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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 PS3 - EPIDEMIOLOGIA AULA 2 Vigilância Epidemiológica HISTÓRIA • Século XIV: A Vigilância Epidemiológica (VE) começou a partir dos métodos de quarentena, devido a epidemia de peste na Europa. • John Snow (1849): Estudou toda a trajetória do modo de transmissão da epidemia de Cólera na Inglaterra, mesmo sem ter conhecido do agente etiológico. • William Farr (1838-1880): Organizou o primeiro sistema de coleta de dados de mortalidade por Cólera na Inglaterra e País de Gales. • 1950: O termo Vigilância Epidemiológica é instituído, sendo considerado o monitorado de casos de uma doença infectocontagiosa de grande magnitude. Deixando de estar voltada para o indivíduo em isolamento. • Langmuir (1963): Definição de Vigilância Epidemiológica como “coleta, análise e difusão de dados sobre enfermidades específicas”, não contemplando diretamente ações de controle. • XXI Assembléia Mundial de Saúde (1968): Amplia o conceito de Vigilância Epidemiológica, com a inclusão de informações de saúde em geral (fatores de risco, incapacidades e práticas de saúde). • Década de 60: Ênfase nas doenças transmissíveis. • Década de 70: A Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) introduz o conceito de Vigilância Epidemiológica na América Latina. HISTÓRIA NO BRASIL • Início da década de 70: Atividades de Vigilância Epidemiológica incorporadas pelos serviços de saúde na campanha de erradicação da varíola. • 1973: Criação do Programa Nacional de Imunização (PNI) (Lei 6.259), devido a necessidade de controle das doenças imunopreviníveis. Com o objetivo de avaliar o processo de vacinação, se a incidência e a mortalidade diminuiriam. • 1974: Redefinição conceitual da VE, passando a ser “conjunto de atividades que reúnem informações para conhecer o comportamento ou a história natural da doença, detectar mudanças ou não e analisar fatores condicionantes, durante um período de tempo, com o intuito de recomendar medidas de prevenção eficientes e conseguir controlar a doença”. • 1975: A partir da V Conferência Nacional de Saúde foi instituído o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) pela Lei 6.259 e regulamentado em 1976. → Doenças sujeitas ao Regulamento Sanitário Internacional (varíola, febre amarela, pele e cólera); → Doenças vinculadas ao Programa Nacional de Imunização (poliomielite, sarampo, tétano, difteria, coqueluche, raiva, doença meningocócica); → Doenças controláveis através de ações coordenadas por órgãos específicos do Ministério da Saúde (malária, hanseníase e tuberculose); → Meningites em geral; → Estruturação da VE em órgãos e coordenadorias no nível nacional, centrado nas doenças transmissíveis. • Final da década de 70: Lançado 1º manual pelo Ministério da Saúde (MS) detalhando a estrutura do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e suas competências. • 1978: Conferência Mundial de Alma Ata enfatiza o papel da epidemiologia como disciplina básica da Saúde Pública. Marco do início da epidemiologia no ensino médico. • Década de 80: Marcada por importantes eventos que contribuíram para a consolidação da VE. → Campanhas Nacionais de Vacinação Antipoliomielítica; → Desenvolvimento da produção de vacinas em laboratórios importantes, como Fiocruz/RJ e Butantan/SP. → Novo Manual de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. • Fim da década de 80: Ampliação para o conceito de Vigilância em Saúde, pois não se tratava apenas de doenças infecciosas. Deu-se início ao acompanhamento de doenças crônicas, condições de vida, trabalho da população, atividades de lazer. RESUMO 1. Segregação, focada na quarentena; 2. Foco em campanhas; 3. Foco em doenças transmissíveis; 4. Foco também em doenças crônicas. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E O SUS • Lei Orgânica da Saúde (Lei nº8.080 de 19 de setembro de 1990): Organiza o Sistema Único de Saúde (SUS) em 1990 e dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. → O SUS é o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. → O SUS tem como objetivos a execução de ações de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica, Saúde do Trabalhador e Assistência Terapêutica Integral. → Ampliação da vigilância, iniciando o controle para doenças não transmissíveis (DANT), não sendo mais restrita às doenças transmissíveis ou de notificação compulsória (DNC). A VIGILÂNCIA A vigilância, no geral, é a ferramenta metodológica mais importante para prevenção e controle de doenças em saúde pública. Já que, não existem ações com esses intuitos que não estejam embasadas sobre sistemas de vigilância epidemiológica. PREMISSAS BÁSICAS • A distribuição dos agravos à saúde é produto da ação de fatores que se distribuem desigualmente na população. • O conhecimento dos fatores determinantes das doenças permite a aplicação de medidas preventivas e curativas direcionada a alvos específicos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (VE) “Conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.” (Lei Orgânica da Saúde – Lei nº8.080 de 19 de setembro de 1990) ATIVIDADES DA VE • Coleta, consolidação; • Investigação epidemiológica; • Interpretação de dados e análise de informação; • Recomendação e adoção de medidas de controle; • Avaliação do sistema de vigilância epidemiológica; • Retroalimentação e divulgação de informações. SISTEMA NACIONAL DE VE (SNVE) O SNVE compreende o conjunto interarticulado de instituições do setor público e privado componentes do SUS, que direta ou indiretamente, notificam doenças e agravos, prestam serviços a grupos populacionais ou orientam a conduta a ser tomada no controle delas. Esse sistema visa uma reorganização operacional, segundo os princípios de descentralização e integralidade das ações definidas no SUS. Dessa forma, estabelece como prioridade o fortalecimento de sistemas municipais de VE, dotados de autonomia técnico-gerencial para enforcar os problemas de saúde próprios de suas respectivas áreas de abrangência. • Heterogeneidade no rol de doenças e agravos sob vigilância no nível municipal; • Incorporação gradativa de novas doenças e agravos, inclusive doenças não transmissíveis; • Fluxos de informação atendendo às necessidades do sistema local, porém sem prejuízo da transferência de informações para outros níveis do sistema; TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E DEMOGRÁFICA Na metade da década de 70, ocorreram mudanças no perfil epidemiológico das populações, pois tivemos uma redução das taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, e um aumento das mortes por doenças crônico-degenerativas. Por esse motivo, na década de 80, tivemos o acréscimo da vigilância das doenças não transmissíveis e por causas externas. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS • Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; • Integralidade da assistência; • Equidade no tratamento das pessoas, visando oatendimento que leva em consideração suas necessidades individuais; • Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, alocação de recursos e orientação programática; • Descentralização dos serviços para os municípios; • Regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; • Resolutividade em todos os níveis de assistência. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 • Construção de programas de controle localmente diferenciados, respeitadas as bases científicas de referência nacional; • Informação para a ação. VIGILÂNCIA DA SAÚDE (VS) “Conjunto de ações voltadas para o conhecimento, a previsão, a prevenção e o enfretamento continuado de problemas de saúde selecionados e relativos aos fatores e condições de risco, atuais e potenciais, e aos acidentes, incapacidade, doenças, incluindo as zoonoses, e outros agravos à saúde de uma população num território determinado.” (III Congresso Brasileiro de Epidemiologia - 1995) É uma proposta de reorganização das práticas de saúde que busca adequar as ações e serviços à situação concreta da população de cada território definida em função das características epidemiológicas, sanitárias e ambientais visando a integralidade do cuidado à saúde. VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL (VSA) Consiste em um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente, que interferem na saúde humana. Tem como objetivo identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde. Portanto, possui como papel a vigilância epidemiológica das doenças e agravos à saúde humana, associados a contaminantes ambientais, como a exposição a agrotóxicos, amianto, mercúrio, benzeno e chumbo. Além disso, possuem diferentes áreas de atuação: • Vigilância da qualidade da água para o consumo humano (Vigiágua); • Vigilância em saúde de populações expostas a poluentes atmosféricos (Vigiar); • Vigilância em saúde de populações expostas a contaminantes químicos (Vigipeq); • Vigilância em saúde ambiental relacionada aos riscos decorrentes de desastres (Vigidesastres); • Vigilância em saúde ambiental relacionada aos fatores físicos (Vigifis). NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA A notificação compulsória consiste em comunicação obrigatória à autoridade sanitária da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde ou surto, realizada por médicos ou qualquer profissional de saúde, visando à adoção das medidas de intervenção pertinentes. Elas são realizadas de acordo com o calendário epidemiológico, definido pelo MS anualmente. As semanas epidemiológicas são contadas de domingo à sábado. A primeira semana do ano é aquela que contém o maior número de dias de janeiro e a última a que contém o maior número de dias de dezembro. • Notificação compulsória imediata (NCI): Notificação compulsória realizada em até 24 horas, a partir do conhecimento da ocorrência de doença, agravo ou evento de saúde pública, pelo meio de comunicação mais rápido possível; • Notificação compulsória semanal (NCS): Notificação compulsória realizada em até 7 dias, a partir do conhecimento da ocorrência de doença ou agravo; • Notificação compulsória negativa: Caso o serviço de vigilância não identifique nenhum registro de doença de notificação compulsória dentro da semana epidemiológica, deve proceder ao preenchimento da ficha de notificação negativa. FICHA SINAN O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), fornece fichas de investigação epidemiológica específicas para cada agravo. Nelas temos: • Dados de identificação; • Dados de anamnese e exame físico; • Suspeita diagnóstica; • Informações gerais sobre o agravo, • Exames complementares; • Origem da transmissão (período de incubação, presença de outros casos na localidade, presença de vetores, grupo etário mais acometido, fontes de contágio comum, modos de transmissão, época de ocorrência). A notificação é sigilosa e deve ser realizada ainda na fase de suspeita, não aguardando a confirmação do caso, pois isso pode implicar a perda da oportunidade de adotar as medidas de prevenção e controle indicadas. Após a notificação de um novo caso, é feita a busca ativa de casos, pois podem existir outros casos que não foram notificados. QUANDO NOTIFICAR? • Suspeita de qualquer doença ou agravo de notificação; • Oportunidade para a adoção de medidas de prevenção e controle; Confirmação do diagnóstico; 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 IMPORTÂNCIA DA NOTIFICAÇÃO • Serve como ponto de partida para investigação de casos suspeitos de doenças; • Serve para averiguação das falhas nas medidas de controle adotadas; • Fornecimento, junto com os dados de outros fontes, de elementos para a composição de indicadores; • Avaliação do impacto das medidas de controle. IMPORTÂNCIA DA BUSCA ATIVA • Busca por casos secundários de doenças de notificação compulsória; • Busca ativa de casos primários; • Interromper a cadeia de transmissão da doença das medidas de controle pertinentes a cada tipo de doença; • Utilizada nos programas de eliminação/erradicação; • Situações alarmantes (epidemias). CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA • Magnitude: Frequência, grandes continentes, alta incidência, prevalência, mortalidade e anos potenciais de vida perdidos. • Potencial de disseminação: Alta transmissibilidade. • Transcendência: Severidade, alta letalidade, hospitalização e sequela, relevância social, relevância econômica (restrição comercial, custo diagnóstico/tratamento). • Vulnerabilidade: Fácil ou difícil de prevenir e controlar. • Compromissos: Internacionais e regulamento sanitário internacional (OPAS e OMS). • Epidemias: Surtos e agravos inusitados. DEFINIÇÃO DE CASO COM PROPÓSITO DE VIGILÂNCIA • Caso suspeito: Pessoa cuja história clínica e epidemiológica, sintomas e possível exposição a uma fonte de infecção/contaminação sugerem estar desenvolvendo ou em vias de desenvolver alguma doença. • Caso confirmado: Pessoa de que foi isolado e identificado o agente etiológico ou de quem foram obtidas outras evidências epidemiológicas ou laboratoriais da presença do agente etiológico. A confirmação do caso está condicionada, sempre, à observância dos critérios estabelecidos, para a sua definição, pelo sistema de vigilância. • Caso descartado: Pessoa que não preenche os critérios de confirmação e compatibilidade, ou para a qual é diagnosticada outra patologia que não aquela que se está apurando. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 5 TIPOS DE VE • Passiva: Baseada na notificação de doenças pelo profissional de saúde e outros profissionais, sendo elas voluntárias e espontâneas, que ocorrem na rotina de saúde através da Ficha de Notificação Individual. • Ativa: Baseada na busca ativa de casos em prontuários, domicílios, escolas, creches, comunidades ou população institucionalizada. Também utilizada em situações alarmantes ou em programas de erradicação ou controle prioritários. → Ex: HIV/AIDS, rubéola, dengue, eliminação do sarampo. • Sindrômica: Sentinela para eventos sindrômicos, como infecções congênitas. É a vigilância de um grupo de doenças que apresentam sinais, sintomas e fisiopatologia comuns a etiologias diversas. → Ex: Síndrome diarréica aguda, síndrome ictérica aguda, síndrome dainsuficiência renal. • Sentinela: Sistemas de sentinelas de informações, formada por um estabelecimento de saúde estratégico, capazes de monitorar indicadores-chave que sirvam de alerta precoce de agravos para o sistema de vigilância, focaliza o local notificante (hospitais, clínicas, laboratórios etc.). → Ex: Hospitais que atendem determinadas síndromes ou má formações; aeroportos para detecção de influenza; laboratórios para detecção de hepatite B e C Lista Nacional de Doenças e Agravos a serem monitorados pela Estratégia de Vigilância Sentinela Nº DOENÇA OU AGRAVO I. Vigilância em Saúde do Trabalhador 1 Câncer relacionado ao trabalho 2 Dermatoses ocupacionais 3 Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) 4 Perda Auditiva Induzida por Ruído - PAIR relacionada ao trabalho 5 Pneumoconioses relacionadas ao trabalho 6 Transtornos mentais relacionados ao trabalho II. Vigilância de doenças de transmissão respiratória 1 Doença pneumocócica invasiva 2 Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) 3 Síndrome Gripal (SG) III. Vigilância de doenças de transmissão hídrica e/ou alimentar 1 Rotavírus 2 Doença Diarreica Aguda 3 Síndrome Hemolítica Urêmica IV. Vigilância de doenças sexualmente transmissíveis 1 Síndrome do Corrimento Uretral Masculino V. Síndrome neurológica pós infecção febril exantemática DADOS EPIDEMIOLÓGICOS TIPOS DE DADOS • Dados demográficos e ambientais; • Morbidade; • Mortalidade; • Notificações de surtos ou epidemias; • Notificações de agravos inusitados (surgimento de uma doença desconhecida). FONTES DE DADOS • Notificação (passiva, busca ativa ou centros sentinelas); • Laboratórios (de referência ou hemocentros); • Declaração de óbitos; • Investigação epidemiológica; • Estudos epidemiológicos; • Imprensa; • População. BASES DE DADOS PARA VE • Estatísticas vitais de nascidos vivos e óbitos: → Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC); → Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) • Dados de morbidade (doenças): → Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAM); → Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB); → Sistema de Informação Hospitalar (SIH); → Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS). • Fatores de Risco. • Dados demográficos, socioeconômicos e ambientais. • Notificação de surtos e epidemias. • Notificação de centros sentinelas. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA É um trabalho de campo, realizado a partir de casos notificados, clinicamente declarados ou suspeitos, e seus contatos, que tem por principal objetivo: • Esclarecer a ocorrência do agravo através da identificação da fonte de infecção, o modo de 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 6 transmissão, os grupos expostos ao maior risco e os fatores de risco; • Confirmar o diagnóstico e determinar as principais características epidemiológicas. • Quantificar o problema; • Prevenir casos adicionais; • Ampliar o conhecimento sobre o referido agravo; • Servir como ferramenta de capacitação no serviço; • Alterar as condições do risco sanitários encontrado; • Avaliar as estratégias de prevenção e controle; • Produzir recomendações para prevenção de eventos futuros similares. ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO DE CASOS 1. Coleta de dados sobre os casos: • Identificação do paciente; • Anamnese e exame físico; • Suspeita diagnóstica; • Exames laboratoriais. 2. Busca de pistas: • Fontes de infecção (água, alimentos, ambiente insalubre etc.); • Período de incubação do agente; • Modos de transmissão (respiratória, sexual, vetorial etc.); • Faixa etária, sexo, raça e grupos sociais mais acometidos (características biológicas e sociais); • Presença de outros casos na localidade (abrangência da transmissão); • Possibilidade da existência de vetores ligados à transmissão da doença; • Fatores de risco (época em que ocorreu, ocupação do indivíduo, situação de saneamento na área de ocorrência dos casos, condição de vida etc.); • Análise da área de procedência dos casos (hábitos alimentares, aspectos socioeconômicos etc.); • Potenciais riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos etc.). SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA • Vigilância das Meningites ou Doença Meningocócica (RJ): O caso é notificado através dos serviços de saúde ou comunidade, adentra uma unidade local, é feita uma investigação em 24 horas (deve ser feita até 48 horas). Com isso, é preenchida a Ficha de Investigação (FIE-SINAM) e ela é encaminha ao nível central. A partir da ficha é dado o diagnóstico e o caso é confirmado ou descartado. • Vigilância das Hepatites B e C (RJ): Extremamente complexo, sendo necessária notificações de diferentes instâncias. LIMITAÇÕES DA VE A Vigilância Epidemiológica é de extrema importância, no entanto, depende do fornecimento de dados e notificações, que nem sempre são realizados de maneira correta ou completa. Isso ocorre, devido ao desconhecimento do profissional e da população, quanto a importância e as ações realizadas pela VE. Além disso, o descrédito nos serviços de saúde, a falta de acompanhamento e supervisão das redes de serviço e a ausência de retroalimentação dos dados coletados, corroboram para a desvalorização da VE. EPIDEMIOLOGIA HOSPITALAR A portaria 2.529 de 23 de novembro de 2004 institui a vigilância epidemiológica de agravos inusitados à saúde, surtos e doenças de notificação compulsória em âmbito hospitalar. IMPORTÂNCIA DA VE HOSPITALAR • Porta de entrada de agravos inusitados; • Sentinela para surtos e epidemias; • Diagnóstico etiológico, inclusive post mortem; • Busca ativa de casos (revisão de boletins e prontuários); • Vigilância sentinela; • Análise de óbitos; • Análise de indicadores hospitalares, através da avaliação de serviços; • Interface com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH); • Vigilância e assistência aos acidentes com material biológico. • Farmacovigilância: Identificar e avaliar os efeitos do uso agudo ou crônico dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população ou subgrupos de pacientes expostos a determinados tratamentos. • Hemovigilância: Recolher e avaliar informações sobre efeitos indesejáveis ou inesperados da utilização de hemocomponentes a fim de prevenir seu aparecimento ou recorrência. • Tecnovigilância: Estudar, analisar e investigar o somatório de informações reunidas a respeito do desemprenho de um produto durante a fase pós- comercialização (equipamentos, materiais, artigos médico-hospitalares, implantes e produtos para diagnóstico de uso in-vitro). 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 7 LISTA NACIONAL DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE DOENÇAS, AGRAVOS E EVENTOS DE SAÚDE PÚBLICA Nº DOENÇA OU AGRAVO (Ordem alfabética) Periodicidade de notificação Imediata (até 24 horas) para* Semanal MS SES SMS 1 a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico X b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes X 2 Acidente por animal peçonhento X 3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X 4 Botulismo X X X 5 Cólera X X X 6 Coqueluche X X 7 a. Dengue - Casos X b. Dengue - Óbitos X X X 8 Difteria X X 9 a. Doença de Chagas Aguda X X b. Doença de Chagas Crônica X 10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X 11 a. Doença Invasiva por "Haemophilus Influenza" X X b. Doença Meningocócica e outras meningites X X 12 Doenças com suspeita de disseminação intencional:a. Antraz pneumônicob.Tularemiac. Varíola X X X 13 Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes:a. Arenavírusb. Ebolac. Marburgd. Lassae. Febre purpúrica brasileira X X X 14 a. Doença aguda pelo vírus Zika X b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X 15 Esquistossomose X 16 Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à saúde pública (ver definição no art. 2º desta portaria) X X X 17 Eventos adversos graves ou óbitos pós vacinação X X X 18 Febre Amarela X X X 19 a. Febre de Chikungunya X b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X 20 Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública X X X 21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X 22 Febre Tifoide X X 23 Hanseníase X 24 Hantavirose X X X 25 Hepatites virais X 26 HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida X 27 Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV X 28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) X 29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral X X X 30 Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados) X 31 Leishmaniose Tegumentar Americana X 32 Leishmaniose Visceral X 33 Leptospirose X 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 8 34 a. Malária na região amazônica X b. Malária na região extra-amazônica X X X 35 Óbito:a. Infantilb. Materno X 36 Poliomielite por poliovirus selvagem X X X 37 Peste X X X 38 Raiva humana X X X 39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X 40 Doenças Exantemáticas:a. Sarampob. Rubéola X X X 41 Sífilis:a. Adquiridab. Congênitac. Em gestante X 42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X 43 Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírusa. SARS-CoVb. MERS- CoV X X X 44 Tétano:a. Acidentalb. Neonatal X 45 Toxoplasmose gestacional e congênita X 46 Tuberculose X 47 Varicela - caso grave internado ou óbito X X 48 a. Violência doméstica e/ou outras violências X b. Violência sexual e tentativa de suicídio X Legenda: MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou SMS (Secretaria Municipal de Saúde)
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