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A Arte dos Quadr inhos Weave r Lima 44 Curso quadr inhos em sal a de aul a 1. Apresentação 2. Histórias em Quadrinhos: uma Arte Muitos defendem que os quadrinhos são uma expressão artística, a Nona Arte, a Arte Sequencial, mas o que faz com que essa linguagem seja con- siderada arte? Você já parou para pensar nisso? Neste fascículo do Curso Quadrinhos em Sala de Aula, vamos investigar isso Tintim por Tintim (perdão, Hergé)! Sugerimos que além de ler os fascículos, não deixem de acompanhar as videoaulas no AVA e no Canal Futura, as radioaulas e webconferên- cias ao vivo, também no AVA, além de ler o con- teúdo extra que disponibilizamos na Biblioteca Virtual, realizar as atividades de fi xação de con- teúdo e interagir conosco no Grupo de Facebook criado especialmente para esse curso. Os interessados no Ceará poderão encontrar os fascículos impressos, do mesmo jeitinho em PDF no AVA, encartados gratuitamente às segundas- feiras, no jornal O POVO. Está esperando o quê? Fique ligado e divul- gue, pois as inscrições estarão abertas e o ma- terial disponível até o final do curso: ava.fdr.org.br Vez por outra as histórias em quadrinhos são citadas como Nona Arte, afi rmando-se como categoria artística. A necessidade de ainda ter que propagar-se enquanto arte ocorre por conta de uma fama equivocada de entretenimento ba- rato, cultura de massa e mídia de consumo que o meio ganhou e que perdura para muitos ainda hoje. Durante toda a primeira metade do século 20, as HQs eram predominantemente de humor, com aventuras simplórias de mocinhos e bandi- dos. Contudo, de lá pra cá, muita coisa mudou no mundo das artes. Atualmente, com as linguagens artísticas dialogando cada vez mais entre si, a clas- sifi cação já não faz mais tanto sentido. 2. Histórias em Quadrinhos:2. Histórias em Quadrinhos: , vamos investigar isso Tintim por Tintim (perdão, Hergé)! 5050 para curiosos O italiano, teórico e crítico de cinema, Ricciotto Canudo (1877-1923), foi o autor da classificação das artes, até a 7ª, o cinema. Depois, aproveitando a sua classificação, outros autores a ampliaram até a 11ª arte. Por curiosidade, as apresentamos aqui: 1ª Arte – Música (som) - 2ª Arte – Dança/Coreografia (movimento) - 3ª Arte – Pintura (cor) - 4ª Arte – Escultura (volume) - 5ª Arte – Teatro (representação) - 6ª Arte – Literatura (palavra) - 7ª Arte – Cinema (a sua sétima Não existe mais uma arte pura, isolada. Artistas de diferentes linguagens infl uenciam-se uns aos outros. No mundo atual, as artes dialogam cada vez mais entre si. O próprio quadrinho é, em si, uma arte híbrida. A arte está sempre em transformação, seja avançando em um conceito criado por artistas de uma época, às vezes os reunindo em torno de es- colas ou correntes, seja rompendo com esses con- ceitos e criando novos. A História da Arte regis- tra as principais obras e artistas das artes visuais ao longo dos séculos. A História da Literatura faz o mesmo, selecionando os seus clássicos e auto- res. O Cinema, uma arte com pouco mais de um século de existência, já registra centenas de obras de referência e seus criadores (diretores, roteiristas, atores etc.). Esses estudos nos apontam quem são os grandes artistas, ou pelo menos os mais desta- cados, de cada uma dessas linguagens. O estudo sobre a história das histórias em quadrinhos ainda é relativamente recente e esse é um dos mo- tivos pelo qual essa linguagem ainda não apresen- ta um rol estabelecido (com algumas exceções) de artistas e obras mais difundidos junto ao público. É interessante observarmos que, assim como acontece em outras linguagens artísticas, existe nas HQs uma produção mais convencional (em es- cala industrial) voltada ao entretenimento e con- sumo, enquanto há outras propostas mais ricas que discorrem sobre os mais diversos temas e têm um caráter refl exivo, mais impactante ao leitor, Híbrida: composta de elementos de linguagens distintas. seria uma espécie de “arte total”, integrando todos os elementos das artes anteriores) - 8ª Arte – Fotografia (imagem) - 9ª Arte – Quadrinhos (cor, palavra, imagem) - 10ª Arte – Jogos de Computador e de Vídeo (integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte) - 11ª Arte – Arte digital (integra artes gráficas computorizadas 2D, 3D e programação). geralmente mais crítico e exigente, que abrem es- paço para experimentações e criam novas possi- bilidades à linguagem dos quadrinhos. São elas que fazem essa forma de arte evoluir. E mesmo dentro da produção mais voltada ao entretenimento, existem artistas que conseguem, por meio de uma proposta mais pessoal, gerar 5151 grandes obras que não se perdem com o tem- po, como Carl Barks, com o Pato Donald, e Renato Canini, com o Zé Ca rioca, ambos personagens dos Estúdio s Disney. No gênero das HQs de super-heróis, tem os exemplos de dese- nhistas que conseguem se destacar com um es- tilo próprio, como Jack K irby, Neal Adams, Barry Windsor-Smith, Frank M iller, Bill Sienkiewicz, David Mazzucchelli, Paul Pope, David Aja, Fiona Staples, entre outros. E também temos aqueles que conseguem desenvo lver seus próprios perso- nagens, como Alex Raym ond com Flash Gordon, Hal Foster com Príncipe Valente, Al Capp com Ferdinando (Família Bus capé), Will Eisner com Spirit, Milton Canniff com Terry e Os Piratas, Mort Walker com Recruta Zer o, Charles Schulz com Charlie Brown, Quino com Mafalda, Bill Watterson com Calvin & Haroldo, D ik Browne com Hagar, Segar com Popeye etc. São muitos os artistas que utilizam essa lingua- gem e, por meio dos seu s trabalhos, demonstram existir diferentes maneira s de fazer história em quadrinhos. Seja buscan do desenhar através de Carl Barks (1901-2000): ilustr ador dos estúdios Disney, o “ho mem dos patos” criou Patopólis e s eus principais habitantes: Tio Patinhas, G astão, Professor Pardal, Maga Pa tológica, os irmãos Metralhas, entre o utros. Renato Canini (1936-2013): ilustrador gaúcho, trabalh ou para diversos jornais e revistas, destacando- se pelo trabalho com o pe rsonagem Zé Carioca, abrasileirando-o, trazendo-o ao Rio, na Vila Xurupita, u ma realidade distante do papagaio mad e in USA. Uma característica marcante dos autores de quadrinhos contemporâneos é a liberdade no pro- cesso de criação e produção, o que resulta em uma rica variedade de propostas visuais. Existem aqueles autores que fazem sua história em quadrinhos toda desenhada a lápis. Também encontramos aqueles que se utilizam de progra- mas gráfi cos de computador. O estilo de desenho também não precisa necessariamente seguir pa- drões e regras da escola do desenho acadêmico (proporções, perspectivas, anatomia, luz e som- bra etc.). E como se trata de uma narrativa visual, nem mesmo precisa ser desenhada. É possível, por exemplo, fazer quadrinhos utilizando fotos, cola- gens e assemblagens. Percebe-se, nas artes atuais, que o ato de criar passa por um processo de desmitifi cação do ato de produzir, sem a obrigação de se prender a regras e padrões, o que possibilita cada pessoa produzir à sua maneira. Ou seja, não importa apenas criar uma HQ, mas também criar formas diferentes de criar essas HQs. Pense nisso! 3. O Processo Criativo Assemblagem: do francês, assemblage, colagem com objetos e materiais tridimensionais (retalhos de papel ou tecidos, objetos descartados, entre outros). Arte da capa do zine Oi, de Fábio Zimbres (2012) um estilo próprio, utilizan do-se das mais variadas técnicas, seja experiment ando e testando novas formas de sequencias visu ais. Nas páginas seguintes con heceremos os estilos e propostas de artistas q ue demonstram o quão plural e interessante os qu adrinhos podem ser. 5252 4. O Desenho A frase acima, do quadrinista e artista plástico paulistano Fabio Zimbres (2014), é interessan- te para educar o pensamento sobre o desenho. Zimbres possui um estilo de desenho que reme- te, em um primeiro olhar, ao de uma criança. Um olharmais atento em sua produção, ao longo das décadas (dos anos de 1980 aos atuais), revela um artista que, por meio de um estilo de desenho sin- gular, mantém uma pesquisa artística séria, que busca experimentar as diversas possibilidades que o desenho mais espontâneo e intuitivo pode ofe- recer, distante das amarras das regras ou padrões ditados pela indústria do entretenimento. Quando fazemos referência à maneira de dese- nhar de uma criança, logo recordo a seguinte frase: “Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças”. “Desenho é o que voc ê quiser fazer dele e a qualidade não está na perfeição da cópia da realidade.” Pablo Picasso (1881-1973): pintor, escultor, cenógrafo, ceramista, responsável, ao lado de outros mestres, por importantes avanços nas artes visuais e plásticas. A frase, dita por Pablo Picasso (apud VASCONCELLOS, 2007, p. 69), um dos maiores nomes da história da arte mundial, nos chama a atenção ao demonstrar o quanto foi difícil, até para ele, conseguir romper com as regras acadê- micas em busca de um desenho mais intuitivo. 4.1. Desenhos são feitos de traços Tendo em vista que todo mundo desenha quan- do criança, temos a comprovação que cada pessoa sabe desenhar intuitivamente, à sua maneira. No início do processo de aprender a escrever temos que “domesticar” o traço para conseguir desenhar o formato das letras. E assim, como cada pessoa possui um tipo de letra, uma caligrafi a pessoal, naturalmente, possui um estilo próprio de desenho, já que tudo é construído com traços. Uma criança tem capacidade de desenhar as letras da palavra “casa” da mesma maneira como pode desenhar um quadrado com um triângulo em cima e um retângulo dentro do quadrado, com- pondo assim o desenho de uma casa. Uma crian- ça, inclusive, já faz isso espontaneamente antes de aprender a escrever. Existem muitos caminhos para o(a) professor(a) estimular o aluno a analisar um desenho e/ou de- senvolver a sua própria maneira de desenhar. E a história em quadrinhos, por facilmente fazer parte da cultura das crianças e adolescentes, pode ser uma ótima ferramenta nesse sentido. Pablo Picasso (1881-1973): pintor, escultor, cenógrafo, ceramista, responsável, ao lado de outros mestres, por importantes avanços nas artes visuais e plásticas. VASCONCELLOS, 2007, p. 69), um dos maiores VASCONCELLOS, 2007, p. 69), um dos maiores nomes da história da arte mundial, nos chama a nomes da história da arte mundial, nos chama a atenção ao demonstrar o quanto foi difícil, até para ele, conseguir romper com as regras acadê- micas em busca de um desenho mais intuitivo. cima e um retângulo dentro do quadrado, com- pondo assim o desenho de uma casa. Uma crian- ça, inclusive, já faz isso espontaneamente antes de 5353 4.2. Aprendendo a analisar o desenho Dois pontos importantes para analisar o dese- nho são: A) Técnica: Um desenhista pode utilizar diver-sos tipos de ferramentas e materiais para produzir: lápis, canetas, pincéis, colagens etc. Cada material tem a sua particularidade e é deter- minante no resultado fi nal do desenho. B) Estilo: É a maneira particular que cada pessoa tem de desenhar. Existem incontáveis desenhistas em atividade no mundo e, juntamen- te com os registros que temos de desenhistas de outras épocas, temos ao nosso dispor um vasto campo de pesquisa visual. 4.3. Pesquisa visual Listamos a seguir, dividindo por técnica, alguns artistas que podem servir de exemplo para iniciarmos uma pesquisa sobre desenho e a sua apreciação em sala de aula. Lápis Antes o lápis era utilizado somente na primeira parte do processo de desenhar uma HQ, ou seja, no esboço ou rascunho. Felizmente, isso é passado, e hoje em dia podemos ver com mais frequência HQs feitas a lápis sendo publicadas. Vizinhos, de Laerte, é um bom exemplo disso. Um quadrinho todo feito a lápis, por meio de um traço solto que deixa à mostra algumas linhas de esboço. Caneta Quem acha que só é possível produzir quadri- nhos com canetas “adequadas para desenho” vai fi car surpreso com o livro Minha coisa favorita é monstro, da artista norte-americana Emil Ferris, publicado em 2017. Essa HQ foi toda desenhada com canetas esferográfi cas, dessas que a gente encontra em toda papelaria. Existe, lógico, tipos de canetas que dão outro acabamento ao dese- nho. Grande parte dos desenhistas recorre a ca- netas técnicas recarregáveis, que possuem espes- suras diferentes. Mas é importante sabermos das possibilidades. Ou seja, não será por falta de uma caneta especial e mais cara, por exemplo, que seu(ua) aluno(a) deixará de fazer uma HQ. Raspagem O suíço Thomas Ott é um artista que desenha “raspando”. Além dessa técnica de desenho, que o destaca no meio dos quadrinhos, suas histórias são feitas somente com desenhos, sem a utilização de palavras. A rt e da c ap a do li vr o M in ha c oi sa f av or it a é m on st ro , de A m il Fe rr is (2 0 17 ) Pá gi na d e Vi zi nh os , d e La er te (2 0 13 ) 5454 Pincel Preto & Branco Dono de um estilo de desenho próprio, Flávio Colin é um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros. Vale a pena conhecer e estudar sua pro- dução, tanto pela qualidade do seu desenho estili- zado, quanto pelos temas da cultura brasileira que o artista levou aos quadrinhos. Arte da capa de Estórias Gerais, de Flávio Colin (1998) Pincel Cor Outro desenhista apaixonado por temas nacio- nais é o mineiro Lelis. Com um traço estilizado in- confundível, o artista utiliza tinta aquarela para T he M ill io na ir s, d e T ho m as O tt (1 99 3) colorir suas HQs, mantendo uma produção de alta qualidade estética e se destacando como um dos mais originais artistas brasileiros em atividade. Caso queira acompanhar as etapas do processo de traba- lho de Lelis, acesse o blog: aqualelis.blogspot.com.br. A rt e da c ap a de S ai no a P er cu rá , d e Le lis (2 0 0 1) Do outro lado do Atlântico, temos o espanhol Miguelanxo Prado, outro mestre no uso das cores. Com vários livros lançados, Prado é um dos maiores nomes dos quadrinhos europeus. Sua pre- ferência é pela tinta acrílica. Utilizando-a mais diluída em água, consegue um efeito similar ao da aquarela. Deixando-a mais grossa, simula a técnica de tinta a óleo, e até mesmo o traço de giz de cera. Colagem - Técnica Mista O uruguaio Alberto Breccia, infl uenciado pelo expressionismo alemão, foi um dos primeiros a produzir quadrinhos misturando diferentes tipos de técnicas, como desenho, gravura, pintura, co- lagem, fotos. Sua produção se estende do fi nal da década de 1930 até o início da de 1990, e nela po- demos observar várias mudanças em seu estilo de desenho. Inicialmente cartunesco, passando pelo acadêmico até chegar ao expressionismo. Às vezes, 5555 mesclava todos esses estilos dentro de um mesmo trabalho. Sem dúvida, um dos desenhistas mais versáteis e ousados da história dos quadrinhos. Na década de 1980, a revista norte-america- na RAW, editada por Françoise Mouly e Art Spiegelman, considerada uma das principais referências da modernização dos quadrinhos, des- tacou-se por apresentar quadrinhos de vanguarda também misturando tipos de técnicas (desenho, pintura, colagem e fotos). Arte Digital Encontramos entre os artistas de quadrinhos, aqueles que fazem o desenho no papel e depois digitalizam, para fi nalizar tudo no computador, utilizando programas (softwares) gráfi cos. Outros, já desenham direto no computador por meio de canetas digitais. Um artista ligado aos quadrinhos que trafega bem nesses dois meios, sem perder a identidade do seu estilo de desenho, é o canaden- se Michael DeForge. Um estudo de apreciação e discussão em sala de aula é importante para estimular o(a) aluno(a) a ampliar o seu repertório e de ser capaz de fazer comparações estéticas entre um estilo e outro. Analisar,perceber, comparar a maneira como cada artista cria e/ou desenha desenvolverá uma bagagem de conheci- mento visual e crítico importante e consequente- mente fará com que ele(a) perceba que também pode encontrar as suas próprias soluções quando estiver desenhando. Ca pa d a re vi st a Ra w Ca rt az d o ev en to T he T or on to C om ic A rt s Fe st iv al , d e M ic ha el D eF or ge (2 0 14 ) Estilo: conjunto de tendências e características formais, conteudísticas, estéticas, entre outras, que identifi cam ou distinguem uma obra, um(a) artista ou determinado período ou movimento. leia e saiba mais! determinado período ou movimento. leia e saiba mais! Na Biblioteca Virtual do AVA, no módulo 4, você encontrará “Que artista você conhece?”, uma lista de artistas de HQs para que possa trabalhar em atividades de sala de aula. Experimente e veja também como anda o seu repertório pessoal de artistas dessa linguagem.5656 DESENHO Teóricas a) Estimule os alunos a pesquis arem maneiras diferentes dos artist as desenharem pes soas, animais, veículos, c asas, árvores, entre outros ele- mentos em suas HQ s; b) Estimule os alunos a pesquis arem artistas com estilos de dese nhos singulares. Ob serve se ele mudou a sua maneira de desenh ar ao lon- go de sua carreira ( o seu desenho feito em épocas diferentes). Liste co m os alunos os deta lhes mais marcantes que torn am singular o estilo de dese- nhos desses desenh istas; c) Estimule os alunos a analisar em o processo técnico dos artistas . Analise a técnica ( o ma- terial de desenho) q ue o artista utiliza; Práticas: a) Estimule os alunos a praticar em o seu dese- nho de uma maneir a mais livre, sem co piar desenhos de TV ou de cartuns, por exe mplo; b) Lembre-o s que nenhum est ilo é melhor ou pior. E que, sim , há maneiras difere ntes de desenhar. Estimu le-os a brincar com o seu tra- ço em busca de sol uções visuais própri as; c) Desenvol va aulas em que os alunos dese- nhem com materiai s diferentes (lápis, c ane- tas, pincéis, recorte s, colagens, raspage m etc) e depois pesquise qu al a técnica que cad a um se sente mais à vontad e para criar; d) Crie mom entos (mostras e ex posições em sala e/ou na escola, por exemplo) em q ue os alunos possam obse rvar a maneira com o cada um de seus colegas des enha e que possam analisar o estilo pessoal de t odos: as diferenças no tra- ço, nas cores utiliza das, na forma dos o lhos, das mãos, no tipo de ro upas, do cenário qu e os abri- ga etc. Será um mo mento supercurioso . superativid ades 5. Narrativa Uma das principais características dos quadri- nhos é a narrativa visual. É também através dela que o quadrinho apresenta-se como uma ex- pressão de arte. Para um artista criar uma história em quadrinhos ele utiliza o desenho como uma linguagem textual. Os desenhos são organizados em sequência para serem “lidos”. Ao longo da história dos quadrinhos, muitos artistas buscaram explorar as possibilidades da narrativa. Um dos pioneiros nesse campo foi Winsor McCay com a sua série Little Nemo in Narrativa: exposição de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos encadeados, reais ou imaginários, por meio de palavras e/ou de imagens. ga etc. Será um mo mento supercurioso . 5757 Slumberland, no início do século 20. Nela, o ar- tista, com um estilo de desenho infl uenciado pelo estilo Art Nouveau, atentou para a importância do tamanho e forma de um quadro, e como es- ses quadros individuais se combinam para formar uma narrativa. Apesar de ter sido produzida há mais de um século Little Nemo continua sendo uma das mais ousadas narrativas já produzidas no meio dos quadrinhos. Outro gênio da narrativa é George Herrimann com o seu Krazy Kat. O artista criou, durante os mais de 30 anos de existência da série, um conjunto de quadrinhos de narrativas únicas. Em muitas delas, o leitor é desafi ado a perceber a lógica da sequência para realizar a leitura. Herriman infl uenciou e continua a infl uenciar mui- tos artistas dos quadrinhos modernos. Dentro da produção contemporânea, temos o trabalho meticuloso de Chris Ware. O artista já vem há algum tempo desenvolvendo, com as suas HQs, uma pesquisa visual das mais interessantes no campo da narrativa sequencial. Sua obra mais audaciosa, até o momento, é Building Stories, uma caixa que reúne 14 publicações de formatos dife- rentes, com histórias em quadrinhos que exploram diferentes maneiras de narrativas, todas se com- plementando e compondo uma só HQ. Outro artista que se destaca na produção atual é Richard McGuire com seu Aqui, uma HQ toda construída através de pequenos trechos de histó- rias que acontecem em um mesmo lugar ao longo dos séculos. Por meio de uma narrativa fragmenta- da, podemos ver, simultaneamente, passado, pre- sente e futuro. No Brasil, também temos muitos artistas que investem nas possibilidades narrativas da lingua- gem dos quadrinhos. Vamos citar alguns: Alexandre S. Lourenço é um desenhista que entende a lógica sequencial dos quadrinhos, que sabe “escrever com desenhos”. Com um de- senho simplifi cado que existe em função da nar- rativa, ele consegue criar obras que o destacam como um dos mais criativos da atualidade, além de ser um bom exemplo de que é possível se fazer quadrinhos por meio de desenhos simples. Outro artista a experimentar narrativas é Marco Oliveira. Seu livro, Mute, reúne um apanhado de B ui ld in g St or ie s, d e C hr is W ar e (2 0 12 ) jogos visuais, com interferências que vão desde o desenho à estrutura dos quadros das HQs. Concentrando-se nos quadros, temos o Samuel de Gois que, mantendo uma pesquisa poética visual, constrói histórias utilizando o for- mato de contorno de órgãos e partes do corpo hu- mano como coração, cabeça e mão, para discorrer sobre sentimentos humanos. Outro adepto das experiências narrativas é Rafael Sica. Na ativa desde a década de 1990, mas sempre se reinventando, criou uma maneira própria de fazer quadrinhos de humor. Suas nar- rativas vão das mais simples as mais complexas, quase sempre obrigando o leitor a criar suas pró- prias interpretações. Outro artista da nova geração a explorar a lin- guagem narrativa quadrinizada é Denny Chang. 5858 Em Futuro, ele dá uma aula de criatividade na maneira de contar uma história. Em breve olhar, devido ao grau de experimentalismo nos dese- nhos, pensamos se tratar de várias HQs abstratas curtas. Ao lê-lo, porém, nos deparamos com uma narrativa linear que nos faz perceber que nenhum traço está ali por acaso. Pá gi na d e B ox e, d e A le xa nd re S . L ou re nç o (2 0 17 ) Pá gi na d e M ut e, d e M ar co O liv ei ra (2 0 15 ) HQ de Samue l de Go is, publ icada n a Web (2017) Não é de hoje que artistas buscam expandir as possibilidades narrativas dos quadrinhos para além do convencional. Ainda na década de 1970, o ar- tista plástico cearense Marcus Francisco já dava seus passos nesse sentido. Em sua produção en- contramos muitas HQs que demonstram a busca do artista em encontrar uma maneira própria de construir quadrinhos. HQ de Rafael Sica publicada na internet (2012) Página do livro Ti po blocomagazin e, de Marcus Fra ncisco 5959 ABRA A SUA MENTE! para curiosos Apesar das muitas possibilidades narrativas que a linguagem das HQs permite, muitos ain- da pensam que existe somente um tipo de narrativa nas histórias em quadrinhos. E isso se deve, em parte, por termos como refe- rência os padrões de quadrinhos produzidos pela indústria de entretenimento. Esses padrões são he- gemônicos e avessos a experimentações, seguin- do a lógica “em time que está ganhando não se mexe.” Nas artes, no entanto, o constante ex- perimentar é fundamental. Quadrinhos exp erimentais: o artis ta Jess Collins, ain da na década de 19 50, utilizando tesoura e cola,remontou o s quadrinhos do pe rsonagem Dick Tra- cy, criando história s que quebravam a ilusão de continuid ade convencional construída nos qua drinhos originais. F oi um dos primeiros casos de artistas do campo das arte s visuais a “entend er” a lógica narrat iva dos quadrinhos e tentar subvertê-la . Você já parou para pensar por que uma narrativa visual que pode ser feita de inúmeras maneiras, na maioria das vezes, só é feita de uma? Por que, por exemplo, uma história em quadrinhos não pode ser construída como um jogo de dominó, e se estender em diversas direções? Dominó de História em Quadr inhos - Kil lofer e Ba raou (200 9) Tr ic ky C ad , d e J es s Co llin s 6060 Na década de 1990, artistas franceses da edi- tora L’Association, cientes das diversas manei- ras como poderiam construir uma narrativa visual, infl uenciados pelo OuLiPo (Ofi cina de Literatura NARRATIVA Teóricas A) Estimule os alunos a pesqu isarem a manei- ra como artistas tr abalham a narrativ a em suas HQs. OuBaPo: Ouvroir de la Bande dessinée potentielle, ou, em português, Ofi cina do Quadrinho Potencial. superativid ades Potencial), criaram o OuBaPo, uma série de jogos de criatividade para estimular o desenvolvimento de histórias em quadrinhos. Inclusive, ou principal- mente, em sala de aula. Práticas A) Cole 2 im agens distintas, um a ao lado da outra, observe-as e tente criar um text o que ligue de alguma ma neira as duas image ns; B) Crie uma HQ sem a obrigaçã o de contar uma história com início, meio e fi m. Por exe mplo: uma personagem p asseando e pensand o coisas; C) Crie uma história somente com dese- nho, sem palavras. Devido à equivocada, mas propagada, fama de “arte menor”, as HQs demoraram a chegar às paredes das importantes instituições de arte do mundo. É bem verdade que, na década de 1960, artistas da Pop Art levaram os quadrinhos para dentro do cenário das artes visuais, com Andy Warhol, pintando famosos personagens de HQs, e Roy Lichtenstein, apropriando-se do pontilhis- mo típico dos antigos meios de impressão das revistas em quadrinhos, e transformando-o em sua marca registrada. Porém, ao contrário do que muitos pensam, a intenção deles não era promover os quadrinhos enquanto arte e, sim, criticar o que eles simbolizavam: o consumo vazio da cultu- ra de massa. 6. Quadrinhos nos Mu seus Andy Warhol (1928-1987): uma das figuras mais importantes da Pop Arte, foi pintor, cineasta, escritor, fotógrafo, designer e empresário. Roy Lichtenstein (1923-1997): um dos maiores nomes da Pop Art, pintou o Mickey para seus fi lhos e, desde então, passou a utilizar os signos dos quadrinhos para criticar a cultura de massa, provocando refl exão sobre a linguagem e as formas artísticas. Para tal, empregou a técnica pontos ben-day (pontilhismo) imitando as retículas existentes nos quadrinhos da época, além de cores brilhantes delineadas por traços negros. 6161 Só recentemente, já no século 21, vimos im- portantes nomes dos quadrinhos tendo seus tra- balhos artísticos reconhecidos. Uma das mais em- blemáticas provas disso, é a mostra R. Crumb: De l’underground à la Genèse, no Museu de Arte Moderna de Paris, em 2012, reunindo mais de 700 desenhos e 200 revistas do maior nome dos quadrinhos underground americano. Você sabia que uma da s primeiras exposições de HQs do mundo foi realizada no Brasil? A I E xposição Internacional d e Histórias em Quadrinhos, organizada p or Álvaro de Moya, Jaym e Cortez, Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Mig uel Penteado, reuniu trab alhos originais de diversos nomes dos quad rinhos mundial e acontec eu em 1951, no Centro Cultura e Progresso, em São Paulo. Capa do Catálogo da exposição “R . Crumb” - MAM P aris (2012) No Brasil, foram abertas grandes exposi- ções de artistas brasileiros em centros culturais: J. Carlos, Luiz Sá, Henfi l, Ziraldo, Angeli, Laerte, Glauco, entre outros. Robert Crumb (1943): um dos fundadores do movimento urderground dos quadrinhos norte- americanos, criador da ZAP Comix e de Fritz, the cat, entre outros personagens de HQs. Adaptou obras de Kafka, Bukowiski e outros para quadrinhos. Detalhe da Exposição “Luiz Sá 100 anos” - CCBNB Fortaleza (2007) para curiosos Existem, atualmente, vários museus especí- fi cos sobre HQs que preservam os originais de grandes artistas e realizam exposições abertas ao público em geral. Por meio deles, podem conhe- cer melhor o trabalho desses autores. Entre esses museus, destacamos: O Centro Belga das Histórias em Quadrinhos - Museu das Histórias em Quadrinhos de Bruxelas, na Bélgica: www.cbbd.be O Museu de Histórias em Quadrinhos de Angoulême, na França: www.citebd.org Cartoon Museum Basel, na Suíça: cartoonmuseum.ch The Cartoon Museum, no Reino Unido: www.cartoonmuseum.org 6262 Neste fascículo, discorremos sobre alguns ele- mentos que traduzem em arte o que vemos nos bons quadrinhos citados como exemplos. São mui- tos outros que, por falta de espaço, não pudemos aqui citar. Na Biblioteca Virtual do AVA de nosso curso, disponibilizamos alguns endereços virtuais para que se saiba mais sobre esses autores e outros também. QUADRINHOS NOS MUSE US a)Junto com os alunos, pesquise sobre artis- tas de quadrinhos d e sua cidade ou est ado. Observe os trabalho s realizados por ele s em im- pressos (jornais, livr os, revistas), em blo gs, sites etc. Analise seu trab alho, podendo, incl usive, compará-lo ao de o utros artistas brasile iros. superativid ades b)Realize um a mostra de HQs na escola. Convide esse(s) quadrinista(s) para participar(em) falando aos alunos sobre o s eu processo criativo; c)Procure s aber se na sua cida de há alguma gi- biteca, exposição e/ ou feira de quadrin hos de autores locais. Se h ouver, busque fazer uma visita a elas, via escola ou por iniciativa pesso al. 7. Conclusão Referências O nosso intuito é incentivar o máximo do pro- veito das possibilidades dessa linguagem, seja na sua leitura, no desenvolvimento das ferramentas de ensino ou mesmo na sua criação. Lembremos que a arte é alg o mutante, sem- pre em transformação. É isso que a torna tão fascinante, inovadora e original. Estimulemos nos- sa criatividade e aproveitemos os quadrinhos! Fim? CARNEIRO, Maria Clara da Silva Ramos. A nova “ban- de dessinée”: L´Association e o Oubapo. Disponível em: www.academia.edu/982501/. Acesso em: 19 mar. 2018. PERRY, George; ALDRIDGE, Alan. The Penguin book of comics: a slight history. London: Penguin Books, 1967. SPIEGELMAN, Art. Comix, essays, graphics and scraps. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil e Sellerio Editore, 1998. SUPLEMENTO: Jornal de Histórias em Quadrinhos. Independente. São Paulo, 2014. VASCONCELLOS, Marina da Costa Manso (org.). Quando a psicoterapia trava. São Paulo, Summus, 2007. 6363 Weaver Lima (Autor) autodidata, iniciou no meio artístico no Seres Urbanos, grupo que editou, na década de 1990, uma série de fanzines que se tornaram referência no meio alternativo brasileiro. Em 2015, foi lançado o livro Seres Urbanos: antologia do quadrinho underground cearense, eleito melhor livro de HQ no prêmio Miolo(s), organizado pela editora Lote 42 e pela Biblioteca Mário de Andrade (SP). A partir de 2000, começou a se dedicar às artes visuais, participando de diversas coletivas e salões ofi ciais de arte, sendo premiado. Foi curador de diversas exposições e teve individuais em diversas capi- tais do país e no exterior. Atualmente, dedica-se ao seu projeto de arte itinerante “RASTRO”. Todos os direitos desta edição reservados à: Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP 60055-402 - Fortaleza- Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax: 3255.6271 fdr.org.br | fundacao@fdr.com.br Expediente FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidência | Marcos Tardin Direção Geral | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerência Pedagógica | AnaPaula Costa Salmin Coordenação Geral | CURSO QUADRINHOS EM SALA DE AULA: Estratégias, Instrumentos e Aplicações Raymundo Netto Coordenação Geral, Editorial e Preparação de Originais | Waldomiro Vergueiro Coordenação de Conteúdo | Amaurício Cortez Edição de Design | Amaurício Cortez, Karlson Gracie e Welton Travassos Projeto Gráfi co | Dhara Sena Editoração Eletrônica | Cristiano Lopez Ilustração | Emanuela Fernandes Gestão de Projetos ISBN 978-85-7529-855-8 (coleção) Este fascículo é parte integrante do projeto HQ Ceará 2, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2017. RealizaçãoApoio CRISTIANO LOPEZ (Ilustrador) é desenhista, Ilustrador e quadrinista. É desenhista-projetista do Núcleo de Ensino a Distância da Universidade de Fortaleza e ilustrador e chargista freelancer para o jornal Agrovalor, revista Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil. 978-85-7529-857-2 (volume 4)
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