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Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental 4º Aula O trabalho e vida econômica Nesta aula vamos procurar compreender as transformações que ocorreram no mundo do trabalho, passando de um modelo rural para o desenvolvimento de uma sociedade industrial, bem como, conhecer as inovações tecnológicas que estão surgindo na sociedade pós- industrial. Vamos ao texto! Boa leitura!! Boa aula! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • entender o processo de mudança que estão ocorrendo no mundo trabalho e seus impactos no desenvolvimento social e na evolução da humanidade; • discutir a sociedade de massas e suas transformações nas relações de trabalho em um mundo em constantes mudanças. 35 Seções de estudo 1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida 1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida 1.1 - Trabalho e vida na sociedade pós- industrial 2 - A sociedade de massa é o melhor dos mundos possíveis? 3 - Uma nova visão do mundo 3.1 -O obscuro objeto da crise 3.2 - Serviços e colarinhos brancos A industrialização, segundo DeMasi (1999), interveio lentamente em toda a milenária ordem rural e artesanal da sociedade: do trabalho à família, da fábrica à cidade. E interveio ao sinal da ruptura. Na sociedade industrial: O lugar de trabalho separou-se do lugar de vida extratrabalho e muitas vezes entre os dois se interpôs uma grande distância, que requer horas para ser cotidianamente coberta pelo trabalhador pendular. Assim, segundo DeMasi ( 1999), foram criadas as condições pelas quais milhões de trabalhadores sentiram-se estranhos, seja nos bairros em que produziam como naqueles onde se reproduziam. Os proprietários dos meios de produção não têm mais pontos de coincidência com os trabalhadores. Entre os dois blocos criam-se condições objetivamente conflitantes que alimentaram a solidariedade no interior de cada uma das classes e o conflito entre as duas. Resultou disso uma polarização e a contraposição frontal entre empregadores (burguesia) e empregados (proletariado). Os dois blocos foram separados não só pelo diverso relacionamento com os meios de produção mas também por um teor diferente de vida, por estilos diferentes de comportamento, por uma diferente cultura. (DEMASI, 1999 p 89). Se na comunidade rural cada trabalhador acumulava mais papéis e podia esbarrarem artesãos que trabalhavam continuamente – como cervejeiro, taberneiro, pedreiro e artífice, na sociedade industrial cada operador acabou por assumir um único papel e, dentro dela, acabou por especializar- se em tarefas cada vez mais específicas. O ideal, para Taylor, era que cada trabalhador desenvolvesse uma só operação elementar. Diferentemente das ofi cinas artesanais, pequenas por dimensão espacial e pelo número de artesãos, as fábricas ocuparam uma superfície cada vez maior e um número crescente de pessoas. Paralelamente ao processo produtivo, também o de distribuição baseou-se nos pontos de venda (supermercados, grandes magazines, hipermercados), cada vez mais imponentes, permitindo também a adoção de preço único que, por sua vez, é derivado da produção em série. O trabalhador e a prole que o acompanhava nas fábricas logo passaram à dependência de chefes estranhos à família, que exerceram sobre eles (frequentemente de forma brutal) o poder hierárquico e disciplinar, prescindindo das considerações de caráter afetivo e avaliando resultados em vez de intenções, como é próprio dos contextos industriais que De Masi (1999), chama de sociedades frias e impessoais, por contraposição às comunidades rurais-artesanais, quentes e protetoras. Também os conhecimentos do processo produtivo como um todo foram vedados aos trabalhadores, obrigados a tarefas pobres e fragmentadas, para se concentrarem no topo da empresa. A ciência e a tecnologia assumiram o comando dos processos de produção, antes guiados pelo bom senso e pela experiência. O mercado, por sua vez, tornou-se cada vez mais amplo e exigente. A população ativa deslocou-se cada vez mais dos trabalhos agrícolas para as manufaturas. Às vésperas da revolução industrial na Inglaterra, 75% trabalhavam na agricultura, mas em meados do século XIX tinham caído para 21 % e em 1901 estavam reduzidos a apenas 9%. No mesmo período, os trabalhadores na indústria passaram de 14% para 46%. O progresso – lentíssimo, na sociedade rural – deu um grande salto com a industrialização, modifi cando rapidamente todos os parâmetros sociais. Os economistas de meados do século XVIII apoiavam seu raciocínio em estatísticas referentes aos cinquenta anos anteriores, enquanto hoje já se consideram obsoletos os dados do mês passado.(DEMASI, 1999 p. 103). A quantidade de população presente em determinada região depende cada vez menos da fertilidade do solo, da disponibilidade local de matérias-primas, das pragas, carências e calamidades naturais e cada vez mais das decisões de cada casal e dos governos. O fenômeno do urbanismo concretizou-se em uma imponente migração de massas camponesas para os centros urbanos, que exerceram uma forte atração através das indústrias – para o trabalho – e das diversões – para as horas de lazer. Em poucas décadas, as cidades ficaram milionárias e a cultura urbana diferenciou se claramente da rural, sobre a qual acabou por prevalecer. A cidade “funcional” substituiu a interfuncional e interclassista. Cada bloco de funções, cada casta e classe teve o seu lugar definido: a zona industrial para produzir, o setor comercial para comprar e vender, o setor burocrático para os negócios político administrativos, o setor de diversões para o tempo livre. Cada cidadão tinha que se deslocar diariamente de uma zona à outra, segundo as funções a exercer de cada vez. Uma parte da cidade ficava vazia nos dias úteis e outra nos feriados e fins de semana. Os bairros dormitórios permaneciam vazios de dia, enquanto os industriais e administrativos ficavam vazios à noite; o metrô e os outros meios de transporte são encarregados de distribuir massas crescentes de uma parte a outra da cidade para fazer frente à sincronização exigida pela “linha de montagem global”, que queria todos presentes ao trabalho à mesma hora, todos em férias no mesmo dia e assim por diante. os papéis ficaram padronizados e se especificaram, assim como os produtos, instrumentos e processos de produção, até atingir os níveis máximos de fragmentação 36Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental 2 - A sociedade de massa é o melhor dos mundos possíveis? propiciados por Taylor e a rígida progressão imposta pela linha de montagem introduzida por Ford. A linha de montagem, isto é, a mais refinada aparelhagem industrial de envolvimento e de controle, depois de ter conquistado as oficinas e depois de ter contagiado escritórios e cidades, acabou por representar a metáfora da empresa industrial e da cidade inteira. As atividades domésticas foram separadas rigorosamente das profissionais, a hierarquia empresarial foi reservada aos homens e as mulheres relegadas às tarefas relativas a criação dos filhos, as tarefas educativas e domésticas, tidas como secundárias, e aos níveis mais baixos da pirâmide empresarial. Cada indústria acabou produzindo não objetos completos, mas meras partes de objetos, adquirindo em outros lugares as patentes e matérias-primas para depois transferir os semi acabados a outras empresas para montagem. O mercado se ampliou progressivamente até se transformar em planetário. O produtor não conheceu mais o consumidor senão como alvo abstrato. O consumidor, por sua vez, perdeu todo contato direto com a empresa produtora dos seus objetos de consumo e dela tem recebido apenas uma imagem manipulada pela publicidade. Cada sistema obedeceu a uma lógica sua, tentou reduzir os outros sistemas à própria lógica e defendeu-se da irrupção de lógicas alheias. A ordem racionalista da organização produtiva pretendeu a expulsão dos sentimentos e dasemoções de todos os lugares destinados ao trabalho executivo, segundo os critérios que são próprios da “sociedade”, contraposta à “comunidade”. Os parâmetros de referência foram constituídos pela tecnologia automática, pelo forte predomínio do trabalho físico e executivo, por uma epistemologia voltada para a linearidade e simplicidade, por um predomínio de necessidades “fortes” e primárias comuns a grande parte dos trabalhadores e de necessidades voluptuosas massificadas por razões produtivas e em função das modas, pela dimensão predominantemente local ou nacional dos problemas e da economia, por valores puramente machistas, por uma cultura de tipo “moderno” e pela e pela secularização. 1.1 Trabalho e vida na sociedade pós- industrial Exatamente nos mesmos anos em que Taylor e Ford levavam ao ápice a produção industrial americana e os seus princípios de organização, na Europa germinavam as sementes de uma sociedade profundamente nova que, por comodidade, podemos chamar de “pós-industrial”. Sob esse aspecto, o Velho Mundo foi mais veloz do que o Novo Mundo, ainda que na ocasião ninguém lhe tenha feito caso e o arrasador sucesso da indústria manufatureira tenha legitimado a convicção de que a sociedade industrial não estava no seu auge mas no início. Uma série de inovações quase concomitantes na arte e nas ciências recolocou em discussão o universo da precisão e da produção em série, sobre o qual fundava-se toda a filosofia industrial, e chamou a atenção de muitas mentes geniais para o papel nada marginal exercido pelo espírito aproximativo – o “mais ou menos”, pela emoção e pela criatividade individual e coletiva na determinação do progresso humano. Portanto, a organização das fábricas acreditava estar plantada cientificamente em princípios simples, certos, universais e absolutos, mesmo quando outras ciências se orgulhavam de conquistar a complexidade e a relatividade, aproximando-se novamente do mais ou menos, depois de ter cultivado a precisão durante dois séculos. Assim também, enquanto a fábrica manufatora aperfeiçoava e parcelizava a organização do trabalho produtivo, outros grupos experimentavam vias muito mais ousadas para organizar o trabalho criativo. Por ora recordemos que, junto com o triunfo da sociedade industrial, quase como prelúdio da sua já próxima superação, se produzem outros fenômenos novos. A ordem tradicional da velha empresa em que duas únicas partes sociais – os capitalistas e os operários se contrapunham frontalmente é modificada. “No passado, a direção da organização da empresa identificava-se com o empresário, isto é, com aquele que unia à propriedade ou ao controle de capital a capacidade de organizar os outros fatores produtivos e, em muitos casos, a ulterior capacidade de introduzir inovações. Em seguida à ascensão da moderna sociedade anônima, do aparecimento da organização requerida pela tecnologia e pelos métodos planifi cados e também a perda do controle da empresa pelo proprietário do capital, o empresário não existe mais como pessoa única na empresa industrial madura. [...] Na direção da empresa, o empresário foi substituído por um conselho administrativo. Este [...] compreende, ainda assim, apenas uma pequena parte dos que participam das decisões do grupo, trazendo a sua contribuição de informações. Esse grupo é muito amplo: vai dos mais altos funcionários da sociedade até atingir, no limite, os dependentes dos colarinhos brancos ou azuis, cuja função consiste em uniformizar-se mais ou menos mecanicamente às disposições ou à rotina. (DEMASI, 1999 p. 112). Fazem parte dele todos aqueles que contribuem com conhecimentos especializados, talento ou experiência para as decisões do grupo. Este – não o conselho administrativo – é a inteligência diretora, o cérebro da empresa. Falta um nome para todos os participantes das decisões de grupo ou para a organização a que dão lugar; DeMasi (1999) propõe chamar a essa organização “tecnoestrutura.” Outro fenômeno, explicitamente indicado por alguns autores como fase extrema do capitalismo maduro, é constituído pela difusão do consumo de massa e da sociedade de massa. A isso, que representa uma das paisagens mais significativas na transição da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial. O argumento, incubado havia tempo, foi muito cortejado nos anos 60, junto com a afortunada difusão de alguns ensaios norte-americanos. Entre os intelectuais, alguns se tornaram destemidos defensores da assim chamada sociedade de massas; outros a criticaram, da direita, e outros ainda, da esquerda. Os defensores. Em que consiste, portanto, essa sociedade e 37 quais são os seus valores? Essa sociedade industrializada é “de massas” no sentido de que permitiu à maioria dos cidadãos incorporar-se à coisa pública e à gestão do poder em medida jamais atingida antes. Nela, o cidadão é mais solidário com a coletividade e sente mais afi nidade com os seus concidadãos; a autoridade perdeu todo o caráter carismático; a tradição exerce a sua infl uência mediante formas mais abertas e interpretações divergentes; cada um goza de maior dignidade; as minorias, os jovens, as mulheres adquirem maior destaque no contexto social; a civilização encontra-se realizada mais inteiramente, graças a formas de adiantado sentido igualitário moral; a cidadania efetiva abrange toda a população adulta; a tecnologia liberou o homem da fadiga física, fornecendo lhe novos recursos “graças aos quais tornou lhe possíveis novas experiências sensoriais, de convívio e de introspecção”; as capacidades de conhecimento, estética e moral dos indivíduos são livres para se realizar, já liberadas do jogo da tradição, da escassez e da autoridade; a participação no poder é assegurada graças à solicitação de consenso nas decisões.(DEMASI 1999, p. 114). Os críticos da direita. Contra a sociedade de massa, revoltaram-se muitos críticos, tanto da direita como da esquerda. Os “apocalípticos aristocráticos” da direita – sobretudo tinham medo da massa, que pressiona para ser admitida à mesa das decisões. Para esses críticos, a sociedade de massa comportava um igualitarismo excessivo, uma disposição generalizada para aceitar formas anti-aristocráticas de governo, o predomínio das massas, a deterioração da qualidade em favor da quantidade, o advento do autoritarismo facilitado pela superorganização e a desintegração do tecido social, a impotência frente à infiltração comunista, a impossibilidade de controlar a intervenção das massas na vida política, a excessiva democracia. Os críticos da esquerda. Da esquerda, entretanto, criticava na sociedade de massa uma progressiva perda de autonomia da enorme maioria das pessoas. Isso teria acontecido por causa da crescente afirmação de uma elite cada vez mais exígua mas cada vez mais dotada de meios fortíssimos e de auxílios tecnológicos que lhe teriam permitido manipular as massas e mobilizá-las até o ponto de transformar as sociedades em “guarnições estatais”. Para DE Masi Segundo os críticos, a manipulação deveria estender-se progressivamente a zonas antes reservadas à privacidade do indivíduo ou do grupo; o isolamento e o caráter amorfo das relações sociais ameaçariam constantemente a liberdade individual; as comunicações entre os indivíduos seriam passadas, com frequência cada vez maior, pelo monopólio das elites; a sociedade atomizada e alienada estaria cada vez mais vulnerável a novas ideologias e formas de totalitarismo (“a sociedade do consenso é a sociedade do consenso dos gigantes e pelos gigantes”); a vontade de cada UM poderia inserir- se no circuito das ideias dominantes apenas se inserida no sistema ou limitada a solicitar lhe a força com críticas inócuas; a divergência das minorias encontraria crédito somente na medida em que não comprometesse o êxito das maiorias e em que assegurasse com a sua presença uma fachada democrática para a ditadura da elite.( DEMASI 1999, p. 41).A consequência mais grave de tudo isso consistiria na perda da utopia e da aspiração a uma sociedade melhor, na indiferença e até na satisfação frente a cidades brutais, a economias fundadas no desperdício, a líderes incompetentes e a crescentes perigos de destruição total. Quanto ao futuro de semelhante sociedade de massa, as previsões dos “apocalípticos democráticos” só podiam ser negras. Segundo DeMasi ( 1999) “uma benévola burocracia política e uma benévola oligarquia econômica vão se acoplar com as massas tolerantes; administradores profissionais guiarão cada manifestação da vida organizada com os métodos gerenciais da indústria, [...] a grande massa deve ser alfabetizada para poder receber as instruções, seguir as indicações e conservar a documentação”. 3 - Uma nova visão do mundo Nos simples atos do dia a dia, cada um de nós adota uma visão própria do mundo, em parte herdada do passado, em parte elaborada por outros, em parte construída por nossa conta. Para DeMasi (1999) Da cultura clássica grega e romana, do cristianismo, do idealismo, do utilitarismo ou do marxismo temos compartilhado outras tantas visões de mundo, outros tantos modelos globais sobre cuja base interpretar a realidade e orientar os nossos comportamentos. 3.1 - O obscuro objeto da crise Para Demasi (1999) talvez nunca se tenha falado tanto de crise como ao se difundirem as novas tecnologias capazes de livrar o homem da fadiga física, de potencializar as suas capacidades de memória, cálculo e até inteligência, de socorrer a sua saúde física, ampliar os seus conhecimentos, descerrar novos horizontes para a biogenética, a agricultura, a medicina, os transportes, e de permitir – aqui e agora transformar muito tempo de trabalho dependente em tempo auto-administrado a ser dedicado ao crescimento intelectual de cada um e da coletividade. É muito provável que o que estivesse em crise não fosse tanto o sistema industrial quanto as categorias sociais com que o interpretávamos. Segundo o autor ( 1999) amadurecidas na época industrial, essas categorias já não eram capazes de nos explicar o que estava acontecendo, não podiam fornecer mapas e guias para os nossos futuros percursos, deixavam-nos a descoberto diante de um futuro que percebíamos como crise do presente. Isso ressaltava o cultural intervalo, essa defasagem cultural que faz categorias mentais amadurecidas no passado e já obsoletas influenciarem ainda a nossa visão do futuro e vindo a condicioná-la. Reações semelhantes, de resto, aconteceram também na passagem angustiadíssima da comunidade rural para a sociedade industrial, com uma diferença fundamental: 38Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental o elemento estrutural em que se baseava a sociedade industrial – a fábrica – tinha uma lentidão de difusão intrínseca para a qual ainda hoje, dois séculos depois do seu aparecimento, restam vastas zonas do planeta ainda não atingidas pelas instalações ou sequer pelos produtos industriais. (DEMASI 1999, p. 42) Por mais rápido que tenham surgido os processos de industrialização, por mais traumáticos que possam ter sido os efeitos das “catedrais no deserto”, ainda assim foram transformações que exigiram décadas e tiveram que ser precedidas e acompanhadas de intervenções formativas que lhes agilizaram a absorção. Quase sempre, pois, esses processos de industrialização comportavam um aumento de poder aquisitivo e de bem-estar material que, de algum modo, compensava e até mesmo tornava atraentes os incômodos da modernização. Segundo Demasi (1999) no advento pós-industrial, entretanto, um dos elementos principais foi constituído pela difusão velocíssima das informações e redes eletrônicas de rádio, TV e computadores, que puseram diretamente em questão os modos de pensar, os esquemas mentais, as tradições, a cultura ideal e social de milhões e milhões de leitores, ouvintes de rádio, telespectadores e navegadores em rede. Além disso, segundo o autor (1999) comparada à transição da sociedade rural para a sociedade industrial (em que a contraposição entre fábrica e campo ficou circunscrita sobretudo às áreas em vias de industrialização e aos operários de origem camponesa), na transição da sociedade industrial para a pós-industrial, foram levadas a conviver de modo turbulento tanto as sobrevivências rurais quanto as presenças industriais e as inovações pós-industriais. A passagem de uma fase à outra, de fato, para Demasi(1999) não significa substituição radical da precedente pela seguinte: significa que um elemento passa a ser central em vez de outro, que perde a hegemonia mas não a presença e influência. E como na mesma área convivem trabalhadores dos campos, trabalhadores das fábricas e trabalhadores de serviços, assim, no mesmo indivíduo, convivem modelos de vida rural, industrial e pós-industrial, determinando essa confusão que muitos chamam de “crise”. 3.2- Serviços e colarinhos brancos Como já dissemos, em 1956, pela primeira vez no mundo, o mercado de trabalho viu os trabalhadores da indústria ultrapassados quantitativamente pelos trabalhadores terciários. Daniel Bell foi o primeiro a notar essa “cara nova da economia”, no seu célebre ensaio The Coming of Postindustrial Society, publicado em 1973. Em 1870 – observa ele – de 13 milhões de empregados nos Estados Unidos só três milhões dedicavam-se à produção de serviços; em 1940, dos 50 milhões de empregados mais de 24 milhões já trabalhavam nesse setor. (Entre 1960 e 1978 o mesmo fenômeno de terceirização se completou em muitos países ex industriais: na Alemanha, a proporção de empregados no setor de serviços passou de 39% para 48%; na França, de 40% para 54%; na Grã Bretanha, de 47% para 58%; no Japão, de 41 % para 53%. Na Itália, passou de 34% em 1960 para 51% em 1982.) Também nas mesmas indústrias manufatureiras mudou tanto o interesse pela terceirização de negócios quanto a relação quantitativa entre colarinhos brancos e colarinhos azuis. A General Electric, por exemplo, em 1980 tinha 85% do seu faturamento em atividades nitidamente industriais e 15% em atividades terciárias. Em 1997, praticamente invertera-se a proporção, com 75% do seu faturamento proveniente das atividades de serviços: basta pensar que a GE opera com satélites, cartões de crédito, companhias de leasing, transportes marítimos e aéreos em todos os cinco continentes. Só no setor de seguros possui 28 empresas. (DEMASI, 1999 p.115). Quanto à relação entre colarinhos azuis e colarinhos brancos nas empresas de serviços, já a figura do funcionário prevalece claramente. Mas nas empresas industriais, onde nos tempos de Marx havia um funcionário para cada grupo de 25 operários, agora os funcionários são, em quase toda parte, mais numerosos do que os operários. Por exemplo, na IBM Itália, que também é uma empresa manufatora, já em 1990, de 13.488 empregados só 3.647 dedicavam-se à produção; seis anos depois, de dez mil empregados apenas 600 executavam tarefas de algum modo semelhantes às de operário, mas o contrato indicava os como “funcionários tecnológicos”, para sublinhar que muitas das suas tarefas já tinham conteúdo característico de funcionários. É cada vez mais frequente o caso em que tarefas ainda classifi cadas como “operárias” consistem já de operações antes mentais que manuais (registro de dados em computadores, controle remoto de máquinas através de painéis eletrônicos etc.).(DEMASI 1999, p.116) Um número crescente de previsões de futurólogos isolados ou de grupos de estudo situa em um futuro relativamente próximo (uns vinte anos) o definitivo desaparecimento do trabalho manual dependente. Segundo DEMASI (1999), ao terciário tradicional se justapõem o quaternário (sindicatos, bancos, seguradoras) e o quinquenário (serviços de saúde, educação, pesquisa científica, lazer, administração pública). O predomínio desses setores modifica e supera todos os termos da sociedade industrial, que era caracterizadapela grande fábrica, pelo ritmo da máquina imprimido à natureza do trabalho e pelas lutas operárias, expressões de um conflito de classe polarizado. A nova sociedade, sequência “ampliada” da sociedade industrial, para DeMasi(1999) caracteriza-se principalmente, mas não apenas, pelo predomínio numérico dos trabalhadores dedicados ao setor terciário. A isso juntam-se outros quatro “princípios fundamentais”: 1- a preponderância dos técnicos e profissionais liberais como classe; 2- a centralização do saber teórico, gerador da inovação 39 e das ideias diretrizes em que se inspira a coletividade; 3- a gestão do desenvolvimento técnico e o controle normativo da tecnologia; 4- a criação de uma nova tecnologia intelectual. O conhecimento e a nova tecnologia intelectual assumem um papel central na nova sociedade; Esse novo tipo de sociedade, não depende do regime político de um país, mas do seu nível tecnológico, do papel da ciência e do mercado de trabalho. Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar essa aula, vamos recordar: 1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida Na primeira seção da aula quatro o mercado se ampliou progressivamente até se transformar em planetário. O produtor não conheceu mais o consumidor senão como alvo abstrato. O consumidor, por sua vez, perdeu todo contato direto com a empresa produtora dos seus objetos de consumo e dela tem recebido apenas uma imagem manipulada pela publicidade. Cada sistema obedeceu a uma lógica sua, tentou reduzir os outros sistemas à própria lógica e defendeu-se da irrupção de lógicas alheias. A ordem racionalista da organização produtiva pretendeu a expulsão dos sentimentos e das emoções de todos os lugares destinados ao trabalho executivo, segundo os critérios que são próprios da “sociedade”, contraposta à “comunidade”. 2 – A sociedade de massa é o melhor dos mundos possíveis? Na segunda seção da aula 4 observamos que a previsão quanto ao futuro de semelhante sociedade de massa, as previsões dos “apocalípticos democráticos” só podiam ser negras. Segundo DeMasi ( 1999) “uma benévola burocracia política e uma benévola oligarquia econômica vão se acoplar com as massas tolerantes; administradores profissionais guiarão cada manifestação da vida organizada com os métodos gerenciais da indústria, [...] a grande massa deve ser alfabetizada para poder receber as instruções, seguir as indicações e conservar a documentação”. 3 - Uma nova visão do mundo Na terceira seção da aula observamos que cos simples atos do dia a dia, cada um de nós adota uma visão própria do mundo, em parte herdada do passado, em parte elaborada por outros, em parte construída por nossa conta. Da cultura clássica grega e romana, do cristianismo, do idealismo, do utilitarismo ou do marxismo temos compartilhado outras tantas visões de mundo, outros tantos modelos globais sobre cuja base interpretar a realidade e orientar os nossos comportamentos. Minhas anotações
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