sonhos, e o percurso interior da pequena Zélia na capital paulista - uma menina para quem a vida, mesmo nos momentos mais adversos ou indecifráveis,nunca perdeu o encanto. A determinação de seu Ernesto e a paixão pelos automóveis, a convivência diária com os irmãos e dona Angelina, os sábios conselhos da babá Maria Negra, as idas ao cinema, ao circo e à escola, as viagens em grupo, o avanço da cidade e da política - nestas crônicas familiares, vida e imaginação se embaralham, tendo como pano de fundo um Brasil que se moderniza sem, contudo, perder a magia.
Exímia contadora de histórias, Zélia as transforma em instrumento privilegiado para o resgate da memória afetiva. Foi Jorge Amado quem, um dia, lendo um conto de qualidade duvidosa que Zélia rascunhava, pescou essa veia de documental. Apontou-lhe o caminho e mostrou que ela se alimentava de sua rica ascendência familiar. Surge assim a Zélia memorialista, para quem a literatura provém não tanto da invenção, mas do trato apurado da memória e do desfiar cuidadoso, mas sem melindres, da intimidade.
Em suas mãos, a literatura se torna, mais que confissão, auscultação do mundo. É tendência para o registro e o testemunho, que cimentam não só um estilo quase clínico de observar a existência, mas uma maneira de existir. Pois é da persistência do espanto que Zélia, em resumo, trata. Se Jorge Amado foi uma espécie de biógrafo involuntário do Brasil, Zélia Gattai se afirma como a grande narradora de nossa história sentimental.
Ficha Técnica
Título original: Anarquistas, graças a Deus

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