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MARÍLIA ARAÚJO – P2 Aspectos bioquímicos e clínicos da digestão e absorção de macromoléculas • Macronutrientes estão presentes em grandes quantidades em nossa alimentação – normalmente: carboidratos, proteínas e lipídios. E os micronutrientes em quantidades menores; ex.: vitaminas, ferro, minerais essenciais para o funcionamento do organismo. • Os macronutrientes não são transformados em micronutrientes. Já as macromoléculas sim, são transformadas em micromoléculas (monômeros constituintes dessas macromoléculas). • Tubo digestório: caminho percorrido pelos alimentos que começa na boca e termina no ânus. Sua função é degradar os alimentos que ingerimos em suas unidades constituintes (energia para as células e matéria prima para fabricarmos os elementos que compõem nosso corpo). • O aparelho digestivo é responsável pela digestão e pela absorção desses nutrientes. Nesse sentido, qualquer situação (celular, enzimática, etc) que modifique qualquer um desses processos vai comprometer o aproveitamento adequado dos nutrientes, e aquilo que não é digerido nem é absorvido é eliminado nas fezes. Nesse caminho, existem os microrganismos que fazem parte da nossa microbiota intestinal, podendo haver algumas consequências quando esses nutrientes não são bem degradados. • Todas as etapas são importantes para o aproveitamento dos nutrientes pelas células: • Uma boa mastigação aumenta a superfície de contato do alimento com as enzimas. Pessoas que não mastigam direito ou até as que não conseguem mastigar (ex.: sem dentes e sem próteses) terão o comprometimento do processo de digestão e absorção. • Quando falamos de enzima, falamos de pH. Cada enzima tem uma origem específica, uma função específica e um pH ótimo de atuação. Ao longo do sistema gastrointestinal temos variação de pH, dependendo do órgão. MARÍLIA ARAÚJO – P2 • O pâncreas e o intestino são essenciais para digestão e absorção de todos os nutrientes fundamentais. Eles têm uma grande capacidade de reserva de enzimas. • Má digestão por uma insuficiência pancreática: problema clínico quando a taxa de secreção de enzimas cai abaixo de um décimo da taxa normal. • A digestão gástrica (estômago) é importante, mas ela vai apenas facilitar e aumentar a efetividade do processo digestivo total. O estomago é muito importante, porém mais importante que ele seriam o pâncreas e intestino. No caso do intestino, é tanto pelo seu papel enzimático como pelo seu papel absortivo, através da grande superfície de contato com as vilosidades que são muito importantes para aproveitar ao máximo a absorção desses nutrientes. • Nas cirurgias de redução do estômago, têm-se o risco de haver uma redução drástica na absorção de nutrientes, além da diminuição da produção de enzimas. PRINCIPAIS CAUSAS DA MÁ ABSORÇÃO • Preparação inadequada dos alimentos; • Dentição prejudicada → não consegue triturar o suficiente o alimento para que haja uma digestão adequada através das enzimas; • Diminuição da secreção de ácido clorídrico → pode gerar problemas na absorção de ferro. Pode diminuir também o fator intrínseco, que diminui a absorção da vitamina B12; • Deficiência de sais biliares → diminuiria a absorção dos lipídeos. Pode causar diarreia; • Deficiência das enzimas pancreáticas (de uma forma geral) → interfere na digestão de todos os tipos de alimento, pois o pâncreas produz enzimas diversas (amilase e lipase pancreáticas, tripsina, por exemplo); • Diminuição da superfície de absorção → insuficiência absortiva, como doença celíaca, que em alguns casos pode gerar desnutrição; • Alteração na anatomia digestiva ou na mucosa. • Infestações parasitárias • Anormalidade linfática → má absorção de gordura CONSEQUÊNCIAS DA MÁ ABSORÇÃO • Lesões da pele e da mucosa (deficiências de vitaminas e de oligoelementos) • Fraqueza muscular (massa muscular reduzida e deficiência de cálcio e magnésio) • Perda de peso • Dor óssea (osteomalácia/raquitismo) • Anemia (deficiência de ferro, fosfato, B12) • Neuropatia periférica • Edema (devido a hipoalbuminemia) • Insuficiência de desenvolvimento (neonatos) e retardamento do crescimento • Diarreia PALATABILIDADE E SACIEDADE • Os alimentos palatáveis são os alimentos saborosos. São mais ricos em gorduras e carboidratos, e fornecem grande quantidade de energia em pouca porção. • Os alimentos saciadores são os que dão essa sensação de satisfeito por mais tempo. São ricos em proteínas, fibras e água, possuem volume elevado por porção e densidade energética baixa. • As fibras distendem as paredes do estômago e estimulam os “receptores de volume” (primeiro aviso que o tubo digestivo transmite ao cérebro pedindo o fim da refeição) • OBS: Grelina → hormônio que estimula o apetite (orexígeno). É produzido no estômago e no dudeno e diminui o metabolismo basal, que diminui o gasto energético (causa sonolência, preguiça) CARBOIDRATOS MARÍLIA ARAÚJO – P2 • A formação de um dissacarídeo é a partir de dois monossacarídeos (podem ser iguais ou não) que se unem através de ligação glicosídica. Esse processo ocorre por desidratação (saída de 1 molécula de água). • Logo, a quebra do dissacarídeo é por hidrólise (entrada de 1 molécula de água). • Principais DISSACARÍDEOS: - MALTOSE: glicose + glicose (ligação do tipo alfa 1,4). A degradação acontece pela ação da enzima maltase. OBS.: alfa – OH está para baixo 1,4 – ligação do carbono 1 de um monossacarídeo com o carbono 4 de outro monossacarídeo. - SACAROSE: glicose + frutose (ligação do tipo alfa 1,2). A degradação acontece pela ação da enzima sacarase ou sucrase. - LACTOSE: glicose + galactose (ligação do tipo beta 1,4). A degradação acontece pela ação da enzima lactase. OBS: as enzimas dissacaridases estão presentes na borda em escova do enterócito. COMPOSIÇÃO DO AMIDO • Formado por AMILOSE: cadeia reta, não ramificada, 250 a 300 resíduos de D- glicopiranose (anéis de 6 membros) e ligações glicosídicas do tipo alfa 1,4. OBS: furanose (anéis de 5 membros) • Formado por AMILOPECTINA: menos hidrossolúvel que a amilase, possui aproximadamente 1400 resíduos de alfa-glicose, ligações glicosídicas do tipo alfa 1,4 e alfa 1,6. OBS: a enzima amilase degrada ligações do tipo alfa 1,4, não consegue degradar ligações do tipo alfa 1,6. Logo, há formação de dextrinas alfa limite. DIGESTÃO DOS CARBOIDRATOS • Tem início na boca (alfa-amilase salivar) • Amido: maior digestibilidade no duodeno (amilase pancreática) • Sacarose, lactose, bem como os produtos da digestão do amido, as maltodextrinas: são hidrolisados pelas enzimas da borda em escova intestinal • Sacarase e lactase: encontradas em maior concentração no jejuno, enquanto a maltase é abundante no íleo MARÍLIA ARAÚJO – P2 • Depois que passa pela boca, o pH do estômago diminui e isso faz inativar a ação da amilase (embora tenha ação no estômago por pouco tempo, quando o pH abaixa ela tende a se tornar inativa). • Já no intestino, com a ação da amilase pancreática (liberada no delgado) ocasionará a degradação em constituintes mais simples e, por fim, pelas enzimas dissacaridases que estão presentes na membrana das células da mucosa intestinal ou enterócitos, a gente vai ter a formação dos monossacarídeos, que é a parte que consegue ser degradada (forma adequada para absorção). • A digestão da sacarose e lactose só vai ocorrer no intestino, que é bem lá na frente. Antes disso são os constituintes do amido, que serão degradados pela amilase salivar, que é a enzima que degrada em produtos simplificados (maltose, isomaltose e dextrinas do amido). • Não tem enzima para degradar a celulose. • Digestão de carboidratos: (amido) - Início: Boca → Amilase salivar. - Término: Intestino → amilasepancreática e dissacaridase da borda em escova. • A amilose possui ligações do tipo alfa 1,4 e na amilopectina ligações do tipo alfa 1,4 e 1,6. A alfa amilase consegue digerir as ligações do tipo alfa 1,4, então os produtos que vão ser formados, vão ser os que vieram da degradação/hidrólise dessas ligações → glicose, maltose, maltotriose e dextrina • Na digestão da amilopectina, como a alfa amilase só hidrolisa ligações do tipo alfa 1,4, além dos produtos acima, terá a dextrina limite alfa → resíduos com ligações alfa 1,6 • A alfa amilase liberada pelo pâncreas continua a digestão, mas precisa de enzimas específicas para a quebra das ligações do tipo alfa 1,6 ABSORÇÃO DOS CARBOIDRATOS • São absorvidos como monossacarídeos na borda em escova • Galactose e glicose são absorvidas por um transporte ativo dependente de sódio (transportador dependente de sódio SGLT1). • Na membrana contra-luminal, está em associação com o processo a sódio-potássio ATPase (bomba de sódio-potássio), pois esse transporte é ativo. • Quando a glicose entra, também vem junto o sódio. É uma espécie de co-transporte glicose-sódio que vai atravessar a borda em escova (que possui muita superfície de contato com o lúmen intestinal). Após a glicose (ou galactose) ter passado por esses enterócitos, ela irá cair na corrente sanguínea por difusão facilitada pelo transportador GLUT2. • Já na frutose, a entrada pela borda em escova não necessita de energia, é uma difusão facilitada pelo transportador GLUT5. Passa pelo enterócito e para cair na circulação, também depende de difusão pelo transportador GLUT2. Resumo da digestão e absorção dos carboidratos: MARÍLIA ARAÚJO – P2 • O amido (polímero de várias moléculas de glicose unidas por ligações alfa-1,4 e alfa-1,6), pela ação da amilase (tanto a salivar quanto a pancreática) é transformado em compostos mais simples. Esses compostos são a maltose (dissacarídeo formado por duas moléculas de glicose), maltotriose e dextrin alfa-limite. Assim, pela ação da alfa- glucosidase há a degradação desses compostos, liberando o monossacarídeo glicose, que é a forma correta de ser absorvido. • OBS: a dextrin alfa-limite possui ligações do tipo alfa-1,6 que não são quebradas pela amilase. • A lactose e a sacarose que já são dissacarídeos, passam pelo trato intestinal e só vão sofrer ações de suas enzimas no final, já na borda em escova. Dessa forma, a lactose sofre ação da lactase, sendo quebrada em galactose e glicose e a sacarose sofre ação da sacarase sendo quebrada em frutose e glicose. Com isso, as macromoléculas chegam no lúmen intestinal e são quebradas na região luminal e na borda em escova do enterócito por suas respectivas enzimas em monossacarídeos, então esses monossacarídeos são absorvidos para enterócito. • A absorção de galactose e glicose ocorre por transporte ativo por meio da SGLT1 (transportador de glicose sódio dependente), já a de frutose ocorre por difusão facilitada através do GLUT5. Uma vez dentro do enterócito esses monossacarídeos devem cair na corrente sanguínea e isso ocorre através do transportador GLUT2. DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE PROTEÍNAS • As proteínas são macromoléculas constituídas por diferentes sequências longas de aminoácidos (até 20 diferentes) unidos através de ligações peptídicas (estabelecidas por desidratação). Então, as proteínas devem ser degradadas em peptídeos e aminoácidos livres por meio das enzimas proteolíticas. ENZIMAS PROTEOLÍTICAS • Todas as exopeptidases quando quebrarem vão liberar um aminoácido terminal + uma cadeia peptídica menor. Essa digestão acontece na própria proteína grande que vai fragmentando-se em proteínas menores. É um processo que não ocorre apenas uma vez, vai degradando aos poucos. • OBS: o ponto de clivagem depende da associação à uma determinada região, pois as enzimas específicas que digerem aquele tipo de ligação vão começar a agir. • OBS: Enquanto os carboidratos precisam ir a monossacarídeos, as proteínas não precisam ir até aminoácidos livres. No caso, os dipeptídeos e até os tripeptídeos conseguem ser absorvidos, só que se a proteína não for degradada até esse tipo de peptídeo - que é o menor tamanho que ela consegue ser absorvida - ela não vai conseguir passar pelo processo e consequentemente vai ser MARÍLIA ARAÚJO – P2 eliminada pelas fezes (só que antes disso passa pela ação dos microrganismos na microbiota intestinal. Algumas peptidases gástricas e pancreáticas: • A maioria das enzimas que degradam proteínas vão ser liberadas na forma de zimogênios ou pró- enzimas (inativadas) porque as células do nosso organismo são constituídas por grande quantidade de proteínas e se esse zimogênio for ativado antes do tempo podemos ter consequências para a saúde visto que vai digerir as próprias células do indivíduo que são ricas em proteínas • Um exemplo de uma alteração desses aspectos biológicos e clínicos é a ativação do tripsinogênio ainda dentro do pâncreas. Essa autodigestão tríptica dentro do pâncreas pelas enzimas proteolíticas vão gerar pancreatite e outros sintomas porque essas enzimas precisam ser ativadas nas condições adequadas (intestino). • O reconhecimento na estrutura da proteína para onde vai clivar/hidrolisar é dependente dos aminoácidos presentes naquela região • Nosso corpo consegue absorver dipeptídeos e tripeptídeos, mas peptídeos mais longos (que os tripeptídeos) não são absorvidos. Assim, vão sofrer a degradação bacteriana da microbiota intestinal e, por fim, serem excretados por meio das fezes. ABSORÇÃO DE PROTEÍNAS - AMINOÁCIDOS LIVRES • Os aminoácidos livres são absorvidos no jejuno e na porção superior do íleo • Na maior parte, essa absorção acontece por difusão facilitada ou transporte ativo (co- transporte junto ao sódio) • Os aminoácidos hidrofóbicos, principalmente o triptofano, são absorvidos por difusão passiva, sem necessidade de transportador • Quando os aminoácidos entram nos enterócitos, podem ser encaminhados para o metabolismo normal da célula ou para a circulação. • Também há a passagem de aminoácidos (pela face contraluminal) da corrente sanguínea para dentro do enterócito, para que sejam utilizados em seu metabolismo • Dependendo do grupo R do aminoácido, há diferentes tipos de transportadores ABSORÇÃO DE PEQUENOS PEPTÍDEOS • Transporte ativo secundário – gradiente eletroquímico • Co-transportador próton dependente → esses prótons que vieram junto com o bolo alimentar do estômago vão precisar estar presentes para a realização do co-transporte. • Dipeptídeos e tripeptídeos serão absorvidos junto com um próton • Esse transporte ativo também é associado ao sódio-potássio-ATPase que vai entrar no enterócito para sofrer a ação das di e tri peptidases ou ainda na própria borda em escova e, assim, formar os aminoácidos para serem liberados. • OBS: Inibidores da bomba de prótons → podem diminuir a absorção de di e tripeptídeos MARÍLIA ARAÚJO – P2 Resumindo: A absorção dos aminoácidos pode ser de: • Difusão facilitada • Transporte ativo • Difusão passiva • As enzimas proteolíticas do suco pancreático vão ser ativadas para a degradação. Pode existir boa parte disponível na superfície luminal como aminoácido livre e outra parte como oligopeptídeo. Pela ação dessas outras enzimas que estão presentes na borda em escova, há a degradação até a proteína chegar na forma adequada para ser absorvida que, nesse caso, é na forma de aminoácidos e di e tri peptídeos. OBS: Whey hidrolisado: já foi digerido, é absorvido mais rápido. Os wheys isolado ou concentrado são melhores em termos de saciedade LIPÍDIOS • Grupo heterogêneo de compostos • Baixa solubilidade em água. • Alta solubilidade em solventes não-polares. IMPORTÂNCIA PARA NUTRIÇÃO • Melhorama capacidade de absorção das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). • Fornecem ácidos graxos essenciais para a construção das membranas de tecidos. • Atuam como precursores da regulação do metabolismo, ou seja, síntese de alguns hormônios que estão envolvidos no metabolismo e precisam vir da alimentação, como por exemplo, os que são a base de colesterol. • Estão relacionados à palatabilidade, que é o sabor dos alimentos. Essas gorduras, de uma forma geral, também vão interferir não só no sabor, que é a primeira resposta, a sensação inicial (percepção através do nariz e da boca de moléculas voláteis de sabor e lipossolúveis), mas também na textura, a sensação, a percepção pela cavidade oral durante a mastigação ou a deglutição. Elas terminam deixando os alimentos mais saborosos e mais fáceis de serem mastigados e engolidos pela suculência fornecida dependendo das concentrações dos lipídios. DIGESTÃO DE LIPÍDEOS • Apenas uma pequena quantidade de lipídios já começa a ser digerida na boca pela lipase lingual, principalmente os de cadeia curta. • No estômago existe a lipase gástrica, que também vai digerir apenas uma pequena parte dos lipídios (os dois casos estão relacionados à dificuldade do acesso das enzimas nesse substrato, já que são de caráter lipídico, ou seja, hidrofóbico, e termina tendo certa dificuldade no processo de digestão). • Por fim, a digestão propriamente dita dos lipídios acontece principalmente no intestino, pela ação da lipase pancreática e, através da participação da bile, pelo processo de emulsificação. • OBS: Na bile não existem enzimas, mas sim sais biliares que interferem na emulsificação dos lipídios e facilitam o processo de digestão. A principal enzima que vai atuar é a lipase pancreática. MARÍLIA ARAÚJO – P2 Recapitulando, o estado das substâncias no estômago: • As proteínas no estômago estão parcialmente digeridas, pois a ação enzimática, a digestão, começa com a pepsina (originalmente pepsinogênio, pH ácido é ativado, se transforma em pepsina e começa a degradar). • Os carboidratos estão parcialmente digeridos, pois já começa na boca com a ação da amilase salivar. • As gorduras estão praticamente intactas, pois apesar da presença da lipase gástrica, apenas um percentual muito pequeno dessa substância vai estar digerido. • Na boca estão presentes os ésteres de colesterol (ao lado mostra as estruturas químicas desses ésteres, com a presença de uma hidroxila). Normalmente o que encontramos aqui é esse colesterol na forma dos ésteres de colesterol, que nada mais é do que um ácido graxo esterificado a essa cadeia do colesterol, a essa hidroxila do colesterol. Quando o EC é hidrolisado (pela colesterol-esterase), há a liberação de ácido graxo e do colesterol • FL é a fosfatodilcolina que nada mais é do que a estrutura química que a gente tem os ácidos graxos esterificados. Quando hidrolisado (por lipases), há a liberação dos ácidos graxos e de glicerol com a fosforilcolina → glicerilfosforilcolina • E, por fim, o triacilglicerol. Quando acontece a hidrólise parcial (pela lipase pancreática), tem a liberação de 3 ácidos graxos que estavam esterificados a cadeia do glicerol. Esse triacilglicerol quando está no teste, vai ter a hidrólise total. Só que a cada ingestão, vai ocorrer a degradação desses triglicerídeos, liberando 2 ácidos graxos e ficando 2-monoacilglicerol. • OBS: Esse 2 está relacionado a posição, a qual carbono o ácido graxo está esterificado. • Na boca, os lipídios da dieta estão praticamente inalterados • A grande digestão vai acontecer a partir da liberação desses sais biliares no intestino, que vão facilitar a emulsificação para que as enzimas pancreáticas consigam digerir melhor os lipídios • Os produtos são ácidos graxos livres, 2- monoacilglicerol e colesterol, que inicialmente vão para a linfa, formando os quilomícrons para que sejam enviados para a corrente sanguínea • Os fragmentos remanescentes da fosfatidilcolina serão eliminados junto com as fezes • OBS: Existe já no estômago a absorção de uma parte desses ácidos graxos de cadeia curta e média FORMAÇÃO DAS MICELAS • Quando a gente fala de emulsificação pelos sais biliares, estamos falando da formação dessas micelas mistas. MARÍLIA ARAÚJO – P2 • A partir das micelas mistas, o colesterol é captado por um canal regulador, o NPC1L1. Parte desse colesterol que foi absorvido é bombeado de volta para a luz intestinal pela ABCG5/G8, uma proteína heterodimérica da membrana plasmática dependente de ATP. A partir do momento em que entra no enterócito, outra parte do colesterol será esterficado com ácido graxo para formar éster de colesterol • *ACAT = Acil-CoA-colesterol aciltransferase • Os triglicerídeos que vão ser hidrolisados serão absorvidos sem a necessidade de transportador. Quando entram no enterócito junto aos monoglicerídeos, serão reesterificados para formar novamente triglicerídeos • *DCAT = Diacilglicerol aciltransferase OBS: Ezetimibe → inibie a absorção do colesterol proveniente da dieta 1) Ácidos graxos provenientes da dieta 2) As lipases do pâncreas degradam triacilglicerois no intestino 3) Chegada no intestino e ação dos sais biliares para a formação de micelas mistas 4) Ácidos graxos livres e o 2-monoacilglicerol serão absorvidos e no interior da mucosa intestinal, serão reesterificados para formar novamente triacilglicerol 5) Triacilglicerois são incorporados com colesterol e apolipoproteínas nos quilomicrons (lipoproteínas de menor densidade) que caem primeiro no sistema linfático e depois na corrente sanguínea, para serem encaminhados aos tecidos 6) Ácidos graxos entram nas células para serem oxidados como combustível ou serem reesterificados para armazenamento (reserva energética) OBS: Quilomícrons: são constituídos principalmente por triglicerídeos que vieram da dieta, tem também colesterol e outros lipídeos e algumas proteínas, mas principalmente, vai fazer o transporte de triglicerídeo exógeno, que veio da dieta, que será transportado pela corrente sanguínea. ALGUNS HORMÔNIOS ENVOLVIDOS NA DIGESTÃO • A gastrina se origina no estômago, então, quando em contato com alimentos proteicos na parede do estômago, ela libera a gastrina, e essa vai estimular a produção de suco gástrico e a contração. Dessa forma, vai facilitar o processo da digestão. A gente já viu que para a pepsina agir, para o pepsinogênio se transformar em pepsina e degradar as proteínas, vai precisar do meio ácido, com ácido clorídrico de pH baixo, então essa gastrina ajuda nesse processo. MARÍLIA ARAÚJO – P2 • Um outro hormônio é a secretina, que tem origem no intestino delgado. Sua função é estimular o pâncreas a produzir bicarbonato para neutralizar esse quimo que veio acidificado do estômago. Para ser estimulado, é preciso ter o contato do ácido clorídrico estomacal com o duodeno. • O pH ótimo das enzimas do intestino é básico para neutralizar o ácido clorídrico mediante a liberação de suco pancreático, rico em bicarbonato que vai neutralizar e tem esse papel de aumentar o pH daquele quimo que estava bem ácido. • Um outro hormônio, como colecistoquinina (colecistocinina), a fonte dela é o intestino delgado. Para ser liberada, precisa do contato dos lipídeos e aminoácidos com a parede duodenal. Se a gente tem lipídeo e aminoácido lá no intestino, vão precisar das enzimas para degradar, então essa colecistoquinina vai estimular a liberação dessas enzimas digestivas, e também da bile. • Quando os alimentos chegam ao estomago, haverá liberação de secretina que estimula principalmente a parte do bicarbonato; agora já a colecistoquinina atual tanto no pâncreas como na vesícula biliar, liberando a bile para ocorrer a emulsificação dos alimentos e também libera enzimas digestivas para auxiliar essa emulsificação.• Por fim, quando há uma grande quantidade de gordura no intestino delgado, significa que já nos encontramos no final do processo de digestão e isso vai gerar a liberação da enterogastrona, a qual inibirá a secreção do suco gástrico e também a mobilidade (peristaltismo). Logo, ela estará sinalizando o final da digestão. ESTÔMAGO • É um grande reservatório onde a comida fica armazenada (aproximadamente 2 hrs) • É importante também falar da questão de absorção de alimentos que devem ser tomados em jejum, os quais devem ser tomados 1 hora antes ou 2 horas depois da alimentação. De acordo com a reação que o medicamento terá com a células do estomago e como ele é absorvido, tais medicamentos devem ter instruções dos médicos que os passarem, para que o paciente saiba da interação deles com alguns alimentos, etc • Suco gástrico: Produzido, pelo estômago, em uma quantidade média de 2L por dia. - HCl: importante para ativar a pepsina e também esterilizar a comida - Pepsina: enzoma que inicia a digestão das proteínas. - Muco: proteção das paredes do estômago contra os níveis baixos de pH - Fator intrínseco: glicoproteína (44 KDa) essencial à absorção de vitB12, pois ela sozinha não consegue ser absorvida no intestino e por isso há a liberação desse fator pelas células parietais do estômago, o qual se liga a vitamina e facilita sua absorção. Quem faz uma cirurgia bariátrica pode ter deficiência de B12 e terá que fazer reposições da mesma. • OBS: O ácido clorídrico é importante para a ativação do pepsinogênio, que tem importante função na desnaturação das proteínas. Produção do ácido clorídrico • O HCl é secretado ativamente • É liberado no lúmen na forma de H+ e Cl- • A secreção ativa de HCl é conseguida por uma combinação de troca primariamente ativa de K+/H+ por uma ATPase trocadora de K+/H+ (ou bomba de prótons gástrica), canais de Cl- e K+ na membrana luminal e troca de Cl-/HCO3- na membrana contraluminal • O bicarbonato é formado pela ação da anidrase carbônica • A ATPase trocadora de K+/H+ é exclusiva da célula parietal e acopla a hidólise de ATP com uma troca eletricamente neutra obrigatória de K+ por H+, secretando H+ e movendo K+ para dentro da célula • OBS: Bomba de próton: Joga próton para fora da célula parietal e traz o potássio para dentro. Remédios como o omeprazol tem o objetivo de parar essa bomba, sendo chamados de inibidores. CORRELAÇÕES CLÍNICAS 1) Caso clínico: Um jovem foi ao consultório do seu médico queixando-se de “inchaço” e diarréia. O MARÍLIA ARAÚJO – P2 paciente apresentava olheiras fundas, e o médico notou sinais de desidratação. A temperatura do paciente estava normal. Ele explicou que o episódio ocorreu após uma festa de aniversário, na qual ele participou de um concurso de ingestão de sorvete. O paciente relatou episódios anteriores de natureza similar após a ingestão de quantidades significativas de derivados do leite. Esse quadro clínico é sugestivo de intolerância à lactose → deficiência da enzima lactase, que digere a lactose • O teste de sangue que eles vão fazer, nada mais é do que a dosagem da glicose, porque se a lactose estiver sendo degradada ela vai formar galactose e glicose. Então, o ideal é que se estiver acontecendo a degradação da lactose vai ter um aumento da [ ] de glicose no sangue. É isso que se espera e a partir desse aumento eles calculam pra ver se é uma taxa adequada ou não dessa medida, para saber se a pessoa tem ou não a intolerância. • Então nesse caso quando o paciente não tem a intolerância, vai ser degradado e vai aumentar de forma proporcional, só que o que acontece? Está aqui o saudável, a lactose, pela ação da lactase na borda em escova, quebra: GLICOSE + GALACTOSE e vai ser absorvido, isso é o que acontece normalmente. • Essa lactose tem um grande fator osmótico, ela atrai água pra luz intestinal e isso é interessante porque é isso que também atrai água na produção de leite para quem vai amamentar. A lactose é responsável por 50% da atração da água lá para as glândulas mamárias também e esse fator osmótico, essa atração da água ela vai fazer lá no intestino do indivíduo que não tem a lactase ou que tem deficiência dessa lactase, então vai atrair água. • Se atrai água, vai ocasionar a diarreia. No intestino grosso, a gente tem a microbiota intestinal, e essa microbiota vai fermentar essa lactose que não foi degradada e vai produzir alguns ácidos que podem gerar tanto o inchaço como as cólicas. • Os sintomas na intolerância a lactose são restritos ao trato gastrointestinal, já na alergia a proteína do leite de vaca estamos falando de uma reação imunológica, é o sistema imune que está envolvido. Então, podem ter outros sintomas, no caso aqui além dos sintomas digestivos teremos outros sintomas cutâneos como urticária, sintomas respiratórios também como a asma, pode dar dependendo do grau da alergia uma reação anafilática também. Cada vez mais crianças estão nascendo com várias alergias, não só a proteína do leite de vaca, mas a do ovo e tem que ter cuidado porque na alergia os sintomas não vão ser restritos ao trato gastrointestinal, podem ter outras reações também e por isso é muito mais grave. OBS: No caso da APLV, 50% dos casos evoluem para cura até os 12 meses de idade, e 90% até os 3 anos de idade 2) Caso clínico: uma menina, 5 anos e 10 meses, 14kg, foi encaminhada com quadro de distensão abdominal há 8 meses, associada a dor abdominal difusa, perda ponderal (cerca de 5kg), edema de membros inferiores e periorbitário, desconforto respiratório moderado após alimentação, possui hábitos intestinais com presença de fezes pastosas, em torno de 3 episódios diários, diurese preservada, nega febre e cefaléia, tosse ou vômitos. Na visita médica: BEG (bom estado geral), corada, hidratada, desnutrida, acianótica, anictérica, afebril, boa perfusão, sem edemas, ativa no leito, sorrindo, respondia às perguntas. No exame do abdome: abdome globoso, flácido, indolor a palpação, sem massas palpáveis, fígado e baço impalpáveis. TC do abdôme: acentuada distensão de alças intestinais (intestino delgado e MARÍLIA ARAÚJO – P2 colônico). O parasitológico de fezes: negativo. Biópsia duodenal: Duodenite atrófica – Marsh III-C. Ausência completa de vilosidades na amostra. Por isso que estava desnutrida, problemas na digestão (já que tem enzimas na borda em escova) e na absorção. • Esse caso pode ser uma doença celíaca, doença que envolve tanto a parte bioquímica como histológica do paciente. Existem proteínas no trigo, como o glúten, que se divide em gliadina e glutenina, e a gliadina que está ligada à doença celíaca. Ela tem também outras moléculas parecidas com ela que geram esse efeito no paciente, como a hordeína (cevada) e secalina (centeio) • O que acontece com o paciente (Marsh III) é o grau mais grave, com destruição completa das vilosidades por uma inflamação. Quando o glúten chega no intestino, vai haver uma grande formação de infiltrado inflamatório e a grande quantidade desses linfócitos intraepiteliais terminam funcionando como anticorpos contra o glúten, atuando nessas vilosidades, inflamando- as e atrofiando-as. A consequência é que devido à essa atrofia não absorve adequadamente nem digere, podendo gerar deficiências nutricionais graves. Qual o tratamento? • Dieta isenta de glúten e de substâncias parecidas que geram substâncias que são tóxicas (ex: cevada). • O glúten é uma sequência de aminoácidos, e quando é clivado dá origem a peptídeos; alguns peptídeos são chamados de “motivos” que tem a capacidade de gerar uma resposta como se fosse um antígeno, aí o indivíduo cria anticorpos contra essas vilosidades e termina atacando as células e degradando as vilosidades. A biópsia desses enterócitos ajudou a fechar o diagnóstico. MECANISMO DE AÇÃO DO ORLISTAT • É um dos medicamentosque pode ser prescrito para emagrecimento, mas deve ser usado com cautela pois pode ter efeitos como diminuição da absorção das vitaminas lipossolúveis, e aquilo que não é digerido adequadamente, se não tiver na forma correta para ser absorvido vai sair na forma de fezes, mas no meio do caminho tem a microbiose intestinal que pode degradar esses compostos. • O orlistat inibe a ação da lipase, reduzindo consideravelmente a digestão dos lipídios, que vão sair nas fezes. O grande problema é o escape, por exemplo o óleo, se o paciente não tiver reeducação alimentar esse óleo pode sair não só nas fezes mas também escorrer. Quem não usa esse remédio adequadamente e não se alimenta bem, ocorrem essas diarreias.
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