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Julia Paris Malaco – ambulatório anestesiologia Ambulatório – fisiopatologia da dor Os estímulos dolorosos são captados por terminações nervosas livres que liberam seus neurotransmissores (bradicina, histamina, etc) que ativam nociceptores que vão transportar a informação. Estas terminações nervosas livres são classificadas de acordo com os estímulos que as ativam em: mecanonocicetores (pressão e alfinetada), nociceptores silenciosos (inflamação), mecanotermicos polimodais (pressão excessiva, temperatura extrema, substâncias produtoras de calor e halógenos). Os exteroceptores estão localizados na superfície externa do corpo ou próximo a ela. Os interoceptores ou visceroceptores estão localizados nos vasos sanguíneos, nos órgãos viscerais e nos músculos Os proprioceptores estão localizados nos músculos, tendões, articulações e orelha interna. Etapas da nocicepçao: Percepção: impulso é integrado e percebido como dor. Transdução: impulso doloroso é recebido pelos nociceptores e transformado em potencial de ação Transmissão: impulso é conduzido até a coluna posterior medula espinal. Modulação: no CDME o impulso é modulado antes de chegar a níveis superiores do SNC. Nociceptores específicos: mecânicos e térmicos Nociceptores polimodais: químicos A sensação dolorosa é percebida por recetores de alto limiar e conduzida por fibras de pequeno calibre mielinizadas ou desmielinizadas. As fibras A conduzem sensações dolorosas agudas imediatas e bem localizadas, enquanto que as fibras C, de condução mais lenta, uma dor mais tardia e difusa. Os nociceptores têm a capacidade de sintetizar substâncias que podem contribuir para a transmissão ou modulação da informação dolorosa para o corno posterior da espinhal medula como o glutamato (o neurotransmissor excitatório mais abundante no sistema nervoso), substância P ou o peptídeo relacionado com o gene da calcitonina, fator neurotrófico derivado do encéfalo, prostaglandinas, ATP e óxido nítrico. Os receptores nociceptivos modificam-se lentamente, gerando dor prolongada em decorrência da alteração da sua estrutura anatômica e funcional e da liberação de substâncias algiogênicas nos tecidos. A sensibilização dos neurônios periféricos gera hiperalgesia termomecânica primária e a dos neurônios centrais hiperalgesia mecânica secundária. As anormalidades neuroplásticas segmentares e supra-segmentares são responsáveis pela sua cronificação. Julia Paris Malaco – ambulatório anestesiologia A transformação dos estímulos ambientais em potenciais de ação que são transmitidos ao SNC pelas fibras dos nociceptores desencadeia o primeiro passo para a génese da sensação dolorosa (transdução). Os nociceptores codificam o tipo de estímulo, sua intensidade e localização. A localização depende da distribuição somatotópica dos terminais dos nociceptores no corno dorsal da espinhal medula e a intensidade do estímulo determina o número e a frequência dos potenciais de ação. Os neurónios nociceptivos específicos transmitem estímulos nocivos, mas os WDR recebem igualmente estímulos não-nocivos a partir das fibras C, A e A. A lâmina I responde principalmente a estímulos nocivos provenientes do tecido cutâneo e profundo. O trato espinotalâmico é considerado como a principal via de dor. Situa-se anterolateralmente na substância branca da medula e projeta as suas fibras para o tálamo, formação reticular, núcleo magno do rafe e substância cinzenta periaquedutal. Divide-se em trato ascendente lateral (neoespinotalamico) e medial (paleoespinotalamico). O primeiro é responsável pelos aspectos discriminativos da dor (localização, intensidade e duração). O segundo é responsável por mediar as percepções autonómicas e emocionais desagradáveis da dor. Algumas fibras espinotalâmicas projetam-se na substância cinzenta periaquedutal constituindo uma importante ligação entre as vias ascendentes e descendentes. As fibras colaterais projetam-se igualmente para o sistema de ativação reticular e hipotálamo, sendo responsáveis pela resposta explosiva da dor. O tálamo (região sensitiva) recebe as principais vias que têm origem na espinhal medula, sendo, por isso, um importante centro de dor, mas não o único. O córtex somatossensitivo e outros sistemas cerebrais que processam a informação relacionada com a dor recebem projeções diretamente da espinhal medula e do tálamo. O tálamo envia projeções para o córtex somatossensitivo que processa informação relacionada com a extensão e propriedades temporoespaciais do estímulo doloroso e ativa respostas neuroendócrinas e cardiovasculares. A formação reticular recebe informação de outras áreas cerebrais e exerce sobre elas uma ação de controlo desempenhando um papel primordial na integração da experiência dolorosa e o desencadear de comportamentos associados à dor (reações repulsivas). O sistema límbico estabelece ligações com a formação reticular, córtex e tálamo e está implicado com a dimensão afetiva e motivacional da dor, que visa a cessação ou o evitamento do estímulo doloroso. O córtex recebe projeções de vários sistemas cerebrais e participa nos processos de cognição relacionados com a memória, afetividade e motivação relacionada com a experiência global de dor, sendo igualmente a sede de ativação dos processos de controle central. Vias da dor Via de tato e propriocepção Tato epicrítico (bem localizado), propriocepção consciente, sensibilidade vibratória. Neurônio I (gânglio espinhal) Neurônio II (núcleos grácil e cuneiforme) Neurônio III (tálamo, NVPL) Os impulsos nervosos para a propriocepção consciente e a maioria das sensações táteis ascendem até o córtex cerebral ao longo da via do funículo posterior-lemnisco medial. O nome da via origina-se dos nomes dos dois tratos de substância branca que conduzem os impulsos: o funículo posterior da medula espinal e o lemnisco medial do tronco encefálico. Os neurônios de primeira ordem na via do funículo posterior-lemnisco medial estendem-se dos receptores sensitivos no tronco e nos membros na medula espinal e ascendem até o bulbo no mesmo lado do corpo. Trata-se dos neurônios mais longos do corpo. Os corpos celulares desses neurônios de primeira ordem encontram-se nos gânglios sensitivos (da raiz posterior) dos nervos espinais. Na medula espinal, seus axônios formam os funículos posteriores, que consistem em três tratos: o fascículo grácil, o fascículo cuneiforme e o lemnisco medial. Após ascender pelos seus respectivos fascículos, os axônios dos neurônios de primeira ordem fazem sinapse com Julia Paris Malaco – ambulatório anestesiologia os dendritos dos neurônios de segunda ordem, cujos corpos celulares estão localizados no núcleo grácil ou no núcleo cuneiforme do bulbo. Os impulsos provenientes da parte posterior da cabeça, pescoço, parte livre dos membros superiores e parte superior do tórax (acima de T VI) propagam-se ao longo dos axônios no fascículo cuneiforme e alcançam o núcleo cuneiforme. Os impulsos provenientes da parte inferior do tórax (abaixo de T VI), do abdome, da pelve e dos membros inferiores propagam-se ao longo dos axônios no fascículo grácil e alcançam o núcleo grácil. (A exceção a essa regra é constituída pelos neurônios proprioceptivos provenientes dos membros inferiores. Eles retransmitem impulsos no núcleo dorsal ou no núcleo torácico de Clarke, na parte torácica da medula espinal e, em seguida, seguem o seu trajeto até o tronco encefálico no trato cerebelar posterior.) Os impulsos para as sensações somáticas provenientes dacabeça alcançam o tronco encefálico por meio de axônios sensitivos que fazem parte dos nervos trigêmeo (V), facial (VII), glossofaríngeo (IX) e vago (X). Os axônios sensitivos somáticos que conduzem impulsos provenientes da face fazem parte, em sua maioria, do nervo trigêmeo (V). Os impulsos conduzidos ao longo da via do funículo posterior-lemnisco medial dão origem a várias sensações altamente evoluídas e refinadas: O toque discriminativo é a capacidade de reconhecer informações específicas sobre uma sensação tátil, como que ponto do corpo é tocado, bem como o formato, o tamanho e a textura da estimulação. A propriocepção é a consciência da posição precisa das partes do corpo, enquanto a cinestesia é a conscientização das direções do movimento. Os proprioceptores também possibilitam a discriminação do peso, isto é, a capacidade de avaliar o peso de um objeto. A sensação vibratória surge quando há estímulos táteis que flutuam rapidamente Via espinotalâmica Constituída pelo trato espinotalâmico lateral Neurônio I (gânglio espinal) Neurônio II (Lâminas I de Rexed) Neurônio III (tálamo, NVPL) Responsável pela sensação de dor aguda/dor rápida e bem localizada na superfície do corpo (dor em pontada), constituída por pelo menos 3 neurônios (pseudounipolares) Possui fibras Adelta (mielinizadas) Trato espinotalamico lateral Neurônio de 1º ordem responde a pressão e temperatura - porque possui fibras Adelta - os neurônios de 1º ordem vao estar localizados nos gânglios espinais das raízes dorsais O neurônio 1 tem prolongamento periférico que vai estar ligado as terminações nervosas livres (nociceptores) e um prolongamento central que penetra na medula Esse estimulo é conduzido para medula espinal Axônio entra no corno dorsal (região de substancia cinzenta onde se tem neurônios de segunda ordem) Do corno dorsal o neurônio de 1º ordem faz sinapse com neurônio de 2º ordem - esses neurônios de 2º ordem ficam especificamente na lamina 1 (que faz a dor ser mais no local exato) Depois disso os axônios se cruzam e vao para o lado oposto, cruzando através da comissura branca e chegam ao funículo lateral do lado oposto, onde ali se acendem e formam o trato espinotalamico lateral e ascendem assim (cruzados) pela medula No nível da ponte se juntam com o trato espinotalamico anterior, nessa junção dos dois tratos (espinotalamico anterior e lateral) forma-se o lemnisco medial Esse lemnisco sobe para o tálamo (no núcleo ventral póstero lateral – VPL), é nesse núcleo que ocorre a sinapse com o neurônio de 3º ordem Os axônios do neurônio de 3º ordem formam radiações talâmicas que através da capsula interna e coroa radiada vao chegar na área sinestésica do córtex cerebral, que é o giro pós central (áreas 1, 2 ,3 de brodman) O principal neurotransmissor na via de dor rápida é o glutamato (predominante e não exclusivo) – potenciais excitatórios pos-sinapticos e localizados através da ativação de receptores glutamatergicos do tipo AMPA – ocorre uma descarga rápida para a necessidade e sua permanência é curta na fenda sináptica. O que sobra de glutamato na fenda é fagocitado pelas células da glia, e além disso ocorre uma recaptaçao através de vesículas para que não se mantenha o neurotransmissor na fenda. Via espinorreticulotalâmica Constituída pelo trato espinoreticular Neurônio I (gânglio espinhal) Neurônio II (lâmina V de Rexed) -sinapse em vários níveis da formação reticular Julia Paris Malaco – ambulatório anestesiologia Neurônio III (formação reticular) -origem às fibras retículo-talâmicas Neurônio IV (tálamo- núcleos intralaminares) - projetam-se p/ territórios amplos do córtex cerebral Responsável pela sensação de dor crônica/dor lenta e difusa (dor em queimação). Não tem organização somatotópica. É responsável por um tipo de dor pouco localizada, dor profunda do tipo crônico. Tem pelo menos 4 neuronios e pode chegar ate 16 (pseudounipolar) Possui fibras C (não muelinizadas) com nociceptores polimodais que respondem a pressão, temperatura e estímulos quimcos O estimulo é recebido e o neurônio de 1º ordem estimula o de 2º ordem na lamina 5 (dor difusa) Projeção ascendente – ascende em direção ao sistema reticular – neurônio segundario faz o caminho (inicialmente ele esta localizado no corno posterior) Axônios vao para funículo lateral oposto ou de mesmo lado (pode cruzar ou não) Ascendem como trato espinorreticular (localizado no tronco encefálico), as fibras do trato espinorreticular se juntam com as fibras do trato espinotalamico lateral onde terminam fazendo sinapse com os neurônios de 3º ordem (localizado na formação reticular) Formação reticular – neurônio de 3º ordem faz sinapse - sinapse com neurônios terciários pode ocorrer em qualquer nível do sistema reticular (qualquer nível desse trajeto) Neurônios de 3 ordem dao origem as fibras reticulotalamicas que terminam nos núcleos do grupo medial do tálamo (núcleos intralaminais) Núcleos intralaminais fazem sinapse com todas as áreas do cortex - acionam áreas límbicas (memoria afetiva relacionada a dor), núcleos da base (ativa cortex pre frontal - atenção voltada para a dor), cortex sensoriais (define de onde vem a dor) O principais neurotransmissores são glutamato e substancia P (predominantes e não exclusivos) – potenciais excitatórios pos-sinaptico lentos e difusos – permanência longa na fenda sináptica (faz com que seja uma ‘’dor latejante’’) Modulação da dor Projeções ascendentes: fibras Abeta (táteis), são mielinizadas– ativação de interneuronios inibitórios (estimula a inibição). O neurônio 2 é comum a via da dor e a via do tato, então competem, como as fibras ambas são mielinizadas, a que tem mais mielina ganha, que é a fibra Abeta que é de sensação tátil, então ela ganha e leva só a sensação tátil de pressão e não de dor Quer dizer que, o neurônio de 2º ordem ao invés de avisar que está sentindo dor, avisa que está sentindo uma pressão Teoria da comporta: Alguns estímulos sensoriais (tátil, por exemplo) são transmitidos através de fibras de grosso calibre, do tipo A, que são de velocidade rápida, os estímulos da dor são transmitidos através de fibras de menor calibre, do tipo C, que são lentas. Esses estímulos sensoriais chegam primeiro ao corno posterior da medula, e despolarizam a substância gelatinosa de Holando, impedindo que os estímulos da dor passem para o tálamo. Assim, as comportas (ou portões) da dor são fechadas. A característica da teoria das comportas inclui neurônios sensoriais (A-Beta), neurônios sensoriais (A-delta-C), a substância gelatinosa que corresponde a lâmina II e III do corno posterior da substância cinzenta da medula e uma célula de transmissão T, também conhecido como uma célula-tracto (via) ou neurônio de 2ª ordem. Ambas (A-Beta) e (A-delta-C) fazem conexão com a substância gelatinosa e no neurônio de 2ª ordem. A substância gelatinosa age como um "modulador" pré-sináptico das fibras largas e finas antes da função com a célula T. Quando a substância gelatinosa está ativa, um aumento de controle pré-sináptico nos axônios de 1ª ordem acontece e a comporta está relativamente fechada, ou seja, diminuindo a quantidade sensorial (da dor) chegando ao 2º neurônio. Por outro lado, a redução na atividade da substância gelatinosa resulta na diminuição do controle pré-sináptico e o portão é considerado "aberto", isto é, o número de informações sensitivas chegando na célula T não é relativamente alterado. O equilíbrio de atividade nos neurônios sensitivos largos e finos determina a posição do "portão". Se as fibras largas aferentes são ativadas, um aumentoinicial na atividade da célula T acontece e é seguido por uma redução da atividade. Esse aumento inicial é devido uma ativação direto da célula T pelas fibras aferentes. A redução é um resultado indireto trazido pelas próprias fibras largas que acabam ativando as células da substância gelatinosa, o que consequentemente Julia Paris Malaco – ambulatório anestesiologia levará a uma inibição pré-sináptica das fibras aferentes. Isso faz com que o "portão" se feche. Entretanto, se as fibras (finas) são ativadas, o aumento inicial na célula T é devido a atividade aferente primária. As fibras finas aferentes também atuam nos interneurônios inibitórios que inibem a atividade da substância gelatinosa. O resultado é a diminuição do controle pré-sináptico nas fibras "largas e finas" e o portão abre. Projeções descendentes: neurônios do locus ceruleus (ponte) liberação de norepinefrina/noradrenalina (estimula hiperneuronios que fecham os canais de cálcio impedindo a liberação de neurotransmirroes) inibição da liberação de substancia P, impedindo a excitação pro neurônio de 2 ordem que não terá estimulo Neurônio periaquedutal: encefalinas (leucina e metionina-encefalina), dinorfinas e betaendorfinas neurônio de 1º ordem inativam canais de cálcio diminuindo a liberação de glutamato e substancia P, inibindo 2º ordem neurônios de 2º ordem abrem canais de potássio com consequente hiperpolarizaçao. Limiar da dor Limiar da dor: Corresponde a mínima intensidade de um estímulo que é percebida como dolorosa. Quando a dor atinge uma intensidade que não é mais suportada por esta pessoa dizemos que ela atingiu o limiar de tolerância, que é a pior dor possível, aquela que já não pode mais ser aguentada. A diferença entre o limiar de dor (quando a dor começa) e o limiar de tolerância (quando a dor não é mais suportada) é denominada de resistência a dor Hiperagelsia: Dor exacerbada após estímulo nociceptivo. (dor exagerada após pequena agulhada.) Hiperpatia: Reação álgica intensa e exagerada após estímulos repetitivos. (Agulhamento sequencial em mesmo ponto da pele; fenômeno de somação.) Parestesia: sensação anormal, geralmente não desagradável, espontânea ou provocada, como formigamento, adormecimento. Disestesia: Sensação anormal, espontânea, desconfortável, dolorosa. Hiperalgesia periférica: estímulos que antes não deflagravam informação dolorosa agora o fazem. O exemplo clássico desse fenômeno, chamado sensibilização periférica, corresponde à experiência de que “tudo bate no dedinho que está machucado”. Esse aumento na sensibilidade nociceptiva é decorrente de uma variedade de compostos químicos liberados no local da lesão, incluindo bradicinina, histamina, prostaglandinas, acetilcolina, leucotrienos, serotonina e substância P, que reduzem o limiar de despolarização dos nociceptores. A PgE2 é um metabólito do ácido araquidônico produzido pela enzima ciclo-oxigenase, liberada de tecidos com lesão celular e processo inflamatório. Essa enzima é bloqueada por anti-inflamatórios analgésicos, como no caso da aspirina. Hiperalgesia central: é decorrente da intensa estimulação das fibras C, liberando glutamato nas fendas sinápticas no corno posterior e ativando receptores glutamatérgicos do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA). Receptores tipo NMDA são capazes de produzir alterações persistentes de potencial de membrana assim como o fazem na potencialização de longo prazo, mecanismo envolvido na memória. A hiperalgesia central, também chamada de sensibilização central, inclui mecanismos de indução genética com regulação positiva para a expressão de neuropeptídeos, neurotransmissores e receptores, alterando a excitabilidade de neurônios do corno dorsal, podendo causar dor espontânea (alodinia)
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