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Prévia do material em texto

autor
CAMILO DEL CISTIACAMILO DEL CISTIA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
FUNDAMENTOS DE
IMUNOLOGIA E
MICROBIOLOGIA
 
Conselho editorialConselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares.
Autor do srcinalAutor do srcinal camilo del cistia
Projeto editorialProjeto editorial roberto paes
Coordenação de produçãoCoordenação de produção gladis linhares
Projeto gráficoProjeto gráfico paulo vitor bastos
DiagramaçãoDiagramação bfs media
Revisão de conteúdoRevisão de conteúdo cássio f. coelho
Imagem de capaImagem de capa supachai salaeman | dreamstime.com
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyrightseses, 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
C579f Del Cistia, Camilo Del
 Fundamentos de Imunologia e Microbiologia / Camilo Del Cistia
 Rio de Janeiro : SESES, 2015.
 160 p. : il.
 isbn: 978-85-5548-124-6
 1. Microrganismo. 2. Quimioterapia. 3. Anticorpos I. SESES. II. Estácio.
cdd 616
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
 
Sumário
1. Imunologia e Microbiologia – SDE0276 7
1.1 História da evolução da Microbiologia 9
1.2 As primeiras observações 9
1.3 A importância da Microbiologia 14
1.4 Quem descobriu os microrganismos? 15
1.5 O que é biogênese e abiogênese ou geração espontânea? 15
1.6 Classificação dos microrganismos 17
1.7 Classificação dos 5 reinos 19
1.8 Principais características dos grupos de microrganismos 20
1.9 Quimioterapia antimicrobiana 23
1.10 Classificação dos antibióticos 24
1.11 Mecanismo de ação dos antimicrobianos de uso clínico 25
1.12 Visão geral dos antibióticos quanto ao mecanismo de ação 26
1.13 Biossegurança na prática fisioterápica 28
1.14 Evolução histórica da segurança do trabalho 29
1.15 Legislação brasileira – Lei 6.514/77 de Portaria nº 3.214/78 31
1.16 Conceitos básicos sobre assepsia, antissepsia e
técnicas de esterilização. 31
1.17 Apresentação pessoal dos trabalhadores junto
às normas institucionais 33
1.17.1 Luvas 33
1.17.2 Máscaras 35
1.17.3 Óculos de proteção 36
1.17.4 Batas ou jalecos 36
1.17.5 Gorros 37
1.18 Aprender sobre a higienização das mãos 37
 
2. Características das Bactérias 41
2.1 Características gerais das bactérias 43
2.2 Estruturas bacterianas 44
2.3 Estruturas externas a parede celular 46
2.4 Mecanismos de resistência bacteriana 50
2.5 Desenvolvimento de resistência 50
2.6 Mecanismos genéticos de resistência 53
2.7 Mecanismos de reprodução em bactérias 54
2.8 Mecanismos bacterianos de patogenicidade 56
2.9 Fatores de virulência 58
2.10 Características gerais dos fungos 62
2.11 Características dos fungos em relação às bactérias 63
2.12 Modo de vida dos fungos de acordo
com o tipo de alimentação 64
2.13 Tipos de reprodução 65
2.14 Diversidade morfológica dos fungos 66
2.15 Caracteristicas gerais dos vírus 67
3. Elementos da Nutrição Microbiana,
Ecologia e Crescimento. 71
3.1 Elementos da nutrição microbiana, ecologia e crescimento 73
3.2 Fontes dos nutrientes essências 73
3.2.1 Macronutrientes 73
3.2.2 Micronutrientes 75
3.3 Estudo do crescimento microbiano 75
3.4 Estudo do crescimento microbiano 80
3.5 Curva de crescimento bacteriano 80
3.6 Introdução a imunologia 88
3.7 Os componentes do sistema imune 90
3.8 Reconhecimento dos antígenos 93
3.8.1 Anticorpos e Antígenos 93
3.8.2 Desenvolvimento inicial da RIH 93
 
4. Estrutura do Anticorpo 95
4.1 Estrutura do anticorpo 97
4.2 Funções dos anticorpos 99
4.3 Resposta ao antígeno: processamento e apresentação 100
4.4 Processamento e apresentação do antígeno 100
4.4.1 Restrição do MHC 102
4.5 Células apresentadoras de antígenos 102
4.5.1 Apresentação de superantígenos 103
4.5.2 Papel do Timo 104
4.5.3 Seleção negativa na periferia 105
4.6 Mecanismos efetores da resposta imune 105
4.6.1 Citocinas 105
4.7 Existem dois tipos de imunidade: 116
4.8 Imunidade mediada por células 116
4.8.1 Papel central das células Th nas respostas imunes 116
4.8.2 Interações célula-célula em respostas por
anticorpos a antígenos exógenos dependentes de células T 117
4.8.3 Interações célula-célula em respostas
humorais a antígenos exógenos independentes de células T 119
4.8.4 Interações célula-célula em imunidade
mediada por células (geração de células Tc em
resposta a antígenos endógenos no citosol) 120
4.8.5 Interações célula-célula na imunidade
mediada por células (ativação de macrófagos em r
esposta a antígenos endógenos em vesículas) 121
4.8.6 Interações célula-célula em imunidade mediada
por células (ativação de células Nk) 123
4.9 Imunidade dos microrganismos 124
5. O Sistema Imune nas Doenças 127
5.1 Imunologia dos Transplantes 129
5.1.1 Complexo Principal de Histocompatibilidade (Mhc) 130
5.1.2 Seleção do Doador 131
 
5.1.3 Rejeição de Enxertos Alogênicos 133
5.1.4 Rejeição hiperaguda 134
5.1.5 Rejeição aguda 135
5.1.6 Rejeição crônica 137
5.1.7 Supressão da resposta imune e efeitos colaterais 138
5.1.8 Supressão quimioterápica 138
5.1.9 Anticorpos antilinfocitários 140
5.1.10 Inibidores dos receptores de IL-2 141
5.2 Transplantes clínicos 142
5.2.1 Transplante de coração. 142
5.2.2 Transplante de fígado 143
5.2.3 Transplante de pâncreas 144
5.2.4 Medula óssea 144
5.3 Imunologia dos tumores 146
5.3.1 Causas dos tumores 146
5.3.2 Mecanismos Imunológicos que atuam contra células tumorais 148
5.3.3 Mecanismos de escape das células tumorais 149
5.4 Doenças auto-imunes 149
5.5 Mecanismo de formação dos auto-ac 150
5.6 Patogênese das doenças auto-imunes 151
 
Imunologia eImunologia e
Microbiologia –Microbiologia –
SDE0276SDE0276
11
 
8 • capítulo 1
OBJETIVOSOBJETIVOS
• Reconhecer a importância da descoberta do microscópio para a Ciência.
• Diferenciar a abiogênese da biogênese.
• Identificar a importância de Louis Pasteur para a abiogênese.
• Identificar o início da Microbiologia e a sua importância para a nossa vida.
• A descoberta da quimioterapia, a vacinação, a quimioterapia moderna, o avanço da resistên-
cia microbiana às drogas.
• Identificar a célula como unidade comum a todos os seres vivos, bem como sua estrutura.
• Reconhecer os reinos Monera, Protista, Plantae, Animalia e Fungi.
• Identificar as características dos reinos Monera, Protista, Plantae, Animalia e Fungi.
• Biossegurança na prática fisioterápica ea relação dos fatos históricos com o avanço das
técnicas de anti-sepsia de mãos e da cirurgia asséptica, a lavagem das mãos.
 
capítulo 1 • 9
1.1 História da evolução da Microbiologia
Para compreender o atual estágio da Microbiologia, precisamos conhecer como
ela chegou até onde estamos atualmente. Os primeiros cientistas que optaram
por estudar Microbiologia foram motivados, no decorrer de suas descobertas,
por competição, inspiração e sorte. Houve conceitos errôneos que levaram a
 verdade e verdades que não foram inicialmente reconhecidas.
1.2 As primeiras observações
Robert Hooke:Robert Hooke: o Inglês Robert Hooke descreveu em 1665, a estrutura celu-
lar da cortiça e publicou Micrographia, sobre suas descobertas em ótica e ini-
ciando suas análises dos efeitos
do prisma, esferas e lâminas, com
a utilização do microscópio. Com
o microscópio também deu im-
portante contribuição ao estudo
da estrutura das células, deven-
do-se a ele a srcem deste termo.
Hooke foi capaz de visualizar as
células individualmente. A des-
coberta de Hooke marcou o início
da teoria celular - todos os seres
 vivos são compostos de células.
Investigações posteriores sobre
a estrutura e funcionamento das
células teve esta teoria como base.
CONEXÃOCONEXÃO
Link: http://gk12glacier.bu.edu/wordpress/hendrick2012/my-blog/page/2/.
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10 • capítulo 1
 AntonAnton van van LeeuwenhoeLeeuwenhoek:k: o holandês Leeuwenhoek foi, provavelmente, o
primeiro a realmente observar os microrganismos vivos através de lentes de
aumento. Entre 1673 e 1723, ele escreveu uma série de cartas (mais de 300) à
Sociedade Real Inglesa descrevendo o que ele chamou de “animálculos” que ele
 via através de seu modesto microscópio
de uma única lente. Os desenhos deta-
lhados sobre os “animálculos” de águas
de rios, saliva, fezes, líquido no qual
grãos de pimenta forma submersos e no
material removido de seus dentes, fo-
ram identificados com representações
de bactérias e protozoários. Essas cartas
alertaram o mundo para a existência de
formas microscópicas de vida e srcina-
ram a microbiologia (Biologia das célu-
las, vol. 1 – Amabis e Martho).
Edward Jenner Edward Jenner contribuiu de forma revolucionária para a Medicina com o
desenvolvimento inicial da vacinação. Conta-se que uma senhora que trabalha-
 va em uma fazenda ordenhando vacas chamada, Sarah Nelmes gabava-se que
não pegava varíola (doença muito disseminada na Europa na época) porque já
tinha contraído antes a menos séria
 varíola bovina das vacas que ela orde-
nhava. Um surto de varíola em 1788
provou que ela estava certa. Todos os
pacientes de Jenner que já tinham tido
 varíola bovina não contraíram varíola.
No ano de 1796, Jenner provou sua te-
oria infectando um garoto primeiro
com varíola bovina e depois com varí-
ola. Ele descobriu que o garoto estava
imune à doença. Jenner chamou seu
tratamento de vacinação (palavra de-
rivada da palavra latina para varíola
bovina - vaccina) (Riedel, 2005).
 
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capítulo 1 • 11
 Os cientistas britânicos Edward Jenner e Alexander Fleming realizaram descobertas
revolucionárias no campo da Medicina e Fisiologia, marcando o início de uma revolução
na área médica e biológica.
Louis PasteurLouis Pasteur (1822 – 1895) era um químico francês bastante respeitado na
época por seus inúmeros trabalhos científico, dedicou seus consideráveis ta-
lentos ao estudo dos microrganismos. Interessou-se pela indústria de vinhos
franceses e pela função dos microrganismos na produção de álcool. Este inte-
resse incentivou-o a continuar o debate sobre a srcem dos microrganismos,
uma vez que ainda persistiam alguns defensores da geração espontânea ou
abiogênese, a exemplo do naturalista francês Félix Archiméde Pouchet (1800
– 1872). Pasteur fez uma série de experimentos definitivos. Um dos principais
processos foi o uso de frascos de colo longo e curvado, semelhante ao pescoço
de cisnes, que foram preenchidos com caldo nutritivo e aquecidos. O ar podia
passar livremente através dos frascos abertos, mas nenhum microrganismo
surgiu na solução. A poeira e os microrganismos depositavam-se na área sinu-
osa em forma de V do tubo e, portanto, não atingiam o caldo. Seus resultados
foram comunicados com entusiasmo na Universidade de Sorbonna, em Paris,
em 7 de abril de 1864. Pasteur deu um grande impulso na tecnologia de alimen-
tos. O processo de preservação dos ali-
mentos pela pasteurização foi criado
por esse ilustre cientista, e o nome do
processo de pasteurização foi dado em
sua homenagem. Você terá a oportuni-
dade de saber como funciona a pasteu-
rização na disciplina de Microbiologia
dos alimentos (Biologia das células,
 vol. 1 – Amabis e Martho).
 
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12 • capítulo 1
Robert KochRobert Koch – foi um dos fundadores da microbiologia, o alemão foi o pri-
meiro a descobrir o agente do carbúnculo e o baciloda tuberculose. O médico e
cientista Robert Koch, um dos precursores da moderna bacteriologia, dedicou-
se a pesquisas acerca das relações entre agentes bacterianos e a transmissão
de doenças, bem como ao estudo da higiene e de epidemias. Suas teses não
aumentaram a expectativa de vida e melhoraram a saúde da população apenas
na Alemanha, mas continuam, até hoje, sendo consideradas verdadeiros fun-
damentos da microbiologia moderna. Durante a Guerra Franco-Prussiana, de
1870 a 1871, Koch trabalhou como cirurgião. Após seu regresso ao país, assu-
miu a função de médico oficial da cidade na antiga província alemã de Posen
(Poznan). Ali começou a estudar a biologia das bactérias. Naquela época, não
havia ainda microscópios eletrônicos e, desta forma, as bactérias eram os me-
nores agentes que podiam ser examinados através do microscópio. Koch des-
cobriu o agente bacteriano causador do carbúnculo e descreveu, pela primeira
 vez, como a transmissão da doença se dá através dos esporos – este foi seu pri-
meiro grande trabalho científico,
publicado em 1876. Mais tarde,
Koch foi chamado a Berlim para
assumir a direção de um labora-
tório bacteriológico recém-criado,
onde conseguiu detectar o agente
causador da tuberculose. Com a
Etiologia da Tuberculose, Koch
conseguiu, pela primeira vez na
história, identificar um micro-or-
ganismo patogênico. Por este tra-
balho sobre a bactéria da tubercu-
lose, ele recebeu o Prêmio Nobel
de Medicina em 1905.
CONEXÃOCONEXÃO
Link: http://www.sbmicrobiologia.org.br/PDF/Koch.pdf.
 
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capítulo 1 • 13
 Joseph Joseph Lister Lister considerado pai da cirurgia moderna, pois foi o primeiro a
utilizar uma solução de fenol como um eficiente agente antisséptico – substân-
cias que destroem ou impedem o crescimento de microrganismos em tecido
 vivo- isso reduziu o número de mortes por infecções pós-operatórias. Lister co-
municou os métodos para esterilização de bandagens, compressas cirúrgicas,
instrumental cirúrgico e assepsia de feridas. Com isso ele introduziu a cirurgia
asséptica. Antes da descoberta, pelo médico
inglês Joseph Lister, em 1865, que o fenol
podia ser usado para esterilizar os instru-
mentos cirúrgicos, campo operatório e mãos
dos cirurgiões, os hospitais eram campos
de massacres, onde, a maioria dos pacien-
tes que não morriam do trauma cirúrgico,
pereciam de infecções. Juntamente com a
anestesia e os antibióticos, a antissepsia foi
responsável pelo grande avanço da cirurgia
como método científico de tratamento de
inúmeras doenças, ao longo do século XX.
CONEXÃOCONEXÃO
Link: http://www.sciencemuseum.org.uk/broughttolife/people/josephlister.aspx.
Sir Alexander Fleming Sir Alexander Fleming nasceu em 1881 na Escócia, formando-se em
Bacteriologia. Fleming trabalhou no St. Mary's Hospital, em Londres, e serviu
no Corpo Médico durante a Primeira
Guerra Mundial. Ele se tornou inte-
ressado no problema de controlar
infecções causadas por bactérias e
continuou suas pesquisas depois da
guerra. Fleming descobriu a peni-
cilina, o primeiro antibiótico, o que
marcou uma revolução na Medicina.
 Antibióticos são drogas que matam
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14 • capítulo 1
bactérias. Eles, atualmente, são usados para o tratamento de doenças. Conta-se
que, em uma manhã de 1928, Fleming estava preparando sua rotineira amostra
de culturas de bactérias quando notou que algo estava matando as bactérias. Ao
investigar, descobriu que era um bolor de pão chamado penicilina. Dois outros
excelentes cientistas, Howard Walter Florey (1898-1968) e Ernst Boris Chain
(1906-1979), ajudaram a aperfeiçoar a manufatura de penicilina, e eles dividi-
ram em 1945 o Prêmio Nobel de Medicina em com Fleming.
CONEXÃOCONEXÃO
LinK: http://www.biography.com/people/alexander-fleming-9296894#synopsis.
Os argumentos sobre a geração espontânea continuaram até 1861, quando a questão
foi resolvida pelo cientista francês Louis Pasteur.
1.3 A importância da Microbiologia
 A Microbiologia é uma ciência que foi impulsionada com a descoberta do mi-
croscópio por Leuwenhoek (1632 – 1723). A partir da descoberta do microscó-
pio e a constatação da existência dos microrganismos, os cientistas começaram
a indagar sua srcem, surgindo então, as teorias da abiogênese ou geração es-
pontânea e a biogênese. Após os experimentosde Lazzaro Spallanzani (1729
– 1799) que provaram que infusões quando aquecidas, esterilizadas e fechadas
hermeticamente para evitar recontaminação impediam o aparecimento de mi-
crorganismos, a abiogênese foi descartada.
 Acredita-se que os microrganismos (organismos pequenos só visíveis com o
auxílio de lentes) apareceram na terra há bilhões de anos a partir de um mate-
rial complexo de águas oceânicas ou de nuvens que circulavam a terra. Os mi-
crorganismos são antigos, porém a microbiologia como ciência é jovem, uma
 vez que os microrganismos foram evidenciados há 300 anos e só foram estuda-
dos e compreendidos 200 anos depois.
 
capítulo 1 • 15
1.4 Quem descobriu os microrganismos?
 Anton V Anton Van Leuwenhan Leuwenhoekoek (1632 – 1723) era um homem comum que possuía um
armazém, era zelador da prefeitura e servia como provador oficial de vinhos
para a cidade de Delft na Holanda. Tinha como hobby polir lentes de vidro, as
montava entre finas placas de bronze ou prata para inspecionar fibras e tecela-
gem de roupas, flores, folhas e pingos d’água. Na época, era comum o interesse
pelo mundo natural, mas Leuwenhoek tinha o cuidado de descrever, detalha-
damente, tudo o que fazia e o que observava com suas lentes.
Usando seu precário microscópio, observava águas de rios, infusões de pi-
menta, saliva, fezes, etc.; até que verificou nesses materiais, a presença de um
grande número de pequeníssimos objetos móveis e de formas diferentes, que
não poderiam ser vistos sem a ajuda das lentes, e os chamou de “animáculos”
por acreditar que seriam pequeninos animais vivos.
Leuwenhoek fez observações magníficas sobre a estrutura microscópica
das sementes e embriões de vegetais, animais invertebrados, espermatozoides,
sangue, circulação sanguínea etc. Uma dimensão inteiramente nova enrique-
ceu a biologia (bio = vida, logia = estudo). Todos os tipos principais de micror-
ganismos que hoje conhecemos – protozoários, algas, fungos e bactérias foram
primeiramente descritos por Leuwenhoek (Trabulsi, 1991).
1.5 O que é biogênese e abiogênese ou
geração espontânea?
 Após a revelação ao mundo da presença dos microrganismos, os cientistas co-
meçaram a indagar a srcem desses seres e se dividiram em duas correntes de
pensamento as quais veremos a seguir.
BIOGÊNESEBIOGÊNESE
Alguns cientistas acreditavam, inclusive Leuwenhoek, que as “se-
mentes” destas criaturas microscópicas estão sempre presentes no
ar, de onde ganham acesso aos materiais e ali crescem desde que
as condições sejam adequadas ao seu desenvolvimento. A essa
forma de multiplicação dos microrganismos chamou-se biogênese.
 
16 • capítulo 1
ABIOGÊNESEABIOGÊNESE
Outros cientistas acreditavam que os microrganismos se formavam
espontaneamente a partir da matéria orgânica em decomposição
ou putrefação, essa forma de multiplicação chamou-se abiogênese.
CONEXÃOCONEXÃO
A abiogênese também ficou conhecida como geração espontânea.
Video complementar https://www.youtube.com/watch?v=EjyH5MkGdPY
 A crença na geração espontânea de seres vivos teve uma longa existência.
 A ideia da geração espontânea teve srcem na Grécia Antiga, que acreditava
que rãs e minhocas surgiam, espontaneamente, de um pequeno lago ou lama.
Outros acreditavam que larvas de insetos e moscas eram produzidas a partir
de carne em decomposição. Pouco a pouco, essas ideias foram perdendo for-
ça, por demonstrações científicas como a do médico italiano Francesco Redi
(1626 – 1697), que demonstrou que as larvas encontradas na carne em putre-
fação eram larvas de ovos de insetos e não um produto da geração espontânea.
Convencer os que apoiavam a abiogênese de que um ser não poderia surgir
apenas da matéria orgânica, tornou-se bem mais difícil, principalmente, a par-
tir do experimento de Heedham em 1749, que demonstrou que, de muitos tipos
diferentes de infusões, invariavelmente, emergiam criaturas microscópicas (mi-
crorganismos), independentemente do tratamento que receberam, protegidas
ou não, fervidas ou não. Hoje, sabe-se que os experimentos de Heedham foram
falhos, pois este não tomava precauções higiênicas para proteger seus experimen-
tos do ar circundante, permitindo dessa forma a contaminação de suas infusões.
Cinquenta anos após os experimentos de Heedham, Spallanzani eviden-
ciou em centenas de experiências, que o aquecimento das infusões até esteri-
lização, pode impedir a contaminação por microrganismos. Posteriormente,
Spallazani concluiu que poderá haver recontaminação das infusões por con-
dução dos microrganismos pelo ar, desde que o frasco que a contenha não es-
teja hermeticamente fechado ou apresente rachadura, propiciando na infusão,
o aparecimento de colônias de microrganismos (Biologia das células, vol. 1 –
 Amabis e Martho).
 
capítulo 1 • 17
A tarefa dos microrganismos na natureza é algo sensacional, especialmente, quando se
lembra de seu papel como regulador do equilíbrio entre seres vivos e mortos.
1.6 Classificação dos microrganismos
Os seres vivos são constituídos de unidades microscópicas chamadas de cé-
lulas que formam, em conjunto, estruturas organizadas. As células são com-
postas de núcleo e citoplasma. Quando o núcleo celular é circundado por uma
membrana nuclear ou carioteca, os organismos que as possuem são chamados
de eucarióticos, os que não possuem células com carioteca são os procarióticos
a exemplo das bactérias.
Baseado na maneira pela qual os organismos obtêm alimentos, Robert H.
 Whittaker classificou os organismos vivos em 5 reinos: reino Monera, reinoreino Monera, reino
Protista, reino Plantae, reino Animalia e reino FungiProtista, reino Plantae, reino Animalia e reino Fungi.
Prokaryota Monera
Protista
Fungi
Animalia
Plantae
Eukaryota
CONEXÃOCONEXÃO
Video complementar: https://www.youtube.com/watch?v=t63pCUzey3E
 
18 • capítulo 1
Os microrganismos pertencem a três dos cinco reinos: as bactérias são do
reino Monera, os protozoários e algas microscópicas são Protistas e os fungos
microscópicos como leveduras e bolores pertencem ao reino Fungi (Biologia
das células, vol. 1 – Amabis e Martho) .
Célula
 A célula é uma estrutura típica microscópica comum a todos os seres vivos. Com
os avanços da microscopia eletrônica na década de 1940, foi possível a visuali-
zação de muitas estruturas da célula que seria impossível no microscópio ótico.
Todas as células se compõem de duas regiões internas principais conheci-
das como núcleo e citoplasma. O núcleo, que é circundado pelo citoplasma,
contém todas as informações genéticas do organismo, sendo responsável pela
hereditariedade. O citoplasma é a sede primária dos processos de síntese e o
centro das atividades funcionais em geral.
Em algumas células, o núcleo é circundado por uma membrana denomi-
nada de membrana nuclear ou carioteca. Compreendem o grupo das eucarió-
ticas, os protozoários, os fungos, a maior parte das algas. Estas células se asse-
melham as dos animais e plantas. Em contraste, as bactérias e o pequeno grupo
de algas azul-verdes se caracterizam por células menores procarióticas por não
apresentarem membrana nuclear.
Microtúbulos
Microfilamentos
Membrana
plasmática
Mitocôndria Vesícula de secreção
Centríolos
Complexo de Golgi
Retículo
endoplasmático liso
Retículo
endoplasmático rugoso
Lisossomo
Vacúolo alimentar
Carioteca
Nucléolo
Núcleo–Nucleoplasma + DNA
 
capítulo 1 • 19
Nas plantas e microrganismos, a parede celular é a única estrutura limitan-
te. Seu único papel parece ser o de proteção contra injúrias mecânicas e impe-
dem, principalmente, a ruptura osmótica quando a célula é colocada em am-
biente com alto teor de água (Biologia das células, vol. 1 – Amabis e Martho).
1.7 Classificação dos 5 reinos
 A classificação dos organismos, mais recente, proposta por Robert H. Whit-
taker em 1969, foi baseada a partir da maneira pela qual o organismo obtém
nutrientes de sua alimentação. Veja:
FOTOSSÍNTESEFOTOSSÍNTESE
Processo pelo qual a luz fornece energia paraconverter o
dióxido de carbono em água e açúcares.
ABSORÇÃOABSORÇÃO A captação de nutrientes químicos dissolvidos em água.
INGESTÃOINGESTÃO Entrada de partículas de alimentos não dissolvidas.
Nesse esquema de classificação, os procariotos que normalmente obtêm
alimentos só por absorção constituem o reino Monera. O reino Protista inclui
os microrganismos eucarióticos unicelulares, que representam os três tipos
nutricionais: as algas são fotossintéticas, os protozoários podem ingerir seu
alimento e os fungos limosos somente absorvem os nutrientes. Os organismos
eucarióticos superiores são colocados no reino Plantae (plantas verdes fotos-
sintéticas e algas superiores), Animalia (animais que ingerem alimentos) e
Fungi, organismos que têm parede celular, mas não apresentam o pigmento
clorofila encontrado em outras plantas para promover a fotossíntese, portanto
eles absorvem os nutrientes. Como pode se observar, os microrganismos per-
tencem a três dos cinco reinos.
 
20 • capítulo 1
1.8 Principais características dos grupos de
microrganismos
PROTOZOÁRIOSPROTOZOÁRIOS
São microrganismos eucarióticos unicelulares. Como os
animais ingerem partículas alimentares, não apresentam
parede celular rígida e não contêm clorofila. Movem-se
através de cílios, flagelos ou pseudópode. Estes microrga-
nismos são estudados na ciência da Parasitologia (estudo
dos parasitas). São amplamente distribuídos na natureza,
principalmente, em ambientes aquáticos. Muitos são noci-
vos ao homem como a ameba e a giárdia.
ALGASALGAS
São semelhantes às plantas por possuírem clorofila que par-
ticipa do processo de fotossíntese e apresentam uma pare-
de celular rígida. São eucariotos e podem ser unicelulares ou
multicelulares com vários metros de comprimento. Podem ser
nocivas por produzirem toxinas, obstruir caixas d’água ou cres-
cerem em piscinas. Entretanto, algumas espécies são usadas
nas indústrias de alimentos, farmacêuticas, cosméticos e para
o uso em laboratório. As algas não são estudadas na Micro-
biologia de alimentos.
 
capítulo 1 • 21
FUNGOSFUNGOS
Podem ser unicelulares ou multicelulares. São eucariotos e
possuem parede celular rígida. Os fungos não ingerem alimen-
tos e obtêm os nutrientes do ambiente através de absorção.
 
22 • capítulo 1
BACTÉRIASBACTÉRIAS
São procariotos, carecem de membrana nuclear e outras es-
truturas celulares organizadas observadas em eucariotos.
VÍRUSVÍRUS
Representam o limite entre as formas vivas e as sem vida. Não são
células como as descritas anteriormente, contêm somente um tipo
de ácido nucleico, RNA ou DNA que é circundado por um envelope
proteico ou capa. Devido à ausência de componentes celulares ne-
cessários para o metabolismo ou reprodução independente, o vírus
pode multiplicar-se somente dentro de células vivas, por isso não são
considerados seres vivos por não possuírem vida própria.
 
capítulo 1 • 23
1.9 Quimioterapia antimicrobiana
Quimioterapia corresponde ao advento do tratamento de doenças por meio de
substâncias químicas. Algumas são sintetizadas em laboratório, e por isso cha-
madas quimioterápicas; outras são produzidas por seres vivos, e são chamadas
de antibióticos. Os antibióticos são produzidos, na sua maioria, por microrga-
nismos que fazem a síntese total ou parcial da molécula e, neste caso, são con-
cluídos em laboratório (antibióticos semissintéticos).
 A quimioterapia antimicrobiana é um assunto de suma importância dentro
da microbiologia clínica, uma vez que drogas dessas naturezas são importantes
por lutar contra a infecção causada por microrganismos sem causar maléficos
á célula hospedeira, propriedade esta denominada de toxicidade seletiva.
 A maioria dos antibióticos usados na clinica é produzida por bacté-
rias do gênero Streptomyces e alguns por fungos dos gêneros Penicillium e
Cephalosporium.
Histórico
• 1900: Paul Ehrlich, bacteriologista alemão, desenvolveu a propriedade da
toxidade seletiva de alguns medicamentos.
• 1928: Fleming, ao acaso, foi o principal responsável pela descoberta dos
antibióticos depois de ter observado que onde havia desenvolvimento do fungo
Penicilum notatum, bactérias eram exterminadas.
• 1935: Gerhard Domagk cria o primeiro quimioterápico – as sulfona-
midas – um medicamento de natureza quimioterápica mas sintetizado em
laboratório.
• 1940 – Chain e Florey, devido ao estopim da Segunda Guerra Mundial, a
penicilina foi sintetizada em larga escala e nos últimos anos, a indústria farma-
cêutica estabelece modificações químicas, adicionando um radical químico ao
antimicrobiano para tentar aumentar o espectro de atividade da droga.
Recetemente os pesquisadores Annette Draeger e Eduard Bibiychuk nano-
partículas especiais feitas de lipídios, os lipossomas, que muito se assemelham
a células hospedeiras. Ao serem introduzidas no corpo de uma pessoa com uma
grave infecção bacteriana, essas membranas artificiais, também conhecidas
como CALo2, devem atrair as toxinas produzidas por bactérias.
 
24 • capítulo 1
Conceitos
 Antibióticos: são antibacterianos que provem de organismos vivos. Podem ser
naturais (quando a molécula da droga é totalmente de srcem natural; Ex: peni-
cilina, que é extraída de fungos) ou semissintéticos (quando uma molécula, de
srcem natural, é alterada em laboratório; Ex: oxacilina).
Quimioterápicos: drogas sintetizadas completamente em laboratório, po-
dendo ser classificadas apenas como sintéticas (Ex: sulfas). Para o nosso estu-
do, este tipo de antibacterianos será, por critérios meramente didáticos, inseri-
do nos grupos dos antibióticos.
1.10 Classificação dos antibióticos
1. Quanto à srcem:
• Naturais: de srcem natural microbiana. Ex: Penicilina.
• Semissintético: a molécula natural é adicionada a um radial químico
qualquer. Ex: Meticilina.
• Sintética: totalmente produzidas em laboratório. Ex: Quinolonas.
2. Quanto ao mecanismo de ação:
• Bactericidas: provocam a morte das bactérias. Ex: Aminoglicosideos
• Bacteriostáticas: inibem o metabolismo bacteriano, bloqueando o seu
crescimento. Ex: sulfas.
3. Quanto ao espectro de ação antimicrobiano:
• Pequeno espectro: realizam ação sobre determinados grupos de bactéria.
Ex: A penicilina atua apenas sobre bactérias gram-positivas.
• Amplo espectro: atividade sobre bactérias sem grupo específico: atu-
am contra bactérias gram-positivas e gram-negativas. Ex: tetraciclina e
cloranfenicol.
 
capítulo 1 • 25
1.11 Mecanismo de ação dos
antimicrobianos de uso clínico
O primeiro ponto para se observar a utilização dos antimicrobianos é a toxida-
de seletiva: a droga deve atuar especificamente sobre uma estrutura da célula
procariótica bacteriana, e não sendo tóxica a célula eucarionte. Os antibióticos
e os quimioterápicos interferem com diferentes atividades da célula bacteria-
na, causando a sua morte ou somente inibindo o seu crescimento.
1. 1. Ação Ação Antimicrobiana Antimicrobiana Através Através Da Da Inibição Inibição Da Da Síntese Síntese Da Da Parede Parede Celular:Celular:
Ex: Bacitracina, Cefalosporina, Penicilinas e Ex: Bacitracina, Cefalosporina, Penicilinas e VancomicinaVancomicina
 Alguns antibióticos impedem a síntese da parede celular, estrutura respon-
sável pela proteção mecânica da bactéria. Já se sabe que o peptidioglicano que
fornece estrutura à parede celular bacteriana é composta, basicamente, por
N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico. A parede celular, então, é produzida
em três fases: (1) produção dos principais compostos da parede celular ainda
no citoplasma, (2) passagem dessas substâncias por meio da membrana cito-
plasmática e (3) formação da malha de peptidoglicano através da ligação es-
tabelecida por enzimas (como a Transpeptidase), formando, em fim, a parede
celular.
Esses antibióticos inibem a atividade enzimática que forma o peptidioglica-
no. Sem a formação da parede celular, a bactéria fica completamente vulnerá-
 vel a ação do meio, morrendo logo em seguida.
2. 2. Ação Ação Antimicrobiana AntimicrobianaAtravés Através Da Da Inibição Inibição Da Da Membrana Membrana Celular Celular 
Ex: Anfotericina B, Polimixinas e NistatinaEx: Anfotericina B, Polimixinas e Nistatina
 A maioria das reações químicas (até os mecanismos de obtenção de ener-
gia) é realizada pela membrana citoplasmática. A membrana é destruída por
certos antibióticos, situação extremamente inadequada e incompatível com a
 vida bacteriana.
3. 3. Ação Ação Antimicrobiana Antimicrobiana Através Através Da Da Inibição Inibição Da Da Síntese Síntese De De ProteínasProteínas
Ex: Cloranfenicol, Tetraciclinas, Aminoaglicosídeos e EstreptomicinaEx: Cloranfenicol, Tetraciclinas, Aminoaglicosídeos e Estreptomicina
 A síntese de proteínas (tanto o processo de transcrição como o de tradução)
acontece na região do citoplasma. As tetraciclinas bloqueiam a síntese protéica
 
26 • capítulo 1
porque, quando fixadas à subunidade 30S (menor), impedem a fixação dos RNA
transportadores ao ribossomo.
O cloranfenicol, lincomicina e clindamicina, aparentemente, possuem os
mesmos mecanismos de ação, que seria impedir a união dos aminoácidos pela
inibição da peptidiltransferase.
 A eritromicina bloqueia a síntese protéica porque, quando fixada à subuni-
dade 50S, impede os movimentos de translocação. Embora a síntese proteica
seja muito semelhante nas bactérias e nas células do hospedeiro, existem di-
ferenças entre seus ribossomos. Estas diferenças explicam a ação seletiva dos
antimicrobianos.
4. 4. Ação AAção Antimicrobiana ntimicrobiana Através Da Através Da Inibição Da Inibição Da Síntese Dos Síntese Dos ÁcidosÁcidos
NucleícosNucleícos
Ex: Ácido nalidíxico, Novobiocina, Ex: Ácido nalidíxico, Novobiocina, Rifampicina e Fluorquinolonas.Rifampicina e Fluorquinolonas.
Outros antibióticos interferem em alguma fase da síntese do próprio MG da
bactéria. Estudos recentes têm mostrado alguns antimicrobianos interferem
com a síntese de DNA, inibindo a ação das enzimas girases. A função destas
enzimas é promover o enrolamento das moléculas de DNA, para que ocupem
um menor espaço dentro de célula.
OBS: Um antibiograma é um ensaio laboratorial que mede a susceptibili-
dade/resistência de uma bactéria a um ou mais agentes antimicrobianos. Seu
objetivo é tanto a análise do espectro de sensibilidade/resistência a drogas de
uma bactéria quanto a determinação da concentração mínima inibitória.
OBS²: Deve-se evitar o desenvolvimento da resistência combatendo o uso
abusivo e indiscriminado dos antibióticos.
1.12 Visão geral dos antibióticos quanto ao
mecanismo de ação
De uma forma geral, podemos dividir os antibióticos nos seguintes grandes gru-
pos, que serão mais bem detalhados nos materiais referentes à Farmacologia:
 Antibióticos com ação n Antibióticos com ação na parede bacteriana:a parede bacteriana:
-Beta-lactâmicos-Beta-lactâmicos
 
capítulo 1 • 27
• Penicilinas
• Cefalosporinas
• Carbapenêmicos e Monobactâmicos
– Glicopeptídeos
– Polimixina B
 Antibióticos com açã Antibióticos com ação no citoplasma microbiano no citoplasma microbianoo
• Macrolídeos e lincosamidas
• Cloranfenicol
• Tetraciclinas
• Aminoglicosídeos
• Sulfonamidas + Trimetoprim
• Fluorquinolonas
• Metronidazol
CONEXÃOCONEXÃO
Vídeo complemetar A aventura do Antibiótico. Link: https://www.youtube.com/watch?v=X-
tP7WF8XjXU.
 
28 • capítulo 1
1.13 Biossegurança na prática fisioterápica
Conceitos gerais.
Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização
ou eliminação dos riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensi-
no, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços. Estes riscos podem
comprometer a saúde do homem e animais, o meio ambiente ou a qualidade
dos trabalhos desenvolvidos (Teixeira; Valle, 1996). Há ainda outros conceitos
para a biossegurança, como o que está relacionado à prevenção de acidentes
em ambientes ocupacionais, incluindo o conjunto de medidas técnicas, admi-
nistrativas, educacionais, médicas e psicológicas (Costa, 1996). O tema abrange
ainda a segurança no uso de técnicas de engenharia genética e as possibilida-
des de controles capazes de definir segurança e risco para o ambiente e para a
saúde humana, associados à liberação no ambiente dos organismos genetica-
mente modificados (OGMs) (Albuquerque, 2001).
 A Biossegurança envolve a análise dos riscos a que os profissionais de saúde
e de laboratórios estão constantemente expostos em suas atividades e ambien-
tes de trabalho. A avaliação de tais riscos engloba vários aspectos, sejam relacio-
nados aos procedimentos adotados, as chamadas Boas Práticas em Laboratório
(BPLs), aos agentes biológicos manipulados, à infraestrutura dos laboratórios
ou informacionais, como a qualificação das equipes (Brasil, 2006b).
Em Roma, no primeiro século antes de Cristo, Marcus Varro defendia a associação
dos pântanos com as doenças "por hospedar criaturas diminutas, invisíveis, que flu-
tuando pelo ar podiam entrar no corpo humano pela boca e nariz, causando doenças"
(MASTROENI, 2008).
Importância da Biossegurança.
Do ponto de vista prático, foi a partir da Conferência de Asilomar que se srci-
naram as normas de biossegurança do National Institute of Health (NIH), dos
EUA. Seu mérito, portanto, foi o de alertar a comunidade científica, principal-
mente quanto às questões de biossegurança inerentes à tecnologia de DNA re-
 
capítulo 1 • 29
combinante. A partir de então, a maioria dos países centrais viu-se diante da
necessidade de estabelecer legislações e regulamentações para as atividades
que envolvessem a engenharia genética (Almeida; Valle, 1999).
Na década de 1980 a Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou a
biossegurança como prática de prevenção para o trabalho em laboratório com
agentes patogênicos, e, além disto, classificou os riscos como biológicos, quí-
micos, físicos, radioativos e ergonômicos. Na década seguinte, observou-se a
inclusão de temas como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e proces-
sos envolvendo tecnologia de DNA recombinante em programas de biossegu-
rança (Costa, Costa, 2002).
 A biossegurança no Brasil só se estruturou, como área específica, nas déca-
das de 1970 e 1980, mas desde a instituição das escolas médicas e da ciência ex-
perimental, no século XIX, vêm sendo elaboradas noções sobre os benefícios e
riscos inerentes à realização do trabalho científico, em especial nos ambientes
laboratoriais em decorrência do grande número de relatos de graves infecções
ocorridas, e também de uma maior preocupação em relação às consequências
que a manipulação experimental de animais, plantas e micro-organismos po-
deriam trazer ao homem e ao meio ambiente (Almeida; Albuquerque, 2000,
Shatzmayr, 2001).
1.14 Evolução histórica da segurança do
trabalho
Aspectos Legais
Descrever os aspectos legais da Segurança no Ambiente Hospitalar é possível,
desde que seu desenvolvimento seja mostrado a partir de fatos ocorridos nas
 várias atividades profissionais ocorridas em outras épocas. Para tanto, a tabela
1 apresenta uma resumida evolução histórica dos direitos e conhecimento ad-
quiridos pelos trabalhadores no mundo.
No Brasil, o fato marcante na legislação trabalhista se deu em 1943, através
do Decreto 5452, de 1º de maio de 1943, e atualmente as formas de dirimir as
questões legais referentes à segurança dos trabalhadores foram traduzidas nos
conteúdos da Lei nº 6.514 de 22 de dezembro de1977.
 
30 • capítulo 1
ÉÉPPOOCCA A OORRIIGGEEM M CCOONNTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO
Aristóteles (384 –322
aC)
Cuidou do atendimento e prevenção das enfermidades dos
trabalhadores nos ambientes das minas.
Platão
Constatou e apresentou enfermidades específicas do
esqueleto que acometiam determinados trabalhadores no
exercício de suas profissões.
SÉC. IV ACSÉC. IV AC
Plínio
(23 –79 dC)
Publicou a História Natural, onde pela primeira vez foram
tratados temas referentes à segurança do trabalho. Discor-
reu sobre o chumbo, mercúrio e poeiras. Menciona o uso de
mascaras pelos trabalhadoresdessas atividades.
Hipócrates
(460 –375 aC)
Revelou a srcem das doenças profissionais que acometiam
os trabalhadores nas minas de estanho.
Galeno
(129 –201 aC)
Preocupou-se com o saturnismo.
SÉC. XIIISÉC. XIII
Avicena
(908 –1037)
Preocupou - se com o saturnismo e indicou - o como causa
das cólicas provocadas pelo trabalho em pinturas que
usavam tinta à base de chumbo.
SÉC. XVSÉC. XV Ulrich Ellembog
Editou uma série de publicações em que preconizava medi-
das de higiene do trabalho.
SÉC. XVISÉC. XVI
Paracelso
(1493 –1541)
Divulgou estudos relativos às infecções dos mineiros do
Tirol.
Europa
Foram criadas corporações de ofício que organizaram e
protegeram os interesses dos artifícios que representavam.
16011601 Inglaterra Criada a Lei dos Pobres.
16061606
Rei Carlos II
(1630 –1685)
Em virtude do grande Incêndio de Londres foi proclamado
de que as novas casas fossem construídas com paredes de
pedras ou tijolos e a largura das ruas fosse aumentada de
modo a dificultar a programação do fogo.
17001700
Bernardino Ramazzine
(1633 –1714)
Divulgou sua obra clássica "De Morbis Articum Diatriba"
(As Doenças dos Trabalhadores).
18021802 Inglaterra Substituição das Leis dos Pobres pela Lei das Fábricas.
1844-18481844-1848 Inglaterra
Aprovação das primeiras Leis de Segurança no trabalho e
Saúde Pública, regulamentando os problemas de saúde e
de doenças profissionais.
18621862 França Regulamentação da higiene e segurança no trabalho.
18651865 Alemanha
Lei de indenização obrigatória aos trabalhadores, que res-
ponsabiliza o empregador pelo pagamento dos acidentes.
18831883 Emílio Muller
Fundou em Paris a Associação de Indústrias contra os
Acidentes de Trabalho.
18971897
Inglaterra
Após o incêndio de Cripplegate, foi fundado o Comitê Bri-
tânico de Prevenção e iniciou - se uma série de pesquisas
relativas a materiais aplicados em construções.
França
Após catástrofe do Bazar da Caridade, foram dadas maio-
res atenções aos problemas de incêndios.
19031903 EUA
Promulgada a primeira lei sobre indenização aos trabalha-
dores, limitada ao empregador e trabalhadores federais.
 
capítulo 1 • 31
ÉÉPPOOCCA A OORRIIGGEEM M CCOONNTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO
19191919 Tratado de Versalhes
Criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
com sede em Genebra, que substitui a Associação Interna-
cional de Proteção Legal ao Trabalhador.
19211921 EUA
Estendidos os benefícios da Lei de 1903 a todos os traba-
lhadores através da Lei Federal.
19271927 França
Foram iniciados estudos de laboratórios relacionados com
a inflamabilidade dos materiais e estabeleceram - se os
primeiros regulamentos específicos que adotaram medidas
e precauções a serem tomadas nos locais de trabalho e
nos locais de uso prático.
19431943 Brasil
O Decreto nº 5452, de 01/05/1943, regulamenta o Ca-
pítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho,
relativo à Segurança e Medicina no Trabalho.
Tabela 1.1 - História da Segurança no Trabalho
1.15 Legislação brasileira – Lei 6.514/77 de
Portaria nº 3.214/78
No Brasil, o direito dos trabalhadores à segurança e medicina no trabalho é ga-
rantido pela Lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Essa lei altera o Capítulo V
do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho no que se refere à Segurança
e Medicina do Trabalho. Sua regulamentação foi feita através da Portaria nº
3.214 de 08 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho. Essa portaria aprova
as Normas Regulamentadoras (NR) do Capítulo V do Título II, da Consolidação
das Leis do Trabalho relativas à Segurança e Medicina do Trabalho e por um
conjunto de textos suplementares (leis, portarias e decretos) decorrentes de al-
terações feitas nos textos srcinalmente publicados.
1.16 Conceitos básicos sobre assepsia,antissepsia e técnicas de esterilização.
• Assepsia: Assepsia: é o conjunto de medidas que utilizamos para impedir a penetra-
ção de microorganismos num ambiente que logicamente não os tem, logo um
ambiente asséptico é aquele que está livre de infecção.
 
32 • capítulo 1
• Antissepsia Antissepsia: é o conjunto de medidas propostas para inibir o crescimento
de microorganismos ou removê-los de um determinado ambiente, podendo ou
não destruí-los e para tal fim utilizamos antissépticos ou desinfetantes. É a des-
truição de micro-organismos existentes nas camadas superficiais ou profundas
da pele, mediante a aplicação de um agente germicida de baixa causticidade,
hipoalergênico e passível de ser aplicado em tecido vivo.
• DegermaçãoDegermação: Significa a diminuição do número de microorganismos pa-
togênicos ou não, após a escovação da pele com água e sabão. É a remoção de
detritos e impurezas depositados sobre a pele. Sabões e detergentes sintéticos,
graças a sua propriedade de umidificação, penetração, emulsificação e dis-
persão, removem mecanicamente a maior parte da flora microbiana existente
nas camadas superficiais da pele, também chamada flora transitória, mas não
conseguem remover aquela que coloniza as camadas mais profundas ou flora
residente.
• DesinfecçãoDesinfecção: é o processo pelo qual se destroem particularmente os ger-
mes patogênicos e/ou se inativa sua toxina ou se inibe o seu desenvolvimento.
Os esporos não são necessariamente destruídos.
• EsterilizaçãoEsterilização : é processo de destruição de todas as formas de vida micro-
biana (bactérias nas formas vegetativas e esporuladas, fungos e vírus) mediante
a aplicação de agentes físicos e ou químicos, Toda esterilização deve ser prece-
dida de lavagem e enxaguadura do artigo para remoção de detritos.
• EsterilizantesEsterilizantes : são meios físicos (calor, filtração, radiações, etc) capazes
de matar os esporos e a forma vegetativa, isto é, destruir todas as formas mi-
croscópicas de vida.
• EsterilizaçãoEsterilização : o conceito de esterilização é absoluto. O material é esterili-
zado ou é contaminado, não existe meio termo.
• GermicidasGermicidas: são meios químicos utilizados para destruir todas as formas
microscópicas de vida e são designados pelos sufixos "cida" ou "lise", como por
exemplo, bactericida, fungicida, virucida, bacteriólise etc.
Na rotina, os termos antissépticos, desinfetantes e germicidas são emprega-
dos como sinônimos, fazendo que não haja diferenças absolutas entre desinfe-
tantes e antissépticos. Entretanto, caracterizamos como antisséptico quando
a empregamos em tecidos vivo e desinfetante quando a utilizamos em objetos
inanimados (Moriya; Módena, 2008).
 
capítulo 1 • 33
1.17 Apresentação pessoal dos
trabalhadores junto às normas institucionais
Proteção da Equipe De Saúde
Medidas de precauções universais ou medidas padrão representam um con-
 junto de medidas de controle de infecção para serem adotadas universalmente
como forma eficaz de redução do risco ocupacional e de transmissão de micror-
ganismos nos serviços de saúde.
 As Precauções Universais incluem:
a) uso de barreiras ou equipamentos de proteção individual;
b) prevenção da exposição a sangue e fluidos corpóreos; c) prevenção de
acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes;
c) manejo adequado dos acidentes de trabalho que envolva a exposição a
sangue e fluidos orgânicos;
d) manejo adequado de procedimentos de descontaminação e do destino
de dejetos e resíduos nos serviços de saúde. (Martins, 2001).
Barreiras de proteção pessoal, também chamadas de EPI – Equipamento de
Proteção Individual são métodos físicos que interrompem as rotas de contamina-
ção, quebrando o ciclo que poderia ser estabelecido. As barreiras de proteção pes-
soal devem ser utilizadas rigorosamente dentro das clínicas, tanto por alunos ope-
radores como por seus auxiliares, professores e funcionários. (Stefani et al., 2002).
A imunização é indispensável para completar as barreiras de proteção pessoal. Todas as
pessoas expostas à contaminação (profissionais, alunos e funcionários) devem ser vacina-
das contra Hepatite B (Obrigatória!!!), tuberculose (BCG), tétano e difteria, sarampo e rubé-
ola. O ideal é quealunos se imunizem no 4º semestre, antes do início das atividades clínicas.
1.17.1 Luvas
Sempre que houver possibilidade de contato com sangue, saliva contaminada
por sangue, contato com a mucosa ou com superfície contaminada, o profissio-
nal deve utilizar luvas.
 
34 • capítulo 1
• Antes do atendimento de cada paciente, o profissional deve lavar suas
mãos e colocar novas luvas; após o tratamento de cada paciente, ou antes, de
deixar a clínica, o profissional deve remover e descartar as luvas e lavar as mãos.
• Tanto as luvas para procedimento como as luvas cirúrgicas não devem
ser lavadas antes do uso, nem lavadas, desinfetadas ou esterilizadas para
reutilização.
• As luvas de látex para exame não foram formuladas para resistir à exposi-
ção prolongada às secreções, podendo ficar comprometidas durante procedi-
mentos de longa duração.
Normas na utilização das luvas
• As luvas NÃO devem ser utilizadas fora das áreas de tratamento.
• As luvas devem ser trocadas entre os tratamentos de diferentes pacientes.
• A parte externa das luvas NÃO deve ser tocada na sua remoção.
• As luvas devem ser checadas quanto à presença de rasgos ou furos antes e
depois de colocadas, devendo ser trocadas, caso isso ocorra.
• Se as luvas se esgarçarem ou rasgarem durante o tratamento de um pacien-
te, devem ser removidas e eliminadas, lavando-se as mãos antes de reenluvá-las.
• Se ocorrerem acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes, as luvas
devem ser removidas e eliminadas, as mãos devem ser lavadas e o acidente
comunicado.
• Superfícies ou objetos fora do campo operatório NÃO podem ser toca-
dos por luvas usadas no tratamento do paciente. Recomenda-se a utilização de
SOBRE-LUVAS ou pinças esterilizadas.
• Em procedimentos cirúrgicos demorados ou com sangramento intenso,
está indicado o uso de dois pares de luvas.
• Luvas usadas não devem ser lavadas ou reutilizadas.
Técnica para a colocação das luvas esterilizadas
• Colocar o pacote sobre uma mesa ou superfície lisa, abrindo-o sem conta-
miná-lo. Expor as luvas de modo que os punhos fiquem voltados para si.
• Retirar a luva esquerda (E) com a mão direita, pela dobra do punho.
Levantá-la, mantendo-a longe do corpo, com os dedos da luva para baixo.
Introduzir a mão esquerda, tocando apenas a dobra do punho.
 
capítulo 1 • 35
• Introduzir os dedos da mão esquerda enluvada sob a dobra do punho da
luva direita (D). Calçar a luva direita, desfazendo a seguir a dobra até cobrir o
punho da manga do avental.
• Ajustar os dedos de ambas as mãos.
• Após o uso, retirar as luvas puxando a primeira pelo lado externo do pu-
nho, e a segunda pelo lado interno.
1.17.2 Máscaras
Durante o tratamento de qualquer paciente, deve ser usada máscara na face
para proteger as mucosas nasais e bucais da exposição ao sangue e saliva. A
máscara deverá ser descartável e apresentar camada dupla ou tripla, para filtra-
ção eficiente.
Normas para a utilização
• As máscaras devem ser colocadas após o gorro e antes dos óculos de
proteção.
• As máscaras devem adaptar-se confortavelmente à face, sem tocar lábios
e narinas.
• Não devem ser ajustadas ou tocadas durante os procedimentos.
• Devem ser trocadas entre os pacientes e sempre que se tornarem úmidas,
quando dos procedimentos geradores de aerossóis ou respingos, o que diminui
sua eficiência.
• Não devem ser usadas fora da área de atendimento, nem ficar penduradas
no pescoço.
• Devem ser descartadas após o uso.
• As máscaras devem ser removidas enquanto o profissional estiver com lu-
 vas. Nunca com as mãos nuas.
• Para sua remoção, as máscaras devem ser manuseadas o mínimo possível
e somente pelos bordos ou cordéis, tendo em vista a pesada contaminação.
• O uso de protetores faciais de plástico NÃO exclui a necessidade da utili-
zação das máscaras.
• Máscaras e óculos de proteção não são necessários no contato social,
tomada da história clínica, medição da pressão arterial ou procedimentos
semelhantes.
 
36 • capítulo 1
1.17.3 Óculos de proteção
Normas para a utilização
• Óculos de proteção com vedação lateral ou protetores faciais de plástico,
devem ser usados durante o tratamento de qualquer paciente, para proteção
ocular contra acidentes ocupacionais (partículas advindas de restaurações, pla-
ca dentária, polimento) e contaminação proveniente de aerossóis ou respingos
de sangue e saliva.
• Os óculos de proteção também devem ser usados quando necessário no
laboratório, na desinfecção de superfícies e manipulação de instrumentos na
área de lavagem.
• Óculos e protetores faciais não devem ser utilizados fora da área de
trabalho.
• Devem ser lavados e desinfetados quando apresentarem sujidade
1.17.4 Batas ou jalecos
Sempre que houver possibilidade de sujar as roupas com sangue ou outros flui-
dos orgânicos, devem ser utilizadas vestes de proteção, como batas (reutilizá-
 veis ou descartáveis), ou aventais para laboratório sobre elas.
Normas para a utilização
• A bata fechada, com colarinho alto e mangas longas é a que oferece a
maior proteção.
• As batas devem ser trocadas pelo menos diariamente, ou sempre que con-
taminados por fluidos corpóreos.
• As batas utilizadas devem ser retiradas na própria clínica e, com cuida-
do, colocados em sacos de plástico, para o procedimento posterior (limpeza ou
descarte). Com essa atitude, evita-se a veiculação de microrganismos da clínica
para outros ambientes, inclusive o doméstico.
 
capítulo 1 • 37
1.17.5 Gorros
Os cabelos devem ser protegidos da contaminação através de aerossóis e gotí-
culas de sangue e saliva, principalmente quando de procedimentos cirúrgicos,
com a utilização de gorros descartáveis, que devem ser trocados quando houver
sujidade visível
1.18 Aprender sobre a higienização das
mãos
Lavagem e cuidado das mãos
 A lavagem de mãos é obrigatória para todos os componentes da equipe de saú-
de; O lavatório deve contar com:
a) dispositivo que dispense o contato de mãos quando do fechamento da
água;
b) toalhas de papel descartáveis ou compressas estéreis;
c) sabonete líquido antimicrobiano;
Nenhuma outra medida de higiene pessoal tem impacto tão positivo na
eliminação da infecção cruzada na clínica odontológica quanto à lavagem das
mãos. A lavagem simples das mãos, ou lavagem básica das mãos, que consis-
te na fricção com água e sabão, é o processo que tem por finalidade remover
a sujidade e a microbiota transitória (constituída por contaminantes recentes
adquiridos do ambiente e que ficam na pele por períodos limitados).
 A lavagem das mãos deve ser realizada:
• no início do dia;
• antes e após o atendimento do paciente;
• antes de calçar as luvas e após removê-las;
• após tocar qualquer instrumento ou superfície contaminada;
• antes e após utilizar o banheiro;
• após tossir, espirrar ou assoar o nariz;
• ao término do dia de trabalho.
 
38 • capítulo 1
Técnica para lavagem das mãos
1. remover anéis, alianças, pulseiras e relógio;
2. umedecer as mãos e pulsos em água corrente;
3. dispensar sabão líquido suficiente para cobrir mãos e pulsos;
4. ensaboar as mãos. Limpar sob as unhas;
5. esfregar o sabão em todas as áreas, com ênfase particular nas áreas ao
redor das unhas e entre os dedos, por um mínimo de 15 segundos antes de en-
xaguar com água fria.
6. obedecer à seguinte seqüência: palmas das mãos; dorso das mãos; es-
paços entre os dedos; polegar;articulações; unhas e pontas dos dedos e punhos.
7. repetir o passo anterior;
8. secar completamente, utilizando toalhas de papel descartáveis.
Antissepsia das Mãos
É o processo utilizado para destruir ou remover microrganismos das mãos, uti-
lizando antissépticos. Realizada antes de procedimentos cirúrgicos e de proce-
dimentos de risco.
Soluções utilizadas:
• solução de digluconato de clorexidina a 2 ou 4% com detergente;
• solução de PVPI 10%, com 1% de iodo livre, com detergente;
• solução de álcool etílico 77% (v/v), contendo 2% de glicerina
Stiers et al., 1995; Guandalini, 1999
LEITURALEITURAhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Pasteur
https://www.youtube.com/watch?v=EnlBK8WjMwk
https://www.youtube.com/watch?v=u9rAOfI5Mf4
 
capítulo 1 • 39
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40 • capítulo 1
 
Características dasCaracterísticas das
BactériasBactérias
22
 
42 • capítulo 2
OBJETIVOSOBJETIVOS
• Conhecer as características gerais dos diferentes grupos de microrganismos;
• Conhecer a morfologia das bactérias, fungos e vírus;
• Reconhecer os mecanismos bacterianos de Patogenicidade;
• Identificar as Síndromes Infecciosas.
 
capítulo 2 • 43
2.1 Características gerais das bactérias
• São seres unicelulares, aparentemente simples, sem carioteca, ou seja,
sem membrana nuclear. Há um único compartimento, o citoplasma.
• O material hereditário, uma longa molécula de DNA, está enovelado na re-
gião, aproximadamente central, sem qualquer separação do resto do conteúdo
citoplasmático. Suas paredes celulares, quase sempre, contêm o polissacarídeo
complexo peptideoglicano.
• Usualmente se dividem por fissão binária. Durante este processo, o DNA
é duplicado e a célula se divide em duas. A seguir, você irá estudar mais deta-
lhadamente as características de maior importância para o entendimento das
aulas seguintes.
Tamanho
Invisíveis a olho nu, só podendo ser visualizada com o auxílio do microscópio,
as bactérias são normalmente medidas em micrômetros (µm), que são equiva-
lentes a 1/1000mm (10-3mm). As células bacterianas variam de tamanho de-
pendendo da espécie, mas a maioria tem aproximadamente de 0,5 a 1µm de
diâmetro ou largura.
Morfologia
Há uma grande variedade de tipos de bactérias e suas formas variam, depen-
dendo do gênero da bactéria e das condições em que elas se encontram. Apre-
sentam uma das três formas básicas: cocos, bacilos e espirilos.
CocosCocos – são células geralmente arredondadas, mas podem ser ovoides ou
achatadas em um dos lados quando estão aderidas a outras células. Os cocos
quando se dividem para se reproduzir, podem permanecer unidos uns aos ou-
tros, o que os classificam em:
DiplococosDiplococos – são os que permanecem em pares após a divisão.
EstreptococosEstreptococos - são aqueles que se dividem e permanecem ligados em for-
ma de cadeia.
TétradesTétrades – são aqueles que se dividem em dois planos e permanecem em
grupos de quatro.
 
44 • capítulo 2
EstafilococosEstafilococos - são aqueles que se dividem em múltiplos planos e formam
cachos (forma de arranjo).
SarcinasSarcinas - são os que se dividem em três planos, permanecendo unidos em
forma de cubo com oito bactérias.
BacilosBacilos – são células cilíndricas ou em forma de bastão. Existem diferenças
consideráveis em comprimento e largura entre as várias espécies de bacilos.
 As porções terminais de alguns bacilos são quadradas, outras arredondadas e,
ainda, outras são afiladas ou pontiagudas.
Coco Diplococo
Estreptococo
Sarcina
Cocobacilo Bacilo
Diplobacilo
Estreptobacilo
Hifa
 Tallo
 Filamento Espiroqueta
Empalizada
Tétrada
Estafilococo
Barra alargada
Fusobacterium
Coma
Bdellovibrio
Bastón
Corynebacteriaceae
Hélice
Helicobacter pylori
Sacacorchos
Borrelia bugdorferi
Vibrio
Diplococo
encapsulado
Pneumococo
CCooccoos s OOttrrooss
BacilosBacilos
Apéndices bacterianosApéndices bacterianos
2.2 Estruturas bacterianas
Com a ajuda do microscópio, podemos observar uma diversidade de estrutu-
ras, funcionando juntas numa célula bacteriana. Algumas dessas estruturas
 
capítulo 2 • 45
são encontradas externamente fixadas à parede celular, enquanto outras são
internas. A parede celular e a membrana citoplasmática são comuns a todas as
células bacterianas.
Cápsula
Fímbrias
Camada externa
Parede celular
Membrana plasmática
Flagelo
DNA em nucleóide
Camada de
peptidoglucano
Parede celular
 A parede celular é uma estrutura rígida que mantém a forma característica de
cada célula bacteriana. A estrutura é tão rígida que mesmo altas pressões ou
condições físicas adversas raramente mudam a forma das células bacterianas.
É essencial para o crescimento e divisão da célula. As paredes celulares das cé-
lulas bacterianas não são estruturas homogêneas, apresentam camadas de di-
ferentes substâncias que variam de acordo com o tipo de bactéria. Elas diferem
em espessura e em composição. Além de dar forma à bactéria, a parede celular
serve como barreira para algumas substâncias, previne a evasão de certas enzi-
mas, assim como a entrada de certas substâncias químicas e enzimas indese-
 jáveis, que poderiam causar danos à célula. Nutrientes líquidos necessários à
célula têm passagem permitida.
Membrana citoplasmática
Localiza-se imediatamente abaixo da parede celular. A membrana citoplasmá-
tica é o local onde ocorre a atividade enzimática e do transporte de moléculas
para dentro e para fora da célula. É muito mais seletiva à passagem de substân-
cias externas que a parede celular.
 
46 • capítulo 2
2.3 Estruturas externas a parede celular
Glicocálice
Significa revestimento de açúcar – é um envoltório externo à membrana plas-
mática que ajuda a proteger a superfície celular contra lesões mecânicas e
químicas. É composto de moléculas de açúcar associadas aos fosfolipídios e
às proteínas dessa membrana. O glicocálice bacteriano é um polímero viscoso
e gelatinoso que está situado externamente à parede celular. Na maioria dos
casos, ele é produzido dentro da célula e excretado para a superfície celular. O
glicocálice é descrito como uma cápsula.
Em certas espécies, as cápsulas são importantes no potencial de produção
de doenças da bactéria. As cápsulas, frequentemente,protegem as bactérias
patogênicas da fagocitose pelas células do hospedeiro.
Flagelos e cílios
Flagelo significa chicote – longo apêndice filamentoso que serve para locomo-
ção. Se as projeções são poucas e longas em relação ao tamanho da célula, são
denominados flagelos. Se as projeções são numerosas e curtas lembrando pe-
los, são denominados cílios.
Existem quatro tipos de arranjos de flagelos, que são:
• Monotríquio (um único flagelo polar).
• Anfitríquio (um único flagelo em cada extremidade da célula).
• Lofotríquio (dois ou mais flagelos em cada extremidade da célula).
• Peritríquio (flagelos distribuídos por toda célula).
 As bactérias móveis contêm receptores em várias localizações, como dentro
ou logo abaixo da parede celular. Estes receptores captam os estímulos quími-
cos, como o oxigênio, a ribose e a galactose. Em resposta aos estímulos, a infor-
mação é passada para os flagelos. Se um sinal quimiotático (estímulo químico)
é positivo, denominado atraente, as bactérias se movem em direção ao estímu-
lo com muitas corridas e poucos desvios. Se um sinal é negativo, denominado
repelente, a frequência de desvios aumenta à medida que a bactéria se move
para longe do estímulo.
 
capítulo 2 • 47
Filamentos axiais
São feixes de fibrilas que se srcinam nas extremidades das células e fazem uma
espiral em torno destas. A rotação dos filamentos produz um movimento que
propele as espiroquetas (bactérias que possuem estrutura e motilidade exclusi-
 va) como a Treponema pallidum, o agente causador da sífilis, em um movimento
espiral. Este movimento é semelhante ao modo como o saca-rolha se move, per-
mitindo que as bactérias se movam efetivamente através dos tecidos corporais.
Fimbrias e pili
São apêndices semelhantes a pelos mais curtos, mais retos e mais finos que os fla-
gelos, são usados para fixação em vez de motilidade. Essas estruturas, que distribu-
ídas de modo helicoidal em torno de um eixo central, são divididas em fimbrias e
pili, possuindo funções diversas. As fimbrias permitem as células aderir às superfí-
cies, incluindo as de outras células. As fimbrias de bactérias Neisseria gonorhoeae,
o agente causador da gonorreia, auxiliam o micróbio a colonizar as membranas
mucosas e uma vez que a colonização ocorre, as bactérias podem causar doenças.
Os pili (singular pilus), normalmente, são mais longos que as fimbrias, ha-
 vendo apenas um ou dois por célula. Os pili unem-se as células.
Área nuclear ou nucleoide
Contém uma única molécula circular longa de DNA de dupla fita, o cromosso-
mo bacteriano. É a formação genética da célula que transporta toda informação
necessária para as estruturas e as funções celulares.bacterianas na preparação
para transferência de DNA de uma célula para outra.
Ribossomos
Servem como locais de síntese proteica. São compostos de duas subunidades,
cada qual consistindo de proteínas e de um tipo de RNA denominado ribossô-
mico (RNAr). Os ribossomos procarióticos diferem dos eucarióticos no número
de proteínas e de moléculas de RNA. Devido a essa diferença, a célula microbia-
na pode ser morta pelo antibiótico, enquanto a célula do hospedeiro eucarióti-
co permanece intacta.
 
48 • capítulo 2
Esporos
Os esporos se formam dentro da célula bacteriana, chamada de endósporos,
são exclusivos de bactérias. São células desidratadas altamente duráveis, com
paredes espessas e camadas adicionais.
Os gêneros Bacillus e Clostridium podem apresentar esporos, estruturas
que constituem formas de defesa e não devem ser confundidas com unidades
reprodutivas. Na forma de esporos, essas bactérias têm a capacidade de resistir
à ação de agentes químicos diversos, às temperaturas inadequadas, aos meios
de radiação, ácidos e outras condições desfavoráveis.
Plasmídeos
São moléculas de DNA de dupla fita pequenas e circulares. Não estão conecta-
dos ao cromossomo bacteriano principal e replicam-se, independentemente,
do DNA cromossômico. Podem ser ganhos ou perdidos sem lesar a celular e
transferidos de uma bactéria para outra. Podem transportar genes para ativida-
des como a resistência aos antibióticos, tolerância aos metais tóxicos, produ-
ção de toxinas e síntese de enzimas. Quanto mais alto o peso molecular maior
será sua importância. Cada plasmídeo tem uma função própria, os que não têm
função são crípticos e apresentam baixo peso molecular.
Reprodução
Quando os microrganismos estão em um meio apropriado (alimentos, meios
de cultura, tecidos de animais ou plantas) e em condições ótimas para o cres-
cimento, um grande aumento no número de células ocorre em um período de
tempo relativamente curto. A reprodução das bactérias se dá, principalmente,
de forma assexuada, em que novas células iguais a que deu srcem são produ-
zidas. As bactérias se reproduzem assexuadamente por fissão binária, na qual
uma única célula parental simplesmente se divide em duas células filhas idên-
ticas. Anteriormente à divisão celular, os conteúdos celulares se duplicam e o
núcleo é replicado. O tempo de geração, ou seja, o intervalo de tempo requerido
para que cada microrganismo se divida ou para que a população de uma cultura
duplique em número é diferente para cada espécie e é fortemente influenciado
pela composição nutricional do meio em que o microrganismo se encontra.
 
capítulo 2 • 49
 Alguns procariotos se reproduzem assexuadamente por modelos de divisão
celular diferentes da fissão binária, tais como:
BROTAMENTOBROTAMENTO
A célula-mãe expele, de forma lenta, uma célula-filha que
brota de maneira a srcinar uma nova bactéria. As células-
filhas podem se manter agregadas às células-mães, após
sucessivos brotamentos forma-se uma colônia.
FRAGMENTAÇÃOFRAGMENTAÇÃO
Formação de filamentos, cada um deles inicia o crescimento
de uma nova célula. Ex. Nocardia sp
FORMAÇÃO DEFORMAÇÃO DE
ESPOROSESPOROS
Produção de cadeias de esporos externos.
Divisão das bactérias
 As bactérias são divididas em dois grandes grupos: as eubactérias e as arqueo-
bactérias. As eubactérias apresentam composição da parede celular diferente
das arqueobactérias, frequentemente aparecem aos pares, em cadeias, forman-
do tétrades ou agrupadas. Algumas apresentam flagelos, favorecendo seu des-
locamento rapidamente em líquidos. São de grande importância na natureza
 
50 • capítulo 2
e na indústria, sendo essenciais na reciclagem de lixo orgânico e na produção
de antibiótico como a streptomicina. As infecções causadas pelas eubactérias
incluem as streptocócica de garganta, tétano, peste, cólera e tuberculose.
 As arqueobactérias assemelham-se as eubactérias quando observadas por
meio de um microscópio, mas existem diferenças importantes quanto a sua
composição química, à atividade e ao meio ambiente em que se desenvolvem
tais como em elevada concentração de salina ou acidez elevada e altas tempera-
turas a exemplo de piscinas térmicas e lagoas salinas.
2.4 Mecanismos de resistência bacteriana
Desde que Alexander Fleming descobriu o primeiro antibiótico, a penicilina,
em 1928, o homem e a bactéria disputam uma corrida e a liderança da competi-
ção vem se alterando o tempo todo. A previsão, porém, é de que os antibióticos,
as drogas milagrosas do século XX, terminem vencidos pela bactéria, um dos
seres mais primitivos na face da Terra.
Se isso de fato acontecer, a humanidade fará uma viagem no tempo em mar-
cha ré: voltará a era em que as mulheres morriam de parto por causa de conta-
minação no sangue, quando uma simples infecção de ouvido infantil podia se
transformar numa terrível meningite e pequenos cortes, as vezes, provocavam
até complicações fatais.
O uso indiscriminado (abusivo) dos antibióticos desde sua industrialização
promoveu uma seleção natural das bactérias patogênicas (causadoras de doen-
ças). Por isso as populações atuais desses micróbios são bastante resistentes
aos medicamentos. Muitas vezes torna-se quase impossível combatê-las e para
tanto é preciso usar antibióticos tão poderosos que causam problemasao pró-
prio paciente, como danos ao fígado ou tecido ósseo.
2.5 Desenvolvimento de resistência
 Antes do desenvolvimento dos antibióticos, as infecções bacterianas sistêmi-
cas eram tão sérias e tão temidas, quanto a AIDS, o é, nos dias de hoje, pois
eram uma das principais causas de morte.
 
capítulo 2 • 51
Por mais de 50 anos, os antibióticos são empregados (na indústria, agricultu-
ra, pecuária e mesmo nos ambientes domésticos), para tratar ou inibir de forma
rápida e eficaz a maioria das infecções comuns. Considerados como drogas mi-
lagrosas, em 1954, foram fabricadas 1000 toneladas de antibióticos, contra uma
produção atual estimada em mais de 25 mil. No entanto, não houve atenção para
as conseqüências adversas de seu uso indiscriminado, como ocorre ainda hoje,
certa indiferença sobre qualquer problema potencialmente sério, relacionado a
esses fármacos, porque assim como os antimicrobianos podem ser prescritas em
tratamentos subterapêuticos, ou em superdoses, as bactérias são estimuladas a
adquirir nova força em um processo seletivo. "A resistência é o preço a pagar para
se ter e usar um antibiótico, pois a natureza rejeita o vácuo e fará o possível para
preenchê-lo.” Os custos dos tratamentos com antimicrobianos respondem por 20
a 60% dos gastos com aquisição de medicamentos da maioria dos hospitais.
Quando a política administrativa pressiona para a aquisição de antimicro-
bianos mais baratos, os gastos gerados para tratar os micro-organismos resis-
tentes podem inviabilizar qualquer dotação orçamentária, pelo prolongamen-
to do tempo de internação para o tratamento destas cepas, que muitas vezes
tornam-se endêmicas nos hospitais, além de gerar o desgaste profissional, pela
impotência da equipe de saúde em obter sucesso no tratamento de pacientes
que adquirem essas infecções.
 A resistência à antibióticos é um problema que está se agravando, pelo de-
senvolvimento de micro-organismos, extremamente difíceis de se tratar.
Para o paciente, a resistência antimicrobiana resulta no aumento da morbi-
dade, e da mortalidade. Para a instituição, no aumento dos custos da assistên-
cia à saúde.
 A prescrição de antibióticos para infecções de etiologia viral, que não neces-
sitam tratamentos, potencializa certamente o desenvolvimento da resistência.
São empregados também, rotineiramente, antibióticos de amplo espectro, em
casos onde um outro fármaco mais simples seria suficiente, para erradicar a
infecção.
 As bactérias possuem um número notável de mecanismos genéticos para
desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos: podem sofrer muta-
ção cromossômica, manifestar um gene latente de resistência cromossomal,
adquirir novo material de resistência genética através de troca direta de DNA
por conjugação, através de bacteriófago (transdução), através de plasmídeo
 
52 • capítulo 2
extracromossomal de DNA (também por conjugação), ou ainda por aquisição
de DNA, via transformação.
Não é incomum para uma única cepa de bactéria encontrada em um hospi-
tal, possuir vários desses mecanismos de resistência simultaneamente.
Outros fatores que contribuem para o surgimento de resistência incluem
a severidade crescente da doença, o aumento do comprometimento do siste-
ma imunológico, as intervenções invasivas, a transferência de pacientes entre
clínicas, a falha nos procedimentos de controle de infecção e as precauções de
isolamento ineficazes.
 Verifica-se na prática clínica, que, quando os pacientes não respondem a
um antimicrobiano particular, a resposta de muitos médicos, simplesmente é
substituir a droga e analisar seu êxito, ou sua ineficácia. O emprego de alterna-
tivas terapêuticas sem embasamento nos testes bacteriológicos primários, ou
sem uma pesquisa nos dados da literatura médica, promove ou potencializa a
resistência aos antimicrobianos.
O surgimento da resistência à antibióticos, é uma consequência direta de
seu emprego, e a resistência é, então, estabelecida pela pressão seletiva mostra-
da por estes fármacos.
Esse uso indiscriminado de antimicrobianos sobre certas cepas bacterianas
traz como consequência inevitável, o desenvolvimento de sua resistência. Para
aqueles antibióticos que são derivados de produtos naturais, a resistência está
relacionada à aquisição de genes codificadores de enzimas que inativam o an-
tibiótico, como as betalactamases, modificam seu alvo, como a produção de
PBP's (Penicilin Binding Proteins) modificadas, ou promovem o efluxo ativo do
antibiótico, como os macrolídios.
Crê-se que esses genes de resistência desenvolveram-se há centenas de
milhões de anos nas bactérias do solo, com a finalidade de proteger contra os
antibióticos produzidos por outras bactérias do solo, ou contra seus próprios
antibióticos. Segundo Stuart B. Levy, presidente da Aliança para Uso Prudente
dos Antibióticos (APUA), a resistência pode ocorrer eventualmente para todos
os antibióticos.
No processo inicial de desenvolvimento de resistência bacteriana hospi-
talar, as bactérias ambientais recebem tratamento antimicrobiano em doses
limitadas, suficientes para impedir, na maioria dos casos, que um paciente
 
capítulo 2 • 53
manifeste sinais de infecção. No entanto, com o passar do tempo, o grau de re-
sistência e o número de bactérias resistentes aumentam, invertendo o quadro a
favor das bactérias. Este processo genético e anormal de aquisição de resistên-
cia, não permite que a mesma desapareça, quando estabelecida.
2.6 Mecanismos genéticos de resistência
Resistência Plasmidial
 Além do DNA cromossômico, as células bacterianas podem conter pequenas
moléculas circulares de DNA denominadas plasmídios.
Certos plasmídios possuem genes responsáveis pela síntese de enzimas
que destrõem um antibiótico antes que ele destrua a bactéria. São os chamados
plasmídios R (de resistência aos antibióticos). Eles também possuem genes
que permitem sua passagem de uma bactéria para outra (fator F).
Quando dois ou mais tipos de plasmídios R estão presentes em uma mes-
ma bactéria, os genes de um deles podem passar para outro por recombinação
gênica: conjugação, transformação e transdução. Esse mecanismo faz com que
surjam plasmídios R portadores de diversos genes para resistência a diferentes
antibióticos.
Os plasmídios podem estar integrados no cromossomo, sendo capazes de
transferir genes cromossômicos. Muitos são promíscuos, isto é, passam o gene
de resistência para espécies não aparentadas geneticamente.
Resistência Cromossômica.
Como a resistência cromossômica depende de mutação espontânea, evento
raro, ela é dirigida quase sempre a uma só droga e os genes são transferidos
com freqüência relativamente baixa. Por isso, seu impacto clínico é menor que
o da resistência plasmidial.
Não podemos nos esquecer ainda , que bactérias sensíveis podem receber,
de graça, genes cromossômicos mutantes de bactérias já resistentes, através
dos processos de transformação, conjugação e transdução.
 
54 • capítulo 2
Transposons
Descobriu-se em 1974 que grande parte dos genes de resistência considerados
plasmidiais ou cromossômicos estão localizados sobre transposons e apresentam
as propriedades destes: disseminação rápida dentro da célula ou entre célula.
Os transposons são segmentos de DNA com grande mobilidade, eles codifi-
cam a enzima transposase - responsável por sua transferência para outros seg-
mentos de DNA. Eles são promíscuos: criam as variações invadindo diversos
sítios do DNA hospedeiro, mas às vezes exageram, produzindo mutações letais.
2.7 Mecanismos de reprodução em bactérias
Conjugação
É a transferência de material genético (DNA plasmidial e/ou do cromossomo)
entre duas bactérias através de um tubo de conjugação.
Na conjugação bacteriana duas bactérias unem-se temporariamente atra-
 vés de uma ponte citoplasmática. Em uma das células, denominada "doadora”
ou macho”, ocorre a duplicação de parte do cromossomo. “Essa parte duplica-
da separa-se e, através da ponte citoplasmática, passa para outracélula, deno-
minada “receptora” ou fêmea”, unindo-se ao cromossomo dessa célula recep-
tora. Esta ficará, então, com constituição genética diferente daquela das duas
células iniciais. Essa bactéria "recombinante" pode apresentar divisão binária,
dando srcem a outras células iguais a ela.
Como regra geral, em qualquer mecanismo de recombinação gênica nas
bactérias, somente uma fração do cromossomo da bactéria doadora é transfe-
rida para a bactéria receptora. A fração doada corresponde a uma porção dupli-
cada do cromossomo.
Transdução
É a transferência de material genético entre duas bactérias feitas por um vírus
bacteriófago.
 
capítulo 2 • 55
Transformação
É a incorporação de um material genético livre no meio por uma célula
bacteriana.
Atuação dos Antibióticos
Medicamentos que revolucionaram a história da medicina, protegendo o ho-
mem do ataque de bactérias antes mortais, os antibióticos são hoje um instru-
mento indispensável na guerra mundial contra as doenças infecciosas bacte-
rianas. Mas infectologistas do mundo todo estão cada vez mais preocupados
com o uso inadequado dessas substâncias, a partir da automedicação ou do
desconhecimento sobre o mecanismo de ação dos antibióticos, cuja pior con-
seqüência é a criação das chamadas superbactérias, microorganismos para os
quais dificilmente existe cura.
Uma associação internacional que visa alertar os médicos e a população em
geral para os problemas decorrentes do mau uso dos antibióticos, a Aliança
para o Uso Prudente de Antibióticos, tem agora uma regional no Brasil. De tem-
pos em tempos, dá-se o alerta: identificou-se no hospital y, na maternidade x ou
em determinada comunidade uma cepa de bactérias que resiste a qualquer dos
antibióticos conhecidos.
Normalmente eliminadas por uma das oito classes de antibióticos conheci-
das, bactérias até então comuns tornam-se imbatíveis, praticamente imortais.
E doenças que eram debeladas com o tratamento adequado transformam-se
em moléstias fatais. “Em situações de multirresistência microbiana, é o como
se voltássemos à era pré-antibiótica, quando os médicos não podiam intervir
na evolução natural de uma infecção”.
 A resistência bacteriana é responsável por um importante aumento na morbi-
dade e na mortalidade das doenças infecciosas e mesmo de outros tipos de patolo-
gias que evoluem com um quadro infeccioso. A resistência bacteriana é responsá-
 vel também por um grande aumento nos custos diretos e indiretos envolvidos no
tratamento das infecções - que se tornam mais severas e prolongadas, aumentan-
do assim o tempo de internação e o afastamento do paciente de suas atividades.
Uma das bactérias que acabaram se tornando monstruosas por causa do
uso repetidamente inadequado de antibiótico é justamente a da tuberculose, a
 Mycobacter tuberculosis Mycobacter tuberculosis, que se transmite de pessoa.
 
56 • capítulo 2
Isso explica os recentes picos de incidência da moléstia em países onde ela
parecia ter sido controlada, como o Brasil e até os Estados Unidos.
Em geral, um paciente tuberculoso precisa tomar os antibióticos indicados
por um período médio de seis meses, ininterruptamente. Como os remédios
não são isentos de efeitos colaterais e os sintomas desaparecem muito antes
do prazo de tratamento, boa parte dos pacientes deixa de tomar os antibióticos
por sua conta e risco. O resultado? “O objetivo do tratamento antibiótico não é
eliminar os sintomas, mas as bactérias. Se o tratamento é interrompido antes
do prazo, as bactérias que ainda estão vivas, que são justamente as mais fortes,
estão prontas para um novo ataque".
Bactericidas
 Atuam na membrana plasmática ou parede celular bacteriana, inibindo sua
síntese e provocando sua destruição. Como exemplo, temos os antibióticos pe-
nicilina, cefalosporina e vancomicina que atuam sobre as enzimas responsá-
 veis pela síntese da parede.
 A bactéria pode adquirir resistência produzindo enzimas (transferases e be-
talactamases), que alteram ou degradam drogas, por inibição da permeabilida-
de da membrana plasmática e pelo efluxo de drogas - bombeamento de drogas
para fora da célula.
Bacteriostáticos
 Atuam sobre o material genético bacteriano (cromossomo e plasmídio) bloque-
ando a replicação do DNA e a transcrição. Atuam também sobre os ribossomos,
RNA mensageiro e transportador bloqueando a síntese de proteínas. Dessa for-
ma, as bactérias ficam estáticas e morrem.
2.8 Mecanismos bacterianos de
patogenicidade
 A capacidade que tem um agente infeccioso tem de, uma vez instalado no orga-
nismo do homem e de outros animais, produzir sintomas em maior ou menor
 
capítulo 2 • 57
proporção, chama-se patogenicidade. Portanto, microrganismos patogênicos
são aqueles capazes de causar enfermidades em condições apropriadas. O grau
de patogenicidade dentro de um determinado gênero ou espécie È chamado
de virulência. A virulência não está• atribuída a um único fator, e sim, pode
depender•de vários fatores relacionados com o microrganismo, ao hospedei-
ro e á interação entre os dois. A virulência envolve duas características de um
microrganismo patogênico: infecciosidade (capacidade de poder iniciar uma
infecção) e a gravidade de condição da infecção. Podemos caracterizar as cepas
em: com alto grau de virulência, com médio grau de virulência ou sem virulên-
cia (avirulentas), dentro de um gênero ou espécies de microrganismos que na
maioria das vezes são considerados patogênicos.
Como se inicia a Patogenicidade?
Para se estabelecer um processo infeccioso, o microrganismo dever•penetrar
no hospedeiro e iniciar uma infecção. A capacidade do microrganismo de se
aderir e sobreviver nas superfícies das mucosas do hospedeiro leva ao primei-
ro contato. A união dos microrganismos em superfícies epiteliais, muitas das
 vezes não invade os tecidos mais profundos. Nesses casos, uma ou mais toxi-
nas produzidas pelo patógeno são responsáveis pela patologia. Os microrga-
nismos aderem ás células das mucosas epiteliais e em seguida atravessam esta
barreira, posteriormente se multiplicarão em tecidos subepiteliais, causando a
destruirão dos tecidos. Há organismos altamente invasivos que podem aderir e
atravessar a superfície epitelial, multiplicando-se e invadindo tecidos mais pro-
fundos, podendo eventualmente chegar se corrente sanguínea e causar infec-
ção generalizada. Existem bactérias que se aderem, invadem, multiplicam-se,
e se adaptam para continuarem no hospedeiro, mas normalmente dentro das
células do sistema reticuloendotelial.
Ex.: Micobactérias.
Há algumas bactérias que são especificas, pois infectam um determinado
tipo de tecido. O Streptococcus pneumoniae, por exemplo, pode habitar a gar-
ganta e a nasofaringe, mas quando causa doença, infecta preferencialmente
o trato respiratório inferior. A afinidade tecidual pode estar relacionada com
a presença de receptores específicos para aderência bacteriana ou se há a
 
58 • capítulo 2
presença de nutrientes. Temos como exemplo da dependência nutricional, a
Brucella abortus, que causa abortos contagiosos no gado. Esta bactéria neces-
sita do •ácool-açucar eritritol, que está presente em elevadas concentrações nos
tecidos uterinos e placentários bovinos, logo, esse microrganismo poderá habi-
tar o trato genital bovino devido a essa preferência nutricional.
2.9 Fatores de virulência
Adesão
Capacidade das bactérias de se fixar nas células e tecidos do organismo. A ade-
são se dá pela presença de estruturas da superfície da célula bacteriana, defini-
da como adesinas. As adesinas funcionam quando interagem com os recepto-
res que existem no organismo. Estes receptores se localizam na superfície da
célula ou são proteínas da matriz extracelular. As adesinas bacterianas incluem
fimbrias, componentes da cápsula, ácidos lipoteicoicos das bactérias Gram-po-
sitivas, Gram-negativas, ou outro antígeno de superfície celular.
 As bactérias podem se aderir, por exemplo, a superfícies de vasos sanguí-
neos ou adiferentes dispositivos plásticos usados em medicina, onde formam
os chamados biofilmes. Estes são microcolônias ou agregados bacterianos que
são envolvidos por uma película de exopolissacarídeos produzida pela bacté-
ria que se forma na superfície dos dispositivos plásticos, quando colocados no
organismo.
Funcionam como uma fonte permanente de bactérias que podem causar
infecção em Órgãos distintos. Nos biofilmes, as bactérias estão bem resguarda-
das das defesas do organismo e da ação dos antimicrobianos. Estes podem se
formar tanto em superfícies plásticas quanto em mucosas (fibrose cística), nos
dentes (placa dentária) e nas tubulações em geral.
Invasão
 Alem de aderir, as bactérias também podem invadir diferentes células do nosso
organismo para causar infecção. A penetração bacteriana nas células do organis-
mo se dá pelo processo que chamamos de fagocitose (defesa inata mais eficien-
te). Há dois tipos de fagocitose: uma È exercida por células fagocitárias e a outra
 
capítulo 2 • 59
pelas células epiteliais ou células não fagocitárias. A fagocitose exercida pelas cé-
lulas fagocitárias é um processo que acontece naturalmente, com o objetivo de
proteger o organismo da bactéria. A fagocitose causada por células epiteliais ou
por células não fagocitárias é induzida pela bactéria, e tem como objetivo prote-
gê-las das defesas do organismo. Quanto aos mediadores das duas fagocitoses,
temos, na fagocitose natural, o auxilio de anticorpos e do complemento.
 Já na fagocitose induzida, temos a ação de diferentes proteínas, chamadas
de invasinas. As invasinas podem se localizar na membrana externa da bacté-
ria ou podem ser introduzidas no citosol. Podemos dizer que ambos os tipos
de fagocitose envolvem o citoesqueleto de actina, tanto nas células fagocitárias
como nas não fagocitárias, com projeções de extensões celulares chamadas
pseudópodos, que envolvem a célula bacteriana em vacúolos.
Cada bactéria invasora é dotada de diferentes mecanismos próprios de in-
 vasão e estes servirão ao propósito de cada uma delas. As respostas das células
do nosso organismo podem ser várias, as que mais conhecemos incluem a pro-
dução de citocinas e prostaglandinas.
 As citocinas, também chamadas de interleucinas, são produzidas por ma-
crófagos ativados e estimulam o amadurecimento do linfócito. Já as prosta-
glandinas podem causar morte celular por necrose (diminuição de nutrientes)
ou por apoptose (morte celular programada). Com relação ás bactérias, o mais
importante È a necessidade de regular a expressão dos seus genes de virulência
para se adaptarem aos organismos onde vivem. Bactérias intra e extracelulares
O crescimento e a multiplicarão de células bacterianas podem ocorrer dentro
(intracelular) ou fora (extracelular) das células do nosso organismo.
 Algumas bactérias são classificadas como intracelulares obrigatórias, por
precisarem de nutrientes produzidos pela célula hospedeira. Sua localização
intracelular permite que sejam protegidas de anticorpos, da fagocitose e de al-
guns antimicrobianos.
Sideróforos
Íons metálicos, como o ferro, estão entre as necessidades do metabolismo bac-
teriano. Os sideróforos são compostos de baixo peso molecular que têm grande
afinidade por ferro e formam complexos importantes para as células. Dentro
das células, o ferro È reduzido a uma forma solúvel (Fe II). O complexo sideró-
foro-ferro é necessário porque Fe é insolúvel no pH fisiológico e, portanto, não
 
60 • capítulo 2
pode ser transportado entre células por meio de canais de Ìons. A produção de
sideróforos é uma estratégia bastante interessante para as bactérias presentes
em nosso corpo. Para que este processo não ocorra, o nosso organismo criou
um mecanismo para retirar o ferro dos líquidos corpóreos. Assim, o ferro que
existe no sangue está quase que todo ligado á hemoglobina nas células verme-
lhas (eritrócitos), á transferrina no plasma e á lactoferrina no leite e em outras
secreções (lágrima, muco, etc.). Quando se inicia uma infecção, nosso organis-
mo aumenta a produção de proteínas que sequestram a maior quantidade de
ferro, tornando-o pouco disponível para a bactéria. Desta forma, bactérias que
não competem eficazmente com o hospedeiro pelo ferro disponível são pouco
patogênicas e as que secretam os sideróforos (com ferro ligado) possibilitam
sua internalização pela célula bacteriana, após ligar-se a receptores específicos.
Toxinas
O termo usado em Microbiologia para nomear qualquer substância de srcem
bacteriana capaz de causar danos no organismo animal. As toxinas bacterianas
são classificadas, desde o século XIX, em: endotoxinas e exotoxinas.
Endotoxinas
O LPS (lipopolissacarídeo) È a endotoxina presente principalmente na mem-
brana externa de membros da família Enterobacteriaceae. Sua estrutura È com-
posta por três partes: lipídeo A (glicopeptídeo composto de dissacarídeo que
se liga aos ácidos graxos), cerne (pequeno número de açucares comuns, como
o ácido deoxioctanoico (KDO) e a heptose) e antígeno O (composto formado
por uma variedade de resíduos oligossacarídeos, que protegem a bactéria da
ação de substâncias hidrofóbicas). O lipídio A é a parte toxigênica das bactérias
Gram-negativas, como, por exemplo, Neisseria spp.
O LPS induz a liberação de substâncias vasoativas, ativa o sistema comple-
mento pela via alternativa, através da ação sobre o componente C3 (Sistema
Complemento), e ativa a cascata de coagulação, provocando obstrução intra-
 vascular. Todos estes processos podem resultar em instabilidade cardiovascu-
lar e hemodinâmica, levando a uma septicemia. Manifestações semelhantes
podem ser causadas por bactérias Gram-positivas, devido a componentes de
sua parede bacteriana.
 
capítulo 2 • 61
Exotoxinas
 As exotoxinas podem ser divididas em três grupos ou tipos: I, II, III. Essa divisão
é de acordo ás interações com as células do hospedeiro.
• Grupo I
 As toxinas pertencentes a este grupo correspondem aos superantígenos e ás
toxinas da família ST (termoestáveis).
Os superantígenos não sofrem a ação dos macrófagos, mas possuem a ca-
pacidade de se ligar ás moléculas de MHC da superfície dos macrófagos e aos
receptores na superfície dos linfócitos. Isso permite que haja a produção de
grandes quantidades de interleucinas, interferons e outras citocinas por outras
células alem dos linfócitos. Um exemplo de bactéria que produz superantígeno
é o Staphylococcus aureus.
 Assim como os superantígenos, as toxinas ST agem somente na superfície
das células. As toxinas ST compreendem uma família de pequenos peptídeos
não imunogênicos produzidos por algumas bactérias, como, por exemplo, a
Escherichia coli.
• Grupo II
 As toxinas deste grupo têm como característica lesar a membrana citoplasmá-
tica, através da formação de poros, que leva a morte da célula. Como os glóbulos
 vermelhos (hemácias) são as células mais estudadas em relação a essas toxinas,
estas receberam o nome de hemolisinas, mas isso não quer dizer que outras cé-
lulas não possam ser lesadas. A virulência dessas toxinas È demonstrada, princi-
palmente, pela capacidade de matarem os fagócitos, rompendo à membrana dos
fagossomas, e lisar as hemácias para captura do ferro da hemoglobina. Outros
mecanismos também podem estar envolvidos, como a presença de toxinas que
retiram o fosfato dos fosfolipídios (fosfolipases), desestruturando a membrana.
• Grupo III
Este grupo possui o maior número de toxinas e fatores de virulência, por
esse motivo acreditamos ser o grupo mais importante. As toxinas deste grupo
 
62 • capítulo 2
possuem uma característica comum entre elas, que é a presença das subunida-
des A e B em sua molécula. A subunidade A corresponde se porção enzimática e
ativa da toxina, penetrando na célula e exercendo os efeitos biológicos da toxi-
na (na maioria das vezes, remove a ADP-ribose da NAD (nicotinamida adenina
dinucleotídeo) e as transfere para diferentes proteínas das células, que perdem
as suas funçõesnormais). A subunidade B (binding binding ) È responsável pela ligação
da toxina ao seu receptor celular. Essas toxinas também recebem o nome de
toxinas A-B.
Enzimas hidrolíticas
Enzimas como hialuronidase, colagenase e proteases são hidrolíticas, sendo
capazes de degradarem componentes da matriz extracelular, desorganizando
toda a estrutura dos tecidos. Esta degradação forma vários nutrientes que são
utilizados pelas bactérias. Dificilmente se consegue distinguir o papel desen-
 volvido pelos fatores bacterianos daquele desenvolvido pelo processo inflama-
tório, visto que os fagócitos também produzem enzimas hidrolíticas.
2.10 Características gerais dos fungos
Os fungos são organismos eucarióticos, heterotróficos e, geralmente, multice-
lulares. São encontrados na superfície de alimentos, formando colônias algo-
donosas e coloridas.
 
capítulo 2 • 63
Os mais conhecidos são os bolores, os cogumelos, as orelhas-de-pau e as
leveduras (fermentos). Os fungos, em sua maioria, são constituídos por fila-
mentos microscópicos e ramificados, as hifas. O conjunto de hifas de um fun-
go constitui o micélio. Os fungos têm nutrição heterotrófica porque necessi-
tam de matéria orgânica, provenientes dos alimentos, para obtenção de seus
nutrientes.
 A maioria vive no solo, alimentando-se de cadáveres de animais, de plantas
e de outros seres vivos. Esse modo de vida dos fungos causa o apodrecimento de
diversos materiais e por isso são chamados de saprofágicos. Certas espécies de
fungos são parasitas e outras vivem em associações harmoniosas com outros
organismos, trocando benefícios.
2.11 Características dos fungos em relação
às bactérias
Os fungos são geralmente adaptados a ambientes que poderiam ser hostis às
bactérias. São encontrados na superfície de alimentos formando colônias algo-
donosas e coloridas. Todavia, diferem das bactérias em determinadas necessi-
dades ambientais e nas características estruturais e nutricionais apresentadas
a seguir:
• Apresentam a parede celular com presença de substâncias quitinosas e cé-
lulas com organelas membranosas (mitocôndrias, complexo de golgi, vacúolo).
 
64 • capítulo 2
• Não possuem células móveis em todos os estágios do ciclo de vida.
• Reserva de energia na forma de glicogênio.
• Os fungos normalmente crescem melhores em ambientes em que o pH é
muito ácido, o qual são desfavoráveis para o crescimento da maioria das bacté-
rias comuns.
• Quase todos possuem forma aeróbica. Algumas leveduras são anaeróbi-
cas facultativas.
• A maioria dos fungos é mais resistente à pressão osmótica que as bac-
térias; muitos, consequentemente, podem crescer em altas concentrações de
açúcar ou sal.
• Podem crescer sobre substâncias com baixo grau de umidade, geralmen-
te tão baixo que impede o crescimento de bactérias.
• Necessitam de menos nitrogênio para um crescimento equivalente ao das
bactérias.
• São capazes de metabolizar a carboidratos complexos, tais como lignina
(madeira), que as bactérias não podem utilizar como nutriente.
 As características citadas, anteriormente, nos mostram que os fungos se de-
senvolvem em substratos diversos como paredes de banheiro, couro de sapatos
e jornais velhos.
2.12 Modo de vida dos fungos de acordo
com o tipo de alimentação
Os fungos apresentam grande variedade em relação aos modos de vida, mas
sempre obtêm alimento por absorção de nutrientes do meio.
DECOMPOSITORESDECOMPOSITORES
Os fungos decompositores obtêm seus alimentos pela
decomposição de matéria orgânica. Eles podem atuar
como saprófagos, degradando a matéria orgânica pre-
sente no corpo de organismos mortos.
 
capítulo 2 • 65
PARASITASPARASITAS
São parasitas os fungos que se alimentam de substân-
cias retiradas do corpo de organismos vivos, nos quais se
instalam, prejudicando-os. Esses fungos provocam doen-
ças em plantas e em animais, inclusive no ser humano.
MUTUALÍSTICOSMUTUALÍSTICOS
Certas espécies de fungos estabelecem relações mu-
tualísticas com outros organismos, nos quais ambos
se beneficiam. Dentre os fungos mutualísticos, alguns
vivem associados a raízes de plantas formando as mi-
corrizas (raízes que contêm fungos). Nesses casos, elas
absorvem água do solo, degradam a matéria orgânica
e absorvem os nutrientes liberados, transferindo parte
deles para a planta, que cresce mais sadia. Esta, por sua
vez, cede ao fungo certos açúcares e aminoácidos de
que ele necessita como alimento.
PREDADORESPREDADORES
Entre os fungos mais especializados estão os predado-
res, que desenvolvem vários mecanismos para capturar
pequenos organismos, especialmente nematódeos, uti-
lizando-os como alimento.
2.13 Tipos de reprodução
Assexuada
• Ocorre pela fragmentação do micélio, brotamento, cissiparidade ou pro-
dução de esporos assexuais.
• Não ocorre fusão de núcleos, apenas mitoses sucessivas.
• Mitose - divisão celular na qual os cromossomos das células são duplica-
dos e as células formadas apresentam a mesma constituição genética.
• Este tipo de reprodução corresponde à fase imperfeita, também chamada
de anamórfica dos fungos.
 
66 • capítulo 2
Sexuada
• Aumenta a variabilidade genética, pois os indivíduos formados podem
apresentar constituição genética diferente.
• Corresponde à fase perfeita ou teleomórfica dos fungos.
• Envolve a ocorrência de três processos:
PLASMOGAMIAPLASMOGAMIA
Fusão de protoplasmas, resultante da anastomose de
duas células.
CARIOGAMIACARIOGAMIA
Fusão de dois núcleos haploides (n) e compatíveis for-
mando um núcleo diploide (2n).
MEIOSEMEIOSE
Núcleo diploide (2n) sofre divisão reducional após a ca-
riogamia para formar dois núcleos haploides (n).
2.14 Diversidade morfológica dos fungos
Fungos unicelulares (leveduras)
• Células ovais ou esféricas – 1 a 10 µm.
• Reprodução por brotamento ou cissiparidade.
• Crescimento geralmente rápido formando colônias cremosas ou mem-
branosas e ausência de hifas aéreas.
• Em determinadas condições, células em reprodução permanecem liga-
das à célula-mãe, formando pseudo-hifas.
Fungos filamentosos (bolores)
• Multicelulares formados por estruturas tubulares (hifas – 2 a 10µm) o
conjunto dessas estruturas constitui o micélio.
• As hifas podem ser contínuas (cenocíticas ou asseptadas) ou apresentar
divisões transversais (hifas septadas).
 
capítulo 2 • 67
Fungos dimórficos
• Apresentam em determinadas condições a fase leveduriforme (37° C, alta
tensão de CO
2
) e em outras a fase filamentosa.
• A fase de levedura se reproduz por brotamento, enquanto que a fase fila-
mentosa produz hifas aéreas e vegetativas.
• O dimorfismo nos fungos dependente da temperatura de crescimento.
Crescido a 37 °C, o fungo apresenta forma de levedura. Crescido a 25° C, ele
apresenta a forma filamentosa.
Observe em alimentos com colônias de fungos (pães, extrato de tomate, tomates, quei-
 jo e outros), as hifas que em conjunto formam o micélio, e as diversas colorações.
2.15 Caracteristicas gerais dos vírus
Os vírus não são considerados organismos vivos porque são inertes fora das
células hospedeiras. Diferem dos demais seres vivos pela ausência de organi-
zação celular, por não possuírem metabolismo próprio e por necessitarem de
uma célula hospedeira. No entanto, quando penetram em uma célula hospe-
deira, o ácido nucleico viral torna-se ativo ocorrendo a multiplicação.
Características dos vírus
• Possuem um único tipo de ácido nucleico, DNA ou RNA.
• Possuem uma cobertura proteica, envolvendo o ácido nucleico.
• Multiplicam-se dentro de células vivas, usando a maquinaria de síntese
das células.
• Induzem a síntese de estruturas especializadas, capazes de transferir o
ácido nucleico viral para outras células.
• Parasitas obrigatórios apresentando incapacidade de crescer e se dividir
autonomamente.
• Replicação somente a partir de seu próprio material genético.
 
68 • capítulo 2
Estrutura viral
Um vírion é uma partícula viral completa, composta por um meio ácido nuclei-
co, envolto por uma cobertura proteicaque protege do meio ambiente e serve
como veículo na transmissão de um hospedeiro para o outro. Os vírus são clas-
sificados de acordo com as diferenças na estrutura desses envoltórios.
Capsídeo e envelope
O ácido nucleico dos vírus é envolvido por uma cobertura proteica chamada
de capsídeo. A estrutura deste é denominada pelo genoma viral e constitui a
maior parte da massa viral. O capsídeo é formado por subunidades protéicas
chamadas de capsômeros. Em alguns vírus, o capsídeo é coberto por um en-
 velope que, consiste de uma combinação de lipídios, proteínas e carboidratos.
 Alguns vírus animais saem do hospedeiro por um processo de extrusão, no qual
a partícula é envolvida por uma camada de membrana plasmática celular que
 vai constituir o envelope viral. Os vírus cujos capsídeos não estão cobertos por
um envelope são conhecidos como vírus não-envelopados.
Classificação morfológica
Podem ser classificados com base na arquitetura do capsídeo.
• Vírus Vírus helicoidhelicoidaisais – O genoma viral está no interior de um capsídeo cilín-
drico oco com estrutura helicoidal.co oco com estrutura helicoidal.
• Vírus po Vírus poliédricoliédricoss – O capsídeo da maioria deles tem a forma de um icosa-
edro. São exemplos o adenovírus e o poliovírus.
• Vírus e Vírus envelopadonvelopadoss – o capsídeo é coberto por um envelope.
• Vírus Vírus complexocomplexoss – alguns vírus, especialmente os bacterianos, possuem
estruturas complicadas e por isso são denominados complexos. Um bacteriófa-
go ou gagos (vírus que atacam bactérias) é um exemplo de vírus complexo. Um
fago é capaz de aderir à parede celular de uma bactéria hospedeira, perfuran-
do-a e nela injetando seu DNA. O capsídeo proteico do fago, formado por uma
“cabeça” e uma “cauda”, permanece fora da bactéria.
 
capítulo 2 • 69
Multiplicação de bacteriófagos
O ciclo de vida viral mais conhecido é o dos bacteriófagos, que podem se multi-
plicar por dois mecanismos alternativos: o ciclo lítico (termina com a morte da
célula hospedeira) ou ciclo lisogênico (a célula permanece viva).
LEITURALEITURA
Principais Síndromes Infecciosas: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/
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70 • capítulo 2
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ElementosElementos
da Nutriçãoda Nutrição
Microbiana,Microbiana,
Ecologia eEcologia e
Crescimento.Crescimento.
33
 
72 • capítulo 3
OBJETIVOSOBJETIVOS
• Elementos da nutrição microbiana, ecologia e crescimento
• Estudo do crescimento microbiano
• Curva de crescimento bacteriano
• Métodos de controle de crescimento microbiano
• Introdução a imunologia
• Reconhecimento dos antígenos
 
capítulo 3 • 73
3.1 Elementos da nutrição microbiana,
ecologia e crescimento
O crescimento e divisão celulares necessitam de um ambiente propício com to-
dos os constituintes químicos e físicos necessários para o seu metabolismo. Es-
sas necessidades específicas são dependentes de informações genéticas para
cada espécie bacteriana. Algumas espécies com vasta flexibilidade nutricional,
como as Pseudomonas, são capazes de sintetizar muitos de seus metabólitos
a partir de precursores simples, enquanto outras espécies são mais exigentes,
como as Porphyromonas e Treponemas, que necessitam de nutrientes comple-
xos para o crescimento e reprodução.
3.2 Fontes dos nutrientes essências
 A análise das estruturas bacterianas revela que sua arquitetura é formada por
diferentes macromoléculas, em particular, proteínas e ácidos nucleicos. Os
precursores das macromoléculas podem ser retirados do meio ambiente ou ser
sintetizados pelas bactérias a partir de compostos mais simples. A alternativa
escolhida vai depender da disponibilidade do composto no meio e da capaci-
dade de síntese do microrganismo. As substâncias ou elementos retirados do
ambiente e usados para construir novos componentes celulares ou para obter
energia são chamados nutrientes. Os nutrientes podem ser divididos em duas
classes, macronutrientes e micronutrientes.
3.2.1 Macronutrientes
CARBONOCARBONO
Está presente na maioria das substâncias que compõem as cé-
lulas. As bactérias podem utilizar o carbono inorgânico existen-te no ambiente, na forma de carbonatos ou de CO2 como única
fonte de carbono. São neste caso chamadas de autotróficas.
Os microrganismos que obrigatoriamente requerem uma fonte
orgânica de carbono são denominados heterotróficos e as prin-
cipais fontes, são os carboidratos.
 
74 • capítulo 3
OXIGÊNIOOXIGÊNIO
É requerido na forma molecular como aceptor final na cadeia
de transporte de elétrons aeróbia. Também é elemento impor-
tante em várias moléculas orgânicas e inorgânicas.
HIDROGÊNIOHIDROGÊNIO
Como componente muito frequente da matéria orgânica e inor-
gânica, também constitui um elemento comum de todo material
celular.
NITROGÊNIONITROGÊNIO
É componente de proteínas e ácidos nucleicos, além de vitami-
nas e outros compostos celulares. Está disponível na natureza
sob a forma de gás (N2) ou na forma combinada. Sua utilização
como N2 é restrita a um grupo de bactérias cujo principal ha-
bitat é o solo. Na forma combinada, o nitrogênio é encontrado
como matéria inorgânica (NH3, NO3 etc.) ou matéria orgânica:
aminoácidos, purinas e pirimidinas.
ENXOFREENXOFRE
Faz parte de aminoácidos (cisteína e metionina), de vitaminas e
grupos prostéticos de várias proteínas importantes emreações
de óxido-redução. Da mesma forma que o nitrogênio, o enxofre
pode ser encontrado no ambiente nas formas elementar, oxida-
da e reduzida; estas duas últimas aparecem como compostos
orgânicos e inorgânicos. Todas as alternativas citadas podem
ser utilizadas pelas bactérias, porém são os sulfatos (SO4 -2)
inorgânicos ou os aminoácidos as formas preferencialmente
assimiladas. Na forma oxidada, também pode ser aceptor final
de elétrons das cadeias de transporte de elétrons anaeróbias.
FÓSFOROFÓSFORO
É encontrado na célula na forma combinada a moléculas impor-
tantes como os nucleotídeos (ATP, CTP, GTP, UTP, TTP) e como
fosfato inorgânico; nesta última forma é incorporado através de
poucas reações metabólicas, embora uma delas seja de funda-
mental importância: a síntese de ATP a partir de ADP e fosfato.
As substâncias fosforiladas podem estar envolvidas com o ar-
mazenamento de energia ( como o ATP) ou atuar como regu-
ladoras de processos metabólicos: muitas enzimas tornam-se
ativas ao serem fosforiladas.
 
capítulo 3 • 75
3.2.2 Micronutrientes
MacronutrientMacronutrientes e es e MicronutrientesMicronutrientes. Ambos os tipos são imprescindíveis, mas os pri-
meiros são requeridos em grandes quantidades por serem os principais constituintes
dos compostos orgânicos celulares e / ou serem utilizados como combustível.
Os elementos ferro, magnésio, manganês, cálcio, zinco, potássio, sódio, co-
bre, cloro, cobalto, molibdênio, selênio e outros são encontrados sempre na
forma inorgânica, fazendo parte de minerais. São necessários ao desenvolvi-
mento microbiano, mas em quantidades variáveis, dependendo do elemento e
do microrganismo considerados.
Os micronutrientes podem atuar de diferentes maneiras, incluindo as se-
guintes funções principais:
• Componentes de proteínas, como o ferro que participa da composição de
 várias proteínas enzimáticas ou não, de citocromos, etc.;
• cofatores de enzimas, como o magnésio, potássio, molibdênio, etc.
• Componentes de estruturas, como o cálcio, presente em um dos envoltó-
rios dos esporos;
• Osmorreguladores.
3.3 Estudo do crescimento microbiano
Para se cultivar microrganismos deve-se obedecer a requisitos básicos obriga-
tórios, quais sejam incubá-los em meios de cultura adequados e incubá-los em
condições ambientais igualmente adequadas.
Um inóculo é uma amostra de material contendo geralmente uma pequena
quantidade de microrganismos; obedecidas as condições citadas, os microrga-
nismos contidos no inóculo multiplicam-se, aumentando em número e massa
e, com isto, atingindo o objetivo desejado.
 
76 • capítulo 3
Meios de Cultura
Meio de cultura é uma mistura de nutrientes necessários ao crescimento mi-
crobiano. Basicamente deve conter a fonte de energia e de todos os elementos
imprescindíveis à vida das células. A formulação de um meio de cultura deve
levar em conta o tipo nutritivo no qual o microrganismo pertence, conside-
rando-se a fonte de energia (luz ou substância química), o substrato doador de
elétrons (orgânico ou inorgânico) e a fonte de carbono (orgânica ou inorgâni-
ca). Estabelecidas as condições gerais, o meio de cultura deve ainda atender as
necessidades específicas do grupo, da família, do gênero ou da espécie que se
deseja cultivar. Assim, é imprescindível acrescentar ao meio vitaminas, cofa-
tores, aminoácidos, etc., quando estes compostos não são sintetizados pelos
microrganismos que se deseja cultivar.
Fatores de crescimento
Entre as bactérias heterotróficas há uma imensa variedade de exigências nutri-
tivas. Algumas são capazes de crescer em meio muito simples, constituído de
uma solução de glicose, sal de amônio e alguns sais minerais. A partir desses
compostos, sintetizam todos os componentes do protoplasma: proteínas, po-
lissacarídeos, ácidos nucléicos, coenzimas, etc. Outras, todavia, são incapazes
de sintetizar determinados compostos orgânicos essenciais para o seu metabo-
lismo. Para que estes microrganismos possam crescer, tais compostos devem
ser obtidos do meio natural ou artificial em que vivem. Essas substâncias são
denominadas fatores de crescimento. Muitos desses fatores são componentes
de coenzimas, que, para o homem, são vitaminas. Na realidade, certas vitami-
nas, como o ácido fólico, foram descobertas por serem necessárias ao cresci-
mento de determinadas bactérias. As composições dos meios de cultura, por-
tanto, podem ser muito variadas. Um meio pode ter uma composição simples,
contendo um único carboidrato como fonte de energia e carbono e alguns sais
minerais; em outro extremo estão os meios requeridos por microrganismos
mais exigentes, apresentando composição complexa, contendo várias fontes
de carbono e energia, vitaminas e aminoácidos, podendo ainda ser acrescidos
de sangue ou soro de animais.
 Além da composição qualitativa, o meio de cultura deve obedecer aos limi-
tes de quantidade de cada componente suportáveis pelos microrganismos.
 
capítulo 3 • 77
Muitas vezes o meio de cultura deve conter substâncias para neutralizar a ação
de produtos tóxicos lançados pelos próprios microrganismos, que sofrem os efeitos
de seu acúmulo. Um exemplo rotineiro é adição de tampões para impedir a queda
de pH provocada pelos ácidos orgânicos produzidos por fermentação bacteriana.
Os meios podem ser líquidos, quando são uma solução aquosa de nutrien-
tes, ou sólidos, quando a solução aquosa é gelificada por um polissacarídeo ex-
traído de algas, o ágar.
O meio sólido é obrigatoriamente usado quando se pretende separar célu-
las. Cada célula individualizada ou agrupamento isolado dá srcem, por multi-
plicação, a um aglomerado que constitui uma colônia. Colônias de diferentes
espécies geralmente apresentam características morfológicas diferentes.
Os meios de cultura podem ser seletivos, quando contêm uma substância
que inibe o crescimento de um determinado grupo de microrganismos, mas
permite o desenvolvimento de outros.
Influência de fatores ambientais
 A tomada de nutriente e posterior metabolismo é influenciada por fatores físi-
cos e químicos do meio ambiente. Os principais fatores são: temperatura, pH,
presença de oxigênio, pressão osmótica e luz.
Temperatura
Cada tipo de bactéria apresenta uma temperatura ótima de crescimento, em
torno desta temperatura observa-se um intervalo dentro do qual o desenvolvi-
mento também ocorre, sem, no entanto, atingir o seu máximo. Ultrapassado o
limite superior, rapidamente ocorre desnaturação do material celular e, con-
seqüentemente, a morte da célula. As temperaturas inferiores à ótima levam a
uma desaceleração das reações metabólicas, com diminuição da velocidade de
multiplicação celular, que em caso extremo, fica impedida.
 As variações quanto ao requerimento térmico permite classificar as bacté-
rias segundo a temperatura ótima para o seu crescimento, em:
• psicrófilas: entre 12 e 17 °C
• mesófilas: entre 28 e 37 °C
• termófilas: 57 e 87 °C
 
78 • capítulo 3
Embora grupos excêntricos, que necessitam de altas temperaturas para o
seu crescimento, a maioria concentra-se no grupo de mesófilas, principalmen-
te as de interesse médico, veterinário e agronômico.
pH
Os valores de pH em torno da neutralidade são os mais adequados para absor-
ção de alimentos para a grande maioria das bactérias. Existem, no entanto, gru-
pos adaptados a viver em ambientes ácidos e alcalinos.
Oxigênio
O oxigênio pode ser indispensável, letal ou inócuo para as bactérias, o que per-
mite classificá-las em:
AERÓBIASAERÓBIAS
ESTRITASESTRITAS
Exigem a presença de oxigênio, como as do gênero Aci-
netobacter.
MICROAERÓFILASMICROAERÓFILAS
Necessitam de baixos teores de oxigênio, como o
Campylobacter jejuni .
FACULTATIVASFACULTATIVAS
Apresentam mecanismos que as capacitam a utilizar o
oxigênio quando disponível, mas desenvolver-se tam-
bém em sua ausência. Escherichia coli e várias bacté-
rias entéricas tem esta característica.
ANAERÓBIASANAERÓBIAS
ESTRITASESTRITAS
Não toleram o oxigênio.Ex.: Clostridium tetani, bactéria
produtora de potente toxina que só se desenvolve em
tecidos necrosados carentes de oxigênio.
 
capítulo 3 • 79
Exoenzimas
 A seletividade da membrana citoplasmática impede que macromoléculas
como proteínas, amido, celulose e lipídeos sejam transportadas para o interior
da célula. Para essas moléculas serem utilizadas pelos microrganismos, é ne-
cessário cindidas, dando srcem a compostos menores, aos quais as membra-
nas são permeáveis.
 A quebra das moléculas é promovida por enzimas hidrolíticas, denomina-
das exoenzimas por atuarem fora da membrana citoplasmática. As exoenzimas
apresentam especificidade pelo substrato, atuando sobre proteínas ou amidos,
ou determinados lipídeos, e constituem um fator de virulência, uma vez que
podem hidrolisar componentes estruturais de tecidos, conferindo ao micror-
ganismo capacidade invasora e de permanência em outros organismos vivos.
 Além de estarem associadas à nutrição dos microrganismos, as exoenzimas
podem contribuir para a sua sobrevivência, uma vez que catalisam a hidrólise
de substâncias que lhes são tóxicas ou mesmo letais.
 
80 • capítulo 3
3.4 Estudo do crescimento microbiano
Reprodução bacteriana
• Crescimento: aumento do protoplasma celular pela síntese de ácidos nu-
cléicos, proteínas, polissacarídeos e lipídeos; e, absorção de água e eletrólitos.
Termina na divisão celular.
• Multiplicação: resposta necessária à pressão de crescimento.
Modo de reprodução
• Cissiparidade: formação de um septo equatorial na região do mesossomo
e divisão da célula-mãe, em duas células filhas. "Cocos" em qualquer direção,
"bacilos e espirilos", no sentido transversal.
3.5 Curva de crescimento bacteriano
Embora as bactérias desenvolvam-se bem em meios de cultura sólidos , os estu-
dos de crescimento são feitos essencialmente em meios líquidos e as conside-
rações que seguem são válidas para essas condições.
Quando uma determinada bactéria é semeada num meio líquido de com-
posição apropriada e incubada em temperatura adequada, o seu crescimento
segue uma curva definida e característica.
Fase lag (A): esta fase de crescimento ocorre quando as células são trans-
feridas de um meio para outro ou de um ambiente para outro. Esta é a fase de
ajuste e representa o período necessário para adaptação das células ao novo
ambiente. As células nesta fase aumentam no volume total em quase duas ou
quatro vezes, mas não se dividem pois as Células estão sintetizando DNA, novas
proteínas e enzimas, que são um pré-requisito para divisão.
Fase exponencial ou log (B): nesta fase, as células estão se dividindo a uma
taxa geométrica constante até atingir um máximo de crescimento. Os compo-
nentes celulares como RNA, proteínas, peso seco e polímeros da parede celu-
lar estão também aumentando a uma taxa constante. Como as células na fase
exponencial estão se dividindo a uma taxa máxima, elas são muito menores
em diâmetro que as células na fase Lag. A fase de crescimento exponencial
 
capítulo 3 • 81
normalmente chega ao final devido à depleção de nutrientes essenciais, dimi-
nuição de oxigênio em cultura aeróbia ou acúmulo de produtos tóxicos.
Fase estacionária (C): durante esta fase, há rápido decréscimo na taxa de di-
 visão celular. Eventualmente, o número total de células em divisão será igual ao
número de células mortas, resultando na verdadeira população celular estacio-
nária. A energia necessária para manter as células na fase estacionária é deno-
minada energia de manutenção e é obtida a partir da degradação de produtos
de armazenamento celular, ou seja, glicogênio, amido e lipídeos.
Fase de morte ou declínio (D): quando as condições se tornam fortemente
impróprias para o crescimento, as células se reproduzem mais lentamente e
as células mortas aumentam em números elevados. Nesta fase o meio se en-
contra deficiente em nutrientes e ricos em toxinas produzidas pelos próprios
microrganismos.
estacionária
Nº de bactérias (log)
log morte
Tempo
lag
 
82 • capítulo 3
Métodos de controle de crescimento microbiano
O controle dos microrganismos é um assunto abrangente e de inúmeras apli-
cações práticas envolvendo toda a microbiologia e não só aquela aplicada à
medicina.
A Esterilização é o processo que promove completa eliminação ou destruição de todas
as formas de micro-organismos presentes em um determinado local: vírus, bactérias,
fungos, protozoários, esporos, para um aceitável nível de segurança. O processo de
esterilização pode ser físico, químico, físico- químico.
Métodos Físicos de controle:
O método mais empregado para matar microrganismos é o calor, por ser eficaz, barato
e prático. Os microrganismos são considerados mortos quando perdem a capacidade
de multiplicar.
Calor úmidoCalor úmido: A esterilização empregando calor úmido requer temperaturas
acima da de fervura da água (120º). Estas são conseguidas nas autoclaves, e este
é o método preferencial de esterilização desde que o material ou substância
a ser esterilizado não sofra mudanças pelo calor ou umidade. A esterilização
é mais facilmente alcançada quando os organismos estão em contato direto
como vapor, nestas condições o calor úmido matará todos os organismos.
Calor secoCalor seco: A forma mais simples de esterilização empregando o calor seco
é a flambagem. A incineração também é uma forma de esterilizar, empregando
o calor seco. Outra forma de esterilização empregando o calor seco é feita em
fornos, e este binômio tempo e temperatura deve ser observado atentamente.
 A maior parte da vidraria empregada em laboratório é esterilizada deste modo.
PasteurizaçãoPasteurização: consiste em aquecer o produto a uma dada temperatura,
num dado tempo e a seguir, resfria-lo bruscamente. A pasteurização reduz o
numero de microrganismos presentes, porém não assegura uma esterilização.
 
capítulo 3 • 83
RadiaçõesRadiações: As radiações têm seus efeitos dependentes do comprimento de
onda, da intensidade, da duração e da distância da fonte. Há pelo menos dois
tipos de radiações empregadas no controle dos microrganismos: ionizantes e
não ionizantes.
Indicadores biológicosIndicadores biológicos: São suspensões-padrão de esporos bacterianos
submetidos a esterilização juntamente com os materiais a serem processados
em autoclave, estufas e câmera de radiação. Terminado o ciclo, são colocados
em meio de cultura adequada para o crescimento de esporos, se não houver
crescimento, significa que o processo está validado.
Micro-ondasMicro-ondas: Os fornos de micro-ondas são cada vez mais utilizados em la-
boratórios e as radiações emitidas não afetam o microrganismo, mas geram
calor. O calor gerado é responsável pela morte dos micro-organismos.
FiltraçãoFiltração: A passagem de soluções ou gases através de filtros, retêm os mi-
crorganismos, então pode ser empregada na remoção de bactérias e fungos,
entretanto, não retém a maioria dos vírus.
Pressão OsmóticaPressão Osmótica: A alta concentração de sais ou açúcares cria um ambien-
te hipertônico que provoca a saída de água do interior da célula microbiana.
Nessas condições os micro-organismos deixam de crescer e isto tem permitido
a preservação de alimentos.
DessecaçãoDessecação: Na falta total de água, os micro-organismos não são capazes
de crescer, multiplicar, embora possam permanecer viáveis por vários anos.
Quando a água é novamente reposta, os micro-organismos readquirem a capa-
cidade de crescimento. Esta peculiaridade tem sido muito explorada pelos mi-
crobiologistas para preservar micro-organismos e o método mais empregado é
a liofilização.
Métodos Químicos de controle
Os agentes químicos são apresentados em grupos que tenham em comum, ou
as funções químicas, ou elementos químicos, ou mecanismo de ação.
 
84 • capítulo 3
 Álcoois Álcoois: A desnaturação de proteínas é explicação mais aceita para a ação
antimicrobiana. Na ausência de água, as proteínas não são desnaturadas tão
rapidamente quanto na sua presença. Algunsglicóis podem ser usados, depen-
dendo das circunstâncias, como desinfetante.
 Aldeídos Aldeídos e e derivadosderivados: Pode ser facilmente solúvel em água, é emprega-
do sob a forma de solução aquosa em concentrações que variam de 3 a 8%. A
Metenamina é um anti-séptico urinário que deve sua atividade à liberação de
aldeído fórmico. Em algumas preparações, a Metenamina é misturada ao ácido
mandélico, o que aumenta seu poder bactericida.
Fenóis e derivadosFenóis e derivados: O fenol é um desinfetante fraco, tendo interesse apenas
histórico, pois foi o primeiro agente a ser utilizado como tal na prática médica
e cirúrgica, os fenóis atuam sobre qualquer proteína, mesmo aquelas que não
fazem parte da estrutura ou protoplasma do micro-organismo, significando
que, em meio orgânico proteico, os fenóis perdem sua eficiência por redução
da concentração atuante.
Halogênios e derivadosHalogênios e derivados: Entre os alogênios, o iodo sob forma de tintura é
um dos antissépticos mais utilizados nas práticas cirúrgicas. O mecanismo de
ação é combinação irreversível com proteínas, provavelmente através da intera-
ção com os aminoácidos aromáticos, fenilalanina e tirosina.
 Ácidos inorgânicos Ácidos inorgânicos e orgânicose orgânicos: Um dos ácidos inorgânicos mais populares
é o acido bórico; porém, em vista dos numerosos casos de intoxicação, seu em-
prego é desaconselhado. Desde há muito tempo tem sido usados alguns ácidos
orgânicos, como o ácido acético e o ácido láctico, não como antisséptico, mas
sim na preservação de alimentos hospitalares.
 Agentes de Agentes de superfíciesuperfície: Embora os sabões se encaixem nessa categoria são
compostos aniônicos que possuem limitada ação quando comparada com a
de substâncias catiônicas. Dentre os detergentes catiônicos os derivados de
amônia tem grande utilidade nas desinfecções e antissepsias. O modo preci-
so de ação dos catiônicos não esta totalmente esclarecida, sabendo-se, porém,
que alteram a permeabilidade da membrana, inibe a respiração e a glicólise
 
capítulo 3 • 85
de formas vegetativas das bactérias, tendo também ação sobre fungos, vírus e
esporos bacterianos.
Metais pesados e derivadosMetais pesados e derivados: O baixo índice terapêutico dos mercuriais e o
perigo de intoxicação por absorção fizeram com que aos poucos deixassem de
serem usados, curiosamente alguns derivados mercuriais tiveram grande acei-
tação, embora dotados de fraca atividade bactericida e bacteriostática in vivo,
como o Merbromino.
 Agentes Agentes oxidantesoxidantes: A propriedade comum destes agentes é a liberação de
oxigênio nascente, que é extremamente reativo e oxida, entre outras subs-
tâncias o sistemas enzimáticos indispensáveis para a sobrevivência dos
micro-organismos.
Esterilizantes gasososEsterilizantes gasosos: Embora tenha atividade esterilizante lenta o óxido
de etileno tem sido empregado com sucesso na esterilização de instrumentos
cirúrgicos, fios de agulhas para suturas e plásticos.
Terminologias
EsterilizaçãoEsterilização: Processo de destruição de todas as formas de vida de um ob-
 jeto ou material. É um processo absoluto, não havendo grau de esterilização.
DesinfecçãoDesinfecção: Destruição de microrganismos capazes de transmitir infecção.
São usadas substâncias químicas que são aplicadas em objetos ou materiais.
Reduzem ou inibem o crescimento, mas não esterilizam necessariamente.
 Antissepsia Antissepsia: Desinfecção química da pele, mucosas e tecidos vivos, é um
caso da desinfecção.
GermicidaGermicida: Agente químico genérico que mata germes.
BacteriostaseBacteriostase: A condição na qual o crescimento bacteriano está inibido,
mas a bactéria não está morta. Se o agente for retirado o crescimento pode
recomeçar.
 
86 • capítulo 3
 Assepsia Assepsia: Ausência de microrganismos em uma área. Técnicas assépticas
previnem a entrada de microrganismos.
DegermaçãoDegermação: Remoção de microrganismos da pele por meio de remoção
mecânica ou pelo uso de antissépticos.
A microbiota humana: generalidades
Todo ser humano nasce sem microrganismos. A aquisição da microbiota bac-
teriana envolve uma transmissão horizontal, ou seja, pela colonização por mi-
crorganismos. A colonização de superfícies expostas como a pele, o trato respi-
ratório superior, o sistema geniturinário inferior e o trato digestório, começam
imediatamente após o nascimento. Padrões de alimentação, hospitalização e
tratamento com antibióticos são fatores que afetam a composição da micro-
biota intestinal.
 As diversas partes do corpo humano apresentam condições ambientais di-
 versas que oferecem certas vantagens e desvantagens para a vida microbiana.
Diferentes espécies de microrganismos adaptam-se aos distintos ambientes do
corpo.
 A microbiota normal humana desenvolve-se por sucessões, desde o nasci-
mento até as diversas fases da vida adulta, resultando em comunidades bacte-
rianas estáveis. Os fatores que controlam a composição da microbiota em uma
dada região do corpo estão relacionados com a natureza do ambiente local, tais
como temperatura, pH, água, oxigenação, nutrientes e fatores mais complexos
como a ação de componentes do sistema imunológico.
Estima-se que o corpo humano que contém cerca de 10 trilhões de células
seja rotineiramente portador de aproximadamente 100 trilhões de bactérias.
 A composição da microbiota bacteriana humana é relativamente estável com
gêneros específicos ocupando as diversas regiões do corpo durante períodos
particulares na vida de um indivíduo. A microbiota humana desempenha fun-
ções importantes na saúde e na doença.
Os microrganismos membros da microbiota humana podem existir como
mutualistas, quando protegem o hospedeiro competindo por microambien-
tes de forma mais eficiente que patógenos comuns (resistência à colonização),
 
capítulo 3 • 87
produzindo nutrientes importantes e contribuindo para o desenvolvimento
do sistema imunológico; (2) comensais, quando mantêm associações aparen-
temente neutras sem benefícios ou malefícios detectáveis e (3) oportunistas,
quando causam doenças em indivíduos imunocomprometidos devido à infec-
ção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, terapia imunossupressora de
transplantados, radioterapia, quimioterapia anticâncer, queimaduras exten-
sas ou perfurações das mucosas.
 A microbiota humana constitui um dos mecanismos de defesa contra a pa-
togênese bacteriana, mas ainda que a maioria dos componentes da microbiota
normal seja inofensiva a indivíduos sadios, esta pode constituir um reservató-
rio de bactérias potencialmente patogênicas. Muitas bactérias da microbiota
normal podem agir como oportunistas. Nestas condições a microbiota resi-
dente pode ser incapaz de suprimir patógenos transitórios, ou mesmo, alguns
membros da microbiota podem invadir os tecidos do hospedeiro causando do-
enças muitas vezes graves.
Em indivíduos sadios, algumas espécies de bactérias da microbiota oral causam cáries
em 80% da população.
 A microbiota normal exerce papel importante na proteção contra agentes
infecciosos por mecanismos ecológicos e imunológicos, além de contribuir
para a nutrição do hospedeiro. Distúrbios na microbiota acarretam prejuízos
desses efeitos.
A ingestão de probióticos pode prevenir os efeitos dos distúrbios da microbiota.
 Vários mecanismos de ação, obtidos a partir de estudos experimentais, já
foram propostos para os probióticos: a proteção ecológica seja pela prevenção
da multiplicação dos patógenos ou pela inibição da ação patogênica e modula-
ção do sistema imune, por ativação do sistema fagocitário, produção de imuno-
globulinas e citocinas.
 
88 • capítulo 3
3.6 Introdução a imunologia
 A Imunologia é uma ciência relativamente nova. Sua srcem é geralmente atri-
buída a Edward Jenner, que descobriu em 1796 que a varíola bovina, ou Vacci-
nia, proteção induzida contra a varíola humana, uma doença muitas vezes fa-
tal. Jenner chamou o seu procedimento de vacinação, e esta expressão é aindausada para descrever a inoculação de indivíduos saudáveis com cepas atenua-
das ou enfraquecidas de agentes causadores de doenças, para fornecer prote-
ção contra a doença. Embora ousado, o experimento de Jenner foi bem-suce-
dido, porém demorou quase dois séculos para vacinação contra a varíola para
se tornar universal, um avanço que permitiu para a Organização Mundial de
Saúde anunciar em 1979 que a varíola havia sido erradicada, sendo sem dúvida,
o maior triunfo da medicina moderna.
Quando Jenner introduziu a vacinação não sabia nada dos agentes infec-
ciosos que causam a doença: sendo demonstrado mais tarde, no século 19,
por Robert Koch que as doenças infecciosas são causadas por micro-organis-
mos, cada um responsável por uma doença ou patologia em particular. Agora
reconhecemos quatro grandes categorias de micro-organismos causadores de
doença, ou patógenos: são eles os vírus, bactérias, fungos patogênicos, e outro
relativamente grande e complexo, sendo organismos eucarióticos designados
coletivamente como parasitas.
 As descobertas de Koch e outros grandes microbiologistas do século 19
estimularam a extensão da estratégia da Jenner de vacinação para outras do-
enças. Na década de 1880, Louis Pasteur inventou a vacina contra a cólera em
galinhas, e desenvolveu uma vacina contra a raiva que provou ser eficiênte em
um menino mordido por um cão raivoso. Estes triunfos práticos levaram a uma
busca pelo mecanismo de proteção e para o desenvolvimento da Imunologia
como ciência.
Em 1890, Emil von Behring e Shibasaburo Kitasato descobriram que o soro de indiví-
duos vacinados, continha substâncias denominadas anticorpos que se ligam especifi-
camente ao agente patogênico pertinente.
Uma resposta imune específica, tal como a produção de anticorpos con-
tra um agente patogênico específico, é conhecida como Resposta Imune
 
capítulo 3 • 89
 Adaptativa, porque ocorre durante o tempo de vida de um indivíduo como uma
adaptação a uma infecção com um patógeno. Em muitos casos, uma respos-
ta imune adaptativa confere imunidade protetora ao longo da vida contra a
reinfecção pelo mesmo agente patogênico. Este fato se distingue da Resposta
Imune Inata, que, foi descoberta principalmente por meio da obra do grande
imunologista russo Elie Metchnikoff. Metchnikoff descobriu que muitos mi-
cro-organismos podem ser “engolidos e digeridos” pelas células fagocíticas,
que ele chamou de Macrófagos. Estas células estão disponíveis no organismo
para combater uma vasta gama de agentes patogênicos, sem a necessidade de
exposição prévia ao antígeno e são um componente essencial do sistema imune
inato. Os anticorpos, por outro lado, são produzidos apenas após a infecção, e
são específicos para o patógeno infectante. Os anticorpos presentes em uma
dada pessoa portanto, refletem diretamente as infecções para que ele ou ela
tenha sido expostos.
Na verdade, se tornou claro que os anticorpos específicos podem ser indu-
zidos contra uma vasta gama de substâncias. Tais substâncias são conhecidas
como antígenos, porque eles podem estimular a geração de anticorpos. No en-
tanto, nem todas as respostas Imune adaptativas implicam a produção de an-
ticorpos, e o termo antígeno é agora utilizado com um sentido mais abrangen-
te para descrever qualquer substância que pode ser reconhecida pelo Sistema
Imune Adaptativo.
Tanto a imunidade inata e respostas imunes adaptativas dependem das ati-
 vidades de células brancas do sangue, ou leucócitos. A imunidade inata envolve
em grande parte Granulócitos e Macrófagos. Granulócitos, também chamado
de leucócitos polimorfo nucleares, é um conjunto diversificado de glóbulos
brancos, cujos grânulos conferem sua característica padrão de coloração; sen-
do células fagocitárias chamadas de Neutrófilos. Presume-se que os macrófa-
gos dos seres humanos e outros vertebrados podem ser descendentes evolu-
tivos diretos de células fagocíticas presentes em animais mais simples, tais
como estrelas do mar observadas por Metchnikoff. Respostas imunes adaptati-
 vas dependem de linfócitos, os quais proporcionam a Imunidade Vitalícia que
pode seguir a exposição à doença ou a vacinação.
O Sistema Imune Inato e Adaptativo juntos oferecem um sistema de defesa
extremamente eficaz. Ele garante que, apesar de nós passarmos nossas vidas
cercados por micro-organismos potencialmente patogênicos, ficamos doen-
tes relativamente raras vezes. Muitas infecções são tratadas com sucesso pelo
 
90 • capítulo 3
sistema imune inato e não causam doença; outro que não podem ser resolvidos
pela imunidade inata, é então disparada a imunidade adaptativa, seguido por
memória imunológica duradoura.
3.7 Os componentes do sistema imune
 As células do sistema Imune são srcinárias da medula óssea, onde também
sofrem maturação, e então, migram para proteger os tecidos periféricos, que
circulam no sangue e em um sistema especializado de vasos chamado sistema
linfático.
 As respostas imunes são mediadas por uma variedade de células e por molé-
culas solúveis que estas células secretam. Embora os leucócitos sejam as célu-
las centrais para todas as respostas imunes elaboradas, outras células nos teci-
dos também participam das respostas através de sinais enviados aos linfócitos
e das respostas às citocinas liberadas pelas células T e macrófagos.
Neutrófilos: São células fagocíticas, cuja função é reconhecer, englobar e
destruir agentes estranhos; utilizam sistemas primitivos e inespecíficos de re-
conhecimento. Os neutrófilos, derivados dos mesmos precursores que os mas-
tócitos e basófilos, constituem a maioria dos leucócitos sanguíneos e, como os
monócitos, também migram do sangue para os tecidos em resposta a certos
estímulos. No entanto, são células de vida curta, pois morrem juntamente com
o material estranho internalizado e digerido.
Os neutrófilos perfazem mais de 90% dos granulócitos circulantes. Possuem
núcleo multilobado característico (95% -> núcleo trilobado). Sofrem adesão às
células endoteliais e diapedese mediante estimulação quimiotática.
Os neutrófilos possuem dois tipos principais de grânulos: grânulos primá-
rios (azurófilos) e grânulos secundários (específicos).
Linfócitos: Os linfócitos são totalmente responsáveis pelo reconhecimento
imune específico dos patógenos e pelo desencadeamento das respostas imu-
nes adaptativas. Todos os linfócitos derivam de células-tronco da medula ós-
sea, mas os linfócitos T sofrem o processo de desenvolvimento no timo, e os
linfócitos B, na medula óssea (adulto) e no fígado fetal. As células linfóides per-
fazem aproximadamente 20% das células leucocitárias circulantes no adulto.
Muitos linfócitos maduros possuem uma vida média longa e podem persistir
como células de memória por muitos anos.
 
capítulo 3 • 91
• Células B: Cada célula B está geneticamente programada para codificar
um receptor de superfície específico para um determinado antígeno. Uma vez
tendo reconhecido seu antígeno específico, as células B se multiplicam e se di-
ferenciam em plasmócitos, que produzem e secretam, na forma solúvel, uma
enorme quantidade destas moléculas receptoras, que também são conhecidas
como anticorpos, que por sua vez são glicoproteínas de alto peso molecular,
distribuídas no sangue e fluidos corpóreos; como os anticorpos são virtualmen-
te idênticos à molécula receptora srcinal, são capazes de se ligar ao antígeno
que inicialmente induziu a ativação das células B.
Os linfócitos B não apresentam corpúsculos de Gall, são agranulares, seu
citoplasma é predominantemente ocupado por ribossomos avulsos dispersos.
Ocasionalmente pode-se encontrar um retículo endoplasmático rugoso em de-
senvolvimento nas células B ativadas. Compreendem 5-15% dos linfócitos cir-
culante e apresentam imunoglobulinas de membrana.
• Células T: Os linfócitos T constituem vários tipos diferentes com uma va-
riedade de funções. Um grupo interage com as células B auxiliando-as na di-
 visão, diferenciação celular e na produçãode anticorpos; outro tipo interage
com os fagócitos mononucleares auxiliando-os na destruição de patógenos in-
tracelulares. Estes dois grupos constituem as chamadas células T – auxiliares
(TH). Um terceiro grupo de linfócitos T é responsável pela destruição das célu-
las do hospedeiro que se tornaram infectadas por vírus ou outros patógenos in-
tracelulares – atividade conhecida como citotóxica; portanto, estas células são
designadas de linfócitos T citotóxicos (TC). Em qualquer de suas funções, as
células T reconhecem antígenos, porém, apenas em associação com marcado-
res conhecidos nas células hospedeiras. Os linfócitos T geram seus efeitos pela
liberação de citocinas que emitem sinais para outras células, ou por interações
diretas célula a célula.
Essas células apresentam duas morfologias: são agranulares e apresentam
corpúsculo de Gall (consiste de um agrupamento de lisossomos primários as-
sociados com gotículas de lipídios); ou apresentam morfologia de LGG com li-
sossomos primários dispersos no citoplasma, além de um aparelho de Golgi
bem desenvolvido (granulares).
 
92 • capítulo 3
Eosinófilos: Estas células constituem um grupo especializado de leucócitos,
com capacidade de apreender e lesar parasitas extracelulares grandes como os
esquistossomos.
Os eosinófilos sanguíneos humanos geralmente possuem um núcleo bi-
lobulado e muitos grânulos citoplasmáticos e perfazem 2 a 5% dos leucócitos
sanguíneos em indivíduos saudáveis, não-alérgicos. Embora não seja sua fun-
ção primária, os eosinófilos parecem ser capazes de fagocitar e destruir mi-
croorganismos ingeridos. Os eosinófilos exercem um papel especializado na
imunidade a helmintos. Os eosinófilos são atraídos por produtos como fator
quimiotático dos eosinófilos na anafilaxia, liberados por células T, mastócitos
e basófilos. Os eosinófilos ligam-se aos esquistossômulos revestidos com IgG
ou IgE e sofrem degranulação, liberando uma toxina conhecida como "proteína
básica principal". Também liberam histaminas e aril-sulfatase, que inativam os
produtos dos mastócitos, histamina e substância de reação lenta da anafilaxia.
O efeito dos fatores eosinofílicos é o de diminuir a resposta inflamatória e redu-
zir a migração dos granulócitos para o local de invasão.
Basófilos e mastócitos: Estas células possuem grânulos no seu citoplasma
contendo uma série de mediadores que produzem inflamação nos tecidos cir-
cundantes e são liberados quando as células são ativadas. Os mastócitos situ-
am-se próximos aos vasos sanguíneos em todos os tecidos, e alguns dos media-
dores agem nas células das paredes dos vasos. Os basófilos são funcionalmente
semelhantes aos mastócitos, mas são células circulantes.
Os basófilos perfazem menos de 0,2% dos leucócitos, são encontrados em
concentrações pequenas na circulação e apresentam grânulos de cor azul viole-
ta intenso irregularmente distribuído, circundados pelas membranas.
Existem dois tipos de mastócitos: de mucosas (dependentes das células T
para sua proliferação) e os de tecido conjuntivo (independentes das células T).
Os mediadores como a histamina, liberados pela degranulação, causam
sintomas adversos da alergia, mas também podem exercer um papel positivo
na imunidade contra os parasitas.
Macrófagos: Derivam da medula óssea e são encontrados em muitos ór-
gãos. Os macrófagos fagocíticos têm como função remover antígenos parti-
culados. Os macrófagos ligam-se aos agentes agressores através de receptores
especializados.
 
capítulo 3 • 93
3.8 Reconhecimento dos antígenos
3.8.1 Anticorpos e Antígenos
 A Resposta Imune mediada por anticorpos (Ac) é chamada Resposta Imune
Humoral (RIH). Os anticorpos proteínas sintetizadas e secretadas pelos plas-
mócitos (linfócitos B diferenciados). Os Ac são produzidos de forma específica
contra o antígeno (Ag) que estimulou sua produção e têm como função princi-
pal a neutralização e eliminação deste antígeno. Este processo de eliminação é
feito de diversas formas, quais sejam: ativação do complemento, opsonização,
neutralização de microorganismos e toxinas, etc. Os anticorpos são também
chamados de imunoglobulinas (Ig), e divididos em classes e subclasses. Por
exemplo, IgG é uma classe, IgM é outra, e assim por diante.
Há regiões na molécula de Ig que são extremamente variáveis (regiões hi-
pervariáveis e variáveis) e que dão a ela a característica específica contra o antí-
geno. Por exemplo, quando um antígeno X entra no organismo e é apresentado
ao sistema imune, estimulando uma resposta imune humoral, as IgM produzi-
das contra o antígeno X terão a região variável da molécula específica para o X
e irão combatê-lo. Se no organismo penetrar um antígeno Y, as IgM com região
 variável anti-X não irão atacar o antígeno Y e haverá a produção de IgM com
região variável anti-Y.
 A resposta imune primária se desenvolve quando o indivíduo entra em con-
tato com o antígeno pela primeira vez, havendo como resultado a produção
de Ac (pelos linfócitos B efetores) e células B de memória. Quando o indivíduo
entra em contato pela segundo vez, a produção de anticorpos será muito mais
rápida e eficiente, pois os anticorpos serão produzidos pelas células B de me-
mória, então ativadas (resposta imune secundária).
3.8.2 Desenvolvimento inicial da RIH
Para se desenvolver uma RIH, é necessária a exposição do antígeno ao linfócito
B. Isso é feito de forma direta, ou seja, o LB entra em contato direto com o antí-
geno sem a necessidade de célula apresentadora de antígeno, pois a célula B é
capaz de reconhecer o antígeno diretamente pela ligação com seus receptores
de superfície (BCR), como a IgM monomérica e a IgD.
 
94 • capítulo 3
Nesse contato, há interação do antígeno com o receptor de superfície IgM.
Essa interação antígeno-IgM vai estimular a ativação e proliferação dos linfóci-
tos B (expansão clonal) e em seguida síntese de imunoglobulinas, todas com a
mesma especificidade. Esse mecanismo básico de RIH é eficaz contra antíge-
nos de natureza lipídica, polissacáride ou glicídica.
Quando o antígeno é de natureza protéica, o mecanismo inicial para a ati-
 vação da RIH não é apenas a interação LB-antígeno, mas também a extrema
participação dos linfócitos T auxiliares (LTh). O antígeno protéico necessita da
participação dos LTh. Se o paciente tiver deficiência de linfócitos T ou ausência
de timo, terá deficiência na resposta imune humoral contra antígenos protéi-
cos (resposta humoral T-dependente). Por isso esses antígenos são denomina-
dos antígenos timo-dependentes. Os antígenos não-protéicos, que podem ser
eliminados pelas RIH sem o auxílio dos LTh são denominados antígenos timo
-independentes (de natureza lipídica, polissacáride ou glicídica).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEDICAL IMMUNOLOGY, 9 ed Daniel P. Stites, Abba I, Terr, Tristram G. Parslow.
ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; POBER, Jordan S. Imunologia celular e molecularImunologia celular e molecular.
Tradução Raymundo Martagão Gesteira. 6 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2008.
 
Estrutura doEstrutura do
AnticorpoAnticorpo
44
 
96 • capítulo 4
OBJETIVOSOBJETIVOS
• Estrutura do anticorpo
• Funções dos anticorpos
• Resposta ao antígeno: processamento e apresentação
• Células apresentadoras de antígenos
• Mecanismos efetores da resposta imune
• Imunidade mediada por células
• Imunidade dos microrganismos
 
capítulo 4 • 97
4.1 Estrutura do anticorpo
 A estrutura básica da molécula de imunoglobulina consiste de quatro cadeias
polipeptídicas, sendo duas cadeias leves e duas cadeias pesadas, unidas por
pontes dissulfeto formando uma proteína globular em forma de Y. A haste do
Y é denominada fragmento Fc e é responsável pela atividade biológica (função
efetora) dos anticorpos. Diferenças estruturais no Fc definem os cinco isotipos
principais ou classes de imunoglobulinas: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Tanto as ca-
deias pesadas quanto as cadeias leves tem uma região constante e uma regiãovariável. A região variável é responsável pela interação com o antígeno – são os
“braços” da molécula de anticorpo e são denominados fragmentos Fab (Frag-
ment antigen binding). As moléculas de imunoglobulinas ou anticorpos apre-
sentam diferenças na seqüência de aminoácidos nas porções Fab. A diversida-
de nesses sítios de ligação ao antígeno garante que haja um repertório quase
ilimitado de especificidades de anticorpos.
 A classe de um anticorpo é definida pela estrutura de sua cadeia pesada,
algumas das quais possuem vários subtipos, e esses determinam a atividade
funcional de uma molécula de anticorpo. As cinco classes principais de imuno-
globulinas são IgA, IgD, IgE, IgG e IgM:
IgAIgA - Representa 15-20% das imunoglobulinas do soro humano. No homem,
mais de 80% da IgA ocorre sob a forma monomérica e está presente no sangue
sob esta forma. A IgA é a imunoglobulina predominante em secreções: saliva,
lágrima, leite, mucosas do trato gastrintestinal (TGI), respiratório e genituri-
nário. Nestas secreções ela se une a um componente secretor, e forma a IgA
secretora. Esta é composta por duas unidades (dimérica) ligadas a uma cadeia J
unida pelas porções Fc no componente secretor. A função desse componente é
proteger a molécula das enzimas hidrolíticas (destrutivas). O principal papel da
IgA é proteger o organismo de invasão viral ou bacteriana através das mucosas
(neutralização).
IgDIgD - perfaz menos de 1% do total de imunoglobulinas plasmáticas e a fun-
ção biológica precisa dessa classe de imunoglobulina é ainda incerta. A IgD é
co-expressa com a IgM na superfície de quase todas as células B maduras e ina-
tivas (fase de reconhecimento), sendo que a IgD é expressa mais tardiamente,
indicando uma célula B mais madura.
 
98 • capítulo 4
IgEIgE - é encontrada nas membranas superficiais dos mastócitos e eosinófilos
em todos os indivíduos. Essa classe de imunoglobulina sensibiliza as células
nas superfícies das mucosas conjuntiva, nasal e brônquica. A IgE pode ter ain-
da importante papel na imunidade contra helmintos, embora nos países de-
senvolvidos esteja mais comumente associada a reações alérgicas como asma
e rinite. Metade dos pacientes com doenças alérgicas tem altos níveis de IgE.
 A interação entre o antígeno e a IgE ligada no mastócito resulta em liberação
de histamina, importante mediador inflamatório, causando vasodilatação, au-
mento da permeabilidade vascular, contração de músculo liso e quimioatração
de outras células inflamatórias.
IgGIgG - É uma imunoglobulina monomérica que perfaz 80% das imunoglobu-
linas do organismo. É a imunoglobulina mais abundante no soro e está distri-
buída uniformemente entre os espaços intra e extravasculares. É o anticorpo
mais importante da resposta imune secundária. Em humanos, as moléculas de
IgG de todas as subclasses atravessam a barreira placentária e conferem um
alto grau de imunidade passiva ao feto e ao recém-nascido. É o anticorpo prin-
cipal nas respostas imunes secundárias e a única classe antitoxinas. A região
Fc ativa o complemento (quando unida ao antígeno) e auxilia a fagocitose por
se ligar a macrófagos (opsonização). Com a ativação do complemento, há uma
amplificação da resposta inflamatória (com geração de quimiotaxia de neutró-
filos, aumento da permeabilidade vascular), opsonização e montagem do MAC
(complexo de ataque à membrana).
IgMIgM - Perfaz aproximadamente 10% do conjunto de imunoglobulinas. Sua
estrutura é pentamérica, As cinco cadeias são ligadas entre si por pontes dissul-
feto e por uma cadeia polipeptídica inferior chamada de cadeia J. É a primeira
imunoglobulina a ser expressa na membrana do linfócito B inativo. Na mem-
brana das células B, a IgM está na forma monomérica. O primeiro anticorpo
produzido numa resposta imune primária é sempre IgM pentamérica. A IgM
é encontrada principalmente intravascular, sendo uma classe de anticorpos
"precoces" (são produzidas nas fases iniciais agudas das doenças que desenca-
deiam resposta humoral).
 
capítulo 4 • 99
4.2 Funções dos anticorpos
 Anticorpo de Membrana como receptor de linfócito B – Linfócitos B maduros
(mas inativos) expressam IgD e IgM na superfície. O encontro do antígeno com
esses receptores constitui as fases de reconhecimento e ativação (expansão clo-
nal e diferenciação) da resposta imune.
NEUTRALIZAÇÃO DONEUTRALIZAÇÃO DO
ANTÍGENOANTÍGENO
Toxinas bacterianas, drogas, agentes virais e outros
parasitas, iniciam a lesão celular pela ligação a recep-
tores específicos da superfície celular. Os anticorpos
podem impedir esta interação, neutralizando o pro-
cesso tóxico ou infeccioso.
 Ativação do complemento por IgG ou IgM – O sistema complemento consis-
te numa família de proteínas plasmáticas que podem ser ativadas por duas vias
principais. A ativação pela via clássica é inicia pela ligação do componente C1q
do complemento com um imunocomplexo (Ag+Ac). O ponto crucial da cascata
de eventos que ocorre após a ativação do complemento é a clivagem de c3 em
c3a e c3b. O c3a tem várias funções, como por exemplo, ativar a degranulação
de mastócitos e realizar quimiotaxia. O c3b (além de opsonizar fagócitos) liga-
se a outros fragmentos e entra na via da c5 convertase que vai então, clivar o c5
em c5a e c5b, o qual vai juntar-se a outros componentes formando o MAC (com-
plexo de ataque à membrana – c5b9), um poro que vai levar a lise da célula-αlvo
(bactéria), através da interação com sua membrana. Esse processo ocorre em
questão de segundos.
OPSONIZAÇÃOOPSONIZAÇÃO
Os anticorpos envolvem a bactéria ou vírus em questão,
e se ligam a receptores na superfície dos macrófagos.
Isso melhora a eficiência da fagocitose.
Citotoxidade mediada por células dependente de anticorpo – As células NK,
em determinadas ocasiões, matam o microorganismo se ele estiver revestido
por anticorpos. Também os eosinófilos têm receptores para a região Fc da IgE,
que reveste helmintos (muito grandes para serem fagocitados). É um processo
chamado de citotoxidade mediada por células dependente de anticorpo.
 
100 • capítulo 4
4.3 Resposta ao antígeno: processamento e
apresentação
Células B e células T reconhecem diferentes substâncias como antígenos e
reconhecem de uma forma diferente. A célula B usa a imunoglobulina ligada
à superfície da célula como um receptor e a especificidade deste receptor é a
mesma da imunoglobulina que ela é capaz de secretar após a ativação. Células
B reconhecem os seguintes antígenos na forma solúvel: 1) proteínas (ambos
determinantes conformacionais e determinantes expostos pela denaturação
ou proteólise); 2) ácidos nuclêicos; 3) polissacarídeos; 4) alguns lipídios; 5) pe-
quenos agentes químicos (haptenos).
Contrariamente, a esmagadora maioria dos antígenos de células T são pro-
teínas, e estas precisam ser fragmentadas e reconhecidas em associação com
produtos do MHC (Major Histocompatibility Complex) expressos na superfície
de células nucleadas, não em forma solúvel. Células T estão agrupadas funcio-
nalmente de acordo com a classe de moléculas de MHC que se associa com
os fragmentos peptídicos da proteína: células T auxiliares reconhecem apenas
aqueles peptídios associados com moléculas de MHC classe II, e células T ci-
totóxicas reconhecem apenas aqueles peptídios associados com moléculas de
MHC classe I.
4.4 Processamento e apresentação do
antígeno
Processamento e apresentação do antígeno são processos que ocorrem no in-
terior da célula e que resultam na fragmentação de proteínas (proteólise), as-
sociação dos fragmentos com moléculas do MHC, e expressão das moléculas
“peptidio-MHC” na superfície onde elas poderão ser reconhecidas pelo recep-
tor de célula T na célula T. Entretanto, a etapa que leva à associação de frag-
mentos de proteína com moléculas de MHC diferem no MHC classe I e classe
II. Moléculas de MHC classe I apresentam produtos de degradação derivados
de proteínas intracelulares (endógenas) no citosol. Moléculas de MHC classe II
apresentamfragmentos derivados de proteínas extracelulares (exógenas) que
estão localizadas em um compartimento intracelular.
 
capítulo 4 • 101
1. Processamento e apresentação do antígeno em células expressando
MHC classe I.
Todas as células nucleadas expressam MHC classe I. Como mostrado na
Figura 1, proteínas são fragmentadas no citosol por proteossomos (um com-
plexo de proteínas com atividade proteolítica) ou por outras proteases. Os
fragmentos são então transportados através da membrana do retículo endo-
plasmático por proteínas de transporte. (As proteínas de transporte e alguns
componentes do proteossomo tem seus genes no complexo MHC). A síntese
e organização das cadeias pesada e beta2 microglobulina ocorre no retículo
endoplasmático. No interior do retículo endoplasmático, a cadeia pesada do
MHC classe I, a beta2microglobulina e o peptídio formam um complexo estável
que é transportado à superfície da célula.
2. Processamento e apresentação do antígeno em células expressando
MHC classe II.
Enquanto todas as células nucleadas expressam MHC classe I, apenas um
limitado grupo de células expressam MHC classe II, que inclui as células apre-
sentadoras de antígenos (APC). As principais APCs são macrófagos, células
dendríticas (células de Langerhans), e células B, e a expressão de moléculas de
MHC classe II é tanto constitutiva como induzível, especialmente pelo interfe-
ron-γama no caso dos macrófagos.
Como mostrado na Figura 2, proteínas exógenas incorporadas por endoci-
tose são fragmentadas por proteases em um endossomo. As cadeias alfa e beta
do MHC classe II, junto com uma cadeia invariante, são sintetizadas, monta-
das no retículo endoplasmático e transportadas através do aparelho de Golgi e
trans-γolgi para chegar no endossomo, onde a cadeia invariante é digerida, e os
fragmentos de peptídios da proteína exógena são capazes de se associar com
moléculas de MHC classe II, que finalmente são transportadas para a superfí-
cie da célula.
3. Outras informações sobre o processamento e apresentação de
antígenos
a) Uma maneira de entender o desenvolvimento de duas vias diferentes é
que cada uma delas finalmente estimula a população de células T que é mais
eficiente na eliminação do antígeno.
 
102 • capítulo 4
 Virus se replicam no interior de células nucleadas no citosol e produzem
antígenos endógenos que podem se associar com MHC classe I. Ao matar es-
sas células infectadas, células T citolíticas ajudam a controlar a propagação do
 virus.
Bacteria reside e se replica principalmente no ambiente extracelular. Ao ser
incorporada e fragmentada no interior de células como antígenos exógenos
que podem se associar com moléculas de MHC classe II, células auxiliares Th2
podem ser ativadas para ajudar células B a fazerem anticorpos contra bactéria,
o que limita o crescimento desses organismos.
 Algumas bactérias crescem intracelularmente no interior de vesículas de
células como macrófagos. Células T Th1 inflamatórias ajudam a ativar macró-
fagos para matar a bactéria intracelular.
b) Fragmentos de proteínas próprias, assim como de não-próprias se as-
sociam com moléculas de ambas as classes de MHC e são expressas na super-
fície da célula.
c) Quais fragmentos se ligam é uma função da natureza química da fenda
para aquela molécula de MHC específica.
4.4.1 Restrição do MHC
Para que a célula T reconheça e responda a uma proteína antigênica estranha,
ela deve reconhecer o MHC na célula apresentadora como sendo MHC próprio.
Isso é chamado restrição do MHC ao próprio. Células T auxiliares reconhecem
antígeno no contexto de MHC classe II próprio. Células T citolíticas reconhe-
cem antígeno no contexto de MHC classe I próprio. O processo pelo qual cé-
lulas T se tornam restritas ao reconhecimento de moléculas de MHC próprias
ocorre no timo.
Os sistemas experimentais que demonstram a restrição do MHC ao pró-
prio para interações entre célula APC-T auxiliar e para interações MHC classe
I-célula T citotóxica são mostrados nas Figuras 3 e 4, respectivamente.
4.5 Células apresentadoras de antígenos
Os três tipos principais de células apresentadoras de antígenos são células
dendríticas, macrófagos e células B, embora outras células, que expressem mo-
 
capítulo 4 • 103
léculas de MHC classe II, (e.g., células epiteliais do timo) possam agir como
células apresentadoras de antígenos em alguns casos. Células dendríticas, que
são encontradas na pele e outros tecidos, ingerem antígenos por pinocitose e
transportam antígenos para os linfonodos e baço. Nos linfonodos e baço elas
são encontrados predominantementemente nas áreas de células T. Células
dendríticas são as células apresentadoras de antígenos mais eficientes e po-
dem apresentar antígenos a células não iniciadas (virgens). Além disso, elas
podem apresentar antígenos internalizados em associação com moléculas de
MHC classe I ou classe II (apresentação cruzada), embora a via predominan-
te para antígenos internalizados é a via de classe II. O segundo tipo de célula
apresentadora de antígeno é o macrófago. Essas células ingerem antígenos por
fagocitose ou pinocitose. Macrófagos não são tão eficientes na apresentação de
antígenos a células T não iniciadas mas eles são muito bons na ativação de célu-
las T de memória. O terceito tipo de célula apresentadora de antígeno é a célula
B. Essas células se ligam ao antígeno via sua Ig de superfície e ingere antíge-
nos por pinocitose. Assim como macrófagos essas célula não são tão eficientes
como as células dendríticas na apresentação de antígeno a células T não inicia-
das. Células B são muito eficientes na apresentação de antígeno a células T de
memória, especialmente quando a concentração de antígeno é baixa devido às
Ig de superfície nas células B se ligarem a antígenos com alta afinidade.
4.5.1 Apresentação de superantígenos
Superantígenos são antígenos que ativam células T policlonalmente para pro-
duzir grandes quantidades de citocinas que podem ter efeitos patológicos. Es-
ses antígenos devem ser apresentados às células T em associação com molé-
culas de MHC classe II mas o antígeno não precisa ser processado. A figura 5
compara como antígenos convencionais e superantígenos são apresentados a
células T. No caso de um superantígeno a proteína intata se liga a moléculas do
MHC classe II e a uma ou mais regiões V β do TCR. O antígeno não é ligado à fen-
da de ligação ao peptídio da molécula de MHC ou à região de ligação ao antíge-
no do TCR. Assim, qualquer célula T que usa uma V β particular no seu TCR será
ativada por um superantígeno, resultando na ativação de um grande número de
células T. Cada superantígeno se ligará a um conjunto diferentes de regiões V β.
 
104 • capítulo 4
4.5.2 Papel do Timo
Tanto células Th como Tc tem restrição do MHC ao próprio. Além disso, células
T normalmente não reconhecem antígenos próprios. Como são geradas célu-
las T com restrição do MHC ao próprio e por que não são produzidas células T
autorreativas? Rearranjos aleatórios VDJ nas células T poderiam gerar algumas
células T que poderiam reconhecer antígenos próprios. É papel do timo se cer-
tificar de que somente células T que chegam à periferia tenham restrição do
MHC ao próprio e que sejam incapazes de reagir com antígeno próprio. Células
T funcionais na periferia têm que reconhecer antígenos estranhos associados
com MHC próprio, porque células APC ou células alvo apresentam antígenos
estranhos associados com MHC próprio. Entretanto, um indivíduo não pre-
cisa de células T funcionais na periferia que reconheçam antígenos (próprios
ou estranhos) associados com MHC não-próprio. Um indivíduo especialmente
não deseja células T funcionais na periferia que possam reconhecer antígenos
próprios associados com MHC próprio porque eles poderiam levar a danos em
tecidos sadios, normais.
Como resultado de eventos de recombinação aleatória VDJ que ocorrem
em células T imaturas no interior do timo, TCRs de todas as especificidades
sãoproduzidos. Processos no timo determinam quais as especificidades de
TCR que serão mantidas. Há duas etapas sequenciais mostradas na Figura 6.
Primeira, células T com a habilidade de se ligar a moléculas de MHC próprias
expressadas pelas células epitelias corticais do timo são mantidas. Isso é co-
nhecido como seleção positiva. Aqueles que não se ligam, entram em apoptose.
 Assim, células T com a habilidade de se ligar a moléculas de MHC próprias as-
sociadas com moléculas próprias expressadas pelas células epiteliais do timo,
células dendríticas e macrófagos são mortas. Isso é conhecido como seleção
negativa. Aqueles que não se ligam são mantidos. Como resultado dessas duas
etapas, células T tendo um TCR que reconhece MHC próprio e antígeno estra-
nho sobrevivem. Cada célua T que sobrevive a seleção positiva e negativa no
timo e é liberada na periferia mantém seu receptor de célula T (TCR) específico.
Enquanto a seleção positiva e negativa está ocorrendo no timo as células T
imaturas estão também expressando antígenos CD4 ou CD8 nas suas superfí-
cies. Inicialmente a célula pré-T que entra no timo é CD4-CD8-. No timo ela se
torna CD4+CD8+ e à medida que a seleção positiva e negativa se processa a cé-
lula se torna ou uma célula CD4+ ou CD8+. O compromisso de se tornar células
 
capítulo 4 • 105
CD4+ ou CD8+ depende de qual seja a classe de molécula de MHC que a célula
encontra. Se uma célula CD4+CD8+ é apresentada com uma molécula de classe
I ela irá regular negativamente CD4 e se tornará uma célula CD8+. Se a célula
é apresentada com uma molécula de MHC de classe II ela irá regular negativa-
mente CD8 e se tornará uma célula CD4+.
4.5.3 Seleção negativa na periferia
 A seleção positiva e negativa no timo não é um processo 100% eficiente. Além
disso, nem todos os antígenos próprios são expressados no timo. Assim, algu-
mas células T autorreativas podem chegar à periferia. Assim, existem mecanis-
mos adicionais elaborados para eliminar células T autorreativas na periferia.
Esses serão discutidos na aula de tolerância.
Uma vez que células B não têm restrição ao MHC não há necessidade de
seleção positiva de células B. Entretanto, seleção negativa (i.e., eliminação de
clones autorreativos) de células B é necessária. Isso ocorre durante o desenvol-
 vimento de célula B na medula óssea. Entretanto, seleção negativa de células B
não é crítica como no caso das células T uma vez que, na maioria das vezes, cé-
lulas B requerem a ajuda de célula T para se tornarem ativadas. Assim, se uma
célula B autorreativa chega à periferia ela não será ativada devido à falta da aju-
da da célula T.
4.6 Mecanismos efetores da resposta imune
4.6.1 Citocinas
Citocinas são moléculas proteicas, glicosiladas ou não, que enviam diversos
sinais estimulatórios, modulatórios ou mesmo inibitórios para as diferentes
células do sistema imunológico. Tem função autócrina agindo na própria célu-
la produtora, parácrina atuando em células próximas e endócrina quando sua
ação é à distância. Atuam em concentrações baixíssimas e sua síntese habitual-
mente ocorre após estimulação antigênica.
 
106 • capítulo 4
INTERFERONSINTERFERONS
Os IFN-α e IFN-β (tipo 1) são produzidos por monócitos,
macrófagos, células linfoblásticas, fi-broblastos e células
infectadas por vírus. Existem 23 membros funcionais identi-
ficados como IFN tipo 1, além de análogos sintéticos, princi-
palmente de IFN-β, como o consensus interferon1. O IFN-β 
apesar de agir nos mesmo receptores que IFN-α, tem ativi-
dade biológica mais diferenciada. As principais atividadesbiológicas dos interferons tipo 1 são a limitação da propaga-
ção de infecções virais e das parasitoses. Células infectadas
por vírus produzem IFN-α e IFN-β. Estes irão atuar em ou-
tras células infectadas pelo mesmo vírus, fazendo com que
o núcleo desta segunda célula sintetize uma proteína anti-
viral. IFN-α e, em menor grau IFN-β, atuam assim na res-
posta anti-viral basicamente de duas formas: degradando o
mRNA-viral e inibindo a síntese proteica, com consequente
inibição da replicação viral2. O IFN-β é uma molécula extre-
mamente lipofílica, o que possibilita maior utilização clínica,
podendo ser utilizado em injeções intralesionais, como no
sarcoma de Kaposi1,3. Os interferons tipo1 são usados em
doenças, como AIDS, em combinação a outras drogas. Do-
enças neurológicas como a esclerose múltipla são tratadas
com sucesso através de injeções intramusculares de IFN
-β. Nas hepatites virais B e C também são utilizados IFN-α 
como adjuvante no tratamento. Alguns carcinomas de cé-
lulas renais apresentam redução da massa neoplásica no
tratamento com IFN-β e muitas vezes em associação com
IL-2 e anticorpos monoclonais.
O IFN-γ, anteriormente denominado interferon imune, é produzido princi-
palmente por células T, B e NK. É sinérgico ao IFN-α e IFN-β na atividade anti-
 viral e antiparasitária, mas sua principal atividade é imunomoduladora. Assim,
entre as principais atividades do IFN-γ encontram-se a inibição da proliferação
de células que sintetizam IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, IL-13 e a diminuição da pro-
dução de algumas imunoglobulinas em situações especiais, como IgG, e IgE.
O IFN-γ aumenta a expressão dos genes do MHC classe I e II. Em monócitos
 
capítulo 4 • 107
e macrófagos estimula a produção de receptores de alta afinidade para IgG
(FcgRI), além de induzir a síntese de TNF-α por estas células. As células T au-
xiliares em repouso (Th0) podem se diferenciar em Th1 ou Th2 conforme as
citocinas produzidas. Th1 são responsáveis pela síntese de IL-2, IFN-γ, IL-12,
IL-16, IL-18, todas aumentando a resposta inflamatória, enquanto que Th2 tem
como característica a produção de IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, e IL-13, as quais
podem atuar na defesa contra parasitas e fa-zer parte dos processos alérgicos.
IFN-γ é indutor da IL-2 agindo no perfil da resposta imunológica Th2 para Th12.
Os análogos sintéticos de IFN-γ também têm uso clínico, apesar de acen-
tuados efeitos colateral. O IFN-γ-1b em associação à prednisolona retarda a
progressão da fibrose pulmonar idiopá-tica, mas não impede sua evolução.
Neoplasias como o melanoma maligno apresentam menor recidiva quando no
pré-operatório é utilizado IFN-γ, sendo que IFN-α-2b e IL-12 podem reduzir a
dose de IFN-γ quando administrados em conjunto9. Existem ainda evidências
que o IFN-γ esteja envolvido na patogênese da arteriosclerose.
INTERLEUCINA-1INTERLEUCINA-1
Monócitos e macrófagos são a principal fonte de IL-1, pro-
duzindo principalmente IL-1γ, enquanto os queratinócitos
produzem IL-1γ. Outros tipos celulares podem produzir IL-
1, como células endoteliais, fibroblastos, miócitos, células
de Langerhans e linfócitos B e T10. Macrófagos infecta-
dos por vírus produzem grandes quantidades de IL-1γ. A
síntese de IL-1 pode ser induzida por TNF-α, IFN-α, β e g,
LPS, vírus e antígenos.
 As formas a e β da IL-1 têm atividades semelhantes, entretanto, uma tercei-
ra forma descrita, a IL-1γ, também chamada antagonista de receptor de IL-1, é
um inibidor competitivo, bloqueando os efeitos da IL-111. Uso de IL-1γ pode
prevenir efeitos maléficos da IL-1. As ações da IL-1 (a e β) podem ser diretas ou
através de mediadores, como PGE2, CSF’s, IL-6 e IL-812.
 As atividades biológicas primordiais da IL-1 incluem a estimulação de célu-
las CD4+ a que secretem IL-2 e produzam receptores para a IL-2; proliferação
e ativação de linfócitos B, neutrófilos, monócitos/macrófagos, aumentando as
atividades quimiotáticas e fagocitárias. Estimula a adesão de leucócitos, au-
menta a expressão das moléculas de adesão pelas células endoteliais, inibe a
 
108 • capítulo 4
proliferação das células endoteliais, aumenta a atividade de coagulação, tendo
participação na gênese da coagulação intravascular disseminada. A IL-1 tam-
bém estimula hepatócitos a produzirem proteínas de fase aguda de inflama-
ção. Ainda estimula a hematopoese, tanto por atuar na própria célula primor-dial quanto por aumentar a liberação de CSF’s, tendo ação sinérgica a estes.
Pode ser utilizada com a finalidade de aumentar a hematopoese.
 A IL-1 β atua no hipotálamo, exercendo a função de pirógeno endógeno; ori-
gina ainda uma alça de inibição da sua própria produção, pois estimula a libe-
ração de CRH pela hipófise posterior. CRH atua na hipófise anterior fazendo
com que haja liberação de ACTH, o qual estimula a região fasciculada do cór-
tex da adrenal, aumentando a produção de corticosteróides, os que irão inibir
a síntese primária de IL-1 e são responsáveis pela hiperglicemia em pacientes
diabéticos com processo infeccioso. Também atua aumentando a atividade de
osteoclastos e adipócitos, sendo grande responsável pelo emagrecimento e ten-
dência a fraturas de pacientes com processos infecciosos crônicos.
 A IL-1 γ pode ser utilizada em doenças inflamatória crônicas progressivas,
retardando o curso natural da doença.
FATOR DEFATOR DE
NECROSENECROSE
TUMORAL (TNF)TUMORAL (TNF)
Sintetizado principalmente por macrófagos, sendo que
monócitos, neutrófilos, células T e NK, após estimulação
por LPS, também o sintetizam. A produção é estimula-
da por IFN, IL-1, IL-2, GM-CSF, substância P, bradicini-
na, imunocomplexos, inibidores da cicloxigenase e PAF.
A produção é inibida por ciclosporina, dexametasona,
PGE2, IL-6 e antagonistas do PAF. TNF-α e TNF-β li-
gam-se aos mesmos receptores no início, mas intrace-
lularmente, após a endocitose deste complexo, exercem
atividades distintas.
 A principal atividade biológica do TNF é uma acentuada citólise e citoestase
em diferentes linhagens neoplásicas, tendo ação antitumoral importantíssi-
ma. É o principal mediador na caquexia das neoplasias malignas. As demais
ações do TNF são semelhantes às da IL-1. As alterações endoteliais, princi-
palmente a perda da função de diminuição de coagulação, a atividade qui-
miotática e estímulo ao metabolismo oxidativo de fagócitos são ações do TNF
 
capítulo 4 • 109
compartilhadas com a IL-1. Tem também atividade de pirógeno endógeno, au-
menta a reabsorção óssea, a atividade de adipócitos e a expressão de MHC-I e
II. Diferentemente da IL-1, o TNF não tem ação em córtex da adrenal. Estimula
a produção de IL-6 fazendo com que os hepatócitos produzam proteínas da fase
aguda da inflamação.
 Altas concentrações de TNF no sangue de pacientes com septicemias cor-
relacionam-se com a piora do prognóstico18. Em animais de laboratório, inje-
ções de TNF, mesmo na ausência de bactérias, levam a quadro semelhante ao
choque séptico, sugerindo uma importante ação deletéria quando sintetizado
em quantidades excessivas.
O TNF também pode ser útil no tratamento de neoplasias secundárias a
 AIDS, principalmente no sarcoma de Kaposi. Injeções intralesionais ou sis-
têmicas são aplicadas, havendo certa regressão da neoplasia. Receptores so-
lúveis de TNF (sTNF-R1) podem ser utilizados como adjuvante na terapêutica
convencional.
INTERLEUCINA-2INTERLEUCINA-2
É produzida principalmente por células T ativadas,
principalmente CD4+, sendo sintetizada em menor
quantidade por células B e monócitos. O principal
estímulo para sua produção são as bactérias e seus
produtos; alguns parasitas também podem induzir
sua síntese, além de outras citocinas como IFN-α e
IL-1. São necessários sinais, principalmente presença
de IFN-α e IL-1 para que haja máxima produção de
IL-2. A síntese desta citocina pode ser inibida por ci-
closporina A e dexametasona.
Suas atividades são mediadas por um receptor de membrana, expresso em
células T ativadas, em menor número em T não ativadas e B ativadas; monóci-
tos raramente expressam este receptor. Existem três tipos de receptores de afi-
nidades alta, baixa e intermediária. A subunidade g deste receptor (necessária
para os de alta afinidade e os de afinidade intermediária) faz parte dos recepto-
res de IL-4, IL-7 e provavelmente também dos receptores de IL-13.
 A IL-2 é o principal fator estimulador de células T, sendo um fator de cresci-
mento e ativação para todas as subpopulações de linfócitos T, induzindo ciclo
 
110 • capítulo 4
celular para células T não ativadas e expansão clonal de células T ativadas. É
um agente proliferativo antígeno inespecífico. Ativa ainda célula B, necessitan-
do para tal de fatores adicionais, como IL-4. Estimula a proliferação e ativação
de células NK, tendo assim atividade anti-humoral. Promove a síntese de IL-1,
TNF-α, TNF-β, sendo esta ação mediada pela produção de IFN-γ.
Terapia anti-humoral associada à administração de IL-2 tem apresentado
remissões em até 30% dos pacientes com carcinoma renal metastático, aumen-
tando também a sobrevida de pacientes com melanoma e leucemia mielóide
aguda21. Imunodeficiências celulares e humorais têm apresentado bons resul-
tados com a administração de IL-2.
INTERLEUCINA-12,INTERLEUCINA-12,
IL-18 E IL-20IL-18 E IL-20
Interleucina-12, IL-18 e IL-20: O mRNA codificante
da IL-18 e da IL-12 pode ser encontrado nas células
de Kupffer e em macrófagos ativados, suas principais
fontes. Também chamada de IGIF (fator indutor de in-
terferon γ), a IL-18 não tem estrutura similar às outras
proteínas. Os receptores da IL-18 foram primeiro iden-
tificados em células de linhagem 428 da doença de
Hodgkin, podendo ser um dos fatores de crescimento
e de marcadores prognósticos da doença. Estes re-
ceptores depois de clonados mostraram-se idênticos
ao IL-1Rp (proteína receptora de IL-1).
 A ação principal da IL-12 é estimular células NK, efeito bloqueado por anti-
corpos anti-TNF-α. Aumenta a síntese de IFN-γ em linfócitos periféricos. Está
envolvida na seleção do isotipo de imunoglobulinas, inibindo a síntese de IgE.
 A IL-18 ativa células NK, leva a proliferação de linfócitos T, e estimula a pro-
dução de GM-CSF, além de inibir a produção de IL-10. Aumenta a produção de
IL-12, apresentando sinergismo com esta citocina para a produção de IFN-γ.
Há dois receptores descritos para IL-20: α e β, ambos presentes em quanti-
dades consideravelmente altas nas células da epiderme, sendo que o receptor a
está presente também em outros locais, como líquido sinivial e fígado.
 A IL-20 é uma citocina estimulatória. Sua atividade biológica primor-
dial é promover a proliferação e a ativação de linfócitos nas respostas
 
capítulo 4 • 111
antígeno-específicas. Não atua na migração de neutrófilos. Ativa ainda a proli-
feração de queratinócitos, tendo importância na gênese da psoríase.
INTERLEUCINA-3,INTERLEUCINA-3,IL-7, IL-9 E IL-11IL-7, IL-9 E IL-11
A IL-3 é sintetizada principalmente por células T ati-
vadas por antígenos e mitógenos, mas queratinócitos,
células NK, células endoteliais também podem sinte-
tizar IL-3. Sua produção pode ser inibida por substân-
cias inativadoras de linfócitos. A IL-3 habitualmente
associa-se à matriz extracelular, formando complexos
com heparam/sulfato, mas ainda assim exerce ação
parácrina. Os mecanismos pelos quais dissocia-se da
matriz extra-celular, ainda não foram bem elucidados.
Macrófagos, mastócitos, eosinófilos, megacariócitos, basófilos e células
progenitoras da medula óssea produzem e expressam receptores para esta ci-
tocina, os quais também podem ser encontrados em leucemia mielóide crôni-
ca, participando da patogênese desta. Uma subunidade do receptor conhecida
como β (beta) C está envolvida na formação de receptores para IL-3, IL-5 e para
GM-CSF.
 A IL-3 é uma citocina que liga o sistema imune ao sistema hematopoético,
favorecendo a proliferação e o desenvolvimento de várias linhagens celulares
como os granulócitos, macrófagos, eritrócitos e megacariócitos. Sua presen-
ça não é obrigada para que haja o desenvolvimento da hematopoese normal.
Clinicamente pode ser útil no tratamento da aplasia de medula ou na preven-
ção da mielotoxicidade causada por outras drogas.
 A IL-7 é secretada por células estromais da medula óssea e também por cé-
lulas tímicas. Receptores de IL-7 são expressos em células pré-B e em suaspro-
genitoras. Basicamente esta citocina estimula a proliferação das células pre-
cursoras de linfócitos B, sem afetar sua diferenciação, sendo também um dos
marcadores mais precoces da rejeição de enxertos. Estimula ainda a maturação
de megacariócitos.
 A IL-9 é produzida por células CD4+ estimuladas por mitógenos ou antí-
genos. Seu efeito principal sobre as células do sistema imune é a proliferação
principalmente de células CD4+, mastócitos/macrófagos, sendo este efeito
 
112 • capítulo 4
acentuado na medula óssea em presença de IL-3. Estimula blastos formadores
de colônias de eosinófilos a responderem a IL-3.
 A IL-11 é produzida por fibroblastos do estroma da medula óssea e um gran-
de número de células mesenquimais32. Biologicamente IL-11 promove a res-
posta imune primária e secundária, modulando reações antígeno específicas.
 Apresenta ação sinérgica com a IL-6, G-CSF, IL-3 em relação às colônias de me-
gacariócitos, sendo um importante regulador da megacariopoese. Está ainda
envolvida na patogênese da leucemia mielóide aguda M7.
INTERLEUCINA-4, IL-5, IL-6,INTERLEUCINA-4, IL-5, IL-6,
IL-10, IL-13 E IL-19IL-10, IL-13 E IL-19
A IL-4 é uma citocina sintetizada por células
Th2, entretanto existem dúvidas se esta seria
a principal citocina de células Th2, ou se seria
IL-5 ou IL-6. As células Th1 também podem pro-
duzi-la, mas em quantidades menores quando
comparadas à população Th2.
 A atividade principal da IL-4 é determinar o perfil da resposta imune em
Th2. A IL-4 induz a proliferação e diferenciação de células B, aumenta a expres-
são de MHC-II, possibilitando maior ativação de Th2. aumenta ainda a expres-
são de receptores de alta afinidade para IgE (FcεRI) em mastócitos e basófilos
e de baixa afinidade para IgE (FcεRII) em células B não-ativadas34. Nas células
B ativadas estimula a síntese principalmente de IgE e de IgG1, sendo seu efeito
antagonizado por IFN-g35.
 A IL-5 é produzida principalmente por linfócitos T36. A IL-5 é um fator espe-
cífico de crescimento e diferenciação dos eosinófilos. Produz o crescimento das
células BFU-E, mas não causa diferenciação de células primordiais em CFU-E.
 Assim, estimula a proliferação de precursores e ativação de eosinófilos. Em cé-
lulas B atua como importante fator na mudança de classe para produção de IgA.
 A IL-6 pode ser produzida por vários tipos celulares, sendo as células B, T e
monócitos as principais fontes. Os estímulos para a sua síntese são IL-1, LPS
e TNF. Os antibióticos macrolídeos podem atuar estimulando sua síntese por
monócitos. Os glicocorticoides inibem a síntese de IL-6, enquanto TGF-β ape-
nas a diminui.
 A IL-6 é uma citocina pleiotrópica que influencia respostas imune antígeno
específicas e rea-ções inflamatórias, sendo um dos maiores mediadores da fase
 
capítulo 4 • 113
aguda da inflamação. Estimula a produção de proteínas da fase aguda da inflama-
ção nos hepatócitos e aumenta a concentração de zinco intracelular nestas células
o que, teoricamente, previne a toxicidade causada pelo tetracloreto de metila. Tem
ainda ação importante na atração de eosinófilos para o local de inflamação.
 Assim como a IL-1, a IL-6 também estimula a produção de ACTH pela hi-
pófise, estabelecendo um “feedback negativo” entre o sistema imune e o eixo
neuroendócrino.
 A IL-10 é produzida principalmente por células CD8+ ativadas. Células Th0,
Th1, Th2 ativadas, linfócitos B, mastócitos e monócitos ativados por LPS tam-
bém podem produzir IL-10, sendo fontes menos importantes. Pacientes com
 AIDS e linfoma de Burkitt secretam grandes quantidades de IL-10. A síntese é
inibida por IL-4 e pela própria IL-10.
O efeito principal da IL-10 é inibir a síntese de outras citocinas, como o
IFN-g, IL-2, IL-12, TNF-β. Inibe ainda a proliferação de células Th1, mas não
de Th2, diminuindo ainda a função citolítica e secretora de citocinas por Th1 e
facilitando o desenvolvimento de respostas Th240. IL-10 atua como um co-es-
timulador para a proliferação de mastócitos e seus progenitores. É ainda co-es-
timulador no crescimento dos timócitos imaturos, agindo como fator de dife-
renciação para as células T citotóxicas, sendo esta ação de menos intensidade.
 A IL-13 é produzida por células Th0, Th1, Th2 e CD8+, mas não se expressa
no coração, pulmão, cérebro, placenta, fígado ou músculo esquelético. A IL-13
inibe a atividade quimiotática e fagocitária de monócitos/macrófagos; reduz
expressão de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12) e quimio-
cinas (MIP-1 e MCP); aumenta a produção de IL-1γ. Desta forma IL-13 atua di-
minuindo a resposta inflamatória. Por outro lado, a IL-13 induz a diferenciação
de monócitos e de células B, aumentando os níveis de IgM, IgG, mas não de
IgA e é sinérgica quanto à produção de IFN-γ por linfócitos grandes granulares,
sendo estas ações inflamatórias bem menos intensas, que muitas vezes e útil
para conter infecções virais.
 A estrutura química da IL-19 lembra a da IL-10, com 5943 pares bases.
 Apresenta cerca de 21% de homologia com a estrutura quaternária da IL-10 hu-
mana. Apenas um receptor foi descrito. A IL-19 é produzida pelo estímulo de li-
popolissacarídeos bacterianos, sendo potencializada por IL-4, IL-13 e GM-CSF.
Sua síntese é feita principalmente por monócitos ativados.
Quanto à atividade biológica, a IL-19 faz parte do grupo de citocinas que
inibe a resposta imunológica, tanto por ação direta nas células inflamatórias,
 
114 • capítulo 4
quanto pela inibição de outras citocinas, tendo como efeito importante a dimi-
nuição da síntese de IL-2.
INTERLEUCINA-8INTERLEUCINA-8
Produzida principalmente por monócitos/macrófagos
e em menor quantidade por fibroblastos, células en-
doteliais, queratinócitos, melanócitos, hepatócitos e
condrócitos. Seus estímulos normalmente são a IL-1,
TNF-α e IFN-γ. Pode ser inibi-da por corticosteróides
e ciclosporina A. É uma quimiocina: aumenta a qui-
miocinese e é fator qui-miotático.
 A principal ação da IL-8 é o grande estímulo migratório para as células do
sistema imune, principalmente neutrófilos, determinando ainda um aumen-
to da expressão de moléculas de adesão por células endoteliais. Também ati-
 va polimorfonucleares neutrofílicos, aumentando o metabolismo oxidativo.
 Antagoniza a produção de IgE estimulada pela IL-4, mas não afeta a produção
das demais imunoglobulinas.
 Altas concentrações são observadas em psoríases, o que pode explicar a pa-
raceratose e a hiper-ceratose observadas, uma vez que esta citocina estimula a
divisão dos queratinócitos. Os micro-abscessos de Munro também podem ser
atribuídos a esta citocina, pois são formados por neutro-filos.
INTERLEUCINA-14, INTERLEUCINA-14, ILIL-15,-15,
IL-16 E IL-17IL-16 E IL-17
IL-14, também chamada HMW-BCGF (fator de
crescimento de células B de alto peso molecular),
é isolada de células T e de algumas linhagens
de B após estimulação com fitohemaglutinina. É
mitógeno para células B48. Propriedades antigê-
nicas e atividades funcionais desta citocina mos-
tram pronunciada homologia ao fator Bb do com-
plemento. Anticorpos contra IL-14 afetam também
o fator Bb e inibem a atividade mitogênica das cé-
lulas B sensíveis a IL-14.
 
capítulo 4 • 115
 A IL-15 é produzida principalmente por monócitos, mas astrócitos e micró-
glia fetal também podem produzi-la, em resposta a IL-1-β, IFN-γ, TNF-α, suge-
rindo que esta citocina tenha importância na resposta imune mediada por cé-
lulas T no SNC.
 Algumas atividades da IL-15 lembram atividades da IL-2, mas diferem quan-
to à expressão e secreção. Seus principais alvos são linfócitos T e B ativados,
levando ambos à proliferação, em especial células CD8+. Induz a proliferação
de mastócitos e parece ativar células NK.
 A IL-16 é secretada por células CD8+ e, em menor grau, por eosinófilos, em
resposta à histamina liberada. É um potente fator quimiotático para linfócitos,
sendo seu principal alvo células CD4+. Em também alguma ação quimiotática
pa-ramonócitose eosinófilos. A descoberta de que células CD4+ transfectadas
com a proteína IL-16 (130 aminoácidos) mostram-se resistentes à infecção pelo
HIV-1, a transformou em alvo de intensas pesquisas. A IL-16 também impede a
replicação do SIV e do HIV, por mecanismos ainda obscuros.
 A IL-17 é produzida principalmente por células T CD4+, mas células epite-
liais, fibroblastos e células endoteliais também a produzem51. A IL-17 aumen-
ta a expressão de ICAM-1 em fibroblastos, epitélios, endotélios e estimula a
secreção de IL-6, IL-8, GM-CSF, PGE2 por estas células. Mantém a proliferação
de progenitores hematopoéticos e sua maturação preferencial em neutrófilos.
Citocinas são um grupo heterogêneo de moléculas, tendo ações antagôni-
cas, porém muito bem balanceadas. Existem citocinas que podem ser conside-
radas como “inflamatórias”, pois aumentam as diferentes etapas da resposta
imunológica: IL-1 IL-2, IL-6, IL-9, IL-12, IL-14, IL-15, IL-16, IL-17, IL-18, IL-20
TNF e IFNa. Outras citocinas atuam preferencialmente na maturação de célu-
las, sendo exemplos principais a IL-3, IL-7, IL-9, IL-11, e os fatores estimulado-
res de crescimento de colônias. IL-4, IL-5, IL-6 atuam na defesa contra parasitas
tendo também importância nos processos alérgicos. A IL-8 agrupa os fatores
quimiotáticos. Outras citocinas atuam como imunomoduladoras, como IL-2,
TNF-g, IL-10, IL-13, IL-19 sendo as IL-10, IL-13 e IL-19 imunossupressoras.
Distúrbios no equilíbrio da produção e liberação das citocinas têm papel
significativo no desencadeamento e agravamento de diversas patologias e a
elucidação deste papel será importante para compreender a patogenia e para
influir no seu controle.
 
116 • capítulo 4
4.7 Existem dois tipos de imunidade:
IMUNIDADEIMUNIDADE INATA INATA
É a imunidade presente desde o nascimento, sem especifi-
cidade nem “memória imunológica”. É a defesa de primeira
linha contra os organismos desconhecidos, invasores, sendo
que a exposição não muda sua intensidade. Os três compo-
nentes da imunidade inata são: físico – químico (pele, secre-
ções, mucosas e cílios); humoral (complemento, opsoninas
e enzimas presentes nas secreções, mucosas, sangue, etc.)
e celular (célula NK, neutrófilo, eosinófilo e o mastócito). A
imunidade inata protege contra fungos, vermes e bactérias.
IMUNIDADEIMUNIDADE
ADQUIRIDAADQUIRIDA
Também conhecida como específica ou adaptativa, é ausente
no nascimento, sendo adquirida por meio da exposição, que
aliás, aumenta sua intensidade. Tem memória é especificida-
de. Seus componentes são os produtos secretados e células
(linfócitos). A imunidade adquirida protege contra vírus, bac-
térias (inclusive infecções intracelulares) e protozoários.
Qualquer disfunção no complexo sistema imunológico aumenta o risco de
infecções, doenças auto-imunes e até mesmo câncer. A isso se dá o nome de
imunodeficiência, sendo que tal quadro pode surgir causado por anormalida-
des genéticas ou congênitas (evento primário), ou surgir como conseqüência
de um tratamento, ou outras condições (como uso de esteróides ou imunossu-
pressão para transplantes de medula ou órgãos).
4.8 Imunidade mediada por células
4.8.1 Papel central das células Th nas respostas imunes
Há três subpopulações de células Th: Células Th0, Th1 e Th2. Quando cé-
lulas não iniciadas Th0 encontram um antígeno em tecidos linfóides secun-
dários, elas são capazes de se diferenciar em células inflamatórias Th1 ou em
 
capítulo 4 • 117
células auxiliares Th2, que podem ser distinguidas pelas citocinas que elas pro-
duzem. Se uma célula Th0 se torna uma Th1 ou uma Th2 depende das citocinas
no meio, que são influenciadas pelo antígeno. Por exemplo, alguns antígenos
estimulam a produção de IL-4 o que favorece a geração de células Th2 enquanto
que outros antígenos estimulam a produção de IL-12, que favorece a geração de
células Th1. Células Th1 e Th2 afetam células diferentes e influenciam o tipo
da resposta imune. Citocinas produzidas pelas células Th1 ativam macrófagos
e participam na geração de células Tc, resultando em uma resposta imune me-
diada por células.
Contrariamente, citocinas produzidas pelas células Th2 ajudam a ativar cé-
lulas B, resultando na produção de anticorpos. Além disso, citocinas Th2 tam-
bém ativam granulócitos. Igualmente importante, cada subpopulação pode
exercer influências inibitórias uma em relação à outra. IFN- produzido pelas
células Th1 inibem a proliferação de células Th2 e Il-10 produzida pelas células
Th2 inibe a produção de IFN- pelas células Th1. Além disso, embora não mos-
trado, IL-4 inibe a produção de células Th1. Assim, a resposta imune é dirigida
ao tipo de resposta que é requerida para lidar com o patógeno encontrado – res-
postas mediadas por células para patógenos intracelulares ou respostas humo-
rais contra patógenos extracelulares.
4.8.2 Interações célula-célula em respostas por anticorpos a
antígenos exógenos dependentes de células T
a) a) Modêlo Modêlo do do carreador-haptenocarreador-hapteno
Historicamente, uma das mais importantes descobertas em imunologia
foi que células T e células B eram necessárias para a produção de anticorpos
para uma proteína complexa. Uma grande contribuição para a nossa compre-
ensão deste processo veio de estudos de formação de anticorpos anti-hapteno.
Estudos com conjugados carreador-hapteno estabeleceram que: 1) Células Th2
reconheceram os determinantes em carreadores e células B reconheceram os
determinantes em haptenos; 2) interações entre células B hapteno-específicas
e células Th carreador-específicas apresentavam restrição ao MHC; e 3) Células
B podem atuar tanto no reconhecimento como na apresentação do antígeno.
Células B ocupam uma posição especial nas respostas imunes porque
elas expressam imunoglobulina (Ig) e moléculas de MHC classe II na sua su-
perfície. Elas são portanto capazes de produzir anticorpos que têm a mesma
 
118 • capítulo 4
especificidade que é expressa pelos seus receptores de imunoglobulina; além
disso elas podem funcionar como uma célula apresentadora de antígeno. Em
termos do modêlo conjugado carreador-hapteno, acredita-se que o mecanismo
seja o seguinte: o hapteno é reconhecido pelo receptor de Ig, o carreador-hapte-
no é trazido para o interior da célula B, processado, e os fragmentos peptídicos
da proteína carreadora são apresentados à célula T auxiliar. A ativação da célula
T leva à produção de citocinas que fazem com que as células B hapteno-especí-
ficas se tornem ativadas para produzir anticorpos solúveis anti-hapteno. A figu-
ra 4 sumariza as interações que ocorrem entre célula B e célula T.
Observe que há sinais múltiplos emitidos às células B neste modêlo de in-
teração de células Th2-célula B. Como no caso da ativação de células T onde o
sinal derivado do reconhecimento pelo TCR de uma molécula peptídio-MHC
que foi por si só insuficiente para a ativação da célula T, o mesmo acontece para
a célula B. A ligação de um antígeno ao receptor de imunoglobulina libera um
sinal para a célula B, mas este é insuficiente. Sinais secundários liberados pe-
las moléculas co-estimulatórias são necessários; o mais importante destes é
CD40L na célula T que liga a CD40 na célula B para iniciar a liberação de um
segundo sinal.
b) b) Respostas Respostas humorais humorais primáriasprimárias
Células B não são as melhores células apresentadoras de antígenos em
uma resposta humoral primária; células dendríticas ou macrófagos são mais
eficientes. Entretanto, com algumas poucas modificações o modelo carrea-
dor-hapteno de interações célula-célula descrito acima também se aplica para
interações em uma resposta humoral primária. Em uma resposta primária a
célula Th2 encontra primeiro o antígeno apresentado pelas células dendríticas
ou macrófagos. A célula Th2 “iniciada” pode então interagir com células B que
encontraram antígeno e estão apresentando peptídios em associação com mo-
léculas de MHC classe II. As células B ainda requerem dois sinais paraa ativa-
ção – um sinal é a ligação do antígeno à Ig de superfície e o segundo sinal vem
do acoplamento CD40/ligante CD40 durante a interação célula-célula de Th2/B.
 Além disso, citocinas produzidas pelas células Th2 ajudam as células B a proli-
ferarem e se diferenciarem em plasmócitos secretores de anticorpos.
 
capítulo 4 • 119
c) c) Respostas Respostas humorais humorais secundáriassecundárias
Como consequência da resposta primária, muitas células de memória T e
células B são produzidas. Células B de memória têm um receptor de Ig de alta
afinidade (devido à maturação de afinidade), que os permite ligar e apresentar
antígeno em concentrações muito menores do que é necessário para macró-
fagos ou células dendríticas. Além disso, células T de memória são mais facil-
mente ativadas do que células T não iniciadas. Assim, interações celulares B/Th
são suficientes para gerar respostas humorais secundárias. Não é necessário
(embora possa ocorrer) “iniciar” células Th de memória com antígenos apre-
sentados pelas células dendríticas ou macrófagos.
d) d) Mudança Mudança de de classeclasse
Citocinas produzidas por células Th2 ativadas não apenas estimulam a pro-
liferação e diferenciação de células B, elas ajudam a regular a classe do anticor-
po produzido. Diferentes citocinas influenciam a mudança para classes dife-
rentes de anticorpos com diferentes funções. Dessa forma a resposta humoral
é desenhada para se ajustar ao tipo de patógeno encontrado (ex. Anticorpos IgE
para infecções parasitárias por vermes).
4.8.3 Interações célula-célula em respostas humorais a antígenos
exógenos independentes de células T
Respostas humorais a antígenos independentes de células T (T-independen-
tes) não requerem interações célula-célula. A natureza polimérica desses an-
tígenos permite a ligação cruzada de receptores de antígenos em células B re-
sultando na ativação. Não ocorre resposta secundária, maturação de afinidade
ou mudança de classe. Respostas a antígenos T-independentes são devidas à
ativação de uma subpopulação de células B chamada células CD5+ B (também
chamadas células B1), que as distinguem das células B convencionais que são
CD5- (também chamadas células B2).
Células CD5+ (B1)
Células CD5+ são as primeiras células B a aparecerem na ontogenia. Elas ex-
pressam IgM de superfície mas muito pouco ou nenhum IgD e elas produzem
primariamente anticorpos IgM de genes da linhagem germinativa minima-
 
120 • capítulo 4
mente e somaticamente mutados. Anticorpos produzidos por essas células são
de baixa afinidade e são frequentemente poli-reativos (ligam múltiplos antíge-
nos). A maioria das IgM no soro é derivada de células B CD5+. Células B CD5+
não produzem células de memória. Uma característica importante dessas célu-
las é que elas se auto-renovam, contrariamente às células B convencionais que
precisam ser substituidas na medula óssea. Células B CD5+ são encontradas
em tecidos periféricos e são a célula B predominante na cavidade peritoneal.
Células B1 são uma defesa importante contra muitos patógenos bacterianos
que caracteristicamente têm polissacarídeos nas suas paredes celulares. A
importância dessas células na imunidade é ilustrada pelo fato de que muitos
indivíduos com defeitos em células T ainda são capazes de resistir a muitos pa-
tógenos bacterianos.
4.8.4 Interações célula-célula em imunidade mediada por células
(geração de células Tc em resposta a antígenos endógenos no
citosol)
Linfócitos T citotóxicos não estão totalmente maduros quando eles deixam o
timo. Eles têm um TCR funcional que reconhece antígeno, mas eles não lisam
uma célula-alvo. Eles precisam diferenciar-se em células efetoras totalmente
funcionais. Células citotóxicas diferenciam-se a partir de uma "pré-LTC" em
resposta a dois sinais: Antígeno específico associado com MHC classe I, em
uma célula estimuladora Citocinas produzidas por células Th1, especialmente
IL-2, e IFN-gama. Isto é mostrado na.
a) a) Aspectos Aspectos da da lise lise mediada mediada por por LTCLTC
1. A morte por LTC é antígeno-específica. Para ser morta por uma LTC, a
célula-alvo deve carregar o mesmo antígeno associado a MHC classe I que dis-
parou a diferenciação do pré-LTC.
2. A morte por LTC requer contato celular. LTCs são estimuladas a ma-
tar quando elas reconhecem o antígeno alvo associado com uma molécula de
MHC de superfície. Células adjascentes desprovidas do alvo apropriado antíge-
no-MHC não são afetadas.
3. LTCs não são comprometidas quando elas lisam as células-alvos. Cada
LTC é capaz de matar sequencialmente inúmeras células-alvos.
 
capítulo 4 • 121
b) Mecanismos de morte mediada por LTCMecanismos de morte mediada por LTC
LTCs utilizam vários mecanismos para matar células-alvos, alguns dos quais
requerem contato direto célula-célula e outros resultam da produção de certas
citocinas. Em todos os casos a morte das células-alvos é resultado de apoptose.
1. Morte mediada por Fas- e TNF: Assim que são produzidas as LTCs ex-
pressam o ligante Fas na sua superfície, que se liga aos receptores Fas nas célu-
las-alvos. Além disso, TNF- secretado pelas LTCs podem se ligar aos receptores
de TNF nas células-alvos. Os receptores de Fas e TNF são famílias de receptores
estreitamente relacionadas, quando encontram seus ligantes, pois encurtam
os receptores. Esses receptores também contém domínios de morte na porção
citoplasmática do receptor, que após o encurtamento pode ativar caspases que
induzem apoptose na célula-alvo.
2. Morte mediada por grânulos: LTCSs totalmente diferenciadas têm nu-
merosos grânulos que contém perforina e granzimas. Por ocasião do contato
com células-alvos, perforina é liberada e polimeriza a formação de canais na
membrana da célula-alvo. Granzimas, que são proteases de serina, penetram
na célula-alvo através dos canais e ativam caspases e nucleases na célula-alvo
resultando em apoptose.
4.8.5 Interações célula-célula na imunidade mediada por células
(ativação de macrófagos em resposta a antígenos endógenos em
vesículas)
Macrófagos têm um papel central no sistema imune e estão envolvidos em:
• Defesa inicial como parte do sistema imune inato
• Apresentação de antígeno a células Th
• Várias funções efetoras (ex., produção de citocina, atividade bactericida
e tumoricida). De fato macrófagos têm um papel importante não somente na
imunidade mas também na reorganização dos tecidos. Entretanto, devido à sua
potente atividade, macrófago pode também danificar tecidos. A Tabela a ser-
guir sumariza as várias funções dos macrófagos na imunidade e na inflamação.
 
122 • capítulo 4
Inflamação – FebreInflamação – Febre
Produção de:
IL-6, TNF alfa, IL-1 – age como pirogênico
Dano em tecidosDano em tecidos 
Hidrolases
Produção de peróxido de hidrogênio
C3a do complemento
Produção de TNF alfa
ImunidadeImunidade
Seleção de linfócitos a serem ativa-Seleção de linfócitos a serem ativa-
dosdos
IL-12 resulta na ativação de Th1
IL-10 resulta na ativação de Th2
Ativação de linfócitosAtivação de linfócitos:
Produção de IL-1
Processamento e apresentação de an-
tígeno
Ação Ação antimicrobiaantimicrobianana 
Produção oxigênio dependente de:
peróxido de hidrogênio
superóxido
radical hidroxílico
ácido hipocloroso
Produção oxigênioindependente de:Produção oxigênioindependente de:
hidrolases ácidas
proteínas catiônicas
lisozima
ReorganizaçReorganização de ão de tecidostecidos
Secreção de uma variedade de fatores:
Enzimas degradativas (elastase,
hialuronidase,colagenase)
Fatores de estimulação de
fibroblastos
Estimulação de angiogênese
Atividade anti-tumoralAtividade anti-tumoral
Fatores tóxicos
Peróxido de hidrogênio
C3a do complemento
Proteases
Arginase
Óxido nítrico
TNF alfa
Muitas destas funções dos macrófagos podem ser realizadas apenas por
macrófagos ativados. A ativação de macrófagos pode ser definida como alte-
rações quantitativas na expressão de vários produtos gênicos que permitem o
macrófago ativado executaralgumas funções que não podem ser realizadas por
macrófagos não ativados.
 
capítulo 4 • 123
 A ativação de macrófagos é uma função importante das células Th1.
Quando as células Th1 são ativadas por uma APC tal como um macrófago, elas
liberam IFN-, que é um dos dois sinais necessários para ativar um macrófago.
Lipopolissacarídios (LPS) de bactéria ou TNF-α produzido por macrófagos ex-
postos a produtos bacterianos liberam o segundo sinal.
Mecanismos efetores empregados pelos macrófagos incluem a produção
de:
• TNF-, que pode induzir a apoptose
• Óxido nítrico e outros intermediários reativos de nitrogênio
• Intermediários reativos de oxigênio
• Proteínas catiônicas e enzimas hidrofóbicas; citotoxicidade celulas de-
pendente de anticorpo (ADCC)
 Ativação de macrófago por células Th1 é muito importante na proteção con-
tra muitos patógenos diferentes. Por exemplo, Pneumocystis carinii, um pató-
geno extracelular, é controlado em indivíduos normais por macrófagos ativa-
dos; é, entretanto, uma causa de morte comum em pacientes com AIDS porque
eles são deficientes em células Th1. Similarmente, Mycobacterium tuberculo-
sis, um patógeno intracelular que reside em vesículas, não é eficientemente
morto por macrófagos a menos que eles sejam ativados; consequentemente
esta infecção é um problema em pacientes com AIDS.
4.8.6 Interações célula-célula em imunidade mediada por células
(ativação de células Nk)
Citocinas produzidas por célulaxs Th1 ativadas, particularmente Il-2 e IFN-,
também ativam células NK para se tornarem células assassinas ativadas por
linfocina (células LAK). Células LAK são capazes de matar células infectadas
por virus ou células tumorais de maneira não restrita ao MHC. De fato, a sus-
ceptibilidade de células-alvos à morte por células NK e LAK é inversamente pro-
porcional à expressão de moléculas de MHC de classe I. Os mecanismos efeto-
res usados pelas células NK e LAK para matar células alvos é similar ao usado
pelas LTCs (ex., perforina e granzimas). Células NK e LAK são também capazes
de matar células cobertas por anticorpos por ADCC.
 
124 • capítulo 4
4.9 Imunidade dos microrganismos
 A interação do sistema imunológico com organismos infecciosos é um jogo di-
nâmico dos mecanismos do hospedeiro visando a eliminar as infecções e as
estratégias microbianas projetadas para permitir a sobrevivência em face dos
poderosos mecanismos de defesa. Diferentes tipos de agentes infecciosos es-
timulam tipos distintos de respostas imunológicas e desenvolveram mecanis-
mos ímpares para escapar da imunidade. Em algumas infecções, a resposta
imunológica é causa da lesão tecidual e da doença.
 A imunidade natural contra as bactérias extra-celulares é mediada pelos fa-
gócitos e pelo sistema de complemento (as vias alternativa e de lectina).
 A principal resposta imunológica adquirida contra bactérias extra-celula-
res consiste em anticorpos específicos que opsonizam as bactérias para a fa-
gocitose e ativam o sistema do complemento. As toxinas produzidas por tais
bactérias também são neutralizadas por anticorpos específicos. Algumas toxi-
nas bacterianas são indutoras potentes de produção de citocina, e as citocinas
respondem pela maior parte da doença sistêmica associada a infecções graves,
disseminadas por esses microrganismos.
 A imunidade natural contra bactérias intra-celulares é mediada principal-
mente pelos macrófagos. Entretanto, as bactérias intra-celulares são capazes
de sobreviver e se replicar dentro das células do hospedeiro, incluindo os fagó-
citos, porque elas desenvolveram mecanismos para resistir á degradação den-
tro dos fagócitos.
 A imunidade adquirida contra as bactérias intra-celulares é principalmente
mediada por células e consiste na ativação de macrófagos por células T CD4+
(como na DTH), bem como na destruição de células infectadas pelos CTLs
CD8+. A resposta patológica característica á infecção por bactérias intra-celula-
res é a inflamação granulomatosa.
 As respostas protetoras aos fungos consistem principalmente em imuni-
dade natural, mediada por neutrófilos e macrófagos, e imunidade adquirida,
mediada por células e humoral. Os fungos são, em geral, imediatamente elimi-
nados pelos fagócitos e por um sistema imunológico competente, razão pela
qual as infecções fúngicas disseminadas são vistas principalmente em pessoas
imuno-deficientes.
 
capítulo 4 • 125
 A imunidade natural contra vírus é mediada por IFNs tipo I e células NK.
Os anticorpos neutralizantes protegem contra a entrada dos vírus nas células
no início do curso da infecção, e, mais tarde, se os vírus forem liberados das
células infectadas mortas. O principal mecanismo de defesa contra a infecção
estabelecida é a morte das células infectadas mediadas por CTL. Os CTLs po-
dem contribuir para a lesão tecidual mesmo quando o vírus infeccioso não é
perigoso por si só. Os vírus escapam das respostas imunológicas por meio da
 variação antigênica, da inibição da apresentação de antígeno e da produção de
moléculas imuno-supressoras.
Os parasitas, tais como protozoários e helmintos, dão srcem ás infecções
crônicas e persistentes porque a imunidade natural contra eles é fraca e os
parasitas desenvolveram múltiplos mecanismos para escapar e resistir á imu-
nidade específica. A diversidade estrutural e antigênica dos parasitas patogê-
nicos é refletida nas diferentes respostas imunológicas adquiridas que eles
desencadeiam. Os protozoários que vivem dentro das células do hospedeiro
são destruídos pela imunidade mediada por células, enquanto os helmintos
são eliminados do corpo por IgE e destruição mediada por eosinófilos e por
outros leucócitos. Os parasitas escapam do sistema imunológico pela variação
dos seus antígenos durante a residência nos vertebrados, pela aquisição de re-
sistência aos mecanismos imunológicos efetores e mascaramento e expulsão
de antígenos superfície.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEDICAL IMMUNOLOGY, 9 ed Daniel P. Stites, Abba I, Terr, Tristram G. Parslow.
 
126 • capítulo 4
 
O Sistema ImuneO Sistema Imune
nas Doençasnas Doenças
55
 
128 • capítulo 5
OBJETIVOSOBJETIVOS
• O sistema imune nas doenças
• Imunologia dos transplantes
• Imunologia dos tumores
• Doenças auto-imunes
 
capítulo 5 • 129
5.1 Imunologia dos Transplantes
O transplante como forma de tratamento para inúmeras deficiências do orga-
nismo tem apresentado grandes avanços nos últimos anos. Embora muitas das
questões básicas relativas aos mecanismos responsáveis pela rejeição ou acei-
tação dos transplantes ainda não estejam completamente elucidadas, o conhe-
cimento de alguns destes processos tem auxiliado no desenvolvimento de no-
 vas formas de supressão do sistema imune, permitindo assim, uma sobrevida
cada vez maior do enxerto. Para que seja efetuado um transplante, é necessário
que exista um "doador", que irá ceder um órgão ou tecido a ser enxertado no
"receptor".
De acordo com o tipo de doador, os transplantes podem ser classificados
como autotransplantes (transplantes autólogos), alotransplantes (transplantes
alogênicos) ou xenotransplantes (transplantes xenogênicos). Os transplantes
autólogos ocorrem quando o tecido enxertado provém do próprio receptor.
Este é o caso dos transplantes de pele, utilizados no tratamento de queimadu-
ras não muito extensas, ou mesmo das pontes de safena para tratamento de
problemas cardiovasculares.
Um dos principais problemas do transplante esta na possibilidade de re-
 jeição do órgão ou tecido por parte do receptor, o que, evidentemente, não irá
ocorrer no caso dos autoenxertos devido ao reconhecimento do tecido como
componente próprio. Existem animais desenvolvidos e criados para fins de
pesquisa científica que constituem as linhagens isogênicas de camundongos,
ratos, hamsters e outras espécies. Estes animais, obtidos através de endocru-
zamentos, isto é, entre irmãos, ao longo de pelo menos 20 gerações passam a
ter a mesma bagagemgenética, diferindo apenas nas características ligadas ao
sexo. Em outras palavras, é como se fossem todos irmãos gêmeos. O transplan-
te realizado entre estes animais é referido como singênico ou isogênico e, da
mesma maneira que nos transplantes autólogos, o receptor não reconhece o
enxerto como estranho e, portanto, não desenvolve uma reação de rejeição. Um
exemplo clínico seria o dos os transplantes entre irmãos gêmeos.
Um terceiro tipo de transplante, que constitui o caso mais comum nos
transplantes clínicos, é o alogênico, realizado entre indivíduos da mesma espé-
cie, mas que tenham uma bagagem genética distinta. No transplante alogênico
podemos distinguir 3 tipos de doador. O doador vivo aparentado é representa-
do por familiares como os irmãos, pais e primos. De um modo geral, quanto
 
130 • capítulo 5
mais próximo o grau de parentesco, maior a semelhança genética entre doador
e receptor. O doador vivo não-aparentado pode ser qualquer pessoa que não
esteja geneticamente relacionada com o receptor, como é o caso da esposa ou
namorada, amigos ou mesmo doadores 'voluntários'. Com mais freqüência, os
órgãos são provenientes de indivíduos que tenham ido a óbito em período re-
cente, desde que clinicamente estejam aptos como doadores, sendo estes refe-
ridos como doadores cadáveres.
Existem ainda os transplantes xenogênicos, nos quais doador e receptor são
animais de espécies diferentes, como, p. ex. o transplante de coração de um
primata não-humano para um membro da espécie humana.
Em virtude das dificuldades de obtenção de órgãos da própria espécie hu-
mana, os transplantes xenogênicos representam um dos caminhos em que os
pesquisadores concentram muitos esforços. Ainda quanto a classificação dos
transplantes, eles podem ser ortotópicos ou heterotópicos, de acordo com a lo-
calização anatômica do enxerto.
5.1.1 Complexo Principal de Histocompatibilidade (Mhc)
No homem, o MHC é chamado de sistema HLA e compreende uma série de
genes intimamente relacionados que se localizam ao longo de um dos braços
curtos do cromossomo 6. Os genes do MHC compreendem 3 loci (A, B e C), res-
ponsáveis pela codificação dos antígenos de classe I, de ampla distribuição te-
cidual, presente em todas células nucleadas do organismo. Como foram os pri-
meiros antígenos descobertos quanto a participação no processo de rejeição,
estes foram anteriormente chamados de antígenos de transplante. Os Ag Clas-
se I são cadeias polipeptídicas glicosiladas (glicoproteínas), com peso molecu-
lar aproximado de 45.000 dáltons, constituindo 3 domínios globulares deno-
minados alfa1, 2 e 3. Intimamente ligada à cadeia alfa, localiza-se uma cadeia
peptídica não-glicosilada denominado beta 2-microglobulina, presa por forças
não-covalentes. Este peptídio de aproximadamente 12.000 dáltons é codificado
por um segmento no cromossomo 15, diferente daquele em que se encontra o
MHC (cromossomo 6), mas é essencial para que haja expressão dos antígenos
de classe I. A molécula de classe I tem ainda um segmento intramembrana e
uma porção intracitoplasmática em sua terminação carboxila, pela qual fica
ancorada na membrana. Os sítios antigênicos responsáveis pelas diferenças
alogênicas parecem ocorrer nos domínios alfa1 e alfa 2, que são justamente
 
capítulo 5 • 131
aqueles mais externos à membrana citoplasmática. Os loci DQ, DP E DR, por
sua vez, codificam os antígenos de classe II. De distribuição mais restrita, eles
estão presentes na superfície de linfócitos B, macrófagos, células dendríticas
e linfócitos T ativados. Os antígenos de classe II consistem de 2 cadeias poli-
peptídicas distintas denominadas alfa e beta, unidas entre si através de forças
nãocovalentes.
Cada cadeia apresenta 2 domínios globulares, glicosilados ou não. A cadeia
alfa mais longa, tem peso aproximado de 35 kd. A cadeia beta, mais curta, tem
peso aproximado de 28 kd, e é a que apresenta os sítios alogênicos. Cada indiví-
duo apresenta um par de alelos, de cada locus, responsáveis pela codificação de
antígenos na superfície das células, de expressão codominante. Em outras pa-
lavras, uma determinada pessoa expressa em suas células, 2 antígenos HLA-A,
2 HLA-B, 2 HLA-C, 2 HLA-DQ, 2 HLA-DP e 2 HLA-DR. Assim, a possibilidade de
que um transplante seja bem sucedido se deve, em grande parte, ao grau de
compatibilidade entre doador e receptor.
5.1.2 Seleção do Doador
Evidentemente, a probabilidade de maior grau de compatibilidade entre do-
ador vivo parente e o receptor, aumenta a sobrevida do enxerto e do receptor.
Os resultados obtidos com doadores vivos não parentes são comparáveis aos
que envolvem doadores parentes haploidênticos, enquanto os transplantes
com doador cadáver resultam em menor sobrevida tanto do enxerto quanto do
receptor. Quando a situação possibilita a seleção de um doador adequado (no
caso dos doadores vivos) alguns critérios devem ser adotados para aumentar a
probabilidade de que o transplante seja bem sucedido.
Em linhas gerais, o doador deve ser adulto, com idade superior a 21 anos,
dando-se preferência aos indivíduos acima de 30 anos, com idade máxima de
70 anos. O doador deve ser normal, do ponto de vista clínico e emocional. O pri-
meiro aspecto a ser considerado é a compatibilidade ABO entre doador e recep-
tor, respeitando-se as mesmas regras utilizadas para as transfusões sanguíneas.
Esta compatibilidade é importante porque os Ag do sistema ABO são expressos
na superfície das células endoteliais, podendo servir de alvo para as isohema-
glutininas naturais presentes no sangue do receptor. Tais anticorpos, sendo da
classe IgM, são eficientes fixadores de complemento, e poderiam mediar a re-
 jeição hiperaguda do enxerto. O sistema Rh não é levado em consideração, por
 
132 • capítulo 5
ser um sistema antigênico próprio das hemácias, sem expressão nos demais
tecidos.
 Anticorpos anti-Rh são da classe IgG e, portanto, também são bons fixado-
res de complemento. Entretanto, tais anticorpos só aparecem como resultado
de exposição prévia do hospedeiro ao Ag, de modo que o receptor geralmente
não possui Ac pré-formados contra as hemácias do doador (mesmo que esti-
 vessem presentes, não poderiam ser responsáveis por uma eventual rejeição
do enxerto). Talvez a única preocupação quanto à incompatibilidade Rh esteja
na possibilidade de que um receptor Rh-, ao receber o enxerto de um doador
Rh +, sensibilize-se contra o Ag e, no caso de ser uma mulher em idade fértil,
ter uma gestação com risco de desenvolvimento da eritroblastose fetal. Além
disso, para os doadores vivos, o processo de seleção requer a tipagem HLA do
receptor e dos possíveis doadores, para permitir a seleção do melhor doador en-
tre os candidatos. No caso de doador cadáver, nem sempre é possível se realizar
a tipagem do doador, para comparação com o receptor, e seleção daquele que
apresentar maior grau de compatibilidade HLA com o receptor do enxerto e na
maior parte dos centros de transplante essa avaliação não é realizada quando
se trata desse tipo de doador. Na prática, considera-se de maior importância à
compatibilidade entre os antígenos de classe II, seguido da compatibilidade
entre os antígenos HLA-B e, por fim, os antígenos HLAA.
Quanto aos antígenos do locus C, pouco se tem conhecimento de sua im-
portância em relação à rejeição mas parecem ser pouco antigênicos.
Outra prova necessária é a prova cruzada ou “cross-match”, empregada para
avaliar se o receptor não é sensibilizado contra os Ag de histocompatibilidade
do doador (ainda que seja seu primeiro transplante), o que deve resultar ne-
gativa. Esta avaliação é realizada através de um ensaio "in vitro" no qual uma
amostra de soro do receptor é misturado com linfócitos do doador e incuba-
dos por um período. Após a incubação, durante a qual deve ocorrer a formação
de complexos antígeno-anticorpo (se no soro houver a presença de anticorpos
antiHLA), adiciona-se ao sistema, uma fonte de complemento, que deverá pro-
 vocara lise de linfócitos reconhecidos pelos anticorpos. Na reação positiva,
uma vez que existem anticorpos específicos anti-doador em circulação, se for
realizado um transplante, este poderá ser rapidamente rejeitado. A reação de
"cross-match" positiva pode ser observada em pacientes que foram submetidos
a transfusões múltiplas, mulheres multíparas ou indivíduos que já foram pre-
 viamente transplantados. Na realidade, um cross-match positivo nem sempre
 
capítulo 5 • 133
é sinônimo de mau prognóstico para o enxerto/receptor. Assim, nos casos su-
prareferidos, se o cros-match for positivo para linfócitos totais do sangue peri-
férico, o teste é repetido com suspensão ricas em células T ou em células B. Se o
este for negativo para células B, o transplante pode ser realizado. Se for positivo
para B, o teste é repetido para verificar se os antígenos reconhecidos são anti
-MHC I ou anti-MHC II. A presença de anticorpos (ou linfócitos B) anti-MHC II,
não contra-indica o transplante.
Para os receptores politransfundidos, multíparas ou aqueles que já rece-
beram um transplante, com cross-match positivo, às vezes é necessário que se
avalie sua reatividade frente a um painel de linfócitos, que traduz o grau de rea-
tividade do indivíduo contra a população de potenciais doadores.
Outros exames a que o doador deve se submeter para o caso do transplante
renal, são Ca, P, ácido úrico, enzimas hepáticas, coagulograma, glicemia, hemo-
grama completo e sorologia para as doenças crônicas Chagas, hepatites B e C,
toxoplasma, citomegalovírus, mononucleose e aids. Entre os critérios adotados
para exclusão de doadores estão: a) idade abaixo dos 7 anos e acima dos 70, com
avaliação rigorosa pela equipe, nos casos de indivíduos entre 7 e 15 anos ou en-
tre 65 e 70; b) patologias prévias com comprometimento renal como diabetes
mellitus, hipertensão arterial sistêmica, anormalidades ou lesões anatômicas;
c) infecções bacterianas em processos sépticos com comprometimento renal
direto ou em uso de antibioticoterapia com drogas nefrotóxicas; d) infecção
pelo HIV (doadores com sorologia positiva para HCV, HbsAg, T. cruzi ou CMV,
poderão ser utilizados em situação específicas à critério da equipe médica), e)
instabilidade hemodinâmica persistente ou transitória e f) neoplasias, que não
sejam o câncer de pele localizado ou alguns tipos de tumor primário do SNC.
 Assim como na escolha do doador, alguns critérios devem também nortear
a seleção do receptor, entre eles a idade inferior a 1 ano ou peso inferior a 7 qui-
los, ocorrência de vasculopatia periférica, doença pulmonar crônica, tubercu-
lose em atividade ou com tratamento incompleto, sorologia positiva para HIV,
entre outros.
5.1.3 Rejeição de Enxertos Alogênicos
 A reação de rejeição é caracteristicamente uma reação de hipersensibilidade
do tipo IV, isto é, uma reação imunológica tardia que envolve principalmente
a ação de linfócitos T e monócitos. Trata-se de uma reação específica, uma vez
 
134 • capítulo 5
que determina uma memória imune celular, capaz de induzir rejeição mais rá-
pida de um segundo enxerto proveniente do mesmo doador. De acordo com
as características gerais da reação e tempo de sobrevida do enxerto, a rejeição
pode ser classificada como hiperaguda, aguda e crônica.
5.1.4 Rejeição hiperaguda
Em raras ocasiões um transplante sofre rejeição imediata, forma denomina-
da rejeição hiperaguda, causada pela presença de anticorpos pré-formados
no soro do receptor. A rejeição hiperaguda se caracteriza pela presença de um
grande número de células polimorfonucleares (PMN) na vasculatura, associada
com intensa formação de microtrombos e acúmulo de plaquetas. Isto ocorre
quando anticorpos anti-HLA ou isohemaglutininas (ABO) circulantes ligam-se
ao endotélio vascular e desencadeiam uma reação de hipersensibilidade cito-
tóxica (tipo II).
Inicialmente os anticorpos que reagem com os antígenos presentes no en-
dotélio fixam componentes do sistema complemento, resultando em intensa
infiltração de células PMN nos vasos do enxerto. Em seguida estes componentes
provocam lesão da parede vascular, ativando a cascata de coagulação em vários
pontos, refletindo em deposição de plaquetas e formação de microtrombos nos
capilares do órgão. O comprometimento dos vasos é evidenciado pela hemorra-
gia que se segue. Este processo impede a vascularização do órgão transplanta-
do, levando à isquemia severa e posterior necrose do enxerto. Células PMN são
praticamente ausentes no interstício.
 A rejeição hiperaguda ocorre minutos ou horas após o transplante, depen-
dendo do tipo e concentração de anticorpos presentes em circulação. Entre os
pacientes que podem apresentar anticorpos anti-HLA estão os politransfundi-
dos, as multíparas e indivíduos previamente submetidos a transplante. Ë esta
também a forma de rejeição que se observa nos transplantes xenogênicos, de-
 vido a presença de isohemaglutininas naturais, constituindo-se em uma das
principais barreiras para a prática deste tipo de transplante na clínica.
Diferentemente do que ocorre na rejeição aguda, o processo de rejeição hi-
peraguda não pode ser interrompido por medicamentos ou agentes biológicos
assim, a conduta se restringe à prevenção da reação pela escolha cuidadosa
do doador. Via de regra, a compatibilidade ABO e o cross-match (prova cru-
zada) negativo são os parâmetros utilizados para \evitar este tipo de rejeição.
 
capítulo 5 • 135
Classicamente o cross-match é realizado por reação de linfocitotoxicidade mas
atualmente, alguns centros têm realizado a prova através de técnicas mais sen-
síveis como a citometria de fluxo e o ELISA.
5.1.5 Rejeição aguda
 A rejeição aguda é a forma mais comumente encontrada nos transplantes clí-
nicos, podendo ocorrer semanas ou messe após o transplante. Caracteriza-se
pela presença de macrófagos e linfócitos (especialmente T) no interstício do
enxerto, enquanto as células PMN são raramente encontradas, a não ser que
haja infecção concorrente. De acordo com a classificação de Banff, os acha-
dos mais característicos dessa forma de rejeição são a tubulite (infiltração do
epitélio tubular por leucócitos) e a arterite intimal ( espessamento da camada
íntima, com diferentes graus de inflamação subendotelial). Evidências indi-
cam que leucócitos passageiros presentes na peça cirúrgica são capazes de
promover o estímulo primário do sistema imune do receptor. Estes leucócitos
passageiros correspondem à linfócitos T e B, alguns monócitos e macrófagos,
além de células dendríticas, fortemente ligadas ao tecido transplantado. Todas
estas células, principalmente as células dendríticas, apresentando antígenos
de histocompatibilidade em sua superfície, funcionam como células apresen-
tadoras de antígenos. É importante lembrar que para que uma resposta imune
seja desencadeada de maneira eficiente, é necessária que haja internalização,
processamento e reapresentação do antígeno, em associação com determi-
nantes de histocompatibilidade. Esta função é fisiologicamente exercida pelos
macrófagos, linfócitos B e células dendríticas (APCs). No caso da estimulação
alogênica não parece ser importante que haja fagocitose, processamento e re-
apresentação. Os próprios leucócitos passageiros, funcionam tanto como Ag
quanto como APCs, estimulando diretamente o sistema imune do receptor.
 Aparentemente, os antígenos de histocompatibilidade classe I e classe II do
doador são vistos pelo sistema imune do receptor como o "própriomodificado".
Estas células, apresentando antígenos de classe II estranhos, interagem
com linfócitos T auxiliares e fornecem-lhes um segundo sinal, representado
pelo antígeno B-7 e pela produção de IL-1. A IL-1, não esta envolvida apenas na
estimulação de linfócitos Ta mas, provavelmente, é importante também para
a ativação de linfócitos T citotóxicos e B virgens. À luz dos novos conceitos, o
linfócito T auxiliar ativado na resposta alogênica pertence preferencialmente à
 
136 • capítulo5
subpopulação TH1, que desenvolve uma resposta imune essencialmente celu-
lar, do tipo DTH. Uma vez ativado pelo duplo sinal, o linfócito T auxiliar assume
o controle central da resposta produzindo e secretando ativamente a IL-2, um
cofator essencial para a ativação tanto de linfócitos Tc quanto de B.
Como conseqüência da exposição ao aloantígeno mais as interleucinas, há
uma expansão clonal e maturação das células aloreativas. Este fenômeno leva
ao desenvolvimento de células T efetoras que migram do tecido linfóide para
o sangue, atingindo todos os tecidos, inclusive o enxerto, onde irão mediar a
destruição dos sítios que expressam o antígeno. Linfócitos B estimulados pas-
sam a produzir anticorpos específicos, liberados localmente ou no sangue, in-
teragindo também com os antígenos apropriados. As células efetoras capazes
de destruir o enxerto se desenvolvem a partir das subpopulações CD4+ e CD8+.
Linfócitos CD4+ reconhecem antígenos de classe II expressos no enxerto, en-
quanto os CD8+, reconhecem apenas os antígenos de classe I do doador. É
interessante notar que no caso do desafio alogênico, células CD4+ podem Ter
atividade citotóxica, tornando possível a destruição de células com antígenos
de classe II de superfície. Células do enxerto normalmente não expressam antí-
genos de classe II, mas se células TH1 forem ativadas pelos leucócitos passagei-
ros do doador, poderá haver produção de INF gama. O INF gama, entre outros
efeitos, promove o aumento da expressão de antígenos de histocompatibilida-
de e induz a expressão dos antígenos de classe II no endotélio humano. Assim,
as células endoteliais com os antígenos de classe II neoexpressos, passariam a
servir de alvo para as células T CD4+ citotóxicas.
Por outro lado, para que uma resposta contra os antígenos de classe I seja
gerada, é necessário que células Th sejam também estimuladas. Na ausência
de diferenças entre os antígenos de classe II, esta ativação fica prejudicada.
Entretanto, células Tc, anti-classe I, podem ser estimuladas caso haja citocinas
pro-inflamatórias em quantidade suficiente para tanto. Assim no caso de uma
infecção concorrente, a IL-2 e outras citocinas produzidas poderão estar atuan-
do na ativação de células aloreativas. Este mecanismo explica o fato de que a
rejeição aguda é muito mais freqüente quando há diferença entre os antígenos
de classe II do que diferenças exclusivamente entre os antígenos de classe I.
Outra conseqüência importante da ativação de linfócitos T e também de ma-
crófagos, é a liberação de várias linfocinas, especialmente do interferon gama.
O interferon gama, ou interferon imune, é capaz de induzir o aumento da ex-
pressão de antígenos de histocompatibilidade, tornando-os mais vulneráveis
 
capítulo 5 • 137
aos mecanismos efetores. Induz também a expressão de antígenos de classe
II, sobre tecidos que em condições normais podem não expressá-los (células
endoteliais e do parênquima), amplificando tanto a fase de ativação quanto a
efetora da resposta. Além disso, o interferon é um sinal muito potente para es-
timular os monócitos a exercerem uma função efetora sobre o enxerto. A IL-2
e o interferon atuam ainda na ativação de células NK aumentando seu poten-
cial lítico, enquanto a IL-2 promove a ativação de células LAK (lymphokine ac-
tivated killer cells). Embora seu envolvimento nos processos iniciais de rejei-
ção não esteja muito bem esclarecidos, é possível que as células NK e também
as LAK participem no período mais tardio da reação. Quanto aos anticorpos
produzidos, parecem ter uma importância secundária no processo de rejeição
aguda, atuando talvez de uma maneira complementar à resposta celular. Seu
envolvimento na destruição pode ser mediado através da ativação do sistema
complemento pela via clássica, ou através do fenômeno de ADCC (citotoxici-
dade celular mediada por anticorpo). Pelo mecanismo de ADCC, o processo de
destruição seria potencializado devido a possibilidade de interação dos anti-
corpos com uma série de elementos celulares não específicos, como é o caso de
monócitos, células killer e células natural killer.
5.1.6 Rejeição crônica
 A rejeição crônica, que ocorre meses ou anos após o transplante, é caracterizada
por uma diminuição progressiva do lúmen vascular arterial, devido ao crescimento
das células endoteliais. O mecanismo pelo qual este fenômeno se processa não é
completamente conhecido mas acreditase que seja decorrente de sinais de injú-
ria imunológica, liberação de IL-1 pelos monócitos e liberação de fatores de cres-
cimento pelas plaquetas. A injúria imunlógica pode ser decorrente tanto de uma
reatividade humoral quanto celular a antígenos menores de histocompatibilidade,
que provovam lesões leves no tecido endotelial, seguidas de reparo. O reparo teci-
dual resulta em fibrose intersticial, espessamento fibroso da íntima arterial e redu-
ção da luz e, nos tranpsltes renais, atrofia tubular e aumento da matriz mesangial.
Em uma fase inicial, a proliferação das células endoteliais é reversível, po-
rém quando começam a ocorrer mudanças fibróticas no interior do próprio
 vaso, o processo evolui para isquemia, fibrose extensiva e perda da função do
órgão. Desde que não existe ainda uma terapia para esta forma de rejeição, a
solução esta na escolha do doador.
 
138 • capítulo 5
Infelizmente, este tipo de reação pode ocorrer mesmo quando a compatibi-
lidade HLA é satisfatória, ocorrendo uma rejeição devido a antígenos menores
de histocompatibilidade, como é o caso do sistema endotelial-monocitário.
5.1.7 Supressão da resposta imune e efeitos colaterais
Os transplantes clínicos requerem alguma forma de supressão da resposta
imune para permitir a sobrevida do enxerto. Os tratamentos imunossupresso-
res são, em sua maioria, não-específicos determinando maior risco de infec-
ções e tumores ao hospedeiro.
5.1.8 Supressão quimioterápica
O método convencional de supressão do sistema imune no transplante clínico
consiste na administração de drogas como a azatioprina (AZA), corticosterói-
des (principalmente a predinizona) e a ciclosporina A (CyA). A azatioprina é um
potente inibidor de mitoses, administrado antes e logo depois do transplante,
para diminuir a proliferação de linfócitos T em resposta aos aloantígenos. É
um análogo e purina que se integra no DNA e promove a morte da célula quan-
do esta entra em mitose, podendo também inibir a síntese de proteínas. Como
uma resposta imune se inicia com proliferação celular e induz produção de
imunoglobulinas, a AZA atua nas etapas inicias de resposta.
Dois outros antimitóticos são comumente utilizados em associação com
outros agentes imunossupressores, a ciclofosfamida e o metotrexato.
Entretanto, o efeito desta droga sobre o metabolismo celular é inespecífico,
atuando sobre a geração de outros tipos celulares, não necessariamente envol-
 vidos com a resposta alogênica. Assim seu uso pode resultar em efeitos sobre
a medula óssea que incluem leucopenia, trombocitopenia e anemia, além de
uma imunossupressão generalizada que predispõe o paciente ao desenvolvi-
mento de inúmeras doenças infecciosas.
Os esteróides prednisone, prednisolone e metilprednisolone são adminis-
trados como profiláticos ou em episódios de rejeição devido à sua ação antiin-
flamatória. A natureza lipofílica destes hormônios permite que atravessem a
membrana citoplasmática, ligando-se a receptores no citosol, que os transpor-
tam para o núcleo, onde se ligam a seqüências reguladoras específicas do DNA,
interferindo em sua transcrição. Sua administração resulta na depressão da
 
capítulo 5 • 139
síntese de proteínas, DNA e RNA, morte de pequenos linfócitos no sangue e ór-
gãos linfóides, imunidade celular debilitada, inibição de migração de T ao sítio
de reação, inibição da síntese de linfocinas, redução de monócitos e bloqueio
da interação celular entre as células imunocompetentes. Como efeitos colate-
rais importantes, têm sido descritos casos de diabetespor esteróides, interfe-
rência no crescimento de crianças, ulceração péptica, hipertensão, desenvolvi-
mento de catarata, distúrbios psiquiátricos, osteoporose e necrose avascular da
cabeça do fêmur. Na clínica, inibidores de mitose e esteróides são usualmente
administrados em associação, promovendo uma sobrevida superior a 1 ano em
50-60% dos casos de transplante de rim de cadáver. A ciclosporina A é obtida
de um fungo e observou-se que é capaz de promover forte imunossupressão
no homem e uma variedade de outras espécies animais. No homem, inibe a
resposta proliferativa de linfócitos a Con A, PHA e PWM 'in vitro', bem como
inibe completamente a reação mista de linfócitos. Tem sido sugerido que a CyA
atua predominantemente sobre linfócitos T, inibindo a produção de IL-2 ou
inibindo a resposta a ela. Através deste mecanismo haveria uma supressão na
geração de linfócitos Tc, responsáveis pela fase efetora da rejeição. Alguns ex-
perimentos tem demonstrado que a utilização desta droga pode levar a geração
de células T supressoras específicas, o que resultaria em efeito menos severo
sobre a reatividade geral do sistema imune. Alguns efeitos colaterais, entretan-
to, também têm sido descritos, como a ocorrência de nefro e hepatotoxicidade,
hipertensão, tremores, fraqueza muscular, entre outros. O micofenolato mofe-
til, transforma-se no organismo em ácido micofenólico, uma droga antiprolife-
rativa que atua na biossíntese das purinas. Essa droga é mais potente que a AZA
e pode ser empregada também em substituição aos corticóides e à ciclosporina
nos casos de resistência a essas drogas ou ocorrência de efeitos colaterais im-
portantes. O tacrolimus e o sirolimus são drogas mais recentes sendo, como
a ciclosporina A metabólitos obtidos de fungos. Embora sejam quimicamente
não-relacionados sua ação é similar à da ciclosporina A.
O Tacrolimus (FK506) é um macrolídeo isolado do fungo Streptomyces
tsukubaiensis que tem com principal efeito a inibição da geração de linfócitos
T citotóxicos. Além de ser empregado como tratametmno imunossupressor ini-
cial, em associação com AZA ou micofenolato mofetil, pode também ser usado
em substituição à ciclosporina A nos casos de efeitos colaterais ou persistên-
cia de episódios de rejeição. O emprego de tacrolimus possibilita a suspensão
de corticoide, principalmente quando associado a micofenolato mofetil, Os
 
140 • capítulo 5
efeitos colaterais mais importantes dessa droga são os neurológicos, nefrotoxi-
cidade e aumento de incidência de diabete mellitus. O sirolimus (rapamicina)
é outro macrolídeo imunossupressor usado em associação com ciclosporina e
corticóides, que representa uma alternativa nova para o controle da rejeição.
5.1.9 Anticorpos antilinfocitários
 A supressão do sistema imune pode ser obtida através de destruição das célu-
las imunocompetentes, utilizando-se anticorpos dirigidos contra eles. Estes
anticorpos podem ser policlonais ou monoclonais. Os anticorpos policlonais
usualmente empregados são o ATG (anti-thymocyte globulin) e o ALS (anti-lym-
phocyte serum), produzidos em coelhos, cavalos ou cabras. Estes anticorpos
heterólogos são potentes agentes imunossupressores que eliminam seletiva-
mente os linfócitos T circulantes. Uma das desvantagens desta terapia é a varia-
bilidade de potência e pureza dos reagentes empregados. ATG e ALS têm sido
empregados profilaticamente e para tratamento durante os episódios de rejei-
ção aguda, em conjunto com a terapia supressora convencional. As complica-
ções devido ao uso de ATG ou ALS podem estar relacionadas com a reatividade
do pacientes às imunoglobulinas, por se tratarem de proteína heteróloga, ou ao
estado de imunossupressão geral do paciente. Tem sido descritos quadros de
febre, reação anafilática, trombocitopenia, artralgia, e doença do soro. Casos
mais sérios podem apresentar linfomas, especialmente nos casos de supressão
mais drástica.
 Alternativamente, tem sido utilizados anticorpos monoclonais, em substi-
tuição aos policlonais. Teoricamente, a utilização dos monoclonais tende a ser
mais específica do que um soro policlonal, mesmo que altamente purificado.
 Além disso, os monoclonais tem a vantagem de melhor controle de qualidade
quanto a concentração e potência das amostras, aumentando assim a efetivi-
dade do tratamento. Embora inúmeros anticorpos contra diferentes subpopu-
lações celulares tenham sido estudadas em modelos experimentais, na práti-
ca clínica tem sido utilizado o anticorpos OKT3 dirigido contra os linfócitos T
CD3+ (panT).
 A avaliação das subpopulações celulares após 1 hora de administração do
anticorpo elimina quase que totalmente os linfócitos T circulantes, confirman-
do a alta capacidade supressora do agente. Dois a cinco dias após esta dramá-
tica eliminação das células, células CD4+ e CD8+ começam a ser novamente
 
capítulo 5 • 141
detectados na circulação, porém na ausência de células CD3+. O uso de OKT3
tem forte impacto imunossupressor porém com baixa toxicidade, não induz
tolerância e seus efeitos colaterais parem estar restritos à reatividade contra a
porção isotípica da imunoglobulina ou a formação de anticorpos anti-idiotípi-
cos, provocando quadros de febre, náusea e vômito, à semelhança do uso de
policlonais, porém em menor intensidade e freqüência.
5.1.10 Inibidores dos receptores de IL-2
Dois anticorpos monoclonais desenvolvidos contra os receptores de IL-2 têm
sido empregados com sucesso nos transplantes de órgãos. O basiliximab é um
 Ac monoclonal quimérico que bloqueia os receptores de IL-2 e diminui signifi-
cativamente os episódios de rejeição no primeiro ano pós-transplante, quando
associadoa AZA e ciclosporina, com efeitos colaterais inexistentes.
 O daclizumab é um Ac monoclonal humanizado, que bloqueia a cadaeia
alfa do receptor de IL-2 (CD25), e é usado como profilático, em associação cam
a ciclosporina, AZA e corticóides, diminuindo a incidência de episódios de re-
 jeição aguda. Infecções pós-transplante O aumento na suscetibilidade a infec-
ções continuam a ser a complicação mais frequente nos pacientes transplan-
tados/imunossuprimidos e a principal causa de óbito dos pacientes em nosso
meio. A incidência de infecções é maior nos receptores de órgãos de doador
cadáver, submetidos a um regime imunossupressor mais intenso do que os re-
ceptores de órgão de doadores vivos, e nos primeiros meses pós-transplante,
quando a dose das drogas supressoras é maior. Embora a literatura mundial se
refira aos vírus como os principais agentes infeciosos envolvidos nos pacien-
tes transplantados/imunossuprimidos, no Brasil as bacterias são as principais
causas de infecção e óbito desse grupo de pacientes. Um estudo retrospectivo
dos pacientes submetidos a transplante renal entre 1983 e 1990 no Hospital
das Clínicas de São Paulo, revela que 48,6% dos óbitos foram decorrentes de
infecções, dos quais 82,4% causadas por bactérias.
Bactérias Gram negativas são as mais freqüentes e o pulmão o órgão mais
afetado. A tuberculose pós-transplante também representa um problema im-
portante no Brasil, com prevalência de 5,6%, contra 0,5% na população normal.
Micobacterioses atípicas, causadas por agentes como M. avium intracelula-
re, M. cheloney, M. ulcerans, M. bovis e as infecções por M. leprae, também
constituem problema importante entre os pacientes transplantados. Entre os
 
142 • capítulo 5
causadores de infecções virais, os mais importantes são o citomegalovírus, ví-
rus da hepatite B e C e varicella-zoster. Infecções por herpes simplex, Epstein-
Barr, adenovírus e papilomavírus são agentes mais raramene encontrados nos
pacientes transplantados. O CMV é o mais freqüente patógeno diagnosticado
em pacientes imunossuprimidos submetidos a transplante de órgãos, po-
dendo atingir até 50% dos casos, dependendo do esquema imunossupressor
adotado. A infecção pode ser primária ou reativação de um estado de infecção
latente do receptor. No caso da infecção primária,via de regra o órgão trans-
plantado é a fonte de infecção, resultando em infecção mais grave e com evolu-
ção de maior risco. As infecções por HBV e HCV ocorrem geralmente durante
as sessões de diálise a que os pacientes são submetidos no período pré- trans-
plante e, no Brasil, a positividade nos pacientes transplantados atinge 20 e 35%
respectivamente.
5.2 Transplantes clínicos
 Os transplantes renais são os mais conhecidos sob o ponto de vista clínico e
biológico, respondendo pelo número mais elevado de transplantes clínicos
realizados em todo o mundo. Na realidade, a maior parte dos conhecimentos
adquiridos sobre a imunobiologia dos transplantes e muitos dos conhecimen-
tos atuais sobre a imunologia em geral, devem-se aos estudos envolvendo esse
tipo de cirurgia. Assim, podemos considerar que as informações apresentadas
até o momento aplicam-se plenamente aos transplantes renais humanos. Além
do rim, outros órgãos são correntemente transplantados como prática médica,
enquanto outros ainda não atingiram um grau de desenvolvimento suficiente
para garantir resultados clinicamente satisfatórios. Entre os órgãos mais co-
mumente transplantados como forma de terapia contra doenças diversas, es-
tão o coração, fígado, pâncreas e medula óssea, todos com resultados cada vez
mais promissores.
5.2.1 Transplante de coração.
O primeiro transplante cardíaco humano foi realizado em 1964, tendo-se um
chipanzé como doador. O transplante foi rejeitado em pouco tempo, bem como
as demasi tentativas da época. Apenas na década de 90 a técnica cirúrgica, a
 
capítulo 5 • 143
forma de preservação do órgão e os métodos imunossupressores disponíveis
permitiram a realização de transplantres cardíacos mais seguros e com maior
probabilidade de sucesso. Atualmente, o transplante cardíaco, realizado em pa-
cientes com cardiopatias graves sem outra alternativa de tratamento, confere
sobrevida de 1 ano à cerca de 80% dos transplantados. A compatibilidade HLA
entre doador e receptor é desejável, porém devido à escassez de doadores desse
órgão, limita tal exigência. Assim, a rejeição do enxerto é evitada com uma tera-
pia imunossupressora mais intensa, visto que os doadores são cadáveres com
morte cerebral e batimento cardíaco, apresentando boa função cardíaca, sem
história ou fatores de risco associados a cardiopatia.
 Os principais obstáculos para o sucesso do transplante cardíaco são a fa-
lência primária do órgão e rejeição. Entre as causas de morte não ssociadas ao
órgão transplantados estão a infecção e as neoplasias.
Durante o primeiro ano pós-transplante, a falência primária, a rejeição
aguda e as infecções são responsáveis por mais de 90% das mortes. Após esse
período, quando diminui gradativamente o risco de rejeição aguda, aumenta
significativamene o risco de rejeição crônica, com vasculopatia da coronária.
 Aparentemente a rejeição crônica decorre de uma resposta humoral do pacien-
te, pois se observa forte associação de sua ocorrência com a produção de an-
ticorpos anti-HLA no período pós-transplante. Infecções virais, bacterianas e
fúngicas, bem como neoplasias diversas, são observadas nesses pacientes com
maior freqüência do que entre aqueles que recebem outro tipo de transplan-
te. Dada a maior intensidade da terapia imunossupressora empregada nesses
pacientes, não chega a ser surpreendente que sejam mais suscetíveis a essas
complicações.
5.2.2 Transplante de fígado
Embora em algumas espécies de animais o enxerto hepático constitua sítio
imunologicamente privilegiado e, portanto, facilmente aceito pelo receptor, no
homem é comum a rejeição do transplante desse órgão. Em alguns pacientes
existem evidências de que ocorra tolerância espontânea ou induzida ao tecido
enxertado e hipotetiza-se que células linfóides do enxerto migrem para a peri-
feria (do receptor), estabelçecendo um estado de quimerismo, com desenvol-
 vimento de tolerância aos aloantígenos. Essa possibilidade talvez explique o
fato de que em alguns casos o paciente mantém a ceitação do enxerto, mesmo
 
144 • capítulo 5
após interrupção do tratamento imunossupressor. O fígado mostra resistente à
rejeição hiperaguda, mesmo que haja incompatibilidade ABO e, contraditoria-
mente, em alguns casos observa-se reação do enxerto versus hospedeiro, mes-
mo que doador e receptor tenham o mesmo tipo sanguíneo. A taxa de sobrevida
de um ano entre os pacientes que recebem o transplante hepático varia de 80 a
90%, de acordo com o tipo de terapia supressora instituída. Graças ao desenvol-
 vimento da técnica cirúrgica aplicada a esse tipo de transplante, o órgão de um
doador pode ser dividido em duas porções, favorecendo dois pacientes (geral-
mente com uma porção menor destinada a uma criança).
5.2.3 Transplante de pâncreas
 Ao contrário do transplante de fígado, que quase sempre salva a vida do pacien-
te, o transplante de pâncreas apenas melhora a qualidade de vida do paciente
com diabete mellitus, prevenindo ou minimizando as seqüelas secundárias
ao diabete mellitus (nefropatia, neuropatia, retiinopatia), através da recosnti-
tuição de sua capacidade de produzir insulina. O transplante clínico envolve
o órgão inteiro, mas avanços têm sido obtidos nas técnicas de transplantes de
ilhotas de Langerhans isoladas.
O caráter autoimune do diabete é evidenciado pelo infiltrado mononuclear
que circunda as ilhotas e pela presença de autoanticorpos circulantes dirigidos
contra Ags das células beta das ilhotas. De modo geral a sobrevida do trans-
plante de pâncreas é inferior à observada nos outros tipos de transplante como
rim, fígado e coração e os estudos têm indicado que a eliminação de células
dendríticas (MHC classe II +) da suspensão de células beta, por exemplo, pode
aumentar a sobrevida do órgão, provavelmente por reduzir a apresentação de
antígenos alogênicos ao sistema imune do hospedeiro.
5.2.4 Medula óssea
O transplante de medula é o tratamento de escolha para muitas doenças he-
matológicas como leucemias, linfomas e anemia aplástica, recuperação após
radioterapia e quimioterapia, desordens genéticas como a imunodeficiência
severa combinada e deficiências genéticas.
 Até pouco tempo, a maioria dos doadores de medula óssea era constituída
de gêmeos idênticos ou parentes com fenótipo HLA idêntico. Entretanto, dada
 
capítulo 5 • 145
o grande polimorfismo do sistema HLA, estima-se em no máximo 30% a proba-
bilidade de que um iindivíduo encontre um doador com 100% de compatibili-
dade. Assim, o uso de doadores aparentados com HLA parcialmente compatí-
 vel (haploidêntico) ou doadores não-relacionados com HLA idêntico tem sido
cada vez mais comum nos transplantes de medula óssea. Nos Estados Unidos,
o Programa Nacional de Doadores de Medula mantém o registro de mais de 4
milhões de doadores voluntários de modo que mais de 70 % dos pacientes com
leucemia crônica já podem encontrar um doador cadastrado. Na realidade, os
dados da literatura mostram que o transplante de medula haploidêntica tem
 vantagens sobre a medula de doador HLA-idêntico e, principalmente, sobre a
medula autóloga pois observa-se menor freqüência de recidivas da leucemia. O
fenômeno provavelmente decorre do fato de que a difernça HLA desencadeia
uma moderada reação do enxerto contra o hospedeiro (GVH), capaz de elimi-
nar eventuais células malignas resistentes ao tratamento quimio/radioterápico
utilizado para eliminação da medula óssea srcinal, evitando sua expansão. No
caso de células de medula idênctica ou autoenxerto, haveria maior probabilida-
de das células leucêmicas passarem despercebidas pelo novo sistema imune.
Outro passo importante na prática dos transplantes de medula óssea foi
a descoberta de que a transferência de sangue periférico do doador, acompa-
nhada de condicionamento do receptor para estímulo à hematopoiese, pode
substituir a transferência de células obtidas da medula de ossos com atividade
hematopoética. Além de obvia vantagem prática de obtenção das células,a prá-
tica reduz o desconforto e o risco de complicações para o doador e torna desne-
cessárias as medidas para evitar a inoculação de fragmentos de tecido ósseo no
receptor. O sucesso do transplante é indicado pela elevação no número de leu-
cócitos no sangue periférico e aparecimento de neutrófilos maduros 2-4 sema-
nas após o enxerto e essas avaliações são seguidas por pelo menos 100 dias. Em
geral todo o tecido sanguíneo do receptor é substituído pelas células do doador,
embora haja raros exemplos de quimerismo, mais freqüentemente nos casos
em que o transplante é feito nos pacientes com imunodeficiência congênita.
 No caso do transplante de medula óssea é praticamente inexistente o risco
de rejeição do enxerto, pois os pacientes lsão previamente submetidos a um
tratamento para ablação de sua prória medula e, conseqüentemente, de seu
sistema imune. Assim, o maior risco para os pacientes que recebem medula
incompatível é a de ocorrência de uma reação do enxerto contra o hospedeiro
(GVH). De fato, entre as complicações pós-transplantes a doença do GVH e as
 
146 • capítulo 5
infecções respondem por 10-30% da morbidade e mortalidade nos primeiros
100 dias.
 A doença do enxerto versus hospedeiro manifesta-se devido a diferenças nos
antígenos de histocompatibilidade entre doador e receptor e manifesta-se cli-
nicamente pelo aparecimento de exantema, diarreia intensa e icterícia. Pode-
se detectar a presença de células T CD8+ em amostras de biópsias de órgãos
ricos em antígenos DR (classe II) de superfície como pele, intestino e fígado.
5.3 Imunologia dos tumores
Em contraste com o crescimento policlonal regulado e não maligno, uma deter-
minada célula pode sofrer um evento transformador e adquirir o potencial de
produzir células filhas capazes de proliferar independente de sinais externos
de crescimento. É esse crescimento monoclonal e desregulado que caracteriza
as células malignas, que são capazes de invadirem tecidos normais e desorga-
niza-los. A imunologia tumoral é o estudo das propriedades antigênicas dessas
células transformadas (pois um grande problema para o hospedeiro consiste
na semelhança dessas células com as células sadias), da resposta imunológica
do hospedeiro contra essas células, das consequências do crescimento das cé-
lulas malignas para o hospedeiro e dos meios pelos quais o sistema imune deve
ser modulado para erradicar as células tumorais.
5.3.1 Causas dos tumores
 A transformação de células normais em células malignas pode ocorrer de modo
espontâneo ou ser induzida por agentes carcinógenos (químicos, físicos ou vi-
rais). A natureza dessa transformação ajuda a determinar se o sistema imune
do hospedeiro dera capaz ou não de conter o tumor.
• Mutações espontâneas;
• Mutações randômicas (casuais),
• Rearranjos gênicos
• Mutações induzidas;
• Por agentes químicos (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, aminas
aromáticas, ...),
 
capítulo 5 • 147
• Por agentes físicos (raios-x, radiações ionizantes, rios ultravioletas, ...),
• Por agentes virais (EBV, HTLV, HPV, ...), esses agentes são de grande inte-
resse à imunologia devido a possibilidade induzirem a expressão de antígenos
 virais (como proteínas de membrana), pelas células transformadas, reconhecí-
 veis pelo sistema imune do hospedeiro.
Características
 A imunologia tumoral se baseia no fato de que as células tumorais expressam
antígenos que as distinguem das células normais. Esses antígenos podem ser
divididos em 2 grupos:
ANTÍGENOS TUMORAISANTÍGENOS TUMORAIS
EXCLUSIVOSEXCLUSIVOS
Só estão presentes ns células tumorais, mas não
nas células normais do hospedeiro. Abordagens
moleculares são mais gratificantes para identifi-
car esses antígenos do que ouso de anticorpos
monoclonais.
ANTÍGENOS ASSOCIADOSANTÍGENOS ASSOCIADOS
A TUMORESA TUMORES
Podem ocorrer em algumas células normais, po-
rém a expressão quantitativa ou associada a ou-
tros marcadores serve para identificar as células
tumorais. Os anticorpos monoclonais são ideais
para a identificação desses antígenos.
Existem 2 tipos de antígenos de transplante associados a tumor (TATA) que
são reconhecidos pela imunidade mediada por células:
1. Antígenos Antígenos TT; esses antígenos são compartilhados por muitos tumores
2. Antígenos Antígenos específiespecíficos cos de de tumor tumor (TSTA)(TSTA); esses antígenos específicos
para cada tumor.
3. Antígenos Antígenos oncofetaoncofetaisis; são antígenos de diferenciação presentes du-
rante o desenvolvimento fetal, mas que normalmente não são expressos na
 vida adulta. Esses antígenos (AFP e CEA), no entanto,são expressos por células
tumorais.
 
148 • capítulo 5
5.3.2 Mecanismos Imunológicos que atuam contra células tumorais
Praticamente todos os componentes do sistema imunológico podem contri-
buir para a defesa contra as células tumorais
• Células TCélulas T; são, sem dúvida, o principal mecanismo de defesa para o orga-
nismo contra essas células. Atuam tanto diretamente sobre elas (células CD8+)
como ativando outros componentes do sistema imune ( as células CD4* que
atuam através de linfocinas).
Entretanto dependem de células apresentadoras de antígenos (APC), pois
na maioria das vezes as células tumorais expressam apenas MHC classe I e não
a classe II.
• Células BCélulas B; secretam anticorpos (o principal é a IgG) e funcionam como
 APC.Os anticorpos podem agir tanto fixando complemento quanto promoven-
do a ADCC (citotoxidade mediada por anticorpo)
• Células NK**Células NK** ; representam a primeira linhagem de defesa do hospedeiro
contra o crescimento das células transformadas. Também representam um au-
xílio quando recrutadas pelas células T. Sua ação é mediada pela liberação de
fatores citotóxicos ou de granzinas e perforinas.
• MacrófagosMacrófagos; são importantes na iniciação da resposta imune por desem-
penharem o papel de APC. Além disso podem atuar diretamente como células
efetoras mediando a lise do tumor. As principais citocinas envolvidas na ati-
 vação dos macrófagos (MAF) SÃO O INF- γ, a IL-4, o TNF e o GM-CSF (fator de
estimulação de crescimento granulócitomacrófago).
* IL-2, IFN-γ e TNF são as principais citocinas envolvidas.
** As células transformadas comumente apresentam uma quantidade di-
minuída de MHC-I e é esse o sinal para as NK.
 
capítulo 5 • 149
5.3.3 Mecanismos de escape das células tumorais
• ImunosseleçãoImunosseleção ; mutações randômicas (ao acaso), devido a instabilidade
genética, produzem células tumorais que ao são reconhecidas como estranhas
pelo sistema imune do hospedeiro e essas células, conseqüentemente são sele-
cionadas (pelo próprio sistema imune),
• Fatores solúveisFatores solúveis ; as células tumorais secretam substâncias que supri-
mem diretamente a reatividade imunológica.
• Células T supressorasCélulas T supressoras ,
• Tolerância;Tolerância; como as células tumorais, na maioria d as vezes, não são apre-
sentadoras de antígenos, elas não fornecem um sinal co-estimulador para as
células T (interação B7- CD28 ou CD40-CD40L), o que leva a apoptose ou a um
estado de anergia das células T.
• Perda de antígenos do MHC (modulação)erda de antígenos do MHC (modulação) ; mais de 50% dos tumores po-
dem perder um tumorais alelos de classe I do MHC, o que leva a uma incapaci-
dade de apresentação de antígenos peptídeos tumorais.
5.4 Doenças auto-imunes
Para que elas ocorram são necessários modificações dos determinantes auto
-antigenos, ou então, que o sistema imune se torne incapaz de reconhecer os
constituintes próprios do organismo. As doenças auto-imunes são divididas
em 3 grupos:
1. Doenças órgão-específicasDoenças órgão-específicas : quando o envolvimento clínico e imunoló-
gico se limita a um determinado órgão, durante toda a evolução.EX: A tireoidite
de Hashimoto.
2. Doenças intermediáriasDoenças intermediárias : possuem características clínicas e imunológi-
cas diferentes, isto é, apresentam acometimento de um orgão, ao lado de mani-festações em outros territórios.EX: Na síndrome de Sjogren.
3. Doenças sistêmicasDoenças sistêmicas : se manifestam de forma mais ampla, como se
houvesse uma completa anarquia do sistema imune. Qualquer órgão pode es-
tar envolvido e existe uma intensa variedade de Ac com diferentes especificida-
des contra elementos celulares. Como exemplo destaca-se o Lupus eritematoso
sistêmico.
 
150 • capítulo 5
5.5 Mecanismo de formação dos auto-ac
Evasão da tolerância normal por antígenos próprios:
ANTÍGENOSANTÍGENOS
OCULTOSOCULTOS
Durante o desenvolvimento embrionário, devido a localiza-
ções específicas, certos antígenos não entram em contato
com o sistema imune, se entrarem em contato provocarão
a doença auto-imune.
ANTÍGENOSANTÍGENOS
ALTERADOSALTERADOS
Certas substâncias alteram a superfície de algumas célu-
las causando o aparecimento de novos determinantes an-
tigênicos com surgimento de auto-Acs.
ANTÍGENOSANTÍGENOS
SEMELHANTESSEMELHANTES
As células, pelo convívio com certos antígenos, começam
a apresentar as características destes antígenos, causan-
do reação auto-imunitária. Este é o chamado mimetismo
antigênico.
Perda dos mecanismos de tolerância:
 Antígenos que interferem nas células formadoras de Ac. Ex.: substâncias
químicas, drogas, agentes infecciosos.
Deficiência genética dos mecanismos de controle de tolerância.
Estimulação de populações de células B pré-existentes e com
capacidade de reação com Ag próprios.
 Adjuvantes e agentes infecciosos atuam modificando a molécula antigêni-
ca, sendo agentes etiológicos de várias doenças auto-imunes.
 
capítulo 5 • 151
5.6 Patogênese das doenças auto-imunes
IMUNIDADEIMUNIDADE
HUMORALHUMORAL
a) reações autolíticas ou autotóxicas; anemia he-
molítica por drogas ou produtos microbianos aderidos
aos eritrócitos. É a hipersensibilidade tipo II.
b) reação por imunocomplexos tóxicos: lupus erite-
matoso sistêmico, com complexos Ac; artrite reumató-
ide, com DNA, complexos de IgG; hipersensibilidade
do tipo III.
IMUNIDADEIMUNIDADE
CELULARCELULAR
a) Interações de linfócitos ativos com Ag tissulares.
Hpersensibilidade tipo IV. Ex.: encefalomielina alérgi-
ca, linfócito T antimielina.
b) Liberação de linfotoxinas; reação de hipersensi-
bilidade tardia nas viroses e nas infecções bacterianas
intracelulares. Ex.: tuberculose.
Exemplos de doenças auto-imunes
Miastenia GraveMiastenia Grave: Miastenia é uma doença neuromuscular, caracterizada por
fraqueza que aparece após o exercício físico ou no final do dia. Esse cansaço
após atividade é chamado de fadiga. A doença acontece em virtude da produção
de anticorpos (elementos de defesa no combate às infecções, mas que eventu-
almente podem ser produzidos contra estruturas do próprio corpo) contra uma
estrutura do músculo chamada de receptor de acetilcolina. Não se sabe ainda,
exatamente, porque esses anticorpos são produzidos. Esta doença acomete
principalmente o gênero feminino (6 mulheres para 4 homens), preferencial-
mente entre as idades de 20 a 35 anos.
Os sintomas são: fadiga que pode aparecer em qualquer músculo do cor-
po, desta forma pode acontecer fraqueza dos braços, pernas, dificuldade para
mastigar, dificuldade para engolir (disfagia), falta de ar (dispnéia), voz anasa-
lada (disfonia), queda das pálpebras (ptose palpebral) e visão dupla (diplopia).
 Alguns pacientes apresentam apenas alguns dos sintomas, enquanto outros
 
152 • capítulo 5
apresentam todos. Se o paciente apresenta apenas sintomas relacionados
aos olhos classificamos de forma ocular, caso contrário, chamamos de forma
generalizada.
Se ocorre dispnéia importante, com necessidade de internação em UTI e
uso de respiração artificial, dizemos que o paciente está em crise miastênica.
Os sintomas podem ser desencadeados ou piorados pelo esforço físico, ex-
posição ao calor, alterações emocionais, período menstrual, estados gripais ou
outras infecções, e uso de alguns medicamentos (calmantes, alguns antibióti-
cos). Não é necessário qualquer tipo de dieta. Devemos lembrar que o uso de
doses exageradas da Piridostigmina pode desencadear fraqueza semelhante à
crise miastênica.
*Diagnóstico clínico- história clínica do paciente, associando-a ao exame
físico.
*Exames Complementares- a eletroneuromiografia, dosagem de anticorpos
anti-receptor de acetilcolina e teste com injeção de prostigmine (logo após a
injeção há melhora da força).
TratamentoTratamento: As formas oculares são geralmente tratadas com a
Piridostigmina (melhora a força muscular do paciente) e com corticosteróides
(Prednisona) e/ou imunossupressores (Azatioprina). Esses dois últimos promo-
 vem diminuição dos anticorpos anti-receptor de acetilcolina.
 Já as formas generalizadas podem ser tratadas como as oculares, porém,
na maioria das vezes optamos por realizar uma cirurgia para retirada do timo
(glândula que fica na parte superior do tórax e que controla a produção dos
anticorpos).
Miastenia em GestantesMiastenia em Gestantes: Durante a gravidez 30% das pacientes podem pio-
rar da doença, 30% podem melhorar e 30% permanecem inalteradas. A gesta-
ção deve ser acompanhada durante toda sua duração e, o tipo de parto avalia-
do para cada paciente individualmente. A criança pode nascer com fraqueza
transitória, a qual dura no máximo 2 semanas com recuperação completa. Esse
quadro é chamado de Miastenia Neonatal Transitória.
Tireoidite de HashimotoTireoidite de Hashimoto: É a mais comum causa de tireoidite e a princi-
pal causa de hipotireoidismo. Ela afeta ao redor de 5% da população adulta,
 
capítulo 5 • 153
aumentando particularmente nas mulheres concomitante com a idade. A ti-
reoidite de Hashimoto é causada por problemas no sistema imunitário do cor-
po. Normalmente o sistema imunitário defende nosso corpo contra germens
e vírus estranhos. Nas doenças auto-imunes o sistema imunitário ataca os te-
cidos do próprio corpo por engano. A tireoidite de Hashimoto é causada pela
produção de certos anticorpos contra a tireóide oriundos do sistema imune, os
quais danificam a glândula e retiram-lhe a capacidade de produzir suficiente
hormônio. A tireoidite de Hashimoto está ligada a outras condições auto-imu-
nes, tais como a doença de Graves, acinzentamento prematuro dos cabelos,
diabete melito e artrites.
Sintomas: Hipertireoidismo, hipotireoidismo. Os sinais e sintomas do hi-
potireoidismo e hipotireoidismo são: diminuição da frequência dos batimen-
tos cardíacos (menos que 70 batimentos por minuto), elevação da pressão san-
guínea, cansado ou lentidão nos movimentos ou raciocínio, sentir-se friorento
e sentir-se sonolento durante o dia, mesmo após dormir toda a noite, falta de
memória, dificuldade de concentração, cãibras musculares, paralisias dos bra-
ços e/ou pernas, ganho de peso, rosto inchado, especialmente na parte infe-
rior dos olhos, voz rouca, cabelo fino e fraco, pele amarelecida, grossa, áspera
e seca, nas crianças: baixa estatura, prisão de ventre (constipação intestinal),
fluxo menstrual intenso, eliminação de leite nas mamas, infertilidade, bócio
(aumento anormal na região anterior do pescoço causado por um aumento de
 volume da glândula tireóide).
Diagnóstico Clínico: aumento da tireoíde, bócio.
Diagnóstico Laboratorial: TSH, aumento de T3 e T4.
Tratamento do hipotireoidismo: o tratamento standard para hipotireoidis-
mo é hormônio da tireóide em comprimidos. Os comprimidos proporcionam
ao corpo a quantidade certa de hormônio da tireóide quando a glândula não é
hábil para produzir o suficiente por si próprio. Mesmo quando os sintomas do
hipotireoidismo são usualmente corrigidos dentro de poucos meses, a maioria
dos pacientes necessita tomar comprimidos pelo resto de suas vidas. O hormô-
nio tireoideo preferido para tratamento é a Levotiroxina (T4), encontrados no
comércio com alguns nomes diferentes.
 Alguns pacientes, algumas vezes, tomam quantidades exageradas de
comprimidos tentando acelerar a velocidade de tratamento ou perder peso.154 • capítulo 5
Todavia, isso pode levar ao hipertireoidismo, uma doença na qual há hormônio
demais no sangue e complicações a longo prazo, tal como osteoporose. Você
deve tomar os comprimidos como seu médico prescreveu.
Lupus Eritematoso SistêmicoLupus Eritematoso Sistêmico: Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma
doença crônica de causa desconhecida, onde acontecem alterações fundamen-
tais no sistema imunológico da pessoa, atingindo predominantemente mulhe-
res. O sistema imunológico é uma rede complexa de órgãos, tecidos, células e
substâncias encontradas na circulação sanguínea, que agem em conjunto para
nos proteger de agentes estranhos. Uma pessoa que tem LES, desenvolve anti-
corpos que reagem contra as suas células normais, podendo consequentemen-
te afetar a pele, as articulações, rins e outros órgãos. Ou seja, a pessoa se torna
"alérgica" a ela mesma, o que caracteriza o LES como uma doença auto-imune.
Não é uma doença contagiosa, infecciosa ou maligna. A maioria dos casos de
LES ocorre esporadicamente, indicando que fatores genéticos e ambientais
tem um papel importante na doença.
O Lupus varia enormemente de um paciente para outro, de casos simples
que exigem intervenções médicas mínimas, à casos significativos com danos
à órgãos vitais como pulmão, coração, rim e cérebro. A doença é caracterizada
por períodos de atividade intercaladas por períodos de remissão que podem
durar semanas, meses ou anos. Alguns pacientes nunca desenvolvem compli-
cações severas.
Histórico: Em 1851, o médico francês Pierre Lazenave observou pessoas que
apresentavam "feridinhas" na pele, como pequenas mordidas de lobo. E em 1895,
o médico canadense Sir William Osler caracterizou melhor o envolvimento das
 várias partes do corpo e adicionou a palavra "sistêmico" à descrição da doença.
Lupus = lobo eritematoso = vermelhidão sistêmico = todo
Definição: O "American College of Rheumatology", uma associação ameri-
cana que reune profissionais reumatologistas, estabeleceu em 1971 e revisou
em 1982, 11 critérios que definem o quadro de Lupus. Uma pessoa pode ter LES
se 4 critérios estiverem presentes:
Critérios de pele:
1. mancha "asa borboleta" (vermelhidão característica no nariz e face)
2. lesões na pele (usualmente em áreas expostas ao sol)
 
capítulo 5 • 155
3. sensibilidade ao sol e luz (lesões após a exposição de raios ultravioletas
 A e B)
4. úlceras orais (recorrentes na boca e nariz)
Critérios sistêmicos:
5. artrite (inflamação de duas ou mais juntas periféricas, com dor, incha-
ço ou fluído)
6. serosite (inflamação do revestimento do pulmão - pleura, e coração
- pericárdio)
7. alterações renais (presença de proteínas e sedimentos na urina)
8. alterações neurológicas (anormalidades sem explicações - psicose ou
depressão)
Critérios laboratoriais:
9. anormalidades hematológicas (baixa contagem de células brancas -
leucopenia, ou plaquetas - trombocitopenia, ou anemia causada por anticorpos
contra células vermelhas - anemia hemolítica)
10. anormalidades imunológicas - (células LE, ou anticorpos anti-DNA, ou
anticorpos SM positivos, ou teste falso-positivo para sífilis)
11. fator antinúcleo positivo (FAN)
O diagnóstico correto é feito a partir do histórico do paciente associado ao
exame clínico e exames laboratoriais. Algumas perguntas feitas ao paciente po-
dem ajudar bastante no diagnóstico.
1. você teve dor ou inflamação das juntas por mais de 3 meses?
2. você teve feridinhas em sua boca ou nariz por mais de 2 semanas?
3. os seus dedos mudam de cor, ficando pálidos ou roxos, quando o tem-
po está frio ou quando estão em contato com água fria?
4. alguma lesão de pele, vermelha, surgiu no seu rosto, sobre o nariz e bo-
chechas, por mais de um mês?
5. durante algum exame de sangue alguém lhe disse que a contagem de
células vermelhas, brancas ou plaquetas estava baixa?
 
156 • capítulo 5
6. sua pele fica muito vermelha e irritada, principalmente no rosto, de-
pois que você toma sol? É pior em comparação com outras pessoas?
7. você sentiu dificuldade ou dor para respirar durante alguns dias?
8. você tem perdido muito cabelo ultimamente? Mais do que o normal?
9. você já teve alguma convulsão?
10. alguma vez você fez exame de urina onde foi constatada muita proteína?
Se 3 ou mais destas perguntas forem respondidas com um "sim" é recomen-
dável um exame de sangue para testar a possibilidade de LES.
Exames Laboratoriais:
HemogramaHemograma - é o exame onde são contadas as células vermelhas (hemácias
ou eritrócitos) e brancas (leucócitos) do sangue, assim como as plaquetas, res-
ponsáveis pela sua coagulação. 40% dos pacientes de Lupus apresentam ane-
mia (queda de células vermelhas), 15 a 20% apresentam leucopenia (queda
de células brancas), e ainda 25 a 35% apresentam trombocitopenia (queda de
plaquetas).
Teste de CoombsTeste de Coombs - exame sanguíneo que comprova que a anemia é resultan-
te da produção de anticorpos contra as hemácias - anemia hemolítica.
UrinaUrina - os pacientes de Lupus podem apresentar aumento de células verme-
lhas (hematúria), aumento de estruturas cilíndricas (cilindrúria) e aumento de
proteína (proteinúria) na urina.
FAN (fator anti-núcleo)FAN (fator anti-núcleo) - procura-se um anticorpo dirigido contra uma subs-
tância do núcleo da célula. No núcleo localizam-se algumas proteínas e tam-
bém o DNA.
Qualquer anticorpo contra o DNA ou contra as proteínas do núcleo determi-
na um FAN positivo, o que ocorre em 95 a 100% dos casos.
Células LECélulas LE - os neutrófilos são capazes de "engolir" núcleos de outras cé-
lulas atacadas pelo anticorpo anti-núcleo, formando as células LE positivas.
Cerca de 80% dos pacientes de Lupus apresentam este teste positivo.
 
capítulo 5 • 157
 Anticorpo anti-DNA Anticorpo anti-DNA - existem dois tipos de DNA, nativo (dupla hélice) e mo-
no-hélice, sendo que 60 a 80% dos pacientes com LES produzem anticorpos
contra ambos. A presença do anticorpo anti-DNA sugere a possibilidade de ne-
frite - inflamação dos rins.
 Anticorpo Anticorpo anti-SManti-SM - anticorpo dirigido contra uma proteína do núcleo no
sangue, mas apenas 30% dos pacientes produzem esse anticorpo.
Dosagem de complementoDosagem de complemento - quando o anticorpo se liga ao antígeno forma-
se uma estrutura chamada imunocomplexo. Quando este se deposita, atrai
uma substância chamada complemento, responsável pela inflamação. A dosa-
gem de complemento total (CH50) e das frações C3 e C4 são medidas, avalian-
do-se envolvimento renal e atividade da doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MEDICAL IMMUNOLOGY, 9 ed Daniel P. Stites, Abba I, Terr, Tristram G. Parslow.
ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; POBER, Jordan S. Imunologia celular e molecular. Tradução
Raymundo Martagão Gesteira. 6 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2008.
 
158 • capítulo 5
ANOTAÇÕESANOTAÇÕES
 
capítulo 5 • 159
ANOTAÇÕESANOTAÇÕES
 
160 • capítulo 5
ANOTAÇÕESANOTAÇÕES

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