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As vias de dor Dor: ● O que é? A dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ou descrita em termos de lesão tecidual. É um sinal característico dos mecanismos normais de proteção do organismo contra o dano tecidual. A dor é subjetiva. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências. Fonte: Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) - A dor é principalmente um mecanismo de proteção do corpo. A dor não é uma sensação pura, mas, sim, uma resposta a uma lesão do tecido que é monitorada pelo sistema nervoso. Fibras A anatomia da dor é constituída basicamente por fibras aferentes do tipo Aδ e C. Ambas apresentam, em suas extremidades periféricas, receptores do tipo terminações nervosas livres, que captam da pele e das vísceras os estímulos nocivos térmicos, químicos e mecânicos, em uma tentativa de informar ao córtex sensitivo (área 3, 2, 1 de Brodmann) a agressão cometida para que se obtenha uma resposta compatível ao fato. As fibras ao serem estimuladas, percorrem um trajeto com início nas terminações nervosas livres. Passam pelos gânglios espinais, adentram a medula espinal, ascendem ao tronco encefálico, à formação reticular, ao tálamo, as áreas límbicas e finalmente ao córtex sensitivo do cérebro. ● Os sinais de dor rápida, desencadeados por estímulos mecânicos ou térmicos, são transmitidos através de fibras do tipo Aδ nos nervos periféricos com velocidades de transmissão entre 6 e 30 m/s. ● Em contraste, os sinais de dor lenta, do tipo crônico, são transmitidos via fibras do tipo C, com velocidades de transmissão compreendidas entre 0,5 e 2 m/s. Lâminas Esses dois tipos de fibras nervosas são separadas na medula espinhal; Fibras do tipo Aδ excitam principalmente os neurônios na lâmina I da coluna posterior, enquanto as fibras do tipo C excitam os neurônios na substância gelatinosa. As fibras C se projetam mais profundamente na substância cinzenta e ativam os neurônios localizados sobretudo na lâmina V, mas também nas lâminas VI e VII. Neurônios Os neurônios que recebem a entrada das fibras do tipo Aδ (dor rápida) seguem o trato neoespinotalâmico (lâmina 1), enquanto aqueles que recebem a entrada das fibras do tipo C dão origem ao trato paleoespinotalâmico (lâmina 5). Receptores ● Os estímulos mecânicos e térmicos tendem a provocar dor rápida. ● Os estímulos químicos geralmente, mas nem sempre, tendem a causar dor lenta. Alguns dos agentes químicos que mais comumente provocam sensação de dor lenta são: bradicinina, serotonina, histamina, íons de potássio, ácidos, acetilcolina e enzimas proteolíticas. A concentração tecidual dessas substâncias parece estar diretamente relacionada com o grau de lesão nos tecidos e, por sua vez, com o grau de sensação dolorosa percebido. Além disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a sensibilidade dos receptores da dor, mas não os excitam diretamente. Existem 2 vias distintas específicas para cada tipo de dor ● Dor aguda (rápida e bem localizada) → Espinotalâmica lateral / Via neoespinotalâmica. - Estímulos térmicos e mecânicos. O Trato Neoespinotalâmico Facilita a Localização da Dor Os axônios dos neurônios na lâmina I que formam o trato neoespinotalâmico cruzam a linha média no nível da sua origem e ascendem na substância branca da medula espinal, como parte do sistema anterolateral. Algumas dessas fibras terminam na formação reticular do tronco encefálico, mas a maioria se projeta para o núcleo ventral posterolateral (VPL) do tálamo (tálamo ventrobasilar). Daqui, os neurônios talâmicos se projetam para o córtex somatossensorial primário (SI). Esse sistema é utilizado principalmente para a localização de estímulos dolorosos. ● Dor crônica (prolongada e difusa) → Espinorreticular talâmica / Via paleoespinotalâmica - Estímulos químicos. A Atividade do Sistema Paleoespinotalâmico pode Transmitir uma Percepção Desagradável de Dor Filogeneticamente, a via paleoespinotalâmica é a mais antiga das duas vias que conduzem a sensação dolorosa. Os axônios das células da lâmina V*, como os da lâmina I, cruzam a linha média nas proximidades do seu nível de origem e ascendem no sistema anterolateral. Os axônios das células da lâmina V terminam, quase exclusivamente, no tronco encefálico, e não no tálamo. No tronco encefálico, essas fibras alcançam a formação reticular, o colículo superior e a substância cinzenta periaquedutal. Um sistema de fibras ascendentes, principalmente a partir da formação reticular, segue rostralmente para os núcleos intralaminares e núcleos posteriores do tálamo, assim como para regiões do hipotálamo. Os sinais de dor transmitidos ao longo dessa via são localizados apenas em uma grande parte do corpo. Por exemplo, se a origem do estímulo está no lado esquerdo, ele pode ser localizado “em algum lugar” no membro superior esquerdo. • O papel do córtex SI na percepção da dor não está completamente claro. A remoção completa do córtex SI não elimina a percepção da dor. Entretanto, tais lesões podem interferir na capacidade de interpretar a qualidade da dor e determinar a sua localização exata. • O fato de as zonas reticulares do tronco encefálico e dos núcleos talâmicos intralaminares receberem a entrada da via paleoespinotalâmica está relacionado à capacidade do tronco encefálico de acionar o sistema ativador de alerta, explicando por que indivíduos com síndromes de dor crônica têm dificuldade de dormir. DOR AGUDA DOR CRÔNICA Via espinotalâmica (neoespinotalâmica) Via espinorreticulotalâmica (paleoespinotalâmica) Dor rápida Dor lenta Dor localizada Dor difusa Fibras Aδ Estímulos mecânicos e térmicos Fibras C Estímulos químicos Nociceptores específicos Nociceptores polimodais Principal neurotransmissor: GLUTAMATO Principal neurotransmissor: SUBSTÂNCIA P Lâmina 1 Lâmina 5 VPL Substância reticular Via mais curta Via mais longa Sistema de supressão da dor no cérebro e na medula espinal (“analgesia”) O grau com que os indivíduos reagem a estímulos dolorosos têm uma variabilidade acentuada, em grande parte por causa de um mecanismo de supressão da dor (analgesia) que reside no sistema nervoso central. Esse sistema de supressão da dor é constituído por três componentes principais: • A substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e da parte rostral da ponte recebe a entrada das vias ascendentes de dor, além de projeções descendentes do hipotálamo e de outras regiões da parte anterior do cérebro. • O núcleo magno da rafe (serotonina) e o núcleo paragigantocelular (norepinefrina) no bulbo recebem sinais da substância cinzenta periaquedutal e se projetam aos neurônios na coluna posterior da medula espinal. • Na coluna posterior, os interneurônios secretores de encefalina recebem a entrada de vias descendentes serotoninérgicas dos axônios no núcleo magno da rafe e este último estabelece contato sináptico direto com fibras de dor da entrada, criando uma inibição tanto pré-sináptica quanto pós-sináptica do sinal de entrada. Esse efeito parece mediado pelo bloqueio nos canais de cálcio na membrana da fibra sensitiva terminal. Sistema Opióide Encefálico – as Endorfinas e as Encefalinas Os neurônios da substância cinzenta periaquedutal e do núcleo magno da rafe (mas não os neurônios reticulares bulbares noradrenérgicos)possuem receptores opiáceos nas suas membranas de superfície. Quando estimulados por opioides compostos administrados exogenamente (analgésicos) ou por agentes neurotransmissores opiáceos endógenos (endorfinas e encefalinas), encontrados no cérebro, o circuito de supressão de dor é ativado, o que conduz à redução da percepção da dor. A Sensação de Dor é Inibida por Determinados Tipos de Estimulação Tátil A ativação de grandes fibras sensitivas das raízes posteriores que conduzem sensações táteis parece suprimir a transmissão dos sinais de dor na coluna posterior, provavelmente por meio de circuitos inibitórios laterais. Embora tais circuitos ainda sejam mal compreendidos, essa atividade provavelmente explica por que o alívio da dor é obtido simplesmente esfregando a pele na área onde está presente um estímulo doloroso.
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