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6ºAula Base de Conhecimentos para a Docência em Matemática Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender teorias relacionadas ao estudo de base de conhecimento e seus elementos; • relacionar as teorias às práticas pedagógicas e uso de tecnologias no espaço escolar; • entender o modelo descrito por Mishra e Koehler relativo ao Conhecimento Tecnológico Pedagógico do Conteúdo. Bem-vindos(as) à nossa aula sobre a Base de Conhecimentos para a Docência em Matemática! Inicialmente, fazemos uma apresentação da Base de Conhecimentos para a docência em Matemática, pois o professor se constitui por conhecimentos necessários para o processo de ensino e aprendizagem e requer, assim, para a efetiva integração das tecnologias em sua prática pedagógica diversos conhecimentos. Assim, para compreender a construção dessa Base de Conhecimentos que fundamentam nossa discussão atrelada a integração de tecnologias, buscamos nos modelos desenvolvidos por pesquisadores como Shulman (1986; 1987), Ball, Thames e Phelps (2008), e Mishra e Kohler (2006; 2009), explicações sobre os conhecimentos pedagógicos e tecnológicos requeridos na docência sobre um conteúdo específico. Vejamos os objetivos de aprendizagem e as seções de estudo que pretendemos desenvolver com essa aula. Bons estudos! Bons estudos! 36Tec. Dig. de Inf. e Com.no Ens. de Matemática Seções de estudo 1. A base de conhecimento para o ensino de Lee Shulman 2. Teoria de base prática do conhecimento do conteúdo para o ensino de Deborah Ball 3. O Modelo TPACK descrito por Mishra e Koehler 1 - A base de conhecimento para o Ensino de Lee Shulman A Base de Conhecimento de Lee Shulman(1986) é apresentada a partir das análises realizadas pelo autor acerca da investigação sobre os conhecimentos específicos dos professores. Shulman(1986) ressaltou que os testes realizados com os professores do ensino fundamental do estado da Califórnia em 1875 apresentavam um padrão em que se pretendia averiguar qual conhecimento específico do conteúdo de uma determinada disciplina a ser ensinado era necessária aos professores. Não havia uma preocupação com as teorias e os métodos de ensino que fossem adotados pelo professor de modo a conferir significados no processo de ensino e de aprendizagem. Em meados dos anos 80, devido às políticas públicas, foi feita uma revisão nos testes que eram realizados com os professores que pretendiam iniciar a docência e passaram a dar ênfase nos procedimentos de ensino que eram adotados pelo professor, o que era deixado em segundo plano há um século. “Na simplificação necessária das complexidades do ensino em sala de aula, os investigadores ignoraram um aspecto central da vida em sala de aula: o conteúdo” (SHULMAN, 1986, p. 5). A essa ausência de foco no conteúdo, que se apresentavam tanto nas diretrizes que regiam o ensino quanto nas pesquisas, Shuman, Wilson e Richerd (1987), caracterizaram o problema como o “paradigma perdido”. Shulman, Wilson e Richert (1987, p. 105) apontavam que “no ensino, a base do conhecimento é o conjunto da compreensão, conhecimento, habilidades e motivação que um professor precisa ter para atuar eficazmente em uma dada situação de ensino”. Nessa perspectiva, segundo os autores, as pesquisas que eram desenvolvidas sobre o ensino estavam diretamente relacionadas ao que o professor precisava fazer para atuar eficazmente e promover a aprendizagem do aluno. Assim, consideravam que as falhas nessas pesquisas estavam associadas aos conhecimentos que eram mobilizados pelos professores e que por vez não eram contemplados nos testes realizados. Como as pesquisas ignoravam problemas que estavam relacionados às práticas pedagógicas dos professores, Shulman (1986), buscava respostas às seguintes questões: “Como o professor se prepara para ensinar algo nunca aprendido antes? Como que esse aprendizado para o ensino ocorre? [...] Como professores adotam um pedaço de texto e transformam seu entendimento em instrução de forma que os alunos possam compreender?” (p. 10). Shulman (1987) observou que pesquisadores como Dewey (1904), Scherfer (1965), Green (1971), Fenstermacher (1978), Smith (1980), e Schwab (1983), entre outros, também buscavam respostas a estas questões e avistava assim a necessidade de reformulá-las pois não se apresentavam de forma correta. Em relação a essas questões, Mizukami (2004, p.3) discorreu sobre o assunto: [...] Não procede a suposição de que professores ou sabem ou não sabem algo. Eles sabem suas matérias de diferentes formas e com diferentes áreas de especialização e familiaridade. [...] Em adição, professores tinham diferentes teorias implícitas ou explícitas sobre suas disciplinas e como elas deveriam ser ensinadas. Assim, nós começamos a perguntar: como professores que sabem sua disciplina em diferentes formas e em diferentes níveis ensinam essa disciplina para outros? Ao nos aprofundarmos cada vez mais em nossos estudos, essas questões se tornaram cada vez mais diferenciadas e aprofundadas de forma a abranger variações em contextos e nos repertórios dos alunos. As considerações apresentadas por Mizukami (2004), iam ao encontro das reformulações que Shulman (1987) e os demais pesquisadores buscavam realizar para estruturar a Base de Conhecimento para o ensino. Com os estudos que eram realizados para a construção dessa Base de Conhecimentos, Shulman (1987), destacou algumas questões relacionadas: O que é conhecimento-base? Há conhecimento sufi ciente sobre ensino para apoiar um conhecimento-base? Não seria o ensino um pouco mais que um estilo pessoal, comunicação, conhecimento de uma matéria, e aplicação de resultados de pesquisas recentes sobre a efi cácia do ensino? (p.3). Permeado por essas questões condutoras, Shulman (1987) elencou sete categorias que compunham a Base de Conhecimentos a saber: conhecimento do conteúdo específico, conhecimento pedagógico geral, conhecimento curricular, conhecimento pedagógico do conteúdo, conhecimento sobre os alunos e suas categorias, conhecimento sobre os contextos educacionais e conhecimento sobre os fins educacionais, propósitos e valores. Dentre esses, foi feito um agrupamento dos conhecimentos em três categorias do conhecimento do objeto de estudo sugerindo sua diferenciação: conhecimento específico do conteúdo, conhecimento pedagógico do conteúdo e conhecimento curricular. O conhecimento específico do conteúdo é entendido como os conteúdos fundamentais a serem ensinados e os quais o professor precisa ter conhecimento. Nesse sentido, Shulman (1986, p. 11) destacou ainda que: Para Swab, as estruturas de uma matéria incluem as estruturas substantivas e sintáticas. As estruturas substantivas são os vários modos que os conceitos e princípios básicos da disciplina estão organizados para incorporar seus fatos. A 37 estrutura sintética de uma disciplina é o conjunto de formas no qual a verdade e a falsidade, validade e invalidade, são estabelecidas. Ficou notório que o conhecimento específico do conteúdo não podia ser compreendido apenas como os conteúdos específicos da disciplina que o professor leciona, pois comporta ainda aos professores terem discernimento para distinguir tópicos centrais para o ensino daqueles que não se apresentam como essenciais para o ensino. Já o conhecimento pedagógico do conteúdo está relacionado às formas de ensinar, às formas de representar situações de ensino, de ilustrar e exemplificar um determinado conteúdo de modo a torná-lo compreensível àquele que busca sua apreensão. Para Shulman (1986, p. 12), “[...] inclui a percepção do que faz a aprendizagem de assuntos específicos tornar fácil ou difícil: as concepções e preconcepções que os alunos de diferentes idades e backgrounds trazem com eles para a aprendizagem dos tópicos e lições mais frequentemente ensinados.”. Quanto ao conhecimento curricular, refere-se a programas que orientem paraa definição de conteúdos a serem ensinados em determinado nível de ensino, aos materiais de apoio que possam instruir o professor na elaboração de seus planejamentos e na execução das aulas. Além disso, “O currículo e seus materiais associados são a matéria médica da pedagogia, a farmacopeia dos quais professores retiram ferramentas de ensino que apresentam ou exemplificam um conteúdo particular e remediam ou avaliam a adequação das realizações dos estudantes.” (SHULMAN, 1986, p. 13). 2 - Teoria de base prática do conhecimento do conteúdo para o ensino de Deborah Ball Após os estudos de Shulman (1986), diversos pesquisadores como Ponte (1998), Ball (2008), entre outros, desenvolveram e continuam a desenvolver pesquisas, principalmente na Educação Matemática, acerca dos conhecimentos profissionais dos professores. Segundo Ball, Thames e Phelps (2008), desde que foi apresentado por Shulman (1986), o conceito de conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK), destacam que pouco esse conceito tem sido explorado nos estudos e tão pouco tem se desenvolvido. Desse modo, era possível inferir que faltava no conhecimento pedagógico do conteúdo, definição e fundamentação empírica, o que limitava o seu uso: No passado, um foco sobre o que os professores precisam de saber se levou a um conjunto de posições, cada uma relacionada a argumentos de princípio sobre o que os professores deveriam saber. Prevalecente ponto de vista é que os professores precisam saber o que a matemática está no currículo mais algum número adicional de anos de estudos na faculdade de matemática. Uma segunda hipótese é que os professores precisam conhecer o currículo, mas “mais profundo”, além de certa quantidade de conhecimento pedagógico do conteúdo. Em ambos os casos, não está claro o que exatamente é que compõe o conhecimento extra de matemática. A questão mais focada é a seguinte: O que os professores precisam saber e ser capaz de fazer, a fi m de ensinar de forma efi caz? Ou, o que exige o ensino efi caz em termos de compreensão do conteúdo? Isso coloca a ênfase no uso do conhecimento no e para o ensino, em vez de próprios professores. (BALL; THAMES; PHELPS, 2008, p. 394, Tradução nossa). Notamos que para responder as questões que propuseram, Ball e seus colegas focaram no trabalho de ensinar dos professores de matemática, e, se concentraram em investigar o que os professores precisavam fazer. Com isso, ao acompanharem professores e alunos por determinado tempo, perceberam que os professores precisavam fazer mais que simplesmente ter conhecimento do saber matemático. Era necessário que os professores usassem a matemática em sua rotina de ensino com os alunos. As questões que conduziram as análises das aulas qualitativamente foram: 1.Quais são as tarefas recorrentes e os problemas de ensinar matemática? O que os professores fazem quando eles ensinam matemática? 2.Quais são os conhecimentos matemáticos, as habilidades e a sensibilidade requeridos para gerenciar estas tarefas? (BALL; THAMES; PHELPS, p. 395, Tradução nossa). Ball e seus colaboradores ao analisarem as aulas dos professores de matemática que participaram do estudo, perceberam que o conhecimento matemático necessário para o ensino era multidimensional, o que revelou a insuficiência dos conhecimentos requeridos ao professor no que concerne o conhecimento da matemática e ainda ao que referia-se as habilidades no processo de ensino e as exigências de tarefas matemáticas. Ball, Thames e Phelps (2008), a partir das análises que havia realizado com seu grupo de investigação, apresentaram um modelo que incorporavam as categorias de Shulman (1986), uma nova categoria: conhecimento do horizonte. Propuseram ainda que o conhecimento do conteúdo de Shulman fosse subdividido em dois: conhecimento comum do conteúdo e conhecimento especializado do conteúdo. Além disso, foi realizada a subdivisão do conhecimento pedagógico do conteúdo em conhecimento do conteúdo e dos estudantes e conhecimento do conteúdo e do ensino. O modelo contemplou ainda o conhecimento do conteúdo e currículo. Figura 1 – Domínios do conhecimento matemático para o Ensino. Fonte: Adaptado de Ball, Thames & Phelps, (2008, p.403). 38Tec. Dig. de Inf. e Com.no Ens. de Matemática Quando olhamos para a divisão proposta no conhecimento do conteúdo, temos o Conhecimento Comum do Conteúdo (CCK), que para Ball, Thames e Phelps (2008), foi definido como o conhecimento matemático comum a todos que utilizam da matemática. Esse conhecimento não é específico para o ensino, pois ele é utilizado em outras situações fora da escola, por outros profissionais e que exigem competências de quem o utiliza em outras situações: [...] no exemplo da subtração, sabendo que os alunos muitas vezes “subtrair-se” quando confrontado com um problema como o 307- 168 signifi ca que um professor que já viu isso acontecer e sabe que é um estudante comum resposta é capaz de reconhecê-lo sem extensa Matemática análise ou sondagem. (BALL, THAMES E PHELPS, 2008, p. 401, Tradução nossa.). Conforme o exemplo, são requeridos do professor saber identificar quando um aluno apresenta uma resposta errada; saber identificar se o material de apoio que utiliza apresenta erros conceituais; ter domínio ao escrever no quadro símbolos e outros termos conceituais; ser capaz de resolver aquilo que propõe a seus alunos para resolver. Com esses e outros domínios essenciais, o professor é capaz de desempenhar o seu papel no ensino. Outro conhecimento que diz respeito ao conhecimento do conteúdo é o Conhecimento Especializado do Conteúdo (SCK). Este apresenta-se como um conhecimento complementar ao conhecimento comum do conteúdo. Está relacionado apenas ao ensino, não envolve outras áreas. Requer do professor habilidades e domínios específicos para o ensino. Ball, Thames e Phelps (2008) descreve alguns domínios que são específicos do trabalho realizado diariamente pelo professor e que estão associados ao conhecimento especializado do conteúdo tais como: saber responder aos porquês dos alunos; utilizar exemplos em conceitos específicos da matemática; compreender o que envolve o uso de representações; saber relacionar as representações a outras representações e ideias análogas; estabelecer relações do conteúdo a ser ensinado com aquele aprendido em anos anteriores; adaptar os conteúdos apresentados no livro didático; entre outros mostram que “Ensinar exige conhecimento além daquele a ser ensinado aos alunos.” (BALL; THAMES; PHELPS, 2008, p. 400). Na subdivisão proposta por Ball e seus colegas acerca do conhecimento pedagógico do conteúdo, temos primeiramente o Conhecimento do Conteúdo e Estudantes (KCS). Esse conhecimento é uma combinação sobre o que o professor precisa conhecer dos alunos com o conhecimento da matemática. Envolve a antecipação do que os alunos conhecem e do que eles irão conhecer. Além disso, é importante que o professor ao propor a realização de uma determinada atividade, tenha previamente definido as dificuldades que eventualmente possam aparecer quando os alunos forem resolver. Avaliar se os alunos irão considerá-lo fácil ou difícil e saber ouvir e interpretar respostas que possam apresentar alguma inconsistência. Por esse rol de domínios, é necessário que o professor tenha afinidade com os alunos e com o que pensam da matemática. O segundo domínio apresentado no campo do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo é o Conhecimento do Conteúdo e Ensino (KCT). Esse conhecimento envolve a combinação de saber o conteúdo e saber do ensino. Decidir como a aula irá começar, os exemplos que serão utilizados para começar a ensinar e aqueles para aprofundar um determinado conteúdo, avaliar as vantagens e desvantagens de se utilizar representações no ensino de determinados conteúdos, identificar o momento oportuno para fazer novas intervenções e levantar questionamentos, são algumas tarefas que requerem do professor, estabeleceruma interação entre o conhecimento específico da matemática e o conhecimento pedagógico. “Um exemplo seria KCT conhecer diferentes modelos viáveis para o valor de lugar, sabendo que cada um pode revelar sobre o algoritmo de subtração, e saber como implementá-las efetivamente.” (BALL; THAMES; PHELPS, 2008, p.402, Tradução nossa). O modelo apresentou ainda como um novo fator em seu modelo teórico, o Conhecimento do Horizonte. Esse conhecimento refere-se a conexão existente entre uma ideia e um conjunto mais amplo de ideias. Inclui o professor identificar quais implicações de se apresentar, por exemplo, o conteúdo de números inteiros, sem que os alunos tenham aprendido primeiramente números naturais. O Conhecimento do Horizonte permite ao professor olhar para o ensino, refletir sobre as escolhas que foram feitas e repensar as situações de modo simples e que deem sentido para o ensino. Outro conhecimento incluído no modelo apresentado por Ball, Thames e Phelps (2008), trata-se do Conhecimento do Conteúdo e Currículo. Os autores não apresentaram características para especificar este conhecimento. Ball e Bass (2009), associaram ao conhecimento do conteúdo e currículo os objetivos educacionais, normas institucionais, das diversas avaliações e tópicos de conteúdos ensinados nos diversos níveis de ensino. O modelo teórico apresentado por Deborah Ball, mostrou outras direções a serem observadas pelo professor, especificamente de matemática, sobre os conhecimentos necessários para docência. Ressaltou que ao buscar com este modelo compreender e identificar as diferentes categorias no ensino, muitas vezes não foi fácil delimitar a fronteira de uma ou de outra categoria. Com isso, considerou que a precisão para definir cada categoria de conhecimento apresentada no modelo, tornou-se difícil, como por exemplo, definir o conhecimento do conteúdo e currículo, pois as vezes parecia pertencer ao conhecimento do conteúdo e ensino e outras vezes de constituir como uma categoria própria. 3 - O modelo TPACK descrito por Mishra e Koehler Ao considerarmos o processo de integração das tecnologias digitais na prática pedagógica de professores, notamos que a integração no âmbito escolar não tem acontecido da mesma forma vertiginosa pelas quais se dão as mudanças na sociedade. Em decorrência disso, Mishra e Koehler (2006) apontam que as pesquisas que versam sobre as tecnologias digitais para a educação, sofrem pela falta de uma fundamentação teórica que possa sustentar, por exemplo, as 39 discussões da utilização das tecnologias no ensino da matemática. Os autores consideram que antes dos estudos de Shulman (1986), o fundamento teórico para a formação do professor estava diretamente relacionado ao conhecimento do conteúdo. Destacam ainda, que com a mudança do foco de investigação nas pesquisas de formação de professores, para as práticas pedagógicas, um novo componente passou a ser considerado: o conhecimento pedagógico. Mediante os programas de formação de professores, Shulman (1986), enxergou que os dois conhecimentos estavam sendo tratados de modo excludente e assim propôs a articulação entre eles, introduzindo a noção do PCK, Pedagogical Content Knowledge, Conhecimento Pedagógico do Conteúdo. Essa noção compreendida pela intersecção do conhecimento do conteúdo com o conhecimento pedagógico representaria para os professores após as interpretações do conteúdo, identificar as possibilidades de tratar o conhecimento específico para torná-lo compreensível aos alunos. Shulman (1986) não considerou a relação da tecnologia com o conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico, pelo fato das tecnologias não se apresentarem como principal foco das discussões na época. Hoje, observamos que ao emergirem as tecnologias digitais, na educação há uma necessidade crescente na busca por formações que versam sobre temáticas tecnológicas direcionadas para aplicações no ensino. Mishra e Koehler (2006) destacam que mesmo com a crescente expansão das tecnologias na sociedade atual, ainda prevalece um discurso entre alguns professores para não utilização em suas aulas tais como: falta de tempo e de apoio para buscar as atualizações profissionais, medo com as mudanças, entre outros. Assim, mesmo que os professores insistam em debruçarem apenas sobre os conhecimentos do conteúdo e pedagógico, com a rápida expansão das tecnologias digitais, não poderiam ser desconsideradas as potencialidades dessas ferramentas na prática escolar. Este contexto, alerta o profissional da educação para a necessidade de considerar o conhecimento tecnológico como um fator importante a ser entrelaçado ao conhecimento geral do professor. Um fato notável nos dias atuais é que da mesma forma que o conhecimento do conteúdo e pedagógico foi considerado dissociado antes de Shulman (1986), introduzir a noção do PCK, o conhecimento tecnológico aparece como um conjunto isolado a intersecção do PCK. Mishra e Koehler (2006), ao proporem o modelo TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge, que significa Conhecimento Tecnológico Pedagógico do Conteúdo, têm como novo fator ao compararmos as categorias de conhecimento, (SHULMAN, 1986; BALL; THAMES; PHELPS, 2008), a tecnologia, e a proposta se apresenta como uma ampliação, pois busca analisar as relações entre esses elementos como forma de integrá-los às ações a serem realizadas pelo professor. Figura 2 – Modelo TPACK. Fonte: Adaptado de Mishra e Koehler (2006, p. 1025). Observamos que esse modelo TPACK possibilita um ensino articulado, o conhecimento do conteúdo não pode ser enxergado dissociado do conhecimento pedagógico ou ainda do tecnológico. Mishra e Koehler (2006) consideram que, ao tratarmos da tecnologia, há um isolamento ainda em relação ao conhecimento do conteúdo e pedagógico, e descreve serem possíveis as interações visando à aprendizagem se considerarmos as relações entre o conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico e o conhecimento tecnológico. Assim, os autores desse modelo teórico atentam-nos para não consideramos apenas os conhecimentos individuais, mas as relações entre eles: conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK), conhecimento tecnológico do conteúdo (TCK), conhecimento pedagógico tecnológico (TPK), e por fim a relação entre o conhecimento do conteúdo, pedagogia e a tecnologia. O conhecimento pedagógico do conteúdo (Pedagogical Content Knowledge) assemelha ao conhecimento pedagógico proposto por Shulman (1986), sendo que a abrangência do PCK está nas relações que o professor deverá estabelecer entre a metodologia a ser adotada no processo de ensino e o conteúdo para que ocorra a aprendizagem pelos alunos. Este conhecimento se constitui ao longo do exercício do profissional docente, no ato de ensinar, quando se entrelaça a outros conhecimentos essenciais que compõem o ensino. Concordamos com Mishra e Koehler (2006, p. 1027, tradução nossa), ao afirmarem que “este conhecimento inclui saber quais abordagens de ensino se ajustam ao conteúdo, e da mesma forma, sabendo como os elementos do conteúdo podem ser organizados para melhoria do ensino”. Incluem ainda outros conhecimentos apreendidos pelo professor em formações continuadas, o estudo de teorias, os conhecimentos prévios dos alunos nas situações de aprendizagem, a maneira como se compreende determinadas situações para tornar a aprendizagem mais fácil ou mais difícil. Argumentam que o professor que faz uso de softwares, por exemplo, consegue dar um novo significado a forma de aprender um conceito matemático, visto que o aprendizado no qual se utiliza apenas papel e lápis, pode se caracterizar por um processo enfadonho para o aluno. O TCK propicia-nos compreender que a tecnologia entrelaçada ao conteúdo proporciona uma adequação a prática pedagógica do professor. Isso se deve ao fato de tanto a tecnologia quanto ao conteúdo um restringir o outro 40Tec. Dig. de Inf. e Com.no Ens. deMatemática nas escolhas a serem feitas no processo de ensino. Daí a importância de considerarmos a tecnologia com a pedagogia e assim definirmos o que os autores nos apresentam na relação do Conhecimento Pedagógico Tecnológico. Quanto ao conhecimento pedagógico tecnológico (Technological Pedagogial Knowledge), este representa os saberes pedagógicos que devem ser inferidos pelo professor no processo de ensino, que quando aliado aos conhecimentos tecnológicos, criam estratégias de utilização para uma ferramenta a fim de explorar as potencialidades que as tecnologias oferecem para o cenário educacional. A relação entre o conhecimento pedagógico e o tecnológico, está segundo Mishra e Kohler (2006, p. 1028, Tradução nossa), “no conhecimento da existência de componentes, e capacidades de várias formas de usar tecnologias no ensino e aprendizagem”. Um fator importante na TPK, refere-se as escolhas das tecnologias para uso em determinadas tarefas. Por fim temos a relação entre o conhecimento da pedagogia, tecnologia e do conteúdo, o qual foi definido por Mishra e Koehler (2006), como o conhecimento tecnológico pedagógico do conteúdo (Technological Pedagogical Content Knowledge). A amálgama da relação entre esses componentes, está na diferença de considerarmos individualmente cada um dos componentes no ensino. Esse modelo TPACK, como definido pelos desenvolvedores, representa uma base eficaz para o ensino com as tecnologias, pois estudos anteriores a este, como de Shulman (1986), e Ball (2008), a preocupação estava na relação do conhecimento do conteúdo e pedagogia e, no conhecimento do conteúdo da disciplina. Assim, o modelo TPACK constitui-se como um referencial teórico sólido para esta pesquisa, e, nos ajudará nas análises a discutir os conhecimentos mobilizados no ensino da matemática para integração das tecnologias na prática pedagógica do professor. Além disso, como descrito por Mishra e Koehler (2006), esse modelo possibilita em processos de formação continuada, compreender as implicações nos diferentes níveis de ensino e os pensamentos envolto ao conhecimento de professores para estabelecer a relação com a pedagogia e o conteúdo. Retomando a aula Chegamos ao fi nal da aula 5. Vamos recordar os principais tópicos abordados na nessa aula? Vamos lá! 1 – A base de conhecimento para o ensino de Lee Shulman No que tange à Base de Conhecimento apresentada por Shulman (1986), o conhecimento pedagógico do conteúdo chama em especial a atenção, pois trouxe uma combinação entre o conteúdo e a pedagogia, o que possibilitou distinguir cada um desses componentes e mostrar que se apresentarem apenas dissociados, tornar-se-ia mais difícil compreender o processo de ensino e de aprendizagem. 2 – Teoria de base prática do conhecimento do conteúdo para o ensino de Deborah Ball Ball e seus colegas, permeados pelas investigações que faziam em relação a prática dos professores de matemática e ainda em relação ao conhecimento do conteúdo para o ensino da matemática, propuseram alguns refinamentos no conhecimento pedagógico do conteúdo e no conhecimento do conteúdo para o ensino. Consideravam que não era apenas a brevidade da definição que contribuía para a falta de clareza do conhecimento pedagógico do conteúdo, mais também as limitações existentes na fronteira entre o conhecimento pedagógico do conteúdo e outros conhecimentos do professor. 3 – O Modelo TPACK descrito por Mishra e Koehler A compreensão que Mishra e Koehler (2006) nos apresentam para o conhecimento tecnológico do conteúdo (Technological Pedagogial Knowledge) está relacionada ao conhecimento que o professor precisa ter das tecnologias, de modo a adequá-las para o ensino de um conteúdo, a fim de conferir significado para o aluno no processo de aprendizagem. BALL, Deborah Loewenberg; THAMES, Mark Hoover; PHELPS, Geoffrey. Content Knowledge for Teaching: What make it special? Journal of Teacher Education, v. 59, n. 5, p. 389-407, 2008. MISHRA, P; KOEHLER, M. J. Technological Pedagogical Content Knowledge: A Framework for Teacher Knowledge. Teachers College Record, Volume 108, Number 6, June 2006, pp. 1017–1054. SHULMAN, L. Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching, Educational Researcher, 1986. Vale a pena ler Vale a pena
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