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Resenha crítica do filme - Como estrelas na terra - Gabriel Sá

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UNIVERSIDADE PAULISTA DE BRASÍLIA
Disciplina: Psicodiagnóstico
Aluna: Gabriel dos Santos Sá RA: D48FJF-9 Turma: PS6B30
RESENHA CRÍTICA DO FILME: COMO ESTRELAS NA TERRA
O filme, “Como estrelas na terra”, conta de forma belíssima e emocionante a história de Ishaan, uma criança de apenas 8 anos de idade que apresenta um quadro de dislexia, um distúrbio que, segundo a ABD (Associação Brasileira de Dislexia), atinge entre 5% e 17% das crianças em fase escolar no mundo inteiro. De ordem neurobiológica, esse transtorno afeta diretamente o desenvolvimento da aprendizagem escolar.
O menino Ishaan apresentava uma séria dificuldade em ler e escrever e por isso cursava a terceira série do ensino básico pela segunda vez, com o eminente risco de ser reprovado novamente. A criança repetia de forma recorrente os mesmos erros e apresentava uma séria dificuldade para se concentrar e levar a sério seus estudos. À primeira vista, o comportamento de Ishaan é percebido pelos seus professores como insolente e preguiçoso, porém, o que não se davam conta, é que o pequeno sofria de um distúrbio de aprendizagem, ainda que fisicamente não apresentasse quaisquer deficiências motora.
Preocupados com o “desempenho escolar” do filho, os pais de Ishaan resolveram manda-lo para um colégio interno. Porém, eles também não haviam se dado conta da verdadeira necessidade do filho e entendiam que este era, tão somente, indisciplinado. Tanto a escola, quanto a família entendia que o problema era de ordem comportamental. Seus pais não tinham paciência e buscavam “adultizar” a criança, desconsiderando seu real estado. A ida para o colégio interno foi a constatação para Ishaan que ele era “tão ruim”, a ponto de até seus pais terem desistido dele.
O distanciamento da família, somado as dificuldades de aprendizagem, os gracejos dos colegas e os constantes castigos foram roubando a vitalidade e alegria de viver de Ishaan, que aos poucos foi se enclausurando e vendo as cores do seu mundo ir embora.
Quando tudo parecia perdido, Ram Shankar Nikumbh, o professor substituto de Artes entra em cena para mudar de vez a percepção de todos acerca do que se passava com Ishaan, e, principalmente, devolver à criança a alegria de viver, fazendo com que ela não mais superestimasse suas dificuldades, mas se voltasse para os recursos internos que possuía, bem como as novas possibilidades que surgiriam a partir de uma nova percepção da realidade.
Ao aproximar-se do garoto, Nikumbh percebeu que em seu olhar havia um pedido de socorro. Àquela altura, com inúmeros impropérios direcionados a si pelas pessoas que deveriam cuidar e educá-lo, Ishaan começou a demonstrar uma flagrante demonstração de insatisfação com sua vida. Algumas cenas do filme, até mesmo fazia alusão a ideação suicida, por parte da criança. Mais do que aprender a ler e escrever, Ishaan precisava naquele momento de apoio, atenção e carinho, um bálsamo para o seu sofrimento.
Nikumbh enxergava em Ishaan as dificuldades de aprendizagem que ele mesmo teve que superar em sua infância e por isso se dispôs a ajudar o garoto. Seu olhar e atitude empática foi primordial para a virada na vida do menino. Após consultar os cadernos de Ishan, conversar com outros professores e fazer uma visita domiciliar, Ram foi percebendo que a condição psicopatológica do menino possuía uma relação direta com o ambiente domiciliar e escolar, e que não adiantava tentar ajudá-lo em sua dificuldade neurobiológica sem imbuir cada personagem da história de Ishaan de uma conscientização acerca da importância do seu papel para a transformação na vida do menino.
Graças a articulação de Ram, família e escola se conscientizaram do real quadro da criança e a partir de uma mudança de postura por parte deles foi se percebendo uma evolução gradual da criança. Ciente da dificuldade de Ishaan lidar com os métodos tradicionais de ensino, Nikumbh rompe com esse modelo e lança mão de outros mecanismos lúdicos que favoreceram a aprendizagem de Ishaan, para só então, promover o reencontro do menino com a escrita e leitura no caderno.
A superação da dificuldade em ler e escrever também resgatou a alegria e o sorriso no rosto da criança que não mais passou a se enxergar de forma pejorativa. Ishaan aprendeu que ele era apenas diferente, o que não o tornava pior ou melhor que ninguém, apenas diferente. Como toda criança, Ishaan possuía um brilho próprio e as pessoas precisavam se dar conta disso e reforçar esse brilho. Seu pai que, inicialmente lançava sobre ele o peso de sua ambição, passou a perceber que seu filho carecia mais do seu carinho do que da cobrança que sempre lhe impôs.
	Pois bem, os princípios que regem o psicodiagnóstico infantil podem ser percebidos ao longo de todo filme. No caso de Ishaan, percebe-se inicialmente uma falta de escuta fenomenológica por parte da família e da escola. O que isso significa? Promover um estranhamento metódico a tudo o que era e não era dito pela criança. Todavia, ninguém parecia estar disposto a compreender o fenômeno que se passava na vida da criança do ponto de vista dela. Com isso, entende-se que a atuação de Ram se assemelha bastante a atitude fenomenológica que deve haver por parte do terapeuta no psicodiagnóstico. 
	Durante o processo de psicodiagnóstico não se pode focar apenas no que se apresenta na queixa, mas se aprofundar para compreender a dimensão da mesma, bem como explorar sua capilaridade dentro do ambiente familiar e escolar. Sem essa cosmovisão acerca das relações que incidem sobre o desenvolvimento da criança, o processo psicodiagnóstico apenas irá reforçar a cultura “culpabilizadora” infantil.
	Além disso, é preciso priorizar o sofrimento da criança em primeiro lugar e considerar as razões que corroboram para ele. É interessante notar no filme que num determinado momento o menino Ishaan corre sem parar numa quadra, numa clara demonstração de que ele estava tentando fugir daquela dor, da perseguição, do constrangimento e da culpa de ter que apresentar resultados e não conseguir.
	A história de Ishaan também evidencia a importância da visita domiciliar e escolar para constatar, refutar ou descobrir novas hipóteses a respeito do caso envolvendo a criança. Com as informações levantadas nessas visitas, é de responsabilidade do psicólogo relacioná-las e jogar luz sobre tudo o que foi colhido a fim de que cada um dos atores envolvidos no contexto relacional da criança, não apenas serem notificados da real demanda que a envolve, mas principalmente, cada qual se dê conta da importância do seu papel no desenvolvimento infantil.

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