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Transformações no Mundo do Trabalho

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Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
4º Aula
O trabalho e vida econômica
Nesta aula vamos procurar compreender 
as transformações que ocorreram no mundo do 
trabalho, passando de um modelo rural para o 
desenvolvimento de uma sociedade industrial, bem 
como, conhecer as inovações tecnológicas que estão 
surgindo na sociedade pós- industrial. 
Vamos ao texto!
Boa leitura!!
Boa aula!
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• entender o processo de mudança que estão ocorrendo no mundo trabalho e seus impactos no desenvolvimento social e 
na evolução da humanidade;
• discutir a sociedade de massas e suas transformações nas relações de trabalho em um mundo em constantes mudanças.
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Seções de estudo
1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida
1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida
 1.1 - Trabalho e vida na sociedade pós- industrial
2 - A sociedade de massa é o melhor dos mundos possíveis?
3 - Uma nova visão do mundo
 3.1 -O obscuro objeto da crise
 3.2 - Serviços e colarinhos brancos
A industrialização, segundo DeMasi (1999), interveio 
lentamente em toda a milenária ordem rural e artesanal da 
sociedade: do trabalho à família, da fábrica à cidade. E interveio 
ao sinal da ruptura. 
Na sociedade industrial: O lugar de trabalho separou-se 
do lugar de vida extratrabalho e muitas vezes entre os dois 
se interpôs uma grande distância, que requer horas para ser 
cotidianamente coberta pelo trabalhador pendular. 
Assim, segundo DeMasi ( 1999), foram criadas as 
condições pelas quais milhões de trabalhadores sentiram-se 
estranhos, seja nos bairros em que produziam como naqueles 
onde se reproduziam. Os proprietários dos meios de produção 
não têm mais pontos de coincidência com os trabalhadores. 
Entre os dois blocos criam-se condições objetivamente 
conflitantes que alimentaram a solidariedade no interior de 
cada uma das classes e o conflito entre as duas. 
Resultou disso uma polarização e a 
contraposição frontal entre empregadores 
(burguesia) e empregados (proletariado). Os 
dois blocos foram separados não só pelo diverso 
relacionamento com os meios de produção mas 
também por um teor diferente de vida, por 
estilos diferentes de comportamento, por uma 
diferente cultura. (DEMASI, 1999 p 89).
Se na comunidade rural cada trabalhador acumulava 
mais papéis e podia esbarrarem artesãos que trabalhavam 
continuamente – como cervejeiro, taberneiro, pedreiro e 
artífice, na sociedade industrial cada operador acabou por 
assumir um único papel e, dentro dela, acabou por especializar-
se em tarefas cada vez mais específicas. 
O ideal, para Taylor, era que cada trabalhador 
desenvolvesse uma só operação elementar. 
Diferentemente das ofi cinas artesanais, pequenas 
por dimensão espacial e pelo número de 
artesãos, as fábricas ocuparam uma superfície 
cada vez maior e um número crescente de 
pessoas. Paralelamente ao processo produtivo, 
também o de distribuição baseou-se nos pontos 
de venda (supermercados, grandes magazines, 
hipermercados), cada vez mais imponentes, 
permitindo também a adoção de preço único que, 
por sua vez, é derivado da produção em série. 
O trabalhador e a prole que o acompanhava nas fábricas 
logo passaram à dependência de chefes estranhos à família, 
que exerceram sobre eles (frequentemente de forma brutal) o 
poder hierárquico e disciplinar, prescindindo das considerações 
de caráter afetivo e avaliando resultados em vez de intenções, 
como é próprio dos contextos industriais que De Masi (1999), 
chama de sociedades frias e impessoais, por contraposição às 
comunidades rurais-artesanais, quentes e protetoras. 
Também os conhecimentos do processo produtivo 
como um todo foram vedados aos trabalhadores, obrigados a 
tarefas pobres e fragmentadas, para se concentrarem no topo 
da empresa. A ciência e a tecnologia assumiram o comando 
dos processos de produção, antes guiados pelo bom senso e 
pela experiência. 
O mercado, por sua vez, tornou-se cada vez mais amplo 
e exigente. 
A população ativa deslocou-se cada vez mais 
dos trabalhos agrícolas para as manufaturas. Às 
vésperas da revolução industrial na Inglaterra, 
75% trabalhavam na agricultura, mas em 
meados do século XIX tinham caído para 
21 % e em 1901 estavam reduzidos a apenas 
9%. No mesmo período, os trabalhadores 
na indústria passaram de 14% para 46%. O 
progresso – lentíssimo, na sociedade rural – 
deu um grande salto com a industrialização, 
modifi cando rapidamente todos os parâmetros 
sociais. Os economistas de meados do século 
XVIII apoiavam seu raciocínio em estatísticas 
referentes aos cinquenta anos anteriores, 
enquanto hoje já se consideram obsoletos os 
dados do mês passado.(DEMASI, 1999 p. 103).
A quantidade de população presente em determinada 
região depende cada vez menos da fertilidade do solo, da 
disponibilidade local de matérias-primas, das pragas, carências 
e calamidades naturais e cada vez mais das decisões de cada 
casal e dos governos. 
O fenômeno do urbanismo concretizou-se em uma 
imponente migração de massas camponesas para os centros 
urbanos, que exerceram uma forte atração através das 
indústrias – para o trabalho – e das diversões – para as horas 
de lazer. Em poucas décadas, as cidades ficaram milionárias 
e a cultura urbana diferenciou se claramente da rural, sobre a 
qual acabou por prevalecer. 
A cidade “funcional” substituiu a interfuncional e 
interclassista. Cada bloco de funções, cada casta e classe teve 
o seu lugar definido: a zona industrial para produzir, o setor 
comercial para comprar e vender, o setor burocrático para os 
negócios político administrativos, o setor de diversões para o 
tempo livre. Cada cidadão tinha que se deslocar diariamente 
de uma zona à outra, segundo as funções a exercer de cada 
vez. Uma parte da cidade ficava vazia nos dias úteis e outra 
nos feriados e fins de semana. 
Os bairros dormitórios permaneciam vazios de dia, 
enquanto os industriais e administrativos ficavam vazios 
à noite; o metrô e os outros meios de transporte são 
encarregados de distribuir massas crescentes de uma parte a 
outra da cidade para fazer frente à sincronização exigida pela 
“linha de montagem global”, que queria todos presentes ao 
trabalho à mesma hora, todos em férias no mesmo dia e assim 
por diante. os papéis ficaram padronizados e se especificaram, 
assim como os produtos, instrumentos e processos de 
produção, até atingir os níveis máximos de fragmentação 
36Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
2 - A sociedade de massa é o melhor dos 
mundos possíveis?
propiciados por Taylor e a rígida progressão imposta pela 
linha de montagem introduzida por Ford. 
A linha de montagem, isto é, a mais refinada aparelhagem 
industrial de envolvimento e de controle, depois de ter 
conquistado as oficinas e depois de ter contagiado escritórios 
e cidades, acabou por representar a metáfora da empresa 
industrial e da cidade inteira.
As atividades domésticas foram separadas rigorosamente 
das profissionais, a hierarquia empresarial foi reservada aos 
homens e as mulheres relegadas às tarefas relativas a criação 
dos filhos, as tarefas educativas e domésticas, tidas como 
secundárias, e aos níveis mais baixos da pirâmide empresarial. 
Cada indústria acabou produzindo não objetos 
completos, mas meras partes de objetos, adquirindo em 
outros lugares as patentes e matérias-primas para depois 
transferir os semi acabados a outras empresas para montagem. 
O mercado se ampliou progressivamente até se transformar 
em planetário. O produtor não conheceu mais o consumidor 
senão como alvo abstrato. O consumidor, por sua vez, perdeu 
todo contato direto com a empresa produtora dos seus 
objetos de consumo e dela tem recebido apenas uma imagem 
manipulada pela publicidade. 
Cada sistema obedeceu a uma lógica sua, tentou reduzir os 
outros sistemas à própria lógica e defendeu-se da irrupção de 
lógicas alheias. A ordem racionalista da organização produtiva 
pretendeu a expulsão dos sentimentos e dasemoções de 
todos os lugares destinados ao trabalho executivo, segundo 
os critérios que são próprios da “sociedade”, contraposta à 
“comunidade”.
Os parâmetros de referência foram constituídos pela 
tecnologia automática, pelo forte predomínio do trabalho físico 
e executivo, por uma epistemologia voltada para a linearidade 
e simplicidade, por um predomínio de necessidades “fortes” 
e primárias comuns a grande parte dos trabalhadores e de 
necessidades voluptuosas massificadas por razões produtivas 
e em função das modas, pela dimensão predominantemente 
local ou nacional dos problemas e da economia, por valores 
puramente machistas, por uma cultura de tipo “moderno” e 
pela e pela secularização.
1.1 Trabalho e vida na sociedade 
pós- industrial 
Exatamente nos mesmos anos em que Taylor e Ford 
levavam ao ápice a produção industrial americana e os 
seus princípios de organização, na Europa germinavam as 
sementes de uma sociedade profundamente nova que, por 
comodidade, podemos chamar de “pós-industrial”. 
Sob esse aspecto, o Velho Mundo foi mais veloz do que 
o Novo Mundo, ainda que na ocasião ninguém lhe tenha feito 
caso e o arrasador sucesso da indústria manufatureira tenha 
legitimado a convicção de que a sociedade industrial não 
estava no seu auge mas no início. 
Uma série de inovações quase concomitantes na arte e 
nas ciências recolocou em discussão o universo da precisão e 
da produção em série, sobre o qual fundava-se toda a filosofia 
industrial, e chamou a atenção de muitas mentes geniais para 
o papel nada marginal exercido pelo espírito aproximativo – o 
“mais ou menos”, pela emoção e pela criatividade individual e 
coletiva na determinação do progresso humano.
Portanto, a organização das fábricas acreditava estar 
plantada cientificamente em princípios simples, certos, 
universais e absolutos, mesmo quando outras ciências se 
orgulhavam de conquistar a complexidade e a relatividade, 
aproximando-se novamente do mais ou menos, depois de ter 
cultivado a precisão durante dois séculos. 
Assim também, enquanto a fábrica manufatora 
aperfeiçoava e parcelizava a organização do trabalho produtivo, 
outros grupos experimentavam vias muito mais ousadas para 
organizar o trabalho criativo.
Por ora recordemos que, junto com o triunfo da sociedade 
industrial, quase como prelúdio da sua já próxima superação, se 
produzem outros fenômenos novos.
A ordem tradicional da velha empresa em que duas únicas 
partes sociais – os capitalistas e os operários se contrapunham 
frontalmente é modificada. “No passado, a direção da 
organização da empresa identificava-se com o empresário, isto 
é, com aquele que unia à propriedade ou ao controle de capital 
a capacidade de organizar os outros fatores produtivos e, em 
muitos casos, a ulterior capacidade de introduzir inovações. 
Em seguida à ascensão da moderna sociedade 
anônima, do aparecimento da organização 
requerida pela tecnologia e pelos métodos 
planifi cados e também a perda do controle 
da empresa pelo proprietário do capital, o 
empresário não existe mais como pessoa única 
na empresa industrial madura. [...] Na direção da 
empresa, o empresário foi substituído por um 
conselho administrativo. Este [...] compreende, 
ainda assim, apenas uma pequena parte dos que 
participam das decisões do grupo, trazendo a 
sua contribuição de informações. Esse grupo é 
muito amplo: vai dos mais altos funcionários da 
sociedade até atingir, no limite, os dependentes 
dos colarinhos brancos ou azuis, cuja função 
consiste em uniformizar-se mais ou menos 
mecanicamente às disposições ou à rotina. 
(DEMASI, 1999 p. 112).
Fazem parte dele todos aqueles que contribuem com 
conhecimentos especializados, talento ou experiência para as 
decisões do grupo. Este – não o conselho administrativo – é 
a inteligência diretora, o cérebro da empresa. Falta um nome 
para todos os participantes das decisões de grupo ou para a 
organização a que dão lugar; DeMasi (1999) propõe chamar a 
essa organização “tecnoestrutura.”
Outro fenômeno, explicitamente indicado por alguns 
autores como fase extrema do capitalismo maduro, é constituído 
pela difusão do consumo de massa e da sociedade de massa. 
A isso, que representa uma das paisagens mais significativas na 
transição da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial.
O argumento, incubado havia tempo, foi muito cortejado 
nos anos 60, junto com a afortunada difusão de alguns ensaios 
norte-americanos. Entre os intelectuais, alguns se tornaram 
destemidos defensores da assim chamada sociedade de massas; 
outros a criticaram, da direita, e outros ainda, da esquerda.
Os defensores. Em que consiste, portanto, essa sociedade e 
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quais são os seus valores? Essa sociedade industrializada é “de 
massas” no sentido de que permitiu à maioria dos cidadãos 
incorporar-se à coisa pública e à gestão do poder em medida 
jamais atingida antes. 
Nela, o cidadão é mais solidário com a 
coletividade e sente mais afi nidade com os 
seus concidadãos; a autoridade perdeu todo 
o caráter carismático; a tradição exerce a sua 
infl uência mediante formas mais abertas e 
interpretações divergentes; cada um goza de 
maior dignidade; as minorias, os jovens, as 
mulheres adquirem maior destaque no contexto 
social; a civilização encontra-se realizada mais 
inteiramente, graças a formas de adiantado 
sentido igualitário moral; a cidadania efetiva 
abrange toda a população adulta; a tecnologia 
liberou o homem da fadiga física, fornecendo 
lhe novos recursos “graças aos quais tornou 
lhe possíveis novas experiências sensoriais, de 
convívio e de introspecção”; as capacidades de 
conhecimento, estética e moral dos indivíduos 
são livres para se realizar, já liberadas do jogo 
da tradição, da escassez e da autoridade; a 
participação no poder é assegurada graças à 
solicitação de consenso nas decisões.(DEMASI 
1999, p. 114).
 Os críticos da direita. Contra a sociedade de massa, 
revoltaram-se muitos críticos, tanto da direita como da esquerda. 
Os “apocalípticos aristocráticos” da direita – sobretudo tinham 
medo da massa, que pressiona para ser admitida à mesa das 
decisões.
Para esses críticos, a sociedade de massa comportava 
um igualitarismo excessivo, uma disposição generalizada para 
aceitar formas anti-aristocráticas de governo, o predomínio das 
massas, a deterioração da qualidade em favor da quantidade, o 
advento do autoritarismo facilitado pela superorganização e a 
desintegração do tecido social, a impotência frente à infiltração 
comunista, a impossibilidade de controlar a intervenção das 
massas na vida política, a excessiva democracia.
Os críticos da esquerda. Da esquerda, entretanto, criticava na 
sociedade de massa uma progressiva perda de autonomia da 
enorme maioria das pessoas. Isso teria acontecido por causa da 
crescente afirmação de uma elite cada vez mais exígua mas cada 
vez mais dotada de meios fortíssimos e de auxílios tecnológicos 
que lhe teriam permitido manipular as massas e mobilizá-las até 
o ponto de transformar as sociedades em “guarnições estatais”. 
Para DE Masi
Segundo os críticos, a manipulação deveria 
estender-se progressivamente a zonas antes 
reservadas à privacidade do indivíduo ou do 
grupo; o isolamento e o caráter amorfo das 
relações sociais ameaçariam constantemente 
a liberdade individual; as comunicações entre 
os indivíduos seriam passadas, com frequência 
cada vez maior, pelo monopólio das elites; a 
sociedade atomizada e alienada estaria cada vez 
mais vulnerável a novas ideologias e formas 
de totalitarismo (“a sociedade do consenso é 
a sociedade do consenso dos gigantes e pelos 
gigantes”); a vontade de cada UM poderia inserir-
se no circuito das ideias dominantes apenas 
se inserida no sistema ou limitada a solicitar 
lhe a força com críticas inócuas; a divergência 
das minorias encontraria crédito somente na 
medida em que não comprometesse o êxito 
das maiorias e em que assegurasse com a sua 
presença uma fachada democrática para a 
ditadura da elite.( DEMASI 1999, p. 41).A consequência mais grave de tudo isso consistiria na 
perda da utopia e da aspiração a uma sociedade melhor, 
na indiferença e até na satisfação frente a cidades brutais, a 
economias fundadas no desperdício, a líderes incompetentes 
e a crescentes perigos de destruição total.
Quanto ao futuro de semelhante sociedade de massa, as 
previsões dos “apocalípticos democráticos” só podiam ser 
negras. Segundo DeMasi ( 1999) “uma benévola burocracia 
política e uma benévola oligarquia econômica vão se acoplar 
com as massas tolerantes; administradores profissionais 
guiarão cada manifestação da vida organizada com os 
métodos gerenciais da indústria, [...] a grande massa deve 
ser alfabetizada para poder receber as instruções, seguir as 
indicações e conservar a documentação”.
3 - Uma nova visão do mundo
Nos simples atos do dia a dia, cada um de nós adota uma 
visão própria do mundo, em parte herdada do passado, em 
parte elaborada por outros, em parte construída por nossa 
conta. Para DeMasi (1999) Da cultura clássica grega e romana, 
do cristianismo, do idealismo, do utilitarismo ou do marxismo 
temos compartilhado outras tantas visões de mundo, outros 
tantos modelos globais sobre cuja base interpretar a realidade 
e orientar os nossos comportamentos. 
3.1 - O obscuro objeto da crise
Para Demasi (1999) talvez nunca se tenha falado tanto de 
crise como ao se difundirem as novas tecnologias capazes de livrar 
o homem da fadiga física, de potencializar as suas capacidades de 
memória, cálculo e até inteligência, de socorrer a sua saúde física, 
ampliar os seus conhecimentos, descerrar novos horizontes 
para a biogenética, a agricultura, a medicina, os transportes, e 
de permitir – aqui e agora transformar muito tempo de trabalho 
dependente em tempo auto-administrado a ser dedicado ao 
crescimento intelectual de cada um e da coletividade.
É muito provável que o que estivesse em crise não fosse 
tanto o sistema industrial quanto as categorias sociais com que 
o interpretávamos. Segundo o autor ( 1999) amadurecidas na 
época industrial, essas categorias já não eram capazes de nos 
explicar o que estava acontecendo, não podiam fornecer mapas 
e guias para os nossos futuros percursos, deixavam-nos a 
descoberto diante de um futuro que percebíamos como crise 
do presente. 
Isso ressaltava o cultural intervalo, essa defasagem 
cultural que faz categorias mentais amadurecidas no passado 
e já obsoletas influenciarem ainda a nossa visão do futuro e 
vindo a condicioná-la.
Reações semelhantes, de resto, aconteceram também 
na passagem angustiadíssima da comunidade rural para a 
sociedade industrial, com uma diferença fundamental: 
38Sociologia, Ética e Resp. Socioambiental
o elemento estrutural em que se baseava a 
sociedade industrial – a fábrica – tinha uma 
lentidão de difusão intrínseca para a qual ainda 
hoje, dois séculos depois do seu aparecimento, 
restam vastas zonas do planeta ainda não 
atingidas pelas instalações ou sequer pelos 
produtos industriais. (DEMASI 1999, p. 42)
Por mais rápido que tenham surgido os processos de 
industrialização, por mais traumáticos que possam ter sido 
os efeitos das “catedrais no deserto”, ainda assim foram 
transformações que exigiram décadas e tiveram que ser 
precedidas e acompanhadas de intervenções formativas que lhes 
agilizaram a absorção. Quase sempre, pois, esses processos de 
industrialização comportavam um aumento de poder aquisitivo 
e de bem-estar material que, de algum modo, compensava e até 
mesmo tornava atraentes os incômodos da modernização.
Segundo Demasi (1999) no advento pós-industrial, 
entretanto, um dos elementos principais foi constituído pela 
difusão velocíssima das informações e redes eletrônicas de 
rádio, TV e computadores, que puseram diretamente em 
questão os modos de pensar, os esquemas mentais, as tradições, 
a cultura ideal e social de milhões e milhões de leitores, ouvintes 
de rádio, telespectadores e navegadores em rede. 
 Além disso, segundo o autor (1999) comparada à 
transição da sociedade rural para a sociedade industrial (em 
que a contraposição entre fábrica e campo ficou circunscrita 
sobretudo às áreas em vias de industrialização e aos operários 
de origem camponesa), na transição da sociedade industrial 
para a pós-industrial, foram levadas a conviver de modo 
turbulento tanto as sobrevivências rurais quanto as presenças 
industriais e as inovações pós-industriais. 
A passagem de uma fase à outra, de fato, para 
Demasi(1999) não significa substituição radical da precedente 
pela seguinte: significa que um elemento passa a ser central 
em vez de outro, que perde a hegemonia mas não a presença 
e influência. E como na mesma área convivem trabalhadores 
dos campos, trabalhadores das fábricas e trabalhadores de 
serviços, assim, no mesmo indivíduo, convivem modelos 
de vida rural, industrial e pós-industrial, determinando essa 
confusão que muitos chamam de “crise”.
3.2- Serviços e colarinhos brancos
Como já dissemos, em 1956, pela primeira vez no mundo, 
o mercado de trabalho viu os trabalhadores da indústria 
ultrapassados quantitativamente pelos trabalhadores terciários. 
Daniel Bell foi o primeiro a notar essa “cara 
nova da economia”, no seu célebre ensaio The 
Coming of Postindustrial Society, publicado 
em 1973. Em 1870 – observa ele – de 13 
milhões de empregados nos Estados Unidos 
só três milhões dedicavam-se à produção 
de serviços; em 1940, dos 50 milhões de 
empregados mais de 24 milhões já trabalhavam 
nesse setor. (Entre 1960 e 1978 o mesmo 
fenômeno de terceirização se completou em 
muitos países ex industriais: na Alemanha, a 
proporção de empregados no setor de serviços 
passou de 39% para 48%; na França, de 40% 
para 54%; na Grã Bretanha, de 47% para 58%; 
no Japão, de 41 % para 53%. Na Itália, passou 
de 34% em 1960 para 51% em 1982.) Também 
nas mesmas indústrias manufatureiras mudou 
tanto o interesse pela terceirização de negócios 
quanto a relação quantitativa entre colarinhos 
brancos e colarinhos azuis. A General 
Electric, por exemplo, em 1980 tinha 85% do 
seu faturamento em atividades nitidamente 
industriais e 15% em atividades terciárias. Em 
1997, praticamente invertera-se a proporção, 
com 75% do seu faturamento proveniente 
das atividades de serviços: basta pensar que 
a GE opera com satélites, cartões de crédito, 
companhias de leasing, transportes marítimos 
e aéreos em todos os cinco continentes. Só 
no setor de seguros possui 28 empresas. 
(DEMASI, 1999 p.115).
Quanto à relação entre colarinhos azuis e colarinhos 
brancos nas empresas de serviços, já a figura do funcionário 
prevalece claramente. Mas nas empresas industriais, onde nos 
tempos de Marx havia um funcionário para cada grupo de 25 
operários, agora os funcionários são, em quase toda parte, mais 
numerosos do que os operários. 
Por exemplo, na IBM Itália, que também é uma 
empresa manufatora, já em 1990, de 13.488 
empregados só 3.647 dedicavam-se à produção; 
seis anos depois, de dez mil empregados 
apenas 600 executavam tarefas de algum modo 
semelhantes às de operário, mas o contrato 
indicava os como “funcionários tecnológicos”, 
para sublinhar que muitas das suas tarefas já 
tinham conteúdo característico de funcionários. 
É cada vez mais frequente o caso em que 
tarefas ainda classifi cadas como “operárias” 
consistem já de operações antes mentais que 
manuais (registro de dados em computadores, 
controle remoto de máquinas através de painéis 
eletrônicos etc.).(DEMASI 1999, p.116) 
Um número crescente de previsões de futurólogos isolados 
ou de grupos de estudo situa em um futuro relativamente 
próximo (uns vinte anos) o definitivo desaparecimento do 
trabalho manual dependente.
Segundo DEMASI (1999), ao terciário tradicional se 
justapõem o quaternário (sindicatos, bancos, seguradoras) e o 
quinquenário (serviços de saúde, educação, pesquisa científica, 
lazer, administração pública). 
O predomínio desses setores modifica e supera todos 
os termos da sociedade industrial, que era caracterizadapela 
grande fábrica, pelo ritmo da máquina imprimido à natureza 
do trabalho e pelas lutas operárias, expressões de um conflito 
de classe polarizado. 
A nova sociedade, sequência “ampliada” da sociedade 
industrial, para DeMasi(1999) caracteriza-se principalmente, 
mas não apenas, pelo predomínio numérico dos trabalhadores 
dedicados ao setor terciário. A isso juntam-se outros quatro 
“princípios fundamentais”: 
1- a preponderância dos técnicos e profissionais liberais 
como classe; 
2- a centralização do saber teórico, gerador da inovação 
39
e das ideias diretrizes em que se inspira a coletividade; 
3- a gestão do desenvolvimento técnico e o controle 
normativo da tecnologia; 
4- a criação de uma nova tecnologia intelectual. 
O conhecimento e a nova tecnologia intelectual assumem 
um papel central na nova sociedade; Esse novo tipo de sociedade, 
não depende do regime político de um país, mas do seu nível 
tecnológico, do papel da ciência e do mercado de trabalho.
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar 
essa aula, vamos recordar:
1 - Mudanças radicais no trabalho e na vida
Na primeira seção da aula quatro o mercado se ampliou 
progressivamente até se transformar em planetário. O produtor 
não conheceu mais o consumidor senão como alvo abstrato. O 
consumidor, por sua vez, perdeu todo contato direto com a 
empresa produtora dos seus objetos de consumo e dela tem 
recebido apenas uma imagem manipulada pela publicidade. 
Cada sistema obedeceu a uma lógica sua, tentou reduzir os 
outros sistemas à própria lógica e defendeu-se da irrupção de 
lógicas alheias. A ordem racionalista da organização produtiva 
pretendeu a expulsão dos sentimentos e das emoções de todos 
os lugares destinados ao trabalho executivo, segundo os critérios 
que são próprios da “sociedade”, contraposta à “comunidade”.
2 – A sociedade de massa é o melhor dos mundos 
possíveis?
Na segunda seção da aula 4 observamos que a previsão 
quanto ao futuro de semelhante sociedade de massa, as 
previsões dos “apocalípticos democráticos” só podiam ser 
negras. Segundo DeMasi ( 1999) “uma benévola burocracia 
política e uma benévola oligarquia econômica vão se acoplar 
com as massas tolerantes; administradores profissionais 
guiarão cada manifestação da vida organizada com os métodos 
gerenciais da indústria, [...] a grande massa deve ser alfabetizada 
para poder receber as instruções, seguir as indicações e 
conservar a documentação”.
3 - Uma nova visão do mundo
Na terceira seção da aula observamos que cos simples atos 
do dia a dia, cada um de nós adota uma visão própria do mundo, 
em parte herdada do passado, em parte elaborada por outros, 
em parte construída por nossa conta. Da cultura clássica grega 
e romana, do cristianismo, do idealismo, do utilitarismo ou do 
marxismo temos compartilhado outras tantas visões de mundo, 
outros tantos modelos globais sobre cuja base interpretar a 
realidade e orientar os nossos comportamentos. 
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