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Alice Bastos Desenvolvimento psicomotor no 1° ano de vida Desenvolvimento motor Durante o primeiro ano de vida, funções reflexas aparecem e desaparecem, de acordo com a evolução do Sistema Nervoso Central, progredindo para movimentos mais complexos e voluntários; Os reflexos podem, conforme sua evolução, ser divididos em três grupos: Manifestações normais durante algum tempo e que desaparecem com a evolução, somente reaparecendo em condições patológicas: Reflexo tônico cervical e de retificação corporal, ambos desaparecendo com um ou dois meses de idade; Reflexo de Moro, que desaparece em torno de 4-6 meses; Sinal de Babinski que, quando bilateral, pode ser normal até 18 meses; Reflexos que existem normalmente, desaparecem com a evolução e reaparecem como atividades voluntárias: Reflexo de preensão, sucção e marcha, por exemplo; Manifestações que persistem por toda a vida: Os vários reflexos profundos e os reflexos cutâneos abdominais; A avaliação do desenvolvimento dos reflexos permite ao pediatra determinar a integridade do sistema nervoso central de acordo com a expectativa relacionada à idade cronológica da criança; Estes reflexos estão presentes em todos os recém- nascidos a termo, sendo considerados fisiológicos nos primeiros meses de vida; A ausência inicial ou permanência tardia dos mesmos sugere alterações patológicas que merecem ser investigadas. Reflexos primitivos O examinador coloca o dedo index na palma da mão da criança; Observa-se a flexão dos dedos do bebê; Deve desaparecer entre 4 e 6 meses, quando se torna um movimento voluntário de preensão. O examinador pressiona o polegar contra a sola do pé da criança, logo abaixo dos dedos; Observa-se a flexão dos dedos do bebê; Deve aparecer com 15 meses de vida. Obtido através do estímulo da porção lateral do pé, desencadeando no recém-nascido a extensão do hálux; Apresenta-se em extensão até cerca de 18 meses. Observa-se movimentos de extensão e abdução dos membros superiores com abertura das mãos, seguidas de adução e flexão dos membros superiores; Deve desaparecer após 5 meses de vida. É desencadeado pela rotação de 90 graus da cabeça, que deve ser mantida desta forma por 15 segundos, consiste na extensão dos membros superiores para o lado em que a cabeça é girada e flexão dos membros superiores do lado occipital; Geralmente persiste até o terceiro mês. A criança é segurada pelo tronco com as duas mãos e o reflexo é obtido pelo contato do pé com a superfície, que resulta em marcha; Inicia nos primeiros dias pós parto e deve desaparecer entre a quarta e oitava semana de vida. O toque da pele perioral promove o movimento da cabeça em direção ao estímulo com abertura da boca e tentativa de sucção; Alice Bastos Deve desaparecer por volta dos 4 meses de vida. 1° mês Membros flexionados (hipertonia fisiológica); Cabeça oscilante, comumente mais lateralizada; Mãos fechadas; Membros inferiores mais livres, que alternam movimentos de flexo-extensão, porém com as pernas geralmente fletidas sobre o abdome; O tronco apresenta característica mais hipotônica, com ausência de equilíbrio cervical e de trono; Apresenta movimentos amplos, variados e estereotipados, com forte influência de reflexo primitivos; Abre e fecha os braços em resposta ao estímulo, movimento que pode estar influenciado pelo Reflexo de Moro. O peso do corpo se encontra na cabeça e tronco superior, em função da elevação da pelve decorrente da flexão de membros inferiores; Pode levantar a cabeça momentaneamente, sempre lateralizada, sem alcance da linha média. Ç Mãos comumente fechadas; Presença do reflexo de preensão palmar. 2° mês Pode apresentar uma postura mais assimétrica, influenciada pela resposta ao Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (extensão dos membros superior e inferior do lado para o qual a face está voltada, e flexão dos membros contralaterais); Acompanha visualmente os objetos ou a face humana, com movimentos de cabeça geralmente até a linha média. Eleva mais a cabeça, aproximadamente 45°, mas não a mantém erguida; Os membros inferiores estarão um pouco mais estendidos, porém ainda em flexão; Colocado na posição sentada, mantém a cabeça elevada intermitentemente; Ç Abre e fecha as mãos espontaneamente. 3° mês No final do 3° mês, espera-se aquisição do equilíbrio cervical. Melhor controle cervical, consegue manter a cabeça na linha média; Acompanha objetos visualmente com movimentos de rotação da cabeça para ambos os lados, a mais de 180°; Os movimentos dos olhos e cabeça já são, muitas vezes, simultâneos e coordenados. É capaz de fazer a descarga do peso em antebraços, com melhora da estabilidade escapular, elevando a parte superior do tronco e a cabeça (em 90°), na linha média. Leve atraso de cabeça. Ç Mantém a cabeça erguida, podendo ainda ocorrer oscilações. Ç Descoberta das mãos; Leva as mãos à boca; Podem ocorrer as primeiras tentativas de alcance dos objetos; Transição entre a preensão reflexa e voluntária. Alice Bastos 4° mês Alterna facilmente os movimentos dos membros entre a extensão e flexão; Postura mais simétrica, une as mãos na linha média, mantendo também a cabeça mais centralizada; Os olhos são mais ativos e a atenção visual contribui para o aumento da estabilidade da cabeça e garante a sua correta orientação no espaço. Consegue alcançar os joelhos e rolar para o decúbito lateral, com maior percepção corporal; Ouvindo ruídos, o bebê para de mover-se e vira para a fonte sonora. É capaz de manter o apoio das mãos com o cotovelo estendido, e de se estender contra a gravidade deixando apenas o abdome no apoio; Tendência a cair para os lados, rolando acidentalmente para supino. Gosta de ser colocado na posição sentada, mantendo a cabeça ereta, mas instável quando o tronco oscila. Ç Preensão voluntária, tipo cúbito palmar; Pega objetos e leva-os à boca. 5° mês É capaz de levar os pés à boca, eleva o quadril e pode arrastar em supino empurrando o corpo para trás (interesse no alcance do objeto); Inicia o rolar para o prono ainda sem muita rotação do tronco. Desloca lateralmente o peso sobre os antebraços para o alcance dos brinquedos; Rola para supino; Tenta “nadar” no chão; É capaz de pivotear (giro sob o próprio eixo); É capaz de manter membros superiores estendidos. Eleva a cabeça do apoio. Ç A cabeça não oscila; Começa a sentar com apoio, mantendo o tronco ereto. Ç Preensão cúbito palmar. 6° mês Ao final do 6° mês, a criança já tem domínio sobre os movimentos rotacionais, denotando controle sobre as transferências de decúbito como rolar. Rola para prono; Levanta a cabeça espontaneamente. Suporta peso nas mãos, liberando o apoio de uma delas para o alcance de objetos; Apresenta reação de equilíbrio nesta posição, começando em supino; Inicia o arrastar. Auxilia no movimento, elevando a cabeça do apoio e tracionando membros inferiores. Ç É capaz de manter-se nessa postura com apoio, por longo tempo, ainda com cifose lombar; Como ainda não tem total controle do seu deslocamento de peso nesta postura e não apresenta ainda as reações laterais e posteriores de apoio, pode cair para os lados e para trás. Ç Preensão palmar simples ou de aperto; Alice Bastos Amplia a exploração dos objetos; Transfere objetos de uma mão para a outra. 7° mês Nesse período, o desenvolvimento adequado da musculatura de tronco e da pelve permite uma ótima estabilidade na postura sentada e, com isso, a retificação do tronco fica mais evidente. Reações de equilíbrio presentes; Eleva a cabeça como se fosse sentar. Mantém a cabeça elevada; Com apoio no abdome e nas mãos, pode girar ou arrastar-se; Brinca em decúbito lateral. Há aquisição do equilíbrio detronco/senta sem apoio. Ç Preensão rádio-palmar, permitindo a pinça inferior; Consegue segurar um objeto em cada mão. 8° mês Com o domínio das rotações, o bebê experimenta várias posturas diferentes. Geralmente rola ou puxa-se para sentar. Assume a posição quadrúpede (ou de gatas), transfere de prono para sentado e vice-versa. Bom equilíbrio de tronco, inclina-se para frente, apresenta reação protetora para os lados. Ç Pinça inferior, inicia o soltar. 9° mês Uma vez na postura de gatas, a criança experimenta as transferências de peso, balançando para frente, para trás e para os lados; Com isso, vai desenvolvendo o equilíbrio e a força muscular para iniciar o engatinhar; Apresenta reação de equilíbrio na posição sentada (inicia quadrúpede), com melhor controle de tronco (realiza movimentos de rotação); Engatinha e realiza transferências de sentado para a posição de gatas e vice-versa; Começa a assumir a posição de joelhos e fica de pé com apoio. Ç Começa a aprender a dar o objeto quando solicitado; Segura pequenos objetos entre o polegar e dígito de outros dedos. 10° mês Ao final do 10° mês, a criança consegue se transferir de sentado para gatas, para joelhos, semi-ajoelhado e tracionar-se para de pé; Engatinha ou desloca-se através da posição “tipo urso”, com apoio nas mãos e pés, mantendo joelhos estendidos; Sentado, apresenta extensão protetora para trás, roda em círculos; Inicia marcha lateral com apoio nos móveis e é capaz de caminhar quando segurado pelas mãos. Ç Retira e coloca objetos de um recipiente; Inicia uso do copo. 11° mês Essa fase é marcada pelo desenvolvimento da postura ortostática; A criança realiza marcha lateral e já é capaz de liberar o apoio de uma das mãos; Alice Bastos Posteriormente, realiza marcha para frente, empurrando um apoio móvel (como cadeira ou banquinho); O caminhar para frente, ao redor dos móveis, enquanto se apoia com uma mão, é um precursor natural da marcha para frente com auxílio da mão de um adulto. Ç Preensão digital. 12° mês Capaz de elevar-se estendendo ativamente membros inferiores; Transfere da posição ortostática para sentado dissociando movimentos de membros inferiores; Inicia ficar de pé sem apoio; Primeiros passos independentes; Na fase inicial da marcha independente, a criança assume uma base alargada de apoio nos pés, abdução dos braços e fixação do tronco superior. Apresenta passos curtos e acelerados, com cadência aumentada em função do déficit de equilíbrio; A literatura aponta que a ocorrência de marcha sem apoio antes dos 12 meses ou até os 18 meses pode ser considerada dentro da faixa de normalidade, no caso de uma criança nascida a termo e sem sinais de comprometimento neurológico. Ç Realiza pinça fina (preensão entre o dígito do polegar e indicador); Realiza encaixes amplos. Desenvolvimento cognitivo e de linguagem No primeiro ano de vida, o desenvolvimento cognitivo e motor caminharão juntos, havendo predominância de atividades sensório-motoras; As respostas reflexas passarão gradativamente ao controle voluntário dos movimentos; Desenvolverá o engatinhar e a possibilidade dos primeiros passos e palavras; Aprenderá, dentre outras maneiras, por imitação, e expandirá seu tempo de atenção e capacidade mnemônica surgindo as noções de permanência/ausência de objetos e pequenas relações de causa e efeito assim como a construção de outros conceitos; Um dos marcos do desenvolvimento nesse período é constituído pela atenção conjunta; Inicialmente o bebê olha objetos e pessoas, acompanha o deslocamento do outro ou presta atenção quando alguém aponta para algum objeto ou pessoa (atenção diádica); Por volta do nono mês, o bebê se torna capaz de coordenar a atenção entre um parceiro social e um objeto de interesse mútuo (atenção triádica); Os bebês, já no seu primeiro mês de vida, distinguem umas cores das outras; Embora não tenha nome para designá-las; Crianças recém-nascidas são capazes de explorar visualmente os estímulos de seu meio; As crianças respondem aos sons antes mesmo do nascimento e são capazes de responder assim que nascem; A maior parte dos bebês se interessa por sons na frequência da voz humana; Na fase pré-linguística (vai até por volta dos 12 meses de vida) ainda que não saiba falar, a criança apresenta linguagem; A criança inicia a interação simbólica com o outro pelo olhar/expressão facial, pelos movimentos e contatos corporais; Nos primeiros meses acalma-se com a voz da mãe, presta atenção aos sons e às palavras; Aos 4 meses, a criança já emite alguns sons (gugu eee, etc), murmura, vocaliza socialmente, grita e sorri; Aos 6 meses, consegue emitir sílabas isoladas, com combinação de consoante e vogal (ba, da, ga) e consegue, também, obter a localização da fonte sonora; Alice Bastos Por volta de 6 a 7 meses de vida, as emissões orais evoluem para balbucios, aos 12 meses surgem as primeiras palavras contextualizadas. 1° mês Atenta-se à face humana; Comunica-se pelo choro; Reage a sons fortes com sustos e aquieta-se ao som da voz humana; Emite pequenos sons guturais. 2° mês Fixa o olhar na face humana; Comunica-se pelo choro diferenciado; Mantém a atenção ao ouvir a voz humana; Segue uma pessoa ou objeto com os olhos na linha média; Explora o mundo externo, com grande interesse por sons, contrastes visuais e luz; Apresenta sorriso social. 3° mês Fixa o olhar em objetos; Reconhece o principal cuidador, inclusive a fala; Sorri a todos que se aproximam sorrindo; Produz sons nasais; Início de diferentes formações de choro (fome, birra, sono...); Acalma-se quando se fala com ela; Descobre as mãos; Repete ações agradáveis (ex.: levar a mão à boca, brincar com os lábios); Explora o que está em seu campo visual; Reage e procura a fonte sonora; Consegue segurar brinquedos por alguns segundos, quando colocados em suas mãos. 4° mês Localiza a fonte sonora; Emite sons vocálicos; Reage quando é chamado pelo nome; Demonstra excitação quando o cuidador brinca com ela; Descobre os pés; É muito curioso, observa tudo com muita atenção; Explora os brinquedos, ocasionalmente levando-os à boca; Segue visualmente o objeto que cai; Reage ao desaparecimento da face (brincadeira esconde-achou). 5° mês A capacidade de atenção aumenta e já passa mais tempo em uma mesma atividade; Emite sons vocálicos diferenciados, expressando emoções (ri e solta gritos de alegria ao brincar); Usa movimentos do corpo e sons para chamar a atenção do outro (levanta o braço, segura com a mão); Olha e pega tudo que está ao seu alcance, levando-os à boca propositalmente. 6° ao 9° mês Brinca na frente do espelho; Explora os objetos de modo variado (bate, aperta, balança...); Demonstra interesse por diversos brinquedos; Apresenta mais interesse por pessoas do que objetos; Balbucio, principalmente na presença do cuidador; Direciona o olhar a objetos desejados; Imita gestos ou brincadeiras a partir de modelo; Usa o corpo para atingir os seus objetivos e satisfazer a sua curiosidade (desloca-se no ambiente para alcançar brinquedos); Reconhece pessoas familiares, apresentando estranhamento ao novo; Coordena a atenção entre um parceiro social e um objeto de interesse mútuo (atenção triádica). Alice Bastos 9° ao 12° mês Quando vê um objeto desaparecer, procura-o mesmo escondido (noção de permanência do objeto); Produz sons consonantais (“dadada”); Executa gestos a partir de modelos (dar tchau, bater palmas); Entende solicitações simples associadas a gestos (me dá, pega, cadê a mamãe...); Age intencionalmente (deixa cair objetos de propósito); Responde ao próprio nome. Desenvolvimento emocional No primeiro ano de vida o bebê encontra-seem um estágio impulsivo emocional: A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo físico; No primeiro mês de vida, o recém-nascido encontra-se em uma fase de semi-consciência e semi-sonolência; Seu objetivo principal é atingir o controle homeostático com o ambiente; Aos poucos ele vai se tornando alerta e consciente sobre o responsável pelos seus cuidados, sendo que o sorriso social é constatado e observado entre o primeiro e segundo mês de vida; O lactente depende do ambiente para satisfazer suas necessidades; A disponibilidade constante de um adulto confiável para satisfazer as necessidades urgentes do lactente cria condições para vinculações seguras; O choro ocorre em resposta a estímulos que podem ser óbvios (fralda suja, por exemplo), mas que frequentemente são obscuros; O período de choro costuma atingir um pico de duração na sexta semana, quando os lactentes sadios choram até 3 horas por dia, a seguir diminui para 1 hora ou menos, por volta dos 3 meses de vida; O significado emocional de qualquer experiência depende do temperamento individual da criança, bem como da resposta dos pais; A criança interage com o outro desde os primeiros momentos de vida; É um ser social e depende do outro para sobreviver.
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