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Regra de Ouro em Santo Agostinho

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS 
 
CENTRO DE TEOLOGIA E HUMANIDADES 
 
CURSO DE FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A REGRA DE OURO EM SANTO AGOSTINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Marcos Vinícios Chiaretti Guedes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Petrópolis 
 
 2019
 
 
 
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS 
 
CENTRO DE TEOLOGIA E HUMANIDADES 
 
CURSO DE FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A REGRA DE OURO EM SANTO AGOSTINHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Centro de Teologia e 
Humanidades da Universidade Católica de Petrópolis 
como requisito parcial para a conclusão do curso de 
Filosofia. 
 
 
 
 
 
 Marcos Vinícios Chiaretti Guedes 
 
 
 
Professor orientador 
 
Dr. Sergio de Souza Salles 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Petrópolis 
 
 2019 
 
 
 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer 
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que 
citada a fonte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIP – Catalogação na 
Publicação 
 
Universidade Católica de Petrópolis (UCP) 
Bibliotecária responsável: Marlena H. Pereira – CRB7: 5075 
 
 
G924r Guedes, Marcos Vinícios Chiaretti. 
A regra de Ouro em Santo Agostinho / Marcos 
Vinícios Chiaretti Guedes. – 2019. 
49 f. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Filosofia) -Universidade Católica de Petrópolis, 2019. 
Orientação: Prof. Sérgio de Souza Salles. 
 
1.História da filosofia. 2. Ética. 3. Antropologia. I. 
Salles, Sérgio de Souza (Orient.). II. Título. 
 
CDD: 170 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço a Deus, nosso Senhor, por ter concedido a mim a graça de 
executar este trabalho. Aos professores, especialmente ao professor 
Sérgio de Souza Salles, meu orientador, e Carlos Frederico G. C. da 
Silveira, coordenador do curso de Filosofia, grandes responsáveis 
por meu crescimento intelectual e humano. A todos os meus 
familiares especialmente minha mãe e meu pai, que além do apoio 
material contribuíram para a educação que recebi e me proporcionou 
chegar aonde estou. Por fim aos meus amigos do curso de Filosofia, 
com os quais muitas vezes sorri e chorei, mas que comigo 
partilharam além de um grande amor a Filosofia uma amizade que 
me foi necessária para concluir meu curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eis a regra da dileção: querer também para o outro o bem que se quer para si. E não querer 
para ele, o mal que não se quer para si mesmo. E isso serve para todos os homens [...]” 
 
(Santo Agostinho) 
 
 
RESUMO 
 
 
Ao se tratar da questão do amor em Santo Agostinho há sempre aspectos ulteriores que 
podem ser destacados, como da ordenação do amor, a regra de ouro. Agostinho entende o 
amor em geral como inclinação da vontade ao bem. Para o Santo, o amor será bom ou mal 
dependendo do que se ama. Deve se amar a si, amando a Deus e ao próximo, tal ordenação 
do amor é a chave de compreensão da ética do autor, embasada na regra de ouro. A 
importância do estudo realizado é enorme, pois Agostinho foi um dos filósofos mais 
expressivos da sua época e influenciou a história da Filosofia até os dias atuais, o tema do 
amor e da ética no filósofo são de suma importância para entender seu pensamento e seus 
escritos, que estão repletos da questão do amor principalmente através da regra de ouro que 
aparece constantemente neles e apresenta a ordenação do amor através da primazia da 
caridade. Diante disso, esse trabalhou busca através de uma pesquisa interpretativa e 
bibliográfica do autor e de alguns de seus comentadores traçar aquela que seria a doutrina 
da regra de ouro, ou seja, do amor e da ética para Santo Agostinho. São ricos os 
questionamentos que podem ser feitos acerca da doutrina da regra e nesse sentido, buscaram-
se reflexões sobre alguns deles ao longo do texto. O trabalho conta com diversas citações do 
autor e de comentadores, a fim de embasar a argumentação no próprio autor e naqueles que 
futuramente o interpretaram, mostrando uma metodologia de pesquisa apoiada justamente 
na leitura e interpretação do que Agostinho escreveu sobre a regra de ouro. Buscou-se dar 
uma interpretação geral acerca da regra ao longo do texto, não esquecendo que há no autor 
uma evolução do pensamento acerca da regra que tenta ser abordada no terceiro capítulo do 
desenvolvimento do texto. Diante disso, verificou-se que, Agostinho entende a regra de ouro 
como norma moral para a realização de uma ética do amor, que visa agir bem para com o 
outro amando nele a sua dignidade enquanto pessoa, isso porque se concluiu que o homem 
possui uma natureza e um paradigma que o põe em posição singular em relação ao resto da 
natureza, sendo assim, é digno de ser amado pelo amor de caridade que propões a regra de 
ouro. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Regra de Ouro. Amor. Ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMÉ 
 
 
Lorsqu’on traite de la question de l’amour à Saint Augustin, il y a toujours d’autres 
aspects qui peuvent être soulignés, comme l’ordination de l’amour, la règle de l’or. 
Augustin comprend l’amour en général comme inclination de volonté au bien. Pour le 
Saint, l’amour sera bon ou mauvais selon ce que vous aimez. Il faut aimer soi-même, 
aimer Dieu et le prochain, une telle ordination de l’amour est la clé de la compréhension 
de l’éthique de l’auteur, basée sur la règle de l’or. L’importance de l’étude est énorme, 
car Augustin a été l’un des philosophes les plus expressifs de son temps et a influencé 
l’histoire de la philosophie jusqu’à nos jours, le thème de l’amour et de l’éthique dans le 
philosophe sont d’une importance primordiale pour comprendre sa pensée et son Les 
écrits, qui sont des repletes avec la question de l’amour principalement à travers la règle 
d’or qui apparaît constamment en eux et présente l’ordination de l’amour par la primauté 
de la charité. En vue de cela, ce travail cherche à travers une étude interprétative et 
bibliographique de l’auteur et certains de ses commentateurs tracer ce qui serait la 
doctrine de la règle d’or, à savoir l’amour et l’éthique pour Saint Augustin. Il y a des 
questions riches qui peuvent être formulées au sujet de la doctrine de la règle et dans ce 
sens, des réflexions sur certains d’entre eux ont été recherchées tout au long du texte. 
L’œuvre a plusieurs citations de l’auteur et les commentateurs, afin de soutenir 
l’argumentation dans l’auteur lui-même et dans ceux qui, à l’avenir l’interpréter, montrant 
une méthodologie de recherche soutenue précisément dans la lecture et l’interprétation de 
ce que Augustin A écrit sur la règle d’or. Nous avons cherché à donner une interprétation 
générale de la règle tout au long du texte, sans oublier qu’il y a une évolution de la pensée 
dans l’auteur sur la règle qui tente d’être abordée dans le troisième chapitre de 
l’élaboration du texte. En raison de cela, il a été constaté que, Augustin comprend la règle 
de l’or comme une norme morale pour la réalisation d’une éthique de l’amour, qui vise à 
agir bien avec l’autre aimant lui sa dignité en tant que personne, que parce qu’il est conclu 
que l’homme possède une nature est un paradigme Cela le met dans une position 
singulière par rapport au reste de la nature, de sorte qu’il est digne d’être aimé par l’amour 
de la charité qui propose la règle de l’or. 
 
 
Mots-clés: règle d’or. amour. éthique. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO...............................................................................................................5 
 
2 A REGRA E SUAS FORMULAÇÕES......................................................................112.1 A REGRA DE OURO....................................................................................11 
 
2.2 FORMULAÇÃO POSITIVA.........................................................................15 
 
2.3 FORMULAÇÃO NEGATIVA......................................................................17 
 
3 O CONHECIMENTO DA REGRA DE OURO........................................................20 
 
3.1 A REGRA E A REVELAÇÃO.......................................................................20 
 
3.2 A REGRA E A LEI INSCRITA NO CORAÇÃO DO HOMEM....................23 
 
4 A REGRA DE OURO E A “IMAGO DEI”...............................................................27 
 
4.1 O AMOR À “IMAGO DEI”...........................................................................27 
 
4.2 O AMOR CONTRÁRIO À “IMAGO DEI”...................................................30 
 
4.3 A RESTAURAÇÃO DO AMOR PELA ORDEM DA CARIDADE.............33 
 
5 CONCLUSÃO.............................................................................................................38 
 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................41 
 
6.1 FONTES PRIMÁRIAS..................................................................................41 
 
6.2 FONTES SECUNDÁRIAS............................................................................42 
 
APÊNDICE – O ITER FILOSÓFICO DE SANTO AGOSTINHO...........................44
5 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Santo Agostinho (354-430) foi um filósofo, escritor, bispo e importante teólogo 
cristão do norte da África, durante a dominação romana. É considerado o mais ilustre 
Padre da Igreja do Ocidente, pois influenciou toda a vida da Igreja, em matéria de filosofia 
e de teologia, nos séculos subsequentes até os dias atuais. Suas concepções sobre as 
relações entre a fé e a razão, entre a Igreja e o Estado, dominaram toda a Idade Média. 
Conhecido também como Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na cidade da 
Numídia (hoje Argélia), no norte da África, região dominada pelo Império Romano, no 
dia 13 de novembro de 354. Sua infância e adolescência transcorreram principalmente 
em sua cidade natal, em um ambiente limitado por um povoado perdido entre montanhas. 
Seu pai Patrício, era pagão e sua mãe Mônica, uma cristã devota que exerceu grande 
influência sobre a conversão do filho. 
Santo Agostinho iniciou seus estudos em Tagaste, em seguida, foi para Madaura, 
onde iniciou os estudos de retórica. Lia e decorava trechos de poetas e prosadores latinos, 
entre eles Virgílio e Terêncio, através de sua formação profundamente embasada na 
língua latina, conheceu Cícero, o qual foi para ele como que um modelo e um ponto de 
referência, inclusive, foi a partir da leitura de uma de suas obras, intitulada Hortensius, 
que despertou interesse pela filosofia, “Cícero havia instigado Agostinho a sabedoria” 
(BROWN, 2005, p. 49). Ainda segundo Brown: 
 
O Hortensius possuía uma exortação a educação liberal, como um meio para a 
reflexão filosófica, e uma breve história do pensamento de Tales, Sócrates, 
Demócrito, Aristóteles, Teofrasto, Aristão de Chio, Posidônio, Nicómaco de 
Tiro e ainda expunha a doutrina das virtudes morais, depreciando a riqueza e 
os prazeres carnais, e propondo uma filosofia como princípio universal da 
felicidade (BROWN, 2005, p. 49). 
 
 
Estudou música, física, matemática e filosofia. Em 371, transfere-se para Cartago, 
a maior cidade do Ocidente latino depois de Roma, um grande centro do paganismo, onde 
se deixou cativar pelo esplendor das cerimônias em honra dos milenares desuses 
protetores do império. 
Em 373, nasce Adeodato, filho de seu romance com uma cartaginense. Dedicou-
se ao estudo das Escrituras, mas logo ficou desiludido diante do estilo simples da Bíblia. 
Depois de três anos termina o estudo superior em retórica e eloquência. De volta a sua 
cidade natal, abre uma escola particular onde ensina gramática e retórica. Em 374 foi para 
6 
 
Cartago e mais uma vez dedica-se ao ensino da retórica. Em 383 seguiu para Roma e no 
ano seguinte é nomeado mestre de eloquência em Milão. 
A inquietude era um tema permanente em sua vida. O despertar de seu espírito 
crítico o levou a adotar o maniqueísmo, o maniqueísmo é uma filosofia religiosa 
sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo cristão do 
século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. 
A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização 
do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois 
princípios opostos do Bem e do Mal, pretendendo seguir a força única da razão. Durante 
doze anos foi seguidor de Mani, profeta persa fundador do maniqueísmo no qual se 
misturavam Evangelho, ocultismo e astrologia. Segundo Mani, o bem e o mal constituíam 
princípios opostos e eternos, presentes em todas as coisas. O homem não era culpado por 
seus pecados, pois já trazia o mal dentro de si. 
Insatisfeito com as respostas que o maniqueísmo oferecia, Agostinho resolveu 
abandonar a doutrina e seu lugar é temporariamente preenchido por um profundo 
ceticismo. Em 386 procura Ambrósio, o poderoso bispo do Império em busca de uma 
colocação oficial como professor. Em vez disso, encontra respostas para algumas das suas 
dúvidas. Passa a assistir os sermões de Ambrósio, inspirados, sobretudo, no Antigo 
Testamento. Ao conhecer de fato Cristo Agostinho finalmente encontra as respostas que 
procurava: 
 
Nos sarcófagos da época, Cristo é sempre exibido como um mestre, ensinando 
Sua sabedoria a um séquito de filósofos novatos. Para um homem culto, a 
essência do cristianismo estava justamente nisso. Cristo, como sabedoria 
divina, havia criado um monopólio do saber: a patente revelação cristã havia 
suplantado e substituído as opiniões conflitantes dos filósofos pagãos: “Vede, 
eis aquilo que todos os filósofos buscaram durante todas a sua vida, mas 
nenhuma só vez conseguiram capturar, abraçar, reter, com firmeza. [...] Aquele 
que quiser ser sábio, um homem completo, deixa-o ouvir a voz de Deus 
(BROWN, 2005, p. 50-51). 
 
Finalmente, a influência de Santo Ambrósio foi decisiva para convertê-lo ao 
Cristianismo. Em 387, Agostinho e Adeodato são batizados. No ano seguinte, retorna 
definitivamente para Tagaste, onde se dedica à vida monástica, vende a propriedade 
deixada pelo pai e distribui o dinheiro entre os pobres. Conserva apenas uma pequena 
porção de terra, onde, ao lado dos amigos Alípio e Ovídio, funda o primeiro mosteiro 
agostiniano. Em 391, é sagrado sacerdote em Hipona, região provinciana do Império 
7 
 
Romano. Em 396 é sagrado bispo auxiliar de Hipona, onde se tornou um dos pilares da 
teologia católica. 
Entre 397 e 398, Agostinho se dedica a escrever Confissões, em que narra a 
juventude e sua conversão, onde revela os caminhos da fé em meio às angústias do 
mundo. O livro é uma autobiografia que também imprime o seu pensamento filosófico. 
Cria a noção de espaço interior como campo da verdade essencial do homem verdade e 
Deus devem ser buscados no interior da alma, e não no mundo. 
Em 413 começa a obra A Cidade de Deus, escrita para consolar os cristãos após 
Roma ser saqueada pelos bárbaros visigodos, em 410. Na obra, Santo Agostinho 
apresenta a defesa do cristianismo e convida seus contemporâneos a compreender o 
sentido profundo da história. Já não se trata de um reino de Deus que sucede à vida 
terrena. A cidade de Deus e a dos homens coexistem: a primeira, antes simbolizada por 
Jerusalém, é agora a comunidade dos cristãos. A cidade dos homens tem poderes 
políticos, moral, e existências próprias. Segundo ele as duas cidades permanecerão lado 
a lado até o fim dos tempos, mas depois a divina triunfará, para a eternidade. 
Deixou uma obra fundamental para a doutrina da igreja católica, que foi registradaem tratados filosóficos, teológicos, comentários, sermões e cartas. Exerceu grande 
influência em várias áreas do conhecimento. Teve papel importante na fixação da 
hierarquia na Igreja Católica e fez a síntese entre a filosofia grega e o pensamento cristão. 
Fixou a ideia da vida interior do homem como o palco essencial da construção da 
identidade. 
Santo Agostinho faleceu em Hipona, África, no dia 28 de agosto de 430. Santo 
Agostinho foi canonizado por aclamação popular, e reconhecido como Doutor da Igreja, 
em 1292, pelo papa Bonifácio VIII. 
Tudo isto nos permite conhecer a evolução do pensamento de Agostinho, pois 
dentre suas influencias está, sua mãe como figura de fé, a leitura de Cícero, que o desperta 
para a filosofia, sua adesão ao maniqueísmo e pôr fim a influência de Ambrósio, que 
finalmente o leva a beatitude, o autor produziu imensa obra literária, entre ela além das 
obras filosóficas, também obras dogmáticas, apologéticas, exegéticas e polêmicas. 
 
Ora, do ponto de vista ético [...] para Agostinho, o ser humano tem um telos 
(fim) para atingir, o qual é uma coisa, uma realidade distinta de um mero signo, 
pois o signo apenas indica, aponta, significa algo que vai além dele mesmo. 
Porém, para se atingir o fim almejado, é necessário ter claro que há duas 
maneiras de se relacionar ou aderir aos seres em geral: o frui e o uti. Isso 
compreendido, vê-se que há seres que são objeto do uti (uso), servem como 
meio, enquanto outros são objetos do frui (fruição, gozo), funcionando como 
8 
 
o fim. Ora, entender isso e viver de acordo com essa hierarquia é se colocar na 
ordinata dilectio (ordem do amor), percebendo que a caritas (caridade) é o 
princípio primeiro e fundamental (GRACIOSO, 2012, p. 19). 
 
A ética filosófica de Agostinho considera sempre o amor como o que move o 
homem a buscar a felicidade. Agostinho observa que: “Essa felicidade, essa vida que é a 
única feliz, todos a querem, todos querem a alegria que provém da verdade” 
(AGOSTINHO, 1997, p. 177). Em seguida se pergunta: 
 
Onde conheceram essa felicidade, senão onde conheceram a verdade? Se de 
fato não querem ser enganados, é porque amam também a verdade. E já que 
amam a felicidade que nada mais é que a alegria oriunda da verdade, amam 
certamente também a verdade (AGOSTINHO, 1997, p. 177) 
 
A felicidade então está no próprio Deus que é apontado como esta verdade. Todo 
aquele que possui o que quer é feliz, mas só é de fato feliz se o que possuir for permanente 
e eterno. Logo, só quem possui a Deus é feliz. O fato, é que o simples conhecimento não 
é suficiente para alcançar a Deus, por isso deve-se estar inserido no amor, que une o que 
ama e o que é amado, assim só o amor é capaz de levar a Deus e a felicidade “portanto, 
ele será feliz quando, sem obstáculos nem perturbações, puder gozar daquela única 
verdade, fonte de tudo que é verdadeiro” (AGOSTINHO, 1997, p. 177). Ou seja, no 
encontro dessa verdade que é Deus e que só pode ser alcançado pelo amor é que se 
encontra está verdadeira felicidade. 
 Para alguns pensadores foi com Santo Agostinho que “o pensamento cristão 
ganhou uma nova visão, pois, passou a melhor articular elementos do pensamento 
clássico com princípios cristãos para melhor adequar e fundamentar os ideais cristãos” 
(PAULA; MELO, 2011, p. 12). Santo Agostinho, gera uma mudança de foco no sentido 
de amor, acrescentando ao mero desejo a caridade. De eros, que indicava desejo, passou 
a ágape, que quer dizer caridade: “É um abuso de linguagem dizer que os concupiscentes 
amam, assim como é abusivo dizer que aqueles que amam são concupiscentes. Ora, o 
verdadeiro amor é aderir à verdade, para viver na justiça” (AGOSTINHO, 2018, p. 168). 
Nesse sentido é dito por um de seus comentadores: “Desse modo, para Santo Agostinho, 
o cristianismo trouxe um novo conceito de amor, que recebeu um olhar diferente do que 
havia sido entendido por pensadores gregos como Platão. O foco que se dava ao amor 
tomou um novo sentido” (PAULA; MELO, 2011, p. 4). Ou seja, há então uma virada 
onde o amor que era mero desejo ganha o sentido do amor ágape que vai além desse mero 
desejar. É importante refletir sobre tal mudança, pois rapidamente parece se estar 
afirmando que o eros é deixado de lado em vista do ágape, mas na Encíclica Deus Caritas 
9 
 
Est Bento XVI (Joseph Ratzinger) diz que “isto não é rejeição do eros, não é o seu « 
envenenamento », mas a cura em ordem à sua verdadeira grandeza” (RATZINGER, 
2005)1. Continua Bento XVI: 
 
Isto depende primariamente da constituição do ser humano, que é composto de 
corpo e alma. O homem torna-se realmente ele mesmo, quando corpo e alma 
se encontram em íntima unidade; o desafio do eros pode considerar-se 
verdadeiramente superado, quando se consegue esta unificação. Se o homem 
aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas 
animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro 
lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como 
realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza (Ratzinger, 2005). 
 
 Ou seja, para o Papa Bento XVI o verdadeiro desafio do eros não está em vence-
lo, mas em conseguir manter uma verdadeira harmonia entre eros e ágape, só assim o 
homem pode viver plenamente sua condição e estar inteiramente voltado ao amor para 
assim compreender e viver a sua grandeza. 
Como já visto em trechos anteriormente citados de Santo Agostinho ele apresenta 
o amor também como meio pra viver na justiça, ou seja, ao aderir ao amor encontra-se 
também uma vida justa, e realiza-se assim a justiça proposta pela ética. Dessa forma, para 
Santo Agostinho: 
 
[...] A ordem da vida moral é, pois, regida pela ordem do amor que se desdobra 
na esfera do uso como amor de si mesmo e dos outros segundo o reto modo e 
os graus correspondentes, e se eleva finalmente à esfera da fruição como amor 
de Deus, amado em si mesmo e por si mesmo (LIMA VAZ, 1999, p. 193). 
 
O amor em geral é entendido como uma inclinação da vontade ao bem “O que é 
o amor ou a caridade, tão louvada e exaltada pela Escritura, senão o amor do Bem?” 
(AGOSTINHO, 2018, p. 172). E ainda “o cerne da filosofia do amor em Santo Agostinho 
está diretamente relacionado com o projeto de Deus para o homem, pois, para o Santo 
Doutor, o amor faz parte da essência humana, o homem é obra da criação Divina e a 
essência divina é amor” (VIEIRA, 2010, p. 60). Na dinâmica do amor está inserido o 
amor de caridade: “A caridade deve ser entendida como o amor pela qual se ama o que 
se deve amar” (ALMEIDA, 2014, p. 58). Nessa perspectiva a caridade é o melhor sentido 
de amor. É por isso que: 
 
Agostinho nos aponta, através de uma proposta filosófico-teológico-cristã o 
amor Cristão como um remédio satisfatório ao problema da miséria no mundo, 
 
1 Versão eletrônica disponível em: <http://w2.vatican.va/content/benedict 
xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html> 
10 
 
convidando-nos a contemplarmos a humanidade com os olhos de um Deus de 
amor e a promovermos uma revolução em nossa sociedade, a revolução do 
amor, tomando o critério de fruição divina como um bem para nos lançarmos 
ao mundo como chamas do amor de Deus (VIEIRA, 2014, p. 62). 
 
Dentro dos questionamentos sobre o amor no pensamento do filósofo, está 
inserida a regra de ouro que é uma formulação moral que observa o tratamento do outro 
como a si mesmo através da ordenação da caridade: 
 
Nessa mesma ordem de ideias, o cristão ama o seu inimigo: não enquanto 
inimigo, mas enquanto homem, possuidor da natureza humana. Ao ponto de 
desejar para ele o mesmo que deseja para si mesmo, isto é, de poder chegar à 
felicidade do Reino dos Céus, após ter sido renovado e transformado. 
(AGOSTINHO, 2017, p. 75). 
 
Ninguém ama a si, sem amar a Deus e ao próximo; ao próximo,sem amar a Deus 
e a si; nem a Deus, sem amar a si e ao próximo. “Para Santo Agostinho, a caridade aparece 
como a virtude primeira e será entendida como o fundamento de toda a vida ética” 
(VIEIRA, 2014, p. 62). Nesse sentido a regra de ouro, também chamada regra da 
caridade, tem papel fundamental em sua ética. 
 As considerações de Santo Agostinho sobre a Regra de Ouro exerceram grande 
influência ao longo dos tempos, sendo comentadas por vários autores, alguns que 
oportunamente serão aqui citados, diante da grande importância dessas considerações é 
que esse trabalho irá se deter como também sobre o pensamento do autor acerca do tema, 
propondo um estudo mais aprofundado sobre a regra e suas formulações, no primeiro 
capítulo, no segundo capítulo o conhecimento da regra, e sobre a regra de ouro e a 
“imago dei”, no terceiro capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 2 A REGRA E SUAS FORMULAÇÕES 
 
 O principal objetivo desse capitulo é investigar o pensamento de Santo Agostinho 
acerca da regra de ouro e de suas diferentes formulações, como poderá ser visto ao longo 
deste Agostinho conheceu as duas formulações da regra, a positiva e a negativa e 
objetivou várias formas tanto de uma quanto da outra, nesse sentido, buscar-se-á estudar 
o pensamento do autor e como ele usa e entende essas duas formulações. Assim, será 
apresentada a definição da regra, as diferenças entre a formulação positiva e a negativa e 
as suas particularidades bem como em que casos é aplicada uma ou outra. 
 
2.1 A REGRA DE OURO 
 
 Os textos nos quais Santo Agostinho usa a regra de ouro são numerosos, ela 
aparece em diversos livros do autor, as vezes mais de uma vez. Diante disso poderá ser 
visto no apêndice do presente trabalho um conjunto dessas formulações em ordem 
cronológica. A regra na filosofia do santo é vista como uma máxima do amor: “Pois a 
perfeição da misericórdia com a qual é atendida toda alma extenuada de pena e cansaço 
não vai além desse amor aos inimigos” (AGOSTINHO, 2017, p. 91). É o amor que atende 
a perfeição da misericórdia, amor esse que deve ser praticado mesmo aos inimigos, o 
amor é o caminho para a perfeição é a regra é o caminho para viver de modo ético esse 
amor. Agostinho afirma na Doutrina Cristã que: 
 
Vive justa e santamente quem é perfeito avaliador das coisas. E quem as estima 
exatamente mantém amor ordenado. Dessa maneira, não ama o que não é digno 
de amor, nem deixa de amar o que merece ser amado. Nem dá primazia no 
amor àquilo que deve ser menos amado, nem ama com igual intensidade o que 
se deve amar menos ou mais, nem ama menos ou mais o que convém amar de 
forma idêntica (AGOSTINHO, 2002, p. 46). 
 
Sendo assim é justo aquele que mantém o amor de maneira ordenada, amando 
mais o que deve ser mais amado e menos o que deve ser menos amado, essa ordenação 
diz a respeito à perfeição acima citada tendo em vista que a coisas mais perfeitas que 
devem ser mais amadas e coisas menos perfeitas que devem ser menos amadas. A regra 
de ouro é, nesse sentido, a atitude ética mantenedora dessa relação de amor, é através dela 
que se é capaz de viver perfeitamente no amor, ou seja, de forma ordenada. 
A formulação mais conhecida da regra em Agostinho e provavelmente a mais 
conhecida na cultura em geral é a presente no sermão da montanha, tendo sido proferida 
12 
 
pelo próprio Jesus Cristo: “Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-
o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas. (Mt. 7,2)” Foi o contato com essa 
formulação ao escrever o Comentário ao Sermão da Montanha que fez com que 
Agostinho escrevesse um dos maiores trechos encontrados em seus escritos sobre a regra, 
trecho esse que, junto de outros, será utilizado nesse trabalho na ajuda da construção de 
uma ideia acerca da regra no pensamento do Santo. 
 Segundo o comentador de Agostinho Giovanni Catapano, antes de adentrar 
mais profundamente ao estudo da regra na ótica do autor, são necessárias ser feitas ao 
menos 3 observações de caráter mais geral. “A primeira é que Agostinho não cessou de 
recorrer a regra de ouro desde o início ao fim de sua atividade literária e pastoral” 
(CATAPANO, 2005, p. 104)2. Ora, agostinho tem em torno de 33 citações da regra ao 
longo de seus escritos e essas citações comportam tanto formulações positivas quanto 
negativas da regra isso endossa o comentário acima citado de que Agostinho realmente 
não abandonou seus estudos sobre a regra desde que a conheceu. Desde o período 
cassicíaco, època de estudos e produção acadêmica (filosófica), até o seu episcopado 
Agostinho se dedicou de várias formas ao estudo da regra, nas palavras do próprio 
comentador “Agostinho usa a regra de ouro nas circunstâncias e para os mais diversos 
fins” (CATAPANO, 2005, p. 104)3, isso demonstra a forte presença da regra na filosofia 
do Santo Doutor que não só a utilizou em diversas circuntâncias para diversos fins como 
dedicou parte da sua vida ao estudo dessa máxima. 
 “A segunda observação que a tabela de lugares permite expressar, além disso, é 
a heterogeneidade dos textos agostinianos que relatam as ocorrências da regra de ouro”4 
(CATAPANO, 2005, p. 104), isso indica que nas suas mais diversas obras, de filosofia, 
tratados apologéticos, escritos dogmáticos, exegéticas, obras polemicas antimaniqueias e 
antipelagianas, discursos ao povo, cartas, e sua obra única que é Confissões. “Se pode 
dizer que quase não há gênero literário, entre os praticados por Agostinho, em que ele não 
 
2 “La prime è che Agostino non ha cessato di ricorrere alla Regula d’oro dall’inizio alla fine della sua attività 
letteraria e pastorale”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; 
ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
3 “adopera la regola d'oro nelle circostanze e per i fini più diversi”. CATAPANO, Giovanni. La regola 
d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica 
universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
4 “la seconda osservazione che la tabella dei luoghi permette di esprimere concerne appunta l'eterogeneità 
dei testi agostiniani che riportano occorenze della regola aurea”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro 
in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica 
universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
13 
 
usou a regra de ouro” (CATAPANO, 2005, p. 104)5, o Santo sempre citou a regra 
independente do gênero literário utilizado por ele naquela obra e em praticamente todos 
os gêneros utilizados pelo autor se encontra alguma citação da regra de ouro. 
 
A terceira e última observação diz respeito à extensão das etapas mencionadas 
na lista. Como pode ser visto facilmente, eles não têm mais do que dois ou três 
parágrafos. Agostinho quase nunca tratou com amplitude a regra de ouro; às 
vezes ele o usa sem nem mesmo torná-lo objeto de considerações diretas 
(CATAPANO, 2005, p. 105)6. 
 
 É curioso se deter nessa parte, pois de fato foram poucas as ocasiões onde 
Agostinho de fato se deteve em elaborar um texto ou uma dissertação significativamente 
longa sobre a regra, porém isso não implica necessariamente que ele vê como secundária 
a importância da regra, mas “significa simplesmente que já não é dada como tal nos 
textos, mas deve ser reconstruída a partir deles”7 (CATAPANO, 2005, p. 105), ou seja, 
ele não formula especificamente uma doutrina sobre a regra, pois ela deve ser lida, 
meditada e compreendida a partir dos textos e citações que a comportam. Agostinho está 
muito mais preocupado com a prática da regra do que com um tratado filosófico sobre 
ela, segundo Jones Bernades Machado: 
 
Isso é perceptível através da simples leitura dos textos referenciados na tabela, 
mas, apesar disso, todas as ocorrências da regra no corpus estão inseridas no 
contextoe na temática do argumento ao qual integram. Do mesmo modo, 
ressalta-se ainda a veracidade do dizer que há uma doutrina sobre a regra da 
caridade em Agostinho, pois mesmo que tal doutrina não seja visível nos 
textos, é reconstituída a partir deles (MACHADO, 2012, p. 42) 
 
 É por esse motivo, que nas páginas que se seguem, esse trabalho se concentrará 
em reunir citações literárias do autor e de seus comentadores para buscar construir um 
pensamento e uma doutrina coesa da visão da regra pelo autor. 
Para Agostinho, aquilo que pode tornar os homens perfeitos é a capacidade de 
amar: “Assim, o que faz os homens invencíveis e perfeitos é somente o fato de eles 
 
5 “se può dire che non v'é quasi genere letterario, fra quelli praticati da agostino, in cui egli non abbia 
utilizzato la regola d'oro”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, 
Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 
2005. 
6 “la terza e ultima osservazione riguarda l'estensione dei passi citati nell'elenco. come si può facilmente 
notare, esse non sono lunghi più de due o tre paragrafi. Agostino non ha mai trattato con ampiezza della 
regola d'oro; a volte la usa senza nemmeno farla oggeto di considerazioni dirette”. CATAPANO, Giovanni. 
La regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro 
come etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
7 “significa semplicemente chè essa non e gia data come tale nei testi, ma va riconstruita a partire da essi”. 
CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy 
(ORG.) La Regola d'oro come etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
14 
 
poderem amar” (AGOSTINHO, 2017, p. 76), o amor também torna o homem invencível, 
ou seja, o torna capaz de superar as dificuldades. Segundo Giovanni Reale para 
Agostinho: 
 
Quando o amor do homem se volta para Deus (amando os homens e as coisas 
em função de Deus), é charitas; quando, porém, volta-se para si mesmo, para 
o mundo e para as coisas do mundo, é cupiditas. Amar a si mesmo e aos 
homens não segundo o juízo dos homens, mas segundo o juízo de Deus, 
significa amar do modo justo (REALE, 2003, p. 100). 
 
É crucial para entender a concepção de amor em Agostinho entender essa 
diferença que ele traz entre charitas, amor ordenado a Deus e em Deus se volta as pessoas 
e aos demais seres, e cupiditas, quando o amor de si supera o amor a Deus e aos outros. 
Agostinho diz que “A retidão de conduta nos dá a coragem e a força para 
encetarmos o caminho em direção da sabedoria. Leva-nos à pureza e à simplicidade do 
coração” (AGOSTINHO, 2017, p. 168). Ou seja, é a boa conduta que leva o homem ao 
bom caminho e por consequência a ser bom, ela dá também a força e a coragem 
necessárias para alcançar a sabedoria e torna o coração puro e simples, essas qualidades 
trazidas pela retidão de conduta expressam em Agostinho algumas das boas 
consequências que a regra de ouro traz já que mais à frente no texto ele aponta essa 
retidão de conduta com sendo a própria regra: “O Senhor assim termina o que estava 
desenvolvendo: “Portanto, tudo aquilo que quereis que os homens vos façam de bem, 
fazei-o vós a eles, porque isto é a Lei e os Profetas”” (AGOSTINHO, 2017, p. 168). 
Agostinho introduz o Capítulo do texto Comentário ao Sermão da Montanha falando 
sobre a retidão de conduta e logo a frente apresenta essa passagem da regra de ouro como 
meio de se alcançar essa retidão necessária para o alcance da sabedoria e demais 
qualidades que ela proporciona. 
Em agostinho “a força motriz para a realização da ordem moral é o amor, que 
remata na caridade. Sua força orientadora é à vontade, que culmina na liberdade. Sua 
consumação é a ordem da caridade” (BOEHNER; GILSON, 2004, p. 188), ou seja, é na 
ordem da caridade, alcançada pela regra, que se faz possível a realização da ordem moral 
que para o Santo se confunde com o próprio amor, amor e moral são iguais, um é força 
motriz do outro e vice-versa. 
Ainda segundo Gilson “a caridade não é apenas o coração da moralidade; ela é a 
própria vida moral. O começo do amor é o começo da justiça, o progresso do amor é o 
progresso na justiça, a perfeição do amor é a perfeição da justiça” (BOEHNER; GILSON, 
2004, p. 191). Nesse trecho o escritor fortalece a ideia que acima foi citada que a caridade 
15 
 
e a moral se confundem, é interessante a afirmação de que ‘a caridade não é apenas o 
coração da moral, mas a própria vida moral’, reforçando justamente essa ideia de 
mutualidade entre amor e moral apresentada antes. 
Ao comparar amor e moral Agostinho afirma que o amor está na própria natureza 
humana, ou seja, implicitamente está afirmando que a moral está na própria natureza 
humana: 
 
O amor está na própria natureza humana. Trata-se de um apetite natural, 
pressuposto pela vontade livre, que deve, iluminada pela luz natural da razão, 
orientá-lo finalmente para Deus. O amor é, pois, uma atividade decorrente do 
próprio ser humano. Donde se deduz que, tendo-se no fundo do coração a raiz 
do amor, dessa raiz não pode sair senão o bem, o que resulta na tão citada 
máxima agostiniana: ‘ama e faze tudo o que queres’ (COSTA, 2002, p. 296-
297). 
 
 Isso reforça o poder do amor e da moral na natureza humana e parece afirmar que 
a regra de ouro como forma de ordenação desse amor está também implícita nessa 
natureza como será investigado futuramente no 3.2 desse trabalho. Porém, no momento 
é hora de se reclinar sobre as formulações e aplicações da regra de ouro dentro da filosofia 
de Santo Agostinho. 
 
2.2 FORMULAÇÃO POSITIVA 
 
 É notório que Santo Agostinho conhece tanto a formulação positiva, quanto a 
formulação negativa da regra de ouro. Ambas são utilizadas por ele ao longo de seus 
escritos, mas devem ser esclarecidos os pontos de convergência e divergência de usos e 
aplicações. Sendo assim trataremos da positiva nesse ponto e da negativa no próximo. A 
formulação positiva da regra coincide com a relatada nas palavras de Jesus no Sermão da 
Montanha: “Portanto, tudo aquilo que quereis que os homens vos façam de bem, fazei-o 
vós a eles, porque, isto é, a Lei e os Profetas (Mt. 7,2)”. 
 Em relação à regra no sentido positivo Agostinho afirma conhecer a formulação 
presente nos “exemplares gregos”, porém há uma diferença pois esses não utilizam a 
palavra “bem” como nos “exemplares latinos”, Agostinho acredita que esta mudança se 
dá para melhor explicitar o pensamento: “Lê-se nos exemplares gregos: “Tudo aquilo que 
quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”. Penso que textos latinos 
acrescentaram a expressão “de bem” para melhor explicitar o pensamento. Poderiam 
autorizar-se dessa passagem para abonar uma ação condenável” (AGOSTINHO, 2017, p. 
16 
 
168). O santo justifica então o acréscimo do termo “bem” ao fato de ele ser uma forma 
de impedir que a regra justifique a realização de um mal ao outro tendo o argumento de 
que o desejava para si também: “Por exemplo, se alguém quisesse beber em excesso, até 
a embriaguez. Mas seria ridículo de se justificar por aí quem procurasse beber ou excitasse 
outrem a beber em excesso, até ficar bêbado. Para evitar essa interpretação e para maior 
clareza, foi acrescentada a expressão ‘façam de bem’” (AGOSTINHO, 2017, p. 168). Ou 
seja, para evitar que um mal ou um excesso seja cometido contra um outro ou contra si 
mesmo, foi acrescentada essa expressão “de bem”. 
Apesar disso, o santo não acha oportuno que se faça alteração nos já citados 
exemplares gregos: “Se faltar nos exemplares gregos será bom completar. Mas quem se 
permitiria corrigir o texto grego? É preciso, pois, admitir que a recomendação está plena 
e completa, mesmo sem essa adição” (AGOSTINHO, 2017, p. 168). O autor, afirma então 
que a recomendação é completa mesmo sem a adição do termo“bem”, pois ele serviria 
apenas para evitar o mal-uso da regra e direcionar melhor essa recomendação evitando 
que seja distorcida por má-fé ou ignorância. 
Em Agostinho, o amor é caminho para o agir ético por excelência: 
 
A partir do momento que o homem passa a amar verdadeiramente a Deus e 
como Ele ama, com gratuidade e fazendo o bem aos outros, sua vida será 
guiada corretamente aos verdadeiros caminhos, por isso, o ser e agir ilu-
minados pela vontade do amor divino garante que a liberdade de ação seja 
justa, logo, ética. É o amor que conduz o homem a agir de forma coerente 
segundo a vontade de Deus e o desvia de agir somente por prazeres 
inconstantes (ROCHA; CARVALHO, 2016, p. 29). 
 
Diante disso pode-se observar que é amando verdadeiramente a Deus e ao 
próximo e fazendo bem aos outros é que se guiará a vida pelo caminho verdadeiro, livre 
e por consequência ético, nota-se que o autor acrescenta que esse caminho é livre do agir 
pelos prazeres inconstantes: “A expressão “tudo aquilo que quereis” não deve ser tomada 
aqui em sentido ordinário e banal, mas em seu sentido forte. A vontade livre não concebe 
a não ser o bem. Quando se trata do mal, não se fala de vontade, mas de paixão” 
(AGOSTINHO, 2017, p. 168). Ou seja, o uso correto da regra, enquanto máxima do amor, 
guia até mesmo ao afastamento das paixões. 
 Para o comentador Giovanni Catapano: “à fórmula positiva limita-se ao dever para 
com o próximo (na verdade, prescreve para fazer aos homens o que queremos que eles 
17 
 
façam a nós)” (CATAPANO, 2005, p. 110)8 Nesse sentido a regra no seu caráter positivo 
faz relação ao amor do próximo, o que não exclui por si o amor de Deus, esse está 
implícito no próprio sentido de amor: 
 
Que ninguém diga: “Não sei o que amar”. Que ele ame o seu irmão e estará 
amando o próprio Amor. Pois assim conhecerá melhor o amor com que ama 
do que o irmão a quem ama. Pode desse modo ter de Deus um conhecimento 
maior do que o do irmão. Sim, Deus torna-se mais conhecido, porque lhe está 
mais presente. Deus lhe será mais conhecido porque lhe é mais íntimo. Mais 
conhecido porque mais seguro. Ao abraçar a Deus que é Amor, abraças a Deus 
por amor. É esse mesmo amor que une todos os anjos bons e todos os servos 
de Deus pelo vínculo da santidade. É o mesmo amor que nos une entre nós e a 
eles reciprocamente, e ainda nos submete a Deus (AGOSTINHO, 2018, p. 
170). 
 
Nesse sentido o amor é vinculo de unidade entre sujeito, objeto e o próprio Amor, 
que é Deus, quem ama algo, ama necessariamente a Deus que é amor. Sobre esse sentido 
do amor a Deus trataremos melhor no próximo ponto que diz sobre a regra na formulação 
negativa, que segundo a linha de interpretação seguida diz respeito propriamente ao amor 
de Deus. 
 
2.3 FORMULAÇÃO NEGATIVA 
 
Como já dito anteriormente, a regra de ouro conta com mais uma formulação, 
inteirando assim duas formulas possíveis, a positiva acima citada e a negativa que será 
tratada nesse ponto. Deve-se se buscar entender o valor das duas formulações, se as duas 
podem ser consideradas máximas éticas e se tem aplicações diferente pelas suas diferentes 
formulas. 
É notório o fato de que Santo Agostinho conhece também a formula negativa da 
regra de ouro, ela está presente na obra do Santo em vários textos e coincide com a 
formula apresentada no Livro de Tobias: “Assim, o que não gostas, não o faças a ninguém 
(Tb. 4, 31)”. A formula negativa como o próprio nome já diz ao invés de apresentar uma 
atitude a ser feita apresenta algo a não ser feito. 
A fórmula negativa é a mais utilizada pelo santo doutor em suas obras formuladas 
de diversas maneiras. Em suma, são todas maneiras diversas de expressar o mesmo 
conteúdo; pois, se forem interpretadas corretamente elas prescrevem a mesma ação: uma 
 
8 “la formula positiva si limita ai dovere nei confronti del prossimo (prescrive infatti di fare agli uomini 
ciò che vogliamo essi facciano a noi)”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro in Agostinho. Apud: 
VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica universale. Vita e Pensiero: 
Milano, 2005. 
18 
 
hora ordenando, outra proibindo e vice-versa. Agostinho compreende que a formula 
negativa da regra tem seu fundamento no Decálogo, pois é uma síntese dos ‘nãos’ aí 
apresentados, segundo ele as duas formulações da regra tem fundamento na Pessoa 
Divina, sendo a positiva proveniente da lei natural e a negativa do decálogo, esse não do 
decálogo para o autor é necessário, pois o decálogo enquanto lei, surge já de uma privação 
que é o pecado, esse é um não do homem para Deus e por isso Deus precisou dizer não 
para o homem. 
A regra em seu sentido negativo tem uma conotação de interdição apresentando 
um ‘não’, ou seja, uma partícula de interdição que representa bem a ideia de evitar o mal, 
segundo o filosofo francês Paul Ricuer “A todas as figuras do mal responde o não da 
moral” (RICOEUR, 1991, p. 167), ou seja é o não da moral que tem força interditaria 
para evitar o mal, por exemplo é só pensar nos mandamentos da lei de Deus como não 
matar e não roubar, e nesse sentido a formula negativa da regra diz mais respeito aos 
deveres voltados para com Deus, pois é preceito divino “Afaste-se do mal e faça o bem 
(1Pe. 3, 11)”, assim como a formulação positiva parece cumprir o preceito de fazer o bem, 
a negativa parece cumprir o de evitar o mal, acontece também que não fazer o mal implica 
necessariamente em fazer o bem, pois a ausência de bem é um mal em si mesma e por 
isso Giovanni Catapano afirma: “Enquanto o 'negativo' também inclui deveres para com 
Deus” (CATAPANO, 2005, p. 110)9. Então aí está a diferença das formulações, a 
primeira incluiu mais profundamente o amor ao próximo e a segunda mais profundamente 
o amor a Deus. “Seguindo essa perspectiva, o homem não poderia amar a si próprio antes 
de conhecer a Deus. Em outras palavras, antes de se achegar a Deus, o homem se odiava 
a si mesmo, a Deus e ao próximo” (PAULA; MELO, 2011, p. 6) ou seja, é somente no 
amor de Deus que o homem é capaz de conceber relação de amor com si mesmo e com o 
outro, por isso a necessidade de duas formulações, pois a regra como expressão de amor 
ao próximo não pode deixar de conter em si uma expressão do amor a Deus, pois se não 
ama o próprio amor, que é Deus, o homem não será capaz de amar o seu próximo. 
Para Agostinho o amor verdadeiro e aquele que não pode ser vencido, ou seja, o 
amor ao qual não pode ser arrebato as coisas que se ama: 
 
Não poderá ser vencido por homem algum aquele que vence suas próprias 
paixões. Com efeito, não será vencido senão aquele a quem o adversário lhe 
arrebata as coisas que ele ama. Então, aquele que ama somente aquilo que não 
 
9 “mentre quella 'negativa' comprende anche i doveri verso Dio”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro 
in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica 
universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
19 
 
lhe pode ser arrebatado, é incontestavelmente invencível. E nem poderá ser 
atormentado por invejoso algum. Além do que, se ele vê os outros chegarem 
até ao objeto de seu amor para amá-lo igualmente, e participar desse amor, 
felicita-os generosamente. Ele ama a Deus, de todo o seu coração, de toda a 
sua alma e de todo o seu espírito. E ama a seu próximo como a si mesmo. Não 
sente inveja alguma, caso os outros se tornem iguais ao que ele mesmo é 
(AGOSTINHO, 2017, p. 75). 
 
A regra de ouro que leva ao amor de Deus, se direciona justamente a esse amor 
que não pode ser arrebatado e que não causa inveja, pois se outro atinge esse amor e 
motivo de felicidade e nunca de inveja, tal amor que não pode ser arrebatado atende as 
exigências de uma verdadeira ética, pois sempre se agirá em conformidade com esse 
amor, tanto o amor que está destinado ao próximo quanto oque está destinado a Deus, é 
assim que a regra em seus dois sentidos atende as expectativas de uma verdadeira ética 
de amor. 
Em Agostinho o amor se configura sendo “a perfeita justiça — a que nos leva a 
amar mais o que vale mais, e amar menos o que vale menos” (AGOSTINHO, Santo. 2017, 
p. 79). Ao alcançar essa perfeição o homem se torna capaz de valorizar melhor o que vale 
mais, nesse caso, valorizar melhor o irmão, quando diz respeito a regra positiva e valorizar 
melhor a Deus, quando diz respeito a regra negativa. A regra de ouro torna-se então 
caminho ético por excelência que possibilita o homem conceber melhor suas relações e 
os objetos dessas relações levando assim a uma perfeita conduta ética que respeita as 
relações humanas e seus objetos. 
Diante das duas formulações da regra é importante perceber que as duas devem 
ser levadas em conta, ou seja, ao mesmo tempo que se deve tratar bem o seu próximo, 
fazendo a ele o que gostaria que fosse feito a si mesmo, também deve-se evitar tratá-lo 
mal, não fazendo a ele o mal que não quer para si mesmo, sendo assim as duas 
formulações se completam, demonstrando como se deve dar a verdadeira conduta de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
3 O CONHECIMENTO DA REGRA 
 
O principal objetivo desse capitulo é investigar o pensamento de Santo Agostinho 
acerca do conhecimento da regra de ouro, como poderá ser visto, Agostinho postulou 
duas fontes de conhecimento da regra, uma por meio da revelação e a outra no coração 
do homem. Nesse sentido, buscar-se-á estudar o pensamento do autor e como ele entende 
essas duas fontes. Se há nelas diferenças substanciais ou se o conhecimento da regra se 
vale tanto por uma quanto por outra e como isso se relaciona com o sentido ético da regra 
de ouro. 
 
3.1 A REGRA E A REVELAÇÃO 
 
Se questionar sobre isso é se questionar sobre o modo como a regra de ouro se dá 
a conhecer na realidade humana, é possível apresentar pelo menos duas formas disso 
acontecer no pensamento de Agostinho: “existe, portanto, uma lei revelada nas escrituras, 
e uma lei natural, escrita não em um livro, mas no coração, que qualquer homem que 
tenha chegado ao uso da razão pode descobrir dentro de si mesmo” (CATAPANO, 2005, 
p. 116)10. Nesse sentido a regra pode ser conhecida pela revelação, através das escrituras, 
ou pode ter como meio para isso a própria natureza humana presente no coração do 
homem. 
Nesse capítulo optou-se por fazer a divisão tratando primeiro da do conhecimento 
revelado e depois do natural. Entender melhor os sentidos de lei natural e lei revelada e 
como se dá sua relação com a regra de ouro é fundamental para um maior conhecimento 
da concepção do autor sobre a mesma. 
A revelação em Santo Agostinho compreende todo o conhecimento que não foi 
advindo da razão humana, mas de algum tipo iluminação divina. Portanto revelação e 
conhecimento estão intimamente ligados, pois a revelação nada mais é que um 
conhecimento dado por Deus ao homem. 
Para Agostinho “O conhecimento seria a capacidade de concluir verdades 
imutáveis por meio dos processos mentais. [...] Assim, o ser humano tem pensamento 
 
10 “esiste quindi una legge rivelata nella scritture, e una legge naturale, scritta non in un libro, ma nel 
cuore, che qualsiasi uomo giunto all'uso di ragione può scoprire dentro di sé”. CATAPANO, Giovanni. La 
regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come 
etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 2005. 
21 
 
autônomo e acesso à verdade eterna, mas depende, para isso, de iluminação divina” ( 
FERRARI, 2008)11. Ou seja, a verdade pode ser alcançada por qualquer homem mesmo 
que dependendo de uma iluminação divina que nesse sentido seria a revelação que 
completa o conhecimento humano preenchendo-o com o que Deus tem a ensinar, as 
formulações presentes na revelação, sagrada escritura, seriam nesse sentido meios de 
Deus demonstrar ao homem aquilo que ele deseja que eles conheçam, nesse caso a 
ordenação da caridade através da regra de ouro: amar a si, amando a Deus e ao próximo; 
ao próximo, amando a Deus e a si; e a Deus, amando a si e ao próximo. 
Num trecho das Confissões, Agostinho professa a eternidade e imutabilidade do 
Verbo Divino que não deixa de ser o que era para passar a ser o que não era, tal afirmação 
dá caráter necessário a toda revelação presente no que professou o Cristo, próprio Verbo 
encarnado: 
 
Sabemos, Senhor, sabemos que de algum modo uma coisa nasce e morre, 
quando deixa de ser o que era e passa a ser o que não era. Na tua palavra, nada 
aparece e desaparece, porque é realmente imortal e eterna. Com esta palavra, 
que é eterna como tu, enuncias a um só tempo e eternamente tudo o que dizes. 
E tudo o que dizes que se faça, realiza-se. Não de outro modo, mas somente 
com a palavra, tu crias (AGOSTINHO, 1997, p. 203). 
 
 Isso inclui a regra de ouro, por isso para o Santo a regra é imutável e necessária, 
pois está presente na revelação do próprio Verbo, o princípio de amor e o de tratamento 
da regra são de grande importância para Agostinho graças a isso e como se verá 
futuramente tal necessidade da regra se fundamenta melhor ainda ao investigar o coração 
do homem. 
Num trecho do livro A Trindade ao se perguntar sobre onde estão escritas essas 
regras que possibilitam o conhecimento da justiça, inclui-se aqui a regra de ouro, pois 
para o Santo ela é uma regra de justiça, Agostinho chega à conclusão de que essas estão 
escritas no “livro da luz da verdade” que é também a fonte da revelação divina e que ela 
passa a estar escrita no coração do homem junto dessa pratica da justiça, isso se dá porque 
para o filósofo Deus, cria, ordena e possibilita o conhecimento das coisas que deve ser 
buscado na interioridade do homem: 
 
Onde, pois, estarão escritas essas regras? Elas que possibilitam ao injusto 
reconhecer o que é justo, descobrir que deve possuir aquilo que ele mesmo não 
possui? Onde hão de estar escritas senão no livro daquela luz que se chama 
Verdade? Nesse livro é que se baseia toda lei justa que é transcrita e se transfere 
 
11 Versão Eletrônica: <https://novaescola.org.br/conteudo/1683/santo-agostinho-o-idealizador-da-
revelacao-divina> Acessado em 05/05/2019. 
22 
 
para o coração do homem que prática a justiça. Não como se ela emigrasse de 
um lado para o outro, mas a modo de impressão na alma. Tal como a imagem 
de um anel fica impressa na cera, sem se apagar do anel (AGOSTINHO, 2018, 
p. 280). 
 
Isso é possível para o Santo porque ele admite que Deus ilumina o conhecimento 
estando este já anteriormente em nosso espírito. Essa doutrina da Iluminação divina 
caracteriza-se por uma luz que não é material e que atinge no encontro com o 
conhecimento da verdade para que o homem possa ter uma vida feliz e beata. Essa luz da 
verdade, pela qual a alma é iluminada, é Deus ele mesmo ao passo que a alma é uma 
criatura que ainda que feita racional e intelectual à sua imagem, quando ela se esforça por 
ver a luz ela mesma age com dificuldade é no entanto de lá que lhe vem tudo o que ela 
apreende pelo intelecto como ela o pode fazer. A teoria da iluminação, preocupa-se menos 
em demonstrar se podemos ou não conhecer a verdade, e mais em nos fornecer as 
condições de possibilidade para que o façamos, nesse sentido a regra de ouro é o que nos 
leva a condição de possibilidade de amar a Deus e ao próximo. 
Através de um pequeno itinerário filosófico de Agostinho, pode ser perceber o 
papel central que tem a revelação em seu pensamento: 
 
Filosofar, para Agostinho, é buscar a Felicidade. Ser feliz é conhecer a 
Verdade. Conhecer a Verdade é conhecer a Deus. Assim, a própria teoria do 
conhecimento agostiniana segue esta sua jornada autobiográfica, o 
materialismo correspondendo ao plano da exterioridade (sensibilidade, 
exterior),o platonismo atingindo a interioridade (inteligibilidade, interior) e o 
cristianismo transcendendo ao Absoluto pela Revelação (transcendência, 
superior) (VARGAS, 2010). 
 
 O conhecimento da regra de ouro através da sagrada escritura demonstra para o 
Santo a necessidade de se ter essa regra como conduta de vida, pois tudo que é revelado 
demonstra ser de um conhecimento superior, é uma vontade do próprio Deus para a 
humanidade. 
“O Senhor assim termina o que estava desenvolvendo: Portanto, tudo aquilo que 
quereis que os homens vos façam de bem, fazei-o vós a eles, porque isto é a Lei e os 
Profetas” (AGOSTINHO, 2017, p. 169). Nesse trecho do Sermão da Montanha o Cristo 
afirma ser a regra, “a Lei e os Profetas”, ou seja, Ele não só a identifica como parte da 
revelação, mas como parte crucial de toda a história que vinha sendo escrita através dos 
tempos. Agostinho ao meditar sobre essa passagem chega à seguinte conclusão: “É 
preciso também não passar por cima do que ele acrescenta: “Isso é a Lei e os Profetas”. 
Ao falar desses dois mandamentos, o Senhor não diz somente: “Eles contêm a Lei e os 
Profetas”, mas: “Toda a Lei e os Profetas”, isto é, todas as profecias” (AGOSTINHO, 
23 
 
2017, p. 169). Ou seja, a regra contempla toda a revelação, pois contempla seu mais 
importante mistério, o mistério do amor, ao comtemplar o amor enquanto amor ela 
apresenta tudo o que é necessário para uma vida em Cristo, o sentido pleno de toda a 
revelação. 
 
3.2 A REGRA E A LEI INSCRITA NO CORAÇÃO DO HOMEM 
 
A lei natural também conhecida como lei eterna ou ainda direito natural na 
filosofia de Santo Agostinho seria encontrada no próprio indivíduo que a deveria buscar 
em seu interior, é a lei que está inscrita no coração humano. Nos dias atuais, essa ideia é 
chamada de moral que é encontrada no foro íntimo da pessoa. Em um primeiro momento, 
o homem não possui acesso à essa lei, por ser cometedor do pecado original. Entretanto, 
o homem pode ter acesso através da fé. A lei eterna, para Agostinho, visa a paz eterna. 
“Contudo, os autores medievais concordaram em valorizar a regra de ouro como 
uma expressão importante da lex naturae (lei natural)” (TATRANSKY, 2006, p. 647)12. 
Nesse sentido pode se perceber que a regra de ouro é uma importante peça dentro daquilo 
que é chamado de lei natural, ou seja, ela está presente nos mais profundos anseios do 
coração do homem, pela própria impressão desta nesse coração. 
 
Mesmo que nunca fosse estabelecida pela revelação ou pelos preceitos do 
Decálogo, a regra de ouro conservaria sua autoridade e eficácia enquanto 
pertencente à lei natural. Isso significa que a validade da regra de ouro não 
depende de sua instituição e promulgação divina, como ocorre em relação aos 
preceitos cerimoniais e judiciais. Assim, o conhecimento da regra de ouro pela 
Escritura não lhe conferiria outra autoridade e eficácia distinta daquela que já 
possui enquanto pertencente à luz natural da própria razão ( SALLES; SILVA; 
OLIVEIRA, 2011, p. 93). 
 
Diante desse texto percebe-se que a regra de ouro não necessita da revelação para 
se fundamentar, apesar de essa lhe dar autoridade da promulgação divina, a regra mostra-
se autossustentável através da própria natureza humana, ou seja, na própria criação do 
homem foi deixada por Deus em seu coração essa regra que como pertencente a essa 
instituição divina se sustenta pela própria natureza humana, pelos próprios anseios de seu 
coração. 
 
12 “Tuttavia, gli autori medievali erano concordi nel valorizzare la regola d’oro come un’espressione 
importante della lex naturae.”. TATRANSKY, Tomás. SUL VOLUME LA REGOLA D’ORO COME 
ETICA UNIVERSALE. Nuova Umanità. XXVIII (2006/5) 167, p. 643-659. 
24 
 
De acordo com Jones Bernardes Agostinho identifica a exigência existente no 
coração do homem como a lei natural: 
 
Do mesmo modo, essa exigência presente em todos os seres humanos 
indistintamente é identificada por Agostinho com a lei natural inscrita no 
interior de todos os homens. Tudo o que esta lei contém em si está expresso 
interiormente de modo universal, imutável e evidente, sem necessidade de uma 
revelação sobrenatural. Estas três notas ou atributos são essenciais para a sua 
compreensão: universal – em todos e em qualquer lugar; imutável – não está 
sujeita a movimento/mudança; evidente – todos podem ter acesso pela razão. 
Conquanto, a pessoa humana não necessita da revelação sobrenatural para 
conhecer essa lei. Desse modo, a lei de Moisés, enquanto lei revelada, apenas 
explicitou e precisou exteriormente o que a lei natural já continha interiormente 
(MACHADO, 2012, p. 42-43). 
 
É importante se deter em três pontos centrais dessa fala: primeiro, de que 
Agostinho identifica a regra de ouro como pertencente a natureza humana; segundo que 
a regra como parte da natureza é expressa como universal, está presente em cada ser 
humano como imutável, não pode ser mudada por nada nem ninguém e como evidente, 
que pode ser acessada por qualquer ser dotado de razão; terceiro, como já foi afirmado 
antes nesse trabalho, ela não precisa da revelação para ser fundamentada, a revelação tem 
o papel de explicitá-la, pois essa já está fundamentada na lei natural. Um pouco mais à 
frente o mesmo autor ainda diz “essa, sem nenhuma dúvida, é uma das leis inscritas no 
coração do homem que nada pode apagar; nem a maior iniquidade humana tem essa 
capacidade” (MACHADO, 2012, p. 43), ou seja, não importa o que seja feito mesmo que 
o homem jamais siga esta regra ele nunca poderia apagá-la do seu coração, por exemplo, 
um bandido mesmo cometendo furto jamais quereria sofre-lo e se perguntado se para 
fazer bem ao seu próximo não deveria comete-lo evidentemente responderia que sim, 
então para qualquer homem são, mesmo que infrator da regra ela ainda é parte da natureza 
e está presente em seu coração. 
Esta mesma lei natural é ainda identificada por ele com a voz da verdade, ou como 
chama Agostinho ‘tribunal interior’. Eis o modo como se propõe essa ideia através de um 
exemplo dessa mesma voz que grita no interior: 
 
Vamos supor que, não sei de onde, vem um amigo teu, e sem testemunhas 
confia-te certa quantidade de ouro. Somente ele e tu, dentre os homens, tendes 
conhecimento disso. Existe, porém, ali outra testemunha que é invisível, mas 
vê. O amigo te entregou o ouro secretamente, em teu quarto, talvez sem a 
presença de qualquer árbitro. A testemunha presente, não está dentro das 
paredes do quarto, mas no recinto de vossas consciências. O amigo entregou e 
partiu. Não o contou a nenhum dos seus, esperando voltar, e receber de volta 
o que entregara. Como são as coisas humanas, ele morre. Tem um herdeiro, o 
filho que deixou. O filho ignora o que o pai possuía e a quem o confiou. Vamos. 
Volta, volta, prevaricador, ao teu coração, onde está escrita a norma: “Não 
25 
 
faças a ninguém o que não queres que te façam”. Imagina que foste tu quem 
confiou o ouro, que não disseste a nenhum dos teus, que morreste e deixaste 
um filho. Que querias que teu amigo fizesse? Responde, julga a questão, o 
tribunal do juiz está em tua mente. Ali Deus está sentado, tua consciência é o 
acusador, e o medo o carrasco. Vives em meio às vicissitudes humanas, na 
sociedade dos homens. Pensa no que querias que teu amigo prestasse a teu 
filho. Sei o que te respondem teus pensamentos. Julga, então, conforme ouves. 
Julga. Haverá uma voz. A voz da verdade não se cala. Não clama com os 
lábios, mas vocifera no coração. Presta ouvidos. Fica ali com o filho de teu 
amigo (AGOSTINHO, 1997, p. 81). 
 
Esse é um dos mais fortes testemunhos na obra de Santo Agostinho, acerca da 
regra de ouro como lei interior. O tribunal ao qual os homens devem se submeter 
apresenta um juiz já conhecido, a própria consciência, ao ouvir essa voz o homem saberá 
como agir e como pautar as suas ações, ao transvia-la o homemquebra uma norma de seu 
próprio coração. Esse tribunal é essencial, se assim não fosse como o homem que não 
conhece a revelação seria capaz de cobrar a injustiça sofrida? Isso não seria possível, só 
o é porque tais homens estão expostos a sofre-la e assim sabem que não devem praticá-
la, a Epistola aos Romanos observa que: 
 
Quando os pagãos, embora não tenham a Lei, cumprem o que a Lei prescreve, 
guiados pelo bom senso natural, esses que não têm a Lei tornam-se Lei para si 
mesmos. Por sua maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus 
corações: disso dão testemunho igualmente sua consciência e os juízos éticos 
de acusação ou de defesa que fazem uns aos outros... (Rm. 2,14-15). 
 
Ou seja, essa lei está inscrita no coração do homem, pois mesmo os que não 
conhecem a revelação a praticam como é prevista, tal lei se faz presente no homem por 
necessidade, é preciso que ela esteja presente no coração humano para que assim ele possa 
agir bem e para que ele seja correto e justo, esse ideal de justiça dado pela regra demonstra 
sua natureza ética, pois é ela responsável por fazer o homem agir bem com os outros e 
com Deus. 
 “Como Anne-Marie La Bonnardière esclareceu, quando Agostinho usa o ditado, 
‘o que você não gostaria que acontecesse para você, não faça para os outros’, não é para 
ele um ato de um texto biblico, mas uma frase que expressa o preceito fundamental da lei 
natural” (CATAPANO, 2005, p.115)13, nesse sentido o filósofo observa que a regra de 
ouro é um preceito fundamental da lei natural e não um ato específico de um texto biblíco, 
sendo assim ele relaciona a regra muito mais profundamente com a natureza humana que 
 
13 “come há chiarito la Bonnardière, quando Agostinho utilizza il detto, ‘quod tibi fieri non uis, alli ne 
feceris’, se trata per lui non de un testo scritturistico, ma de una sentenza che esprime il precetto 
fundamentale della legge naturale”. CATAPANO, Giovanni. La regola d’oro in Agostinho. Apud: VIGNA, 
Carmelo; ZANARDO, Susy (ORG.) La Regola d'oro come etica universale. Vita e Pensiero: Milano, 
2005. 
26 
 
a própria revelação que traz a conhecê-lá, ela não seria aceita mesmo com a revelação se 
não fosse preceito já presente no coração homem. 
 Portanto, nota-se que a regra pode ser conhecida de duas maneiras distintas, ela 
pode ser revelada através da ação divina, bem como pode ser encontrada no próprio 
coração do homem, acontece que a regra precisava ser revelada para que os religiosos 
nela acreditassem, mas também precisava estar presente no homem para que os pagãos 
igualmente o fizessem, o importante é que seja qual for a forma de conhecimento ao que 
se deu a regra ela é necessária para uma boa conduta de vida e para um bom agir para 
com os outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
4 A REGRA DE OURO E A “IMAGO DEI” 
 
A síntese do desenvolvimento do pensamento de Agostinho acerca da regra de 
ouro se resume através de sua concepção sobre a “imago dei”14 (causa formal intrínseca 
da natureza humana) e da graça de Cristo (causa formal extrínseca, Cristo como 
paradigma de uma natureza atualizada). Uma vez que o homem comete o pecado original 
ele fere a imagem de Deus que possuía na criação, tal imagem proporcionava ao homem 
a capacidade de viver plenamente no amor de maneira natural, ao cair no pecado o homem 
deteriora sua natureza perdendo a imagem de Deus que possuía e para restaurar tal 
imagem e atualizar a natureza humana Deus envia o Cristo que através da sua graça se 
torna paradigma para a raça humana. Sendo assim, buscar a concepção que tem Agostinho 
dessa imagem pré e pós pecado original é necessário para entender como a ideia de 
redenção proveniente da graça proporciona a restauração da imagem que foi atingida pelo 
pecado original. 
 
4.1 O AMOR À “IMAGO DEI” 
 
Na obra da criação, Deus cria o homem, Adão, no sexto dia. Dando-lhe a Sua 
imagem e semelhança: 
 
Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa 
semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os 
animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se 
movem pelo chão”. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus 
o criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, 
enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e 
todos os animais que se movem pelo chão” (Gênesis 1, 26-28). 
 
Para Agostinho, Deus diz à nossa imagem para marcar que não somos imagem só 
do Pai, ou só do Filho ou só do Espírito Santo. Somos imagem da Trindade, mas essa 
mesma Trindade é apenas um só Deus. “Então o Senhor Deus formou o ser humano com 
o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente. 
Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que 
havia formado” (Gênesis 2, 7-8). Terminada a criação do homem Deus lhe dá como 
morada um belo jardim chamado Éden. 
 
14 “Imagem de Deus”. 
28 
 
Agostinho indica uma oposição entre imago Dei x vestigium Dei15. Pois Deus 
deixou seu vestígio em toda a criação e todas as coisas criadas são boas. Mas a ordem 
sensível, incluindo nela o homem exterior, só pode manifestar os vestígios de Deus, já 
que para Agostinho ela está numa posição inferior. Somente na mente humana, parte mais 
nobre da alma que corresponde ao homem interior, é que de fato se manifesta a imagem 
de Deus: 
 
Pois, como dissemos (XIV,4,6), na alma, mesmo perdendo a participação de 
Deus, e se tornando manchada e disforme, permanece, entretanto, a imagem 
divina. E ela é imagem de Deus, porque precisamente é capaz de Deus, e pode 
ser partícipe dele. E não poderia alcançar tão grande bem, se não fosse ela a 
sua imagem (Agostinho, 1997, p. 271) 
 
De acordo com o filósofo dizer que homem é feito a imagem e semelhança de 
Deus significa que "Tendo Deus criado o homem à sua imagem, efetivamente, criou nele 
uma alma apta pela razão e pela inteligência a se elevar acima de todos os outros animais 
e demais seres criados, desprovidos de um espírito deste gênero” (AGOSTINHO, 2011, 
p. 1143). Deus criou o homem dotado de inteligência e saber e com a capacidade para 
conhecer. Logo após colocá-lo no paraíso Ele percebe que o homem precisa de alguém 
que o auxilie e assim faz a mulher: 
 
Formado o homem do pó da terra, insuflando-lhe essa alma citada, quer a tenha 
já feita, quer fazendo-a pelo seu próprio sopro, quis que esse sopro fosse a 
própria alma do homem. E sendo o Criador, fez de um osso tirado do lado do 
homem, uma esposa para ajudá-lo na geração, ou seja, para a propagação da 
natureza humana (AGOSTINHO, 2011, p. 1143). 
 
Como é dito, Deus não criou o homem e a mulher, mas somente o homem e a 
partir dele criou a mulher, sendo assim, toda a humanidade descende de um único homem 
criado a imagem e semelhança de Deus, toda a concepção do universo agostiniano 
repousa sobre a ideia de semelhança já que todo mundo criado manifesta um elo 
fundamental de semelhança com seu criador, todos os seres revelam de alguma forma o 
Ser de Deus em maiores ou menores graus de participação no Ser divino, sendo o homem 
não só semelhança, mas imagem por excelência de Deus. 
Tal dignidade do homem deixava-o acima de qualquer outra criatura material, 
deixando-o abaixo apenas dos anjos: 
 
Ao homem, [...] deu uma natureza intermédia entre o anjo e o animal: [...], mas 
se, abusando da sua livre vontade pelo orgulho e a desobediência, ofendesse o 
Senhor seu Deus, deveria, condenado à morte, viver à maneira dos animais, 
 
15 “Vestígio de Deus”. 
29 
 
escravo das paixões e votado, após a morte, a eterno suplício. Foi por isso que 
o criou único e só, não certamente para o deixar isolado de todaa sociedade 
humana, mas para pôr mais em relevo a seus olhos o vínculo de unidade e 
concórdia que esta sociedade deve manter, estando os homens ligados entre si 
pela identidade de natureza e pelos vínculos afetivos de parentesco 
(AGOSTINHO, 2011, p. 1139-1140). 
 
 Ficou claro nesta passagem que o homem, apesar de criado numa natureza 
intermediaria entre anjos e animais e mesmo estando muito acima dos animais precisava 
obedecer aos preceitos de Deus para não sofrer com a escravidão das paixões como os 
animais. Deus criou o homem nessa condição intermediaria para que através de uma 
natureza única ela pudesse além de governar o mundo dado viver na unidade e seguir aos 
seus preceitos. 
 Esse estado original no qual Deus criou o homem, pode ser chamado também de 
estado de graça que é o estado perfeito de retidão com Deus, estado no qual foram criados 
os primeiros pais e no qual se manteriam até a beatitude não fosse pelo pecado original. 
Agostinho comenta, caso o homem não tivesse pecado “juntar-se-ia à sociedade dos anjos 
e conseguiria para sempre a beatitude eterna sem passar pela morte” (AGOSTINHO, 
2011, p. 1139). 
 Esse estado de graça no qual o homem se encontrava é o estado de perfeita 
comunhão com Deus e perfeita vivência do Seu amor, nesse estado pode-se dizer que os 
homens viveriam perfeitamente a exigência da regra de ouro, pois, desejariam o bem para 
si, para o próximo e para Deus sempre, já que em tal estado não haveria desordem na 
natureza humana, pois, todos os homens estariam sob o efeito do amor de Deus, nesse 
sentido leva-se em consideração o 3.2 desse trabalho que afirma a regra ter um 
fundamento na natureza humana, ou seja, Deus cria o homem com a regra já em seu 
coração. Em relação a isso Agostinho faz um questionamento: 
 
Quem é que, de fato, ousaria negar que os primeiros homens no Paraíso tenham 
sido felizes antes do pecado [...]? Não é sem motivo que nós hoje chamamos 
felizes àqueles que vemos viverem na justiça e na piedade com a esperança da 
imortalidade, sem qualquer crime a roer-lhes a consciência, obtendo facilmente 
a misericórdia divina para os seus pecados de fragilidade presente. [...] a 
respeito do gozo de um bem presente, o primeiro homem era mais feliz no 
Paraíso do que qualquer justo na debilidade desta vida mortal. (AGOSTINHO, 
2011, p. 1017) 
 
Em vista da resposta que Agostinho dá, pode-se dizer que não é possível ao 
homem de hoje, mesmo que muito próximo a Deus, alcançar a felicidade que tiveram 
aqueles primeiros homens no paraíso, isso por que por mais santo que seja o homem atual 
sofre ao menos o temor do pecado enquanto os primeiros homens sequer o conheciam. 
30 
 
 O homem ao ser criado nesse estado de graça é um homem de boa vontade, pois 
está em perfeita comunhão com Deus “Assim Deus criou o homem, semelhante a Ti. Para 
viver na sua bondade e em sua fidelidade, mantendo-se em perfeita ordem carnal e 
espiritual. Vivendo sob a graça e sob o efeito do amor dele que é seu Senhor e Criador” 
(DALBOM, 2017, p. 22). Ou seja, este é um estado de perfeito amor à imagem de Deus 
que há no homem, por isso o homem ama igualmente seus semelhantes já que todos 
partilham dessa imagem de Deus em si mesmos. 
 
 
4.2 O AMOR CONTRÁRIO A “IMAGO DEI” 
 
Para Santo Agostinho, antes do pecado vem a soberba, antes de comer o fruto 
proibido é desobedecer a Deus o homem se encheu de soberba e orgulho, ou seja, do 
desejo de grandeza que o levou a abandonar a Deus e só pensar em si próprio: 
 
Foi no seu íntimo que começaram a ser maus para logo caírem em ostensiva 
desobediência. De fato, não se chega ao ato mau sem que a vontade má o tenha 
precedido. Ora qual pode ser o começo da vontade má senão a soberba? 
Efetivamente, "o orgulho é o começo de todo o pecado (Ecles. 10,15)". Mas 
que é a soberba senão o desejo de uma falsa grandeza? A grandeza perversa 
está, na verdade, em abandonar o princípio ao qual a alma se deve unir para se 
tornar de certo modo seu próprio princípio. Isso se realiza quando ela se 
compraz demasiadamente em si própria. E, de fato, compraz-se em si própria 
quando se afasta daquele imutável bem que devia agradar-lhe mais do que ela 
própria a si mesma. [...] o mal, a transgressão em comer do alimento proibido, 
não se realizou senão por comerem-no quando já eram maus (AGOSTINHO, 
2011, p. 1277 e 1278). 
 
A soberba é o desejo de colocar-se acima do que lhe convém é querer tomar um 
lugar que não lhe pertence, de acordo com Agostinho a verdadeira transgressão que se 
deu em comer o fruto proibido não estava em come-lo, mas em come-lo quando já se era 
mal. Ao se encher de soberba e orgulho o homem em seu interior já se torna mal e perde 
aquele estado original do qual foi falado, onde os homens viviam sempre desejando o 
bem do seu próximo num estado permanente de vivência da regra de ouro, o ato de comer 
o fruto proibido é a exteriorização do pecado já cometido no interior do homem: 
 
A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus 
tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais 
de nenhuma das árvores do jardim?’” A mulher respondeu à serpente: “Nós 
podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que 
está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o 
toqueis, do contrário morrereis’”. Mas a serpente respondeu à mulher: “De 
modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes 
31 
 
da árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem 
e do mal” (Gen. 3, 1-5). 
 
 A mulher se enche de soberba com a oferta da serpente “sereis como Deus”, aí 
está uma má vontade, na oferta de querer ser como Deus, de tomar o lugar do seu senhor 
que é infinito, poderoso e sábio. Ao se deixar tomar pela soberba o homem abandona a 
lealdade a Deus, sendo assim por orgulho o homem se volta a si próprio e abandona a 
lealdade a seu Senhor: 
 
Segundo Agostinho, Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, dotado 
de um corpo e uma alma. Se seguisse o movimento natural em direção ao 
criador, seria feliz. Porém, ao contrário, se abusasse do livre-arbítrio da 
vontade, desobedecendo e cedendo ao orgulho, iria morrer e tornar-se escravo. 
Dessa maneira, Deus criou o homem reto. Entretanto, este se corrompeu pelo 
mau uso da própria vontade. Em vez de usá-la para atingir o fim para o qual 
Deus a deu, o pecado de Adão mostra que o ser humano preferiu direcionar-se 
ao que era inferior do que ao bem supremo, numa atitude de orgulho 
(GRACIOSO, 2012, p. 22). 
 
Ao cometer esse pecado por soberba e orgulho e ao voltar-se inteiramente para si 
mesmo, o homem perde a comunhão do amor de Deus e abandona o princípio moral que 
vivia no seu estado natural o desejar o bem para si e para o próximo na comunhão com 
Deus e passa a desejar apenas o bem de si mesmo abandono o estado de ordenação com 
que foi criado: 
 
A soberba é, portanto, a motivação para a transgressão. É a soberba que motiva 
a realização do ato do pecado original na história dos ascendentes da 
humanidade. Foi por encherem-se de soberba que pecaram nossos primeiros 
pais, ao transgredirem o preceito, por desobediência. Isso, preferindo a si por 
vaidade que a seu Senhor. Viveram, pois, escravos dos vícios das paixões 
desordenadas, por terem abandonado a ordem original com que foram criados 
(DALBOM, 2017, p. 29). 
 
 Assim, o homem passa a querer apenas o próprio bem e por isso faz-se necessária 
a instituição daquilo que é chamado de moral, pois o homem passa a poder fazer coisas 
que não deveria e no intuito de evitar que isso aconteça a moral é instituída e Agostinho 
a funda no princípio de amor contido na regra de ouro. A perca da capacidade natural do 
homem de se relacionar com Deus significa a perca da capacidade natural de se relacionar 
com o outro, é nesse sentido que se faz necessário o uso da regra de

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