Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO em PRECEPTORIA EM SAÚDE unidade 1 A compreensão da segurança do paciente e suas interfaces com a complexidade dos sistemas de saúde e os fatores humanos Cristiane Ribeiro de Melo Lino Gabriela de Sousa Martins Melo de Araújo SEGURANÇA DO PACIENTE 2 SEGURANÇA DO PACIENTE CONTEUDISTAS: CRISTIANE RIBEIRO DE MELO LINO GABRIELA DE SOUSA MARTINS MELO DE ARAÚJO RESUMO O Módulo Segurança do Paciente tem como objetivo apresentar aos profissionais de saúde que atuam como preceptores os aspectos fundamentais que embasam o desenvolvimento da segurança do paciente, assim como as principais abordagens, estratégias e intervenções multidisciplinares para promoção de cuidados de saúde qualificados e seguros. Os conteúdos estão organizados em duas unidades, cada uma com três aulas. Na Unidade 1, “A compreensão da segurança do paciente e suas interfaces com a complexidade dos sistemas de saúde e os fatores humanos”, são abordadas as principais terminologias e o histórico da segurança do paciente e suas interfaces com a complexidade dos sistemas de saúde, bem como é feita a abordagem de fatores humanos para auxiliar os profissionais de saúde que atuam como preceptores a compreenderem os efeitos dessas interfaces sobre a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde. Na Unidade 2, “Abordagens, estratégias e intervenções de qualidade e segurança do cuidado em saúde”, são apresentadas estratégias como, por exemplo, identificação dos erros para aprender com eles, e intervenções de segurança do paciente, como trabalho em equipe e comunicação eficazes, além de métodos de melhoria da qualidade. 3 EMENTA Introdução aos conceitos e aspectos fundamentais da segurança do paciente. Compreensão sobre os sistemas e efeitos da complexidade nos cuidados de saúde. Reflexão sobre a importância dos fatores humanos para a segurança do paciente. Interfaces entre a preceptoria e a segu- rança do paciente: abordagens do erro; aprendizados a partir dos erros; reconhecimento dos incidentes de segurança; gerenciamentos de riscos; revelação dos eventos adversos; comunicação eficiente; envolvimentos dos pacientes e cuidadores; trabalho em equipe; cuidado centrado no paciente e cultura de segurança do paciente. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Apresentar conceitos básicos e aspectos estruturan- tes da segurança do paciente e abordagens/estratégias/ intervenções de segurança e de qualidade com vistas a fomentar as competências necessárias que podem ser incorporadas ao exercício da preceptoria para alcançar a segurança do paciente. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Conhecer e aplicar os conceitos e termos-chave da segurança do paciente; • Compreender os sistemas de saúde e o efeito da complexidade no cuidado em saúde; • Refletir sobre a importância dos fatores humanos para a segurança do paciente; • Identificar estratégias que podem ser incorporadas ao exercício da preceptoria para alcançar a segurança do paciente. CONTEÚDO UNIDADE 1: A COMPREENSÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE E SUAS INTERFACES COM A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS DE SAÚDE E OS FATORES HUMANOS AULA 1: Segurança do paciente: histórico, conceitos e aspectos fundamentais AULA 2: A complexidade dos sistemas de cuidados de saúde e as abordagens do erro AULA 3: Abordagem de fatores humanos e a segurança do paciente UNIDADE 2: ABORDAGENS, ESTRATÉGIAS E INTERVENÇÕES DE QUALIDADE E SEGURANÇA DO CUIDADO EM SAÚDE AULA 1: Identificação e prevenção de erros e eventos adversos e estratégias para o aprendizado a partir da ocorrência de erros AULA 2: Por que atuar em equipe e desenvolver uma cultura de segurança são elementos essenciais para segurança do paciente? AULA 3: Métodos de melhoria da qualidade e segurança do cuidado em saúde UNIDADE 1: A COMPREENSÃO DA SEGURANÇA DO PACIENTE E SUAS INTERFACES COM A COMPLEXIDADE DOS SISTEMAS DE SAÚDE E OS FATORES HUMANOS 6 AULA 1 - Segurança do paciente: histórico, conceitos e aspectos fundamentais OBJETIVOS DA AULA: • Apresentar e aplicar os conceitos e termos-chave da segurança do paciente. • Apresentar um breve histórico sobre a segurança do paciente no mundo e no Brasil. Caro aluno, para que possamos falar da segurança do paciente, é fundamental que se conheça os conceitos e princípios da segu- rança do paciente e um breve histórico dela. Saber um resumo da estrutura conceitual, incluindo uma análise dos conceitos- -chave relacionados à área e as suas aplicações práticas, e como tudo começou, ajudará a refletir sobre todo o processo e facilitará a organização sistemática e a análise de informa- ção relevante sobre o tema, possibilitando a compreensão do seu papel em minimizar a incidência e impacto dos eventos adversos e em maximizar a recuperação após sua ocorrência. Vamos começar nossos estudos? O que você entende por segurança do paciente? O conceito de segurança do paciente se refere à redução dos riscos de danos desnecessários associados ao cuidado em saúde até um míni- mo aceitável, segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2009. Sendo assim, não podemos esquecer o aforismo de Hipócrates, “Primum Non Nocere”, ou seja, “primeiro não causar dano”. A essência desta área é garantir que tal filosofia seja praticada, produ- zindo um cuidado em saúde que não cause mal ao paciente, a partir das melhores práticas descritas, de recursos disponíveis e do contexto em que o cuidado foi realizado, de forma a alcançar os melhores resul- tados possíveis para o paciente. 7 Então, o que são esses danos desnecessários? Os danos desnecessários são conhecidos como EVENTOS ADVERSOS, os quais são danos não intencionais causados pela prestação de cuida- dos de saúde, não relacionados à evolução natural da doença de base ou lesão subjacente, resultando em lesões mensuráveis, prolongamento do tempo de internação ou incapacidade. O incidente também pode atin- gir o paciente, mas não resultar em danos com comprometimento de estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito prejudicial decorrente disso, recebendo a classificação de INCIDENTE SEM DANO. A importân- cia da identificação do conceito reside na indicação da possibilidade de falhas, refletindo a dicotomia entre o cuidado real e o cuidado ideal. O Quadro 1 descreve os conceitos-chave para compreensão da seguran- ça do paciente: CONCEITOS DEFINIÇÃO Agente Substância, objeto ou sistema que age para produzir mudança Circunstância Situação ou fator que pode influenciar um even- to, agente ou pessoa Perigo Circunstância, agente ou ação que pode causar dano Erros Falha na execução de uma ação corretamente planejada ou aplicação de um plano incorreto Violação Desvio deliberado de um procedimento, padrão ou regra vigente Incidente Evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente Dano Comprometimento da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito prejudicial decor- rente disso. Inclui doenças, lesão, sofrimento, incapacidade e morte Risco Probabilidade de um incidente ocorrer Detecção Ação ou circunstância que resulta na descoberta de um incidente 8 CONCEITOS DEFINIÇÃO Fatores contribuintes Circunstâncias, ações ou influências que se acre- dita terem contribuído para origem ou desen- volvimento de um incidente ou no aumento do risco de incidente Fator atenuante Ação ou circunstância que previne ou modera o risco de um incidente causar lesão ao paciente Quadro 1 - Definição de conceitos-chave para compreensão da segurança do paciente. Fonte: Marco conceitual da OMS para classificação internacional relativa à segurança do paciente. Relatório Técnico Final 2009 (WHO, 2009). Atualmente, há conscientização e provas abundantes de que os cuida- dos em saúde podem causar danos e de que não ocorrem por intenção dos profissionais, e sim pela complexidade dos sistemas de saúde, indo além das competências de cada profissional da saúde. Contudo, o profissional de saúde deve compreender as categoriasde possíveis cir- cunstâncias que poderiam resultar em danos ao paciente. Você sabia que existe uma classificação internacional que classifica o incidente relacionado ao cuidado em saúde? Na figura a seguir, essas classificações são definidas e exemplificadas para melhor entendimento. 9 INCIDENTE Reduzido nº de profissionais para o plantão, mas nenhum incidente ocorre Circunstância notificável Potencial significativo para o dano, mas o incidente não ocorreu Prescrição de medicamento para paciente alérgico; profissional prepara o medicamento, mas percebe a falha antes da administração Near miss (quase erro) Incidente que não atingiu o paciente Mensuração dos sinais vitais de forma incompleta Incidentes sem dano Incidente que atingiu o paciente, mas não causou dano Instalação de bolsa de sangue em paciente homônimo àquele que deveria recebê-la e o paciente desenvolve reação febril Incidentes com dano Evento adverso Evento sentinela (eventos que causam danos graves ou morte) Figura 1 - Classificação dos incidentes no cuidado em saúde e exemplos. Fonte: WHO (2009). A preocupação com a segurança nos serviços de saúde geralmente é associada com as avaliações tecnológicas e de qualidade. A área da saúde vem incorporando alta tecnologia e uma diversidade de novas práticas, como avanços relacionados ao diagnóstico e à terapêutica. Contudo, mesmo com tantas inovações relacionadas ao cuidado em saú- de, ampliação do acesso aos serviços de saúde e globalização das infor- mações, verifica-se que a assistência oferecida aos pacientes ocasiona a estes uma série de riscos que, na maioria das vezes, são desnecessários. 10 Saiba mais Você já parou para pensar quais são os erros mais comuns relacionados à assistência em saúde? Em 25 de maio de 2017, o INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANÇA DO PACIENTE (IBSP) divulgou uma matéria com a lista dos cinco erros mais comuns e suas potenciais consequências, sendo eles: 1) diagnóstico errado; 2) erros na prescrição de medicamentos; 3) misturar tipos de sangue diferentes; 4) confundir pacientes; e 5) não lavar as mãos. Saiba mais sobre a matéria no link: <https:// www.segurancadopaciente.com.br/seguranca-e-gestao/5-erros- comuns-que-ocorrem-na-assistencia-a-saude/>. No transcorrer de todo o processo do cuidado em saúde, os indivíduos têm o direito de receber por meio dos serviços de saúde uma atenção de qualidade que traga benefícios para eles, assim como satisfação. Em relação à qualidade, essencial para o desenvolvimento e aperfeiçoa- mento das práticas assistenciais, esta pode ter um caráter de definição bastante subjetivo, sendo uma temática de ampla discussão. Vale salientar que a procura pela qualidade no campo da saúde não se trata de uma preocupação do último século, apesar do campo da segurança do paciente ser algo mais recente. No Brasil, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) definiu os conceitos-chave na área da Segurança do Paciente e as estratégias fundamentais para sua implementação, além de instituir a possibilidade da disponibilização de incentivos financeiros para desenvolvimento de atividades na área do programa, de forma que suas ações possam se arti- cular às políticas de saúde existentes no país e aos cuidados na redução de riscos e danos aos pacientes. Destacamos a primeira medida associada à iniciativa, que é a obrigatoriedade de todos os hospitais do país, sejam públicos ou privados, instituírem os Núcleos de Segurança do Paciente, os quais deverão promover ações para gestão de risco no serviço de saúde e integração multiprofissional nos processos de saúde, além de implantar e acompanhar o uso dos Protocolos de Segurança do Paciente. ACESSO NA PLATAFORMA LINHA DO TEMPO 1 https://www.segurancadopaciente.com.br/seguranca-e-gestao/5-erros-comuns-que-ocorrem-na-assistencia-a-saude/ https://www.segurancadopaciente.com.br/seguranca-e-gestao/5-erros-comuns-que-ocorrem-na-assistencia-a-saude/ https://www.segurancadopaciente.com.br/seguranca-e-gestao/5-erros-comuns-que-ocorrem-na-assistencia-a-saude/ 11 Você conhece os seis protocolos lançados pelo PNSP? Na sua instituição de saúde eles estão implementados? Os protocolos desenvolvidos propõem-se a orientar profissionais na ampliação e na melhoria da segurança do paciente nos serviços de saúde, sendo eles: 1) cirurgia segura; 2) prática de higiene das mãos em serviços de saúde; 3) prevenção de úlcera por pressão; 4) identificação do paciente; 5) segurança na prescri- ção, uso e administração de medicamentos; 6) prevenção de quedas. Vale a pena realizar uma leitura mais aprofundada sobre o programa. Para tanto, saiba mais sobre sua implantação, protocolos e outros assuntos sobre o tema no site: <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/ programa-nacional-de-seguranca-do-paciente-pnsp>. Após o conhecimento da trajetória histórica da segurança do paciente e suas influências nas ações mundiais e nacionais, fica claro que, desde tempos antigos, mesmo que de forma incipiente, havia uma preocupação daqueles ligados à assistência em saúde sobre os cuidados seguros. Con- tudo, houve um ritmo lento e alertas ignorados ao longo do tempo, por vezes com consequências irreversíveis. Ainda assim, foi possível perceber uma crescente mudança no pensamento e na forma de agir sobre os erros na área da saúde, com foco na necessidade de prestação de um cuidado seguro e de qualidade, envolvendo motivação e conscientização dos servi- ços de saúde, da alta gestão e dos profissionais dos serviços de saúde. Para refletir Ao refletir sobre suas experiências, você consegue imaginar que pode cometer falhas durante sua assistência ao paciente? Você já presenciou algum erro ou falha nos cuidados em saúde no seu ambiente de trabalho ou de estudo? Como esse erro foi trabalhado dentro da instituição de saúde e junto aos cola- boradores? O foco foi em um membro individual da equipe de saúde ou foram abordadas as falhas do sistema de proteção ao paciente e prevenção de incidente? Para aplicarmos os princípios e conceitos de segurança do paciente em nossos locais de trabalho e de estudo, muito além de uma formação específica em qualidade e segurança, é fundamental que os profissionais saibam usar uma diversidade de técnicas, de modo que desenvolvam competências e estejam sempre alerta para o fato de que sempre algo pode dar errado, em todas as situações. O treinamento para isso começa na formação profissional e continua durante o transcorrer da vida profissional. Aprender como trocar de função e ver pela perspectiva do http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-de-seguranca-do-paciente-pnsp http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-nacional-de-seguranca-do-paciente-pnsp 12 outro, compreender os múltiplos fatores envolvidos nas falhas, praticar cuidados com base em evidências científicas e manter a continuidade dos cuidados aos pacientes, ter consciência da importância do seu bem-estar, de seus pares e demais colegas, assim como agir de maneira ética todos os dias são aspectos fundamentais para o trabalho em equipe eficaz, com segurança e qualidade. 13 AULA 2 - A complexidade dos sistemas de cuidados de saúde e as abordagens do erro Organização dos sistemas de saúde e a complexidade dos cuidados ao paciente. Pensamento sistêmico, abordagem tradicional e abordagem sistêmica do erro. OBJETIVOS DA AULA: • Definir sistemas e sistemas complexos. • Apresentar a relação entre os sistemas complexos e as abordagens do erro – tradicional e sistêmica – para auxiliar os profissionais de saúde que atuam como preceptores a compreenderem porque a abordagem sistêmica é superior à abordagem tradicional e promove melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. Agora que você já aprendeu um pouco mais sobre os conceitos funda- mentais da segurança do paciente, vamos começar a discutir as bases que fundamentarão o desenvolvimento de cuidados de saúde mais seguros!Alguma vez você já ouviu falar que os sistemas de saúde são complexos? Você já parou para pensar no que isso significa? Já refletiu sobre como isso pode interferir na forma como os cuidados de saúde são prestados e em como os riscos são tratados? Pois bem, nesta aula, você poderá aprender um pouco mais sobre esse tema tão relevante, que representa o arcabouço do pensamento que embasa o desenvolvimento do tema segurança do paciente. Mas antes de seguir adiante, primeiro vamos compreender o que é um sistema? Quando você estava na graduação, certamente estudou vários sistemas orgânicos, por exemplo, e deve lembrar que esses sistemas são compos- tos de várias partes, com diferentes tamanhos, estruturas e funções, que continuamente trocam informações e interagem de forma dinâmica, se transformando para conseguir funcionar adequadamente. Dessa forma, podemos concluir que os sistemas são conjuntos de duas ou mais ou partes ou componentes que trocam informações, interagin- do internamente (entre as partes) e externamente (com outros sistemas 14 ou subsistemas), promovendo transformações que formam uma estru- tura organizada e funcional. As principais características de um sistema são a interdependência entre as partes e um processo contínuo de entra- da, transformação interna, saída e feedback. Assim, um sistema funcio- nará tão bem quanto melhor acontecerem interações e trocas entre as partes integrantes. E O QUE SERIA ENTÃO UM SISTEMA COMPLEXO? Quanto mais partes um sistema possui, maior será a necessidade de interação entre elas. Quando um sistema possui uma grande quantida- de de partes, torna-se muito difícil, e por vezes até impossível, prever qual será o comportamento do todo com base no conhecimento das partes. Quando isso acontece, dizemos que o sistema é complexo. Ambientes (variações na disposição física dos ambientes clínicos) Relações (entre pacientes, cuidadores, profissionais de saúde, funcionários de apoio, administradores, parentes e membros da comunidade) Novas tecnologias Pacientes (diversidade, vulnerabilidade) Organizações e alternativas envolvidas nos cuidados (diversidade) CUIDADOS DE SAÚDE Regulamentos (variabilidade ou falta) Tarefas (envolvidas nos cuidados ao paciente) Profissionais de saúde (diversidade, interdependência, especialização excessiva) 15 Se transferirmos esse conceito de sistema para sua realidade de trabalho, podemos compreender, por exemplo, que uma organização hospitalar pode ser considerada um grande sistema complexo, composto de várias partes (unidades assistenciais, de apoio técnico, de suporte, administra- tivas, centros fornecedores, etc.). Tais partes possuem corpo de profis- sionais e trabalhadores diversificados, com formações, conhecimentos, habilidades e comportamentos individuais diferentes, trabalhando numa infraestrutura, com recursos tecnológicos e terapêuticos, precisando se comunicar/interagir continuamente e de forma cooperativa para prestar cuidados de saúde de qualidade, seguros, custo-efetivos e que atendam às necessidades dos clientes (pacientes) com o menor risco possível. Readmissão da paciente na unidade de internação Envolve a readmissão da paciente para continuidade da assistência pós-operatória pelas equipes de enfermagem e médica: • são realizadas novas avaliações • dar-se início ao processo assistencial conforme rotinas e protocolos institucionais (até que a mesma apresente condições de receber alta hospitalar) 5 6 Admissão da paciente no hospital pelo setor administrativo Responsabilidades do setor: • checar autorização do procedimento e da internação • solicitar a vaga à unidade de enfermaria cirúrgica • informar à enfermeira do centro cirúrgico a admissão da paciente. Admissão da paciente na unidade de internação Avaliação pela equipe de enfermagem (técnicos e enfermeiros): • exame físico • entrevista • checagem dos exames pré-operatórios e risco cirúrgico • verificação de necessidade de transfusão sanguínea • orientações quanto ao procedimento cirúrgico e preparo • realização do preparo da pele da paciente para a cirurgia • retirada de adornos, pertences e próteses removíveis • transporte da paciente Avaliação do cirurgião e consulta pré-anestésica pelo médico anestesiologista: • exame físico • entrevista • checagem dos exames pré-operatórios e risco cirúrgico • verificação de necessidade de transfusão sanguínea • pesquisa de alergias medicamentosas Neste momento, a equipe cirúrgica: • fornece explicação dos procedimentos que serão realizados durante a cirurgia e anestesia à paciente • coleta a assinatura do consentimento Após essa etapa inicial, a equipe multiprofissional: • define e conduz os cuidados que fazem parte do preparo pré-operatório da paciente • encaminha a paciente ao Bloco Cirúrgico Transporte da paciente até a unidade de internação Transporte da paciente até o Bloco Cirúrgico Admissão da paciente no Bloco Cirúrgico Envolve a admissão da paciente pelas equipes de enfermagem e médica (cirurgião e anestesiologista): • são realizadas novas avaliações da paciente • checagens de exames, materiais e insumos • processos pré-operatórios imediatos Em seguida, a paciente é encaminhada à sala operatória: • acontece o procedimento anestésico-cirúrgico propriamente dito Após a realização da cirurgia: • a paciente é encaminhada para a Unidade de Recuperação pós-Anestésica, localizada no próprio Bloco Cirúrgico Quando apresenta condições de alta da anestesia: • a paciente é encaminhada para unidade de internação para receber assistência pós-operatória 1 2 3 4 16 A compreensão dos sistemas de saúde auxilia os profissionais de saúde a prevenirem eventos adversos, e também a terem uma conduta mais proativa durante a análise e a condução de situações em que ocorreram erros e violações, que produziram incidentes e/ou eventos adversos. Quando os profissionais de saúde não analisam as situações com base num pensamento sistêmico acerca dos cuidados de saúde, são inclina- dos a focar somente nos indivíduos envolvidos diretamente em incidentes de segurança (profissionais que atuam na ponta do sistema), culpando-os e desconsiderando todos os muitos outros fatores que geralmente contri- buíram para a ocorrência dessas situações. Essa forma de analisar e conduzir situações de erros e eventos adver- sos é conhecida como abordagem tradicional ou punitiva ou do sujeito. Em geral, essa abordagem acaba inibindo a notificação dos incidentes de segurança, contribuindo para a manutenção da cultura da culpa e dificultando o aprendizado a partir do erro. Em contrapartida, a abordagem sistêmica reconhece a complexidade dos sistemas de saúde e, portanto, a variedade de fatores que podem contribuir para ocorrência de falhas. Sua premissa básica é a falibilida- de dos seres humanos e, portanto, a aceitação do fato de que, mesmo em organizações de excelência, erros e eventos adversos irão aconte- cer. O foco dessa abordagem está em melhorar o desenho do sistema, por compreender que, embora seja difícil modificá-lo, mas difícil ainda é modificar a mentalidade e os comportamentos das pessoas, sendo, desse modo, impossível mudar o fato de que seres humanos, por mais competentes e responsáveis que sejam, irão errar. Nesse sentido, James Reason apontou diversos fatores que podem con- tribuir para a ocorrência de falhas nos sistemas de saúde, entre eles, os relativos a pacientes e profissionais, à equipe, ao ambiente, a tecnologias e ferramentas e à organização. A partir dessa perspectiva, o autor desen- volveu o modelo do queijo suíço, que ficou conhecido mundialmente. Segundo esse modelo, as barreiras de defesa assemelham-se a fatias de queijo suíço, ou seja, possuem muitos furos, que representam falhas ativas (erros ou violações cometidos por profissionais que provocam eventos adversos imediatos) e falhas latentes do sistema (condição pré- via fundamental para que o evento adverso ocorra, resultante de ações gerenciais,isto é, de pessoas que não atuam na linha de frente, como, por exemplo, desenhos de processos organizacionais inadequados e decisões administrativas de alto risco, como manter uma quantidade inadequada de recursos humanos). Normalmente, furos isolados (falhas isoladas) em uma camada (barrei- ra de defesa) são insuficientes para atingir pacientes e causar danos, no entanto, quando ocorre um alinhamento de furos (falhas ativas 17 e latentes) em várias barreiras defensivas forma-se uma trajetória que gera oportunidade para a ocorrência de acidentes (eventos adversos). PERDAS E DANOS Fatores latentes • Processos organizacionais – Prescrições manuscritas – Carga de trabalho • Decisões de gestão – Recursos humanos – Cultura de falta de apoio a estagiários Fatores causadores de erros • Ambiente – enfermaria cheia • Equipe – falta de supervisão • Indivíduo – conhecimento insuficiente • Tarefas – repetições • Paciente – dificuldades complexas de comunicação Defesas • Inadequada – protocolos confusos • Ausente – sem farmacêutico Falhas ativas • Erro • Lapso • Violação Figura 2 - Modelo do queijo suíço: etapas e fatores associados a eventos adversos. Fonte: Coombes ID et al. Why do interns make prescribing erros? A qualitative Study. Medical Journal of Australia, 2008 (Adaptado do modelo do queijo suíço de Reason). Por isso, é tão importante que os profissionais e trabalhadores conhe- çam o sistema do qual fazem parte e compreendam os papéis e responsabilidades de cada parte dele. Com essa visão ampliada acerca dos fatores que contribuem para a qualidade global dos cuidados de saúde, certamente os profissionais se sentirão mais estimulados a noti- ficar os incidentes de segurança para que a organização como um todo aprenda com e a partir do erro e melhore a qualidade de seus processos, evitando a recorrência de situações semelhantes. 18 Para refletir Você já parou para pensar em como todos os processos assis- tenciais estão interligados a uma rede de outros processos, setores, recursos e pessoas? Para fazer um procedimento sim- ples, como realizar uma radiografia de tórax em um paciente internado, é necessário acionar ou contar com o apoio de setor de imagem (onde será feito o exame), maqueiro (fará o transporte), equipe de enfermagem (fará o contato, transporte), equipe médica (para obter o laudo), equipe de manutenção (para manter os equipamentos de Rx funcionando), equipe de segurança do trabalho (para estabelecer normas de segu- rança para profissionais e pacientes) e equipe responsável pelo gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Enfim, um procedimento aparentemente simples exige a interação entre uma gama de sistemas para ser realizado com menos riscos e alcançar as finalidades planejadas. Agora tente fazer o exercício de pensar em suas atribuições dentro desse contexto do pensamento sistêmico! Pense naque- les sistemas com os quais o seu processo de trabalho mais interage rotineiramente e em como acontecem essas relações e, então, tente responder a si mesmo: essas interações têm sido saudáveis e produzem bons resultados? O que poderia melhorar nessas interações? As principais dificuldades no meu processo de trabalho são internas ou externas? Elas são relativas a problemas estruturais, culturais, no desenho/fluxo dos processos? Ou são relativas à atitude das pessoas? Eu tenho sido compreensivo em relação às possíveis dificuldades encontradas em cada sistema com o qual interajo diariamente? Ou no dia a dia nem penso sobre isso, querendo ser atendido em minhas necessidades para fazer meu trabalho bem feito e ponto? Eu tenho como fazer alguma coisa que não dependa de níveis hierárquicos superiores para melhorar as interações entre o “meu sistema de trabalho” e os demais? O que seria então? 19 AULA 3 - Abordagem de fatores humanos e a segurança do paciente Objetivos da aula: • Definir a abordagem de fatores humanos e sua relação com os sistemas. • Apresentar a relação entre a abordagem de fatores humanos e a segurança do paciente. Depois de ter compreendido o que são sistemas complexos e como essa complexidade afeta a prestação de cuidados de saúde, vamos estudar um pouco sobre a engenharia de fatores humanos e sua relação com os sistemas de saúde e a segurança do paciente. Você já ouviu falar de fatores humanos? Quando você escuta essa expres- são, o que vem à sua mente? Fatores humanos são a mesma coisa que recursos humanos, ou seja, pessoas? Pensando nessas dúvidas, vamos começar esclarecendo que fatores humanos e recursos humanos não são sinônimos. A abordagem de fatores humanos corresponde ao estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamentos e ambiente, e particularmente, à aplicação de conhecimentos de diversas áreas na solução de proble- mas surgidos desse relacionamento”. Fatores humanos ou ergonomia têm como foco compreender e atuar sobre todos os fatores que facilitam a realização do trabalho da melhor e mais eficiente forma possível (mais segura). Em outras palavras, objetiva aprimorar e melhorar a relação entre a tecnologia e os seres humanos (comportamentos, habilidades, limitações) no projeto de ferramentas, máquinas, sistemas, tarefas, trabalhos e ambientes para o uso eficaz, produtivo, seguro e confortável. Reconhecer que a forma como seres humanos processam informações (aprendizado, interpretação, atribuição de sentido e resposta às informa- ções) difere da forma como as máquinas e equipamentos funcionam é de extrema relevância para ajustar tudo aquilo que pode interferir sobre o desempenho humano durante a realização das tarefas do trabalho. O desempenho de seres humanos (forma como trabalham e se relacio- nam) é afetado por uma série de fatores internos, externos, ambientais e organizacionais, que fazem com que os resultados produzidos sejam imprevisíveis e pouco confiáveis (quando comparado a máquinas). 20 Entender esses fatores nos permite compreender a importância do rede- senho de elementos dos sistemas de saúde para atender às necessida- des dos profissionais durante a prestação de cuidados de saúde. Isso tudo deve ocorrer de forma a favorecer a produção de resultados dese- jados e evitar a ocorrência de eventos indesejados, como erros e danos. Vários estudos demonstram que os problemas relacionados a fatores humanos são os principais responsáveis pela ocorrência de eventos adversos nos cuidados de saúde, no entanto, o reconhecimento des- ses fatores como uma parte essencial da segurança do paciente ainda é muito recente. O próprio relatório do IOM sugeriu em seu título que é necessário construir sistemas de saúde mais seguros para evitar que a condição de falibilidade humana produza eventos adversos. Entretanto, a grande pergunta que surge é: quais mecanismos dos sistemas de saúde precisam ser redesenhados ou melhor projetados para evitar a ocorrência de resultados ruins (erros e eventos adversos)? A abordagem de engenharia de fatores humanos propõe que o mecanismo para alcançar qualidade e segurança do paciente consiste em redesenhar os sistemas de saúde para dar suporte ao desempenho dos profissionais de saúde e reduzir/eliminar riscos a que os pacientes ficam expostos. Para tanto, consideramos que desempenho consiste em atividades men- tais, físicas, sociais e comportamentais realizadas pelos profissionais de saúde na tentativa de alcançar padrões ou metas estabelecidas para a assistência à saúde. Um exemplo de metas da assistência pode ser: administrar o medicamento certo, no paciente certo, no horário certo, via certa, na dose certa, para obter o efeito desejado). A seguir, apresentaremos um infográfico que representa o sistema de desempenho dos profissionais de saúde, composto de entradas (elemen- tos/insumos/fatores dos sistemas de saúde), transformações (processos que produzirão resultados) e saídas (resultados alcançados mediante a interação de elementos/insumos do sistema e a realização dos proces- sospelos profissionais de saúde), que afetam a qualidade e a segurança do paciente (KARSH et al., 2006). ACESSO NA PLATAFORMA INFOGRÁFICO: SISTEMA DE DESEMPENHO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE No lado esquerdo da figura, estão representados os elementos/insumos/ fatores do sistema de saúde, que atuam como a entrada do sistema de desempenho dos profissionais de saúde (foco principal da abordagem de fatores humanos). Por exemplo, um profissional de saúde recém- -contratado em um serviço de saúde que não receba treinamento por 21 parte da organização e precise assumir tarefas complexas está mais propenso a cometer falhas, que podem produzir danos aos usuários do serviço. Isso significa que quanto maior for a combinação de elementos que atuam como fatores de risco, maiores serão as chances da qualidade e segurança (saídas finais do sistema de desempenho) serem afetadas. A coluna do meio representa o desempenho dos profissionais em si, ou seja, as transformações promovidas pelo trabalho executado pelos pro- fissionais de saúde por meio de atividades mentais, físicas, comporta- mentais e sociais em pacientes, familiares e nos próprios profissionais. Por sua vez, a última coluna representa as saídas do sistema de desem- penho, que podem ser saídas imediatas (alterações de estado de pacientes, de familiares e dos próprios profissionais de saúde) e saídas finais, como a qualidade e a segurança do paciente. Esse esquema nos permite visualizar que diversos elementos/insumos/ fatores do sistema de saúde (entradas) podem afetar o desempenho (transformações/atividades) dos profissionais, atuando como fatores de risco ou perigos; isso quando mal projetados. Essa realidade aumenta as chances de ocorrência de resultados ruins (eventos adversos). Isso significa que esses elementos do sistema de desempenho dos profis- sionais de saúde são considerados, segundo a abordagem da engenharia de fatores humanos, como possíveis fatores causais de erros e eventos adversos e, por isso, representam o foco de atuação dessa abordagem (pontos a serem redesenhados para garantir qualidade e segurança). O que mais diferencia abordagem de fatores humanos das demais abordagens (redução de erros e redução de eventos adversos) é o foco nas necessidades de profissionais de saúde (projeto de sistemas que dê suporte a um desempenho desejado) e dos pacientes (redução dos riscos/ perigos). Essa abordagem reconhece também que os profissionais são diferentes uns dos outros e que os sistemas precisam abranger essa gama de diferenças para que todos alcancem um desempenho adequado. Por fim, vale ressaltar que as abordagens que se limitam a eliminar erros ou eventos adversos podem redesenhar os sistemas para eliminar os “fatores ruins ou de risco”, mas não necessariamente conseguirão pro- duzir fatores necessários para alcançar desempenhos bem-sucedidos. Por isso, a abordagem de fatores humanos é importante, pois considera os sistemas de forma mais holística (integral) e baseia-se na concepção de apoiar o usuário final do sistema por meio do desempenho adequado dos profissionais de saúde. 22 Para refletir Agora que entendemos um pouco mais sobre fatores humanos, acesse mais adiante o link da notícia sobre um caso que ficou conhecido em todo Brasil – de uma técnica de Enfermagem que administrou vaselina na veia de uma criança, que acabou falecendo – e tente responder as questões seguintes. Conhecendo um pouco da rotina de trabalho da equipe de enfermagem e do sistema de medicação e considerando a figura apresentada, quais fatores (do profissional, do sistema de trabalho, da organização e do ambiente externo) podem ter contribuído para que o erro fosse cometido? Você julga que esses fatores afetaram o desempenho da téc- nica de Enfermagem? Se sim, de qual forma? Acesse a notícia integral em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/ noticia/2011/12/auxiliar-de-enfermagem-que-aplicou-vaselina- tem-processo-suspenso.html>. http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/12/auxiliar-de-enfermagem-que-aplicou-vaselina-tem-processo-suspenso.html http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/12/auxiliar-de-enfermagem-que-aplicou-vaselina-tem-processo-suspenso.html http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/12/auxiliar-de-enfermagem-que-aplicou-vaselina-tem-processo-suspenso.html
Compartilhar