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Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 Psiquiatria Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) Caracteriza-se por TOC o exagero de preocupações e comportamentos, estando presente a obsessão e a compulsão. Obsessão: pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, experimentadas como intrusivas, que causam extremo desconforto ou sofrimento ao paciente, que tenta ignorá-las ou suprimi-las por meio de outro pensamento ou ação. Compulsões: “manias”, são comportamentos repetitivos ou atos mentais que o individuo se sente obrigado a desempenhar em resposta ao desconforto causado por uma obsessão. O TOC é chamado por alguns como a doença do segredo, pois na maior parte das vezes os pacientes não procuram tratamento, o fazendo apenas quando os sintomas estão muito exacerbados causando um prejuízo incapacitante. Etiopatologia Vários fatores tentam explicar o transtorno, dentre eles levam-se em consideração aspectos genéticos e ambientais, como eventos na gravidez e durante o parto, além de experiencias traumáticas ao longo da vida. Estudos com neuroimagem demonstram também envolvimento de gânglios da base e do lobo frontal na etiopatogenia do TOC. Ocorre ↑ de atividade metabólica no córtex orbitofrontal, no giro do cíngulo anterior e no núcleo caudado. Além disso, demonstram-se a relação de níveis ↑ de glutamato com a presença de sintomas obsessivos compulsivos. Outro fator importante é a infecção por estreptococos beta hemolítico do grupo A, mesmo agente causador da febre reumática. Quadro clinico Os transtornos que até o momento contam com mais evidencias para serem incluídos no espectro obsessivo- compulsivo são: transtornos de tiques (síndrome de Tourette), transtornos somatoforme (transtorno dismorfico corporal TDC) e tricotilomania. Os sintomas são extremamente variados e heterogêneos. Os conteúdos mais comuns do pensamento obsessivo- compulsivo são relacionados a agressividade, doenças, morte, sujeira e contaminação, sexualidade e religiosidade. As obsessões de agressão normalmente se manifestam como medo de situações de violência, acidentes ou more do próprio paciente ou pessoas queridas. São acompanhados de duvidas recorrentes sobre ter ou não ter cometido tais atos. As preocupações exageradas com sujeiras são frequentes e há medo de contaminação por H1N1 e AIDS. As obsessões sexuais são inoportunas e geram culpa, diferentemente das fantasias sexuais, e as religiosas envolvem principalmente preocupações com o pecado, sacrilégio e blasfêmia. As compulsões mais frequentes são por verificação ou checagem, higiene/limpeza, ordenação, arranjo ou simetria, contagem e colecionamento. Alguns pacientes, quando leem alguma palavra com conotação "ruim'' (morte, doença, azar ...) necessitam encontrar alguma palavra que a "anule" (vida, saúde, sorte ...), para aliviar a preocupação. Os sintomas de colecionamento se caracterizam pela necessidade de acumular ou medo de se desfazer de várias coisas, como jornais ou notas fiscais velhas, embalagens inúteis, objetos quebrados ou encontrados na rua. Ciúme Pode gerar muito sofrimento. O paciente tem necessidade de verificar que não está sendo traído, desconfiando continuamente da fidelidade do parceiro. Muitas vezes ocorre sentimento de culpa por gerar sofrimento ao cônjuge. Sintomas de ciúme patológico podem ocorrer também em diversos outros transtornos mentais, como esquizofrenia, transtorno delirante persistente, depressão maior, demências e transtorno por uso de álcool ou drogas, de modo que o diagnóstico diferencial deve ser feito pelo conjunto das manifestações psicopatológicas e clínicas. Síndrome de Tourette É caracterizada pela presença conjunta de tique motores e vocais. Ocorrem “fenômenos sensoriais”, como sensações físicas incômodas na pele ou músculos, percepções visuais, Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 auditivas ou táteis de que algo não está como deveria ou do "jeito certo" (just right), sensação de não finalização ou incompletude e de tensão ou "energia'' apenas aliviadas pela realização de comportamentos repetitivos. Mais comum em homens. Transtorno dismorfico corporal Caracteriza-se pela extrema preocupação com uma deformidade imaginada ou exagerada (no caso de algum defeito na aparência realmente presente). A intensidade dos sintomas pode chegar a um quadro delirante. Tricotilomania Mania de arrancar os cabelos. Os indivíduos que sofrem desse transtorno têm necessidade de arrancar os cabelos ou pelos do corpo, como sobrancelhas e cílios. No geral é mais comum em mulheres. Capacidade de critica A maioria dos pacientes apresenta “insight” preservado, sentindo-se envergonhados de seus pensamentos e comportamentos, admitindo serem excessivos ou irracionais. Por conta disso muitos pacientes realizam seus rituais em segredo. Nesse transtorno os limites entre o que é real e o que é imaginário se misturam, tendo os pacientes a crença de que pensar algum coisa ruim é o mesmo que fazer. Ou que só não matou um filho, por exemplo, porque escondeu a faca de si mesmo. Subtipos TOC de início precoce Inicio dos sintomas antes dos 17 anos. Nesses pacientes ocorre presença ↑ de tiques, distribuição desigual entre os sexos, sendo mais comum em homens, curso grave com pior resposta ao tratamento. TOC relacionado a tiques Inclui em sua maioria indivíduos do sexo masculino e com início precoce dos sintomas. Referem-se mais frequentemente a fenômenos sensoriais precedendo seus comportamentos repetitivos, e apresentam resposta clinica mais satisfatória aos agentes neurolépticos associado ao inibidor seletivo da recaptura de serotonina. TOC relacionado a febre reumática Alguns estudos demonstram maior frequência de SOC, TOC e tiques em portadores de febre reumática (FR - quadro autoimune desencadeado por infecções pelo estreptococo beta-hemolítico A), com ou sem coreia de Sydenham, que é sua manifestação mais tardia no sistema nervoso central. caracterizariam por início mais precoce dos sintomas, maior frequência de obsessões de agressão e compulsões de ordenação, e mais comorbidade com tiques e transtorno dismórfico corporal. Diagnóstico A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas Obsessões são definidas por 1 e 2: 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões são definidas por (1) e (2): 1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais. B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT / Sinop – Turma 3 transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista). Especificar se: • Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo- compulsivo são definitivas ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. • Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras. • Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras. Especificar se: • Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. Tratamento O tratamento é multidisciplinar. Englobando o tratamento cognitivo-comportamental (TCC), terapia familiar ou, nos casos refratários, indicação de radiocirurgia. Estudos de longa duração sugerem que o tratamento do TOC deve ser mantido por pelo menos 2 anos, devendo-se sempre buscar a dose mínima, segura e tolerável dos medicamentos. Tratamento psicoterápico A abordagem comportamental com melhor nível de evidencias disponíveis baseia-se na exposição prolongada e repetida aos estímulos geradores de ansiedade, sem que se realizem os rituais (prevenção de respostas). A exposição viso o fenômeno conhecido como habituação, que é a ↓ gradual da ansiedade diante das situações desencadeantes, até a sua extinção sem a necessidade de recorrer as compulsões. As terapias em grupo são muito importantes pois quebram o estigma da doença e ajudam na ↓ da vergonha e culpa. Tratamento farmacológico A clomipramina foi a primeira droga de escolha, sendo substituída pelos ISRS por estes terem menores efeitos colaterais. Recomenda-se iniciar com a dose mínima e aumentar gradualmente conforme a necessidade e a tolerância de cada paciente. A melhora costuma ser percebida a partir do primeiro mês de tratamento. Não havendo melhora, recomenda-se ↑ a dose a cada quatro semanas, até se atingir a dose máxima recomendada e tolerada por pelo menos 8 semanas adicionais. O tratamento farmacológico do TOC é de longo prazo. Uma vez obtida melhora satisfatória, preconiza-se manter o tratamento por um ou dois anos. Após essa fase de manutenção, a retirada deve ser feita de modo gradual (25% da dose a cada dois meses), para se evitar sintomas de descontinuação. Após duas ou mais recaídas graves, recomenda-se manter os medicamentos indefinidamente Neurocirurgia É reservada aos casos com comprovada refratariedade e múltiplas tentativas de tratamento farmacológico e a terapia comportamental. Fatores associados a resposta ao tratamento Os principais fatores preditivos de boa resposta para a TCC identificados até o momento foram: ter cônjuge e apresentar motivação e engajamento no tratamento. Foram associados com resposta inadequada: presença de obsessões sexuais e religiosas, sintomas de colecionamento, presença de transtornos psiquiátricos adicionais, crítica prejudicada, início precoce dos sintomas, curso crônico e maior gravidade de sintomas OC e depressivos.
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