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Enterobiose: Oxiúros em Humanos

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Enterobios vermiculares (ENTEROBIOSES)
A família Oxyuridae possui várias espécies, dentre elas Enterobios vermiculares que ocorre no ser humano (na literatura há relato de outra espécie – E. gregorii – cuja tendência atual é considera-la como forma jovem do E. vermiculares).
Em vista da denominação anterior, largamente difundida – Oxyuris vermicularis – esse helminto é popularmente conhecido como “oxiúros”.
O gênero Enterobius apresenta sete espécies que são parasitos de vários macacos de diferentes regiões (Ásia, África e América), que não atingem o ser humano; o E. vermiculares apresenta distribuição geográfica mundial, mas tem incidência maior nas regiões de clima temperado, é muito comum no nosso meio, atingindo a faixa etária de 5 a 15 anos, apesar de ser encontrado em adultos também.
· Morfologia
O E. vermicularis apresenta nítido dimorfismo sexual, entretanto, alguns caracteres são comuns aos dois sexos: cor branca, filiformes; na extremidade anterior, lateralmente à boca, notam-se expansões vesiculosas muito típicas, chamadas “asas cefálicas”.
A boca é pequena, seguida de um esôfago também típico, é claviforme, terminando em um bulbo cardíaco; as características específicas de cada forma são:
	Fêmea – mede 1 cm de comprimento, por 0,4 mm de diâmetro, cauda pontiaguda e longa; a vulva abre-se na porção média anterior, a qual é seguida por uma curta vagina que se comunica com dois úteros, cada ramo uterino se continua com o oviduto e o ovário;
	Macho – mede cerca de 5 mm de comprimento, por 0,2 mm de diâmetro, cauda fortemente recurvada em sentido ventral, com espículo presente; apresenta único testículo;
	Ovo – mede cerca de 50µm de comprimento por 20µm de largura, apresenta aspecto grosseiro de um D, pois um dos lados é sensivelmente achatado e o outro é convexo; possui membrana dupla, lisa e transparente; no momento em que sai da fêmea já apresenta em seu interior uma larva;
· Habitat
Machos e fêmeas vivem no ceco e no apêndice, as fêmeas repletas de ovos (5 a 16 mil), são encontradas na região perianal; em mulheres, às vezes pode-se encontrar parasitos na vagina, útero e bexiga.
· Ciclo Biológico 
É do tipo monoxênico; após a cópula, os machos são eliminados com as fezes e morrem, as fêmeas, repletas de ovos, se desprendem do ceco e dirigem-se para o ânus (principalmente à noite).
Alguns autores acreditam que elas realizam oviposição na região perianal, mas a maioria acredita que a fêmea não é capaz de fazer a postura dos ovos, os mesmos seriam eliminados por rompimento da fêmea devido a algum traumatismo ou dissecamento; como ela se assemelha a um “saco de ovos”, com cutícula extremamente distendida, parece que o rompimento da mesma se torna fácil.
Os ovos eliminados, já embrionados, se tornam infectantes em poucas horas e são ingeridos pelo hospedeiro; no intestino delgado, as larvas rabditoides eclodem e sofrem duas mudas no trajeto intestinal até o ceco, aí chegando, transformam-se em vermes adultos; um a dois meses depois as fêmeas são encontradas na região perianal, não havendo reinfecção, o parasitismo se extingue.
· Transmissão 
Os mecanismos de transmissão que podem ocorrer são:
a) Heteroinfecção (ou Primoinfecção) – quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem novo hospedeiro;
b) Indireta – quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou;
c) Autoinfecção externa ou direta – a criança (frequentemente) ou o adulto (raramente) levam os ovos da região perianal à boca, é o principal mecanismo responsável pela cronicidade dessa verminose;
d) Autoinfecção interna – parece ser um processo raro no qual as larvas eclodiriam ainda dentro do reto e depois migrariam até o ceco, transformando-se em vermes adultos;
e) Retroinfecção – as larvas eclodem na região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram para o intestino grosso chegando até o ceco, onde se transformam em vermes adultos;
· Patogenia
Na maioria dos casos, o parasitismo passa despercebido pelo paciente, este só nota que alberga o verme quando sente ligeiro prurido anal (à noite, principalmente) ou quando vê o verme (chamado popularmente de “largatinha”) nas fezes; nas infecções maiores, pode provocar enterite catarral por ação mecânica e irritativa, o ceco apresenta-se inflamado e, às vezes o apêndice é atingido.
A alteração mais intensa e mais frequente é o prurido anal, a mucosa local mostra-se congesta, recoberta de muco contendo ovo e, às vezes, fêmeas inteiras; o ato de coçar a região anal pode lesar ainda mais o local, possibilitando infecção bacteriana secundária, o prurido ainda provoca perda de sono, nervosismo e, devido à proximidade dos órgãos genitais pode levar a masturbação e erotismo, principalmente em meninas.
A presença de vermes nos órgãos genitais femininos pode levar à vaginite, metrite, salpingite e ovarite; pode haver alguns casos raros de granulomas por ovos de E. vermicularis assinalados no fígado, no rim, na próstata, no ceco e no apêndice cecal; no primeiro, os vermes chegaram ao fígado perdurando a parede cecal e caindo no sistema porta, atingindo o fígado; nos dois últimos casos, o caminho foi pela uretra.
· Diagnóstico 
· Clínico
O prurido anal noturno e continuado pode levar a uma suspeita clínica de enterobiose.
· Laboratorial
O exame das fezes não funciona para essa verminose intestinal; o melhor método é o da fita adesiva (transparente ou método de Graham).
a) Corta-se um pedaço de 8 a 10 cm de fita adesiva transparente;
b) Coloca-se a mesma com a parte adesiva para fora, sobre um tubo de ensaio ou dedo indicador (nesse último caso é perigoso pela possível contaminação do executor pelo método);
c) Apõem-se várias vezes a fita na região perianal;
d) Coloca-se a fita (como se fosse uma lamínula) sobre a lâmina de vidro;
e) Leva-se ao microscópio e examina-se com aumento de 10 e 40 X;
Essa técnica deve ser feita ao amanhecer antes de a pessoa banhar-se, e repetida em dias sucessivos, caso dê negativo; caso a lâmina não possa ser examinada no mesmo dia, a mesma deve ser guardada na geladeira, devidamente embalada com papel alumínio.
· Epidemiologia 
Essa helmintose tem alta prevalência nas crianças em idade escolar, é de transmissão eminentemente doméstica ou de ambientes coletivos fechados (creches, asilos, enfermarias infantis, etc).
Os fatores responsáveis por essas situações são:
i) Somente a espécie humana alberga o E. vermicularis;
ii) Fêmeas eliminam grande quantidade de ovos na região perianal;
iii) Os ovos em poucas horas se tornam infectantes, podendo atingir hospedeiros por vários mecanismos (direto, indireto, retroinfecção);
iv) Os ovos podem resistir até três semanas em ambiente doméstico, contaminando alimentos e poeira;
v) O hábito de, pela manhã, sacudir roupas de cama pode disseminar ovos pelo domicílio;
· Profilaxia 
Devido ao comportamento especial desse helminto, os métodos profiláticos recomendados são:
a) A roupa de dormir e de cama usada pelo hospedeiro não deve ser “sacudida” pela manhã, e sim enrolada e lavada em água fervente diariamente;
b) Tratamento de todas as pessoas parasitadas da família (ou outra coletividade) e repetir o medicamento duas a três vezes, com intervalo de 20 dias, até que nenhuma pessoa se apresente parasitada;
c) Corte rente das unhas, aplicação de pomada mercurial na região perianal ao deitar-se, banho de chuveiro ao levantar-se e limpeza doméstica com aspirador de pó, são medidas complementares;
· Tratamento 
Os medicamentos utilizados são os mesmos empregados contra o A. lumbricoides.
Pamoato de Pirantel (Combantrin, Piranver): o medicamento é apresentado sob a forma líquida e comprimidos, a dose indicada é de 10mg/kg em dose única, com eficácia de 80-100% de cura; os efeitos colaterais são náuseas e vômitos, cefaleias, sonolência e erupção cutânea; contraindicação: gravidez e disfunção hepática.
Albendazol (Zentel): o medicamento é apresentado sob a forma líquida (suspensão contendo 40mg/mL e comprimidos 200mg), a dose indicada para o tratamento de crianças acima de 2 anos é de 100mg emdose única, com eficácia próxima de 100% de cura.
Os efeitos colaterais são náuseas, vômitos, cefaleias, podendo ou não estar associados a desconforto gastrintestinais; atualmente tem sido usada como droga de escolha, na terapêutica de algumas helmintoses humanas, no entanto, por ser derivado bezilmidazólico, foi comprovada sua ação teratogênica e embriotóxica.
Ivermectina (Revectina): o medicamento é apresentado sob a forma de comprimidos de 6mg, a dose indicada é de 200mg/kg em dose única, para pacientes com mais de 15 kg corporais, com eficácia acima de 85% de cura; entretanto, há uma tendência de se utilizar o fármaco em dois dias consecutivos, aumentando-se o percentual de cura.
Como é uma nova formulação, os efeitos colaterais ainda são pouco conhecidos, mas existem relatos de náuseas, vômitos, cefaleias, pruridos, tonturas e astenia, podendo os pacientes apresentarem concomitantemente; deve-se ressaltar que a ivermectina, por atuar primariamente em receptores GABAérgicos é contraindicada para pacientes com alterações no SNC e durante gravidez e amamentação.
OBS: Shyphacia obvelata é um pequeno Oxyuroidea de camundongos e ratos, com morfologia geral e ciclo semelhante ao Enterobios vermiculares; é um helminto cosmopolita, que tem sido encontrado parasitando humanos em várias partes do mundo, em geral não é patogênico, sendo eliminado espontaneamente nas fezes.

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