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Curso quadr inhos em sal a de aul a A Lingu agem dos Qu adrinh os Daniel Brand ão 33 1. apresentação As histórias em quadrinhos são uma forma de comunicação muito rica que pode ser usada para entreter, informar e, também, educar. Elas são uma mídia onde cabem todos os gêneros e os mais di- versos temas. Os assuntos tratados nos quadrinhos podem ter a leveza e a ludicidade que encantam crianças e adolescentes, mas também podem mergulhar na densidade de temáticas adultas e complexas. Portanto, as HQs podem ser utilizadas em sala de aula da educação infantil até o ensino médio (já existem experiências no ensino superior) como uma ótima ferramenta de ensino. A riqueza do amálgama entre texto e imagem para trans- mitir uma ideia por meio de narrativas gráfi cas é encantadora. A linguagem dinâmica dos qua- drinhos pode ilustrar assuntos abordados pelo(a) Amálgama: mistura de elementos diferentes ou heterogêneos que formam um todo. ava.fdr.org.br professor(a), clarear a mente do aluno, reforçar conteúdos, estimular o pensamento crítico, além de poder ser usada como atividade criativa. Contudo, para utilizarmos todo o potencial que os quadrinhos podem oferecer em sala de aula é preciso entender a sua linguagem (sintaxe), o seu signifi cado, conhecer os principais formatos, os elementos que o compõem e suas ferramentas básicas. E é justamente sobre isso que discutiremos neste fascículo. Lembramos que, se estiver gostando do cur- so, lendo todos os fascículos, assistindo às vi- deoaulas no AVA e no Canal Futura e ouvin- do as nossas radioaulas, não o guarde só para você. Divulgue-o, convide seus colegas e mesmo alunos para conhecerem um pouco mais desse universo de Quadrinhos em Sala de Aula. É só ACESSAR e inscrever-se gratuitamente: ava.fdr.org.br 3434 2. objetivos 3. e o que são histórias em quadrinhos? As histórias em quadrinhos são uma forma de comunicação muito democrática. Por conta de seu texto enxuto (em boa parte das histórias), imagens dinâmicas, cores encantadoras e símbolos atraen- tes e sinestésicos, muitas crianças se “alfa- betizam” aprendendo a ler os quadrinhos. Aliás, qualquer pessoa de qualquer idade pode intuitiva- mente aprender a ler uma história em quadrinhos. Da mesma forma, todo mundo pode, se quiser, fa- zer quadrinhos. Podemos dizer que as HQs são uma mídia ba- rata e têm uma produção relativamente simples. Porém, o seu autor pode se deparar com a neces- sidade de um conhecimento multidisciplinar. Por exemplo: o domínio da língua-mãe para escre- ver o roteiro; técnicas de redação, conhecimentos de história, geografi a, sociologia, moda, biologia e psicologia para compor personagens e cenários; Sinestésicos: que nos despertam espontaneamente sensações diversas, conforme a nossa vivência, leitura etc. conhecimentos de matemática e física para cons- truir perspectivas, movimentos, ações e ritmos, en- tre outros saberes. Portanto, os professores de qualquer discipli- na podem utilizar essa rica linguagem como fer- ramenta de ensino em sala de aula por meio de diversas atividades pedagógicas. Para isso, no en- tanto, insistimos: é preciso entender a defi ni- ção de quadrinhos e abrir a sua mente para o potencial dos signos e recursos desta linguagem. A má aplicação pela falta dessa apropriação, por parte do(a) professor(a), pode levar a resulta- dos insatisfatórios. Acredito que você reconheça uma HQ quan- do se depara com uma. Pelo menos quando ela se apresenta em um dos seus formatos mais tradicio- nais. Mas será que você saberia dizer exatamente o que é uma história em quadrinhos? Will Eisner, um dos mais importantes auto- res de HQs, usa o termo Arte Sequencial para tratar de quadrinhos. Segundo ele, os quadrinhos são “uma forma artística e literária que lida com a disposição de fi guras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia” (EISNER, 2010, p. 9). Eisner diz ainda que “as his- tórias em quadrinhos apresentam uma sobreposi- ção de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e verbais” (EISNER, 2010, p. 2). Will Eisner (1917-2005): um dos mais re- nomados quadrinistas americanos, criador do personagem Spirit, autor de diversas graphic novels de sucesso, sendo certamente um dos reinventores do gênero, seguido por diversos profi ssionais de todos os continentes. 3535 Scott McCloud, outro teórico da lingua- gem de quadrinhos, afi rma que o termo “Arte Sequencial” poderia confundir quadrinhos com ani- mação, por exemplo. Para ele, quadrinhos são ima- gens organizadas propositalmente de maneira jus- tapostas com um determinado objetivo narrativo e “destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador” (McCLOUD, 1995). Porém, não adianta duas imagens estarem lado a lado se o leitor não concluir o que está acontecendo nesta transição de quadros. Portanto, o fenômeno chamado de conclusão, que ocorre na cabeça do leitor quando ele passa o olho pela sarjeta (ou “calha”, aquele espaço va- zio entre os quadros), é o que dá unidade e sen- tido à narrativa sugerida pelas imagens. O autor imagina as cenas e as apresenta para o leitor, mas é o leitor que dá movimento, voz e sons à história. Aqui entram as tais “habilidades interpretativas vi- suais e verbais” citadas por Eisner. Por isso, as HQs podem ser consideradas uma mídia interativa, na qual o leitor é corresponsável pelo andamento da narrativa. Lembre-se sempre disso! Scott McCloud (1960): quadrinista americano, indicado ao Eisner Award de “melhor escritor e desenhista”, em 1988, pela série de fi cção científi ca Zot!, um dos pioneiros na criação dos webcomics e autor de Desvendando os Quadrinhos, Reinventando os Quadrinhos e Desenhando Quadrinhos, livros teóricos amplamente divulgados no mundo. Sarjeta: é o espaço entre os quadros. O seu tamanho pode variar e alterar o tempo da narrativa. Também é possível construir uma sequência de painéis sem sarjeta. 4. Principais formatos de HQ s Também chamados de gibis (Brasil), comics (EUA e Canadá), comic book, arte sequencial, his- torietas (Argentina), Tebeos (Espanha), banda dese- nhada/bande dessinée (Portugal/França e Bélgica), mangá (Japão), manhwa (Coreia), fumetti (Itália), histórias ao quadradinhos (Angola), entre outros, os quadrinhos têm muitas caras e formatos1. Os mais conhecidos são: a)Tira: popularizou-se nos jornais. Geralmente em formato horizontal, com uma divisão entre dois a cinco quadros, o autor apresenta uma pequena história fechada (muitas vezes humorada) ou um capítulo de história seriada; (1) Durante o curso, exploraremos cada um desses formatos e como eles podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. (1) Durante o curso, exploraremos cada um desses formatos e como eles podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. 3636 Página Do minical “Li z” de Dani el Brandã o T ir a “L iz ”, de D an ie l B ra nd ão b) Página dominical: espaço maior do que a tira diária. “Dominical” devido à tradição de ser publicada aos domingos em suplementos de jornais; c) Fanzine: publicação artesanal e independen-te. Junção das palavras fanatic (fan) e magazi- ne. Surgiu como publicações de fã-clubes de fi cção científi ca. Reproduzidos em fotocópias, muitas vezes sem fi ns lucrativos e com total liberdade edi- torial, abrange qualquer tema, inclusive HQs; d) Revista em Quadrinhos: os tamanhos co-nhecidos como formatinho (13x21cm), comic book (17x26cm) e magazine (20x26,- 5cm) são os mais comuns. As revistas em quadri- nhos, os gibis, de super-heróis, humor e infantil são facilmente encontradas em bancas e revista- rias e dominam este mercado; e) Álbum ou Novela Gráfica (Graphic Novel): termo popularizado pelo quadri- nista Will Eisner em sua obra Um Contrato com Deus (1978). Assemelha-se muito editorialmente (formato) a de um livro (inclusive, com lombada quadrada). Com maior número de páginas do que umarevista em quadrinhos comum, comporta uma história mais densa e sofi sticada, exigindo um público leitor mais efi ciente (adulto jovens e adultos, por exemplo). f) Mangá: termo que designa as histórias em quadrinhos japonesas. Essas HQs são mui- to populares em todo o mundo. No ocidente, o uso desse termo foi ampliado para além dos quadrinhos em si, sendo aplicado para defi nir o estilo de traço baseado nos mangás, devido às características estéticas marcantes, como olhos grandes e expressivos, estrutura anatômica cartunizada, cabelos espetados com cores vibrantes etc.; Fanzines. Foto: Wea ver Lima 3737 g) Fotonovela: perceba que, até agora, não usamos em nenhum momento a palavra desenho na defi nição de quadrinhos, mas, sim, imagem. Isto por que nem todas as HQs são pro- duzidas com desenhos (embora a maioria o seja), mas com fotografi as, pinturas, recortes e colagens, entre outros recursos. Por isso, se seus alunos não souberem desenhar, não tem problema, podem utilizar esse artifício para criar as suas HQs em sala de aula, ampliando as possibilidades pedagógicas, desde que mantenham os recursos particulares da linguagem, como o requadro, balão, onomatopeia etc. Quando utilizamos fotografi as para construir uma HQ, a denominamos de fotonovela. h) Webcomics: quadrinhos publicados na inter-net. Um meio muito efi ciente e democrático de novos autores mostrarem seu trabalho e for- marem público. Uma questão interessante é se existe história em quadrinhos de uma só imagem. Segundo Edgard Magalhães, “uma HQ pode ser realizada com uma única imagem, desde que consiga re- presentar um movimento, narrar um fato, contar uma história” (GUIMARÃES, 2010, p. 31). Quem defende essa tese, acredita que exista passagem de tempo em uma única imagem, portanto uma narrativa. Além do mais, um desenho ou uma foto podem ser compostos por diversos elementos imagéticos, que podem estar justapostos con- tando uma história. Imagético: que se exprime por imagens e/ou que revela imaginação. Ra ym un do N et to “T ur m a do G ab i”, R ev is ta e m q ua dr in ho s de M oa ci r To rr es “S te am pu nk L ad ie s” , G ra ph ic N ov el d e Z é W el lin gt on e D i A m or im 3838 Não é incomum uma tira de jornal, por exemplo, ser composta por uma só imagem. Esta interpreta- ção de histórias em quadrinhos com um só quadro amplia as possibilidades de uso desta linguagem para cartuns e charges, especialmente por muitas vezes eles se utilizarem de recursos como balões e metáforas visuais comuns das HQs. Assim, vejamos: i) Cartum: desenho humorístico, anedota grá-fi ca. Em geral, uma única imagem que tem o objetivo de fazer rir, pensar ou até incomodar. Tem uma forte similaridade estética com a charge, mas possui um caráter mais universal e atemporal. Pode ou não ter palavras. j) Charge: pode ser considerada uma catego-ria jornalística e tem por fi nalidade satirizar, por meio de uma imagem, algum acontecimento atual. A palavra é de origem francesa e signifi ca “carga”. A charge, geralmente, tem um efeito regional e é atrelada a algum fato relevante do momento. Muitas vezes o chargista faz uso da ca- ricatura e pode ou não usar palavras, assim como no cartum. Antônio Luiz Cagnin, em Os Quadrinhos: linguagem e semiótica, defende que a HQ é forma- da pela intersecção de dois conjuntos: literatura e imagem. A fusão desses elementos gera algo novo, que não é literatura nem é imagem, mas his- tória em quadrinhos, uma mídia com linguagem e sintaxe próprias. Aliás, a única que tem essa pro- priedade. Também não se esqueça disso! Cartum, de Mino Também não se esqueça disso!Também não se esqueça disso! Antônio Luiz Cagnin (1930-2013): professor universitário, semiólogo e pesquisador de HQs, autor de Os Quadrinhos. Em 2008, ganhou o Prêmio Ângelo Agostini na categoria de “Mestre do Quadrinho Nacional”. Mídia: suporte de difusão da informação. Meio intermediário de expressão e de transmissão de mensagens. Charge, de Clayton (O POVO) 3939 para curiosos A humanidade se comu nica através da lin- guagem dos quadrinhos d esde a pré-história. O homem das cavernas p intou imagens nas paredes de pedra, organi zadas lado a lado em sequência deliberada, que narravam caçadas, rituais religiosos etc. No decorrer do tempo , manifestações na linguagem de quadrinhos foram registradas em tapeçarias, mandalas , monumentos arqui- tetônicos, pinturas, igrej as... mas, apenas na segunda metade do sécu lo XIX que esta forma de arte começou a ser re conhecida. Uma par- te dos estudiosos da hist ória das histórias em quadrinhos considera que o americano Richard Felton Outcault foi o pion eiro, com sua tira “Hogan´s Alley”, publicada no periódico New York World a partir do dia 5 de maio de 1895. Um dos argumentos p ara considerá-lo dessa forma foi o fato de Outc ault deixar de usar o texto no rodapé dos qua dros (uma espécie de legenda) para inseri-los c omo parte das ima- gens (primeiramente no c amisolão do persona- gem Yellow Kid e depois in seridos em balões). Pode-se até afirmar que Outcault ajudou a popularizar o uso do balã o, mas quem realmen- te utilizou o balão de for ma sistemática foi seu contemporâneo Rudo lph Dirks, na sua tira “Katenjammer Kids” (Os s obrinhos do Capitão). Para muitos teóricos, est a característica da Portanto, nos quadrinhos, o entrelaçamento entre o texto e a imagem é indivisível. Não exis- tem quadrinhos sem texto. Existem quadrinhos mudos, sem balões, onomatopeias ou recor- datórios, mas nunca sem texto. Nesses, o texto está implícito, é a história, o roteiro. A histó- ria é quem guia todas as decisões narrativas e es- téticas do autor. Um quadrinista é, antes de tudo, um contador de histórias. texto está implícito, é a história, o roteiro. A histó-texto está implícito, é a história, o roteiro. A histó- ria é quem guia todas as decisões narrativas e es-ria é quem guia todas as decisões narrativas e es- téticas do autor. Um quadrinista é, antes de tudo, téticas do autor. Um quadrinista é, antes de tudo, contador de histórias. . tira “Hogan´s Alley” não é o suficiente para considerar Richard Felton Outcault o pionei- ro das HQ, até porque nã o é o uso de balões que define os quadrinhos e há registros de uso de balões anteriores a ele. Antes de 1895, muitos autores já produziam arte sequencial, eentre e les o ítalo-brasilei- ro Angelo Agostini. Aliás, o dia 30 de janeiro é considerado o Dia do Q uadrinho Nacional, pois foi nesta data, em 1 869, que Agostini publicou “As Aventuras de Nhô Quim ou Im- pressões de uma Viagem à Corte” na revista Vida Fluminense. 4040 Agora que as histórias em quadrinhos estão defi nidas e contextualizadas, podemos propor a você diversas atividades pedagógicas com esta linguagem: 5.1. Leitura e interpretação de HQs como obras didáticas ou paradidáticas É uma das atividades mais comuns. Muitos li- vros de português e de inglês, por exemplo, con- têm quadrinhos em forma de tiras ou de histórias curtas. Também é cada vez mais comum as escolas adotarem quadrinhos como livros paradidáticos (obras de adaptações literárias ou não). Portanto, a compreensão da sintaxe dos quadrinhos pode ser transmitida para o aluno com o intuito de ajudar a melhorar a interpretação deste tipo de forma de comunicação. Muitos leitores iniciantes de HQs tendem a ler apenas os textos dos balões e recordató- rios e não prestam a devida atenção às imagens dos quadros, que exigem e disponibilizam uma se- gunda leitura. Lembre-se: vimos que a linguagem dos quadrinhos é pautada em uma relação en- trelaçada entre as palavras e as imagens. Por isso, torna-se importante que o professor orien- te os alunos sobre essa leitura cuidadosa, apurada, ampla e completa. Além do mais, faz parte da “al- fabetização” do aluno para a linguagem da Nona Arte, para a correta interpretação das metáforasvisuais mais comuns utilizadas pela maior parte dos quadrinistas, assim como recurso indispensável para maior fi xação da temática e conteúdo da obra. Para tal, alguns termos importantes devem ser considerados nesse processo de “alfabetiza- ção” em HQs: 5. Propostas de Atividades a) Caixa de Texto: também denominada cai-xa de narrativa ou recordatório, que aco- lhe o texto (a fala) do narrador ou de um perso- nagem onisciente. Muitos autores usam essa caixa de texto para substituir o balão de pensamento. b) Balão: característica singular dos quadri-nhos, pode ser de fala, de pensamento, de grito, elétrico, uníssono, de sussurro etc. Eisner sugere que o balão é uma “cartunização do vapor que sai da boca quando falamos”. Ou seja, a re- presentação gráfi ca do ar que se desloca quando falamos, semelhante ao vapor gerado pela con- densação em lugares frios. c) Onomatopeia: é a grafi a dos sons a partir de sua imitação. Os efeitos sonoros dos quadri- nhos. Sua utilização tem um forte apelo sensorial e enriquece a narrativa. A própria representação gráfi ca das letras e/ou de seu conjunto, infl uencia na interpretação e verossimilhança dos sons. d) Metáforas Visuais: referem-se a dese-nhos e/ou linhas que ajudam na informação de sentimento ou movimento nos quadrinhos. Fumaças saindo da cabeça quando os personagens estão com raiva, linhas cinéticas que transmitem a ideia de que os personagens estão em movimento, a lâmpada que simboliza que o personagem teve uma ideia, os coraçõezinhos saltando nos olhos ou em torno da cabeça, entre outras. 4141 e) Linguagem do Requadro: o requadro é a moldura do quadro ou painel. Ele é uma fronteira que delimita o universo da história. Os formatos mais comuns são o retângulo e o qua- drado, também chamados de hard frames. f) Ausência do Requadro: amplifi cação da cena. Quebra da fronteira entre os universos do leitor e da história. Pode servir de porta de en- trada para o leitor, amplifi car uma ação, servir de “ponto de exclamação” emocional ou “reticên- cias”, entre outros fi ns, dependendo da motiva- ção de seu autor/roteirista. Tipos de balões Daniel Brandã o g) Requadros de Deslocamento Temporal (flashback ou flashfoward): não existe um padrão visual universal para o requadro de deslocamento temporal, que pode acontecer para o passado (fashback) ou para o futuro (fl ash- foward), em histórias não necessariamente lineares. Pesquise como alguns autores fazem seus requadros de fl ashbacks ou fl ashfowards e abra uma discussão com seus alunos sobre esta interpretação. 4242 Ausência de requadro para amplificar uma ação. Ausência de requadro como “ponto de exclamação” emocional ou “reticência”. Ausência de requadro que serve como porta de entrada para o leitor. h) Requadros Oníricos: o mesmo que foi dito no tópico anterior serve para os requadros oníricos, ou seja, que se remetem a sonhos. i) Requadros Onomatopeicos: o desenho do efeito sonoro (onomatopeia) pode ser usado como requadro. j) Requadros como Metalinguagem: quando isso acontece, o leitor é lembrado que está lendo uma história em quadrinhos. Onomatopéias Onomatopeias e Metáforas Visua is, por Lene Chav es Li ng ua ge m d o Re qu ad ro , d e D an ie l B ra nd ão D an ie l B ra nd ão Re qu ad ro s de D es lo ca m en to T em po ra l, de D an ie l B ra nd ão 4343 5.2. A produção de uma HQ pelos alunos em sala de aula Esta pode ser uma experiência muito rica. O valor artístico e comunicacional desta atividade em uma aula de artes, por exemplo, pode pa- recer óbvio, mas esse exercício criativo também pode ser utilizado em aulas de outras disciplinas, tais como: português, redação, história, fi losofi a, ciências etc. Não é incomum que o professor peça ao alu- no para escrever uma redação sobre suas férias na volta às aulas. Por que não fazer essa mesma pro- posta utilizando-se da linguagem dos quadrinhos? Outra ideia que pode fortalecer a interpretação de texto seria apresentar aos alunos uma reportagem e propor para que eles façam um infográfi co so- bre o assunto com a sintaxe da arte sequencial. Imagine também utilizar um assunto relevante e factual e propor a produção de charges. Uma lição de ciências, como a metamorfose das borboletas, também pode ser ilustrada em forma de quadri- nhos pelos estudantes. Como fi caria? Qualquer uma dessas atividades pode ser aplicada a alunos de diversas idades, individualmente ou em grupo. Como se dá nas grandes editoras americanas ou japonesas, o(a) professor(a) pode optar pelo método de produção industrial. Estas em- presas, muitas vezes funcionam com grandes equi- pes de profi ssionais envolvidos em uma história em prol da agilidade da produção. As tarefas são divi- didas e coordenadas por um diretor de arte ou por um editor. No caso da atividade sugerida, este pa- pel pode ser assumido pelos próprios professores. A equipe criativa montada pelos facilitadores da atividade (editores) pode envolver roteiris- ta, desenhista(s) (ou responsáveis pelas ima- gens, no caso de usarem fotos ou recortes de revistas, por exemplo), arte-finalista (que pode ser o mesmo desenhista), letrista e colo- rista (se for o caso). Os professores podem op- tar por montar equipes mais enxutas de duas ou três pessoas. Ou mesmo um trabalho individual, feito por apenas uma pessoa, o que denomina- mos de método de produção autoral. Arte-Finalista: profi ssional que dá o acabamento/tratamento fi nal ao desenho original (a lápis), por meio de canetas, pincéis ou mesmo digitalmente. Re qu ad ro s O ní ri co s, d e D an ie l B ra nd ão Re qu ad ro s co m o m et al in gu ag em , d e D an ie l B ra nd ão 4444 Quando uma história em quadrinhos é produ- zida individualmente, mesmo que todas as de- cisões sejam previamente dialogadas com o editor/ professor, ele é o responsável por escrever o roteiro e montar as páginas, produzir as imagens (dese- nhar ou reunir imagens) e colori-las (se for o caso), elaborar os balões e escrever os diálogos dentro deles etc. Ou seja, um estúdio inteiro dentro de uma só pessoa! Por incrível que pareça, boa par- te do mercado europeu e brasileiro de quadrinhos funciona dessa maneira. Os resultados desses trabalhos podem ser pu- blicizados em uma exposição/mostra na escola ou editadas em forma de fanzine ou revista indepen- dente, dependendo dos recursos disponíveis. O(A) professor(a), como mediador(a) e edi- tor(a) desse projeto, precisa conhecer as etapas de produção de uma história em quadri- nhos e, se for o caso, propor uma sequência (me- todologia) que considere mais efi caz. As etapas de Há no método industrial, no qual cada um faz um pouquinho, uma interferência criativa dos autores, limitando a ação de cada envolvido. Entretanto, a experiência de construir algo juntos, SAIBA MAIS Leia na internet gratuitamente Efeito HQ: uma prática pedagógica, de Sonia Bibe Luyten e José Alberto Lovetro (Jal), publicação que dá dicas aos professores sobre a linguagem dos quadrinhos, suas vantagens de uso como ferramenta pedagógica em diversas disciplinas, o passo a passo da criação de uma HQ e a aplicação prática em projetos escola-res. IMPERDÍVEL. É só acessar: efeitohq.com/livro. produção de uma HQ podem conter a ideia da his- tória, o desenvolvimento do argumento (texto nar- rativo), a criação dos personagens, a escrita de um roteiro completo, os estudos de leiautes de pági- nas (rascunhos e decisões sobre a distribuição dos quadros da página), a execução do desenho ou da defi nição da imagem, a arte-fi nalização (que pode ser de forma mais simples ou mais sofi sticada, por meio digital, por exemplo), a colorização e o letra- mento (balonamento e efeitos sonoros). Não é possível imaginar uma HQ sem ideia, tex- to (argumento e/ou roteiro) e imagem. Entretanto, pode haver quadrinhos sem balões, arte-fi nal ou cores, dependendo da escolha de seu(s) autor(es). Como pode ver, não existem regrassobre a or- dem dessas etapas. Sugerimos que experimente variações para encontrar o método que seja mais efi ciente para você e para sua turma. Os resultados lhe dirão. E, claro, leia boas HQs e perceba cada uma dessas etapas como se manifestam. da solidariedade, do espírito de aprendizagem colaborativa, da participação e mesmo da sur- presa do resultado fi nal, é indispensável. 4545 5.3. O uso de metáforas visuais, linhas cinéticas e onomatopeias Outra opção de atividade com a linguagem dos quadrinhos pode ocorrer em uma aula de fí- sica, por exemplo. O professor pode tratar de mo- vimento (velocidade, aceleração...) com imagens que contenham as linhas cinéticas consagradas nos quadrinhos. Isso pode trazer dinamismo e uma melhor compreensão das situações apresentadas. Em uma explicação, a variação da quantidade e extensão das linhas cinéticas podem visualmen- te propor velocidades e acelerações dife- rentes. Assim como um efeito sonoro de freio, com uma fumacinha saindo dos pneus, pode in- dicar a desaceleração. D an ie l B ra nd ao e L iz B ra nd ã o Linhas cinéticas, de Danie l Brandao Ra ym un do N et to Caso o(a) professor(a) escolha trabalhar a força de uma colisão de automóveis, as onomatopeias (já citadas dentre os termos importantes dos qua- drinhos) e as metáforas visuais podem ajudar a ilustrar a intensidade deste acidente. A onomatopeia, como já vimos, é um recurso imagético-textual de grande impacto sensorial. Somada às metáforas visuais como fumaças, es- trelas e/ou espirais, uma situação proposta em sala poderá ser melhor compreendida pelo aluno que relacionará a teoria a imagens ilustrati- vas. Além disso, o professor pode propor aos alu- nos que criem suas próprias onomatopeias e me- táforas visuais para situações descritas de acordo com a matéria a ser tratada. 4646 Aos professores de línguas, uma oportunida- de: as onomatopeias que tentam descrever sons podem ser substituídas por verbos ou substanti- vos que dão nome às ações. Isso é muito comum na língua inglesa, como é o caso do efeito sono- ro KNOCK, que é o verbo que signifi ca “bater”, “golpear”. Mesmo sendo mais raro, existem au- tores que fazem o mesmo em português. Assim, em vez de ter uma onomatopeia do som de “bati- da”, como um “CRASH”, pode ser usado o verbo “BATEU” com os efeitos imagéticos que sugerem que ali é um som, não alguém falando. Baseado nisso, esses professores podem usar criativa e ludi- camente desse recurso para ampliar o vocabulário dos seus alunos. São diversos os fatores que defendem a impor- tância do uso das histórias em quadrinhos em sala de aula. Entre elas, o seu poder de atração e popularida- de, principalmente entre crianças e jovens. Também pelo entrelaçamento entre textos e imagens e sua ampla capacidade comunicacional (verbal e não ver- bal). Você pode oferecer conteúdo encantando, en- tretendo, informando e, claro, educando. 6. cONSIDERAÇÕES fINAIS Entre os potenciais desse uso, há o fortaleci- mento do efeito mnemônico nos alunos. Suas características imagéticas podem servir de suporte para promover na mente dos estudantes uma rápi- da associação que permite uma melhor assimilação e fi xação do conteúdo. Além do mais, as HQs são uma forma de arte que promovem a interação e a criatividade. O que foi proposto aqui é apenas a ponta do iceberg. Temos a certeza que com a compreensão dos alicerces desta linguagem e um pouco de imagina- ção, as HQs têm tudo para ser uma valiosa ferra- menta educativa e pedagógica. Vamos experimentar? Mnemônico: que é de fácil memorização; técnica que serve para desenvolver a memória e facilitar a memorização. ACEVEDO, Juan. Como fazer histórias em q uadri- nhos. São Paulo: Editora G lobal, 1990. BARBIERI, Daniele. As ling uagens dos quadrinho s. São Paulo: Peirópolis, 2017. CAGNIN, Antonio Luiz. O s quadrinhos: linguage m e se- miótica. São Paulo: Editor a Criativo, 2015. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2010. EISNER, Will. Narrativa s gráfi cas. São Paulo: Editora Devir, 2005. GUBERN, Román. Literat ura da imagem. Rio de Janeiro: Salvat, 1979. GUIMARÃES, Edgard. Estu dos sobre história em qua- drinhos. João Pessoa: Ma rca de Fantasia, 2010. LUYTEN, Sonia M. Bibe. O que é história em q uadri- nhos. São Paulo: Brasilien se, 1985. McCLOUD, Scott. Desve ndando os quadrinho s. São Paulo: Editora Makron Bo oks, 1995. PAIVA, Fabio Tavares da. His tória em quadrinhos no ensi- no de artes visuais. João Pessoa: Marca de Fantasia , 2014. PEREIRA, A.C. Costa; Al cântara, C.S (org.) Histó ria em Quadrinhos: interdiscipl inaridade e educação. Sã o Paulo: Refl exão, 2016. RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2009. VERGUEIRO, Waldomiro. A linguagem dos quadrin hos: uma “alfabetização” necessári a. In: RAMA, Angela; VER GUEIRO, Waldomiro (org.). Como u sar histórias em quadr inhos na sala de aula. São Pau lo: Contexto, 2009. p. 31 -64. ACEVEDO, Juan. leia e saiba mais! 4747 CRISTIANO LOPEZ (Ilustrador) desenhista, Ilustrador e quadrinista. É desenhista-projetista do Núcleo de Ensino a Distância da Universidade de Fortaleza e ilustrador e chargista freelancer para o jornal Agrovalor, revista Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil. Daniel Brandão (Autor) graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É quadrinista, ilustrador, arte-educador e empresário. Direcionou suas atividades profi ssionais ao desenho artístico e aos quadrinhos, tendo cursado a Joe Kubert School of Cartooning and Graphic Arts, em Nova Jersei (EUA). Ganhador de três prêmios HQMix pela publicação Manicomics, tra- balhou com diversas editoras, revistas, personagens e empresas nacionais e internacionais, tais como DC Comics, Marvel, Dark Horse, Abril e Maurício de Sousa Produções. Criador dos personagens Liz, Sebastião e Cariawara, possui um estúdio próprio em Fortaleza, Ceará (Estúdio Daniel Brandão) onde oferece cursos de desenho, quadrinhos e mangás, entre ou- tros. Publica diariamente tiras de quadrinhos no caderno Vida & Arte do jornal O POVO. Todos os direitos desta edição reservados à: Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP 60055-402 - Fortaleza- Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax: 3255.6271 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br Expediente FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidência | Marcos Tardin Direção Geral | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerência Pedagógica | Ana Paula Costa Salmin Coordenação Geral | CURSO QUADRINHOS EM SALA DE AULA: Estratégias, Instrumentos e Aplicações Raymundo Netto Coordenação Geral, Editorial e Preparação de Originais | Waldomiro Vergueiro Coordenação de Conteúdo | Amaurício Cortez Edição de Design | Amaurício Cortez, Karlson Gracie e Welton Travassos Projeto Gráfi co | Dhara Sena Editoração Eletrônica | Cristiano Lopez Ilustração | Emanuela Fernandes Gestão de Projetos ISBN 978-85-7529-853-4 (coleção) e Este fascículo é parte integrante do projeto HQ Ceará 2, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2017. RealizaçãoApoio ilustrador e chargista freelancer para o jornal freelancer para o jornal freelancer Agrovalor, revista Agrovalor, revista Agrovalor Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil.Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil.Ponto Empresarial 978-85-7529-856-5 (volume 3)
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