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Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental 9º Aula Racismo, pluridade cultural e legislação Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • Compreender o que é racismo e a situação atual no Brasil; • Conhecer a legislação que aborda o assunto; • Entender a importância da pluralidade cultural no contexto educacional. • Compreender o teor e a importância da Lei 10.639/2003 para a atuação do professor em sala de aula perante as mudanças no currículo oficial que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira. • Definir o conceito de ações afirmativas. • Identificar quais são as ações afirmativas referentes à diversidade cultural e racial. • Compreender a contextualização histórica do continente africano • Identificar e reconhecer as línguas africanas no Brasil e o seu contexto educacional • Promover um conhecimento sobre a música, dança, esporte e artesanato africano. Boa aula! Vamos debater alguns dados da situação do racismo no Brasil, abordando a pluralidade cultural e as legislações que obrigam a escola a incluir nos seus currículos conteúdos que dizem respeito à cultura afro-brasileira a indígena. 73 1 - O perfil da discriminação racial no Brasil. 2 - Mas, o que é etnia? 3 - A legislação. 4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003. 5 - educação para todos: políticas de ação afirmativa. 6 - Origem da história africana. 7 - Línguas africanas no Brasil. 8 - Diversidade musical: dança, esporte e arte. Seções de estudo 1 - O perfi l da discriminação racial no Brasil Ao longo de vários momentos da História do Brasil, os negros e os índios, entre outros grupos sociais, protestaram contra a discriminação e pelos seus direitos. Uma luta permanente, enquanto muitos se apegavam à ideia de que, talvez, vivêssemos num país onde não existisse qualquer contradição ou desarmonia, que descarta os incidentes de discriminação por considerá-los insignificantes às vítimas, dedicadas a perturbar a paz social. Disfarçado, o racismo ainda é a forma mais clara de discriminação na sociedade brasileira, apesar de o brasileiro não admitir seu preconceito. “A emoção das pessoas, o sentimento inferior delas é que é racista. Quando racionalizam, elas não se reconhecem assim, não identificam em suas atitudes componentes de discriminação”, analisa Alcione Araújo, escritora e dramatista, citada por Bazé Lima (2010 p. 83). O brasileiro tem dificuldade de assumir o seu racismo devido ao processo de convivência cordial que distorce o conflito. Devido a isso, por estar dissimulado, é difícil de ser combatido. A discriminação racial está espalhada pelo Brasil. Escola e mídia apresentam um modelo branco de valorização. O acesso aos espaços políticos, aos bens sociais, à produção de pensamento, à riqueza tem sido determinado pela lógica escravocrata. ATENÇÃO As práticas do racismo são diversas e se apresentam de diversas formas. Por meio das estatísticas sobre escolaridade, mercado de trabalho, criminalidade, presença nas artes e outros, pode-se perceber o problema na prática. A discriminação dá-se de duas formas: direta ou indireta. Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito expressado de maneira clara como, por exemplo, dar tratamento desigual, ou mesmo negar direitos a um indivíduo ou grupo determinado. A discriminação indireta está internamente relacionada com situações aparentemente neutras, mas que criam desigualdades em relação a outrem. Esta última maneira de preconceito é a mais comum no Brasil. É espantosa a naturalidade com que as pessoas — mesmo as públicas, dotadas de cargos importantes da sociedade, e as pessoas mais esclarecidas — manifestam seus preconceitos. Elas parecem não perceber o que estão fazendo e como colaboram para a internalização do preconceito, já que suas falas são tidas como verdade. Discriminados e marginalizados, o negro e o índio perante a sociedade tem uma imagem de desqualificado, incapaz, impondo-se-lhe a restrição do mercado de trabalho. Em posições aquém da merecida, sofre com maior intensidade a situação socioeconômica intensa do desemprego, marcado pelo estigma de ser preto ou pardo. Na sociedade capitalista, onde se sobressaem as desigualdades sociais, a reprodução dessa situação impede a mobilidade social do negro, percebendo, estes, rendimentos de trabalho inferiores aos percebidos pelo branco e sendo associados a trabalhos menos qualificados, ocupando, principalmente, posições menores, em setores de menor status social. Através do preconceito, a mão-de-obra negra é direcionada para trabalhos domésticos e pesados. A sua cor é fator determinante, sobrepondo-se à sua competência ou formação. O quadro que ora traçamos é decorrente de um processo de ausência de conscientização entre as pessoas, e esse resultado é acusado no debate da discriminação racial, principalmente no âmbito das instituições públicas e sociais. Alguns chegaram a afirmar que era impossível, até mesmo, mencionar o tema e, muito menos, pensar em mudança. O tema Discriminação racial e de gênero ainda aparece como assunto esquecido, que não precisa e não deve ser tratado. É temido porque significa mudança de status quo, uma ameaça aos direitos adquiridos por pessoas em seus locais de trabalho e até mesmo transtorno às normas e aos privilégios estabelecidos. Essas são algumas razões por que o tema é evitado ou, quando abordado, é minimizado. Milhões de seres humanos — negros, índios, mulheres, etc. — tiveram e ainda têm suas vidas afetadas negativamente pela discriminação racial e de gênero, mas o quadro, felizmente, está mudando e exige dos novos gerentes públicos, privados e administradores uma postura de mudança organizacional. É uma questão de tempo e de sobrevivência. Os esforços para a mudança organizacional também estão levando em conta a necessidade de abordar, discutir e ampliar a nossa reflexão sobre o tema. No enfoque sobre relações raciais, a maioria das pessoas trabalha com suas experiências de vida e com seu senso comum. Assim a discriminação não é muito bem entendida, muito menos se sabe como se manifesta; daí o brasileiro afirmar que há racismo e discriminação na sociedade, mas, individualmente, ter dificuldade de afirmar atitudes e práticas racistas. Portanto, há um preconceito em se reconhecer que há preconceitos — quem discrimina é sempre “o outro”. Além disso, todos discriminam ou são discriminados de alguma forma. As respostas têm de ser procuradas nos que 74Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental discriminam, não nas vítimas ou nos discriminados, que sofrem muitas arbitrariedades, sob os mais mesquinhos pretextos. 3 - A legislação 2 - Mas, o que é etnia 4 - Refl exões sobre a lei 10.639/2003 Durante muito tempo, fomos acostumados a classificar pessoas usando categorias baseadas na cor da pele, na textura do cabelo, nos traços físicos, etc. Assim, criou-se o senso comum das três raças distintas: amarela, negra e branca. O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo”. O que signifi ca tratar os “diferentes” enquanto “iguais”? CONCEITO Etnia é “um grupo biológico e culturalmente homogêneo” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p.733). Mas, como não somos homogêneos, as culturas não estão condicionadas à nossa aparência física. Assim, etnia também não pode ser usada isoladamente para classificar ou determinar os humanos, pois as culturas não são estáticas nem puras, uma vez que as fronteiras não existem, possibilitando a inter-relação das tradições e dos costumes entre pessoas que partilham de uma mesma sociedade. Em nossa sociedade, houve a tentativa de imposição da cultura branca, mas isso não tem sido possível, poisa resistência dos negros e índios fez produzir o que podemos chamar de cultura brasileira. Portanto, é importante afirmar que no Brasil estão presentes manifestações culturais desses três grupos étnico-raciais formadores dessa sociedade. Raciocinando dessa forma, não podemos supor a superioridade de um determinado grupo — o branco — em detrimento de um outro — negro ou índio —, uma vez que vivemos num caldeirão cultural. Inserida, então, nesse mar de diversas culturas, resolvemos adotar a terminologia étnico-racial, uma vez que tais conceitos já fazem parte da cultura brasileira. Como medida de valorização dessa pluralidade cultural o governo brasileiro instituiu uma legislação que obriga a escola a incluir no conteúdo a história e cultura afrobrasileira e indígena. A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino da história e da cultura indígena e afrobrasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, particulares e públicas do Brasil A lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. A Lei 11.645 inclui no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afrobrasileira e Indígena”. Isso quer dizer que o ensino da História Brasileira deverá considerar e relatar as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação da população brasileira, em especial as matrizes indígena, africana e europeia. A Lei representa a intenção do governo brasileiro de reparar o tratamento de exclusão recebido pelos povos africano e indígena ao longo do tempo, com o objetivo de combater a ideia etnocêntrica de que existe um único modelo civilizatório que inferioriza a diferença. Nota-se o desafio que a lei imprime, pois para que seja funcional é preciso que ela interaja com o currículo. Então colocamos em discussão: a escola está preparada para isso? Conscientização! Esta é a mola mestra na formação do perfil de um professor que se compromete a combater o racismo, o preconceito e a discriminação, os quais não produzem nenhum benefício para a escola ou a sociedade. Ao adotarmos uma postura combativa, percebemos que estamos lutando contra algo que, na maior parte das vezes, encontra-se mascarado atrás de valores historicamente cultivados e normas sociais devidamente estabelecidas. Elas influenciam o agir e o pensar da etnia dominante sobre a etnia dominada . Ainda hoje, muitos profissionais não compreendem a importância que caracteriza o encontro de diferentes etnias por acreditarem que, ao não promoverem ações discriminatórias, elas não existam. Caso a discriminação aconteça, pensam que quanto mais salientarmos, mais discriminação estaremos gerando. Tal ideologia deve ser modificada, pois a sua permanência significa não dar voz ao aluno negro, índio, asiático e outros, e estigmatizar o preconceito. 4.1 - Tratando o “diferente” de maneira diferente Historicamente a sociedade brasileira vem tratando os diferentes enquanto iguais, e, o que se vê de fato é a permanência das grandes desigualdades sócio-raciais. Mas como ocorre isso? Ou melhor, por que problematizar a igualdade na diferença, se tudo que se busca é uma sociedade igualitária? E mais, qual é a validade desse questionamento no atual contexto brasileiro? Trazer o diálogo dos diferentes enquanto desiguais para, aí sim, buscarmos de fato a igualdade implica em entender que a diferença tem a ver com possibilidades, ou seja, com as condições de acesso aos recursos materiais da sociedade, e não com identidade. Então, como contextualizar a partir do olhar da complexidade que nos impõe a nova agenda de discussões culturais, de modo a provocar rupturas nos valores hegemonizados pelo culturalismo, as discussões emergentes a partir do atravessamento do discurso da diversidade sociocultural brasileira? É nessa busca de possibilidades que trago a Lei 10.639, 75 de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, que em seu Art. 26-A, no caput § 1º do conteúdo programático, inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, neste momento intelectual e político efervescente do qual emergem reflexões e ações paradoxais que expõem e propõem o quanto de efervescência e paradoxalidade constitui e institui o que chamamos de realidade. Ao termos consciência ou ciência dessa realidade, permite-nos salientar que o povo brasileiro é constituído de uma diversidade e pluralidade que nos torna singular. Essa singularidade trazida sob a égide das reparações ao povo negro necessita ser percebida pela sua diversidade, e por que não dizer, também, sua singularidade. E retratar essa heterogeneidade é importante como mecanismo para reconstituir a alteridade do negro brasileiro assujeitado pela homogeneidade de seus costumes e tradições culturais e linguísticas. Nesse sentido, ao trazer a Lei 10.639, com a perspectiva de trabalhar na formação de professores para a diversidade étnico-racial, significa não apenas possibilitar o aprendizado de uma cultura que é baseada na oral, mas a constituição da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade dos conhecimentos da história e da cultura do negro no Brasil. Pensar na formação docente como mecanismo de dar conta da demanda trazida pela Lei 10.639 pressupõe, antes de tudo, descrever de que “lugar” e “olhar” falamos, ou seja, implica em dizer que em nome da diversidade étnico-racial é preciso adotar nova postura frente ao processo educacional. Ao analisar qual concepção está presente e se impõe ao sujeito social histórico, como nos diz Brandão (1986), de um lugar Generalizante (com uma posição social abstrata) como o historicamente definido, ou Significativo no qual damos atenção aos seus sentimentos, pensamentos, expectativas e a sua realidade. Segundo, ainda, Brandão, a prática educacional catequética do passado que destrói na vida, na consciência e na cultura, a diferença do outro de “mim”, necessita ser abolida, porque ela é responsável pela cristianização do índio, pelo batismo do negro e pela opressão das mulheres. Necessita-se pensar em um processo educacional que ressignifique a cultura e a identidade das diversas culturas. A educação, longe de ser uma prática desinteressada e neutra, é um importante instrumento de reprodução social que impõe ao educando o modo de pensar considerado correto, a maneira “científica”, “racional”, “verdadeira” de se entender e explicar a sociedade, a família, o trabalho, o poder, bem como os modelos sociais de comportamento. 4.2 - Ainda sobre a legislação A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define como finalidade da educação básica, “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Culminado a isso, a Lei 10.639 de janeiro de 2003, que em seus artigos 26-A, 79-A e 79-B, institui nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. E ainda, os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. A formação de professores para dar conta da implementação desta Lei, se dá no contexto atual do estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações Afirmativas para população afrodescendente e indígena, através do protagonismo central doPrograma Diversidade na Universidade do Ministério da Educação (2001), da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR (2003), da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura - FCP/Minc 1998 - Governo Fernando Henrique Cardoso, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça - CNCD/ SEDH/MJ (2001). Essa configuração política de políticas encontra sua história nos vários tratados internacionais de Direitos Humanos, assinados pelos governos brasileiros desde 1944 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e as Convenções Internacionais Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1969, que introduz o princípio da discriminação positiva (consignado na atual Constituição brasileira) sustentando: → o dever do estado de erradicar a marginalização e as desigualdades; → o estabelecimento de prestações positivas em prol da promoção e integração de segmentos desfavorecidos e → a prescrição da discriminação justa para compensar a desigualdade de oportunidade ou fomentar setores considerados prioritários. Também encontra sua história tanto na ação e organização das entidades e grupos do Movimento Negro, quanto nas pesquisas e reflexões acadêmicas sobre as questões étnico- racial, estas tendo como fundamento teórico-metodológico tanto as inspirações e aspirações provenientes dos intelectuais do próprio Movimento Negro, quanto aquelas poucas voltadas ao cotidiano vivido por uma população negra, que está incluída nas contradições e paradoxos históricos dos quais é parte singular, o que escapa de uma perspectiva homogeneizante e parte fundante, e desrespeitosa da vitimização. As novas bases materiais que caracterizam a produção (reestruturação produtiva), a economia (globalização) e a política (neoliberal) trazem profundas implicações para a educação deste século, uma vez que cada estágio de desenvolvimento das forças produtivas gesta um projeto pedagógico que corresponde às suas demandas de formação de intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores. Aos educadores cabe, dada a especificidade de sua função, fazer a leitura e a necessária análise deste projeto pedagógico em curso, de modo a tomar por base as circunstâncias concretas, participar da organização coletiva em busca da construção de alternativas que articulem a educação aos demais processos de desenvolvimento e consolidação de 76Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental relações sociais verdadeiramente democráticas. 5 - Educação para TODOS: políticas de ação afi rmativa O artigo acima mencionado, autoria de Dircenara dos Santos Sange, tem como foco apresentar uma discussão atual a respeito do tema das ações afirmativas como políticas públicas. Essa temática vem se inscrevendo na agenda nacional de maneira definitiva no que tange os negros brasileiros: da Lei Federal 10.639/03, dos programas de cotas nas Instituições de Ensino Superior, na reserva de vagas para afrodescendentes nos concursos públicos, nos NEAB’s (Núcleos de Educação Afro-brasileiras), entre outros. No entanto, precisamos ainda comprovar com as pesquisas realizadas pelos órgãos oficiais o abismo social existente entre brancos e negros na nação brasileira. A diferença é revelada através dos dados, ficando evidente quais os indivíduos que estão situados nos piores percentuais na escola, no mercado de trabalho, nas condições básicas de vida. Com base nas pesquisas que apresentam a discrepância nos números entre os brasileiros, percebemos a necessidade de meios que possibilitem erradicar ou minimizar as desigualdades existentes entre os cidadãos. Para tanto, as políticas de ações afirmativas seria uma das possibilidades para mudar esse quadro. Mais especificamente, no aspecto educacional, a partir do ano de 2003, temos a Lei Federal assinada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que traz a História e Cultura Afro-brasileira e Africana e as Relações Raciais como obrigatoriedade nas escolas brasileiras. Para finalizar essa introdução, apresento os aspectos que serão abordados neste artigo: começo trazendo alguns percentuais das pesquisas na área educacional. Após, situo as políticas de ação afirmativa no cenário mundial. Continuando, trago o conceito de ação afirmativa, e no término desse trabalho, abordo a Lei 10.639 e as possibilidades que esta oferece pela primeira vez na história da educação brasileira. 5.1 - Conhecendo a realidade dos dados O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra, em números, uma retrospectiva feita na década de 90 do século passado, com a categoria cor no Brasil. A população brasileira compõe-se de 54% de brancos e 45% de não brancos, ou negros (somando-se pretos e pardos), (Brasil, Ministério do Planejamento e Orçamento, 2000). Cabe ressaltar que houve uma mudança significativa nessa afirmação, visto que os indivíduos ao se declararem segundo a sua cor ou raça têm demonstrado um outro olhar, de 1993 a 2003 nas pesquisas realizadas. Conforme consta na reportagem intitulada “Síntese dos indicadores sociais traz um retrato do Brasil em 2003” no site do IBGE: Doutoranda e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialista em Gestão Educacional – UFSM, Pesquisadora do TRAMSE (Trabalho, Movimentos Sociais e Educação) e Conselheira da Organização de Mulheres Negras – Maria Mulher. A população que se declarara branca sofreu redução de 2%, passando de 54,3% para 52,1%, enquanto os percentuais de pretos (de 5,1% para 5,9%) e pardos (de 40% para 41,4%) cresceram. No Nordeste, a participação de pretos passou de 5,2% para 6,4% no período. No Sul, essa proporção passou de 3% para 3,7% e, no Centro-Oeste, de 2,8% para 4,5%. Os pardos também tiveram aumento: no Sudeste, sua proporção, que era de 27,7% em 1993, subiu para 30,3%; no Sul, de 12,1% para 13,4%; e no Centro-Oeste, de 48,9% para 51,8%. Esses dados apontam o aumento do número de negros se autodeclarando como tal, e mais precisamente na região sul do país o quadro fica assim constituído: 3,7% para pretos e 13,4% para pardos, totalizando 17,1% de negros ou não brancos. Com base nos dados nacionais, destaco a área educacional como foco do estudo. Quando consideramos a taxa de analfabetismo, a dos negros é de 16,9% e a dos brancos é de apenas 7,1%. Segundo o Censo de 2000, dados sobre nível de instrução por raça revelam: 18% dos pretos e 14,5% dos pardos estudaram por menos de um ano na vida contra 7,5% dos brancos e 6% dos amarelos. Entre aqueles que estudaram mais de 11 anos, os brancos são 25% e os amarelos 47%, os pretos apenas 11% e os pardos 12%. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) destaca no seu Informativo nº 88 de 11 de maio de 2005 a pesquisa realizada pelo Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2003) / IBGE menciona que: pretos e pardos, na faixa etária de 15 a 17 anos, que não concluíram o ensino fundamental somam 63,6%, enquanto os brancos e amarelos na mesma faixa são 37,8%. Na faixa seguinte – de 18 a 24 anos – na mesma situação de desvantagem na escolarização: há 44,3% de pretos e pardos contra 23,1% de brancos e amarelos. Partindo do pressuposto de que a população de 15 anos ou mais que não concluiu o ensino fundamental é predominantemente pobre, é razoável supor que pretos e pardos pobres estão em pior situação do que os brancos e amarelos pobres. Nesse ponto do texto cumpre destacar os percentuais que revelam a questão não sendo simplesmente de classe social, mas também de cunho racial: Em 1999, entre as famílias brancas pobres, vemos que 21% das crianças de 7 anos não frequentam a escola, enquanto que esse valor é de 30,5% entre as famílias negras pobres. Analisando a população brasileira como um todo, constatamos que apenas 20,4% dos alunos de 15 anos conseguem finalizar essenível de ensino. Quando consideramos essas informações sob o recorte racial, observamos que 29,2% dos brancos completam o ensino fundamental e apenas 11,5% dos negros chegam a este resultado. Após essa breve contextualização de dados estatísticos confirmando a desigualdade entre brancos e negros na educação e na sociedade de maneira geral, passo a discutir as políticas de ação afirmativa como uma forma de superação desse quadro. 5.2 - Política de ação afirmativa, algumas 77 referências Esta parte do texto situa os primórdios da ação afirmativa como sendo uma política já implantada em outros países e, no caso brasileiro, estamos começando a reclamar essa possibilidade. Em 1963, nos Estados Unidos, no governo de John Kennedy, já existiam políticas de ação afirmativa nas universidades. No Brasil tivemos a Lei do Boi de 1968 que dizia: “Os estabelecimentos de ensino médio agrícola e as escolas superiores de agricultura e veterinária, mantidas pela União, reservarão anualmente, de preferência, cinquenta por cento de suas vagas a candidatos agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam com suas famílias na zona rural, e trinta por cento a agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam em cidades ou vilas que não possuam estabelecimentos de ensino médio” (Gomes, 2003, p. 17). Temos também as leis que garantem uma cota mínima de 30% de mulheres entre os candidatos de cada partido político para eleições em qualquer nível da federação. Verificam- se políticas de ação de afirmativa nos concursos públicos: no município de Porto Alegre, Viamão, Bagé, Caxias do Sul (esses são do Estado do Rio Grande do Sul), entre outros no restante do país. Existem quatorze universidades públicas que implementaram cotas até o momento, são: Universidade de Brasília, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Universidade Estadual da Bahia, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Estadual Amazonas, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Mato Grosso, Universidade Estadual Montes Claros. 5.3 - Conceituando as políticas de ações afirmativas Dando continuidade a respeito das discussões sobre ações afirmativas, não podemos perder de vista os conceitos que são atribuídos a essas políticas. Nos casos citados acima se pode entender como políticas de ação afirmativa porque são emanadas do poder estatal. Quero enfatizar dois conceitos que se complementam e que caminham na mesma linha. Guimarães (1999, p. 153) define a ação afirmativa como “programas voltados para acesso de membros de minorias raciais, étnicas, sexuais ou religiosas a escolas, contratos públicos e postos de trabalho”. Outro conceito que converge neste olhar ajudando-nos a entender as ações afirmativas, conforme Joaquim B. Gomes (2005): podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como educação e o emprego. Com base nos conceitos entende-se a Lei Federal 10.639/03, por meio da obrigatoriedade da temática de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, como uma política em que as escolas tanto públicas quanto privadas devem fazer cumprir as letras da lei. Essa Lei é fruto das lutas há tempos reclamadas pelo Movimento Negro Brasileiro para que a história do povo negro na formação e construção da nação viesse a ser estudada pela comunidade escolar. 5.4 - Novos horizontes – política de ação afirmativa através da Lei 10.639/03 Desde o dia 9 janeiro de 2003 foi promulgada a Lei Federal 10.639 que altera a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro- Brasileira”. A lei 9.394 passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79- A e 79-B: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1º. O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2º. Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro- Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. Art. 79-A. (Vetado); Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Depois de feita a explicitação do que diz a lei, destaco rapidamente ainda o artigo 79-A que foi vetado e que tratava em seu conteúdo de um item fundamental para que a lei fosse realmente apropriada pelo corpo docente das escolas: a formação de professores. Nesse sentido, gostaria apenas de fazer uma reflexão que merece talvez, um outro artigo, porque justamente onde deveria haver o comprometimento das instâncias governamentais na formação dos professores com relação à lei o artigo é vetado? Seguindo na legislação, o Conselho Nacional de Educação (CNE/CP Resolução 1/2004) institui: Art.1º A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, em especial, por instituições que desenvolvem programas de formação inicial e continuidade de professores. Com isso, as secretarias de educação e os cursos de formação de professores estão comprometidos a abordarem o assunto de maneira responsável para que a lei seja adequadamente implementada nas escolas de todo o país. A educadora Jeruse Romão em entrevista ao Jornal Irohin 78Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental destaca seis desafios para implementação da Lei. Um deles diz respeito justamente à formação de professores e sua preocupação com o assunto: “Estamos escrevendo um capítulo sem precedentes na história da educação do país. Um capítulo em que os excluídos retornam à escola para ensinar/educar o sistema que os exclui. [...] recomendo que as organizações negras brasileiras com excelência no tema de educação se conveniem com os sistemas de educação formais e certifiquem estes [...]”. Dessa forma, não podemos tratar esta Lei como um curso/ oficina/seminário de tantas horas depois ser esquecida pelas escolas. A Lei deve ser abordada na escola durante todo o ano, e não somente em novembro (mês que reflete o Dia Nacional da Consciência Negra). Deve estar incluída no currículo, no projeto político-pedagógico, nas reuniões de formação de professores e outros espaços que for possível o tema ser discutido, inclusive na sala de aula pensando numa educação para todos, que não exclua o ALUNO NEGRO. Fonte: http://www. antroposmoderno.com/antro- articulo.php?id_articulo=527 6 - Origem da história africana A ausência da História Africana é uma das lacunas de grande importância nos sistemas educacionais brasileiros. Essa ausência tem quatro consequências sobre a população brasileira. A ausência de uma história Africana, em primeiro lugar, retira a oportunidade dos afrodescendentesde construir uma identidade positiva sobre as suas origens. Alimenta um universo do africano e afrodescendente como ignorante, inculto, incivilizado. A História do Brasil, após l500, é uma consequência das histórias Indígenas, Africanas e Europeias. As tecnologias, costumes, culturas, propostas políticas trazidas pelos Africanos ficam difíceis de ser reconhecidas e integradas devidamente na história nacional, pelo desconhecimento da base Africana. Muitas das realizações do povo africano no Brasil ficam subdimensionadas ou não reconhecidas, dado o tamanho da ignorância reinante no país sobre as nossas origens africanas. Não é possível uma história brasileira justa e honesta sem o conhecimento da história Africana. Apresentaremos aqui, então, algumas informações introdutórias, porém, pouco conhecidas por grande parte do contingente da população. A história desses povos é muito rica e deve ser investigada, buscada, conhecida. E cabe a nós, no espaço da sala de aula, instigar essa busca. 6.1 - O continente africano O continente africano possui uma grande variedade de línguas, costumes e religiões, trajes, pinturas, tecidos e marcas de cada grupo: túnicas, turbantes, tecidos coloridos, chapéus, lenços e véus. Você sabe onde fi ca o continente africano? A África forma, com a Europa e a Ásia, o conjunto de continentes conhecido como Velho Mundo. É o segundo continente em tamanho, são 303 096 77 quilômetros quadrados, que equivalem a cerca de 22% das terras emersas do planeta (Disponível em http://websmed.portoalegre. rs.gov.br). Acesso em 26 de fevereiro de 2012. O continente africano ocupa uma posição interessante na Terra. Cortado pelo Equador e pelo Meridiano de Greenwich, é o único que se estende pelos quatro hemisférios - norte, sul, leste e oeste. É o único também cortado pelos dois Trópicos - o de Cancêr ao norte e o de Capricornio ao sul. Essa posição influi muito no clima, na vegetação, na hidrografia e no solo - elementos que formam as variadas paisagens naturais africanas. Uma rede de transporte foi implantada, voltada não para integrar o continente ou as diversas região de cada pais, mas sim para ligar a África ao mercado internacional. As primeiras rodovias e ferrovias ligam em geral as áreas minerais aos principais portos exportadores As ferrovias africanas foram construídas como apoio à exploração de recursos naturais. Assim, a maior parte só possibilita o transpote do interior para cidades costeiras, deixando isoladas grandes áreas do continente: cinco países do interior não possuem ferrovias. O acesso pelos rios Congo, Nilo e Niger é limitado, pois eles são repletos de cachoeiras e cataratas, o que impede a sua navegação total. Muitas estradas foram abertas nos anos 1960 e 1970, mas os problemas econômicos dificultam sua manutenção e expansão. Religião e idioma - Ao lado de cultos animistas, praticam- se o islamismo, o cristianismo e o hinduísmo. Predominam as línguas e os dialetos dos troncos africanos. É grande a influência do português, do francês e do inglês, idiomas dos principais grupos colonizadores. A África do Sul é constituída por 11% de Mestiços, 29% de Brancos e 60% de negros. Apesar de a África ser conhecida como o continente negro, quase um terço de seus habitantes, especialmente os povos que residem na parte norte, são brancos. Dois terços da população, constituída por africanos negros concentram-se, em geral, ao sul do Saara. De maneira geral, a parte norte da África Branca é constituída por povos muçulmanos, isto é, praticam a religião islâmica e, em sua maioria, falam o idioma árabe. A presença dos árabes nessa parte do continente data de 641 d.c., quando os povos muçulmanos se expandiram e conquistaram o Egito. A África do Sul é referência mundial em áreas como ciências sociais, habitação, saneamento básico, saúde pública, ecologia, botânica e zoologia. O que mais chama a atenção do país que se livrou do Apartheid é a diversidade de raças, religiões e línguas, ao todo são onze os idiomas oficiais. 6.2 - Escravidão A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana no Brasil colônia ocorreu, progressivamente, a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil índios, entre os anos 1562 e 1563. As causas eram doenças contraídas pelo contato com os 79 brancos, especialmente os jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Outro fator bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão de obra indígena pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que assumia um papel cada vez mais importante na economia colonial. Para conseguir dar conta dessa expansão e demanda externa se fez necessária uma mão de obra cada vez mais especializada, como a dos africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses, no litoral da África, também como escravos. 6.3 - Religião A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda nesse sentido. Isto explica muitas coisas. O africano foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto. De sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Essas sementes, esses conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos. Os trezentos anos da história da escravidão do africano no Brasil atestam, acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu no negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros, a resistência negra; resistiu-se por haver organização, a organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve um farol, um guia, um orixá protetor. No meio dos “objetos” traficados (os escravos) havia joias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma de terreiros de candomblé. Podemos afirmar que a cultura do candomblé no Brasil nasceu nas senzalas com a junção de povos (africanos) com seus costumes e crenças (orixás), provenientes de milhões de negros de diversos países e cidades africanas, trazidos (arrancados) de seus lares e de suas famílias para trabalhar nas plantações de cana e café das cidades baianas, cariocas e paulistanas, e posteriormente nos exércitos e fazendas de fronteiras do Rio Grande do Sul. 6.4 - Quilombos - resistência Uma das mais importantes formas de resistência à escravidão, os quilombos se formaram em regiões de grande concentração de escravos, durante o período mais intenso do tráfico. Embrenhados nas matas e terras virgens, os núcleos se transformavam em prósperas aldeias. Quilombolas: habitantes dos quilombos. Zumbi dos Palmares, o maior ícone da resistência negra ao escravismo no Brasil. Zumbi, símbolo da resistência negra Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra. A data - transformada em Dia Nacional da Consciência Negra pelo Movimento Negro Unificado em 1978 - não foi escolhida ao acaso e sim como homenagem a Zumbi, líder máximo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra, assassinado em 20 de novembrode 1695. O Quilombo dos Palmares foi fundado em 1597, por cerca de 40 escravos foragidos de um engenho situado em terras pernambucanas. Em pouco tempo, a organização dos fundadores fez com que o quilombo se tornasse uma verdadeira cidade. Os negros que escapavam da lida e dos ferros não pensavam duas vezes: o destino era o tal quilombo cheio de palmeiras. Com a chegada de mais e mais pessoas, inclusive índios e brancos foragidos, formaram-se os mocambos, que funcionavam como vilas. O Mocambo do Macaco, localizado na Serra da Barriga, era a sede administrativa do povo quilombola. Um negro chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos Palmares. Alguns anos após a sua fundação, o Quilombo dos Palmares foi invadido por uma expedição bandeirante. Muitos habitantes, inclusive crianças, foram degolados. Um recém- nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a Antônio Melo, um padre da vila de Recife. O menino, batizado pelo padre com o nome de Francisco, foi criado e educado pelo religioso, que lhe ensinou a ler e escrever, além de lhe dar noções de latim e o iniciar no estudo da Bíblia. Aos 12 anos o menino era coroinha. Entretanto, a população local não aprovava a atitude do pároco, que criava o negrinho como filho e não como servo. Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, Francisco não se conformava em ser tratado de forma diferente por causa de sua cor. E sofria muito vendo seus irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos 80Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental e praças públicas. Por isso, quando completou 15 anos, o franzino Francisco fugiu e foi em busca do seu lugar de origem, o Quilombo dos Palmares. Após caminhar cerca de 132 quilômetros, o garoto chegou à Serra da Barriga. Como era de costume nos quilombos, recebeu uma família e um novo nome. Agora, Francisco era Zumbi. Com os conhecimentos repassados pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em inteligência e coragem. Aos 17 anos tornou-se general de armas do quilombo, uma espécie de ministro de guerra nos dias de hoje. Com a queda do rei Ganga Zumba, morto após acreditar num pacto de paz com os senhores de engenho, Zumbi assumiu o posto de rei e levou a luta pela liberdade até o final de seus dias. Com o extermínio do Quilombo dos Palmares pela expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, Zumbi fugiu junto a outros sobreviventes do massacre para a Serra de Dois Irmãos, então terra de Pernambuco. Contudo, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi traído por um de seus principais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo. Zumbi foi então capturado e torturado. Jorge Velho matou o rei Zumbi e o decapitou, levando sua cabeça até a praça do Carmo, na cidade do Recife, onde ficou exposta por anos seguidos até sua completa decomposição. “Deus da Guerra”, “Fantasma Imortal” ou “Morto Vivo”. Seja qual for a tradução correta do nome Zumbi, o seu significado para a história do Brasil e para o movimento negro é praticamente unânime: Zumbi dos Palmares é o maior ícone da resistência negra ao escravismo e de sua luta por liberdade. Os anos foram passando, mas o sonho de Zumbi permanece e sua história é contada com orgulho pelos habitantes da região onde o negro-rei pregou a liberdade. Fontes: Dpnet.com.br O Dia On-Line Feranet21.com.br Mais do que explicar a existência de Zumbi, a historiografia precisa contar da avançada organização de Palmares. Enquanto a elite acabava com o solo do Nordeste com a monocultura da cana de açúcar, os negros do Quilombo plantavam algodão, milho, mandioca, feijão, legumes, batatas e frutas. Era dividido em repúblicas, com organização política e econômica apoiada na experiência tribal africana para estabelecer formas de governo. Talvez o medo de organizações como essa, muito superiores às dos brancos ocidentais, levaram as elites a promoveram o massacre dos quilombos e deixar aos seus descendentes a imagem da subraça. Durante quatro séculos, os negros foram tratados como mercadoria, grande parte da historiografia acabou retratando o negro como ser passivo, disposto a aceitar o seu destino como o gado a caminho do matadouro. Seria complicado reconhecer nele um ser humano que luta pela própria liberdade e ainda assim justificar a escravidão. 6.5 - Alimentação Se você observar, muitas das receitas que nós costumamos comer são de origem africana, ou seja, são comidas afro- brasileiras. Entre vários aspectos da cultura - como a literatura, a música, a dança, o teatro, a culinária têm sua importância reconhecida e é tomada como uma indicação da indentidade de cada grupo humano. A sua variedade revela os recursos naturais de que dispõe o homem na região onde vive e também a cultura que desenvolve. O africano introduziu na cozinha o leite de coco, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre a do reino; deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. A cozinha africana, pequena, mas forte, fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes, fez a mesma coisa com os pratos da terra e, finalmente, criou a cozinha brasileira, ensinando a fazer pratos com macarrão seco e a usar as panelas de barro e a colher de pau. O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite de dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola. Os africanos trouxeram ao Brasil o gosto por novos temperos e a habilidade de improvisar receitas, misturando ingredientes europeus e indígenas. Na falta de inhame usavam mandioca, na falta de pimenta africana, abusavam do azeite de dendê. Especiarias, pimentas, abacaxi, banana, tomate, porco doméstico, técnicas de assados, cozidos e marinados foram introduzidos pelos portugueses, que se misturaram à culinária africana. A comida que está em nossa mesa todos os dias é composta por muitas contribuições dos povos africanos e dos seus descendentes. E não podemos esquecer que a feijoada surgiu nas senzalas, feitas pelos escravos que cozinhavam o feijão nas horas de seus intervalos e aproveitavam os restos de porco (rabinho e pés) jogados fora pelos seus senhores. 6.6 - Moda / indumentária/ trajes africanos No nordeste da África, as mulheres rashaidas, que habitam a Sumária, vestem-se de véus e túnicas devido à influência muçulmana. Elas usam delicadas joias de prata e no rosto véus bordados elaboradamente. A pintura em hena decora mãos e pés. Esse tipo de pintura decorativa é difundida na África e na Índia. 81 Os povos do continente africano costumam usar trajes, pinturas corporais, tecidos e adornos, conforme as identidades de seus devidos grupos. Geralmente as pinturas são usadas em cerimônias, para enfeitar o corpo ou para exibir o estilo de sua tribo e todas as pinturas têm um significado diferente. Alguns utensílios da indumentária africana: • Hena nas mãos e nos pés: hena é um tipo de pintura decorativa e foi difundida na África e na Índia. • Colares de contas: esses colares são usados pelas mulheres; o número de colares que elas usam indica a posição social nos seus grupos. • Plumas na cabeça: os homens usam as plumas para irem a guerras e cerimônias. • Noivas cheias de joias: quando casam, as noivas de Marrakech se enfeitam com muitas joias. • Túnicas e turbantes: os bérberes beduínos usam um traje clássico, uma túnica simples, contrastando com o turbante azul-escuro. • Batique africano: o batique é um tipo de pintura na qual se usa cera e pigmentos para desenhar e tingir os tecidos. • Vestidos com babados: as mulheres do povo himba usam esses vestidos como símbolo de suas identidades. 7 - Línguas africanas no Brasil A presença de línguas africanasno Brasil está diretamente associada ao tráfico de escravos que, por mais de três séculos sucessivos, de 1502 a 1860, introduziu no país por volta de 3.600.000 africanos, de origens diversas: Sudaneses da região situada ao Norte do Equador (ciclo da Guiné, século XVI); Bantos ao Sul do Equador (ciclo do Congo e de Angola, século XVII); Sudaneses da Costa Ocidental (ciclo da Costa da Mina e ciclo da baía do Benim, início do século XVIII); no século XIX, chegam escravos de todas as regiões, predominando os originários de Angola e Moçambique. Não se pode precisar o número das línguas que aqui chegaram, mas sabe-se que na área atingida pelo tráfico são faladas por volta de 200 a 300 línguas, uma pequena parcela do conjunto linguístico africano que conta com mais de 2000 línguas. No século XX não se localiza nenhum registro sobre línguas africanas plenas no Brasil, visto que desde o final do século anterior elas passam a manifestar-se como línguas especiais, utilizadas como códigos por grupos específicos, seja como língua ritual nos cultos afro-brasileiros, seja como língua secreta, marca de identidade de descendentes de escravos em comunidades negras, os Quilombos. As línguas africanas, marcadas pela ruptura causada pela escravidão nas Américas, encontraram-se, no Brasil, com outros contatos linguísticos com o português, as línguas indígenas e outras línguas africanas, ocorrendo de forma diferenciada, nas diferentes épocas e nos diferentes ambientes (urbano e rural). O número de línguas independentes faladas pelos povos do continente Africano é enorme. Em algumas partes da África são falados, em áreas relativamente pequenas, muitos dialetos e muitas línguas diferentes entre si. Denominava-se nagô ou anago a um povo do reino de Queto, na África Ocidental, numa região atualmente localizada em Benim, de onde vieram numerosos africanos escravos para o Brasil. A língua usada nos cultos afro-brasileiros considerados nagô não corresponde a uma língua africana conservada na sua pureza, uma vez que as comunidades afro-brasileiras foram constituídas por povos de etnias, línguas e dialetos diversos como jeje, ijeja, mussaramin (malé), dentre outros. Vale lembrar que outras línguas são usadas nas religiões Mina e Congo-angolanas no Brasil e elas são referentes às línguas dos povos que predominaram nas localidades onde hoje essas religiões são praticadas, especialmente em São Luis do Maranhão e Rio de Janeiro. Essas outras línguas de uso religioso passaram por processo de transformação semelhante e não são puras línguas africanas. Ao longo do tempo essas línguas se transformaram. Enquanto os descendentes dos africanos que vivem no Brasil usam essas línguas, os povos africanos, sob a influência de seus vizinhos e dos colonizadores europeus, tiveram as línguas locais mudadas sob outras circunstâncias. Os cultos do Candomblé das diferentes nações (Nagô- quetu, Jeje, Angola) utilizam diversas línguas: iorubá, em todos os cultos e principalmente na nação Nagô-quetu; Ewe- fon, nos cultos Jeje; e Quimbudu e Quicongo (Disponível em http://websmed.portoalegre.rs.gov.br) Acesso em 26 de fevereiro de 2012. . No candomblé de Angola, no Maranhão, no Tambor de Mina, há um misto de língua Mina-nagô. Nos cultos de Umbanda, religião brasileira formada, grosso modo, do encontro de cultos africanos e tradições indígenas com o espiritismo e o catolicismo, fala-se o português brasileiro “popular”, com vocabulário particular, próprio das “entidades”. As línguas africanas utilizadas hoje, ritualmente, mantêm- se como veículo de expressão dos cânticos, saudações e nomes dos iniciados principalmente, podendo também servir como meio de comunicação entre alguns adeptos da mesma comunidade de culto. 7.1 - Iorubá e Bantu A língua mais falada no Candomblé no Brasil é o Iorubá. Exemplos de palavras da língua falada no Brasil são fé, acarajé, jabá (carne-seca) e axé. Mas há mais palavras de origem Bantu em português, como cafuné, dengo, calango, macaco, canjica, samba, inhaca, jiló, ginga, moleque, xodó, zangado, zum-zum. Isso porque na época da colonização os grupos bantu eram mais numerosos no Brasil. De acordo com Nina Rodrigues (2010), a primeira a estudar as línguas e dialetos africanos no Brasil, “as línguas africanas faladas no Brasil sofreram grandes alterações com a aprendizagem do português por parte dos escravos” (Disponível em http://rerida.blogspot.com/2010/12/o-portugues-e-as- linguas-africanas.html). Acesso em 26/02/2012. O contato entre a língua portuguesa e as línguas africanas no Brasil não chegou a produzir uma língua crioula estável (como ocorreu nas Guianas e no Caribe, onde a língua crioula é oficial), mas promoveu uma série de mudanças nas variedades de língua portuguesa faladas no país, sobretudo nas camadas populares da zona rural. 7.2 - Educação Na sociedade moderna ocidental, quem não produz, 82Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental quem não domina os avanços da tecnologia, logo é excluído e taxado de ignorante e inútil. E se tiver idade avançada, o seu destino final é o “asilo dos velhos”, ou, para atenuar um pouco o sentido pejorativo da palavra “velho”, denominam tais logradouros de “lar dos idosos”. E para os africanos? O que representa o idoso? O idoso é sábio Diz o poeta Hampaté Bah, do Mali: “Quando morre um africano idoso, é como que se queimasse uma biblioteca”. Essa frase exprime bem o valor do idoso na sociedade tradicional africana, que tem uma cultura iletrada. O idoso, com a sua sabedoria adquirida nos seus muitos anos de vida, torna-se o transmissor dos valores da cultura tradicional herdada dos seus antepassados. Essa “aula” de cultura tradicional é ilustrada sempre através de contos, provérbios ou lendas que se referem aos acontecimentos vividos nos tempos antigos. Constata- se facilmente que a tradição dos antepassados está muito presente na vida do povo, haja vista que para o africano é o passado que dá sentido ao presente. O futuro ainda não existe. Todas as reuniões em nível de comunidade aldeã (julgamento popular, acolhida de uma delegação de visitantes, funerais, celebração da festa da colheita, danças de regozijo) são ocasiões propícias para transmitir aos presentes a cultura tradicional. O palco para essas reuniões da comunidade aldeã é debaixo de uma árvore bem frondosa, geralmente situada no centro da aldeia. (Pe. Toninho - PIME, por 19 anos missionário na Costa de Marfim – África) 8 - Diversidade musical: dança, esporte e arte 8.1 - Músicas de trabalhar Reúne as músicas classificadas genericamente como Canto de Trabalho, modalidade de canto que acompanha as atividades coordenando seus movimentos. Em sua maioria se originam no período colonial, quando a mão-de-obra escrava predominava na lavoura, na mineração e na cidade. Muitas acabaram sendo extintas, em função da modernização. No Acervo da Coleção Missão de Pesquisas Folclóricas constam gravações de várias delas, relacionadas a diferentes atividades de trabalho como: Canto de carregadores de piano, Canto de casa de farinha, Canto de pedinte, utilizado para pedido e agradecimento de esmolas. 8.2 - Músicas de cantar Essa categoria reúne as músicas que não são ligadas à dança ou a manifestações religiosas. Foram denominadas no Catálogo Histórico-Fonográfico da Missão de Pesquisas Folclóricas como Canto puro, não ligado à dança. Quase que em sua totalidade tratam-se da forma conhecida como Desafio, cantada como um duelo entre dois cantadores, parte de improviso e parte decorada. Considerado por Luis da Câmara Cascudo como de origem europeia, é encontrada em quase todo o Brasil, principalmente no norte e nordeste. 8.3 - Músicas de dançar Essa categoria reúne as músicas instrumentais ou cantadas ligadas à dança. Reúne também as danças classificadas como Danças Dramáticas, nome genérico com que se designam os grandes bailados populares que se baseiam num assunto e têm, na sua maioria, partesfaladas e representadas, contando uma ou várias histórias como Bumba-meu-Boi, Barca ou Nau Catarineta, Cabocolinhos e Reis de Congo. 8.4 - Músicas de rezar Essa categoria reúne as músicas das danças e cantos religiosos e também das manifestações religiosas afro- brasileiras e ameríndias. Sob o nome rezar não se enquadram somente cânticos que repetem orações, mas também os utilizados para louvar, agradecer, invocar e despedir-se de deuses e entidades espirituais como santos, orixás, voduns, mestres e caboclos. 8.5 - Dança O maxixe foi o primeiro tipo de dança urbana surgida no Brasil. Era dançada em locais que não atendiam a moral e aos bons costumes da época, como em forrós, gafieiras da cidade nova e nos cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, por volta de 1875. Mais tarde chegou aos clubes carnavalescos e aos palcos dos teatros de revista. Os homens de classes mais privilegiadas frequentavam esses bailes e gafieiras, em busca da sensualidade das danças africanas. “Os pares enlaçam-se pelas pernas e braços, apoiando-se pela testa”, essa maneira de dançar lhe valeu o título de escandalosa e excomungada. Foi perseguida pela polícia, igreja, chefes de família e educadores. Para que pudessem ser tocadas em casa de família, as partituras de maxixe traziam o impróprio nome de “Tango Brasileiro (Hilario Bispo, 2011 p. 01. Disponível em Núcleo de Estudos e Pesquisas das Relações Étnicos Raciais, http:// tamboresdosmontes.blogspot.com/2011) Acesso em 26 de fevereiro de 2012. Era uma forma de dançar não atrelada a um gênero musical específico, sendo inicialmente dançado ao ritmo do tango, da havaneira, da polca ou do lundu. Só nos fins do século XIX as casas editoriais consideraram-no um gênero musical, imprimindo as músicas com essa classificação: “a primeira dança genuinamente brasileira”. No início do século, alcançou grande sucesso nos palcos europeus, sendo apresentada com requintes coreográficos pelo dançarino Duque, na França e na Inglaterra, em 1914 e 1922, quando entrou em declínio, cedendo espaço ao fox-trote e posteriormente ao samba. 83 O maior acervo da arte antiga africana encontra-se nos museus da Europa Ocidental. A dança originou-se na África como parte essencial da vida nas aldeias. Ela acentua a unidade entre seus membros. Em sua maioria, todos os homens, mulheres e crianças participam da dança, batem palmas ou formam círculos em torno dos bailarinos. Todos os acontecimentos da vida africana são comemorados com dança: nascimento, morte, plantio ou colheita. Ela é a parte mais importante das festas realizadas para agradecer aos deuses por uma colheita farta. As danças africanas variam muito de região para região, mas a maioria delas tem certas características em comum. Os participantes geralmente dançam em filas ou em círculos, raramente dançam sós ou em par. As danças chegam a apresentar algumas vazes até seis ritmos ao mesmo tempo e seus dançarinos podem usar máscaras ou enfeitar-se. A dança está presente no dia a dia das pessoas, seja no vilarejo ou no bosque sagrado ou das florestas. A dança interrompe a monotonia e estrutura do tempo. Assim como uma canção, a dança é uma forma de contar histórias. Dança do Congo - É uma dança teatralizada, ao ar livre, realizada durante as festas religiosas e populares. Cada grupo de Dança do Congo é constituído por uma seção musical (três ou quatro tambores, flautas e canzás) e um número variável de figurantes, todos eles hábeis dançarinos: o capitão congo, o logozu, o anju môlê (anjo que morreu), o anju cantá (anjo cantador), o opé pó (figura que executa diversas acrobacias), ulogi o feiticeiro, o zuguzugu (ajudante de feiticeiro), três ou quatro bobos, o djabu (diabo) e dez a dezoito soldados dançarinos. Danças de salão - A dança de salão, mais conhecida por Kizomba, é uma dança executada preferencialmente em festas e cerimoniais. Aliás, Kizomba significa festa. Começou a ser executada nos Centros Recreativos e Culturais dos subúrbios luandenses e praticada nos primórdios por dançarinos profissionais no tempo colonial. 8.6 - Esporte: a capoeira Tudo começou com uma dança da zebra. A palavra capoeira não é Africana, como se costuma pensar. Ela vem do tupi, kapueira, e possui dois significados - mato rolo ou roçado, ou um cesto ou gaiola para carregar animais e mantimento. Os historiadores falam sobre o berço da capoeira, que pode ser rural ou urbano. Uns enxergam seu nascimento no campo, entre grandes plantações de cana e engenhos de açúcar. As clareiras abertas no mato serviriam de canal para fuga dos escravos e espaços para o lazer. Pular deitar e rolar fazem parte do jogo da capoeira. Não escapa sequer um músculo sem ser trabalhado ao ritmo do berimbau, do atabaque e do pandeiro. Desenvolvem aspectos motores, passa noções de disciplina e canaliza a agressividade. Esse jogo conquista pai, mãe e a garotada: tem música que brasileiro nenhum dispensa. A sequência dos movimentos parece uma dança e faz bem para a mente. Além disso, pode ser a “senha” para despertar o interesse de seu filho por esporte. Dos tempos da escravidão pra cá, muita coisa aconteceu no mundo da capoeira, foram crises, proibição, liberação, perseguição, etc. Atualmente a capoeira é reconhecida e praticada mundialmente por um número muito grande de pessoas. 8.7 - Arte africana A arte africana exprime usos e costumes das tribos africanas. O objeto de arte é funcional, criado para ser utilizado, ligado ao culto dos antepassados, profundamente voltado ao espírito religioso, característica marcante dos povos africanos. É uma arte extremamente representativa. A arte africana chama atenção pela sua forma e estética. Nos simples objetos de uso diário como ornamentos e tecidos, expressam muita sensibilidade. Nas pinturas, assim como nas esculturas, a presença da figura humana identifica a preocupação com os valores étnicos, morais e religiosos. A escultura foi amplamente utilizada pelos artistas africanos empregando para sua confecção materiais como ouro, bronze e marfim. As máscaras têm um significado místico e importante na arte africana, uma vez que representam um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade de adquirir forças mágicas. São usadas nos rituais e funerais. São confeccionadas de barro, marfim, metais, mas o material mais utilizado é a madeira. A modelagem é feita em segredo, na selva, para estabelecer a purificação e a ligação com a entidade sagrada. Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar essa aula, vamos recordar: 1 – O perfil da discriminação racial no Brasil Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito 84Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental expressado de maneira clara como, por exemplo, dar tratamento desigual ou mesmo negar direitos a um indivíduo ou grupo determinado. A discriminação indireta está internamente relacionada com situações aparentemente neutras, mas que criam desigualdades em relação a outrem. Essa última maneira de preconceito é a mais comum no Brasil 2 - Mas, o que é etnia? O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo”. 3 - A legislação A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino da história e da cultura indígena e afrobrasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, particulares e públicas no Brasil, e inclui no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afrobrasileira e Indígena”. 4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003 4.1 - Tratando o “Diferente” de maneira diferente 4.2 - Ainda sobre legislação A formação de professores para dar conta da implementação desta Lei, se dá no contextoatual do estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações Afirmativas para população afrodescendente e indígena. 5 - Educação para todos: políticas de ação afirmativa 5.1 - Conhecendo a realidade dos dados 5.2 - Política de ação afirmativa algumas referências 5.3 - Conceituando as políticas de ações afirmativas 5.4 - Novos horizontes – política de ação afirmativa através da Lei 10.639/03 Com base nas pesquisas, apresenta-se a discrepância nos números entre os brasileiros, percebendo a necessidade de meios que possibilitem erradicar ou minimizar as desigualdades existentes os cidadãos. Para tanto, as políticas de ações afirmativas seria uma das possibilidades para mudar este quadro. Mais especificamente, no aspecto educacional, a partir do ano de 2003 temos a Lei Federal assinada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que traz a História e Cultura Afro-brasileira e Africana e as Relações Raciais como obrigatoriedade nas escolas brasileiras. BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em preto e Vale a pena Vale a pena ler branco: discutindo as relações raciais. 3. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e etnia: a construção da pessoa e resistência cultural. São Paulo: Brasiliense, 1986. BRASIL. Ministério da Educação - Reforma da Educação Superior - Reafirmando princípios e consolidando diretrizes da reforma da educação superior - Documento II, 2004. HERNANDEZ, Leila Leite. A África em sala de aula. São Paulo: Selo Negro, 2005. A vida em preto e branco Ficha Técnica / Título Original: Pleasantville / Gênero: Drama / Tempo de Duração: 108 minutos / Ano de Lançamento (EUA): 1998 / Direção: Gary Ross Um grito de liberdade Ficha Técnica / Título original: “Cry Freedom” / Inglaterra, 1987, 157 / minutos. Direção: Richard Attenborough Hotel Ruanda Vale a pena assistir As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta “Atividades”. Após respondê-las, envie-nas por meio do Portfólio- ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas, utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor. Minhas anotações