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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
LEITURA E PRODUÇÃO 
DE SENTIDOS EM 
ARTES VISUAIS
Autor: Amauri Carboni Bitencourt
700
B624l Bitencourt, Amauri Carboni
 Leitura e produção de sentidos em artes visuais / Amauri 
 Carboni Bitencourt. Indaial : Uniasselvi, 2011. 117 p. : il.
 
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-484-3
 1. Artes - comunicação
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Profa. Tatiana dos Santos Silveira
Revisão Gramatical: Profa. Marcilda Cunha da Rosa
Diagramação e Capa:
Carlinho Odorizzi
Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Doutorando em Filosofi a da Arte e mestre 
em Filosofi a (ambos pela Universidade Federal 
de Santa Catarina); especialista em Artes Visuais e 
em Metodologia do Ensino de Filosofi a e Sociologia; 
bacharel em Filosofi a, também pela Universidade 
Federal de Santa Catarina. Professor universitário de 
desenho artístico, desenho de observação e desenho de 
moda. Pintor desde 1989, possui um acervo que gira em 
torno de 950 obras. Entre elas, algumas estão em coleções 
particulares em diversos países, como Japão, Espanha, 
Itália, Inglaterra, Uruguai e Brasil. Realizou algumas 
exposições de pinturas e recebeu, em 2007, a medalha 
de Honra ao Mérito Artístico Cultural da União Nacional 
dos Artistas Plásticos (UNAP). Possui algumas obras 
catalogadas (nacional e internacional). É autor de dois 
cadernos de ensino a distância do curso de Artes 
Visuais, a saber: Técnicas de Pintura e Desenho 
da Figura Humana, desenvolvidos para o Centro 
Universitário Leonardo da Vinci. Também é autor 
de alguns artigos que versam sobre arte e 
fi losofi a. 
Amauri Carboni Bitencourt
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7
CAPÍTULO 1
Sistema de Signos ........................................................................ 9
CAPÍTULO 2
Linguagem Verbal e Não-Verbal ............................................... 29
CAPÍTULO 3
Introdução à Leitura da Imagem ................................................ 45
CAPÍTULO 4
Compreender e Refletir a Arte nas 
Diferentes Linguagens .............................................................. 65
CAPÍTULO 5
Leitura de Obra de Arte pela Psicanálise ............................... 83
CAPÍTULO 6
Arte e Filosofia ........................................................................ 101
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Imagine que você já comprou as passagens aéreas e, daqui a alguns dias, 
visitará um país distante e entrará em contato com uma cultura diferente da sua. 
Você verá monumentos, casas e igrejas que não está acostumado a ver no dia a 
dia, com simbolismos que desconhece, bem como não saberá a história daquele 
país. Isso se você não se preparou, ao menos um pouco, munindo-se de um 
conhecimento mínimo prévio para que a sua visita tenha mais significância. 
Nesse sentido, quanto mais você se preparar para a sua viagem, mais estará 
apto a partilhar emoções e valores e, dessa forma, aprender sobre a cultura de 
outro país e usufruí-la. Cenas e detalhes que lhe passariam despercebidos terão 
mais a sua atenção se você estiver preparado para a viagem.
De forma semelhante a uma viagem, é nossa inserção no mundo das 
obras de arte. Você não acha que ver uma pintura de alguns séculos terá mais 
significados após ter aprendido algo do contexto em que ela foi criada? Não 
acha que alguém que estuda a história da arte tenha mais condições de ler uma 
obra do que um leigo? Claro que o olhar de um espectador leigo experimentará 
sensações e emoções diversas e que todo aquele que se propõe a olhar uma 
obra deverá ter esse tipo de experiência. O que difere é que, para o estudante, a 
sua investigação continua, enquanto que o leigo geralmente para, ficando apenas 
na sensação visual e no padrão de gosto.
De toda sorte, quanto mais você tiver aprendido sobre os métodos de criação 
artística, bem como sobre maneiras de olhar e ver uma obra, e também quanto 
maior for a sua cultura acerca da história da arte, mais condições terá de analisar 
uma obra com êxito. Por isso, é importante a visita aos museus e o contato com 
livros e catálogos de arte. Lembre-se: o treino do olhar é muito importante para um 
estudante de arte! Claro que ler uma obra com profundidade depende de outros 
conhecimentos fundamentais.
Foi nesse contexto que criamos este material de estudos. Ele servirá como 
um guia inicial para que você tenha condições de adentrar este universo das artes 
visuais com mais profundidade, deixando, por conseguinte, os seus sentidos 
produzirem significações diversas no contato com as obras. Como todo aprendizado, 
o sucesso ou não destes estudos dependerá muito mais de você do que do material 
aqui proposto. Ao longo dos capítulos, apresentamos algumas sugestões de sites e 
livros. Esperamos que você os consulte para aprofundar seus conhecimentos. 
Didaticamente, este caderno foi dividido em seis partes: Capítulo 1 - Sistema 
de signos; Capítulo 2 - Linguagens verbais e não-verbais; Capítulo 3 - Introdução 
à leitura da imagem; Capítulo 4 - Compreender e refletir arte nas diferentes 
linguagens; Capítulo 5- Leitura de obra de arte pela psicanálise; Capítulo 6 - Arte 
e filosofia. Os dois primeiros capítulos tratarão da fundamentação teórica acerca 
dos signos; os dois centrais entrarão nas linguagens da arte e da leitura de 
algumas obras; e os dois últimos trarão alguns exemplos de produção de sentidos 
em espectadores e ramos do conhecimento humano, mais especificamente, 
psicanálise e filosofia. 
É importante ressaltar que o material aqui elaborado traz apenas algumas 
informações essenciais, bem como alguns exemplos de leituras e produção de 
sentidos. Aprofundar e ampliar seus conhecimentos acerca deste tema dependerá 
da sua dedicação e força de vontade. Por isso, não perca tempo: comece, agora 
mesmo, a estudar este assunto tão fascinante e instigante da cultura humana!
O autor.
CAPÍTULO 1
Sistema de Signos
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Diferenciar as principais vertentes do estudo dos signos.
 Conceituar a Semiótica e estabelecer relações entre as diversas abordagens 
do termo, bem como seus representantes mais importantes.
 Pontuar as principais trilogias conceituais acerca do signo elaboradas por 
Peirce.
10
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
11
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
ConteXtualiZação
Desde as primeiras inscrições rupestres feitas nas paredes de cavernas, no 
período Paleolítico Superior (provavelmente, há mais de 40 mil anos), o homem 
tenta representar, de várias formas, o mundo em que vive. Nesse período, foram 
criadas cerâmicas, armas e diversos utensílios trabalhados em pedra. Com o 
surgimento do primeiro alfabeto sobre o qual temos conhecimento – pictográfi co 
–, aproximadamente no ano 4.000 a.C., a raça humana começou a se comunicar 
e a se expressar por meio de desenhos simplifi cados chamados pictogramas. 
Após esse período, passou por diversas etapas de evolução da escrita: a escrita 
cuneiforme (3.250 e 1.950 a.C. por meio dos sumérios), a escrita hieroglífi ca 
(tribos nômades egípcias), o sistema de escritos dos gregos, o alfabeto latino, os 
primeiros escritos fi losófi cos dos pré-socráticos, o desenvolvimentoda dramaturgia 
e da poesia, as narrações de histórias literárias, o surgimento da imprensa e as 
invenções de Gutemberg, as várias manifestações artísticas e, recentemente, todo 
o aparato tecnológico virtual de imagens, símbolos, ícones e demais códigos que 
permeiam a vida humana contemporânea. Tudo isso nos mostra que o homem vive 
se expressando de várias maneiras e, por consequência, criando signos diversos.
Esse sistema de signos permite que tenhamos uma compreensão melhor 
da vida que nos cerca. Isso, se soubermos decodifi cá-los, como, por exemplo, 
aprendermos que aplausos, risadas e sorrisos mostram que o público está de 
acordo e gostando de um espetáculo, ao passo que uma vaia quer mostrar o 
desagrado de um grupo de ouvintes diante de um discurso político. Mediante 
aprendizagem a priori, ao vermos um grande sinal de fumaça distante, 
consideramos que, provavelmente, algo estará pegando fogo (casa, mato, carro, 
etc.). Você percebe o quanto a nossa vida é cheia de signos como esse? 
Diante disso, cabe-nos aprender um pouco sobre esse universo regido 
pelos signos. Começaremos nossa jornada com o estudo dos fi lósofos acerca do 
tema, ao longo dos milênios. Depois, veremos alguns conceitos de Semiótica e 
Semiologia por diferentes autores e, fi nalmente, abordaremos as três principais 
vertentes do estudo semiótico a partir do século XIX. Neste capítulo, de maneira 
especial, aprofundaremos as teorias de Charles Sanders Peirce. Concentre-se, 
pois será um capítulo bem teórico!
Origens do Estudo dos Signos
As investigações acerca da doutrina dos signos coincidem com a própria 
história da fi losofi a. Obviamente que não era uma abordagem como a dos últimos 
séculos. Platão e Aristóteles, dois fi lósofos gregos antigos, já falavam sobre esse 
12
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
assunto. Platão (427-347 a.C.), no diálogo chamado Crátilo, sobre a 
justeza dos nomes, pesquisou a relação entre o nome, as ideias e as 
coisas. Investigou se a relação entre o nome, as ideias e as coisas 
acontecem de forma natural ou se é uma construção social e chegou 
a algumas conclusões:
• Os signos verbais e naturais são apenas representações 
incompletas da verdadeira natureza das coisas (segundo Platão, a 
verdadeira natureza das coisas não está no mundo empírico).
• A pesquisa das palavras nada desvenda acerca da verdadeira 
natureza das coisas. Isso porque o “lugar” das ideias não depende 
das representações na forma de palavras.
• Cognições elaboradas por meio de signos são apreensões 
indiretas e, portanto, inferiores às cognições diretas.
Na concepção de Platão, as palavras seriam um intermediário e, 
consequentemente, inferiores ao conhecimento direto com as coisas 
às quais se referem. Assim, o conhecimento direto, sem o recurso de 
signos, coloca-nos mais próximos da “verdade”. 
Aristóteles (384-322 a.C.), por sua vez, investigou a teoria dos 
signos nos campos da retórica e da lógica. Traçou uma distinção 
entre signo certo – tekmérion – e signo incerto – semeîon – com o 
objetivo de mostrar que o signo pode ser uma proposição bem certa, 
ou necessária, ou também pode corresponder a uma opinião. 
Outros fi lósofos também se acercaram deste tema, tais como: os estóicos 
(Ca. 300 a.C. a 200 d.C.), os epicuristas (Ca. 300 d.C.), Santo Agostinho (354-430 
d.C.), Tomás de Aquino (1225-1274) e John Locke (1632-1704).
Não nos aprofundaremos nas investigações sobre a teoria dos signos desses 
fi lósofos, pois levaríamos demasiado tempo e esforço e por também se tratarem 
de teorias difíceis e específi cas. O que é importante ressaltar é que a Semiótica, 
tal como entendemos e estudamos atualmente, teve seu início com os fi lósofos 
John Locke (1632-1704) que, em 1690, no texto Ensaio acerca do entendimento 
humano, postulou a “doutrina dos signos”, cujo nome era Semeiotiké, e Johann 
H. Lambert (1728-1777), que escreveu, em 1764, um tratado intitulado Semiotik. 
Para Locke, os signos são grandes instrumentos de conhecimento, divididos 
em duas classes, a saber: as ideias e as palavras. As ideias são signos que estão 
na mente do espectador (ou contemplador), e as palavras são signos das ideias 
As investigações 
acerca da doutrina 
dos signos 
coincidem com a 
própria história da 
fi losofi a.
Na concepção 
de Platão, as 
palavras seriam 
um intermediário e, 
consequentemente, 
inferiores ao 
conhecimento 
direto com as 
coisas às quais se 
referem.
Aristóteles (384-322 
a.C.), por sua vez, 
investigou a teoria 
dos signos nos 
campos da retórica 
e da lógica.
13
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
da mente do emissor. As palavras, em todo caso, nada representam, 
a não ser as ideias da pessoa que as usa. Esses conceitos foram 
fortemente combatidos por pesquisadores do assunto, pois Locke não 
admite que as palavras também sejam signos das ideias na mente 
do contemplador (e, portanto, das outras pessoas, além do emissor), 
pessoas com as quais nos comunicamos. Apesar disso, as ideias de 
Locke foram importantes para o desenvolvimento da teoria dos signos.
O fi lósofo Alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831) foi, entre os 
fi ósofos do século XIX, o que se destacou no estudo dos signos. 
Estabeleceu as fronteiras semióticas ao introduzir diferenças entre 
signos e símbolos. Outros fi lósofos dessa época se destacaram na 
investigação sobre esse tema: J. G. Fichte (1762-1814), Wilhelm von 
Humboldt (1767-1835), Bernard Bolzano (1781-1848) e Lady V. Welby 
(1837-1912). 
A Semiótica, tal como a teoria dos signos, desenvolveu-se através 
dos milênios até chegar ao ponto de se tornar uma disciplina ou ramo 
do conhecimento (ou mesmo ciência) estudada, principalmente, em 
áreas da Linguística e em áreas ligadas às artes. Ao ler Santaella 
(2005, p. 15), encontramos:
A semiótica, a mais jovem ciência a despontar no horizonte das 
chamadas ciências humanas, teve um peculiar nascimento, 
assim como apresenta, na atual fase do seu desenvolvimento 
histórico, uma aparência não menos singular. A primeira 
peculiaridade reside no fato de ter tido, na realidade, três 
origens ou sementes lançadas quase simultaneamente 
no tempo, mas distintas no espaço e na paternidade: uma 
nos EUA, outra na União Soviética e a terceira na Europa 
Ocidental.
Dessa forma, temos três momentos do surgimento da Semiótica:
• EUA: Semiótica Peirceana, cujo precursor é Charles Sanders Peirce (1839-
1914);
• UNIÃO SOVIÉTICA: geralmente chamada de Semiótica Soviética, Russa ou 
da Europa Oriental;
• EUROPA OCIDENTAL: Semiótica Saussureana. Nesta, também estão 
vinculadas a Semiótica Visual e a Greimasiana ou Discursiva.
A Semiótica, tal 
como entendemos 
e estudamos 
atualmente, teve 
seu início com 
os fi lósofos John 
Locke (1632-
1704) que, em 
1690, no texto 
Ensaio acerca 
do entendimento 
humano, postulou 
a “doutrina dos 
signos”, cujo nome 
era Semeiotiké, e 
Johann H. Lambert 
(1728-1777), que 
escreveu, em 
1764, um tratado 
intitulado Semiotik.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
SemiÓtica e Semiologia: Conceitos e 
PolÊmicas
Caro estudante, vimos que alguns pensadores refl etiram sobre a questão 
dos signos de diferentes maneiras. Vimos, também, que a Semiótica tornou-se, 
recentemente, uma nova disciplina do conhecimento humano. Mas, afi nal, o que, 
de fato, é Semiótica?
Podemos iniciar dizendo que a palavra semiótica vem do grego 
sēmeiōtikos que, etimologicamente, quer dizer “a ótica dos sinais”. Em 
linhas gerais, falamos que é a ciência dos signos, embora saibamos 
a implicância que há em classifi car um conhecimento como sendo 
ciência ou não. Contudo, são várias e diferentes as concepções dos 
estudiosos do assunto acerca desse termo. 
O primeiro ao qual recorremos, com o objetivo de pensar sobre 
este assunto, é Winfried Nöth, segundo o qual
A semiótica como teoria geral dos signos teve várias 
denominações no decorrer da história da fi losofi a. A etimologia 
do termo nos remete ao grego semeîon, que signifi ca ‘signo’, 
e sêmea, que pode sertraduzido por ‘sinal’ ou também ‘signo’. 
(NÖTH, 1995, p. 21).
Apesar de Nöth (1995) falar da origem etimológica da palavra e o 
que ela signifi ca, ainda assim temos dúvida quanto a sua elaboração 
conceitual. No Brasil, uma grande estudiosa desse assunto é Lúcia 
Santaella, para quem 
A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação 
todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo 
o exame dos modos de constituição de todo e qualquer 
fenômeno como fenômeno de produção de signifi cação e de 
sentido. (SANTAELLA, 2005, p. 13).
Com a defi nição de Santaella (2005), cremos que fi cou mais claro o que 
se entende por Semiótica. A professora Sandra Regina Ramalho e Oliveira, 
da Universidade Estadual de Santa Catarina, em seu livro Imagem também se 
lê, afi rma que os estudiosos defi nem o termo conforme sua visão e de acordo 
com o seu campo de atuação específi co (artes visuais, linguística, design, etc.). 
(OLIVEIRA, 2009). Apesar de algumas dessas defi nições serem complexas, 
podemos iniciar com concepções sucintas. A autora nos mostra algumas dessas 
concepções: 
A palavra 
semiótica 
vem do grego 
sēmeiōtikos que, 
etimologicamente, 
quer dizer “a ótica 
dos sinais”.
Os estudiosos 
defi nem o termo 
conforme sua 
visão e de acordo 
com o seu campo 
de atuação 
específi co (artes 
visuais, linguística, 
design, etc.).
15
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
Semiótica é a ciência geral dos signos; também pode ser 
considerada a ciência da signifi cação, ou a ciência que estuda 
as linguagens [...]. Pode ser ainda defi nida como a ‘ciência 
geral de todos os sistemas de signos por meio dos quais se 
estabelece a comunicação entre os homens’, usando-se as 
palavras de J. T. Coelho Netto; ou conforme Odin, inspirado 
em Greimas: ‘teoria geral dos sistemas de comunicação, 
capaz de possibilitar o estudo do conjunto dos processos de 
produção de sentidos, seja intervindo nas linguagens verbais, 
não verbais ou no mundo natural’. (OLIVEIRA, 2009, p. 38).
Apesar de parecidas, vemos que são defi nições que possuem 
diferentes ramifi cações e, por ser um campo de estudo recente como 
disciplina sistematizada, não há um consenso a respeito da defi nição. 
Outra discussão que encontramos entre os estudiosos do 
assunto é se a Semiótica é um conhecimento científi co ou não. Dela 
não conseguimos teorias que possam ser aplicadas em pesquisas 
das ditas ciências especiais ou especializadas, como a Química, a 
Biologia e a Física, pois não possui um objeto de estudo delimitado e 
defi nido. Esse objeto de estudo, segundo a autora, “poder-se-ia dizer 
as linguagens; mas como delimitar linguagens, quando hoje se fala da 
Ecossemiótica, da Sociossemiótica, da Biossemiótica e da Semiótica 
da cultura?” (OLIVERIA, 2009, p. 40). Logo, sendo diferentes objetos 
de estudos, há, então, por conta disso, uma exigência correspondente 
de múltiplos instrumentos de investigação para dar conta desses 
estudos. Tampouco podemos dizer que seja uma ciência especial. Em 
síntese, há os que acreditam que a semiótica seja uma ciência e deva 
ser tratada como tal e há aqueles que asseguram que “os fundamentos 
semióticos estarão associados a bases teóricas das ciências da vida, 
ou das ciências sociais, ou da física, da fi losofi a, ou de uma ou mais 
subdivisões de algumas dessas ciências [...]” (OLIVERIA, 2009, p. 40).
Polêmicas à parte acerca de ser um conhecimento científi co ou não, também 
cabe, aqui, mostrar que há uma discussão em torno das terminologias Semiótica 
e Semiologia. São palavras que querem dizer a mesma coisa ou se referem a 
coisas distintas? Podemos usar ambas as palavras para falar do mesmo ramo do 
conhecimento? Investiguemos a questão.
Nöth (1995, p. 23) nos mostra que
Alguns semioticistas [...] começaram a elaborar distinções 
conceituais entre semiologia e semiótica: semiótica, 
designando uma ciência mais geral dos signos, incluindo os 
signos animais e da natureza, enquanto semiologia passou a 
referir-se unicamente à teoria dos signos humanos, culturais e, 
especialmente, textuais. 
Há os que 
acreditam que a 
semiótica seja uma 
ciência e deva ser 
tratada como tal 
e há aqueles que 
asseguram que 
“os fundamentos 
semióticos estarão 
associados a 
bases teóricas das 
ciências da vida, 
ou das ciências 
sociais, ou da 
física, da fi losofi a, 
ou de uma ou mais 
subdivisões de 
algumas dessas 
ciências [...]” 
(OLIVERIA, 2009, 
p. 40).
16
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Esta é, caro estudante, apenas uma das diferenças entre os termos. No 
mesmo texto, Nöth (1995) escreve que a palavra Semiótica, postulada por Locke, 
em 1690, era, geralmente, o termo preferido dos teóricos ligados à tradição da 
teoria dos signos de Charles Sanders Peirce, enquando que o termo usado pelos 
estudiosos ligados às teorias de Ferdinand de Saussure era Semiologia. 
Muitos textos foram escritos para dar conta dessa diferenciação. 
Porém, em 1969, a Associação Internacional de Semiótica passou a 
adotar os termos Semiótica e Semiologia como sinônimos. O termo 
ofi cial passou a ser Semiótica e abarcaria os conhecimentos tanto da 
Semiologia quanto da Semiótica. O autor dessa proposta foi Roman 
Jakobson. 
• Importante: Na medicina, desde a Antiguidade, há uma disciplina 
chamada Semiologia, dedicada ao estudo da interpretação dos sinais 
(ou diagnóstico dos signos das doenças). Esses estudos começaram 
com o médico grego Galeno (139-199), de Pérgamo. 
Essa disciplina da medicina é diferente da nossa proposta de 
estudo. Portanto, por ser o termo ofi cial e para não confundir com a área 
médica, utilizaremos apenas o termo Semiótica (exceto quando for citação 
de algum autor). 
A seguir, apresentamos dois sites que você pode acessar e 
aprofundar os seus conhecimentos de Semiótica.
Uma fonte recomendável e confi ável para ler artigos científi cos 
sobre Semiótica é a revista Galáxia, que é uma publicação do 
Programa de Estudos de Pós-Graduação em Comunicação e 
Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-
SP). Eis o site da revista: 
http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/index
Acompanhe o grupo de estudos de Semiótica da Universidade 
de São Paulo (USP), acessando o site: <http://www.ffl ch.usp.br/dl/
semiotica/public/public.html>. Nele, você encontra vários artigos 
sobre o tema.
Em 1969, a 
Associação 
Internacional de 
Semiótica passou 
a adotar os 
termos Semiótica 
e Semiologia 
como sinônimos. 
O termo ofi cial 
passou a ser 
Semiótica e 
abarcaria os 
conhecimentos 
tanto da 
Semiologia 
quanto da 
Semiótica.
17
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
Munidos desses conhecimentos históricos e conceituais, passemos ao estudo 
da teoria dos signos em cada uma das três vertentes fundantes da Semiótica.
Atividade de Estudos: 
1) Com o objetivo de fi xar o conteúdo até aqui exposto, responda, 
em linhas gerais, o que você entende por Semiótica e qual a 
diferença entre Semiótica e Semiologia.
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Os Estudos de CHarles Sanders 
Peirce
Sendo fi lho de um importante matemático de Harvard, Peirce cresceu num 
ambiente de acentuada proliferação intelectual. Sua grande paixão eraa ciência, 
mas também dedicava-se aos estudos de literatura, de linguística, de história, de 
fi lologia, de psicologia, entre outros ramos do saber humano. Fez importantes e 
originais contribuições na Matemática, na Química, na Física e na Filosofi a. Ao 
dedicar-se intensivamente à lógica das ciências, Peirce lutou pela consideração 
de tornar a lógica uma ciência. Em meio a esses estudos foi que postulou a teoria 
dos signos. Escutemos as palavras de Santaella (2005, p. 20):
18
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Desde o começo do despertar do seu interesse pela lógica, 
Peirce a concebeu como nascendo, na sua completude, 
dentro do campo de uma teoria geral dos signos ou Semiótica. 
Primeiramente, ele concebeu a lógica propriamente dita 
(aquilo que conhecemos como Lógica) como sendo um ramo 
da Semiótica. Mais tarde ele adotou uma concepção muito 
mais ampla da Lógica que era quase coextensiva a uma teoria 
geral de todos os tipos possíveis de signos. Na última década 
de sua vida, estava trabalhando num livro que se chamaria 
Um sistema de Lógica, considerada como Semiótica.
Tendo interesse por lógica e, consequentemente por Semiótica, Peirce 
elaborou, desde tenra idade, uma vasta teoria dos signos. Partindo dos estudos 
fenomenológicos, fundamentou conceitualmente toda a sua fi losofi a com o objetivo 
de “dar conta do ‘trabalho inteiro da razão humana’.” (SANTAELLA, 2005, p. 30). 
Não aprofundaremos as bases fi losófi cas sobre fenomenologia, 
porém cremos que seja importante uma defi nição do termo. Um 
conceito que consideramos importante é exposto pelo fi lósofo 
Maurice Merleau-Ponty: 
A fenomenologia é o estudo das essências [...]. É a ambição de uma fi losofi a 
que seja uma ‘ciência exata’, mas é também um relato do espaço, do tempo, do 
mundo ‘vividos’. É a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal 
como ela é [...] (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 1). 
Em seus escritos sobre a doutrina dos signos, ou Semiótica, Peirce 
queria confi gurar conceitos acerca dos signos tão gerais que pudessem 
servir de base para todas as ciências aplicadas. Desse modo, teria por 
função descrever e classifi car os diversos tipos de signos. Para isso, 
Peirce criou três categorias que constituem a base de suas teorias. 
Essas três categorias enquadrariam todos os fenômenos da natureza 
e da cultura. São elas: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade. 
Resumidamente, essa tricomia pode ser assim delineada:
• Primeiridade: capacidade humana de contemplar, a visão 
espontânea, o simples ato de ver os fenômenos. Algo que não é 
analisável, impressão imediata, livre, original e que precede toda 
síntese e diferenciação.
Em seus escritos 
sobre a doutrina 
dos signos, ou 
Semiótica, Peirce 
queria confi gurar 
conceitos acerca 
dos signos 
tão gerais que 
pudessem servir 
de base para 
todas as ciências 
aplicadas.
19
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
• Secundidade: reação humana aos fatos concretos, capacidade de 
distinguir, de aceitar ou rejeitar as diversas experiências. Estar em 
relação a algo ou a alguém. Compreensão do mundo.
• Terceiridade: capacidade de classifi car as experiências em 
categorias. É nesse nível que ocorrem a mediação e o crescimento. 
Inteligibilidade e interpretação do mundo.
Você consegue perceber onde se encaixa essa teoria de Peirce? 
Pois bem, primeiro, vimos que a Semiótica foi tratada por diferentes 
fi lósofos ao longo de dois milênios e meio; depois, que ela está 
atrelada à ciência (questão polêmica) e à fi losofi a. Peirce elaborou a 
trilogia fundamental de sua teoria (que pudesse dar conta de todos os 
fenômenos da natureza e da cultura), a saber: primeiridade, secundidade 
e terceiridade. A sua investigação sobre Semiótica (doutrina dos signos) 
possibilita o estudo dos signos nos diversos campos de linguagens: 
artes visuais, teatro, cinema, fotografi a, música, dança, literatura, etc. 
Resumidamente, essa teoria está exposta no esquema a seguir.
Figura 1 – Organograma da Teoria de Peirce
Fonte: O autor.
Na tentativa de instaurar uma teoria de signos, com conceitos tão gerais que 
pudessem servir de base para toda ciência aplicada, Peirce elaborou uma vasta 
constelação de conceitos e os classifi cou em múltiplos de 3 (três).
Peirce elaborou 
a trilogia 
fundamental de 
sua teoria (que 
pudesse dar 
conta de todos 
os fenômenos 
da natureza e da 
cultura), a saber: 
primeiridade, 
secundidade e 
terceiridade.
20
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
As primeiras três categorias já vimos. Foi nesses pilares que Peirce 
fundamentou a sua teoria. Outro conhecimento importante é o que ele entende 
por signo, objeto e interpretante. 
• Signo: é uma coisa que representa ou substitui outra coisa: seu objeto. Sendo 
assim, o signo não é objeto, mas toma o lugar do objeto. Assim, representa e 
está no lugar desse objeto de certo modo e numa determinada capacidade. É 
aquilo que substitui alguma coisa. O desenho de um maçã, por exemplo, não 
é a maçã em si, mas algo que representa a maçã. Logo, o desenho a substitui; 
de um certo modo, dá-nos a ideia da maçã, mas o desenho não é a maçã.
Figura 2 - Exemplo de signo (representação/desenho de uma maçã)
Fonte: Disponível em: <http://engravedguitarparts.blogspot.com/2010/07/
desenho-lapis-maca.html>. Acesso em: 15 jul. 2011.
• Objeto: Corresponde ao referente, ou seja, à coisa. O objeto pode ser uma 
coisa material do mundo ou uma entidade meramente mental ou imaginária. 
Nöth (1995, p. 67) aponta para uma terceira possibilidade do “ser” do objeto: 
“algo que é ‘inimaginável num certo sentido’”. Peirce reconhece dois tipos de 
objetos: o objeto imediato e o objeto mediato (também chamado de real ou 
dinâmico). 
• Interpretante: é a signifi cação ou efeito do signo. É algo que se cria (criado) 
na mente interpretadora e, portanto, “não se refere ao intérprete do signo, mas 
a um processo relacional que se cria na mente do intérprete.” (SANTAELLA, 
2005, p. 58). Peirce reconhece três classes de interpretantes: o interpretante 
imediato, o interpretante dinâmico e o interpretante fi nal. 
Grafi camente, grosso modo, essa trilogia pode ser assim representada:
21
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
 Figura 3 - Tríade semiótica de Peirce
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Peirce (2010).
Nas palavras de Peirce,
Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto 
ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto 
é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez 
um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino 
interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma 
coisa, seu objeto. Representa este objeto não em todos os seus 
aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por 
vezes, denominei fundamento do representâmen. ‘Ideia’ deve 
aqui ser entendida num certo sentido platônico, muito comum 
no falar cotidiano; refi ro-me àquele sentido em que dizemos que 
um homem pegou a ideia de um outro homem; em que, quando 
um homem relembra o que estava pensando anteriormente, 
relembra a mesma ideia, e em que, quando um homem continua 
a pensar alguma coisa, digamos por um décimo de segundo, 
na medida em que o pensamento continua conforme consigo 
mesmo durante esse tempo, isto é, a ter um conteúdo similar, 
é a mesma ideia e não, em cada instante desse intervalo, uma 
nova ideia. (PEIRCE, 2010, p. 46. grifos do autor).
Atividade de Estudos: 
1) Apresente, em linhas gerais, as diferenças entre signo, objeto e 
interpretante.
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Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Segundo Peirce (2010), em virtude de o signo estar ligado ao fundamento, 
ao objeto e ao interpretante, a Semiótica está, então, dividida em três ramos: 
grámatica especulativa, lógica propriamente dita e retórica pura. 
• Gramática especulativa: ramo também chamado de gramática pura. Tem 
por tarefa determinar o que deve ser verdadeiro quanto ao signo usado pelo 
cientifi cismo com o objetivo de incorporar um signifi cado qualquer. 
• Lógica propriamente dita: ramo também chamado de lógica crítica. Investiga 
os tipos de argumentos, inferências e raciocínios, a saber: deducão, indução e 
abdução.
• Retórica pura: ramo também chamado de retórica especulativa ou 
metodêutica. “Seu objetivo é determinar as leis pelas quais, em toda 
inteligência científi ca, um signo dá origem a outro signo e, especialmente, um 
pensamento acarreta outro.” (PEIRCE, 2010, p. 46).
Estando ciente dos fundamentos fi losófi cos da Semiótica, da inter-relação 
signo-objeto-interpretante e dos ramos da lógica, estudaremos outra importante 
tricotomia elaborada por Peirce: as noções de ícone, índice e símbolo.
• Ícone: quando a relação do signo com o objeto é de semelhança. Exemplos: 
pinturas, desenhos, caricaturas, imagens do cinema, mapas e estátuas.
Figura 4 - Exemplo de ícone (pintura de um gato)
Fonte: O autor.
23
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
• Índice: quando a relação do signo com o objeto é direta. Exemplos: espirro 
(índice de resfriado), fumaça (índice de fogo) e impressão digital.
Figura 5 - Exemplo de índice de fogo (fumaça)
Fonte: Disponível em: <http://noticias.r7.com/cidades/noticias/
aviao-da-esquadrilha-da-fumaca-cai-durante-apresentacao-
em-sc-20100402.html> Acesso em: 5 jun. 2011.
• Símbolo: quando a relação do signo com o objeto é convencional, isto é, 
imposta pela sociedade. Exemplos: H20 é símbolo da água, o buquê de fl ores 
é símbolo de afeto ou admiração. Da mesma forma, o número 8, o nome 
Paulo e a bandeira nacional são bímbolos.
Figura 6 - Exemplo de símbolo (símbolos religiosos)
Fonte: Disponível em: <http://3ipbcg.org.br/site/?p=2033>.Acesso em: 5 jun. 2011.
24
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Há, entrementes, caro estudante, alguns signos que possuem 
classifi cação dupla ou tripla. O traje de luto, por exemplo, é índice, pois 
morreu um ente querido da pessoa, e é símbolo, pois quem usa mostra 
o pesar pela morte de alguém. 
Peirce não apenas elaborou as teorias que vimos até aqui. Ele 
fez uma constelação dos tipos possíveis de signos (sempre triádicas, 
ou seja, numa combinação de três a três). Não nos aprofundaremos 
nesse assunto. Uma dessas classifi cações importantes (ícone, 
índice e símbolo) já estudamos. Agora, à guisa de conhecimento, 
apresentamos as três tricotomias do signo:
• Segundo a natureza material do signo: quali-signo, sin-signo e legi-signo.
• Relação do signo com seu objeto: ícone, índice e símbolo.
• Relação do signo com seu interpretante: rema, discente e argumento.
Os signos podem ser apresentados da seguinte maneira:
Signo Objeto Interpretante
Primeiridade Quali-signo Ícone Rema
Secundidade Sin-signo Índice Discente
Terceiridade Legi-signo Símbolo Argumento
Quando combinados, formam uma classe de 10 classes de signos, material 
deveras extenso e complexo, sobre o qual não nos ateremos por momento.
Se você quiser se aprofundar nos estudos de Peirce sobre 
Semiótica, um bom livro é: PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. 
São Paulo: Perspectiva, 2010. Mas se você não dispõe de muito 
tempo para estudar, recomendamos a leitura do livro de Lúcia 
Santaela: SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: 
Brasiliense, 2005. (Coleção primeiros passos). Nesse pequeno 
grande livro, você encontra um resumo e uma introdução singular 
à leitura de Semiótica, especialmente a de Peirce.
Peirce não apenas 
elaborou as teorias 
que vimos até 
aqui. Ele fez uma 
constelação dos 
tipos possíveis de 
signos (sempre 
triádicas, ou seja, 
numa combinação 
de três a três).
25
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
Atividade de Estudos: 
1) Após este estudo teórico acerca da teoria Semiótica de Peirce, 
estabeleça diferenças entre ícone, índice e símbolo.
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A SemiÓtica na União SoViÉtica
Chamada de Semiótica Soviética, Russa ou da Europa 
Oriental. Atualmente também chamada de Semiótica da Cultura. 
Na segunda metade do século XIX, não havia uma disciplina ou 
teoria específi ca para estudar os signos. Já havia, porém, uma 
consciência Semiótica entre alguns pensadores. Os primeiros, de 
acordo com Santaella (2005), foram dois grandes fi lósofos: A. N. 
Viesse-lovski e A. A. Potiebniá. 
Diz-nos Santaella (2005, p. 73-4, grifo da autora):
Começando pelos fi lósofos citados (Potiebniá e Viesse-lovski) 
em cujas obras podem ser encontradas, já no século XIX, 
algumas raízes das descobertas do estruturalismo linguístico 
no século XX, chegamos ao lingüista N. I. Marr, que, no 
começo deste nosso século, vinha desenvolvendo, segundo 
nos informa B. Scheneiderman, ‘uma teoria estadial que ligava 
intimamente a fase de desenvolvimento da língua com os 
estádios de desenvolvimento da sociedade’.
Essa consciência semiótica, iniciada por esses dois autores, perdurou até 
Stalin assumir o governo. O grupo que estudava esse assunto fi cou conhecido 
como Círculo Línguístico de Moscou. Oliveira (2009, p. 41) afi rma que 
Chamada de 
Semiótica 
Soviética, Russa ou 
da Europa Oriental. 
Atualmente 
também chamada 
de Semiótica da 
Cultura.
26
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
O Círculo Linguístico de Moscou inspirou a criação do 
Círculo Linguístico de Praga entre as décadas de 1920 e 
1940. Em ambos, havia a predominância de estudos acerca 
da linguagem verbal, com ênfase na análise sintática, 
especilamente da poesia. Entretanto, já havia prenúncio da 
possibilidade de estender os princípios da estruturação da 
linguagem verbal para o estudo de outros códigos estéticos, 
como a pintura, o teatro, o cinema e a arte popular.
Você percebe, caro estudante, que os estudos semióticos soviéticos 
também adentraram as artes visuais, foco do nosso interesse? Pois bem, um dos 
pensadores que se ocupou dessas pesquisas foi Roman Jakobson que, grosso 
modo, falava de um “trânsito entre sistemas distintos, a partir de um modelo 
comum, até então utilizado nos estudos das línguas naturais.” (OLIVEIRA, 2009, 
p. 41). 
Somente em 1950, foi fundado, em Moscou, o Instituto de 
Semiótica da URSS. Antes, o grupo de estudos fi cou impossibilitado 
de se reunir, pois o governo de Stalin desconfi ava de cada grupo que 
se reunia. A partir de 1970, a entidade passou a fi car mais conhecida 
como o grupo que estuda a Semiótica da Cultura, pois tinha como 
objetivo “investigar os sistemas de signos sempre levando em conta 
seu respectivo contexto cultural.” (OLIVEIRA, 2009, p. 42).
A Semiótica da cultura está, atualmente, presente em 
vários países. Se você quiser se aprofundar nos estudos da 
Semiótica Soviética, leia o livro Semiótica russa, cuja referência 
é: SCHNEIDERMANN, B. Semiótica russa. São Paulo: 
Perspectiva, 1981.
A Concepção de Ferdinand de 
Saussure
Outro pesquisador importante para os estudos semióticos é Ferdinand de 
Saussure. De nacionalidade suíça e mais dedicado aos estudos da linguagem 
verbal, esse pesquisador fez grandes contribuiçõesà teoria dos signos. De uma 
maneira geral, você verá que a abordagem de Saussure é bem diferente da 
abordagem de Peirce.
Somente em 
1950, foi fundado, 
em Moscou, 
o Instituto de 
Semiótica da 
URSS. 
27
SISTEMA DE SIGNOSCapítulo 1
Dão-se vários nomes para as semióticas derivadas a partir deste 
autor. Por ser iniciada por Saussure, é conhecida como Semiótica 
Saussureana. Para diferenciá-la da Europa Oriental (Semiótica 
Soviética), é chamada de Semiótica Ocidental; por ter vários estudiosos 
franceses, é dita Semiótica Francesa; também é conhecida como 
Semiótica Visual (por ter estudos “visuais” avançados na École 
de Paris). Um dos seguidores dessa linha de pesquisa é Algirdas 
J. Greimas, razão pela qual é chamada, também, de Semiótica 
Greimasiana ou Discursiva.
Saussure tem suas bases teóricas na linguagem. Mesmo tendo 
estudado física e química nos primeiros anos de sua vida acadêmica, 
percebeu que seu caminho era outro. Assim, passou a dedicar-se ao 
estudo da linguagem e criou a Linguística. 
Além de dedicar-se ao estudo de sinais, Saussure tinha a 
Linguística como a “matriz do comportamento e do pensamento dos 
seres humanos, uma vez que considerava a linguagem a formatação 
de atos, vontades, sentimentos, emoções e projetos [...]” (OLIVEIRA, 
2009, p. 45). Em outras palavras, para Saussure, a linguagem é um dos 
fundamentos principais das sociedades humanas.
Inicialmente chamada de Semiologia – estudo de todos os 
sistemas de signos – a Semiótica Saussureana se baseia em dois 
conceitos fundamentais: signifi cante e signifi cado. Esta teoria teve 
vários seguidores que difundiram as ideias do criador, os quais também 
fazeram algumas modifi cações, conforme seu interesse e ramo de 
atividade.
Caro estudante, como o próximo capítulo tratará de linguagem 
verbal e não-verbal, será nele que centraremos os estudos da 
Semiótica de Saussure, bem como o aprofundamento dos conceitos de 
signifi cante e signifi cado. Aqui, o objetivo era aprofundar os conceitos 
de Peirce e mostrar, em linhas gerais, as outras duas correntes 
semióticas apontadas no início do capítulo.
Algumas ConsideraçÕes
Este capítulo, como havíamos mencionado no início, foi deveras teórico. Em 
se tratando de um curso de arte e educação, talvez você tenha sentido falta de 
mais imagens. Contudo, nos outros capítulos, esse recurso será mais utilizado. 
Para Saussure, a 
linguagem é um 
dos fundamentos 
principais das 
sociedades 
humanas.
Inicialmente 
chamada de 
Semiologia – 
estudo de todos 
os sistemas 
de signos – a 
Semiótica 
Saussureana 
se baseia em 
dois conceitos 
fundamentais: 
signifi cante e 
signifi cado.
Por ser iniciada 
por Saussure, 
é conhecida 
como Semiótica 
Saussureana.
28
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Resumidamente, vimos as origens fi losófi cas da teoria dos signos, os 
conceitos de Semiótica e Semiologica, bem como as polêmicas que giraram em 
torno de ambos os termos. Adentramos as teorias do fi lósofo Charles Sanders 
Peirce e investigamos as três categorias que enquadram todos os fenômenos da 
natureza e da cultura, a saber: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade. 
Estudamos, também, a inter-relação signo-objeto-interpretante. Finalmente, 
fi camos sabendo que Peirce fez uma constelação de tipos possíveis de signos 
(sempre triádicas, ou seja, numa combinação de três a três). Além disso, 
sobrevoamos a Semiótica na União Soviética (também chamada de Semiótica 
da Cultura) e, brevemente, iniciamos o estudo da concepção de Ferdinand de 
Saussure.
Dessa forma, demos o ponta-pé inicial na leitura e na produção de sentidos 
em artes visuais. No próximo capítulo, retomaremos as teorias de Saussure e 
investigaremos as linguagens verbal e não-verbal. 
ReferÊncias
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999.
NÖTH, Winfried. Panorama da semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: 
Annablume, 1995.
OLIVEIRA, Sandra Regina Ramalho e. Imagem também se lê. São Paulo: 
Edições Rosari, 2009. (Coleção TextosDesign).
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2010.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2005. (Coleção 
primeiros passos).
CAPÍTULO 2
Linguagem Verbal e Não-Verbal
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Conhecer aspectos da linguagem verbal e da não-verbal.
 Estabelecer relações entre a linguagem verbal e a não-verbal.
30
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
31
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
ConteXtualiZação
O ser humano, quando em convívio com outras pessoas, precisa se 
comunicar. Ele desenvolveu, ao longo da história, uma variedade de formas de 
comunicação, fazendo com que o entendimento entre os indivíduos acontecesse 
de maneira mais fácil e rápida. A linguagem verbal foi uma delas. De fato, nos 
comunicamos por meio da palavra, tanto da falada quanto da escrita. Estamos tão 
envolvidos com esta maneira de nos expressarmos que se torna quase impossível 
imaginar um mundo onde elas não existam. 
Por outro lado, desenvolvemos, também, ao longo dos anos, signos não-
verbais. Em uma placa de trânsito, por exemplo, vemos um tipo de linguagem 
que não utiliza palavras (com exceção de algumas). Você lida, caro estudante, 
com tantos exemplos de comunicação não-verbal em sua vida, que, na maioria 
das vezes, nem se dá conta disso. Passam-nos despercebidos. Você pega o 
videogame e joga com seu irmão. Nesse ato, tão simples para algumas pessoas, 
há a utilização da linguagem não-verbal (claro que se você falar com seu irmão 
ou aparecer alguma palavra na tela do visor, você também estará empregando a 
linguagem verbal). O jogo em si, porém, constitui um tipo de linguagem não-verbal.
No capítulo anterior, vimos que a Semiótica é a ciência que tem por fi nalidade 
a investigação de todas as linguagens possíveis. Estudamos as teorias de Peirce 
e o universo do sistema de signos.
Neste capítulo, investigaremos as teorias de Ferdinand de Saussure, que 
desenvolveu a Linguística entre os séculos XIX e XX e que teve como objeto de 
estudo a linguagem verbal humana. Em contraposição, veremos aspectos da 
linguagem não-verbal tão presente em nossas vidas quanto o universo das palavras.
Entre a Linguagem Verbal e a Não-
Verbal
Você percebe, caro estudante, o quanto a nossa vida é regida pela linguagem? 
É só observar que, para nós nos comunicarmos neste momento, utilizamos a 
linguagem escrita. Quando você assiste à televisão ou participa de uma palestra, 
escuta a palavra falada. Então, podemos dizer que uma das formas de linguagem 
que utilizamos é a que emprega a palavra para que haja comunicação. Mas 
está aí o limite da linguagem? Obviamente que não. Você já deve ter escutado 
a expressão: “entendeu ou quer que eu desenhe?”. Nesse caso, verifi camos que 
o desenho também é uma forma de comunicarmos algo a alguém. O pintor, ao 
pintar uma tela, também objetiva atingir o espectador e passar, com isso, uma 
32
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
determinada mensagem. O músico, com suas composições e arranjos musicais, 
emociona enamorados, intensifi ca o drama no cinema e aquieta um coração 
despedaçado pela perda de um ente querido. Isto só para citar alguns exemplos 
que encontramos no nosso cotidiano. 
Adentremos, então, esse universo da linguagem. Grosso modo, podemos 
dividir a linguagem em dois grandes grupos:
• linguagem verbal e
• linguagem não-verbal.
Aprofundaremos esses conceitos. Antes, porém, cumpre-nos distinguir 
língua de linguagem. Saussure, que será mais estudado no decorrer deste 
capítulo, ocupou-se do estudo da linguagem verbal. Um dos seus seguidores, 
Roland Barthes, no livro Elementos de semiologia, afi rma que “A língua é então, 
praticamente, a linguagem menos a fala.” (BARTHES, 2006, p. 17). Contudo, 
uma não existe sem a outra. Assim, língua e fala coexistem no processo de 
comunicação. Outros elementos, nesteprocesso, são os gestos e as imagens. 
Ao falarmos da língua, estamos nos reportando à linguagem 
verbal. Este é o tipo de linguagem que podemos criar, modifi car, 
transformar e reproduzir, para que possamos nos comunicar 
com os outros seres humanos. No ocidente, utilizamos o alfabeto 
para nos comunicar por meio da escrita. Esse código, criado e 
estabelecido a partir dos gregos, permite uma combinação extensa 
de signos convencionais para a expressão de ideias humanas. São 
exemplos de linguagem verbal: entrevistas, cartas, e-mail, texto 
narrativo, bilhetes, bate-papo na internet e jornal televisionado. 
Comunicamo-nos por meio da palavra escrita e pela fala, mas 
também por outros tipos de codifi cações como, por exemplo, os 
ideogramas: linguagem utilizada pelos povos orientais.
Figura 7 - Exemplo de ideogramas chineses
Fonte: Disponível em:< http://oulunarkkitehtikilta.net/kalenteri/
ideogramas-chineses>. Acesso em: 1º jul. 2011.
Ao falarmos da 
língua, estamos 
nos reportando à 
linguagem verbal. Este 
é o tipo de linguagem 
que podemos criar, 
modifi car, transformar 
e reproduzir, para 
que possamos nos 
comunicar com os 
outros seres humanos.
33
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
Além da linguagem verbal, temos outro tipo que chamamos de linguagem 
não-verbal. Santaella (2005, p. 12) explica que, 
quando dizemos linguagem, queremos nos 
referir a uma gama incrivelmente intrincada de 
formas sociais de comunicação e de signifi cação 
que inclui a linguagem verbal articulada, mas 
absorve também, inclusive a linguagem dos 
surdos-mudos, o sistema codifi cado da moda, da 
culinária e tantos outros. 
Aqui, Santaella (2005) aponta para a linguagem não-verbal. 
Grosso modo, podemos dizer que a linguagem não-verbal é aquela que 
não emprega palavras. Como exemplos, podemos citar: o desenho, as 
placas de trânsito, a pintura, a dança, a escultura e a cor. 
Figura 8 - Exemplo de linguagem não-verbal: vestimenta
Fonte: Disponível em: <http://www.modanapassarela.
com.br/?p=5676>. Acesso em: 1º jul. 2011.
Você já deve ter assistido, em algum programa de televisão, a profi ssionais 
dando dicas de como se vestir ou lido, em alguma revista de moda, a esse 
respeito. Dizem, por exemplo, que usar roupas com listras horizontais faz com que 
a pessoa fi que mais “gorda”, ao passo que vestir roupas com listras no sentido 
vertical faz com que emagreça. Não é (quase) unânime a afi rmação de que usar 
roupa preta deixa a pessoa mais “esbelta”? Pois bem, vemos que a cor comunica 
a imagem de gordura ou magreza na moda. 
Podemos dizer 
que a linguagem 
não-verbal é 
aquela que 
não emprega 
palavras.
34
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 9 - Exemplo de linguagem não-verbal: dança
Fonte: Disponível em: <http://www.dicasdedanca.com.br/wp-content/
uploads/2010/09/dança-do-ventre-véu.jpg>. Acesso em: 1º jul. 2011.
Vemos a linguagem não-verbal em diversos setores do 
conhecimento e de expressões humanas, como a moda e a dança. 
O semáforo também é um exemplo de linguagem não-verbal. Ao 
empregar esse tipo de sinal para a organização do trânsito, o homem 
abre mão da palavra e utiliza outro meio de comunicação, no caso, 
as cores. Assim, aquele que teve um aprendizado sobre este sistema 
de codifi cação saberá que, se o semáforo estiver com a luz acesa no 
vermelho, deverá parar o carro, se estiver verde, deverá avançar e, se 
estiver amarelo, deverá dirigir com atenção. 
Essas observações permitem afi rmar que o ser humano utiliza 
dois tipos de linguagens: a verbal e a não-verbal. Para facilitar o 
aprendizado, veja a fi gura a seguir.
Vemos a 
linguagem 
não-verbal em 
diversos setores 
do conhecimento 
e de expressões 
humanas, como a 
moda 
e a dança.
35
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
Figura 10 - Organograma da ciência da linguagem (verbal x não-verbal)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Compreendem a linguagem verbal: escrita, hieróglifos, pictogramas, fala, 
ideogramas, logogramas e outros. Já, por outro lado, os desenhos, jogos, 
músicas, pinturas, esculturas, danças, movimentos, cenografi as, libras e cores 
são exemplos de linguagem não-verbal.
Claro que não podemos fazer uma distinção tão separatista entre essas 
duas linguagens. Isso porque há determinados signos que empregam as duas ao 
mesmo tempo. Podemos chamar de linguagens mistas. Citamos, como exemplo, 
a placa de trânsito, que emprega imagens e palavras ao mesmo tempo. Outro 
exemplo é a pintura do artista pop Basquiat. 
36
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 11 - Exemplo de linguagem mista: placa de trânsito
Fonte: Disponível em: <http://turmadopedal.groupsite.com/discussion/topic/show/ 298989>.
Acesso em: 1º jul. 2011.
Figura 12 - Exemplo de linguagem mista: pintura
Fonte: Disponível em: <http://slamxhype.com/music/jean-
michel-basquiat/>. Acesso em: 1º jul. 2011.
A LinguÍstica de Saussure
Após investigarmos a distinção entre linguagem verbal e não-verbal, a partir 
de agora, aprofundaremos o estudo acerca do verbal. Um dos estudiosos que 
mais mergulhou no universo deste tipo de linguagem foi Ferdinand de Saussure. 
37
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
Leitura obrigatória para os estudantes e pesquisadores da linguística, sua 
obra mais importante é Curso de lingüística geral, publicação póstuma, em 1916, 
organizado por seus alunos Charles Bally e Albert Sechehaya a partir das aulas 
do mestre. Essa obra traz elaborações teóricas que desenvolveram a linguística 
como ciência e desencadearam, também, o surgimento do estruturalismo. 
Ferdinand de Saussure estudou línguas europeias e publicou, aos vinte e 
um anos de idade, a sua dissertação que tinha como tema o primitivo sistema 
das vogais nas línguas indo-europeias. Após defender a tese sobre o uso do 
caso genitivo em sânscrito, em Berlim, lecionou, em Paris, Sânscrito, Gótico, 
Alto Alemão e também Filologia Indo-Europeia. De volta a Genebra, sua cidade 
natal, lecionou Sânscrito e linguística histórica em geral. Em 1906, começou a 
ensinar aquilo que o consagraria como o pai da linguística: realizou uma série de 
conferências sobre linguística geral, cujo resultado culminou em modifi car a visão 
acerca do que hoje se entende por linguística. 
Sânscrito é a língua na qual se encontram escritos os textos 
de Vedanta. Pertence à grande família de línguas indo-europeias, 
como o grego e o latim, de onde derivou a maior parte das línguas 
ocidentais modernas. Possui uma estrutura bastante elaborada, 
como indica seu próprio nome (sams - bem; krtam - feita) e baseia-se 
num sistema de derivação no qual as palavras são formadas a partir 
de um conjunto de cerca de 2.200 elementos básicos, chamados 
raízes, seguindo regras muito bem estabelecidas. 
FONTE: Disponível em: <http://www.vidyamandir.org.br/
sanscrito.htm> Acesso em: 1º jul. 2011).
Claro, caro estudante, que a linguística evoluiu muito durante os séculos XX e 
XXI. Contudo, muito do que foi construído acerca dessa ciência partiu dos estudos 
de Saussure, que já sabia dos limites de suas pesquisas. Entretanto, ainda hoje, 
os estudiosos do assunto precisam recorrer continuamente aos conceitos e dicas 
do mestre genebrino. 
Linguística, segundo Saussure (2006, p. 7), é “a ciência que 
se constitui em torno dos fatos da língua” e “passou por três fases 
sucessivas antes de reconhecer qual é o seu verdadeiro e único 
objeto”, a saber: Gramática, Filologia e Gramática Comparada. 
Sobre esta visão geral da história da linguística, não nos deteremos. 
Linguística, segundo 
Saussure (2006, p. 
7), é “a ciência que 
se constitui em torno 
dos fatos da língua”.
38
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
O importante é notar que, antes de a linguística se constituir como ciência, cujo 
objeto é a língua, ela passou pelas três fases citadas anteriormente.
Importante: A Linguística é uma das partes da Semiótica ou 
Semiologia. Lida essencialmente com a linguagem verbal.
No início deste capítulo, esboçamos umbreve comentário em torno da língua. 
Sendo um conceito muito importante nos estudos de Saussure, aprofundaremos 
esta investigação. 
RETOMANDO ROLAND BARTHES:
“A língua é então, praticamente, a linguagem menos a Fala: é, 
ao mesmo tempo, uma instituição social e um sistema de valores. 
Como instituição social, ela não é absolutamente um ato, escapa a 
qualquer premeditação; é a parte social da linguagem; o indivíduo não 
pode, sozinho, nem criá-la nem modifi cá-la. Trata-se essencialmente 
de um contrato coletivo ao qual temos de submeter-nos em bloco se 
quisermos comunicar; além disto, este produto social é autônomo, à 
maneira de um jogo com as suas regras, pois só se pode manejá-lo 
depois de uma aprendizagem. Como sistema de valores, a língua é 
constituída por um pequeno número de elementos de que cada um é, 
ao mesmo tempo, um vale-por e o termo de uma função mais ampla 
onde se colocam, diferencialmente, outros valores correlativos; sob 
o ponto de vista da língua, o signo é como uma moeda: esta vale 
por certo bem que permite comprar, mas vale também com relação 
a outras moedas, de valor mais forte ou mais fraco. O aspecto 
institucional e o aspecto sistemático estão evidentemente ligados: 
é porque a língua é um sistema de valores contratuais (em parte 
arbitrários, ou, para ser mais exato, imotivados) que resiste às 
modifi cações do indivíduo sozinho e que, consequentemente, é uma 
instituição social. 
Diante da língua, instituição e sistema, a Fala é essencialmente 
um ato individual de seleção e atualização [...]. O aspecto 
combinatório da Fala é evidentemente capital, pois implica que 
a Fala se constitui pelo retorno de signos idênticos: é porque os 
39
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
signos se repetem de um discurso a outro e num mesmo discurso 
(embora combinados segundo a diversidade infi nita das palavras) 
que cada signo se torna um elemento da Língua; é porque a Fala 
é essencialmente uma combinatória que corresponde a um ato 
individual e não a uma criação pura.
[...] não há língua sem fala e não há fala fora da língua [...]. Só 
podemos manejar uma fala quando a destacamos na língua; mas, 
por outro lado, a língua só é possível a partir da fala: historicamente, 
os fatos de fala precedem sempre os fatos de língua (é a fala que faz 
a língua evoluir), e, geneticamente, a língua constitui-se no indivíduo 
pela aprendizagem da fala que o envolve (não se ensina a gramática 
e o vocabulário, isto é, a língua, de um modo geral, aos bebês). A 
Língua é, em suma, o produto e o instrumento da Fala, ao mesmo 
tempo: trata-se realmente, portanto, de uma verdadeira dialética”. 
Fonte: BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. 
São Paulo: Cultrix, 2006.
Figura 13 - Exemplo de “língua”
Fonte: Disponível em: <http://martabolshaw.blogspot.com/2008/06/o-
incrvel-mundo-da-linguagem.html>. Acesso em: 1º jul. 2011.
 Trouxe estas palavras de Barthes sobre a questão língua-fala, 
pois é de fundamental importância nos estudos de Saussure. Vimos 
que a língua e a fala coexistem e que uma não sobrevive sem a outra. 
A língua se aprende: ninguém consegue aprendê-la sem o auxílio do 
outro. Neste processo de comunicação verbal, torna-se mister, então, a 
investigação acerca do signo em Saussure. 
Vimos que a 
língua e a fala 
coexistem e 
que uma não 
sobrevive sem a 
outra. A língua se 
aprende: ninguém 
consegue 
aprendê-la sem o 
auxílio do outro.
40
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
O signo linguístico não une uma coisa a uma palavra, mas uma coisa à 
imagem acústica. Não é a imagem física do som, mas a impressão psíquica ou 
imagem mental do som. Está confuso? Pois bem, vejamos isso melhor.
Para Saussure, signo é constituído de um signifi cado e de um 
signifi cante. Em outras palavras: o signo é composto por uma imagem 
acústica (signifi cante) e um conceito (signifi cado). “O plano dos 
signifi cantes constitui o plano de expressão [forma] e o dos signifi cados 
o plano de conteúdo.” (BARTHES, 2006, p. 42). 
A imagem a seguir ajudará você a entender melhor estes 
conceitos.
Figura 14 - Signifi cante versus signifi cado
Fonte: Disponível em: <http://ideiabasica.blogspot.com/2010/09/
arbitrariedade-do-signo-dialogo-entre.html>. Acesso em: 1º jul. 2011.
Numa linguagem mais simplifi cada, imagem acústica ou signifi cante é a 
representação mental do som produzido pela fala. Assim, se dissermos “casa”, em 
sua mente, formar-se-á uma imagem fi gurativa que fará com que você entenda o 
que estamos falando. 
Caro estudante, para um melhor aprofundamento na teoria 
linguística de Saussure, recomendamos duas obras: SAUSSURE, 
Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 2006 
e BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. São Paulo: 
Cultrix, 2006. Apear de Saussure ser a referência primeira deste 
ramo do conhecimento, o livro de Barthes possui uma linguagem 
mais fácil e rápida de entender. 
O signo é 
composto por 
uma imagem 
acústica 
(signifi cante) 
e um conceito 
(signifi cado).
41
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
Atividade de Estudos: 
1) Explique, em linhas gerais, o que Saussure entende por signo.
 ____________________________________________________
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 ____________________________________________________
A Linguagem Não-Verbal
Como seres humanos, não nos comunicamos somente por meio de palavras, 
mas também por gestos, expressões faciais, expressões artísticas diversas e toda 
crescente rede de signos não-verbais que continuamente invade nossas vidas. 
A internet, com todo o aparato tecnológico computacional, lança signos a cada 
instante. Não apenas isso: as distâncias estão sendo “encurtadas”, e a globalização 
faz com que as distinções e singularidades fi quem cada vez menos acentuadas. 
Rompem-se os cânones artísticos, e novas formas de “imagens” surgem 
sucessivamente. A pintura, por exemplo, deixou de ser, com o advento da 
fotografi a, a representação do mundo. Após um período de desconstrução 
da imagem, a pintura ultrapassou os limites da tela: surgiram, por exemplo, as 
instalações e a pintura digital. 
Você percebe, caro estudante, a grande variedade de signos não-
verbais com que temos de lidar no dia a dia? Você liga o computador, 
abre uma determinada página da internet e recebe uma avalanche de 
informações: gráfi cos, fotos, desenhos, jogos e imagens, com suas 
mais variadas cores e formas que invadem sua vida, sem, ao menos, 
ter tempo para aceitá-las ou não. 
Corporalmente, sem recorrermos ao emprego de palavras, 
estamos o tempo todo nos comunicando. Estamos compartilhando 
linguagens quando sorrimos, quando levantamos o braço, quando 
levantamos o dedo em sinal de positivo, quando abrimos os braços, 
quando movimentamos os olhos, etc. Note que alguns dos gestos 
que utilizamos no cotidiano têm diferentes significados conforme 
o povo que os utilizam. Um desses exemplos é o “ok” norte-americano 
que, no Brasil, é empregado quando querendo “xingar” alguém. 
Estamos 
compartilhando 
linguagens 
quando sorrimos, 
quando 
levantamos o 
braço, quando 
levantamos o 
dedo em sinal de 
positivo, quando 
abrimos os 
braços, quando 
movimentamos 
os olhos, etc.
42
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 15 - Exemplo de linguagem não-verbal: gesto
Fonte: Disponível em: <http://www.contraovento.com.
br/?attachment_id=3857>. Acesso em: 1º jul. 2011.
 Há livros específi cos sobre o signifi cado psicológico dos gestos humanos. 
O psicólogo francês, que vive no Brasil desde 1948, Pierre Weil, por exemplo, 
escreveu um livro chamado O corpo fala. Dessa forma, tornou-se uma referência 
neste assunto. Em sua obra, analisa gestos, como o cruzar de braços e o 
signifi cado deste na comunicação entre as pessoas. 
Para saber mais sobre a vida e a obra de Pierre Weil, visite o 
site <http://www.pierreweil.pro.br/Brazil.htm>.
Uma das formas mais explícitas que comunicamos com o corpo é quando 
movemos os músculos e pormenores do rosto.As expressões faciais constituem o 
meio mais fácil de criarmos simpatia ou antipatia ao encontrarmos alguém. 
Figura 16 - Exemplo de linguagem não-verbal: expressão facial/sorriso
Fonte: Disponível em: <http://eternamente-princesa.blogspot.
com/2010_04_01_archive.html> Acesso em: 1º jul. 2011.
Também comunicamos quando vestimos uma determinada roupa, com 
uma estampa escolhida por nós, de cor vibrante ou neutra que selecionamos, 
43
LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBALCapítulo 2
ou indicada por um consultor de moda, e acessórios mais discretos ou mais 
marcantes conforme nossa disposição do momento. 
Vemos, então, o quanto a maneira como somos, como agimos e como nos 
vestimos diz algo a nosso respeito às outras pessoas. 
Recentemente, no Brasil, os cursos universitários vêm implantando, em 
suas grades curriculares, especialmente de licenciaturas, a disciplina de Língua 
Brasileira de Sinais (LIBRAS), como forma de melhorar a comunicação entre 
professores e alunos e inserir a comunidade surda no convívio social e escolar de 
forma mais fácil e efi ciente.
Figura 17 - Exemplo de linguagem não-verbal: LIBRAS
Fonte: Disponível em: <http://www.smarcos.net/noticias/282-lingua-
brasileira-de-sinais-libras-na-usm.html>. Acesso em: 1º jul. 2011.
Constantemente, utilizamos a linguagem verbal e a não-verbal em nosso 
dia a dia. O estudo sobre a não-verbal, que brevemente vimos neste capítulo, 
será aprofundado no capítulo seguinte, mais especifi camente no que tange à 
leitura de imagem.
Atividade de Estudos: 
1) Comente, brevemente, o que você entende por linguagem não-
verbal.
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44
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
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Algumas ConsideraçÕes
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de estudar aspectos importantes 
da linguagem verbal e da não-verbal. Por verbal, grosso modo, entendemos as 
linguagens que fazem uso de palavras e, por não-verbal, as que não utilizam 
palavras. 
Aprofundamos nosso conhecimento acerca da linguagem verbal por meio da 
linguística de Ferdinand de Saussure. Alguns conceitos são considerados centrais 
em sua doutrina dos signos, como, por exemplo, o de língua e o de fala. Além 
disso, o signo se constitui de duas partes essenciais: o signifi cante e o signifi cado, 
ou seja, de acordo com Saussure, o signo é composto por uma imagem acústica 
(signifi cante) e um conceito (signifi cado).
Vimos que não nos comunicamos somente por meio de palavras, mas 
também por meio de gestos, de expressões faciais, da maneira como nos 
vestimos e agimos, bem como dos acessórios com os quais nos enfeitamos ou 
carregamos no dia a dia. 
Diante disso, investigamos os universos verbais e não-verbais da linguagem. 
Estes conhecimentos são a base para começarmos a pensar a leitura de imagens 
e a produção de sentidos que as obras suscitam em nós.
ReferÊncias
BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 2006.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2005. (Coleção 
primeiros passos).
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
CAPÍTULO 3
Introdução à Leitura da Imagem
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender a maneira como a imagem comunica e transmite mensagens.
 Fazer uma leitura consciente da imagem artística.
 Refl etir sobre as diferentes possibilidades de leitura de imagem em sala de 
aula. (leitura formal, descritiva, interpretativa e contextualizada).
46
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
47
INTRODUÇÃO À LEITURA DA IMAGEMCapítulo 3
ConteXtualiZação
Por vezes, em exposições de obras de arte contemporânea, vemos fi guras 
disformes, distorcidas, que ofuscam e embaralham nosso olhar. Causam-nos 
incômodos. Como podemos apreciá-las se, ao olhar para elas, a sensação que 
temos é de repulsa e de desagrado? O observador contemporâneo fi ca, quase 
sempre, perdido quando a obra ultrapassa os limites cristalizados pela cultura 
clássica. O que devemos fazer nesse caso? Quando não é a representação 
de cenas tal como a fotografi a o faz, parece que precisamos ler algum texto de 
uma pessoa especializada no assunto, ou mesmo do próprio artista, para poder 
entender a obra, ao menos em parte. 
Quando contemplamos, por outro lado, uma obra de arte clássica 
renascentista, por exemplo, ao visitar o museu do Louvre, na França, fi camos 
extasiados e perplexos, tamanha a efi ciência no manejo das técnicas utilizadas 
pelos grandes mestres. Diante de tais obras, nosso olhar fl ui com naturalidade.
Vimos nascer, no fi nal do século XIX, uma nova forma de fazer arte. O advento 
da fotografi a propiciou aos pintores uma mudança signifi cativa na elaboração das 
obras. Mas como ler tais obras? Como devemos nos comportar diante de uma arte 
que não representa mais o visível? De fato, é preciso uma reeducação do olhar. É 
preciso que aprendamos alguns elementos e técnicas básicas das manifestações 
artísticas, especialmente das modernas e contemporâneas. NesSas, o nosso 
olhar se modifi ca, se estranha, interage, participa. 
É nesta perspectiva que este capítulo começará com a leitura de uma obra de 
arte moderna, do pintor francês Henri Matisse. Depois, passamos pelo exemplo 
de uma pintura brasileira de Cândido Portinari, também pela escultura Monumento 
às Bandeiras, do artista paulista Vitor Brecheret, e, fi nalmente, culminamos com 
uma análise semiótica, realizada, a partir de uma ofi cina de arte contemporânea, 
com alguns alunos pela arte-educadora gaúcha Patriciane Born.
Matisse e o VermelHo Intenso
A professora e especialista em Semiótica Peirceana no Brasil, Lúcia 
Santaella, em seu livro Semiótica aplicada, mostra alguns exemplos de como 
algumas imagens podem ser analisadas a partir da Semiótica de Peirce. Uma 
das obras analisadas, e retomada aqui para exemplifi cação, é Interior vermelho, 
natureza-morta sobre mesa azul, do pintor fauvista Henri Matisse, de 1947. 
48
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 18 - Interior vermelho, natureza-morta sobre mesa azul, 1947, Henri Matisse
Fonte: Disponível em: <http://www.passeiweb.com/saiba_mais/
arte_cultura/galeria/open_art/1155>. Acesso em: 5 jul. 2011.
Em primeiro lugar, já caminhando na direção da teoria de Peirce, Santaella 
(2002, p. 86) pede ao leitor que tenha uma experiência fenomenológica com a 
obra, ou seja, devemos “abrir os olhos do espírito e olhar para a pintura” com 
nenhum juízo de valor ou conceitos previamente formados. 
De acordo com Santaella (2002), são três as fases dessa experiência: 
• Disponibilidade contemplativa: devemos olhar a obra com singeleza e 
candidez, deixando-nos impregnar pelas cores, linhas e formas, deixando os 
nossos sentidos sentirem a obra.
• Observação atenta da comunicabilidade da pintura: estamos, aqui e agora, 
diante de algo singular e único.
• Generalização do específi co dentro da classe a que pertence: observar a 
classe de pinturas à qual pertence a obra.
Depois dessa experiência, por mais provocativa e confusa que possa ser, é 
que a análise deverá ser iniciada.
A pintura é um signo, pois “é algo que representa algo, sendo capaz de 
produzir efeitos interpretativos em mentes reais ou potenciais.” (SANTAELLA, 
2002, p. 88). Isso é evidente e já o sabemos.
O primeiro elemento da análise é a relação do signo consigo mesmo: aquiloque Peirce chamou de quali-signo, sin-signo e legi-signo. Assim, para vermos 
49
INTRODUÇÃO À LEITURA DA IMAGEMCapítulo 3
o quali-signo (qualidade sígnica imediata) da obra de Matisse, devemos fi car 
“no plano puramente sensório e sensível, como uma criança que ainda não é 
capaz de reconhecer fi guras.” (SANTAELLA, 2002, p. 88). Observamos, então, 
um vermelho chapado, puro e intenso: vermelhos em destaque, mas também 
amarelos, azuis e verde que se complementam. Linhas verticais, horizontais, em 
ziguezague e círculos compõem a forma e dão magnitude à obra. 
O sin-signo (caráter de existência) está no fato de que o quadro existe como 
quadro. Aqui, Santaella (2002) nos adverte de que, geralmente, nesse caso 
específi co, também estamos diante de uma reprodução da obra, e não da obra 
em si. Assim, em vez de estamos diante de uma pintura, estamos diante de uma 
fotografi a da pintura. Esse fato modifi ca, em parte, os elementos constitutivos 
da obra. A tonalidade das cores, o tamanho do original versus o tamanho da 
reprodução, textura e lugar que ocupa (geralmente museu), por exemplo.
O legi-signo (lei) nos diz que a obra de Matisse pertence à classe das 
pinturas, mais especifi camente das pinturas a óleo. Também pertence à classe 
das pinturas modernas do gênero fauvista. 
Fovismo ou fauvismo (do francês les fauves, “as feras”, 
como foram chamados os pintores não seguidores do cânone 
impressionista, vigente na época) é uma corrente artística do início 
do século XX, que se desenvolveu, sobretudo, entre 1905 e 1907. 
Associado à busca da máxima expressão pictórica, o estilo começou 
em 1901, mas só foi denominado e reconhecido como um movimento 
artístico em 1905. O fovismo tem como características [...] marcantes 
a simplifi cação das formas de pelos, o primado das cores e uma 
elevada redução do nível de graduação das cores utilizadas nas 
obras. Os seus temas eram leves, retratando emoções e a alegria de 
viver e não tendo intenção crítica.
A cor passou a ser utilizada para delimitar planos, criando a 
perspectiva e modelando o volume. Tornou-se, também, totalmente 
independente do real, já que não era importante a concordância 
das cores com o objeto representado, e sendo responsável pela 
expressividade das obras. (Fonte: Disponível em: <http://artn.
highforum.net/t532-fauvismo> Acesso em: 10 jul. 2011).
50
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Após apresentar esses elementos básicos da obra, Santaella 
(2002) entra na análise da obra propriamente dita. Atenta para o fato de 
que a pintura apresenta imagens ambíguas, como, por exemplo, a porta 
também poder ser uma janela, apenas acentuada pelo fato de as linhas 
em ziguezague darem continuidade ao chão e do círculo amarelo, que 
sinaliza, possivelmente, um quadro colocado à esquerda. Apesar de o 
quadro trazer uma reprodução de um interior de um ambiente, a obra é 
retratada de maneira moderna, cujos padrões pictóricos são realizados 
singularmente, de acordo com o estilo de Matisse. Isso deve ser levado 
em conta, pois, quanto mais o interpretante souber da obra, do estilo de 
Matisse e, claro, dependendo “especialmente do repertório cultural que 
o intérprete internalizou, alguns signifi cados simbólicos se atualizarão, 
outros não.” (SANTAELLA, 2002, p. 93). Por consequência, a obra terá 
mais signifi cações para o interpretante que tiver mais conhecimento 
sobre o contexto da obra.
Da relação do signo com o seu objeto, a obra assim é composta:
• Ícone: um tema de interior com vaso pintado à maneira de Matisse e que 
apresenta imagens ambíguas.
• Índice: referencialidade das imagens indicada por Matisse. Há, na obra, um 
equilíbrio entre a ambiguidade da “referencialidade indicial” e da icônica.
• Simbólico: padrões de pintura moderna concernentes à arte moderna, em 
específi co, ao fauvismo.
Parece difícil entender isso, não?! De fato, é um pouco, mas não precisamos, 
no momento, entender a fundo isso. Com o tempo e com estudos, você pode 
entender esse assunto de forma mais direta e efi caz. Em seguida, a autora mostra 
os efeitos interpretativos da obra. Nesse caso, apresenta os níveis do interpretante. 
Sobre este aspecto, Santaella (2002) exprime que o primeiro 
nível é o imediato, aquele em que a predominância é o sensório, pois 
é a primeira impressão que ocorre no encontro com a obra. Assim, 
as cores fortes e os traços intensos provocam-lhe determinadas 
reações e sensações. Em seguida, determinadas emoções são 
acionadas: alegria, leveza, fl utuação... Outros tipos de interpretantes 
são caracterizados, como o dinâmico energético, vontade de entrar 
no ambiente; e o lógico, que depende dos conhecimentos culturais e 
históricos que possui. Sem um conhecimento sobre a arte moderna 
e sobre detalhes da pintura fauvista, um interpretante poderá fi car 
apenas no nível emocional. Por fi m, Santaella (2002, p. 97), fala do 
Em um 
conhecimento 
sobre a arte 
moderna e sobre 
detalhes da 
pintura fauvista, 
um interpretante 
poderá fi car 
apenas no nível 
emocional.
Apesar de o 
quadro trazer 
uma reprodução 
de um interior de 
um ambiente, a 
obra é retratada 
de maneira 
moderna, cujos 
padrões pictóricos 
são realizados 
singularmente, 
de acordo com o 
estilo 
de Matisse.
51
INTRODUÇÃO À LEITURA DA IMAGEMCapítulo 3
interpretante fi nal (em devir): “toda a admiração e gratifi cação ao olhar que essa 
pintura ainda poderá despertar no futuro”. 
Enterro na Rede
Enterro na rede é uma das obras da série Os retirantes, pintadas em 1944, 
pelo artista brasileiro Cândido Portinari. A professora Sandra Regina Ramalho 
e Oliveira, da Universidade Estadual de Santa Catarina, em seu livro Imagem 
também se lê, faz uma análise dessa obra, que poderíamos aproximar de um 
segmento de teoria semiótica que deriva daquela iniciada por Saussure. 
Figura 19 - Enterro na rede, 1944, Cândido Portinari
Fonte: Disponível em: <http://www.casadeportinari.com.br/
cronologia/enterro.htm>. Acesso em: 5 jul. 2011.
Com o título da análise Enterro sem caixão, a autora começa por indagar 
“o que você vê?”; depois, sugere: “observe-se, primeiramente, um eixo vertical; 
e duas diagonais que lhe cortam em seguida, os elementos constitutivos.” 
(OLIVEIRA, 2009, p. 69). Para mostrar como os elementos constitutivos estão 
estruturados na obra, apresenta um esquema visual por meio de um croqui 
contento os traços de contorno da obra. Diz a autora: “neste esquema são 
destacados um a um os planos de profundidade propostos, diferenciação que é 
feita por meio do uso de linhas e cores específi cas para contornar e destacar a 
estrutura de cada um deles.” (OLIVEIRA, 2009, p. 69).
52
Leitura e produção de sentidos em artes visuais
Figura 20 - Esquema visual da obra Enterro na rede
Fonte: Oliveira (2009, p. 116).
O esquema é uma maneira que podemos estabelecer na análise 
de obras para facilitar nossa inserção no contexto estrutural em que ela 
foi feita. Vemos, então, no centro da composição, uma mulher ajoelhada 
e de costas para o espectador. Atente para a posição dos pés, em 
tamanho destacado, acentuando a posição de oração e olhando para 
o centro da obra onde está o foco central da obra: o defunto. Observe 
que essa mulher, em combinação com o lençol usado na cena, forma 
um grande triângulo central na pintura. Outros ângulos são vistos 
quando percorremos nosso olhar pelas vestimentas e pela posição das 
fi guras. O que é importante ressaltar é que “o ângulo formado pelos 
braços dessa mulher remete o olhar para seu vértice, no tronco do 
corpo dela mesma, o qual oculta o centro da rede, lugar onde está o 
morto” (OLIVEIRA, 2009, p. 71).
Olhando a imagem, temos: no primeiro plano, em destaque, os 
pés da mulher ajoelhada; no segundo, a própria mulher de joelhos; 
no terceiro, dois “carregadores” masculinos, formando um quadrado 
ao redor da cena; no quarto, uma mulher agachada à direita; e, no 
quinto, o fundo do quadro. Toda a obra é formada por diversas fi guras 
geométricas e ângulos em destaque,

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