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Valorizacao_de_residuos_solidos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - U.F.S.C. 
 
 
 
 
CENTRO TECNOLÓGICO - CTC 
 
 
 
 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL - ENS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
****************************************************************** 
OPÇÕES DE VALORIZAÇÃO E DE ELIMINAÇÃO DOS 
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS 
 
M E T O D O L O G I A 
****************************************************************** 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Armando BORGES DE CASTILHOS JUNIOR 
 
ENS 5123 
Semestre 2011.1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
2. RESÍDUOS URBANOS : CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
 2.2 Evoluções Quantitativas e Qualitativas 
 2.3 Resíduos Urbanos e Meio Ambiente 
 
 
3. OPÇÕES DE VALORIZAÇÃO E DE ELIMINAÇÃO 
 
 
4. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS DIFERENTES OPÇÕES DE TRATAMENTO 
 
 1. Incineração 
 2. Combustíveis Derivados 
 3. Pirólise e Outros Procedimentos Térmicos 
 4. Fermentação Anaeróbia 
 5. Matérias Primas Orgânicas 
 
 
5. CONCLUSÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
3 
 
 Todo sistema de produção e de consumo, natural ou artificial, implica na geração de uma certa 
quantidade de sub-produtos e resíduos. Levando-se em consideração a natureza, a localização e as 
quantidades geradas, estes resíduos podem apresentar um duplo problema : 
 
ECONÔMICO : na medida em que eles constituem um gasto importante de matéria prima e de 
energia. 
 
ECOLÓGICO : na medida em que eles perturbam os meios naturais e estão na origem de 
riscos de poluição para os seres vivos. 
 
 Uma gestão racional das atividades econômicas e sociais não pode ser concebida sem a tomada 
de consciência desta realidade. A procura de uma solução a este problema deve obedecer a princípios 
rigorosos e, quando se está confrontado a um resíduo, três estratégias são possíveis : 
 
 
 
 Avaliar as possibilidades de modificação ou de abandono de certos processos industriais ou de 
modos de consumo geradores de resíduos (ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS). Estas possibilidades 
estão diretamente relacionadas ao estabelecimento de políticas globais pelas autoridades públicas. 
 
 Assegurar segundo todos os protocolos possíveis, a VALORIZAÇÃO dos resíduos, isto é, procurar um 
valor econômico positivo destes ou de uma fração do resíduo em áreas variadas : energia, 
agricultura, matérias primas, etc... 
 
 Gerenciar de maneira compatível com os meios naturais e a saúde dos seres vivos, os resíduos que 
não encontraram utilizações possíveis no quadro da valorização. Faz-se, então, apelo as técnicas 
ditas de ELIMINAÇÃO, termo relativamente impróprio na medida que se encontra mais 
seguidamente confrontado à operações de ESTOCAGEM no meio natural. 
 
 Limitando nossos propósitos somente aos aspectos técnicos, pode-se mostrar como os resíduos 
urbanos, o mais banal mas também o mais complexo dos resíduos de consumo, podem encontrar, em 
teoria, o seu lugar na quase totalidade das opções de tratamento cientificamente possíveis. Entretanto, 
é preciso salientar que serão finalmente considerações de ordem econômicas, sociais, psicológicas e 
mesmo políticas que terão mais peso numa escolha definitiva. 
2. RESÍDUOS URBANOS : CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
Produção 
Resíduos 
Consumo 
 Alternativas Tecnológicas, 
 Valorização dos materiais, 
 Eliminação Eco-Compátivel. 
 
4 
 2.1 Características Principais 
 
 O vocábulo resíduos urbanos engloba produtos de natureza muito diversa. Sua origem não se 
limita mais a vida doméstica. Ele foi estendido ao conjunto das atividades da cidade, com exclusão dos 
resíduos industriais específicos e materiais como os resíduos de demolição, etc. A quantidade e a 
qualidade dos resíduos urbanos depende essencialmente dos seguintes fatores : nível de vida da 
população, condição social, estruturas de consumo, clima, estação, etc ..., sem falar das evoluções 
tecnológicas. Estima-se, em geral, para a cidade de São Paulo, os seguintes valores para a produção de 
resíduos, em quilograma por habitante e por dia : 
 
 0,67 - 1981 0,67 - 1982 0,61 - 1983 
 0,60 - 1984 0,64 - 1985 0,71 - 1986 
 
COMPOSIÇÃO : A composição dos resíduos domiciliares é de difícil avaliação, em função da diversidade 
de elementos encontrados e a dificuldade em se constituir amostras representativas. Cada caso 
deve ser objeto de estudos específicos. A título comparativo, são apresentados os valores 
determinados para os resíduos domiciliares da cidade de Florianópolis (quadro 1). 
 
DENSIDADE : O valor da densidade equivale a relação que existe entre a massa de resíduos e o volume 
que eles ocupam. Em razão da compressibilidade dos resíduos, este parâmetro evolui muito em 
função das condições nas quais eles se encontram. A densidade dos resíduos nos recipientes de 
coleta, sem compactação, é estimada entre 0,10 e 0,30. 
 
PODER CALORÍFICO : Expresso pelo Poder Calorífico Superior (PCS) ou Inferior (PCI), segundo que se 
considere ou não o calor de vaporização da água contida nos resíduos e a produzida pela 
combustão. O PCI é calculado à partir do PCS aplicando a seguinte relação : PCI = PCS - [(9 H2 + 
H2O) / 100] 600. Os valôres correntemente admitidos são : PCI = 1000 - 1500 Kcal/Kg 
 
Quadro 1 - Composição dos resíduos do município de Florianópolis 
 
COMPONENTES (% EM PESO) 
 Papel 25,01 
 Papelão 6,89 
 Plástico 
 duro 2,14 
 mole 6,74 
 Vidro 1,95 
 Madeira 1,15 
 Trapo 2,58 
 Couro 0,14 
 Matéria Orgânica 47,33 
 Metal: 
 Ferroso 3,35 
 Não ferroso 0,36 
 Louça 0,19 
 Borracha 0,49 
 Cerâmica 0,08 
 Terra e Similares 0,19 
 Osso 0,009 
 Perdas 1,4 
 TOTAL 100,00 
 
UMIDADE : A umidade é medida por secagem á 105 ºC até peso constante. Para os resíduos 
 
5 
domiciliares ela depende em geral da situação geográfica e da estação. Ela depende também da 
composição dos resíduos. É assim que um teor elevado de matérias orgânicas se traduzirá por uma 
elevação do teor de umidade total. Estima-se, em geral, para os resíduos domiciliares brasileiros que os 
valores de umidade se situam entre 25 e 70 % do peso bruto. 
 
RELAÇÃO CARBONO/NITROGENIO : A evolução dos resíduos domiciliares em fermentação pode ser 
observada pela determinação da relação entre carbono e nitrogenio. A experiência mostra que esta 
relação se situa, geralmente, entre 35 e 20 para os resíduos "frescos", evoluindo para 25 à 10 após 
compostagem. Em principio, num bom composto, a relação C/N se situa entre 15 e 18. 
 
 
 2.2 Evoluções Quantitativas e Qualitativas 
 
 Não se dispõe de estatísticas descrevendo a evolução sobre um longo período da produção e da 
composição dos resíduos domiciliares no Brasil. Porém, a título de exemplo, pode-se observar a 
projeção da população e da produção de lixo domiciliar, a partir da Sinopse Estatistica do IBGE (1977). 
 
 
 2.3 Resíduos Urbanos e Meio Ambiente 
 
 Como nós vimos inicialmente, os resíduos urbanos não apresentam sómente um problema de 
gasto de matéria prima e de energia. Na falta de tratamentos adequados estes resíduos podem ter uma 
influência sobre o meio ambiente. Assim, algumas considerações se fazem necessárias : 
 
a - Os componentes dos resíduos domiciliares podem ser regrupados em tres frações principais: 
 
 as matérias orgânicas; 
 os inertes, vidros e metais ; 
 os papéis, plásticos e texteis. 
 
 Além das considerações estéticas evidentes, seu abandono sem precaução no meio ambiente 
apresenta o problemado impacto específico a cada uma destas frações : 
 
 proliferação de roedores, aves e insetos ; 
 gas e metabólitos das fermentações ; 
 acumulação das frações não biodegradáveis, etc... 
 
b - A estas tres frações principais soma-se uma quarta fração, em menor porcentagem, mas constituída 
de "ingredientes" incomodos no plano dos riscos causados ao meio ambiente, por exemplo : 
 
 mercúrio (pilhas/termômetros) e cadmio (pilhas alcalinas) ; 
 germes patogênicos e medicamentos inutilisados ; 
 produtos fitosanitários (ddt, nutrimentos para plantas,...); 
 óleos, tintas, etc ... 
 
c - As técnicas de tratamento podem também participar na difusão de poluentes sob formas perniciosas 
ao meio ambiente : 
 
 metais, ácido clorídrico, poeiras e escórias ; 
 efluentes dos atêrros sanitários (chorume e biogas), odores; 
 poluição do solo pelos condicionadores de solo (compostos). 
 etc ... 
d - Finalmente, é preciso não perder de vista, para apreciar mais lúcidamente estes impactos sobre o 
 
6 
meio ambiente, que nós "tocamos" no cotidiano os resíduos urbanos nas nossas casas e que, ainda nos 
nossos dias, eles são utilizados como fonte alimentar... 
 
 
3. AS OPÇÕES DE VALORIZAÇÃO E DE ELIMINAÇÃO 
 
 Todo resíduo, qualquer que seja sua origem, deve encontrar lugar em ao menos uma das 20 
opções de tratamento do Quadro 3. Estas opções visam objetivos de valorização nas seguintes áreas : 
 
 - Energia ; 
 - Recuperação de matérias primas ; 
 - Ciências dos materiais , 
 - Agricultura ; 
- Técnicas de Meio Ambiente. 
 
 
 As outras opções correspondem às técnicas de eliminação aplicáveis á totalidade de um resíduo 
ou ainda aos resíduos das opções precedentes de valorização. Nota-se antecipadamente que : 
 
a - Sómente o método de atêrro sanitário leva em consideração a totalidade dos resíduos urbanos. As 
outras opções de tratamento deverão ser consideradas como elementos de uma cadeia de 
tratamento. 
 
b - A incineração é considerada como uma opção de eliminação ou de valorização segundo que exista, 
ou não, recuperação de energia, sem que haja necessidade de modificação do processo de 
tratamento. 
 
c - O quadro 3 não inclui o principio da separação na fonte, que em teoria, poderia assegurar a 
valorização da totalidade dos resíduos. 
 
d - Certas opções de tratamento necessitam um pré-tratamento (seguidamente mecânico) dos 
resíduos. Estes pré-tratamentos não aparecem no quadro, assim como os diferentes modos de 
coleta e transporte. 
 
 
 
Obs. : Notação para uso da tabela 
 
 
Ene - Valorização Energética 
M.P. - Valorização em Matérias Primas 
M. - Valorização em Ciência dos Materiais 
A. - Valorização em Agricultura e Agro-alimentar 
T. - Valorização em Tecnicas de Meio Ambiente 
El. - Técnicas de Eliminação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
OPÇÕES DE TRATAMENTO DOS RESÍDUOS 
SÓLIDOS URBANOS 
 
 
 
 
 
 
 
TÉCNICAS 
 
 
No. 
MATÉRIAS 
ORGÃNICAS 
INERTES : 
VIDROS, 
METAIS 
PAPÉIS, 
PLÁSTICOS E 
TEXTEIS 
 
Ene 
Incineração 1 
Combustíveis Derivados 2 
Pírólise 3 
Fermentação Anaeróbia 4 
 
MP 
Matérias Primas Orgãnicas 5 
Matérias Primas Minerais 6 
 
 
M. 
 
Ligantes Hidráulicos 7 
Vidro, Cerâmica 8 
Matérias Plásticas 9 
Fibras Celulósicas de Recuper. 10 
Outros Materiais 11 
 
A. 
Condicionador Orgânico 12 
Condicionador Mineral 13 
Alimentação para Animais 14 
 
T. 
Técnicas de Meio Ambiente 15 
Outras Valorizações 16 
 
El. 
Incineração 17 
Tratamento Físico-Químico 18 
Tratamento Biológico 19 
Aterro Sanitário 20 
 
 
8 
4. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS DIFERENTES OPÇÕES DE TRATAMENTO 
 
 
 1 - INCINERAÇÃO COM RECUPERAÇÃO DE ENERGIA 
 
 No Brasil, esta técnica é pouco utilizada. Os incineradores existentes são os de São Paulo e 
Brasilia (3). A tonelagem de resíduos incinerada se eleva a 161 T/dia. O principio da técnica é : 
a - os resíduos urbanos são auto-combustíveis a uma temperatura compreendida entre 250 e 600 ºC. É 
possível incinerar outros resíduos, como os industriais ou os resíduos agrícolas ou ainda os resíduos de 
segunda geração, como os lodos de estação de tratamento. O comburente é em general o ar, mesmo se 
o oxigênio puro é as vezes utilizado. 
 
b - o forno e seus auxiliares , instalação central de base, representa aproximadamente 25 a 50 % do 
custo do conjunto. Os fornos são a grelha fixa ou móveis, rotativas ou a efeitos piroliticos. Para os 
fornos de capacidade superior à 2500 th/h distingue-se : 
 
 dispositivo de introdução dos resíduos, 
 um suporte de combustão, 
 dispositivo de avanço dos resíduos e de 
reviramento, 
 câmara de combustão revestida 
interiormente de refratários, 
 a evacuação dos gases 
 
c - A valorização da energia produzida é utilizada no aquecimento urbano + industrias ou aquecimento 
urbano + eletricidade. O fluído portador do calor é geralmente o vapor d'agua. Na França, a Agência 
Nacional pela Recuperação e Eliminação dos Resíduos, estima que o preço do do KWh é inferior ao 
preço do KWh fornecido pelas energias "nobres" (carvão, gaz, óleo,...), para as unidades de capacidade 
superior à 5 T/h. Dois fatores limitam estes procedimentos : a oscilação do preço das energias nobres e 
a variabilidade do estoque de resíduos disponiveis. 
 
d - A escória representa, em geral, 30 % do pêso e 10 % do volume dos resíduos urbanos. Elas tem uma 
granulometria que varia de 0 à 30 mm, rica em elementos metálicos e fragmentos de vidro. A escória 
funde à temperaturas comprendidas entre 1000 e 1100 ºC. Elas contém: 
 
 de 1 à 5 % de produtos orgânicos não queimados, 
 de 10 à 15 % de metais livres 
 de 80 à 90 % de escórias própriamente ditas. 
 
A escória pode ser utilizada em Ciência dos Materiais e técnicas de estradas como camada de 
fundação. Em Atêrro Sanitário elas podem ser utilizadas como material de fundo, diques ou coberturas. 
 
Resíduos 
Urbanos 
(a) 
 
Incinerador 
(b) 
Escórias 
(d) 
Água quente, 
vapor, 
eletricidade 
(c) 
Tratamento de 
fumaça 
Poeiras, efluentes,lodo 
(e) 
 
9 
e - As fumaças tem uma temperatura comprendida entre 900 e 1000 ºC. Antes de sair elas devem ter 
uma temperatura comprendida entre 150 e 300 ºC. Após resfriamento por diferentes técnicas, os 
componentes são: 
 
 Nitrogenio 60 à 75 % 
 Anidrido carbonico 6 à 14 % 
 Oxigênio 6 à 14 % 
 Vapor d'agua 5 à 15 % 
 
 As poeiras ou cinzas podem conter substâncias tóxicas minerais (mercúrio e cádmio) ou 
orgânicas (já foram já detectadas dioxinas) adsorvidas. Dispositivos regulamentares sobre a presença de 
cloro (combustão de PVC) obrigam á um tratamento mais complexo. 
 
 
 2 - COMBUSTÍVEIS DERIVADOS 
 
 A fim de diminuir os problemas apresentados pela utilização dos resíduos brutos como 
combustível, novas técnicas foram desenvolvidas. O objetivo principal é o de elaborar um combustível 
mais homogêneo, facilmente acondicionável, estocável, transportável e de melhor qualidade 
energética. 
 
 
 Pré-tratamento Triagem Acondicionamento 
 
Numerosos processos são propostos : Combusoc, Combor, OTV, SUAL ... Eles associam a fabricação de 
um combustivel estocável (20 á 40 % do peso inicial e 60 % do valor energético global dos resíduos 
urbanos) à produção de condicionadores de solos orgânicos e de diferentes matérias primas : metais, 
vidros, plásticos, etc ... O futuro destes processos é fortemente ligado à evolução dos preços dos 
combustíveis. Por outro lado, estes produtos são atrativos sómente para quem tem uma experiência no 
ramo, sem contar com os problemas relacionados à combustão (corrosão pelo cloro). 
 
 
 3. PIRÓLISE E OUTROS PROCEDIMENTOS TÉRMICOS 
 
 
 As frações orgânicas podem ser térmicamente decompostas em atmosfera isenta ou pobre em 
oxigênio. Segundo a composição dos resíduos , a temperatura e o modo de pirólise dos produtos 
obtidos podem ser denatureza muito diferentes : 
 
 resíduos de carbono 
 óleos orgânicos 
 gases 
Resíduos 
urbanos 
brutos 
Trituração Fração 
combustível 
Secagem e 
Granulação 
Vidro, 
metais, 
cinzas, 
inertes, 
etc... 
Combustível 
 
10 
 
Estes sub-produtos são valorizáveis como matérias primas ou combustíveis. A pirólise, sendo um 
fênomeno endotérmico, é necessário um suporte energético exterior. Para os resíduos orgânicos 
algumas experiências foram desenvolvidas, sem grande sucesso aparente (Rio de Janeiro e USA - 
processo ANDCO-TORRAX). 
 
 4. FERMENTAÇÃO ANAEROBIA 
 
 Em atmosfera deficitária de oxigênio, os micro-organismos anaeróbios digerem as matérias 
orgânicas (glucidios, lipidios, protideos, celulose, ...) produzindo um gas essencialmente constituido de 
metano (CH4) e de dióxido de carbono (CO2). Os resíduos urbanos, ricos em matérias orgânicas deste 
tipo, se prestam ótimamente à esta evolução e podem constituir um potencial de biogas valorizável no 
plano energético. Distinguem-se duas grandes opções no caso dos resíduos urbanos : a exploração em 
atêrro sanitários e em reatores. A título de exemplo, apresentamos os seguintes dados : 1 m
3
 de 
biogas (60 % de CH4 e 40 % de CO2) correspondem a 5000 th, ou seja : 
 
 0,58 dm
3
 de óleo,  2,24 kg de madeira  0,53 m
3
 de gas natural 
 
 Estima-se que 1 T de resíduos urbanos pode produzir de 140 à 280 m3 de biogas. Se ele não é 
simplesmente queimado, o biogas pode, após depuração, ser injetado num sistema de distribuição ou 
alimentar grupos electrogenos. Em São Paulo, depois de engarrafado sob pressão, o biogas serve de 
combustível aos caminhões de coleta da prefeitura. Porém, a experiência parece mostrar que todas 
estas valorizações são muito delicadas à ter sucesso nos planos técnicos e econômicos. 
 
 
 5. MATÉRIAS PRIMAS ORGÂNICAS 
 
 Esta opção está sómente no estágio de pesquisas à carater experimental. Nós assinalamos, a 
titulo de informação, dois exemplos de estudos portando sobre a fração orgânica dos resíduos urbanos, 
ricos em compostos à base de celulose ou hemicelulose. 
 
a- Estes compostos podem fornecer, por hidrólise por exemplo, açucares podendo fazer o objeto de 
transformações posteriores. 
b- Foi também estudada a produção dos acidos acético e propionicos por fermentação anaérobia 
(Universidade Católica de Louvain-Bélgica). 
 
 A priori, o desenvolvimento industrial destas opções parece ser mais adaptado aos resíduos 
agro-alimentares. 
 
 
 6. MATÉRIAS PRIMAS MINERAIS 
 
 
 METAIS 
 
Ferro Ele pode ser recuperado pela coleta seletiva em certos locais (artesões, 
pequenos industriais, ...) e bairros ou sobre os atêrros sanitários mesmo. Por 
outro lado, ele pode ser recuperado por triagem magnética ou manual em 
usinas de reciclagem e compostagem. A presença de estanho é um complicador 
do problema. 
 
Aluminio A embalagem em aluminio (para as bebidas, ou latas, aerosóis, utensilios de 
cozinha, etc) está em pleno desenvolvimento. A sua reciclagem é muito 
 
11 
interessante no plano energético : o aluminio de primeira fusão necessita de 
13.000 KWh por tonelada contra 650 KWh para o de segunda fusão. 
Outros metais Um processo desenvolvido por uma empresa americana (RAYTHEON SERVICE - 
Massachussets) apresenta para a separação de metais á partir das escórias de 
incineração, os seguintes resultados : 
 
 ¦ 1,5 T de Al 
 100 T de escórias ¦ 1,0 T de Zn - Cu 
 ¦ 30,5 T de metais ferrosos 
 
 Por mais interessante que eles sejam, estes processos não parecem encontrar sucesso do 
ponto de vista econômico. 
 
 
7. MATERIAIS DE ESTRUTURA E LIGANTES HIDRÁULICOS 
 
 Nós vimos que as escórias de incineração dos resíduos urbanos podem ser utilizadas em 
técnicas de estradas assim como certos resíduos de vidro e de matérias plásticas podem ser 
incorporados à outros materiais. 
 
 
 8. VIDRO 
 
 
 Nos nossos resíduos, o vidro representa aproximadamente 3 à 6 % em pêso. Existe um interesse 
energético, tecnológico e ecológico na valorização deste material. As garrafas constituem o essencial 
deste produto, sob formas variáveis. O modo mais simples de recuperação das garrafas é a 
consignação. Esta prática não é, entretanto, muito compátivel com as estratégias" econômicas e 
comerciais" de certos fabricantes destes materiais. A coleta, em função da utilização e segundo as 
circunstâncias, pode ter diferentes formas : 
 
Global o vidro é extraído mecânicamente ou manualmente do resíduo bruto ao mesmo tempo 
que outros materiais, 
 
Seletiva pelo intermédio de uma lixeira suplementar ou por substituição, num dia dado, 
 
Container o vidro é depositado nestes receptáculos, que são instalados nas calçadas e em lugares 
préviamente definidos. 
 
A valorização dos vidros pode ter diferentes formas : 
 
a) - Vidro quebrado : após moagem e triagem, o produto obtido consome duas vezes menos energia 
numa nova fusão. Entretanto, certas impurezas são obstáculos contrários à fabricação de garrafas à 
partir do vidro quebrado : 
 
 metais, como o chumbo, estanho e aluminio, 
 elementos redutores : papéis, plásticos, madeira, borracha 
 vidros especiais 
 não fundiveis : porcelana, pedras, etc ... 
 A estes problemas se adiciona o da côr. O "branco" não pode, por exemplo, admitir mais de 0,5 
% de vidro quebrado verde (de cromo). Em certos países Europeus, a taxa de utilização do vidro moído 
supera os 25 % (50 a 80 % em alguns casos). 
 
 
12 
b) - Reciclagem das garrafas : atualmente, graças à uma mecanização extremada, pode-se lavar, triar, 
classificar e controlar as garrafas (35.000 Ton/ano em uma usina francêsa). Este modo de reciclagem 
pode tambem ser adaptado, de maneira mais artesanal, à situações locais. 
 9. MATÉRIAS PLÁSTICAS (Polietileno - PE, Policloreto de Vinila - PVC e Poliestireno - PS) 
 
 Mais que o vidro, as matérias plásticas tem um forte conteúdo energético. Elas são pouco ou 
não assimiláveis pelo meio natural, indesejáveis nos compostos e geram àcido clorídrico na incineração 
(PVC). Interessa-se sobretudo aos termoplásticos, que podem ser reutilizados como matéria plástica 
após moagem e fusão, contráriamente aos termodurssissáveis, bem mais dificeis à valorizar. Encontra-
se principalmente nos resíduos urbanos : 
 
 PVC : garrafas transparentes 
 PE : recipientes opacos, sacos alimentares, etc ... 
 PS : expandido ou não (isopor) 
 
 A recuperação é orientada geralmente para as garrafas de PVC, apesar de sua fraca densidade 
(30 à 40 g por garrafa contra aproximadamente 600 g por garrafa de vidro). As outras matérias plásticas 
sómente são recuperadas através de operações de triagem, de coletas globais ou seletivas nos centros 
de triagem de materiais. A primeira operação é a de separação das matérias plásticas entre elas e de 
impurezas (sobretudo os papéis), utilizando seguidamente três caracteristicas próprias : 
 
Densidade PE = 0,92 à 0,95 ; PS = 1,05 ; PVC = 1,4. A separação neste caso 
pode ser feita por flotação ou por triagem balística pneumática 
(corrente de ar); 
 
Propriedades Dielétricas são isolantes elétricos. Pode-se coletá-los pelo intermédio de 
campos eletrostáticos, após moagem. 
 
Propriedades Higroscópicas é utilizada na separação dos papéis, seguidamente em 
complemento dos processos eletrostáticos. 
 
 Uma vez separadas, as diferentes matérias plásticas podem conduzir, após fusão e adição de 
aditivos, à fabricação de canalizações elétricas tubulares e caminhos de cabos elétricos (PVC), etc. PE e 
PS podem conduzir, após extrusão, à peças moldadas, placas, etc. 
 
 
10. FIBRAS CELULÓSICAS DE RECUPERAÇÃO (FCR) 
 
 O consumo de papelão e de papéis em geral (jornal, revistas, domésticos embalagens, 
computador, etc) é bastante importante. Este gasto importante de papéis sensibilisa muito o público, 
sobretudo pela necessidade de preservação dos recursos florestais. A taxa de recuperação é medida 
pela [recuperação interior aparente/consumo geral]. Todo o segrêdo de melhoria da taxa de 
recuperaçãoestá no dominio da coleta seletiva e do mercado pois, a separação das FCR à partir dos 
resíduos urbanos brutos se debate contra custos econômicos elevados e uma qualidade insuficiente. 
 
 
É preciso observar também que os "contaminantes" se multiplicam nos papéis : matérias 
plásticas, cola, aluminio, tintas offset, metais, etc ..., o que não facilita a sua reciclagem. A valorização 
dos papéis usados está orientada para a fabricação de novos papéis assim como para a fabricação de 
alcool, e incorporação em outros materiais (painéis isolantes). 
 
12. CONDICIONADORES DE SOLO 
 
 
13 
 Os fertilizantes orgânicos desempenham um papel importante na agricultura, sobretudo no que 
diz respeito à melhoria da estrutura do solo, da capacidade de retenção em àgua, das propriedades 
drenantes, da aeração, etc. Assim, os resíduos urbanos constituem uma fonte de matéria orgânica 
muito solicitada. Existem várias opções, tais quais : 
a. Reutilização (após peneiramento) dos produtos de atêrros sanitários Os materiais extraídos podem 
ser utilizados na melhoria das condições dos solos. Estes produtos não recebem a denominação de 
composto. 
 
b. Valorização da componente orgânica fluida dos processos de separação de fase. Depois de alguns 
anos, alguns processos se desenvolvem, principalmente no exterior, consistindo na separação 
através de fortes pressões, das fases liquidas e sólidas dos resíduos. Esta ultima, pode dar origem a 
um condicionador por simples fermentação ao ar livre. 
 
c. Utilização do sub-produto da digestão em reatores - Os processos de digestão anaeróbia dos 
resíduos urbanos precedentemente evocados conduzem à um sub-produto utilizável como 
fertilizante agrícola. 
 
d. A Compostagem - A compostagem é, com a incineração e o atêrro sanitário, um dos tres processos 
de base de eliminação dos resíduos urbanos. Este modo de eliminação será objeto de curso 
detalhado. 
 
e. Lombricompostagem - As minhocas e outros vermes desempenham um papel importante nos 
ciclos naturais, remoendo os solos, ativando a mineralisação e umidificando os solos. Estes vermes, 
entretanto, podem ser os hospedeiros intermediários de numerosos microrganismos patogênicos 
para os animais. Eles podem também acumular substâncias tóxicas. 
 
 
14. ALIMENTAÇÃO PARA ANIMAIS 
 
 
 É sempre possivel, por meio de métodos mecânicos ou manuais, de isolar uma fração comestíel. É o 
caso, por exemplo, da usina de Roma ou da instalação piloto Revalord (França). Com efeito, é sobretudo 
a coleta separada dos resíduos que justifica a existência desta opção. 
 
 
15. TECNICAS DE MEIO AMBIENTE 
 
 
 As escórias de incineração dos resíduos urbanos tem propriedades especíicas que,em certas 
condições de utilização,permitem seu uso em depuração de efluentes poluídos. O efeito térmico, a 
presença de cal, as propriedades filtrantes e adsorventes permitem uma redução significativa do 
volume de efluentes e da carga poluente (metais, matérias oxidáveis, côr, odor, ...). 
 
 
 
 TECNICAS DE ELIMINAÇÃO 
 
17 - 18 - 19 Nós não abordaremos a incineração (17), os tratamentos químicos (18) e biológicos 
(19), que podem ser incluidos em cadeias completas de tratamento, para finalizar a enumeração das 
opções de tratamento com a técnica de atêrro sanitário. 
 
 
20. ATERRO SANITÁRIO 
 
14 
 
 Os atêrros sanitários, unica técnica de eliminação a receber a totalidade dos resíduos 
(incineração -25 à 30 %- e compostagem -15 à 30 %- apresemtam certas porcentagens de produtos não 
eliminados), são objeto depois de alguns anos de numerosos estudos e beneficiam de progressos 
significativos, o que lhe confere todas as qualidades de uma técnica industrial. 
 Numerosos livros e cadernos técnicos descrevem perfeitamente as prescrições técnicas na 
matéria : a escolha do local adequado, as regras de instalação em geral e as técnicas de exploração são 
bem estabelecidas. A proteção das àguas subterrâneas e superficiais é fator preponderante e devem ser 
controladas periodicamente (piezometros). As àguas de percolação devem ser coletadas, analisadas e 
tratadas. A gestão do biogas resultante da fermentação deve ser assegurada por dispositivos de 
drenagem e de coleta (o biogás deve se valorizado ou queimado no atêrro). 
 
 Tôdas as disposições devem ser tomadas para evitar a poluição sonora (máquinas e transporte), 
a dispersão pelo vento de papés e plásticos, a proliferação de insetos, roedores e aves. Em fim de 
exploração, o atêrro deve ser recoberto e ajardinado, de tal maneira que ele possa ser utilizado para 
outras finalidades (àreas de lazer, esporte, campos,...). Apesar de tôda esta "tecnicidade", é preciso 
constatar que a implantação de tais instalações incorre em problemas crescentes. Cada um apreciando 
mais esta técnica quando ela é instalada ao lado do vizinho menos próximo... 
 
 
5. CONCLUSÃO 
 
 
 Este rápido sobrevôo das opções de valorização dos resíduos urbanos não permitiu, talvez, de 
colocar em evidência a grande diversidade e totalidade dos esforços tecnológicos empregados depois 
de alguns anos para abordar com sucesso o tratamento deste material tão complexo; economia e 
psicologia não fazendo sempre um bom casamento com tecnologia e ecologia. Se o "ouro das latas de 
lixo" é provávelmente um mito, a presença destes "caros" resíduos não acabou ainda de excitar nossa 
imaginação. Ótimo !!! 
 
 
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