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Racismo, Pluralidade Cultural e Legislação no Brasil

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Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
9º Aula
Racismo, pluridade 
cultural e legislação
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• Compreender o que é racismo e a situação atual no Brasil;
• Conhecer a legislação que aborda o assunto;
• Entender a importância da pluralidade cultural no contexto educacional.
• Compreender o teor e a importância da Lei 10.639/2003 para a atuação do professor em sala de aula perante as mudanças 
no currículo oficial que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira.
• Definir o conceito de ações afirmativas.
• Identificar quais são as ações afirmativas referentes à diversidade cultural e racial.
• Compreender a contextualização histórica do continente africano 
• Identificar e reconhecer as línguas africanas no Brasil e o seu contexto educacional
• Promover um conhecimento sobre a música, dança, esporte e artesanato africano.
Boa aula!
Vamos debater alguns dados da situação do racismo 
no Brasil, abordando a pluralidade cultural e as legislações 
que obrigam a escola a incluir nos seus currículos conteúdos 
que dizem respeito à cultura afro-brasileira a indígena.
73
1 - O perfil da discriminação racial no Brasil.
2 - Mas, o que é etnia?
3 - A legislação.
4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003.
5 - educação para todos: políticas de ação afirmativa.
6 - Origem da história africana.
7 - Línguas africanas no Brasil.
8 - Diversidade musical: dança, esporte e arte.
Seções de estudo
1 - O perfi l da discriminação racial no Brasil
Ao longo de vários momentos da História do Brasil, os 
negros e os índios, entre outros grupos sociais, protestaram 
contra a discriminação e pelos seus direitos. Uma luta 
permanente, enquanto muitos se apegavam à ideia de que, 
talvez, vivêssemos num país onde não existisse qualquer 
contradição ou desarmonia, que descarta os incidentes de 
discriminação por considerá-los insignificantes às vítimas, 
dedicadas a perturbar a paz social.
Disfarçado, o racismo ainda é a forma mais clara de 
discriminação na sociedade brasileira, apesar de o brasileiro não 
admitir seu preconceito. “A emoção das pessoas, o sentimento 
inferior delas é que é racista. Quando racionalizam, elas não 
se reconhecem assim, não identificam em suas atitudes 
componentes de discriminação”, analisa Alcione Araújo, 
escritora e dramatista, citada por Bazé Lima (2010 p. 83). O 
brasileiro tem dificuldade de assumir o seu racismo devido 
ao processo de convivência cordial que distorce o conflito. 
Devido a isso, por estar dissimulado, é difícil de ser combatido.
A discriminação racial está espalhada pelo Brasil. Escola 
e mídia apresentam um modelo branco de valorização. O 
acesso aos espaços políticos, aos bens sociais, à produção 
de pensamento, à riqueza tem sido determinado pela lógica 
escravocrata.
ATENÇÃO
As práticas do racismo são diversas e se apresentam de 
diversas formas. Por meio das estatísticas sobre escolaridade, 
mercado de trabalho, criminalidade, presença nas artes e outros, 
pode-se perceber o problema na prática. 
A discriminação dá-se de duas formas: direta ou indireta.
Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que 
estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito 
expressado de maneira clara como, por exemplo, dar tratamento 
desigual, ou mesmo negar direitos a um indivíduo ou grupo 
determinado.
A discriminação indireta está internamente relacionada com 
situações aparentemente neutras, mas que criam desigualdades 
em relação a outrem. Esta última maneira de preconceito é a 
mais comum no Brasil.
É espantosa a naturalidade com que as pessoas — mesmo 
as públicas, dotadas de cargos importantes da sociedade, e as 
pessoas mais esclarecidas — manifestam seus preconceitos. 
Elas parecem não perceber o que estão fazendo e como 
colaboram para a internalização do preconceito, já que suas 
falas são tidas como verdade.
Discriminados e marginalizados, o negro e o índio 
perante a sociedade tem uma imagem de desqualificado, 
incapaz, impondo-se-lhe a restrição do mercado de trabalho. 
Em posições aquém da merecida, sofre com maior 
intensidade a situação socioeconômica intensa do desemprego, 
marcado pelo estigma de ser preto ou pardo.
Na sociedade capitalista, onde se sobressaem as 
desigualdades sociais, a reprodução dessa situação impede a 
mobilidade social do negro, percebendo, estes, rendimentos 
de trabalho inferiores aos percebidos pelo branco e sendo 
associados a trabalhos menos qualificados, ocupando, 
principalmente, posições menores, em setores de menor 
status social. Através do preconceito, a mão-de-obra negra é 
direcionada para trabalhos domésticos e pesados. A sua cor 
é fator determinante, sobrepondo-se à sua competência ou 
formação.
O quadro que ora traçamos é decorrente de um 
processo de ausência de conscientização entre as pessoas, e 
esse resultado é acusado no debate da discriminação racial, 
principalmente no âmbito das instituições públicas e sociais. 
Alguns chegaram a afirmar que era impossível, até mesmo, 
mencionar o tema e, muito menos, pensar em mudança. 
O tema Discriminação racial e de gênero ainda aparece como assunto 
esquecido, que não precisa e não deve ser tratado. 
É temido porque significa mudança de status quo, uma 
ameaça aos direitos adquiridos por pessoas em seus locais de 
trabalho e até mesmo transtorno às normas e aos privilégios 
estabelecidos. 
Essas são algumas razões por que o tema é evitado ou, 
quando abordado, é minimizado. Milhões de seres humanos 
— negros, índios, mulheres, etc. — tiveram e ainda têm suas 
vidas afetadas negativamente pela discriminação racial e de 
gênero, mas o quadro, felizmente, está mudando e exige dos 
novos gerentes públicos, privados e administradores uma 
postura de mudança organizacional. É uma questão de tempo 
e de sobrevivência.
Os esforços para a mudança organizacional também 
estão levando em conta a necessidade de abordar, discutir e 
ampliar a nossa reflexão sobre o tema. 
No enfoque sobre relações raciais, a maioria das pessoas 
trabalha com suas experiências de vida e com seu senso 
comum. 
Assim a discriminação não é muito bem entendida, 
muito menos se sabe como se manifesta; daí o brasileiro 
afirmar que há racismo e discriminação na sociedade, mas, 
individualmente, ter dificuldade de afirmar atitudes e práticas 
racistas.
Portanto, há um preconceito em se reconhecer que 
há preconceitos — quem discrimina é sempre “o outro”. 
Além disso, todos discriminam ou são discriminados de 
alguma forma. As respostas têm de ser procuradas nos que 
74Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
discriminam, não nas vítimas ou nos discriminados, que 
sofrem muitas arbitrariedades, sob os mais mesquinhos 
pretextos.
3 - A legislação
2 - Mas, o que é etnia
4 - Refl exões sobre a lei 10.639/2003
Durante muito tempo, fomos acostumados a classificar 
pessoas usando categorias baseadas na cor da pele, na textura 
do cabelo, nos traços físicos, etc. Assim, criou-se o senso 
comum das três raças distintas: amarela, negra e branca. 
O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, 
p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres 
somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio 
e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se 
transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo 
para indivíduo”.
O que signifi ca tratar os “diferentes” enquanto “iguais”?
CONCEITO
Etnia é “um grupo biológico e culturalmente homogêneo” (DICIONÁRIO 
AURÉLIO, 1986, p.733). 
Mas, como não somos homogêneos, as culturas não 
estão condicionadas à nossa aparência física. Assim, etnia 
também não pode ser usada isoladamente para classificar ou 
determinar os humanos, pois as culturas não são estáticas nem 
puras, uma vez que as fronteiras não existem, possibilitando a 
inter-relação das tradições e dos costumes entre pessoas que 
partilham de uma mesma sociedade.
Em nossa sociedade, houve a tentativa de imposição 
da cultura branca, mas isso não tem sido possível, poisa 
resistência dos negros e índios fez produzir o que podemos 
chamar de cultura brasileira. 
Portanto, é importante afirmar que no Brasil estão 
presentes manifestações culturais desses três grupos 
étnico-raciais formadores dessa sociedade. Raciocinando 
dessa forma, não podemos supor a superioridade de um 
determinado grupo — o branco — em detrimento de um 
outro — negro ou índio —, uma vez que vivemos num 
caldeirão cultural.
Inserida, então, nesse mar de diversas culturas, 
resolvemos adotar a terminologia étnico-racial, uma vez que 
tais conceitos já fazem parte da cultura brasileira.
Como medida de valorização dessa pluralidade cultural 
o governo brasileiro instituiu uma legislação que obriga a 
escola a incluir no conteúdo a história e cultura afrobrasileira 
e indígena.
A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino 
da história e da cultura indígena e afrobrasileira nas escolas de 
ensino fundamental e médio, particulares e públicas do Brasil 
A lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996, que 
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 
A Lei 11.645 inclui no currículo oficial da rede de ensino 
a temática “História e Cultura Afrobrasileira e Indígena”. 
Isso quer dizer que o ensino da História Brasileira deverá 
considerar e relatar as contribuições das diferentes culturas e 
etnias para a formação da população brasileira, em especial as 
matrizes indígena, africana e europeia. 
A Lei representa a intenção do governo brasileiro de 
reparar o tratamento de exclusão recebido pelos povos africano 
e indígena ao longo do tempo, com o objetivo de combater a 
ideia etnocêntrica de que existe um único modelo civilizatório 
que inferioriza a diferença.
Nota-se o desafio que a lei imprime, pois para que seja 
funcional é preciso que ela interaja com o currículo. Então 
colocamos em discussão: a escola está preparada para isso?
Conscientização!
Esta é a mola mestra na formação do perfil de um professor 
que se compromete a combater o racismo, o preconceito e a 
discriminação, os quais não produzem nenhum benefício para 
a escola ou a sociedade. 
 Ao adotarmos uma postura combativa, percebemos 
que estamos lutando contra algo que, na maior parte das 
vezes, encontra-se mascarado atrás de valores historicamente 
cultivados e normas sociais devidamente estabelecidas. Elas 
influenciam o agir e o pensar da etnia dominante sobre a etnia 
dominada .
Ainda hoje, muitos profissionais não compreendem a 
importância que caracteriza o encontro de diferentes etnias por 
acreditarem que, ao não promoverem ações discriminatórias, 
elas não existam. Caso a discriminação aconteça, pensam 
que quanto mais salientarmos, mais discriminação estaremos 
gerando. Tal ideologia deve ser modificada, pois a sua 
permanência significa não dar voz ao aluno negro, índio, 
asiático e outros, e estigmatizar o preconceito.
4.1 - Tratando o “diferente” de maneira 
diferente
Historicamente a sociedade brasileira vem tratando os 
diferentes enquanto iguais, e, o que se vê de fato é a permanência 
das grandes desigualdades sócio-raciais. Mas como ocorre isso? 
Ou melhor, por que problematizar a igualdade na diferença, se 
tudo que se busca é uma sociedade igualitária? E mais, qual é 
a validade desse questionamento no atual contexto brasileiro?
Trazer o diálogo dos diferentes enquanto desiguais para, 
aí sim, buscarmos de fato a igualdade implica em entender 
que a diferença tem a ver com possibilidades, ou seja, com as 
condições de acesso aos recursos materiais da sociedade, e não 
com identidade.
Então, como contextualizar a partir do olhar da 
complexidade que nos impõe a nova agenda de discussões 
culturais, de modo a provocar rupturas nos valores 
hegemonizados pelo culturalismo, as discussões emergentes 
a partir do atravessamento do discurso da diversidade 
sociocultural brasileira?
É nessa busca de possibilidades que trago a Lei 10.639, 
75
de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei 9.394/1996, que 
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para 
incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade 
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, que em seu 
Art. 26-A, no caput § 1º do conteúdo programático, inclui o 
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros 
no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da 
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro 
nas áreas social, econômica e política pertinentes à História 
do Brasil, neste momento intelectual e político efervescente 
do qual emergem reflexões e ações paradoxais que expõem e 
propõem o quanto de efervescência e paradoxalidade constitui 
e institui o que chamamos de realidade. Ao termos consciência 
ou ciência dessa realidade, permite-nos salientar que o povo 
brasileiro é constituído de uma diversidade e pluralidade que 
nos torna singular. 
Essa singularidade trazida sob a égide das reparações 
ao povo negro necessita ser percebida pela sua diversidade, 
e por que não dizer, também, sua singularidade. E retratar 
essa heterogeneidade é importante como mecanismo para 
reconstituir a alteridade do negro brasileiro assujeitado pela 
homogeneidade de seus costumes e tradições culturais e 
linguísticas.
Nesse sentido, ao trazer a Lei 10.639, com a perspectiva 
de trabalhar na formação de professores para a diversidade 
étnico-racial, significa não apenas possibilitar o aprendizado 
de uma cultura que é baseada na oral, mas a constituição 
da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade dos 
conhecimentos da história e da cultura do negro no Brasil.
Pensar na formação docente como mecanismo de dar 
conta da demanda trazida pela Lei 10.639 pressupõe, antes 
de tudo, descrever de que “lugar” e “olhar” falamos, ou seja, 
implica em dizer que em nome da diversidade étnico-racial é 
preciso adotar nova postura frente ao processo educacional. 
Ao analisar qual concepção está presente e se impõe ao 
sujeito social histórico, como nos diz Brandão (1986), de um 
lugar Generalizante (com uma posição social abstrata) como 
o historicamente definido, ou Significativo no qual damos 
atenção aos seus sentimentos, pensamentos, expectativas e a 
sua realidade.
Segundo, ainda, Brandão, a prática educacional catequética 
do passado que destrói na vida, na consciência e na cultura, 
a diferença do outro de “mim”, necessita ser abolida, porque 
ela é responsável pela cristianização do índio, pelo batismo do 
negro e pela opressão das mulheres. Necessita-se pensar 
em um processo educacional que ressignifique a cultura e a 
identidade das diversas culturas.
A educação, longe de ser uma prática desinteressada e 
neutra, é um importante instrumento de reprodução social que 
impõe ao educando o modo de pensar considerado correto, a 
maneira “científica”, “racional”, “verdadeira” de se entender e 
explicar a sociedade, a família, o trabalho, o poder, bem como 
os modelos sociais de comportamento.
4.2 - Ainda sobre a legislação
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define 
como finalidade da educação básica, “desenvolver o educando, 
assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da 
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e 
em estudos posteriores”. Culminado a isso, a Lei 10.639 de 
janeiro de 2003, que em seus artigos 26-A, 79-A e 79-B, institui 
nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais 
e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e 
Cultura Afro-Brasileira. E ainda, os conteúdos referentes à 
História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito 
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação 
Artística e de Literatura e História Brasileira.
A formação de professores para dar conta da 
implementação desta Lei, se dá no contexto atual do 
estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações 
Afirmativas para população afrodescendente e indígena, 
através do protagonismo central doPrograma Diversidade na 
Universidade do Ministério da Educação (2001), da Secretaria 
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da 
Presidência da República - SEPPIR (2003), da Fundação 
Cultural Palmares do Ministério da Cultura - FCP/Minc 
1998 - Governo Fernando Henrique Cardoso, do Conselho 
Nacional de Combate à Discriminação da Secretaria Especial 
de Direitos Humanos do Ministério da Justiça - CNCD/
SEDH/MJ (2001).
Essa configuração política de políticas encontra sua 
história nos vários tratados internacionais de Direitos 
Humanos, assinados pelos governos brasileiros desde 1944 
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e as 
Convenções Internacionais Sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação Racial, de 1969, que introduz 
o princípio da discriminação positiva (consignado na atual 
Constituição brasileira) sustentando:
→ o dever do estado de erradicar a marginalização e as 
desigualdades;
→ o estabelecimento de prestações positivas em prol da 
promoção e integração de segmentos desfavorecidos e 
→ a prescrição da discriminação justa para compensar 
a desigualdade de oportunidade ou fomentar setores 
considerados prioritários. 
Também encontra sua história tanto na ação e organização 
das entidades e grupos do Movimento Negro, quanto nas 
pesquisas e reflexões acadêmicas sobre as questões étnico-
racial, estas tendo como fundamento teórico-metodológico 
tanto as inspirações e aspirações provenientes dos intelectuais 
do próprio Movimento Negro, quanto aquelas poucas voltadas 
ao cotidiano vivido por uma população negra, que está incluída 
nas contradições e paradoxos históricos dos quais é parte 
singular, o que escapa de uma perspectiva homogeneizante e 
parte fundante, e desrespeitosa da vitimização.
As novas bases materiais que caracterizam a produção 
(reestruturação produtiva), a economia (globalização) e 
a política (neoliberal) trazem profundas implicações para 
a educação deste século, uma vez que cada estágio de 
desenvolvimento das forças produtivas gesta um projeto 
pedagógico que corresponde às suas demandas de formação 
de intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores. 
Aos educadores cabe, dada a especificidade de sua função, 
fazer a leitura e a necessária análise deste projeto pedagógico 
em curso, de modo a tomar por base as circunstâncias 
concretas, participar da organização coletiva em busca da 
construção de alternativas que articulem a educação aos 
demais processos de desenvolvimento e consolidação de 
76Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
relações sociais verdadeiramente democráticas. 
5 - Educação para TODOS: políticas de 
ação afi rmativa
O artigo acima 
mencionado, autoria de 
Dircenara dos Santos Sange, 
tem como foco apresentar 
uma discussão atual a respeito 
do tema das ações afirmativas 
como políticas públicas. Essa 
temática vem se inscrevendo 
na agenda nacional de maneira 
definitiva no que tange os negros brasileiros: da Lei Federal 
10.639/03, dos programas de cotas nas Instituições de 
Ensino Superior, na reserva de vagas para afrodescendentes 
nos concursos públicos, nos NEAB’s (Núcleos de Educação 
Afro-brasileiras), entre outros.
No entanto, precisamos ainda comprovar com as 
pesquisas realizadas pelos órgãos oficiais o abismo social 
existente entre brancos e negros na nação brasileira. A 
diferença é revelada através dos dados, ficando evidente quais 
os indivíduos que estão situados nos piores percentuais na 
escola, no mercado de trabalho, nas condições básicas de vida.
Com base nas pesquisas que apresentam a discrepância 
nos números entre os brasileiros, percebemos a necessidade 
de meios que possibilitem erradicar ou minimizar as 
desigualdades existentes entre os cidadãos. Para tanto, as 
políticas de ações afirmativas seria uma das possibilidades 
para mudar esse quadro.
Mais especificamente, no aspecto educacional, a 
partir do ano de 2003, temos a Lei Federal assinada pelo 
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que traz a História e 
Cultura Afro-brasileira e Africana e as Relações Raciais como 
obrigatoriedade nas escolas brasileiras.
Para finalizar essa introdução, apresento os aspectos 
que serão abordados neste artigo: começo trazendo alguns 
percentuais das pesquisas na área educacional. Após, situo as 
políticas de ação afirmativa no cenário mundial. Continuando, 
trago o conceito de ação afirmativa, e no término desse 
trabalho, abordo a Lei 10.639 e as possibilidades que esta 
oferece pela primeira vez na história da educação brasileira.
5.1 - Conhecendo a realidade dos dados
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 
mostra, em números, uma retrospectiva feita na década 
de 90 do século passado, com a categoria cor no Brasil. A 
população brasileira compõe-se de 54% de brancos e 45% de 
não brancos, ou negros (somando-se pretos e pardos), (Brasil, 
Ministério do Planejamento e Orçamento, 2000).
Cabe ressaltar que houve uma mudança significativa 
nessa afirmação, visto que os indivíduos ao se declararem 
segundo a sua cor ou raça têm demonstrado um outro olhar, 
de 1993 a 2003 nas pesquisas realizadas. 
Conforme consta na reportagem intitulada “Síntese dos indicadores 
sociais traz um retrato do Brasil em 2003” no site do IBGE:
Doutoranda e Mestre em 
Educação pela Universidade 
Federal do Rio Grande 
do Sul, Especialista em 
Gestão Educacional – UFSM, 
Pesquisadora do TRAMSE 
(Trabalho, Movimentos Sociais 
e Educação) e Conselheira da 
Organização de Mulheres Negras 
– Maria Mulher.
A população que se declarara branca sofreu 
redução de 2%, passando de 54,3% para 
52,1%, enquanto os percentuais de pretos (de 
5,1% para 5,9%) e pardos (de 40% para 41,4%) 
cresceram. No Nordeste, a participação de 
pretos passou de 5,2% para 6,4% no período. 
No Sul, essa proporção passou de 3% para 
3,7% e, no Centro-Oeste, de 2,8% para 4,5%. 
Os pardos também tiveram aumento: no 
Sudeste, sua proporção, que era de 27,7% 
em 1993, subiu para 30,3%; no Sul, de 12,1% 
para 13,4%; e no Centro-Oeste, de 48,9% para 
51,8%.
Esses dados apontam o aumento do número de negros se 
autodeclarando como tal, e mais precisamente na região sul do 
país o quadro fica assim constituído: 3,7% para pretos e 13,4% 
para pardos, totalizando 17,1% de negros ou não brancos.
Com base nos dados nacionais, destaco a área educacional 
como foco do estudo. Quando consideramos a taxa de 
analfabetismo, a dos negros é de 16,9% e a dos brancos é de 
apenas 7,1%. Segundo o Censo de 2000, dados sobre nível 
de instrução por raça revelam: 18% dos pretos e 14,5% dos 
pardos estudaram por menos de um ano na vida contra 7,5% 
dos brancos e 6% dos amarelos. Entre aqueles que estudaram 
mais de 11 anos, os brancos são 25% e os amarelos 47%, os 
pretos apenas 11% e os pardos 12%.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais 
Anísio Teixeira (INEP) destaca no seu Informativo nº 88 de 
11 de maio de 2005 a pesquisa realizada pelo Pnad (Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios, 2003) / IBGE menciona 
que: pretos e pardos, na faixa etária de 15 a 17 anos, que não 
concluíram o ensino fundamental somam 63,6%, enquanto os 
brancos e amarelos na mesma faixa são 37,8%. 
Na faixa seguinte – de 18 a 24 anos – na mesma situação 
de desvantagem na escolarização: há 44,3% de pretos e pardos 
contra 23,1% de brancos e amarelos.
Partindo do pressuposto de que a população de 15 
anos ou mais que não concluiu o ensino fundamental é 
predominantemente pobre, é razoável supor que pretos e 
pardos pobres estão em pior situação do que os brancos e 
amarelos pobres. Nesse ponto do texto cumpre destacar os 
percentuais que revelam a questão não sendo simplesmente de 
classe social, mas também de cunho racial: Em 1999, entre as 
famílias brancas pobres, vemos que 21% das crianças de 7 anos 
não frequentam a escola, enquanto que esse valor é de 30,5% 
entre as famílias negras pobres.
Analisando a população brasileira como um todo, 
constatamos que apenas 20,4% dos alunos de 15 anos 
conseguem finalizar essenível de ensino. Quando consideramos 
essas informações sob o recorte racial, observamos que 29,2% 
dos brancos completam o ensino fundamental e apenas 11,5% 
dos negros chegam a este resultado. 
Após essa breve contextualização de dados estatísticos 
confirmando a desigualdade entre brancos e negros na 
educação e na sociedade de maneira geral, passo a discutir as 
políticas de ação afirmativa como uma forma de superação 
desse quadro.
5.2 - Política de ação afirmativa, algumas 
77
referências
Esta parte do texto situa os primórdios da ação afirmativa 
como sendo uma política já implantada em outros países 
e, no caso brasileiro, estamos começando a reclamar essa 
possibilidade. Em 1963, nos Estados Unidos, no governo de 
John Kennedy, já existiam políticas de ação afirmativa nas 
universidades.
No Brasil tivemos a Lei do Boi de 1968 que dizia: “Os 
estabelecimentos de ensino médio agrícola e as escolas 
superiores de agricultura e veterinária, mantidas pela União, 
reservarão anualmente, de preferência, cinquenta por cento 
de suas vagas a candidatos agricultores ou filhos destes, 
proprietários ou não de terras, que residam com suas famílias 
na zona rural, e trinta por cento a agricultores ou filhos destes, 
proprietários ou não de terras, que residam em cidades ou vilas 
que não possuam estabelecimentos de ensino médio” (Gomes, 
2003, p. 17).
Temos também as leis que garantem uma cota mínima de 
30% de mulheres entre os candidatos de cada partido político 
para eleições em qualquer nível da federação. Verificam-
se políticas de ação de afirmativa nos concursos públicos: 
no município de Porto Alegre, Viamão, Bagé, Caxias do Sul 
(esses são do Estado do Rio Grande do Sul), entre outros no 
restante do país. Existem quatorze universidades públicas que 
implementaram cotas até o momento, são:
Universidade de Brasília, Universidade Federal do Paraná, 
Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal de 
Juiz de Fora, Universidade Federal de Alagoas, Universidade 
Federal da Bahia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
Universidade Estadual da Bahia, Universidade Estadual 
de Mato Grosso do Sul, Universidade Estadual Amazonas, 
Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de 
Mato Grosso, Universidade Estadual Montes Claros.
5.3 - Conceituando as políticas de ações 
afirmativas
Dando continuidade a respeito das discussões sobre 
ações afirmativas, não podemos perder de vista os conceitos 
que são atribuídos a essas políticas. Nos casos citados acima se 
pode entender como políticas de ação afirmativa porque são 
emanadas do poder estatal. Quero enfatizar dois conceitos que 
se complementam e que caminham na mesma linha. Guimarães 
(1999, p. 153) define a ação afirmativa como “programas 
voltados para acesso de membros de minorias raciais, étnicas, 
sexuais ou religiosas a escolas, contratos públicos e postos de 
trabalho”.
Outro conceito que converge neste olhar ajudando-nos 
a entender as ações afirmativas, conforme Joaquim B. Gomes 
(2005): podem ser definidas como um conjunto de políticas 
públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou 
voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação 
racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, 
bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da 
discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a 
concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens 
fundamentais como educação e o emprego.
Com base nos conceitos entende-se a Lei Federal 
10.639/03, por meio da obrigatoriedade da temática de 
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, como uma 
política em que as escolas tanto públicas quanto privadas 
devem fazer cumprir as letras da lei. Essa Lei é fruto das lutas 
há tempos reclamadas pelo Movimento Negro Brasileiro para 
que a história do povo negro na formação e construção da 
nação viesse a ser estudada pela comunidade escolar. 
5.4 - Novos horizontes – política 
de ação afirmativa através da Lei 
10.639/03
Desde o dia 9 janeiro de 2003 foi promulgada a Lei 
Federal 10.639 que altera a Lei 9.394 de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino 
a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
Brasileira”.
A lei 9.394 passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 
26-A, 79- A e 79-B:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental 
e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino 
sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1º. O conteúdo programático a que se refere o caput 
deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos 
Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira 
e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a 
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e 
política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º. Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo 
escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de 
Literatura e História Brasileira. 
Art. 79-A. (Vetado);
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de 
novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. 
Depois de feita a explicitação do que diz a lei, destaco 
rapidamente ainda o artigo 79-A que foi vetado e que tratava 
em seu conteúdo de um item fundamental para que a lei 
fosse realmente apropriada pelo corpo docente das escolas: 
a formação de professores. Nesse sentido, gostaria apenas 
de fazer uma reflexão que merece talvez, um outro artigo, 
porque justamente onde deveria haver o comprometimento 
das instâncias governamentais na formação dos professores 
com relação à lei o artigo é vetado?
Seguindo na legislação, o Conselho Nacional de Educação 
(CNE/CP Resolução 1/2004) institui:
Art.1º A presente Resolução institui Diretrizes 
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira 
e Africana, a serem observadas pelas instituições de ensino, 
que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, 
em especial, por instituições que desenvolvem programas de 
formação inicial e continuidade de professores. 
Com isso, as secretarias de educação e os cursos de 
formação de professores estão comprometidos a abordarem 
o assunto de maneira responsável para que a lei seja 
adequadamente implementada nas escolas de todo o país. 
A educadora Jeruse Romão em entrevista ao Jornal Irohin 
78Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
destaca seis desafios para implementação da Lei. Um deles 
diz respeito justamente à formação de professores e sua 
preocupação com o assunto: “Estamos escrevendo um 
capítulo sem precedentes na história da educação do país. 
Um capítulo em que os excluídos retornam à escola para 
ensinar/educar o sistema que os exclui. [...] recomendo que 
as organizações negras brasileiras com excelência no tema de 
educação se conveniem com os sistemas de educação formais 
e certifiquem estes [...]”.
Dessa forma, não podemos 
tratar esta Lei como um curso/
oficina/seminário de tantas horas 
depois ser esquecida pelas escolas. 
A Lei deve ser abordada na escola 
durante todo o ano, e não somente 
em novembro (mês que reflete o Dia 
Nacional da Consciência Negra). 
Deve estar incluída no currículo, 
no projeto político-pedagógico, nas 
reuniões de formação de professores 
e outros espaços que for possível o 
tema ser discutido, inclusive na sala 
de aula pensando numa educação para todos, que não exclua 
o ALUNO NEGRO.
Fonte: http://www.
antroposmoderno.com/antro-
articulo.php?id_articulo=527
6 - Origem da história africana
A ausência da História Africana é uma das lacunas de 
grande importância nos sistemas educacionais brasileiros. 
Essa ausência tem quatro consequências sobre a população 
brasileira. A ausência de uma história Africana, em primeiro 
lugar, retira a oportunidade dos afrodescendentesde construir 
uma identidade positiva sobre as suas origens. Alimenta um 
universo do africano e afrodescendente como ignorante, 
inculto, incivilizado. 
A História do Brasil, após l500, é uma consequência das 
histórias Indígenas, Africanas e Europeias. As tecnologias, 
costumes, culturas, propostas políticas trazidas pelos 
Africanos ficam difíceis de ser reconhecidas e integradas 
devidamente na história nacional, pelo desconhecimento da 
base Africana. Muitas das realizações do povo africano no 
Brasil ficam subdimensionadas ou não reconhecidas, dado 
o tamanho da ignorância reinante no país sobre as nossas 
origens africanas. Não é possível uma história brasileira justa 
e honesta sem o conhecimento da história Africana.
Apresentaremos aqui, então, algumas informações 
introdutórias, porém, pouco conhecidas por grande parte do 
contingente da população. A história desses povos é muito 
rica e deve ser investigada, buscada, conhecida. E cabe a nós, 
no espaço da sala de aula, instigar essa busca. 
6.1 - O continente africano
O continente africano possui uma grande variedade de 
línguas, costumes e religiões, trajes, pinturas, tecidos e marcas 
de cada grupo: túnicas, turbantes, tecidos coloridos, chapéus, 
lenços e véus.
Você sabe onde fi ca o continente africano?
A África forma, com a Europa e a Ásia, o conjunto de 
continentes conhecido como Velho Mundo. É o segundo 
continente em tamanho, são 303 096 77 quilômetros 
quadrados, que equivalem a cerca de 22% das terras emersas 
do planeta (Disponível em http://websmed.portoalegre.
rs.gov.br). Acesso em 26 de fevereiro de 2012.
O continente africano ocupa uma posição interessante na 
Terra. Cortado pelo Equador e pelo Meridiano de Greenwich, 
é o único que se estende pelos quatro hemisférios - norte, sul, 
leste e oeste. 
É o único também cortado pelos dois Trópicos - o de 
Cancêr ao norte e o de Capricornio ao sul. Essa posição 
influi muito no clima, na vegetação, na hidrografia e no solo - 
elementos que formam as variadas paisagens naturais africanas.
Uma rede de transporte foi implantada, voltada não para 
integrar o continente ou as diversas região de cada pais, mas 
sim para ligar a África ao mercado internacional. As primeiras 
rodovias e ferrovias ligam em geral as áreas minerais aos 
principais portos exportadores
As ferrovias africanas foram construídas como apoio 
à exploração de recursos naturais. Assim, a maior parte só 
possibilita o transpote do interior para cidades costeiras, 
deixando isoladas grandes áreas do continente: cinco países 
do interior não possuem ferrovias. O acesso pelos rios Congo, 
Nilo e Niger é limitado, pois eles são repletos de cachoeiras e 
cataratas, o que impede a sua navegação total. Muitas estradas 
foram abertas nos anos 1960 e 1970, mas os problemas 
econômicos dificultam sua manutenção e expansão.
Religião e idioma - Ao lado de cultos animistas, praticam-
se o islamismo, o cristianismo e o hinduísmo. Predominam 
as línguas e os dialetos dos troncos africanos. É grande a 
influência do português, do francês e do inglês, idiomas dos 
principais grupos colonizadores.
A África do Sul é constituída por 11% de Mestiços, 29% 
de Brancos e 60% de negros. Apesar de a África ser conhecida 
como o continente negro, quase um terço de seus habitantes, 
especialmente os povos que residem na parte norte, são 
brancos. Dois terços da população, constituída por africanos 
negros concentram-se, em geral, ao sul do Saara.
De maneira geral, a parte norte da África Branca é 
constituída por povos muçulmanos, isto é, praticam a religião 
islâmica e, em sua maioria, falam o idioma árabe. A presença 
dos árabes nessa parte do continente data de 641 d.c., quando 
os povos muçulmanos se expandiram e conquistaram o Egito. 
A África do Sul é referência mundial em áreas como 
ciências sociais, habitação, saneamento básico, saúde pública, 
ecologia, botânica e zoologia. O que mais chama a atenção 
do país que se livrou do Apartheid é a diversidade de raças, 
religiões e línguas, ao todo são onze os idiomas oficiais. 
6.2 - Escravidão
A substituição da mão de obra escrava indígena pela 
africana no Brasil colônia ocorreu, progressivamente, a 
partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à 
escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, 
além da morte de uma parcela significativa deles. Segundo o 
historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil índios, 
entre os anos 1562 e 1563. 
As causas eram doenças contraídas pelo contato com os 
79
brancos, especialmente os jesuítas: sarampo, varíola e gripe, 
para as quais não tinham defesa biológica. 
Outro fator bastante importante, se não o mais importante, 
na substituição de mão de obra indígena pela africana, era 
a necessidade de uma melhor organização da produção 
açucareira, que assumia um papel cada vez mais importante na 
economia colonial. Para conseguir dar conta dessa expansão e 
demanda externa se fez necessária uma mão de obra cada vez 
mais especializada, como a dos africanos, que já lidavam com 
essa atividade nas propriedades dos portugueses, no litoral da 
África, também como escravos.
6.3 - Religião
A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. 
Sempre foi e é usada ainda nesse sentido. Isto explica muitas 
coisas. O africano foi arrancado de sua terra e vendido como 
uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto. 
De sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele 
perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua 
história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Essas 
sementes, esses conhecimentos encontraram um solo, uma 
terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. 
O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia 
ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais 
tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões 
do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. 
Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos.
Os trezentos anos da história da escravidão do africano 
no Brasil atestam, acima de tudo, a resistência, a organização 
dos negros. A cultura africana sobreviveu no negro através 
de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é 
mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação 
limite. A religião, sua organização em terreiros, a resistência 
negra; resistiu-se por haver organização, a organização consigo 
mesmo. 
Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve um farol, 
um guia, um orixá protetor. No meio dos “objetos” traficados 
(os escravos) havia joias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes 
sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. 
A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob 
a forma de terreiros de candomblé. 
Podemos afirmar que a cultura do candomblé no Brasil 
nasceu nas senzalas com a junção de povos (africanos) com seus 
costumes e crenças (orixás), provenientes de milhões de negros 
de diversos países e cidades africanas, trazidos (arrancados) 
de seus lares e de suas famílias para trabalhar nas plantações 
de cana e café das cidades baianas, cariocas e paulistanas, e 
posteriormente nos exércitos e fazendas de fronteiras do Rio 
Grande do Sul.
6.4 - Quilombos - resistência
Uma das mais importantes formas de resistência à 
escravidão, os quilombos se formaram em regiões de grande 
concentração de escravos, durante o período mais intenso do 
tráfico. Embrenhados nas matas e terras virgens, os núcleos se 
transformavam em prósperas aldeias. Quilombolas: habitantes 
dos quilombos.
Zumbi dos Palmares, o maior ícone da resistência 
negra ao escravismo no Brasil.
Zumbi, símbolo da resistência negra
Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência 
Negra. A data - transformada em Dia Nacional da Consciência 
Negra pelo Movimento Negro Unificado em 1978 - não foi 
escolhida ao acaso e sim como homenagem a Zumbi, líder 
máximo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência 
negra, assassinado em 20 de novembrode 1695.
O Quilombo dos Palmares foi fundado em 1597, por 
cerca de 40 escravos foragidos de um engenho situado em 
terras pernambucanas. Em pouco tempo, a organização 
dos fundadores fez com que o quilombo se tornasse uma 
verdadeira cidade. 
Os negros que escapavam da lida e dos ferros não 
pensavam duas vezes: o destino era o tal quilombo cheio de 
palmeiras. 
Com a chegada de mais e mais pessoas, inclusive 
índios e brancos foragidos, formaram-se os mocambos, que 
funcionavam como vilas. 
O Mocambo do Macaco, localizado na Serra da Barriga, 
era a sede administrativa do povo quilombola. Um negro 
chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos 
Palmares. 
Alguns anos após a sua fundação, o Quilombo dos 
Palmares foi invadido por uma expedição bandeirante. Muitos 
habitantes, inclusive crianças, foram degolados. Um recém-
nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a 
Antônio Melo, um padre da vila de Recife.
O menino, batizado pelo padre com o nome de Francisco, 
foi criado e educado pelo religioso, que lhe ensinou a ler e 
escrever, além de lhe dar noções de latim e o iniciar no estudo 
da Bíblia. Aos 12 anos o menino era coroinha. Entretanto, a 
população local não aprovava a atitude do pároco, que criava 
o negrinho como filho e não como servo.
Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, 
Francisco não se conformava em ser tratado de forma 
diferente por causa de sua cor. E sofria muito vendo seus 
irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos 
80Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
e praças públicas. Por isso, quando completou 15 anos, 
o franzino Francisco fugiu e foi em busca do seu lugar de 
origem, o Quilombo dos Palmares.
Após caminhar cerca de 132 quilômetros, o garoto 
chegou à Serra da Barriga. Como era de costume nos 
quilombos, recebeu uma família e um novo nome. Agora, 
Francisco era Zumbi. Com os conhecimentos repassados 
pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em inteligência 
e coragem. Aos 17 anos tornou-se general de armas do 
quilombo, uma espécie de ministro de guerra nos dias de hoje.
Com a queda do rei Ganga Zumba, morto após acreditar 
num pacto de paz com os senhores de engenho, Zumbi 
assumiu o posto de rei e levou a luta pela liberdade até o final 
de seus dias. Com o extermínio do Quilombo dos Palmares 
pela expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge 
Velho, em 1694, Zumbi fugiu junto a outros sobreviventes 
do massacre para a Serra de Dois Irmãos, então terra de 
Pernambuco. 
Contudo, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi traído 
por um de seus principais comandantes, Antônio Soares, que 
trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo. Zumbi foi 
então capturado e torturado. Jorge Velho matou o rei Zumbi 
e o decapitou, levando sua cabeça até a praça do Carmo, na 
cidade do Recife, onde ficou exposta por anos seguidos até 
sua completa decomposição. 
“Deus da Guerra”, “Fantasma Imortal” ou “Morto 
Vivo”. Seja qual for a tradução correta do nome Zumbi, o seu 
significado para a história do Brasil e para o movimento negro 
é praticamente unânime: Zumbi dos Palmares é o maior ícone 
da resistência negra ao escravismo e de sua luta por liberdade. 
Os anos foram passando, mas o sonho de Zumbi permanece 
e sua história é contada com orgulho pelos habitantes da 
região onde o negro-rei pregou a liberdade.
Fontes: Dpnet.com.br O Dia On-Line Feranet21.com.br
Mais do que explicar a existência de Zumbi, a 
historiografia precisa contar da avançada organização de 
Palmares. Enquanto a elite acabava com o solo do Nordeste 
com a monocultura da cana de açúcar, os negros do Quilombo 
plantavam algodão, milho, mandioca, feijão, legumes, batatas 
e frutas. Era dividido em repúblicas, com organização política 
e econômica apoiada na experiência tribal africana para 
estabelecer formas de governo. Talvez o medo de organizações 
como essa, muito superiores às dos brancos ocidentais, 
levaram as elites a promoveram o massacre dos quilombos e 
deixar aos seus descendentes a imagem da subraça. Durante 
quatro séculos, os negros foram tratados como mercadoria, 
grande parte da historiografia acabou retratando o negro 
como ser passivo, disposto a aceitar o seu destino como o 
gado a caminho do matadouro. Seria complicado reconhecer 
nele um ser humano que luta pela própria liberdade e ainda 
assim justificar a escravidão.
6.5 - Alimentação 
Se você observar, muitas das receitas que nós costumamos 
comer são de origem africana, ou seja, são comidas afro-
brasileiras.
Entre vários aspectos da cultura - como a literatura, 
a música, a dança, o teatro, a culinária têm sua importância 
reconhecida e é tomada como uma indicação da indentidade 
de cada grupo humano. A sua variedade revela os recursos 
naturais de que dispõe o homem na região onde vive e também 
a cultura que desenvolve.
O africano introduziu na cozinha o leite de coco, o azeite 
de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre 
a do reino; deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a 
fazer vatapá, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. 
A cozinha africana, pequena, mas forte, fez valer os seus 
temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os 
pratos portugueses, substituindo ingredientes, fez a mesma 
coisa com os pratos da terra e, finalmente, criou a cozinha 
brasileira, ensinando a fazer pratos com macarrão seco e a usar 
as panelas de barro e a colher de pau.
O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana 
de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite de dendê. 
O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, 
assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola. 
Os africanos trouxeram ao Brasil o gosto por novos 
temperos e a habilidade de improvisar receitas, misturando 
ingredientes europeus e indígenas. Na falta de inhame usavam 
mandioca, na falta de pimenta africana, abusavam do azeite de 
dendê.
Especiarias, pimentas, abacaxi, banana, tomate, porco 
doméstico, técnicas de assados, cozidos e marinados foram 
introduzidos pelos portugueses, que se misturaram à culinária 
africana.
A comida que está em nossa mesa todos os dias é 
composta por muitas contribuições dos povos africanos e dos 
seus descendentes. E não podemos esquecer que a feijoada 
surgiu nas senzalas, feitas pelos escravos que cozinhavam o 
feijão nas horas de seus intervalos e aproveitavam os restos de 
porco (rabinho e pés) jogados fora pelos seus senhores.
6.6 - Moda / indumentária/ trajes 
africanos 
No nordeste da África, as mulheres rashaidas, que habitam 
a Sumária, vestem-se de véus e túnicas devido à influência 
muçulmana. Elas usam delicadas joias de prata e no rosto véus 
bordados elaboradamente. A pintura em hena decora mãos e pés. 
Esse tipo de pintura decorativa é difundida na África e na Índia.
81
Os povos do continente africano costumam usar trajes, 
pinturas corporais, tecidos e adornos, conforme as identidades 
de seus devidos grupos. Geralmente as pinturas são usadas em 
cerimônias, para enfeitar o corpo ou para exibir o estilo de sua 
tribo e todas as pinturas têm um significado diferente. Alguns 
utensílios da indumentária africana:
• Hena nas mãos e nos pés: hena é um tipo de pintura 
decorativa e foi difundida na África e na Índia.
• Colares de contas: esses colares são usados pelas 
mulheres; o número de colares que elas usam indica a posição 
social nos seus grupos. 
• Plumas na cabeça: os homens usam as plumas para irem 
a guerras e cerimônias. 
• Noivas cheias de joias: quando casam, as noivas de 
Marrakech se enfeitam com muitas joias. 
• Túnicas e turbantes: os bérberes beduínos usam um 
traje clássico, uma túnica simples, contrastando com o turbante 
azul-escuro. 
• Batique africano: o batique é um tipo de pintura na qual 
se usa cera e pigmentos para desenhar e tingir os tecidos. 
• Vestidos com babados: as mulheres do povo himba 
usam esses vestidos como símbolo de suas identidades. 
7 - Línguas africanas no Brasil 
A presença de línguas africanasno Brasil está diretamente 
associada ao tráfico de escravos que, por mais de três séculos 
sucessivos, de 1502 a 1860, introduziu no país por volta de 
3.600.000 africanos, de origens diversas: Sudaneses da região 
situada ao Norte do Equador (ciclo da Guiné, século XVI); 
Bantos ao Sul do Equador (ciclo do Congo e de Angola, século 
XVII); Sudaneses da Costa Ocidental (ciclo da Costa da Mina 
e ciclo da baía do Benim, início do século XVIII); no século 
XIX, chegam escravos de todas as regiões, predominando os 
originários de Angola e Moçambique. Não se pode precisar 
o número das línguas que aqui chegaram, mas sabe-se que na 
área atingida pelo tráfico são faladas por volta de 200 a 300 
línguas, uma pequena parcela do conjunto linguístico africano 
que conta com mais de 2000 línguas.
No século XX não se localiza nenhum registro sobre 
línguas africanas plenas no Brasil, visto que desde o final do 
século anterior elas passam a manifestar-se como línguas 
especiais, utilizadas como códigos por grupos específicos, seja 
como língua ritual nos cultos afro-brasileiros, seja como língua 
secreta, marca de identidade de descendentes de escravos em 
comunidades negras, os Quilombos.
As línguas africanas, marcadas pela ruptura causada pela 
escravidão nas Américas, encontraram-se, no Brasil, com outros 
contatos linguísticos com o português, as línguas indígenas e 
outras línguas africanas, ocorrendo de forma diferenciada, nas 
diferentes épocas e nos diferentes ambientes (urbano e rural).
O número de línguas independentes faladas pelos povos 
do continente Africano é enorme. Em algumas partes da África 
são falados, em áreas relativamente pequenas, muitos dialetos e 
muitas línguas diferentes entre si.
Denominava-se nagô ou anago a um povo do reino de 
Queto, na África Ocidental, numa região atualmente localizada 
em Benim, de onde vieram numerosos africanos escravos para 
o Brasil. A língua usada nos cultos afro-brasileiros considerados 
nagô não corresponde a uma língua africana conservada na sua 
pureza, uma vez que as comunidades afro-brasileiras foram 
constituídas por povos de etnias, línguas e dialetos diversos 
como jeje, ijeja, mussaramin (malé), dentre outros.
Vale lembrar que outras línguas são usadas nas religiões 
Mina e Congo-angolanas no Brasil e elas são referentes às 
línguas dos povos que predominaram nas localidades onde 
hoje essas religiões são praticadas, especialmente em São Luis 
do Maranhão e Rio de Janeiro. Essas outras línguas de uso 
religioso passaram por processo de transformação semelhante 
e não são puras línguas africanas.
Ao longo do tempo essas línguas se transformaram. 
Enquanto os descendentes dos africanos que vivem no Brasil 
usam essas línguas, os povos africanos, sob a influência de 
seus vizinhos e dos colonizadores europeus, tiveram as línguas 
locais mudadas sob outras circunstâncias.
Os cultos do Candomblé das diferentes nações (Nagô-
quetu, Jeje, Angola) utilizam diversas línguas: iorubá, em 
todos os cultos e principalmente na nação Nagô-quetu; Ewe-
fon, nos cultos Jeje; e Quimbudu e Quicongo (Disponível 
em http://websmed.portoalegre.rs.gov.br) Acesso em 26 de 
fevereiro de 2012.
. No candomblé de Angola, no Maranhão, no Tambor de 
Mina, há um misto de língua Mina-nagô. 
Nos cultos de Umbanda, religião brasileira formada, 
grosso modo, do encontro de cultos africanos e tradições 
indígenas com o espiritismo e o catolicismo, fala-se o 
português brasileiro “popular”, com vocabulário particular, 
próprio das “entidades”. 
As línguas africanas utilizadas hoje, ritualmente, mantêm-
se como veículo de expressão dos cânticos, saudações e 
nomes dos iniciados principalmente, podendo também servir 
como meio de comunicação entre alguns adeptos da mesma 
comunidade de culto. 
7.1 - Iorubá e Bantu
 
A língua mais falada no Candomblé no Brasil é o Iorubá. 
Exemplos de palavras da língua falada no Brasil são fé, acarajé, 
jabá (carne-seca) e axé. Mas há mais palavras de origem Bantu 
em português, como cafuné, dengo, calango, macaco, canjica, 
samba, inhaca, jiló, ginga, moleque, xodó, zangado, zum-zum. 
Isso porque na época da colonização os grupos bantu eram 
mais numerosos no Brasil. 
De acordo com Nina Rodrigues (2010), a primeira a 
estudar as línguas e dialetos africanos no Brasil, “as línguas 
africanas faladas no Brasil sofreram grandes alterações com a 
aprendizagem do português por parte dos escravos” (Disponível 
em http://rerida.blogspot.com/2010/12/o-portugues-e-as-
linguas-africanas.html). Acesso em 26/02/2012.
O contato entre a língua portuguesa e as línguas africanas 
no Brasil não chegou a produzir uma língua crioula estável 
(como ocorreu nas Guianas e no Caribe, onde a língua 
crioula é oficial), mas promoveu uma série de mudanças nas 
variedades de língua portuguesa faladas no país, sobretudo nas 
camadas populares da zona rural.
7.2 - Educação
Na sociedade moderna ocidental, quem não produz, 
82Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
quem não domina os avanços da tecnologia, logo é excluído 
e taxado de ignorante e inútil. E se tiver idade avançada, o 
seu destino final é o “asilo dos velhos”, ou, para atenuar um 
pouco o sentido pejorativo da palavra “velho”, denominam 
tais logradouros de “lar dos idosos”. E para os africanos? O 
que representa o idoso?
O idoso é sábio
Diz o poeta Hampaté Bah, do Mali: “Quando morre um africano idoso, 
é como que se queimasse uma biblioteca”. 
Essa frase exprime bem o valor do idoso na sociedade 
tradicional africana, que tem uma cultura iletrada. O idoso, 
com a sua sabedoria adquirida nos seus muitos anos de vida, 
torna-se o transmissor dos valores da cultura tradicional 
herdada dos seus antepassados.
Essa “aula” de cultura tradicional é ilustrada sempre 
através de contos, provérbios ou lendas que se referem 
aos acontecimentos vividos nos tempos antigos. Constata-
se facilmente que a tradição dos antepassados está muito 
presente na vida do povo, haja vista que para o africano é 
o passado que dá sentido ao presente. O futuro ainda não 
existe.
Todas as reuniões em nível de comunidade aldeã 
(julgamento popular, acolhida de uma delegação de visitantes, 
funerais, celebração da festa da colheita, danças de regozijo) 
são ocasiões propícias para transmitir aos presentes a cultura 
tradicional. O palco para essas reuniões da comunidade aldeã 
é debaixo de uma árvore bem frondosa, geralmente situada 
no centro da aldeia. (Pe. Toninho - PIME, por 19 anos 
missionário na Costa de Marfim – África)
8 - Diversidade musical: dança, esporte e 
arte
8.1 - Músicas de trabalhar 
Reúne as músicas classificadas genericamente como 
Canto de Trabalho, modalidade de canto que acompanha as 
atividades coordenando seus movimentos. Em sua maioria se 
originam no período colonial, quando a mão-de-obra escrava 
predominava na lavoura, na mineração e na cidade. Muitas 
acabaram sendo extintas, em função da modernização.
No Acervo da Coleção Missão de Pesquisas Folclóricas 
constam gravações de várias delas, relacionadas a diferentes 
atividades de trabalho como: Canto de carregadores de piano, 
Canto de casa de farinha, Canto de pedinte, utilizado para 
pedido e agradecimento de esmolas.
8.2 - Músicas de cantar 
Essa categoria reúne as músicas que não são ligadas à 
dança ou a manifestações religiosas. Foram denominadas 
no Catálogo Histórico-Fonográfico da Missão de Pesquisas 
Folclóricas como Canto puro, não ligado à dança.
Quase que em sua totalidade tratam-se da forma conhecida 
como Desafio, cantada como um duelo entre dois cantadores, 
parte de improviso e parte decorada. Considerado por Luis da 
Câmara Cascudo como de origem europeia, é encontrada em 
quase todo o Brasil, principalmente no norte e nordeste.
8.3 - Músicas de dançar 
Essa categoria reúne as músicas instrumentais ou cantadas 
ligadas à dança. Reúne também as danças classificadas como 
Danças Dramáticas, nome genérico com que se designam os 
grandes bailados populares que se baseiam num assunto e 
têm, na sua maioria, partesfaladas e representadas, contando 
uma ou várias histórias como Bumba-meu-Boi, Barca ou Nau 
Catarineta, Cabocolinhos e Reis de Congo. 
8.4 - Músicas de rezar 
Essa categoria reúne as músicas das danças e cantos 
religiosos e também das manifestações religiosas afro-
brasileiras e ameríndias.
Sob o nome rezar não se enquadram somente cânticos 
que repetem orações, mas também os utilizados para louvar, 
agradecer, invocar e despedir-se de deuses e entidades 
espirituais como santos, orixás, voduns, mestres e caboclos.
8.5 - Dança
O maxixe foi o primeiro tipo de dança urbana surgida no 
Brasil. Era dançada em locais que não atendiam a moral e aos 
bons costumes da época, como em forrós, gafieiras da cidade 
nova e nos cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, por volta de 
1875. Mais tarde chegou aos clubes carnavalescos e aos palcos 
dos teatros de revista. Os homens de classes mais privilegiadas 
frequentavam esses bailes e gafieiras, em busca da sensualidade 
das danças africanas.
“Os pares enlaçam-se pelas pernas e braços, 
apoiando-se pela testa”, essa maneira de 
dançar lhe valeu o título de escandalosa e 
excomungada. Foi perseguida pela polícia, 
igreja, chefes de família e educadores. Para 
que pudessem ser tocadas em casa de família, 
as partituras de maxixe traziam o impróprio 
nome de “Tango Brasileiro (Hilario Bispo, 
2011 p. 01. Disponível em Núcleo de Estudos e 
Pesquisas das Relações Étnicos Raciais, http://
tamboresdosmontes.blogspot.com/2011) 
Acesso em 26 de fevereiro de 2012.
Era uma forma de dançar não atrelada a um gênero 
musical específico, sendo inicialmente dançado ao ritmo do 
tango, da havaneira, da polca ou do lundu. Só nos fins do 
século XIX as casas editoriais consideraram-no um gênero 
musical, imprimindo as músicas com essa classificação: “a 
primeira dança genuinamente brasileira”.
No início do século, alcançou grande sucesso nos palcos 
europeus, sendo apresentada com requintes coreográficos pelo 
dançarino Duque, na França e na Inglaterra, em 1914 e 1922, 
quando entrou em declínio, cedendo espaço ao fox-trote e 
posteriormente ao samba.
83
O maior acervo da arte antiga africana encontra-se nos museus da 
Europa Ocidental.
A dança originou-se na África como parte essencial da 
vida nas aldeias. Ela acentua a unidade entre seus membros. 
Em sua maioria, todos os homens, mulheres e crianças 
participam da dança, batem palmas ou formam círculos em 
torno dos bailarinos. Todos os acontecimentos da vida africana 
são comemorados com dança: nascimento, morte, plantio ou 
colheita. Ela é a parte mais importante das festas realizadas 
para agradecer aos deuses por uma colheita farta.
As danças africanas variam muito de região para região, 
mas a maioria delas tem certas características em comum. 
Os participantes geralmente dançam em filas ou em círculos, 
raramente dançam sós ou em par. As danças chegam a 
apresentar algumas vazes até seis ritmos ao mesmo tempo e 
seus dançarinos podem usar máscaras ou enfeitar-se.
A dança está presente no dia a dia das pessoas, seja 
no vilarejo ou no bosque sagrado ou das florestas. A dança 
interrompe a monotonia e estrutura do tempo. Assim como 
uma canção, a dança é uma forma de contar histórias. 
Dança do Congo - É uma dança teatralizada, ao ar livre, 
realizada durante as festas religiosas e populares. Cada grupo 
de Dança do Congo é constituído por uma seção musical (três 
ou quatro tambores, flautas e canzás) e um número variável 
de figurantes, todos eles hábeis dançarinos: o capitão congo, 
o logozu, o anju môlê (anjo que morreu), o anju cantá (anjo 
cantador), o opé pó (figura que executa diversas acrobacias), 
ulogi o feiticeiro, o zuguzugu (ajudante de feiticeiro), três 
ou quatro bobos, o djabu (diabo) e dez a dezoito soldados 
dançarinos.
Danças de salão - A dança de salão, mais conhecida por 
Kizomba, é uma dança executada preferencialmente em festas 
e cerimoniais. Aliás, Kizomba significa festa. Começou a ser 
executada nos Centros Recreativos e Culturais dos subúrbios 
luandenses e praticada nos primórdios por dançarinos 
profissionais no tempo colonial. 
8.6 - Esporte: a capoeira
Tudo começou com uma dança da zebra. A palavra 
capoeira não é Africana, como se costuma pensar. Ela vem do 
tupi, kapueira, e possui dois significados - mato rolo ou roçado, 
ou um cesto ou gaiola para carregar animais e mantimento.
Os historiadores falam sobre o berço da capoeira, que 
pode ser rural ou urbano. Uns enxergam seu nascimento no 
campo, entre grandes plantações de cana e engenhos de açúcar. 
As clareiras abertas no mato serviriam de canal para fuga dos 
escravos e espaços para o lazer.
Pular deitar e rolar fazem parte do jogo da capoeira. Não 
escapa sequer um músculo sem ser trabalhado ao ritmo do 
berimbau, do atabaque e do pandeiro. Desenvolvem aspectos 
motores, passa noções de disciplina e canaliza a agressividade.
Esse jogo conquista pai, mãe e a garotada: tem música 
que brasileiro nenhum dispensa. A sequência dos movimentos 
parece uma dança e faz bem para a mente. Além disso, pode ser 
a “senha” para despertar o interesse de seu filho por esporte.
Dos tempos da escravidão pra cá, muita coisa aconteceu 
no mundo da capoeira, foram crises, proibição, liberação, 
perseguição, etc. Atualmente a capoeira é reconhecida e 
praticada mundialmente por um número muito grande de 
pessoas. 
8.7 - Arte africana
A arte africana exprime usos e costumes das tribos 
africanas. O objeto de arte é funcional, criado para ser 
utilizado, ligado ao culto dos antepassados, profundamente 
voltado ao espírito religioso, característica marcante dos povos 
africanos. É uma arte extremamente representativa. A arte 
africana chama atenção pela sua forma e estética. Nos simples 
objetos de uso diário como ornamentos e tecidos, expressam 
muita sensibilidade. Nas pinturas, assim como nas esculturas, 
a presença da figura humana identifica a preocupação com os 
valores étnicos, morais e religiosos. 
A escultura foi amplamente utilizada pelos artistas 
africanos empregando para sua confecção materiais como 
ouro, bronze e marfim. As máscaras têm um significado 
místico e importante na arte africana, uma vez que representam 
um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade 
de adquirir forças mágicas. São usadas nos rituais e funerais. 
São confeccionadas de barro, marfim, metais, mas o 
material mais utilizado é a madeira. A modelagem é feita em 
segredo, na selva, para estabelecer a purificação e a ligação 
com a entidade sagrada.
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar 
essa aula, vamos recordar:
1 – O perfil da discriminação racial no Brasil
Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que 
estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito 
84Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
expressado de maneira clara como, por exemplo, dar 
tratamento desigual ou mesmo negar direitos a um indivíduo 
ou grupo determinado.
A discriminação indireta está internamente relacionada 
com situações aparentemente neutras, mas que criam 
desigualdades em relação a outrem. Essa última maneira de 
preconceito é a mais comum no Brasil
2 - Mas, o que é etnia?
O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, 
p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres 
somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio 
e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se 
transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo 
para indivíduo”.
3 - A legislação
A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino 
da história e da cultura indígena e afrobrasileira nas escolas 
de ensino fundamental e médio, particulares e públicas no 
Brasil, e inclui no currículo oficial da rede de ensino a temática 
“História e Cultura Afrobrasileira e Indígena”.
4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003
4.1 - Tratando o “Diferente” de maneira diferente
4.2 - Ainda sobre legislação
A formação de professores para dar conta da 
implementação desta Lei, se dá no contextoatual do 
estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações 
Afirmativas para população afrodescendente e indígena.
5 - Educação para todos: políticas de ação afirmativa
5.1 - Conhecendo a realidade dos dados
5.2 - Política de ação afirmativa algumas referências
5.3 - Conceituando as políticas de ações afirmativas
5.4 - Novos horizontes – política de ação afirmativa 
através da Lei 10.639/03
Com base nas pesquisas, apresenta-se a discrepância 
nos números entre os brasileiros, percebendo a necessidade 
de meios que possibilitem erradicar ou minimizar as 
desigualdades existentes os cidadãos. Para tanto, as políticas 
de ações afirmativas seria uma das possibilidades para mudar 
este quadro.
Mais especificamente, no aspecto educacional, a 
partir do ano de 2003 temos a Lei Federal assinada pelo 
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que traz a História e 
Cultura Afro-brasileira e Africana e as Relações Raciais como 
obrigatoriedade nas escolas brasileiras.
BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em preto e 
Vale a pena
Vale a pena ler
branco: discutindo as relações raciais. 3. ed. São Paulo: Editora 
Ática, 2003.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e etnia: a 
construção da pessoa e resistência cultural. São Paulo: 
Brasiliense, 1986.
BRASIL. Ministério da Educação - Reforma da Educação 
Superior - Reafirmando princípios e consolidando diretrizes 
da reforma da educação superior - Documento II, 2004.
HERNANDEZ, Leila Leite. A África em sala de aula. São 
Paulo: Selo Negro, 2005.
A vida em preto e branco 
Ficha Técnica / Título Original: Pleasantville / Gênero: 
Drama / Tempo de Duração: 108 minutos / Ano de 
Lançamento (EUA): 1998 / Direção: Gary Ross 
Um grito de liberdade 
Ficha Técnica / Título original: “Cry Freedom” / 
Inglaterra, 1987, 157 / minutos. Direção: Richard 
Attenborough
Hotel Ruanda 
Vale a pena assistir
As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta 
“Atividades”. Após respondê-las, envie-nas por meio do Portfólio- 
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso 
de dúvidas, utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com 
o professor.
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