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Anestésicos Locais: Definição, Estrutura e Farmacocinética

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Anestésicos 
Locais 
 
Gabriella Amâncio Mattos 
Universidade Federal de Campina Grande  
1. Definição 
Os anestésicos locais produzem perda transitória de sensação em uma região 
definida do corpo, sem perda de consciência. Eles são aplicados para bloquear a 
condução nervosa de impulsos sensoriais, desde a periferia até o Sistema Nervoso 
Central. Os fármacos mais amplamente utilizados são ​bupivacaína​, ​lidocaína​, 
mepivacaína​, ​procaína ​e ​tetracaína​, sendo a ​lidocaína ​a mais comumente empregada. 
2. Estrutura 
Os anestésicos locais têm características fundamentais, incluindo ​um grupo lipofílico ​ligado 
por uma ​amida ​ou ​ligação éster ​a uma cadeia carbonada que, por sua vez, está unido a 
um grupo hidrofílico​. 
3. Classes 
Dependendo de sua estrutura, os anestésicos locais são classificados como ​ésteres ​ou 
amidas​. 
 
 
Tabela 1: Classes dos anestésicos locais. 
4. Farmacocinética 
Absorção​: Os anestésicos mais lipossolúveis geralmente são mais potentes, apresentam 
duração de ação mais longa e levam mais tempo para produzir seus 
 
efeitos clínicos. A sua extensa ligação às proteínas também serve para aumentar sua 
duração. Os anestésicos locais são frequentemente coadministrados com soluções 
diluídas de adrenalina, que produz vasoconstrição. Isso retarda a absorção do 
anestésico, o que prolonga o seu efeito e reduz o risco de toxicidade sistêmica. 
A administração de adrenalina é contraindicada em áreas supridas por 
artérias finais, tais como os dígitos, a ponta do nariz e o pênis, pois a 
vasoconstrição das artérias finais pode resultar em isquemia e necrose 
do tecido. Porém, alguns artigos estão começando a discutir essa ideia. 
Distribuição​: 
Localizada ​→ ​Como os anestésicos locais são, em geral, injetados diretamente no local 
do órgão-alvo, a sua distribuição dentro desse compartimento desempenha uma 
importante função na obtenção do efeito clínico. 
Sistêmica ​→ ​A fase alfa inicial reflete uma rápida distribuição no sangue e órgãos como 
cérebro, fígado, coração e rins. Essa fase e seguida de uma fase beta de declínio mais 
lento, refletindo a distribuição do fármaco em tecidos de menor perfusão, como 
músculo e intestino. 
Metabolismo e Excreção​: Os anestésicos locais do tipo amida são convertidos em 
Ésteres Amidas 
Cocaína (tópica) Bupivacaína (parenteral) 
Benzocaína (tópica) Lidocaína (parenteral) 
Procaína (parenteral) Mepivacaína (parenteral) 
Tetracaína (parenteral e tópica) Prilocaína (parenteral) 
Ropivacaína (parenteral) 
metabólitos mais hidrossolúveis no fígado (tipo amida) ou no plasma (tipo éster), que 
são excretados na urina. Os ésteres são biotransformados pela colinesterase do plasma 
(pseudocolinesterase). Os anestésicos locais do tipo amida são biotransformados com 
várias velocidades por enzimas microssomais hepáticas. Na doença hepática grave, a 
toxicidade é mais provável. 
5. Farmacodinâmica 
 
Os anestésicos locais funcionam principalmente pela ​inativação de canais de Na+ ​nas 
membranas axonais, aumentando o limiar para a excitação axonal. Nervos que levam 
sinais de dor e de temperatura tendem a carecer de mielinização, o que os torna mais 
suscetíveis aos efeitos de agentes locais em comparação com os nervos que 
desempenham funções de propriocepção ou motoras. 
 
Alguns anestésicos locais são eficazes topicamente, mas a maioria requer injeção no 
tecido, em torno dos nervos ou no espaço subaracnoide ou peridural. 
6. Orientações para a tomada de decisão 
As vias habituais de administração incluem ​aplicação tópica ​(mucosa nasal, margens de 
feridas), injeção nas ​proximidades de terminações nervosas periféricas ​(infiltração 
perineural) e ​grandes troncos nervosos ​(bloqueios), e ​injeção nos espaços epidural ou 
subaracnoideo ​circundando a medula espinal. 
A extensão da absorção sistêmica de anestésicos locais injetados a partir do 
local de administração e, portanto, a duração da sua ação, é modificada por uma série 
de fatores, como: 
• ​Uso de agentes vasoconstritores (adrenalina): usados para prolongar a duração da 
ação anestésica, e reduzir a toxicidade de anestésicos locais como lidocaína, procaína e 
mepivacaína; 
• ​Em analgesia espinal, a clonidina também pode ser utilizada concomitantemente 
com anestésicos locais reduzindo o disparo do nervo sensorial por inibição da liberação 
de substância P; 
• ​A bupivacaína tem uma duração prolongada de ação e pode ser usada para 
procedimentos mais longos ou quando a adrenalina não é tolerada. 
7. Farmacodinâmica 
 
Na prática clínica, observa-se geralmente uma evolução ordenada dos componentes do 
bloqueio, começando com a transmissão simpática e progredindo para a temperatura, a 
dor, o toque leve e, por fim, o bloqueio motor. Na ​abordagem de feridas no pronto 
socorro ​(resumo na plataforma) geralmente a anestesia é referida apenas pela 
eliminação da dor, mas o paciente refere sensação de pressão no local suturado. No que 
diz respeito ao bloqueio diferencial, convém assinalar que a anestesia cirúrgica 
“bem-sucedida” pode exigir a 
perda do tato, e não apenas a eliminação da dor, visto que alguns pacientes irão perceber até mesmo a sensação de 
toque como angustiante durante a cirurgia, temendo com frequência que o procedimento se torne doloroso. 
8. Escolha do Anestésico Local 
 
A escolha do anestésico local depende do procedimento específico, devendo o médico analisar cuidadosamente qual 
anestésico para cada situação: 
Duração da Ação​: ​A duração da ação depende do tempo que o anestésico permanece no nervo bloqueando os 
canais de sódio.  
Curta Intermediária Longa 
Procaína Mepivacaína Bupivacaína 
Cloroprocaína Prilocaína Etidocaína 
Lidocaína Ropivacaína 
Tetracaína 
Característica da Ação​: Início e a duração da ação dos anestésicos locais são influenciadas por vários fatores, incluindo o 
pH do tecido, o pKª do fármaco, a morfologia do nervo, a concentração e a lipossolubilidade. 
pH do tecido O pH pode cair em locais de infecção, o que causa retardo no 
início ou mesmo impede o efeito. 
pKa do fármaco A velocidade de ação dos anestésicos locais guarda relação 
inversa com seu grau de ionização que, por sua vez, depende do 
pKa do fármaco e do pH do meio em que é dissolvida, 
Morfologia 
do ​ ​nervo 
Nervos que levam sinais de dor e de temperatura tendem a 
carecer de mielinização, o que os torna mais suscetíveis aos 
efeitos de agentes locais em comparação com os nervos que 
desempenham funções de propriocepção ou motoras. 
 
 
 
Toxicidade: A aplicação de níveis muito elevados de anestésicos locais, particularmente 
a lidocaína, pode resultar em uma neurotoxicidade chamada de irritação radicular 
transitória. 
• ​Altos níveis sistêmicos de anestésicos locais, em geral, de injeção intravascular 
acidental, podem resultar em efeitos no SNC que podem incluir sintomas que vão 
desde distúrbios de tonturas e visuais, nistagmo e espasmos musculares até 
convulsões tônico-clônicas, depressão respiratória e morte. 
• ​A maioria dos anestésicos locais produz hipotensão e diminuição da condução 
cardíaca e, em casos raros, colapso cardiovascular. 
• ​A ​overdose ​de cocaína produz vasoconstrição e hipertensão e pode resultar em 
arritmias cardíacas. 
• ​A bupivacaína, que se liga com uma maior duração aos canais de Na+, é mais 
cardiotóxica do que outro anestésico local. 
• ​Os anestésicos locais tipo éster são biotransformados em derivados do ácido 
para-aminobenzoico e podem resultar em reaçõesalérgicas em alguns pacientes. 
 
Alergias​: O registro de reações alérgicas aos anestésicos locais é comum, mas as 
investigações mostram que a maioria destas é de origem psicogênica. Alergias 
verdadeiras às amidas são muito raras, o éster procaína é um pouco mais alergênico. 
 
Paciente criança​: Antes de administrar um anestésico local a uma criança, deve ser 
calculada a dose máxima com base na massa corporal da criança para evitar o risco de 
dosagem excessiva. 
Paciente idoso​: É prudente permanecer bem abaixo da dosagem máxima 
Concentração Apresenta certa influência na taxa de dissociação dos 
anestésicos ​ ​locais de seus sítios receptores. 
Lipossolubilidade Quanto maior a lipossolubilidade, maior a toxicidade e menor a 
margem de segurança do anestésico local. 
Potência Guarda íntima relação com a lipossolubilidade. 
Alta Potência: Bupivacaína, Ropivacaína, Tetracaína 
Baixa Potência: Procaína, Cloroprocaína, Lidocaína. 
recomendada em pacientes idosos que têm comprometimento da função hepática. 
Como também, pode haver certo grau de comprometimento cardiovascular em 
pacientes idosos, a redução da dose de epinefrina pode ser prudente. 
Características de cada anestésico: 
 
 
Referências bibliográficas 
1. ​BRUNTON, Laurence L. ​et al​. ​GOODMAN & GILMAN: AS BASES FARMACOLÓGICAS 
DA TERAPÊUTICA​. 11ª edição. Porto Alegre (RS): Mc Graw Hill/Artmed, 2010. ​2. ​Clark, 
M.A., Finkel, R., Rey, J.A., Whalen, K. ​Farmacologia ilustrada​. 5ª edição, Porto Alegre, 
Ed. Artmed, 2013. 
3. ​KATZUNG, Bertram G. ​Farmacologia Básica e Clínica​. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 
2014. 
4. ​SARDENBERG, Trajano ​et al​. 488 hand surgeries with local anesthesia with 
epinephrine, without a tourniquet, without sedation, and without an 
anesthesiologist. ​Rev. bras. ortop., ​São Paulo, v. 53, n. 3, p. 281- 286, June 2018. 
Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 
36162018000300281&lng=en&nrm=iso>. Access on 22 Dec. 2018​. 
5. ​TOY, Eugene C. ​et al​. Casos Clínicos em Bioquímica. 3ª edição. Porto Alegre: 
AMGH,2016. 
 
Características Ésteres Amidas 
Biotransformação Rápida, pela colinesterase 
plasmática 
Lenta, hepática 
Toxicidade sistêmica Pouco provável Mais provável 
Reações alérgicas Possível Rara 
Estabilidade em solução Hidrolisa em ampolas Estável quimicamente 
Início da ação Lenta Moderada/Rápida 
Pka’s Maior que o pH fisiológico Próximo ao pH fisiológico

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