Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADES BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP3: “ DOR QUE NÃO PARA ” Edson Alfonso Junior Fernanda Oliveira Carrijo Flávia de Melo Carvalho Isadora Fernandes Andrade Lavínia de Souza Teles Letícia Queiroz Faria Martins da Silva Lucas Ferreira Oliveira Marcelo Paiva Silva Marcos Coelho de Oliveira Maria Fernanda Atavila Nogueira Matheus de Moraes Cestari Mila Alves Souza Nicole Cerveny Lima Palloma Loyanne Pereira Santana MINEIROS/GO 2021 OBJETIVO GERAL: Compreender a fibromialgia e síndrome miofascial OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Conceituar fibromialgia e síndrome miofascial. 2. Identificar as características propedêuticas da dor (tipo, intensidade, origem, frequência, qualidade, irradiação e referência, fatores de alívio, piora e concomitantes). 3. Caracterizar a dor profunda (músculo, articulações e fáscias). 4. Descrever a ação farmacológica e a classificação geral dos antinflamatórios não esteroidais (AINES). 5. Descrever a ação farmacológica dos anestésicos locais, as indicações e contraindicações 6. Justificar farmacologicamente o uso de antidepressivos para o tratamento da dor 7. Elaborar um planejamento terapêutico global para o paciente com fibromialgia. 8. Descrever as indicações e vias de infiltração articular. 9. Descrever a ação de medicação tópica para dor crônica. 10. Caracterizar a importância da abordagem integral, multidisciplinar e multiprofissional no tratamento da dor crónica no SUS. INTRODUÇÃO Neste relatório será discutido o que é a dor profunda e sobre as Síndromes Miofascial e Fibromialgia que ambas são consideradas dores crônicas. A fibromialgia tem características marcantes de dor generalizada, pontos dolorosos, distúrbios do sono e fadiga extrema. A dor é percebida na musculatura e está relacionada com a sensibilização das vias de transmissão da dor no sistema nervoso central, mesmo sua patogenia não estando muito definida. O elemento mais importante para o diagnóstico de SFM é a dor musculoesquelética crônica generalizada de origem desconhecida, que provoca limitação funcional ou angústia. A dor deve ser relatada em todos os quatro quadrantes do corpo e na região lombar (VON ROENN; PAICE; PREODOR, 2008). Já a síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma condição de dor que atinge o músculo, fáscias e junções ligamentares, acomete principalmente região cervical, cintura escapular e lombar. A SDM é caracterizada por pontos de irritabilidade no músculo conhecido como pontos de gatilho (PG), o PG em repouso causa dor espontânea e quando provocados causam dor referida (NETO, 2009). Diante disso é necessário ser analisado sistematicamente em qualquer paciente, as características semiológicas da dor, como: localização, irradiação, qualidade ou caráter, duração, evolução, intensidade, relação com funções orgânicas, fatores de melhora e piora fatores desencadeantes e manifestações concomitantes e as diferenças das propedêuticas tanto da fibromialgia como da síndrome miofascial (PORTO, 2017). Como tratamentos para essas duas síndromes serão abordadas a questão dos anti-inflamatórios não esteroides (AINES), antidepressivos e dos anestésicos na ajuda de combater essas dores intensas, descrevendo seus mecanismos de ação, também será abortada a questão de infiltrações com suas principais indicações e os tratamentos não farmacológicos para a fibromialgia (BATLOUNI, 2010; MORENO, 2016; NETO, 2009). Para a finalização do conteúdo será discutida a participação do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua equipe multidisciplinar para o tratamento dessas dores crônicas, além dos medicamentos e apoio oferecido aos pacientes. 1. Conceituar fibromialgia e síndrome miofascial. A síndrome da fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Junto com a dor, a fibromialgia cursa com sintomas de fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas como alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Uma característica da pessoa com FM é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura pelo examinador ou por outras pessoas. ( TEIXEIRA, 2009 )A fibromialgia é um problema bastante comum, visto em pelo menos em 5% dos pacientes que vão a um consultório de Clínica Médica e em 10 a 15% dos pacientes que vão a um consultório de Reumatologia. ( TEIXEIRA, 2009 ) De cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão porque isto acontece. Não parece haver uma relação com hormônios, pois a fibromialgia afeta as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa. Talvez os critérios utilizados hoje no diagnóstico da FM tendam a incluir mais mulheres. A idade de aparecimento da fibromialgia é geralmente entre os 30 e 60 anos. Porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes. ( TEIXEIRA, 2009 ). O diagnóstico da fibromialgia é clínico, isto é, não se necessitam de exames para comprovar que ela está presente. Se o médico fizer uma boa entrevista clínica, pode fazer o diagnóstico de fibromialgia na primeira consulta e descartar outros problemas. ( TEIXEIRA, 2009 ) Na reumatologia, são comumente usados critérios diagnósticos para se definir se o paciente tem uma doença reumática ou outra. Isto é importante especialmente quando se faz uma pesquisa, para se garantir que todos os pacientes apresentem o mesmo diagnóstico. Muitas vezes, entretanto, estes critérios são utilizados também na prática médica. ( TEIXEIRA, 2009 ) Os critérios de diagnóstico da fibromialgia são: a) dor por mais de três meses em todo o corpo; b) presença de pontos dolorosos na musculatura (11 pontos, de 18 que estão pré- estabelecidos). Deve-se salientar que muitas vezes, mesmo que os pacientes não apresentem todos os pontos, o diagnóstico de FM é feito e o tratamento iniciado. ( TEIXEIRA, 2009 ).Estes critérios são alvo de inúmeras críticas – como dissemos anteriormente, quanto mais pontos se exigem, mais mulheres e menos homens recebem o diagnóstico. Além disso, esses critérios não avaliam sintomas importantes na FM, como a alteração do sono e fadiga. ( TEIXEIRA, 2009 ). Provavelmente o médico pedirá alguns exames de sangue, não para comprovar a fibromialgia, mas para afastar outros problemas que possam simular esta síndrome. O DIAGNÓSTICO DE FIBROMIALGIA É CLÍNICO, NÃO HAVENDO EXAMES QUE O COMPROVEM. ( TEIXEIRA, 2009 ) O sintoma mais importante da fibromialgia é a dor difusa pelo corpo. Habitualmente, o paciente tem dificuldade de definir quando começou a dor, se ela começou de maneira localizada que depois se generalizou ou que já começou no corpo todo. O paciente sente mais dor no final do dia, mas pode haver também pela manhã. A dor é sentida “nos ossos” ou “na carne” ou ao redor das articulações. ( TEIXEIRA, 2009 ). Existe uma maior sensibilidade ao toque, sendo que muitos pacientes não toleram ser “agarrados” ou mesmo abraçados. Não há inchaço das articulações na FM, pois não há inflamação nas articulações. A sensação de inchaço pode aparecer pela contração da musculatura em resposta à dor. ( TEIXEIRA, 2009 ). A alteração do sono na fibromialgia é frequente, afetando quase 95% dos pacientes. No início da década de 80, descobriu-se que pacientes com fibromialgia apresentam um defeito típico no sono – uma dificuldade de manter um sono profundo. O sono tende a ser superficial e/ou interrompido. ( TEIXEIRA, 2009 ). Sindrome dolorosa miofascial Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM) é uma condição musculoesquelética caracterizada por dor local e referida percebida como profunda e dolorida, e pela presença de pontos-gatilho em qualquer região do organismo.( TEIXEIRA, 2009 ) A dor musculoesquelética é um evento comum na população geral e, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, representa, neste início de século, o principal motivo da procura por atendimento médico pela população mundial. Pode ser aguda ou crônica (definida como aquela de duração maior do que 3 a 6 meses), regional (localizada) ou disseminada (caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo). ( TEIXEIRA, 2009 ) O termo dor miofascial é utilizado para descrever uma condição clínica específica de dor muscular regional, muito frequentemente associada à presença de um ou mais pontos dolorosos, que nessas circunstâncias são denominados pontos-gatilho. A dor é profunda e mal localizada, e não está aparente o diagnóstico de um reumatismo de partes moles, como uma tendinite ou bursite, ou qualquer outra causa identificável de dor. Podem vir associados fenômenos motores, sensoriais ou autonômicos, justificando-se, desta maneira, a designação de síndrome miofascial. ( TEIXEIRA, 2009 ) É a causa mais frequente de dor musculoesquelética, devendo sempre ser pesquisada a sua presença na avaliação das dores regionais orofaciais (cefaleias tensionais, dor temporo- mandibular), cervicais, dorsais e lombares, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida. É mais comum em indivíduos do sexo feminino, de meia-idade e com hábitos sedentários. Pode, no entanto, ocorrer em qualquer idade, apresentando uma maior prevalência do sexo masculino quando presente em idade mais avançada. ( TEIXEIRA, 2009 ) Poucos estudos epidemiológicos têm investigado a prevalência ou incidência de pontos de gatilho na SDM. Um estudo encontrou pontos-gatilho em 30 % dos pacientes que consultaram o atendimento primário por causa da dor e um segundo estudo relatou pontos de gatilho em 85 % dos pacientes que visitaram o atendimento terciário por queixas dolorosas. ( TEIXEIRA, 2009 ) Pesquisas tem demonstrado que os pontos-gatilho estão associados a outras condições dolorosas, incluindo enxaqueca, cefaleia tensional, disfunções da articulação têmporo- mandibular, cervicalgias, dores em ombros, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, lombalgias, dores pélvicas e lesões pós-traumáticas ( TEIXEIRA, 2009 ). 2. Identificar as características propedêuticas da dor (tipo, intensidade, origem, frequência, qualidade, irradiação e referência, fatores de alívio, piora e concomitantes). Tipo → Considerando-se o seu sítio de origem, a dor pode ser classificada em: somática (superficial e profunda), visceral e irradiada. Dor somática superficial: É a forma de dor nociceptiva decorrente da estimulação de nociceptores do tegumento. Tende a ser bem localizada e se apresentar de maneira bem distinta (picada, pontada, rasgando, queimor), de acordo com o estímulo aplicado (PORTO; VILELA FILHO; CARNEIRO, 2014). Dor somática profunda: É a modalidade de dor nociceptiva consequente à ativação de nociceptores dos músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulações. Suas principais causas são: estiramento muscular, contração muscular isquêmica (exercício exaustivo prolongado), contusão, ruptura tendinosa e ligamentar, síndrome miofascial, artrite e artrose. Dor visceral: É a dor nociceptiva decorrente da estimulação dos nociceptores viscerais. É profunda, e tem características similares às da dor somática profunda, ou seja, é difusa, de difícil localização e descrita como um dolorimento ou uma dor surda, vaga, contínua, profunda, que tende a acentuar-se com a solicitação funcional do órgão acometido. Tais características se devem às peculiaridades da inervação nociceptiva visceral. Ela tende a se localizar próximo ao órgão que a origina. Dor referida: Pode ser definida como uma sensação dolorosa superficial, que está distante da estrutura profunda (visceral ou somática) cuja estimulação nóxica é a responsável pela dor. Obedece à distribuição metamérica. A explicação mais aceita para esse fenômeno é a convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais e profundos para neurônios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinal (sobretudo na lâmina V). Dor irradiada: Caracteriza-se por ser sentida a distância de sua origem, porém ocorre obrigatoriamente em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela dor. Um exemplo clássico é a ciatalgia, provocada pela compressão de uma raiz nervosa por uma hérnia de disco lombar. Dor aguda e crônica: Em conformidade com sua distribuição temporal, a dor pode ser classificada em aguda ou crônica. A dor aguda é uma importantíssima modalidade sensorial, desempenhando, entre outros, o papel de alerta, comunicando ao cérebro que algo está errado. Acompanha-se de manifestações neurovegetativas e desaparece com a remoção do fator causal e resolução do processo patológico. A dor crônica é a que persiste por um período superior ao necessário para a cura de um processo mórbido ou que está associada a afecções crônicas (câncer, artrite reumatoide, alterações degenerativas da coluna), ou, ainda, a que decorre de lesão do sistema nervoso. (PORTO; VILELA FILHO; CARNEIRO, 2014) Intensidade → É um componente extremamente relevante da dor, aliás é o que apresenta maior importância para o paciente. Resulta da interpretação global dos seus aspectos sensoriais, emocionais e culturais. Sua magnitude é o principal determinante do esquema terapêutico a ser instituído ou modificado. Por se tratar de uma experiência basicamente subjetiva, é fundamental que sua quantificação se baseie em critérios bastante rígidos, para que possamos minimizar os erros em sua avaliação. Atualmente, prefere-se, para o adulto, a utilização de uma escala analógica visual para avaliar a intensidade da dor, a qual consiste em uma linha reta com um comprimento de 10 centímetros, tendo em seus extremos as designações sem dor e pior dor possível. É pedido que o paciente indique a intensidade da dor em algum ponto dessa linha. O resultado é descrito pelo examinador como intensidade "x" em uma escala de zero a dez, é possível utilizar as escalas de representação gráfica não numérica, como a de expressões faciais de sofrimento: sem dor, dor leve, dor moderada e dor intensa. Se o paciente tem dificuldade em definir "pior dor possível': sugerimos que a compare com a dor mais intensa por ele experimentada. (PORTO; VILELA FILHO; CARNEIRO, 2014) Irradiação→ A dor pode ser localizada, irradiada (segue o trajeto de uma raiz nervosa ou nervo conhecido) ou referida. O reconhecimento da localização inicial da dor e de sua irradiação pode indicar a estrutura nervosa comprometida. Qualidade ou caráter→ Para que seja definida a qualidade ou o caráter da dor, o paciente é solicitado a descrevê-la ou dizer que tipo de sensação e emoção ela lhe traz. Primeiramente, deve-se definir se esta é espontânea e/ou evocada. Dor evocada é aquela que ocorre apenas mediante algum tipo de provocação. São exemplos a alodínia e a hiperpatia, presentes na dor neuropática, e a hiperalgesia primária e secundária, presentes na dor nociceptiva. A dor espontânea, por sua vez, pode ser constante ou intermitente. Dor constante é aquela que ocorre continuamente, podendo variar de intensidade, sem nunca desaparecer completamente. O indivíduo dorme e acorda com dor. Quando é neuropática, a dor constante é mais comumente descrita como em queimação ou dormência, formigamento (disestesia). Quando é nociceptiva, são utilizados diversos termos para qualificá-la. A dor intermitente é aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração bastante variáveis. É em geral descrita como dor em choque, aguda, pontada, facada, fisgada. Deve ser diferenciada das exacerbações da dor constante. O caráter da dor ajuda a definir o processo patológico subjacente. Assim: dor latejante ou pulsátil ocorre na enxaqueca,abscesso e odontalgia; em choque, na neuralgia do trigêmeo, na lombociatalgia, na cervicobraquialgia e na dor neuropática (componente intermitente); em cólica ou em torcedura, na cólica nefrética, biliar, intestinal ou menstrual; em queimação, se visceral, na úlcera péptica e esofagite de refluxo e, se superficial, na dor neuropática (constante); constritiva ou em aperto, na angina do peito e infarto do miocárdio; em pontada, nos processos pleurais; dor surda, nas doenças de vísceras maciças; dor "doída" ou dolorimento, ocorre mais comumente nas doenças das vísceras maciças e musculares, como a lombalgia, e também na dor neuropática (constante); e em cãibra, em afecções medulares, musculares e metabólicas. Fatores desencadeantes ou agravantes→ São os fatores que desencadeiam a dor, em sua ausência, ou que a agravam, se estiverem presentes. Devem ser procurados ativamente, pois, além de nos ajudarem a esclarecer a enfermidade subjacente, seu afastamento constitui parte importante da terapêutica a ser instituída. Fatores atenuantes → São aqueles que aliviam a dor, como algumas funções orgânicas, posturas ou atitudes que resguardam a estrutura ou órgão onde esta é originada (atitudes antálgicas), distração, ambientes apropriados, medicamentos (analgésicos opioides e não opioides, anti-inflamatórios hormonais e não hormonais, relaxantes musculares, antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, anestésicos locais), fisioterapia, acupuntura, bloqueios anestésicos e procedimentos cirúrgicos. (PORTO; VILELA FILHO; CARNEIRO, 2014) Manifestações concomitantes → A dor aguda, nociceptiva, sobretudo quando intensa, costuma acompanhar-se de manifestações neurovegetativas, que se devem à estimulação do sistema nervoso autônomo pelos impulsos dolorosos, incluindo sudorese, palidez. taquicardia, hipertensão arterial, mal-estar, náuseas e vômitos. Tais características não têm qualquer valor para o diagnóstico etiológico da dor.(PORTO; VILELA FILHO; CARNEIRO, 2014) 3. Caracterizar a dor profunda (músculo, articulações e fáscias). A princípio, sabe-se que a dor somática profunda tem origem em estruturas corporais profundas, como periósteo, músculos, tendões, articulações e vasos sanguíneos. É um tipo de dor mais difusa do que a dor cutânea e, pode ser estimulada a partir de forte pressão exercida sobre osso, isquemia em um músculo e lesão tecidual. Esse é o tipo de dor que uma pessoa enfrenta quando torce o tornozelo. Além disso, pode ocorrer irradiação da dor a partir do local original de lesão (PORTH; MATFIN, 2010). Em geral, a dor somática profunda originada em estruturas profundas é caracterizada por ser uma dor difusa e mal localizada. Entretanto, é possível que a dor somática profunda se localize bem, quando tem sua origem em tecidos situados próximo da superfície do corpo, por exemplo, nos tendões ou aponeuroses superficiais, no periósteo de ossos imediatamente sob a pele, nas paredes das cavidades abdominal e torácica (COVIAN, 1965). Por fim, os seguimentos profundos, assim como as vísceras, têm uma representação cortical muito menos extensa do que os receptores exteroceptivos e os impulsos aferentes normalmente não chegam a ser conscientes. O que justifica o fato de que as sensações profundas não possuem um sinal local preciso e são referidas sob forma difusa (COVIAN, 1965). 4. Descrever a ação farmacológica e a classificação geral dos antinflamatórios não esteroidais (AINES). Anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) são medicamentos analgésicos simples, que, junto com o paracetamol, compõem o 1º degrau da escada de dor da Organização Mundial da Saúde. São usados por milhões de pessoas no mundo todo para tratar uma ampla gama de transtornos de dor aguda e crônica. No período perioperatório, eles são medicamentos úteis para se tratar dor leve a moderada e para reduzir o consumo de opioides e seus efeitos colaterais. Também são usados por seus efeitos anti-inflamatórios e antipiréticos. (BRASIL, 2019) As indicações para AINEs incluem as seguintes: Condições inflamatórias; Doença crônica das articulações; Dor musculoesquelética; Cefaleia; Dor menstrual; Dor de dente; Dor pós- operatória leve a moderada. (BRASIL, 2019) Mecanismo de ação: Os AINEs funcionam por meio da inibição da função da enzima ciclo-oxigenase (COX) e, assim, reduzem a produção de prostaglandinas. Lembrando que, a aspirina é um inibidor irreversível da COX, os AINEs restantes funcionam de maneira reversível. (BRASIL, 2019). Fosfolipídios de membrana são inicialmente convertidos em ácido araquidônico pela fosfolipase A2 , como resultado de inflamação e dano tecidual. O ácido araquidônico é então convertido em prostaglandinas através da via da COX ou alternativamente convertido em leucotrienos pela enzima lipoxigenase. O tipo de prostaglandina produzida depende do tecido específico. (BRASIL, 2019) A COX existe em 3 isoformas: COX-1, COX-2, e COX-3. Acredita-se que a COX-1, a chamada forma constitutiva, esteja presente em tecidos normais e é responsável pela produção de prostaglandinas, que são vitais para processos fisiológicos normais, como a manutenção do fluxo sanguíneo renal, a proteção da mucosa gástrica e a adesividade das plaquetas. A COX-2 está ausente na maioria dos tecidos, exceto por no cérebro, útero, rins e próstata. É induzível e os níveis são supra regulados por dano e lesão tecidual. A produção da prostaglandina E2 e prostaglandina F2a resulta em sensibilização de fibras nervosas nociceptivas a estímulos dolorosos após lesão tecidual. Os AINEs causam uma redução em sua síntese e, portanto, promovem analgesia. A COX-3 é encontrada dentro do sistema nervoso central, e acredita-se que seja o local de ação do paracetamol; a natureza exata da isoenzima não está clara atualmente. (BRASIL, 2019) Classificação Os AINE constituem uma extensa classe de compostos heterogêneos com estruturas químicas variantes, podendo ser distribuídos em classes, de acordo com seu grupo químico. Admite- se que as diferenças na ação primária entre fármacos estejam na distribuição em subclasses de acordo com sua seletividade. (SILVA, 2014) Os tradicionais AINE inibem as mesmas enzimas de forma reversível e não- seletiva. No entanto, existem fármacos que acetilam as isoenzimas (COX-1 e COX-2) de forma irreversível. Sabe-se que as ações anti-inflamatória, antipirética e analgésica decorrem da inibição sobre a COX- 2, enquanto os efeitos indesejáveis são resultantes da inibição da COX-1. Seus principais efeitos colaterais são gastrite, disfunção plaquetária, comprometimento renal e broncoespasmo. (SILVA, 2014) A introdução dos inibidores seletivos da COX-2 na prática clínica visa manter a eficácia anti-inflamatória sem os efeitos gastrintestinais indesejáveis. Hoje se dispõe de alguns inibidores seletivos da COX-2, por exemplo, os coxibes, que se ligam seletivamente ao local ativo da enzima COX-2 e a bloqueia com mais eficácia que a COX-1. Nota-se que essa subclasse tem efeito analgésico e anti-inflamatório semelhante aos demais AINE, estando em primeira escolha para o tratamento de idosos e pacientes predispostos a ulceração e sangramento digestivo. Todavia estudos sugerem toxicidade associado ao seu uso. (SILVA, 2014) 5. Descrever a ação farmacológica dos anestésicos locais, as indicações e contraindicações Eles são capazes de bloquear de forma reversível a transmissão do estímulo nervoso local onde for aplicado, sem ocasionar alterações no nível de consciência. Os anestésicos locais possuem um grupo aromático lipossolúvel, hidrofóbico associado a uma amina. Esses dois grupos são ligados por uma cadeia intermediária que determina a classificação do anestésico local como amida ou éster. O mecanismo de ação está no bloqueio dos canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizadado anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular, porém, a ligação ocorre em meio intracelular sendo necessário que o anestésico ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielinizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielinizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus músculo esquelético. As indicações do uso de anestésico local são em relação a infiltração próximo aos nervos a serem bloqueados, bloqueio local e bloqueio regional. Essa droga injetada terá parte absorvida para a circulação sistêmica, sendo essa parte dependente do fluxo sanguíneo no tecido, seus efeitos e seus aditivos. Sua contraindicação está relacionada a efeitos alergênicos, pacientes que possuem insuficiência cardíaca ou hepática, hipovolemia, hipotiroidismo e distúrbios de condução. 6. Justificar farmacologicamente o uso de antidepressivos para o tratamento da dor A amitriptilina é considerada o padrão-ouro dos analgésicos antidepressivos. Isto não significa que os outros antidepressivos, tricíclicos e não tricíclicos, sejam menos eficazes, mas que a maioria das evidências clínicas disponíveis são em relação à amitriptilina. Vale ressaltar, que os custos do tratamento são muito menores com o uso dos ADTs, como a amitriptilina, em comparação com antidepressivos com ação mais seletiva e apresentam maior número de estudos e evidências científicas comprovando sua eficácia na farmacoterapia da dor neuropática. O mecanismo de ação principal dos ADTs nos transtornos do humor é o bloqueio da recaptação de serotonina e noradrenalina na fenda sináptica. Porém, até o momento, não há comprovação dos reais mecanismos neurobiológicos envolvidos nas condições de dor neuropática. No entanto, acredita-se que sua ação sobre as monoaminas (serotonina e noradrenalina) permite a interação das mesmas sobre os seus respectivos receptores localizados nos interneurônios inibitórios do corno dorsal da medula, intensificando o número de sinapses, o que leva ao consequente aumento do limiar de ativação dos neurônios secundários da via nociceptiva. Assim, a condução da dor ao talámo torna-se prejudicada e o resultado disso é uma resposta menor a esta condição. Outra ação dos ADTs é o antagonismo de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA é acoplado a canal de sódio), canais de sódio e canais de cálcio voltagem dependente (Sindrup et al.,2005). Tal ação representa mais um aspecto que pode estar relacionado ao papel desses agentes na analgesia da dor neuropática (Verdu et al., 2008), já que a inibição destes canais pode diminuir impulsos nervosos, levar a hiperpolarização dos neurônios envolvidos na dor, inibir a exocitose de substâncias estimulatórias da resposta à dor (i.e., glutamato e substância P), dentre outras ações indiretas a este bloqueio. Como já é conhecido, a noradrenalina e a serotonina, apesar de atuarem como substâncias inibitórias da via nociceptiva em nível central, através da sua modulação pelo locus ceruleus e núcleo magno da rafe, respectivamente; em nível periférico, tais neurotransmissores apresentam ação álgica. Como os ADTs são capazes de bloquear os receptores noradrenérgicos e serotoninérgicos neste nível, estes fármacos podem contribuir também para analgesia periférica. Além deste fato, estudos relatam um aumento da transmissão periférica de adenosina com a administração de ADTs. A maior concentração extracelular de adenosina nas fendas sinápticas parece contribuir para analgesia periférica (Micó et al. 2006), sendo mais um mecanismo envolvido na via nociceptiva. 7. Elaborar um planejamento terapêutico global para o paciente com fibromialgia. A fibromialgia por se apresentar uma síndrome relativamente recente, apresenta um estudo insuficiente para sua total compreensão, portanto o tratamento em questão é dinâmico e individual. Esta disfunção no SNC em maioria dos casos é tratada com fármacos que apresentam supressão da dor, sejam eles de várias classes e de efeitos diversos, outra parte faz associação da farmacologia com atividades psíquicas (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Os antidepressivos são os fármacos mais utilizados para o controle da dor na fibromialgia, a amitriptilina é a mais conhecida, portanto traz consigo efeitos adversos como: ganho de peso, sonolência e alteração de consciência, seu uso é recomendado em doses abaixo de 50mg/dia. A ciclobenzaprina também é utilizada, porem apresenta a mesmo impasse nos efeitos adversos. Ambos os medicamentos inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina. É recomendado também inibidores duais como a duloxetina, pois estas atuam da mesma forma e possuem menos efeitos adversos (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Na classe dos anticonvulsivantes, a pregabalina e gabapentina também são utilizados na fibromialgia (FM). A pregabalina portanto, apresenta maior eficácia quanto a sua supressão da dor e menores efeitos colaterais (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Opioides no geral não apresentam um bom funcionamento em pacientes com FM. Por outro lado, o uso de antagonistas de receptores opioides causou extrema melhora na dor embora não tenha atingido efeito na fadiga e distúrbios do sono. O fármaco em questão é a naltrexona em dosagem de 4,5mg/dia. Agonistas MU e fármacos que inibem recaptação de aminas também possuem grande eficácia na dor, estes fármacos são opioides fracos, como por exemplo o tramadol (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Canabinóides também são fármacos utilizados no tratamento da FM por apresentar grande influência na parte psíquica como depressão e ansiedade. São fármacos canabinóides: nabilona e dronabinol, atuam aliviando a dor e reduzindo níveis de depressão e ansiedade (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Antagonistas de receptores NMDA como a memantina mostraram eficácia significativa na redução da dor, por outro lado, não houve melhora no estado cognitivo e depressão. Embora estes fármacos proporcionem redução significativa da dor na FM, é recomendado a apenas uma parte dos portadores de FM, pois seus efeitos adversos podem causar alteração na função fisiológica de receptores NMDA (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Tratamentos não farmacológicos também são muito utilizados na FM, visto que a FM é correlacionada a fatores psicológicos e sociológicos. A sensação de bem-estar é de suma importância para o tratamento da FM, pois esta efetiva liberação de neurotransmissores que atuam na analgesia da dor e no controle da depressão e ansiedade. A acupuntura é o tratamento para diversas dores crônicas, portanto recomendada na FM, seus efeitos fisiológicos atuam no aumento da adenosina gerando analgesia, reduz inflamação, ansiedade e estimula liberação de opioides endógenos (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Entre outras psicoterapias está o biofeedback, que é a estimulação do estado de bem-estar psicológico e associação com o estado físico do paciente (JÚNIOR; ALMEIDA, 2018). Terapias cognitivo-comportamentais (TCC) também são muito implantadas em pacientes com FM. Esta terapia atua na modulação de atividades psíquicas, trabalhando o comportamento do paciente, lhe causando uma sensação de supressão a dor a partir de emoções, atividades diárias fixas, relações interpessoais e uso diminuído de fármacos. Esta TCC embora pareça subjetiva, proporciona algumas alterações entre conexões cefálicas, causando uma “reavaliação” da dor, ou seja, uma nova percepção daquilo que se chamada de dor. Portanto, sabendo que a FM é uma doença crônica onde há diversas incógnitas, é dever do profissional atender o paciente com FM sob olhar biopsicossocial,avaliando suas individualidades e adaptando o paciente ao tratamento mais eficiente e de fácil acesso ao indivíduo em questão. Como supracitado, o uso de fármacos é muito comum na clínica de FM, entretanto, deve-se primeiramente rever este conceito farmacológico, buscando por tratamentos menos invasivos a primeiro passo, caso tratamentos não invasivos sejam suficientes, optar pelo fármaco mais compatível com a fisiologia, quesito social e emocional do paciente. 8. Descrever as indicações e vias de infiltração articular. A infiltração é o ato de injetar um produto medicamentoso ou não, com finalidade terapêutica, em algum local do corpo, intra-articular, peri ou intra tendíneo. Na literatura há relatos de infiltração em todo tipo de Bursite, Tendinite e Peritendinite. O importante é realizar a infiltração com boa perícia técnica, pois uma má aplicação pode gerar mais dor e efeitos adversos do que a patologia em si. (SBOT, 2001) Têm como maiores indicações quadros de artrite de difícil resposta à medicação oral (artrite refratária) principalmente se em poucas articulações. Já os derivados do ácido hialurônico têm o seu uso indicado em articulações com artrose (osteoartrite), tendo efeito analgésico e anti-inflamatório local (SBOT, 2001). Algumas são as contra-indicações à realização das infiltrações intra-articulares, como infecção na articulação a ser infiltrada, distúrbios graves de coagulação, ulceração ou celulite periarticular, osteomielite adjacente, suspeita de infecção bacteriana, endocardite bacteriana e uso de prótese na articulação em questão. Gestantes, diabéticos e alérgicos também devem informar suas condições ao profissional antes da realização do procedimento. O mal uso dessa intervenção quanto à indicação, habilitação técnica para realizá-la, número de sessões e escolha de medicação a ser utilizada, assim como em qualquer outro tratamento, podem causar resultados insatisfatórios (SBOT, 2001). Aplicações intratendíneas têm indicação em tendões do membro superior que não passam em túnel ósseo, e devem ser evitadas em tendões do membro inferior que recebem grande carga excêntrica, como Aquiles e tendão patelar. Devido ao aumento das chances de uma ruptura, nesses casos deve se preferir a aplicação peritendínea. (SBOT, 2001) As infiltrações articulares, por sua vez, podem ser realizadas nas articulações periféricas, como ombros, joelhos, punhos e tornozelos, ou axiais, como as sacroilíacas e interapofisárias de coluna. Em articulações periféricas, a intervenção pode ser feita em ambulatório, podendo ser realizada às cegas ou guiadas por métodos de imagem como a ultrassonografia. As punçoes articulares podem ser realizadas também com o intuito de diagnostico, retirada de sangue, pus ou liquido articular aumentado, visto que há o contato com o liquido sinovial (SBOT, 2001). Algumas estruturas e articulações periféricas de mais difícil acesso devem ser guiadas por imagens, como a articulação do ombro, coxofemoral e algumas articulações do pé. Nas infiltrações axiais é sempre necessário o auxílio de radioscopia para guiar o acesso, por se tratar de articulações mais profundas e de mais difícil acesso. (SBOT, 2001) Antes de começar o procedimento, o local a ser infiltrado deverá ser marcado. A desinfecção cutânea é realizada com uma solução de iodo, álcool (70%) ou clorexidina, com movimentos circulares, do centro para a periferia. (SBOT, 2001) 9. Descrever a ação de medicação tópica para dor crônica. Farmacologicamente, sabe-se que os analgésicos têm por mecanismo de ação principal a atuação em sítios específicos localizados no sistema nervoso central e na periferia. Esta observação levou à realização de trabalhos que propunham a administração tópica de fármacos como AINH’s, anestésicos locais, capsaicina, antidepressivos tricíclicos, cetamina, clonidina e opióides. A aplicação tópica destes fármacos possibilita elevadas concentrações nos sítios efetores periféricos em contraposição a baixos níveis séricos dos mesmos. Desta forma, torna- se pouco provável a ocorrência de efeitos colaterais indesejáveis (FLORES, 2012). Existem medicações que são aplicadas diretamente na pele, no entanto, exercem seus efeitos predominantes no sistema nervoso central. Estas formulações utilizam a pele apenas como veículo de administração, a exemplo do fentanil transdérmico. O que se pretende com isto é fornecer uma liberação lenta e gradual da medicação para a corrente sanguínea, mantendo assim níveis séricos relativamente constantes por um determinado período de tempo. Em contrapartida, os fármacos de administração tópica exercem seus efeitos na periferia, próximo ao seu sítio de aplicação. Por definição, formulações tópicas são aquelas que, quando aplicadas na proximidade da área afetada, exercem ação analgésica, estando associadas ao aumento da concentração no tecido alvo e à reduzida concentração sérica (FLORES, 2012). ANTI INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Os AINH’s são os agentes tópicos mais utilizados na prática clínica. Seu mecanismo de ação consiste na inibição da enzima ciclo-oxigenase tipo 1 e tipo 2 com consequente redução da síntese de prostaglandinas e da sensibilização de terminações nervosas nos tecidos periféricos, sítio comum de dor e inflamação. Sua aplicação tópica é interessante por promover concentrações terapêuticas no tecido alvo, mantendo níveis séricos insuficientes para gerar reações adversas (FLORES, 2012). As recentes descobertas de mecanismos periféricos implicados na fisiopatologia da dor neuropática têm justificado o uso dos AINH´s em pacientes com esta condição. Sabe-se atualmente que a lesão neural estimula a liberação de fosfolipídios, que por sua vez ativam a fosfolipase A2, gerando protaglandina E2. Este produto se liga a fibras nociceptivas primárias, induzindo a fosforilação de canais de sódio e, consequentemente, transmitindo o sinal doloroso para o sistema nervoso central. Portanto, essa sensibilização periférica mediada por prostaglandinas nos nociceptores aferentes primários periféricos poderiam ser bloqueadas por agentes AINH’s tópicos (FLORES, 2012). ANESTÉSICOS LOCAIS Os anestésicos locais aplicados topicamente podem aliviar a dor de caráter neuropático através da redução das descargas ectópicas de nervos somáticos superficiais em áreas de dor localizada, bloqueando canais de sódio. O creme de EMLA tem sido utilizado para anestesia da pele para punções venosas, para punção lombar, para injeção intramuscular e para circuncisão (RITTER, 2020). CAPSAICINA A capsaicina é um composto proveniente do extrato da pimenta chilli. Seu mecanismo de ação consiste na ligação a nociceptores, receptores específicos presentes na pele, observando-se inicialmente um estado de excitação neuronal e período de aumento da sensibilidade local. Estas manifestações são atribuídas à estimulação de fibras aferentes do tipo C e a liberação de substância P. Em seguida, ocorre um período refratário, com redução da sensibilidade, que se torna persistente após aplicações repetidas, em função da depleção de substância P e da degeneração de fibras nervosas periféricas (FLORES, 2012). Os efeitos adversos da capsaicina, cuja intensidade depende da concentração da formulação, decorrem principalmente de sua aplicação local e são representados por queimação, ardência e eritema (FLORES, 2012). A capsaicina é eficaz no tratamento da dor neuropática e da dor associada a condições como osteoartrite, artrite reumatoide e psoríase. Seu efeito tem sido observado em condições como neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética, polineuropatia periférica crônica e dor cirúrgica neuropática (FLORES, 2012). CLONIDINA A clonidina é um fármaco agonista dos receptores α-2-adrenérgicos pré-sinápticos, os quais estão presentes em estruturas do sistema nervoso periférico e central, maisprecisamente no cérebro, medula espinhal e gânglios das raízes dorsais. Todos estes sítios estão potencialmente implicados nos efeitos antinociceptivos da clonidina. Sabe-se que sua ação simpatolítica em estruturas espinhais e supraespinhais responsáveis pela modulação do estímulo doloroso resulta em analgesia eficaz. Seu uso terapêutico tem sido limitado por efeitos adversos como sedação, boca seca, hipotensão e hipertensão rebote (FLORES, 2012). Sabe-se que receptores α-2-adrenérgicos são expressados em neurônios sensoriais nociceptivos primários e que a administração periférica destes receptores reproduz antinocicepção. Esta observação originou a hipótese de que a administração tópica de clonidina tem efeito antinociceptivo, motivando o desenvolvimento da mesma. Acredita-se que a clonidina, como uma substância lipofílica, penetre facilmente na pele e alcance as vias antinociceptivas locais, propiciando analgesia (FLORES, 2012). ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Os antidepressivos tricíclicos estão bem-estabelecidos como medicações analgésicas, exercendo seus efeitos em nível central, através da inibição da recaptação da noradrenalina e serotonina e da ativação das vias descendentes inibitórias da dor (RITTER, 2020). O uso tópico de formulação contendo amitriptilina a 4% e cetamina a 2% foi eficaz em reduzir a dor neuropática após 3 semanas de tratamento (FLORES, 2012). CETAMINA A cetamina tópica em forma de gel é uma alternativa, já que é de fácil aplicabilidade e atua em receptores opióides como antagonista dos receptores NMDA periféricos e no bloqueio de canais de sódio e potássio. A cetamina tópica, quando aplicada em pacientes portadores de dor neuropática crônica, é eficaz em reduzir a alodinia e a hiperalgesia (FLORES, 2012). A cetamina tópica pode apresentar-se como uma opção terapêutica para os pacientes com dor neuropática. Em portadores de síndrome dolorosa complexa regional, o uso tópico da cetamina foi eficaz em melhorar a alodinia (RITTER, 2020). OPIÓIDES Os opióides de formulação tópica têm sido estudados para o tratamento da dor relacionada às úlceras de pressão, uma vez que alterações na perfusão local impedem que opióides sistêmicos atinjam níveis satisfatórios no sítio de ação pretendido. Ademais, os pacientes acometidos por este tipo de lesão frequentemente têm diversas outras comorbidades e, portanto, estão mais propensos aos efeitos adversos sistêmicos dos opióides, sobretudo depressão respiratória (FLORES, 2012). 10. Caracterizar a importância da abordagem integral, multidisciplinar e multiprofissional no tratamento da dor crónica no SUS A equipe multidisciplinar e multiprofissional é um grupo de profissionais clínicos que trabalham unidos em prol do diagnóstico, tratamento e recuperação do paciente. Assim, é priorizado um consenso nas decisões de cada intervenção. A meta é que os resultados alcançados sejam os melhores possíveis. Imediatamente após a avaliação do paciente, a equipe se reúne e discute as principais estratégias de intervenção. O principal critério é o nível de gravidade da doença, o risco para o paciente e as ferramentas terapêuticas disponíveis. Desse modo, as diferentes especialidades se integram em prol de objetivos em comum: a melhoria da qualidade no atendimento e a reabilitação do paciente. A equipe é composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos e assistentes sociais, cada um com sua função de acordo sua especialidade. Logo, uma equipe multiprofissional tem importante papel na orientação do paciente, desfazendo crenças irracionais, desmistificando o uso dos opioides e orientando o paciente e os familiares sobre a importância do uso correto da medicação. Também irá, juntamente da equipe médica, ajudar a reconhecer comportamentos abusivos. “A equipe multiprofissional é a chave para o sucesso do tratamento, ajudando muito na aderência do paciente no processo terapêutico”, avalia Alexandra. Duas áreas que merecem destaque para auxiliar no controle de dores crônicas são a fisioterapia e acupuntura, pois atuam diretamente no controle álgico e na reabilitação do paciente. Além disso, podemos contar com psicólogos e farmacêuticos clínicos, enfermeiros, enfim os profissionais já citados anteriormente. Sendo assim, toda a equipe multiprofissional deve seguir a mesma forma de avaliar a dor, pois havendo um padrão único de avaliação, a consequência é poder avaliar consistentemente a evolução e resultados de intervenções. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste relatório referente à situação problema 3, observou-se a importância de compreender a Síndrome miofascial e fibromialgia, seus principais sintomas e formas manifestação, demostrando a importância da propedêutica da dor no geral para assim obter um melhor diagnostico e principalmente a diferenças entre as síndromes estudadas. Foram citados, também, os melhores tratamentos tanto farmacológicos como não farmacológicos, o apoio do SUS para os pacientes diagnosticados com tais doenças. REFERÊNCIAS BRASIL, Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Anti-inflamatórios não- esteroidais. 18 de junho de 2019. COVIAN, Miguel R. Fisiopatogênese da dor. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 23, n. 3, p. 143-164, 1965. FLORES M. P. [et al.]. Analgésicos Tópicos. Revista Brasileira de Anestesiologia. Vol. 62, Nº 2, março-abril, 2012. GALI, Julio Cesar. As infiltrações são mesmo prejudiciais? Revista Brasileira de Ortopedia, Santa Catarina, v. 15, n. 33, p. 60-65, jan. 2001. Mensal. OLIVEIRA JÚNIOR, José Oswaldo de; ALMEIDA, Mauro Brito de. The current treatment of fibromyalgia. Brazilian Journal Of Pain, [S.L.], v. 1, n. 3, p. 255-262, 2018. GN1 Genesis Network. http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20180049. PORTO, Celmo Celeno; VILELA FILHO, Oswaldo; CARNEIRO, Denise Sisteroli Diniz. Dor. In: PORTO, Celmo Celeno. Semiologia Médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda., 2014. Cap. 7. p. 67-80. PORTH, Carol Mattson; MATFIN, Glenn. Fisiopatologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2010. 2v. RITTER, J. M., [et al.]. Rang & Dale: Farmacologia. Editora Guanabara, 9ª edição, - Rio do Janeiro, 2020. SILVA, J.M et al. Anti-inflamatórios não-esteroides e suas propriedades gerais. Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v.7. 2014 TEIXEIRA, Manoel Jacobsen. Dor: Princípios e prática. 2. ed. Artmed, 2009. 1438 p. http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20180049
Compartilhar