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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA LICENCIATURA PLENA MARIA ZILMA DE VASCONCELOS NUNES A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR FLORÂNIA - RN 2015 1 MARIA ZILMA DE VASCONCELOS NUNES A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR Trabalho de Intervenção Socioescolar apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. Orientadora: Prof.ª Esp. Iranete de Medeiros Souza. FLORÂNIA - RN 2015 2 N972i Nunes, Maria Zilma de Vasconcelos. A importância da família no processo de ensino aprendizagem da criança no contexto escolar. / Maria Zilma de Vasconcelos Nunes. – Florânia/RN: ed. do autor, 2015. 50 f. Orientador: Prof.ª Esp. Iranete de Medeiros Souza Trabalho de Intervenção Socioescolar apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. 1. Família - Intervenção. 2. Escola - Intervenção. 3. Aprendizagem - Intervenção. I. Título. IBRAPES/UVA/RN CDU 37.064 3 MARIA ZILMA DE VASCONCELOS NUNES A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR Trabalho de Intervenção Socioescolar apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. Aprovado em outubro de 2015. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Prof.ª Esp. Iranete de Medeiros Souza - Orientadora Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) - FLORÂNIA/RN __________________________________________________________________ Prof.ª Esp. Dalvani Laurentino da Silva - Convidada Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) – FLORÂNIA/RN Prof.ª Esp. Eva Lorena Azevedo Dantas - Convidada Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) - FLORÂNIA/RN FLORÂNIA - RN 2015 4 Dedico este trabalho a toda minha família, em especial ao meu esposo, pela força, incentivo e compreensão. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, o Ser Supremo, que me dá força para vencer os obstáculos e desafios enfrentados; Ao meu pai, Jose Daniel de Vasconcelos e a minha mãe Josefa Barbosa da Costa de Vasconcelos, pelo incentivo e ajuda constante; Ao meu esposo, José Jeomar Nunes, e aos meus filhos, Jefté de Vasconcelos Nunes e Gisely de Vasconcelos Nunes, por proporcionarem muitas alegrias todos os dias; Aos colegas de curso, em especial ao meu grupo de trabalho, Ana Claudia, Aleksandra Clementino e Patrícia Teixeira, com as quais sempre estou dividindo alegrias e angústias; A minha professora e amiga, Iranete de Medeiros Souza, bem como aos demais docentes desta instituição de ensino, pela contribuição que a mim está sendo proporcionada. 6 “Não adianta a escola atribuir a educação de seus alunos aos respectivos pais, nem os pais exigirem da escola tal função. A situação atual é conflituosa e temos que ajudar a resolvê-la para o benefício de uma geração, pois a educação virou uma batata quente que ninguém quer segurar”. Tiba 7 RESUMO O presente trabalho discorre sobre “A importância da família no processo de ensino aprendizagem da criança no contexto escolar”. Nesse sentido, abordar-se-ão alguns aspectos inerentes à relação “família/escola”, a partir do quais serão apresentados e discutidos os principais fundamentos defendidos por teóricos sobre a relevância e valorização da temática em meio à comunidade escolar, tendo como objetivo principal fornecer subsídios que possam servir de base para implementação de estratégias que visem ao estabelecimento e/ou aperfeiçoamento de uma relação cada vez mais harmoniosa entre as partes envolvidas. Para tanto, esta realização consiste na investigação por meio da pesquisa bibliográfica e de campo referendada a luz de teóricos tais como: Moreno, Oliveira, Santos, Silva, Sousa, Tiba, dentre outros. Assim, espera-se contribuir com o desenvolvimento do ensino, através da exposição da temática ora evidenciada, tanto de forma teórica quanto prática. No último caso, mediado por uma Intervenção Socioescolar, envolvendo os professores e gestores da escola, pais e/ou responsáveis, na perspectiva de que o êxito escolar da criança necessariamente envolve o trabalho conjunto entre os educadores e a família. Palavras-chave: Família. Escola. Ensino. Aprendizagem. Criança. 8 ABSTRACT This paper discusses “The importance of family in the child's learning process of teaching in the school context”, in this regard will be addressed aspects inherent in the relationship "family-school" from which the main foundations defended will be presented and discussed by theoretical about the relevance and value of the subject among the school community, with the main objective to provide subsidies that can form the basis for the implementation of strategies aimed at the establishment and / or improvement of an ever more harmonious relationship between the parties. To this end, this realization is to investigate by literature and endorsed the light of theoretical field such as Moreno, Oliveira Santos, Silva Sousa, Tiba, among others; thus expected to contribute to the development of education through the theme of the exhibition now shown both theoretically and practical, in the latter case mediated by a Socioescolar intervention involving teachers and school managers, parents and / or guardians with a view that academic achievement of children necessarily involves joint work among educators and family. Key words: Family. School. Education. Learning. Child. 9 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 - Distribuição das famílias únicas e conviventes principais por tipo.......................................................................................................................... 18 GRÁFICO 02 – Proporção de famílias únicas e conviventes principais por sexo do responsável........................................................................................................ 20 GRÁFICO 03 – A cooperação da família é fundamental para o desenvolvimento escolar das crianças............................................................................................... 41 GRÁFICO 04 – Existe omissão por parte das famílias no acompanhamento escolar dos filhos?.................................................................................................. 42 GRÁFICO 05 – Existe cooperação dos pais e/ou responsáveis quanto ao incentivo e auxílio nas tarefas escolares dos filhos?.............................................. 43 GRÁFICO 06 - A interação desenvolvida entre escola e família corresponde às expectativas?.......................................................................................................... 4410 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 11 2 FAMÍLIA: uma abordagem histórica........................................................... 13 2.1 NOVAS FORMAÇÕES FAMÍLIARES E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA............................................................. 15 2.2 IMPORTÂNCIA DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS.................... 24 3 FAMÍLIA ESCOLA: uma abordagem relacionada...................................... 28 3.1 FAMÍLIA ESCOLA: com objetivos comum..................................................... 30 4 IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR: Uma intervenção Socioescolar............................................................................ 35 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA CAMPO DE ESTÁGIO.......................... 37 4.2 METODOLOGIA DO TRABALHO.................................................................. 38 4.3 RECURSOS DIDÁTICOS UTILIZADOS......................................................... 39 4.4 AVALIAÇÃO ................................................................................................... 41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 46 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 49 11 1 INTRODUÇÃO Família e escola naturalmente são instituições que desempenham papel fundamental na sociedade. Nesse sentido, o presente estudo traz uma abordagem do ponto de vista científico sobre “a importância da família no processo de ensino- aprendizagem da criança, no contexto escolar”. Para isso, sua realização baseia-se em pesquisas bibliográfica e de campo, tendo como principal referencial teórico IÇAMI TIBA, na obra Quem Ama Educa. Sabendo que a educação é um processo que se desenvolve não apenas no âmbito escolar, mas também no meio familiar e social, é importante que se faça um estudo relacionado à família e à influência que esta exerce no contexto escolar, em especial no que se refere ao processo de ensino-aprendizagem da criança. Daí a titulação desta produção: A importância da família no processo de ensino- aprendizagem da criança no contexto escolar. O ambiente escolar tem, sem dúvida, função muito importante na educação e formação do ser social, o que não tira o papel da família de fazê-lo. Por isso, a parceria de ambas é de suma importância para que, juntas, possam atuar como agentes facilitadoras, visando ao pleno desenvolvimento do educando. Nesse sentido, a finalidade desta produção é realizar um estudo mais detalhado sobre a temática, no qual possam ser expostos os impactos positivos e negativos referentes ao processo de ensino-aprendizagem da criança e que estejam diretamente ligados à relação entre família e escola, sendo que a escolha pela temática justifica-se pela observação, frente à omissão de muitos pais e/ou responsáveis em relação a sua participação na vida escolar dos filhos, bem como ao posicionamento das escolas e professores a esse respeito, tendo como principal objetivo conscientizar as famílias sobre a importância de sua participação no acompanhamento escolar dos alunos, proporcionando assim uma melhor interação entre elas e a escola. Para uma melhor compreensão do leitor, o presente trabalho encontra-se dividido em capítulos e subcapítulos assim sequenciados: O capítulo inicial traz uma apresentação acerca do trabalho desenvolvido, onde se procura evidenciar para o leitor uma visão geral sobre a escolha da temática, importância da produção, metodologia utilizada, referencial teórico, objetivos, dentre outros aspectos inerentes. 12 O capítulo 2 apresenta, em síntese, uma abordagem histórica sobre a família, evidenciando alguns elementos que nortearam sua trajetória dos primórdios aos dias atuais, novas configurações, impactos no desenvolvimento da criança e importância dos pais na vida escolar dos filhos. O capítulo 3 traz uma abordagem envolvendo a relação entre família e escola, destacando a necessidade do trabalho conjunto entre educadores e pais, com vistas ao desenvolvimento do aprendizado escolar do aluno. O quarto capítulo apresenta uma abordagem socioescolar, a partir de um fórum de discussão realizado no Centro Educacional do Saber (CES), o qual faz parte da rede privada de ensino no Município de Florânia/RN, atendendo na modalidade infantil e fundamental I, destacando-se no referido capítulo a caracterização do campo de estágio, metodologia do trabalho, formas de avaliação e resultados obtidos. Por fim, o quinto capítulo registra as considerações do autor acerca da temática enfatizada e as conclusões decorrentes do estudo. 13 2 FAMÍLIA: uma abordagem histórica Ao longo da história humana, o modo de relação e convívio entre as pessoas passaram por diversas transformações, alcançando o que atualmente se conhece por sociedade contemporânea. Nesse mesmo aspecto, o surgimento da família também pode ser entendido como sendo resultado da própria evolução da espécie, destacando-se e distinguindo-se em cada época e sociedade. Os primeiros registros históricos, obtidos com base em estudos antropológicos, mostram que, inicialmente, as primeiras sociedades possuíam configuração essencialmente coletiva, tribal, nômades, e muito embora houvesse certa hegemonia em termos de organização social, o relacionamento entre pares e seus descendentes, naquele contexto, apresentava conjuntura totalmente diferente daquela que posteriormente viria consolidar-se como INSTITUIÇÃO FAMÍLIA. Em relação a isso, Aries (1991, apud, MORENO, 2012, p.33), enfatiza: seria vão contestar a existência de uma vida familiar na Idade Média. Mas a família subsistia no silêncio, não despertava um sentimento suficientemente forte para inspirar poetas e artistas. Diferentemente, a partir do (SÉCULO XV-XVI), há o nascimento e o desenvolvimento do sentimento de família. Daí em diante, a família não é apenas vivida discretamente, mas é reconhecida como um valor e exaltada por todas as forças. Seguindo o mesmo campo de estudo, outros autores(as) destacam alguns aspectos importantes, relativos à forma de organização familiar na sociedade dita primitiva. Nesse sentido, Narvaz; Koller, (2006, p. 50), ressaltam: organizações humanas nem sempre foram patriarcais. Estudos antropológicos (Engels, 1884/1964; Muraro,1997) indicam que, no início da história da humanidade, as primeiras sociedades humanas eram coletivistas, tribais, nômades e matrilineares. Tais sociedades (ditas “primitivas”) organizavam-se predominantemente em torno da figura da mãe, a partir da descendência feminina, uma vez que desconheciam a participação masculina na reprodução. Para os autores(as) desta citação, o modelo acima descrito sofreria drásticas modificações ainda no período da Roma Antiga, inaugurando então uma nova fase organizacional com o surgimento daquela que ficou conhecida por SOCIEDADE PATRIARCAL; nesse novo contexto, a imagem do homem, vista anteriormente como elemento secundário, passa ocupar o centro da organização social. Segundo Narvaz; 14 Koller (2006, p. 50) “[...] Esse novo organismo social – a família – consolidou-se enquanto instituição na Roma Antiga. A família romana era centrada no homem, sendo as mulheres, no geral, meras coadjuvantes”. É Importante ressaltar que tais mudanças foram impulsionadas principalmente pelo desenvolvimento do conhecimento e pela instituição da propriedade privada. A partir de então, os vínculos afetivos entre participantes de um mesmo grupo ou descendentes foram sendo estreitados, contribuindo para a desvinculaçãodo pensamento coletivo predominante, ao mesmo tempo em que surge um pensamento mais individualista, dando origem à FAMÍLIA MONOGÂMICA, tendo como característica relevante o domínio do homem sobre a mulher. Os relatos obtidos demonstram que a origem e formação da família no decorrer da história caracterizam-se como fazendo parte de um longo e contínuo processo evolutivo, norteados por sucessivas mudanças, levando em consideração; necessidades, cultura, nível de conhecimento alcançado e valores difundidos, ou seja, não pode ser entendido de forma única e isolada, mas dinâmica. Para Narvaz; Koller (2006, p. 49), A família não é algo biológico, algo natural ou dado, mas produto de formas históricas de organização entre os humanos. Premidos pelas necessidades materiais de sobrevivência, vivência e de reprodução da espécie, os humanos inventaram diferentes formas de relação com a natureza e entre si. As diferentes formas de organização familiar foram, portanto, inventadas ao longo da história. [...] Houve, e ainda há, outras configurações familiares, entre elas as famílias chefiadas por mulheres, as famílias matrifocais, matrilineares e matrifocais, centradas na figura e na descendência feminina. Também se pode observar que mudanças ocorridas em relação à atuação do Estado e da Igreja na sociedade influenciaram decisivamente para a formação da família nuclear moderna, contribuindo para o fortalecimento dos vínculos familiares e introduzindo novos valores, que passaram a nortear as relações individuais e sociais. Sobre o assunto, Moreno (2012, p. 35), afirma: A família nuclear conjugal moderna – quer dizer, pai, mãe e filhos - da forma como é definida hoje em dia, não foi sempre assim; há cerca de três séculos, mudanças na atuação do Estado e da Igreja começaram a valorizar o ´sentimento de família`, isto é, os laços familiares começaram a ser reconhecidos socialmente, e a educação e criação de uma criança nascida de um casal, passam a ser, cada vez mais, da responsabilidade da família. 15 Portanto, levando em consideração os variados arranjos familiares, bem como diferentes concepções de sentimento da família ocorridos no decorrer da história, pode-se inferir, que essa organização reflete, sobretudo, o viver de um povo, podendo ser distinguida em época e espaço; nessa perspectiva, a imagem de uma formação familiar única e perfeitamente organizada, não pode ser considerada, pois essa concepção envolve vários fatores presentes em uma sociedade, sejam estes de ordem política, religiosa, cultural, dentre outras. Por outro lado, independentemente do arranjo em que essa pode ser encontrada, não se pode negar a importância de sua representação, haja vista ser através dela formados todos os laços que norteiam as relações interpessoais existentes. 2.1 NOVAS FORMAÇÕES FAMÍLIARES E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA O campo de estudo relativo à família abrange diversas disciplinas ligadas às ciências humanas, tais como: Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Direito, Ciências da Religião, Antropologia e outras, mostrando-se, portanto, um campo fértil para as mais variadas abordagens a esta relacionada. Nesse aspecto, podem-se encontrar diversos estudos produzidos, dos quais muitos deles enfatizam as novas formações familiares, fatores que influenciaram esse novo cenário e os impactos decorrentes. Para tanto, é importante destacar as significativas mudanças ocorridas no último século, sobretudo no que tange ao avanço do conhecimento, através da chamada revolução técnico-científico, a qual consolidou o processo de globalização, protagonizando grandes transformações nas estruturas sociais vigentes. Em consonância, Maluf (2010, p. 37), enfatiza: o século XX funcionou como ácido, fazendo desmoronar, ou pelo menos apagar, os princípios de sentido e valor que formavam os quadros da vida humana. A desconstrução das tradições levada à potencialidade que paradoxalmente traz um alargamento de horizonte passando da ideia inicial de egoísmo para a otimização do social, aliada à evolução dos costumes e a alteração das mentalidades e o desenvolvimento científico-tecnológico, deixam ao homem o questionamento de que essas intensas mudanças eventualmente trouxeram de novidade ou até mesmo de vantagem. É possível observar que o autor expressa, em síntese, os impactos das intensas mudanças ocorridas nos últimos tempos, as quais desencadearam avanços 16 em todos os campos de estudo e promoveram significativas mudanças nas estruturas sociais; notadamente todos esses fatores exercem influência decisiva para nova configuração dos arranjos familiares. Nesse novo contexto, uma das mudanças mais importantes ocorridas diz respeito à evolução da ciência no campo da reprodução humana, com a introdução de métodos anticoncepcionais e das técnicas de FECUNDAÇÃO IN VITRO. Essas avanços possibilitaram tanto o controle de natalidade, como viabilizaram a reprodução de quem possui algum impedimento. Para Teixeira; Parente, Boris (2009, p. 25), as novas tecnologias reprodutivas conceptivas interrogam o conceito de família, ao introduzirem na sua constituição a participação da ativa ciência, por meio de intervenções no corpo em termos orgânicos, implicando vivências subjetivas e culturais que buscam ressignificar a organicidade do corpo e suas limitações, agora vistas como desafios para a biotecnologia. Assim, as experiências de masculinidade e feminilidade, bem como as de maternidade e paternidade estão, constantemente, sendo postas em xeque, exigindo que plurais modalidades de experiência subjetiva sejam consideradas. Como bem exposto, a difusão e aplicação das inovações técnico-científicas com ênfase no campo da reprodução humana têm produzido uma verdadeira reviravolta nas estruturas sociais, como por exemplo, introduzindo mudanças nas formas de organização e estrutura familiar. Nesse contexto, a mulher adquiriu mais autonomia, passando a exercer o poder de escolha sobre a maternidade; e ainda facultou-lhe a decisão de gerar filho com a participação de um parceiro. Notadamente, as relações sexuais deixaram de ser um pressuposto para procriação, e tornaram-se mais em um ato de prazer. Ainda de acordo com Teixeira; Parente, Boris (2009, p. 25), Os contraceptivos contribuíram para autonomia do desejo das mulheres com relação ao desejo dos homens. O domínio de técnicas destinadas a impedir a fecundação proporcionou às mulheres a reivindicação ao direito do prazer, independente do dever de procriar. Em outras palavras, a contracepção permitiu fazer uso dos prazeres sem risco de gerar filhos, a ponto de permitir às mulheres recusar o papel materno que o casamento lhes destinava. O outro aspecto importante relativo à FECUNDAÇÃO IN VITRO é que a intervenção médica passa a ocupar papel relevante no processo reprodutivo, ao mesmo tempo em que o ato sexual perde importância. Embora essa não seja ainda 17 uma prática tão comum, dados os altos custos financeiros envolvidos, percebe-se uma tendência à popularização. No entanto, esse ainda é um assunto muito polêmico, principalmente entre os setores mais conservadores da sociedade, haja vista interferir diretamente na concepção sobre paternidade, maternidade e filiação, o que consequentemente exige a quebra de paradigmas ligados à família, religião e outros. Frente a essa realidade, Teixeira; Parente, Boris (2009, p. 37), ressaltam: a possibilidade de utilização de novas técnicas reprodutivas conceptivas proporcionam infinitas possibilidades de procriação, o que vem gerando polêmica em várias áreas. O ato sexual vem perdendo sua importância, deixando de ser o elo entre as gerações, enquanto a tecnologia vem tomando seu lugar. As questões ligadas à filiação tornam-se complexas: uma criança pode ser gerada a partir da doação de esperma e/ou dos óvulos;pode ter herança genética de várias pessoas; pode ser gerada por um parente próximo ou por um desconhecido; pode ser filha de uma mãe solteira ou de um casal homossexual. Todo esse contexto tem possibilitado uma maior abertura na sociedade, contribuindo na formação de novos conceitos e valores sociais, com decorrentes mudanças na estrutura, organização e padrões familiares, bem como nas expectativas e papéis de seus membros, além de possibilitar inserção de outras modalidades de arranjo familiar. Para Maluf (2010, p. 41), A sociedade vem se conscientizando de que existem outras possibilidades de relacionamento a serem aceitas. Desta sorte, legiões de homens e mulheres, com diversa orientação sexual, começam a experimentar novas fórmulas de relacionamentos afetivo, do namoro ao casamento, com todas as repercussões e desdobramentos daí decorrentes, donde se destaca uma maior abertura à tolerância e à diversidade. Dentro dessa nova realidade, cresce também o número de famílias caracterizadas pela presença de apenas um dos genitores, famílias reconstituídas e famílias compostas ou extensas; estabelecendo-se na sociedade uma diversidade cada vez maior de arranjos familiares. A esse respeito, Maluf (2010, p. 35), afirma: a família monoparental configura-se de forma desvinculada da ideia de um casal e seus filhos, pois esta é formada pela presença e inter-relação da prole com apenas um de seus genitores, por diversas razões: viuvez, divórcio, separação judicial, adoção unilateral, pelo não reconhecimento da 18 prole pelo outro genitor, inseminação artificial (homóloga - após a morte do marido, ou de mulher solteira; heterológa), produção independente. Considerando os desdobramentos da atual conjuntura, caracterizar a formação de um arranjo familiar ideal tem se tornado uma discursão cada vez mais complexa, tendo em vista as múltiplas concepções envolvidas, não sendo possível definir ao menos um ponto de equilíbrio, o que abre margem para diversos questionamentos, inclusive no âmbito jurídico, onde várias lacunas precisam ser preenchidas, ou seja, adquirir um aspecto legal. No entanto, como se pode observar, trata-se de um processo em curso, portanto passivo, de constantes adequações, o que dificulta a construção de um consenso a ser aplicado. Segundo Sarti (2010, apud, MORENO, 2012, p. 48), embora a família continue sendo objeto de profundas idealizações, a realidade das mudanças em curso abalam de tal maneira o modelo idealizado, que se torna difícil sustentar a ideia de um modelo ´adequado`. Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado relativamente à família. No que se refere às relações conjugais, quem são os parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de casamentos, divórcios, recasamentos de casais em situações tão diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma enorme elasticidade. Em relação a elaboração de leis que versem sobre a questão, é possível perceber que, embora muita coisa ainda precise ser feita, já houve avanços significativos no sentido de evitar prejuízos e garantir o cumprimento dos princípios que regem os direitos humanos, resguardando, sobretudo, o respeito à vida e à dignidade. De acordo com Moreno (2012, p. 46), no ano de 2010, a regulamentação do ´Projeto Pai Presente`, da Corregedoria do Concelho Nacional de Justiça (CNJ), teve por objetivo garantir o cumprimento da lei 8.560, de 29 de dezembro de 1992, que regula a investigação de paternidade dos filhos, a fim de identificar os pais que não reconhecem seus filhos e garantir que eles assumam suas responsabilidades. Considerando a conjuntura brasileira no que tange as modificações ocorridas na estrutura familiar, é importante enfatizar o que as informações oficiais trazem de concreto, a esse respeito, O INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 19 E ESTATÍSTICA (IBGE), sobre dados do Censo demográfico realizado no ano de 2010. Analise-se o gráfico 01: GRÁFICO 01: Observando o gráfico, pode-se comprovar as transformações ocorridas na configuração da família brasileira entre os anos (2000/2010); comparadas as informações contidas quanto à distribuição de famílias com arranjo monoparental, verifica-se um crescimento considerável que se acentua quando esta se baseia na figura feminina, passando de 11,6% no ano 2000 para 12,2 em 2010, o que representa um aumento percentual de 0,6%; quando esta configuração se incrementa, parentes passam de 3,7% em 2000 para 4,0 em 2010, crescimento de 3%. No mesmo cenário, quando colocada a figura masculina como genitora, também se percebe que houve crescimento, passando de 1,5% em 2000 para 1,8% em 2010, ou seja, aumento de 0,3%; quando se inclui a esta os parentes, o aumento no período é de 0,2%, passando de 0,4% em 2000, para 0,6% no ano de 2010. 20 Outro dado importante refere-se ao grande aumento no número de famílias constituídas apenas pelo casal, sem a presença de filhos, que passou de 13,0% em 2000 para 17,7 em 2010, num crescimento de 4,7%. Ao mesmo tempo se identifica um declínio de 7,0% no número de famílias com filhos, que passou de 56,4% em 2000 para 49,4% em 2010. Os dados levantados não apresentam especificidade quanto a outros tipos de arranjo familiar menos tradicional, que segundo o próprio Instituto responsável pelo levantamento, IBGE (2012): “Na configuração das famílias chamadas conviventes, o algoritmo construído só permite identificar os três tipos mais comuns: monoparental feminina, casal com filhos e casal sem filhos’’. Entretanto, a partir da leitura gráfica, é possível identificar outros arranjos familiares contidos no campo denominado “OUTRO’’, onde, por exemplo, pode estar inserida a união homoafetiva, além de outras que, no conjunto, registraram aumento, passando de 4,2% em 2000 para 6,3% em 2010, com um crescimento de 2,01%. Ainda relacionado ao Censo Demográfico 2010, outro dado que requer atenção por ter se apresentado bastante expressivo é a porcentagem de mulheres que se declararam responsáveis pela família, mesmo quando levado em consideração a presença de um cônjuge, o que confirma uma tendência da conjuntura social contemporânea. Fato confirmado pelo próprio Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (2012). Assim pronuncia-se: Os motivos para este aumento podem ser creditados a uma mudança de valores culturais relativos ao papel da mulher na sociedade brasileira. O ingresso maciço no mercado de trabalho, o aumento da escolaridade em nível superior combinados com a redução da fecundidade são fatores que podem explicar este reconhecimento da mulher como responsável pela família. Para melhor compreensão dessa nova realidade, observem-se os dados do gráfico 02: 21 GRÁFICO 02 Todas essas mudanças têm sido sistematicamente objeto de estudo, constituindo-se como um novo desafio a ser enfrentado, especialmente quando considerada a inserção da criança no ambiente familiar, haja vista a importância que a família representa em todo seu processo de desenvolvimento, desde o provimento das necessidades primárias como: abrigo, proteção, alimento, educação, até aquelas mais complexas, tidas como responsáveis pela formação emocional e cognitiva. Sobre essa temática, Froebel (2001, apud, ARAÚJO, 2010, p. 14), sustenta: [..] A educação deve ser iniciada, continuando cada vez mais intensamente o cuidado físico e a formação moral. Nesse período, a educação do homem corresponde inteiramente à mãe, ao pai, à família, e o homem depende dessa família, e com ela, por natureza, forma um todo, inseparável e indivisível. Considerando o exposto, percebe-se claramente a influênciaque a família exerce sobre a criança, constituindo-se como núcleo responsável pela transmissão 22 dos principais atributos necessários a sua formação, através dos quais ela constrói sua visão de mundo. Na mesma direção, encontram-se sistemáticas afirmações. Segundo Teixeira; Parente; Boris (2009, p. 30, et al “[..] a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua justamente chamada materna. Por isso, ela preside os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico [...]”. No mesmo sentido, Souza; Filho (2008, p. 3), declaram: O ambiente familiar é o ponto primário da relação direta com seus membros, onde a criança cresce, atua, desenvolve e expõe seus sentimentos, experimenta as primeiras recompensas e punições, a primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos de comportamentos - que vão se inscrevendo no interior dela e configurando seu mundo interior. Isto contribui para a formação de uma ´´base de personalidade``, além de funcionar como fator determinante no desenvolvimento da consciência, sujeita a influências subsequentes. Entretanto, quando levadas em consideração as profundas transformações ocorridas, alguns autores chamam a atenção para o fato de que a família não pode ser estudada e compreendida, aplicando apenas os princípios do senso comum, pois em muitas situações esse ambiente tornou-se instável e desorganizado, protagonizando inúmeros atos de desrespeito aos direitos fundamentais do indivíduo. . Segundo, Sarneto (2005, apud, MORENO, 2012, p. 46), As transformações na estrutura familiar põem a descoberto o caráter mítico de algumas teses do senso comum que veem no núcleo familiar o espaço aproblemático e “natural” de proteção e desenvolvimento da criança. Com efeito, este é um lugar problemático e crítico, onde tanto se encontra o afeto quanto a disfuncionalidade, tanto o acolhimento quanto os maus-tratos. Desse modo, a transformação familiar convida a que a família seja pensada como instituição social em mudança, sendo, como tal, construída e estruturada, e não como uma entidade natural, imune ao pathos da vida social. É a partir dessa visão que o estado passa a interferir de maneira mais enfática no seio da família, conferindo um aspecto jurídico ao que via senso comum estava sob dependência e restrito ao convívio familiar, o que nem sempre se traduzia no respeito aos direitos e às condições necessárias ao pleno desenvolvimento da criança. Nesse sentido, a Constituição Federal (1988), assegura: 23 Art. 227. E dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010). No mesmo sentido, a lei 8.069 de 13 de julho de 1990 instituiu O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, que assim dispõe: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê- los. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014). Importante destacar as novidades trazidas no (art. 18-A), especialmente quando se refere aos termos: PAIS, PELOS INTEGRANTES DA FAMÍLIA AMPLIADA, PELOS RESPONSÁVEIS, denotando assim, que tal inclusão reflete as profundas modificações ocorridas nos últimos anos na estrutura familiar, a qual, desempenha papel fundamental no desenvolvimento da criança que atualmente se encontra inserida em uma diversidade de arranjos familiares, marcados cada vez mais pelo crescimento dos interesses individuais em detrimento aos da família, o que tem gerado instabilidade e conflitos. Em meio a todos esses desdobramentos, a criança aparece como maior prejudicada, dada a sua fragilidade e dependência; daí a necessidade da intervenção do estado. Entretanto, a família continua sendo vista como elemento essencial. Reconhecendo essa importância, o próprio Estatuto da criança e do Adolescente assegura a toda criança ou adolescente o direito de ser criado em família. Vejam-se: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13010.htm#art1 24 Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Importante ressaltar que o mesmo estatuto, além de assegurar à criança e ao adolescente o direito de serem criados no ambiente familiar, também dispõe sobre a proteção das crianças e menores de possíveis atos ilegais que venham ser praticados contra os mesmos por parte da família. 2.2 IMPORTÂNCIA DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DOS FILHOS A presença efetiva dos pais na vida escolar dos filhos é vista por educadores e especialistas como de fundamental importância para o desenvolvimento do aprendizado, pensamento este que encontra amparo nos inúmeros estudos realizados visando ao esclarecimento das causas responsáveis pelo êxito ou fracasso escolar da criança. Fazendo uma análise de alguns desses trabalhos, encontram-se resultados bem parecidos, os quais convergem quase sempre no mesmo sentido, muito embora alguns deles também destaquem um conjunto de fatores que, aliados à participação dos pais, configuram-se determinantes para o sucesso do aprendizado; no entanto, estes sempre estão ligados à realidade vivenciada pela criança no ambiente familiar e diz respeito a questões estruturais ou socioeconômicas em que a família encontra-se inserida, o que acaba influenciando negativamente na própria relação dos pais com a educação escolar dos filhos, não sendo possível desvincular a importância da relação ora destacada com o rendimento escolar dos alunos. Discorrendo sobre sua pesquisa, Santos (2010, p. 125), descreve: No conjunto dos dados fornecidos pelos entrevistados, a influência e a participação dos pais na aprendizagem dos alunos foram os aspectos que tiveram maior destaque, bem como sua vinculação com aspectos socioeconômicos das famílias. Os entrevistados consideram que esse indicador é o que mais pode contribuir para o sucesso dos alunos, e também enfatizaram que a falta dele é o que mais converge para que os alunos não alcancem os bons resultados de aprendizagem. Considerando o mesmo estudo, é importante demonstrar parte do relato feito por uma professora durante a entrevista, através da qual é possível entender a questão segundo a visão do educador, que expõe seu entusiasmo frente a sua nova 25 turma, exalta a participação dos pais e mostra certa frustação em relação ao seu trabalho quando não pode contar com a colaboração desses no processo de aprendizagem da criança. Assim, Santos (2010, p. 131), afirma que: os alunos dos quaisa família participa, a gente vê a diferença. Esta turma que eu tenho esse ano é muito boa e a gente vê a diferença assim, os pais são participativos. Eles cobram, eles perguntam, eles se interessam. “Meu filho não veio, professora, o que eu poderia estar fazendo? Que lição que ele perdeu? Onde eu posso estar acompanhando? Tem dificuldades? Em que eu posso estar ajudando?” Agora aqueles que a família não se interessa, a criança também não se interessa muito. Porque a gente pode até cobrar na sala, mas se você não tem um respaldo, aí não tem continuidade (Professora EG- Escola G). Diante do relato da professora, é possível perceber que essa participação é tida como indispensável para o sucesso escolar da criança, no entanto, para alguns autores, esta nem sempre é uma tarefa fácil. Conforme relatos, em muitos casos ainda se encontram dificuldades, por parte das escolas, na inserção dos pais ou responsáveis na vida escolar dos filhos, o que se acentua quando levados em consideração fatores socioestruturais presentes no lar, como: relação conflituosa entre os pais, violência doméstica, vícios, dentre outros; nesses casos, os pais quase sempre não demonstram interesse em acompanhar a vida escolar dos filhos, o que reflete no mal desempenho dos alunos. Na mesma direção, Silva; Moreira (2013, p. 261) demonstram: identificamos que os alunos com problemas em casa, como pais que brigam muito, que tem algum tipo de vício, que são violentos, apresentam dificuldades de aprendizagem, de leitura e de socialização com outras crianças, entre outros aspectos. Assim, consideramos que o aluno com dificuldades na sala de aula certamente enfrenta problemas em casa, e os pais são ausentes, tanto da escola como da vida escolar dos filhos em geral. Por outro lado, os alunos que contam com pais e/ou responsáveis presentes na sua vida escolar apresentam desenvoltura nas relações sociais e aprendizagem diferenciada. Em outros casos, afirma-se que essa participação até acontece, porém de maneira conflituosa, pais não entendem os professores, que por sua vez atribuem a estes falta de responsabilidade, de compromisso e até despreparo para lidar com a educação escolar dos filhos. No meio desse embate, aparecem professores sobrecarregados, desmotivados, pais insatisfeitos e educação deficitária. 26 Entretanto, embora tarefa complexa, a construção de uma relação harmoniosa entre as partes é compreendida como necessária e decisiva para o sucesso dos objetivos envolvidos. Para Nicolau (2000) (apud, MORENO, 2012, p. 94), “[...] uma relação de respeito e de cumplicidade pode ser construída. Isso não é fácil. Embora seja altamente desafiador, é possível de ser alcançado [...]”: Ainda, segundo Melo (2000, apud, MORENO, 2012, p. 92), [...] é um exercício de aceitação das diferenças. Os pais aprendem a exercer seu direito de participar do atendimento dado aos filhos, ao mesmo tempo em que aprendem a compreender o ponto de vista dos profissionais da Educação Infantil. Por outro lado, os profissionais aprendem seu direito de se fazerem ouvidos pelos pais, mas também aprendem seu dever de respeitar a cultura e o saber das famílias. Nesse sentido, é importante entender que para construir qualquer relação é necessário percorrer um caminho, que mesmo depois de alcançado pode ser marcado por avanços e/ou retrocessos, cujo laços vão sendo aperfeiçoados na medida da disposição apresentada pelas partes envolvidas. Nesse meio, o surgimento das divergências são inevitáveis, e em alguns momentos parecem ser insuperáveis; entretanto, quando encaradas de forma natural e com maturidade, essa relação torna-se consistente, de forma que não mais pode ser abalada ou desfeita. O mesmo raciocínio pode ser aplicado quando se trata da relação entre pai e/ou responsáveis, educadores e escola em geral. Certamente as divergências surgirão, no entanto, havendo disposição das partes no sentido de superá-las, a construção de um ambiente favorável ao bom desenvolvimento escolar da criança torna-se possível. Para tanto, o diálogo e o respeito às diferenças encontradas, precisam ser observadas por todos os envolvidos, pois como visto, o êxito da educação escolar da criança não pode estar desvinculada da boa relação entre as partes ora destacadas. Em consonância, Spodek; Saracho (1998, apud, MORENO, 2012, p. 93) afirmam: o trabalho com os pais é uma parte importante da educação de qualquer nível, especialmente quando se trata de crianças muito pequenas. Os professores precisam desenvolver um entendimento dos pais de seus alunos e da sua situação familiar, bem como uma variedade de técnicas para trabalhar com os pais, de forma que sirvam de diferentes propósitos. Mais importante ainda: eles devem entender que a educação de crianças pequenas não pode ser considerada isoladamente. Para ter sucesso no 27 trabalho com as crianças, os professores precisam da cooperação ativa dos pais. Para eles, a cooperação dos pais na educação escolar dos filhos torna-se ainda mais importante quando envolve o ensino infantil, sendo primordial o empenho dos educadores no sentido de estabelecer uma relação entre família e escola que permita o diálogo e compreensão entre as partes, o que consequentemente facilitará a superação dos obstáculos vivenciados, contribuindo para o alcance dos objetivos almejados tanto pela escola quanto pela família, propiciando ao aluno o pleno desenvolvimento de suas potencialidades. 28 3 ESCOLA FAMÍLIA: uma abordagem relacionada A escola naturalmente é vista como um ambiente marcado por desafios, sobretudo dado o papel que ela desenvolve na sociedade, mas atualmente percebe- se claramente que estes nunca foram tão significativos. Assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos fazem parte da rotina da maioria das escolas brasileiras. Nunca se observou tantos professores cansados e, muitas vezes, doentes física e mentalmente. Sentimento de impotência e frustação tornaram-se comuns em meio à comunidade escolar. Afinal, em que consistem todos esses problemas? Como solucioná-los? Em busca de respostas e possíveis soluções, tanto governo quanto escola e sociedade procuram unir esforços, visando a transformar a atual realidade, que para muitos é um reflexo das profundas transformações ocorridas na sociedade, as quais teriam impactado num primeiro momento a estrutura familiar e, por consequente, a escola. Frente a problemática, Dessen; Polonia (2007, p. 22), destacam: e é por meio das interações familiares que se concretizam as transformações nas sociedades que, por sua vez, influenciarão as relações familiares futuras, caracterizando-se por um processo de influências bidirecionais, entre os membros familiares e os diferentes ambientes que compõem os sistemas sociais, dentre eles a escola, constituem fator preponderante para o desenvolvimento da pessoa. Nesse sentido, embora distintas, as funções exercidas por essas instituições apresentam estreita relação que, juntas, colaboram na formação do indivíduo e estabelece os laços vividos em sociedade. Para Dessen; Polonia (2007, p.27); “para compreender os processos de desenvolvimento e seus impactos na pessoa, é preciso focalizar tanto o contexto familiar quanto o escolar e suas inter- relações”. Entretanto, esse pensamento nem sempre foi assim, sendo importante destacar que a instituição escolar, de certa forma, é um fenômeno recente, diferentemente da família, que como visto inicialmente neste trabalho, suas origens remetem aos primórdios, enquanto a escola teria surgido a partir do desenvolvimento industrial e consequente necessidade por trabalhadores qualificados. De acordo com Sousa; Filho, (2008, p. 4), 29 a produtividade demandava trabalhadores melhorespreparados para operar máquinas, concertar engrenagens e entender de processos produtivos, enfim, precisava-se de pessoas que dominassem minimamente os conhecimentos necessários nas fábricas. Nesse contexto, a escola seria responsável pelo ajustamento do educando a um mundo mecânico e social. Segundo os autores, a escola teria surgido a partir de uma necessidade social, fruto das transformações ocorridas e, portanto, para exercer função bem específica, que mais tarde ganharia maiores repercussões, passando a exercer influência além da formação profissional do indivíduo. Ainda, Sousa; Filho, (2008, p. 4), afirma: no século XX, o acesso à escola tomou proporções nunca antes imaginadas; a dedicação cada vez maior de homens e mulheres ao trabalho fez com que as funções da família começassem a ser divididas com a escola. Esta progressividade passou a ter um papel maior na formação dos indivíduos e a se tornar de grande importância educacional. Para eles, Sousa; Filho (2008, p. 4), “além de fornecer modelos comportamentais, fonte de conhecimento e de ajuda para independência emocional da família, também passa ser um local de formação para o ser social [...]”. Diante do observado, percebe-se que no decorrer do tempo a função da escola foi sendo ampliada na mesma proporção em que as relações na família se transformavam, o que pode reforçar o pensamento, segundo o qual, a crise vivenciada na escola reflete em grande parte as profundas transformações ocorridas mais recentemente no interior da família. Para muitos, as mudanças conduziram a uma desorganização generalizada no seio familiar, sobrecarregando a escola que, embora desempenhe função notável na formação do indivíduo, não está preparada para suprir certas demandas, as quais são exclusivas da família. No mesmo sentido, Oliveira (2000, apud, GARCIA, 2005, p. 62), ressalta: o saber parece não rondar mais a escola, e a função moral parece não ser mais função da família. Neste impasse de objetivação de funções, verifica- se uma extrema dilatação nos âmbitos de atuação, especialmente nos da escola, a qual, como num processo de osmose, passa a ocupar, os perímetros internos da família, assumindo a educação moral. [...] Ao assumir o papel de reparadora do que foi mal feito pela família, a escola passa a configura-se como um apêndice dessa instituição. A afirmação feita por estes autores ratifica o pensamento de que a crise enfrentada nas escolas reflete a vivenciada pela família. Reconhecendo a 30 necessidade de reestruturação no ensino brasileiro, criaram-se vários dispositivos jurídicos, dentre eles a LEI 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 (LDB), que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A partir de então, a família passa a representar legalmente função de destaque na educação. Que assim dispõe: Art.1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais. Art.2º A educação é dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade, e nos ideais de solidariedade humana; tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Portanto, as relações desenvolvidas no seio familiar são tidas como parte do processo da educação escolar criança. Desta forma, pode-se inferir que a partir dela se origina a base pedagógica do ato de aprender, pois é na família que o indivíduo vivencia os primeiros afetos e cuidados, ao mesmo tempo em que desenvolve suas habilidades que, posteriormente, serão vivenciadas e enriquecidas nas instituições de ensino. Visando garantir que todos tenham acesso à educação escolar; o ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA), em seu Art. 55, diz - “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino”. 3.1 FAMILIA ESCOLA: com objetivos comuns Como visto anteriormente, pode-se concluir que na sociedade contemporânea, “família e escola” são instituições que se complementam. Assim sendo, uma não substitui a outra. No entanto, quando ambas caminham juntas visando ao alcance de objetivos comuns, tanto ganha escola quanto família e sociedade. Desta forma, quando se pensa em educação de qualidade, aquela baseada na “formação cidadã”, ou seja, uma educação que vá além dos limites do conhecimento científico e profissional, necessariamente estas duas instituições devem ser vistas como parceiras em toda a condução do processo, principalmente na educação infantil e fundamental, período em que notadamente são desenvolvidas 31 todas as bases necessárias à formação do indivíduo, tanto nos aspectos morais e de valores, quanto do intelecto. Nesse contexto, é importante a compreensão de que parceria não significa interferência, mas sim respeito mútuo às diferenças existentes e cooperação. Na mesma concepção, Tiba (2012, p. 186), sustenta: [...] Quando a escola, o pai e a mãe usam a mesma linguagem e têm valores semelhantes, os dois principais contextos da criança, a família e a escola demonstram uma segurança e coerência extremamente favorável ao seu desenvolvimento. Entretanto, é preciso considerar o fato de que atualmente a escola comporta alunos advindos dos mais variados arranjos familiares e, portanto, cada uma deles representa seu próprio universo. Sendo assim, a comunidade escolar está convidada a superar mais um desafio. É preciso que todos entendam que a imagem de família pautada na figura de pai, mãe e filho, já não convive sozinha, que nem por isso o aluno advindo de um arranjo familiar menos tradicional deixa de ter uma família; que seus responsáveis, mesmo não sendo pais biológicos, são incumbidos por lei a assumirem suas responsabilidades para com a criança, mas que em meio a todas essas diferenças, a construção de um relacionamento harmonioso continua sendo o primeiro passo a caminho dos objetivos. Assim como os pais e/ou responsáveis precisam estar inteirados da vida escolar da criança e não apenas de como anda seu grau de aproveitamento nos estudos, a escola precisa estar informada do contexto vivenciado por seus alunos fora do ambiente escolar. Esse compartilhamento de informações entre ambas as partes possibilita o planejamento e aplicação de estratégias pedagógicas, no sentido de superar as deficiências encontradas, propiciando ao aluno um desenvolvimento almejado. Ainda de acordo com Tiba (2012, p.185), para que os pais possam conhecer realmente seus filhos, é importante estar bem informados de seu comportamento na escola. Embora não seja de sua competência, muitas vezes a escola pode orientar os pais a superar dificuldades domésticas com um determinado filho [...] se todos os pais soubessem dessa possibilidade de ajuda e tivessem a sabedoria de procurar a escola, muitos conflitos, desajustes relacionais, problemas de juventude, migrações e dificuldades escolares seriam, sem dúvida, resolvidos a tempo. 32 Na mesma proporção, a escola precisa conhecer o contexto vivenciado pelos alunos e, a partir desse conhecimento, implantar estratégias pedagógicas visando superar as deficiências encontradas no educando. Segundo Raczyskin (2003), (apud, SANTOS, 2010, p. 148) “para que ocorra a eficácia escolar, é imprescindível que a escola conheça a realidade de cada aluno, pois somente dessa maneira é possível adequar os processos de ensino às características particulares de cada um deles”. Por isso, essa relação não pode ser vista como imposta ou condicionada, mas espontânea e natural, pois como observado, não se trata da busca de interesses individuais, mas do desenvolvimento de conhecimentos, visando à formação do indivíduo em todos os seus aspectos. A esse respeito,a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), dispõe: Art. 22- A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. A mesma Lei de Diretrizes e Bases também estabeleceu mecanismos legais, para que essa interação pudesse ser legalmente efetivada, bem como estendeu o conceito de família. Ao tratar dessa participação, ela estabelece: Art.12.Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: VII- informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e se, for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola. Como se pode perceber, a lei foi elaborada levando em consideração as transformações ocorridas na estrutura familiar, o que reflete a real conjuntura vivenciada nas instituições escolares, apontando para necessidade do reordenamento das concepções organizacionais e pedagógicas implantadas, sobretudo na relação estabelecida entre a escola e família. Também se abre espaço à gestão participativa ou democrática do sistema público de ensino na educação básica, o que representou um grande avanço no modelo educacional. Nesse aspecto, a Lei de Diretrizes e Bases dispõe: 33 Art.14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I- Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II- Participação das comunidades escolar e local, em conselhos escolares ou equivalentes. Fica evidente que uma das prerrogativas da escola é prover meios de inclusão que possibilitem a interação e participação da comunidade escolar nos processos pertinentes ao desenvolvimento da educação. Desta forma, fica claro que é preciso haver iniciativa da escola; a partir daí, essa parceria passa ser viabilizada. Contudo, é certo que no contexto da educação atual não existe mais espaço para escola e família caminharem em lados opostos, estando evidente que dessa interação depende não só o desenvolvimento da educação escolar mas da própria sociedade, pois como visto, a nova escola deve estar pautada em formar cidadãos para a vida, tarefa que, se executada isoladamente, não pode ser confirmada. Nessa perspectiva, todos precisam caminhar juntos e com objetivos comuns que possam levar à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde haja mais respeito e menos violência, onde as diferenças não sejam motivos de discórdias, mas de cooperação. A esse respeito, Perrenoud (2000, apud, GARCIA, 2005, p. 38) enfoca: A parceria é uma construção permanente, que se operará melhor se os professores aceitarem tomar essa iniciativa, sem monopolizar a discussão, dando provas de serenidade coletiva, encarando-a em alguns espaços permanentes, admitindo uma dose de incerteza e de conflito e aceitando a necessidade de instâncias de regulação. Portanto, embora a responsabilidade pela educação englobe toda sociedade e não apenas escola e família, estas exercem funções primordiais, estando seus resultados diretamente vinculados com o sucesso ou fracasso educacional e social do indivíduo, sendo que o atual cenário denota um quadro extremamente preocupante e desafiador, principalmente para a escola, dada o alargamento das responsabilidades a ela atribuídas. Sendo assim, qualquer ação que seja desenvolvida pela escola visando o desenvolvimento educacional, necessariamente deve envolver uma relação baseada na cooperação entre as partes, o que muitas vezes tem se mostrado um importante obstáculo a ser superado. 34 Sobre o assunto, Dessen; Polonia (2007, p. 25) defende: Uma de suas tarefas mais importantes, embora difícil de ser implementada, é preparar tanto alunos como professores e pais para viverem e superarem as dificuldades em um mundo de mudanças rápidas e de conflitos interpessoais, contribuindo para o processo de desenvolvimento do indivíduo. Como visto, os desafios da realidade ora vivenciada pela comunidade escolar brasileira, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento da educação, abrange toda uma conjuntura social, cuja configuração tem sido marcado por profundas transformações ocorridas em escala global, desencadeando os mais diversos impactos na formação moral e social do indivíduo favorecendo o surgimento de conflitos nas relações interpessoais com prejuízos diversos para toda sociedade, o que reforça a necessidade de uma parceria efetiva entre família e escola, haja vista serem instituições notadamente formadoras dos laços que permeiam a formação humana com reflexos direto na sociedade. 35 4 IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR: uma Intervenção Socioescolar A relação estabelecida entre família e escola, sistematicamente tem sido apontada por muitos autores como fator determinante para o êxito ou fracasso escolar do aluno, constituindo-se um dos temas mais recorrentes no campo de pesquisa educacional, dada à relevância dos resultados obtidos, bem como ao complexo contexto no qual ambas as partes atualmente estão inseridas. Nessa direção, quando se considera a importância da valorização dessa temática como parte permanente nos processos de construção da educação, encontra-se uma vasta literatura, que fornece base suficientemente sólida, com fim de implementação de ações capazes de promover uma interação cada vez mais produtiva entre escola e a família. De acordo com MacBeath (1994, apud SANTOS, 2010, p.126), “[...] o relacionamento entre o professor e os pais é crucial para contar com a casa como um aliado, ou torná-la a inimiga das atividades educativas (ou não educativas) da sala de aula”. O pensamento expresso pelos autores deixa evidente que essas instituições, embora exerçam papéis sociais distintos, estão diretamente correlacionadas e, necessariamente, precisam caminhar juntas, com vistas ao alcance de objetivos comuns, ou seja, tanto a escola quanto a família desempenham na sociedade funções estratégicas e, por conseguinte, são complementares. Um dos importantes autores o qual traz uma relevante contribuição sobre a temática, diz respeito a “Içami Tiba” criador da teoria da (integração relacional), segundo a qual afirma: o sucesso de um grupo depende do bom relacionamento entre os integrantes deste grupo. Ou seja, relacionamentos saudáveis geram bons frutos e estruturam as crianças, jovens e adultos, e consequentemente, transformam, para melhor, a sociedade. Este que foi um importante teórico brasileiro de renome internacional com várias obras publicadas ao longo de sua trajetória dentre elas: Quem Ama Educa, na qual são evidenciados diversos aspectos inerentes à influência exercida pela família na educação da criança, também exalta a necessidade de cooperação entre pais e professores. Discorrendo sobre o tema, Tiba (2012, p. 184), sustenta: 36 a escola sozinha não é responsável pela formação da personalidade, mas tem papel complementar ao da família. Por mais que a escola infantil propicie um clima familiar à criança, ainda assim é apenas uma escola. A escola oferece condições de educação muito diferentes da existente na família. A criança passa a pertencer a uma coletividade, que é sua turma, sua classe, sua escola, é um crescimento em relação ao “eu” de casa, pois ali ela praticamente é o centro. Assim sendo, o desenvolvimento da educação escolar, embora seja uma atribuição da escola, não pode ser trabalhada de forma independente ou isolada do seio familiar, pois como visto, esta oferece indispensávelsuporte para o desenvolvimento da criança em todos os seus aspectos. Para Tiba (2012, p, 190), “se os pais acompanharem o rendimento escolar dos filhos desde o começo do ano, poderão identificar precocemente essas tendências e, com apoio dos professores, reativar seu interesse por determinadas disciplinas problemáticas”. Com isso, fica claro que o trabalho escolar não deve ser feito de maneira isolada, mas em constante interação com a família. Ainda segundo Tiba (2012, p. 186): se a parceria família/escola se formar desde os primeiros passos da criança, todos terão muito a lucrar. A criança que estiver bem, vai melhorar ainda mais, e aquela que tiver problemas, receberá ajuda tanto da escola quanto dos pais. Portanto, analisando o atual contexto vivenciado pelas escolas brasileiras em que a falta de interesse por parte dos alunos é considerada um dos fatores preponderantes para o baixo índice de aprendizagem, a implantação de estratégias capazes de despertar o interesse das famílias pela vida escolar dos filhos, de forma que professores, pais e/ou responsáveis estabeleçam vínculos de cooperação em busca de superar os desafios encontrados, constitui-se uma via relevante que não pode ser desprezada. Buscando compreender como se desenvolve a relação família/escola e também procurando contribuir para construção e/ou aperfeiçoamento da cooperação entre as partes com vistas ao desenvolvimento educacional, o presente estudo traz uma Intervenção Socioescolar, a partir de um fórum de discussão realizado no: “Centro Educacional do Saber” (CES), a qual faz parte da rede privada de ensino no município de Florânia/RN, atendendo à modalidade infantil e fundamental I, envolvendo os pais e/ou responsáveis dos alunos, professores e gestores da referida escola. 37 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO A presente Intervenção Socioescolar foi desenvolvida na escola Centro Educacional do Saber (CES), situada na rua Francisco Juvenal de Moura, nº 02, bairro Paz e Amor, no município de Florânia, no Estado do Rio Grande do Norte. A referida instituição foi criada na data de 23/01/2005, a qual atende nos turnos matutino e vespertino, à modalidade de ensino infantil e fundamental I. Quanto à estrutura física, a referida escola é composta de 08 (oito) salas de aula, 01 (uma) sala de leitura, 01 (uma) cozinha, 01 (uma) sala de áudio visuais, 01 (uma) sala de direção e secretaria, 04 (quatro) banheiros - sendo 02 (dois) adaptados para educação infantil e 02 (dois) para o ensino fundamental, 01 (uma) sala para orientação e coordenação pedagógica, 01 (uma) área de recreação composta por um mini-parque de diversão, contendo (balanço, casinha, gangorra, escorrego), além de uma área livre utilizada para prática de brincadeiras diversas, com estrutura física nova, mantendo-se sempre limpa e organizada, com visão ampla para todas as salas de aula e de fácil acesso para as pessoas com necessidades especiais. Quanto aos demais recursos materiais da escola, encontram-se: carteiras, mesas, quadros, aparelho de TV, filmadora, computador, vídeo cassete, aparelho de som, DVD, máquina de xerox, máquina fotográfica, bebedouro e geladeira. Todos esses recursos estão em ótimo estado de conservação, sendo utilizados diariamente na instituição, os quais são considerados suficientes para atender a demanda da clientela. Com relação ao acervo bibliográfico e recursos didáticos, a instituição apresenta quantidade e qualidade suficiente para suprir as necessidades dos educadores e educandos no processo de ensino aprendizagem. O Projeto Político Pedagógico desenvolvido pela escola visa ao envolvimento de toda comunidade escolar: gestores, coordenadores, professores e família, de maneira que todos colaborem para o bom desenvolvimento do plano em ação. A escola também trabalha com uma corrente filosófica que favorece o método de projetos denominado crítico social dos conteúdos, propagando a ideia de que os conteúdos vistos não podem limitar-se a atender um currículo estático e pré- determinado, mas que estes conteúdos precisam ter significado para a vida do 38 discente, estando de acordo com a sua realidade e necessidade, colaborando para a formação de um cidadão crítico e atuante. Ainda apresenta um quadro completo de funcionários composto por: (professores, auxiliares de secretaria, auxiliares de serviços gerais), além de uma equipe pedagógica formada por gestor, coordenador e supervisor. Analisados os diversos aspectos inerentes à caracterização da escola, passou-se então a trabalhar a implementação do trabalho de Intervenção Socioescolar, que consistiu na realização de um fórum de discussão envolvendo os pais e/ou responsáveis, professores e gestores da referida instituição de ensino, tendo como objetivo contribuir para o desenvolvimento educacional, através da conscientização e incentivo à construção e/ou aperfeiçoamento da relação entre família e escola. A escolha da temática, objeto da intervenção, deu-se principalmente por se observar a dificuldade relatada por muitos educadores com relação ao desinteresse de muitos pais no acompanhamento da vida escolar dos filhos, o que pode influenciar negativamente para o aprendizado do aluno. Portanto, desenvolver atividades que visem aproximar as famílias da escola serão de suma importância. Na mesma direção Tiba (2012, p. 186), afirma: as famílias só mudam quando atingidas por algum evento muito forte. Por estar por dentro dos avanços culturais, a escola deve orientar os pais com leituras adequadas, esclarecimentos e palestras. Os pais precisam dessa orientação e inclusão. Em síntese, quando se analisa o pensamento expresso pelo referido autor, pode-se concluir que cabe à escola desenvolver ações que possam despertar o interesse das famílias em participar, de modo efetivo, da vida escolar do aluno. 4.2 METODOLOGIA DE TRABALHO No contexto escolar, o processo de ensino e aprendizagem, muitas vezes é interpretado de maneira muito restrita, pois muitos acreditam que a responsabilidade do ensinar e do aprender se limita apenas ao professor e ao aluno, sendo que, na realidade, este processo é muito mais complexo e abrangente e, para alcançar os seus objetivos, se faz necessário o envolvimento de vários seguimentos, em 39 especial a interação entre família e escola, através de uma efetiva participação dos pais no acompanhamento escolar dos filhos, o que nem sempre acontece de forma satisfatória. De acordo com Oliveira (2008, p. 9), “quando se encontra o equilíbrio na integração escola/família, formam-se cidadãos para a vida”. Outros teóricos enfocam que, embora essencial, essa relação nem sempre se desenvolve de maneira eficiente, tendo em vista a má percepção, tanto de educadores quanto das famílias, nas responsabilidades assumidas. Segundo Bhering (2003), quanto à função de cada um, (pais e professores), embora apresentem preocupações comuns, como o bom desempenho escolar das crianças, pais e professores acreditam ter tarefas diferentes e mostram-se relutantes em fazer aquilo que consideram ser tarefa do outro. Frente a essa realidade, o que fazer para aproximar os pais da escola? A participação da família constitui uma forma significativa de colaboração. Ao promover maior aproximação destas na vida escolar da criança, propicia-se a interação necessária ao bom desenvolvimento do aluno, contribuindo para superação do déficit de aprendizagem e diminuição da evasão escolar. Contudo, para que essa aproximação seja efetivada de maneira eficiente, é preciso que a escola faça a sua parte, buscando essa aproximação com uma proposta pedagógica que envolva não só o aluno como também suas famílias. Por isso, para um melhor entendimento da comunidade escolar sobre a “importância da participação da família na escola”, é importante que se busque métodos queauxiliem não apenas a realização do trabalho, mas principalmente que sejam ferramentas capazes de contribuir para alcance dos objetivos propostos. Assim, buscando o melhor aproveitamento possível por parte dos participantes, na realização do fórum de discussão utilizaram-se recursos audiovisuais e de multimídia, haja vista serem tecnologias que apresentam resultados significativos, principalmente quando considerado o tipo de ação a qual foi desenvolvida. Nesse sentido, a metodologia empregada envolveu a exposição de material teórico, ilustrações relacionadas e palestras ministradas por profissionais especialistas: 01 (uma) psicóloga, 01 (uma) assistente social, que possibilitaram a interação entre os participantes, despertando interesse e fomentando o debate. 40 4.3 RECURSOS DIDÁTICOS UTILIZADOS Os recursos didáticos podem ser compreendidos como conjunto de materiais que podem ser utilizados de forma simultânea ou não, cujo fim é auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. São classificados como: recursos naturais, pedagógicos, culturais, dentre outros. Também podem ser classificados como audiovisuais, tecnologias independentes e dependentes. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), material didático é um instrumento de trabalho. Na sala de aula, informa, cria, induz à reflexão, desperta outros interesses, motiva, sintetiza conhecimentos e propicia vivências culturais. Sua aplicabilidade só enriquece a prática docente. Nesse contexto, Souza, (2007 p. 111) afirma que “recurso didático é todo material utilizado como auxílio no ensino-aprendizagem do conteúdo proposto para ser aplicado pelo professor a seus alunos”. Historicamente, a evolução dos recursos, como propõe, Wilbur Schramm (2004), passa por quatro gerações. Primeira geração: explicação no quadro, mapas). Segunda geração: manuais, livros, textos impressos. Terceira geração: gravações, fotografias, filmes, fixos, rádio, televisão. Quarta geração: laboratórios linguísticos, instrução programada, emprego de computadores. Os recursos didáticos dividem-se em: recursos visuais, recursos auditivos, sendo que escolha e aplicabilidade de cada um deles deve estar relacionada diretamente com o trabalho a ser desenvolvido e aos objetivos almejados, configurando-se de suma importância para o bom desenvolvimento das atividades propostas, pois a partir desses recursos são colocados em prática projetos previamente elaborados. Levando em consideração os objetivos e as peculiaridades envolvidas na realização da Intervenção, optou-se porutilizar os seguintes materiais: Data show; Frases reflexivas; Lápis; Papel; Cartolina; Notebook. 41 4.4 AVALIAÇÃO A avaliação constitui-se parte importante do trabalho desenvolvido, pois, como sabido, é através dela que se pode concluir se os objetivos almejados através da implementação do projeto foram alcançados ou não, em que grau isso ocorreu, se de maneira parcial ou total. Essas informações serão consideradas o resultado prático de todo um projeto teórico apresentado e, consequentemente, fornecerão base de sustentação para apresentar uma conclusão sobre a pesquisa ou estudo levantado. Conforme define Luckesi (1996, p. 33), “é como um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão". Ou seja, ela implica um juízo valorativo que expressa qualidade do objeto, obrigando, consequentemente, a um posicionamento efetivo sobre o mesmo. No mesmo sentido, Demo (1996, apud, GONÇALVES; AZEVEDO), destaca: refletir é também avaliar, e avaliar é também planejar, estabelecer objetivos etc. Daí os critérios de avaliação, que condicionam que seus resultados estejam sempre subordinados a finalidades e objetivos previamente estabelecidos para qualquer prática, seja ela educativa, social, política ou outra. Considerando todo o contexto no qual a Intervenção Socioescolar foi desenvolvida, a avaliação constou da aplicação de questionários previamente elaborados, contendo 10 (dez) questões fechadas, que foram respondidas por professores, gestores da escola e pais e/ou responsáveis ali presentes. Esses questionários contemplaram questões pertinentes a toda temática apresentada e discutida no decorrer do trabalho, o que possibilitou a obtenção de informações relativas ao contexto vivenciado pelas partes, aproveitamento do trabalho desenvolvido, assimilação dos conteúdos ministrados, impactos gerados e sua contribuição no âmbito do desenvolvimento escolar e social da comunidade. Participaram da avaliação um total de 100 integrantes da comunidade escolar, dos quais 85 (oitenta e cinco) foram pais e/ou responsáveis e 15 (quinze) entre professores e gestores da escola. Depois de analisados os resultados colhidos conforme constam no (gráfico 03), ficou demonstrado que tanto educadores quanto os pais e/ou responsáveis são unânimes ao afirmarem que a participação da família 42 é de fundamental importância para o desenvolvimento escolar do aluno. Veja-se o gráfico 03: GRÁFICO:03 Conforme denotam os números, pode-se entender que existe um pensamento comum entre família e escola, o que em tese remeteria a uma participação efetiva de todas as famílias no acompanhamento escolar dos alunos. No entanto, quando se observam outros dados resultantes sobre a questão, verifica- se um posicionamento diferente, tanto dos pais quanto dos educadores, apontando que na realidade essa participação precisa ser aprimorada. Nesse sentido, quando perguntados se existe omissão por parte da família quanto ao acompanhamento escolar do aluno, todos os educadores responderam que (SIM), resposta seguida pela grande maioria dos pais e/ou responsáveis, conforme demonstra o gráfico 04: PROFESSORES E GESTORES PAIS E/OU RESPONSÁVEIS SIM 15 85 NÃO 0 0 15 85 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 TO TA L D E P A R TI C IP A N TE S A COOPERAÇÃO DA FAMÍLIA É FUNDAMENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA? 43 GRÁFICO: 04 Como visto, apenas uma pequena parcela dos participantes notadamente restrita aos pais e/ou responsáveis considera não haver omissão por parte das famílias no acompanhamento escolar dos filhos; portanto, comparando as respostas dos quesitos (importância da família para o desenvolvimento escolar do aluno) e se (existe omissão por parte dos pais no acompanhamento escolar dos filhos), pode-se concluir que, embora todos os participantes sejam conscientes das suas responsabilidades frente aos desafios da educação, a grande maioria concorda que muitos pais não cumprem com seu papel na educação escolar dos filhos. Outro dado relevante diz respeito ao quesito (continuidade em casa do trabalho desenvolvido em sala de aula), se a maioria dos pais colabora com os professores incentivando seus filhos e auxiliando-os com tarefas escolares. Confrontando os números, vê-se certa divergência frente ao posicionamento adotado pelos educadores e os pais e/ou responsáveis. Observe-se o gráfico 05: PROFESSORES E GESTORES PAIS E/OU RESPONSÁVEIS SIM 15 73 NÃO 0 12 15 73 0 12 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 TO TA L D E P A R TI C IP A N TE S EXISTE OMISSÃO POR PARTE DAS FAMÍLIAS NO ACOMPANHAMENTO ESCOLAR DOS FILHOS? 44 GRÁFICO: 05 Os números expostos no (gráfico 05) aparentam estar na contramão daqueles trazidos no (gráfico 04), pois enquanto naquele a grande maioria dos questionados concordam existir omissão por parte das famílias no acompanhamento escolar dos filhos, neste as respostas parecem convergir na maior parte, em sentido contrário. Entretanto,
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