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Capítul ROTAÇÃO DE CULTURAS A rotação de culturas é um dos métodos mais recomendados para o manejo de nematoides em culturas anuais ou perenes de ciclo curto (HALBRENDT; LaMONDIA, 2004). Se em determinada área é plantada a mesma cultura suscetível ciclo após ciclo, as populações de nematoides que se desenvolvem nesta cultura tendem a aumentar. No entanto, a rotação com plantas não hospedeiras restringe a multiplicação dos nematoides e, aliada aos fatores naturais de mortalidade, favorece a redução da população do patógeno. Ao planej ar cuidadosamente a sequência de plantas a serem usadas em rotação numa área é possível reduzir a densidade populacional do nematoide abaixo do nível de dano na cultura comercial de maior valor e não promover o aumento da população de outras espécies de nematoides (FERRAZ et al., 1999; HALBRENDT; LaMONDIA, 2004). _ O primeiro passo para o planej amento adequado do sistema de rotaçao. de c~lturas é a identificação correta das espécies de nematoldes na area de cultivo. A escolha das plantas a serem adotadas ?m rotação dependerá do resultado do levantamento nematológico da area, VIsto que uma mesma planta pode apresentar comportamento difercncian., diante de espécies ou raças distintas de nematoides (HALBRENDT; LaMONDIA, 2004). h Algumas espécies de nematoides apresentam restrita gama deospedelros, fator que f: _ r avorece a rotaçao de culturas. E o caso do •._-----~ - -_ ...•. _~ _" - -~ Rotação de culturas 107 nematoide de cisto da_soja (Heterodera glycines), por exemplo. A maiona das culturas nao leguminosas pode ser d 1 . usa a como p antas não hospedeiras para o controle desse nematoide (RIGGS· NIBLACK 1993). Porém, nem~toides com ampla gama de hospedeir~s dificultan~ o con~ole por :nelo dessa prática, como é o caso de Meloidogyne incognua, M. javanica e várias espécies de Pratylenchus. Ainda assim, é possível adotar rotações de culturas e reduzir populações de nematoides polífagos. Em um sistema de rotação de culturas, quanto maior o intervalo entre o cultivo de plantas suscetíveis maior a chance de controle do patógeno (BRIDGE, 1996). Logo surge a questão: qual o tempo necessário para reduzir a população de nematoides abaixo do nível de dano econômico? A resposta vai depender da sequência de plantas adotadas, da densidade inicial da população de nematoides, da capacidade de sobrevivência do patógeno (Tabela 13.1) e dos fatores' edafoclimáticos (WRATHER et aI., 1992; HALBRENDT; LaMONDIA, 2004). O cultivo de espécies não hospedeiras por apenas um ciclo é válido, no entanto, não é o adequado. O ideal seriam dois ciclos de cultivo de espécies não hospedeiras, intercalado com um ciclo de uma espécie hospedeira (SASSER, 1990). Nesse caso, para não comprometer a renda do produtor, pode-se incluir no esquema de rotação de culturas a rotação de cultivares. Um bom esquema de rotação não deve incluir uma planta ou cultivar suscetível ao nematoide principal mais que uma vez em cada quatro estações de cultivo. Para exemplificar tal situação, pode-se mencionar o manejo recomendado para o controle de Globodera spp. em campos de produção de batata nos EUA. Em uma sequência de rotação de quatro anos, variedades resistentes de batata são cultivadas por dois anos, seguido pelo plantio no ano seguinte de uma planta não hospedeira (aveia, por exemplo). No último ano, o produtor pode voltar com cultivares suscetíveis ao nematoide, o que permite a produção de batata em três dos quatro anos sem aumento na população desse organismo (BRODIE, 1998). 108 Ferraz et alo Tabela 13.1 - Tempo de sobrevivência no solo de algumas espécies de fitonematoides na ausência da planta hospedeira , Nematoide Sobrevivência na Ausência da Planta Hospedeira Mesocriconenia xenoplax Globodera rostochiensis, G. pallida Heterodera glycines Meloidogyne spp. Meloidogyne graminicola Pratylenchus cofJeae Radoplzolus similis Pratylenchus bracliyurus Tylenchulus sernipenetrans Rotylenchulus reniformis 2 anos em solo inundado 10 a 15 anos 4 a 7 anos 1 a 12 meses 5 meses em solo inundado 6 meses em solo nu 9 a 14 meses 21 meses 3 a 10 anos 2 anos em solo nu, 18 meses em solo seco Fonte: Adaptado de Van GUNDY, 1965; SIKORA et aI., 2005. Quando bem planej ada, além do controle de nematoides, a rotação de culturas pode trazer os seguintes beneficios (SOUZA; PIRES, 2007): a) Estabilização ou aumento da produtividade: em alguns casos, o rendimento das culturas pode ser maior após o cultivo de determinadas plantas. Por exemplo, a produção de milho foi maior quando cultivado após tremoço-branco e ervilhaca-peluda, leguminosas utilizadas em adubação verde, do que após trigo (DERPSCH, 1993). Tal efeito pode ser variável em razão das plantas envolvidas, da região de cultivo e da suscetibilidade das plantas aos patógenos. b) Melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo: em geral, leguminosas de adubação verde produzem expressivos volumes de biomassa, fornecendo matéria orgânica e nutrientes ao solo, principalmente nitrogênio, sendo opções interessantes na implantação em esquemas de rotação. c) Melhor aproveitamento dos adubos: determinadas plantas são mais eficientes no aproveitamento dos adubos, por exemplo fumo, batatinha e algodão. d) Controle de pragas, doenças e plantas daninhas: a introdução de plantas não suscetíveis pode quebrar o ciclo biológico de pragas e patógenos. Além disso, a mudança de culturas e, consequentemente, a alteração nas práticas culturais pode ocasionar a Rotação de culturas 109 redução ~a população de plantas daninhas. Por exemplo, a rotação de aITOZIn1.g~do com uma cultura não irrigada reduz a infestação de plantas daninhas que são favorecidas pelo excesso de água. e) Control: da erosão: as taxas de perdas de solo e água causad~s pela erosao podem ser reduzidas pela mudança nos tratos culturais, conservação ~a matéria orgânica e pela diferença na cobertura do solo proporcionada por diferentes espécies vegetais. f) Preservação de organismos antagonistas dos nernatoides: a população de inimigos naturais dos nematoides pode ser mantida ou até incrementada pela rotação de culturas, em virtude da conservação da matéria orgânica e do estímulo diferenciado de exsudatos radiculares. Algumas limitações da rotação devem ser consideradas pelo agricultor (WHITEHEAD, 1998; FREITAS et aI., 1999; SOUZA; PIRES, 2007): a) O grau de controle de nematoides depende do nível de resistência da cultura usada na rotação. b) A ocorrência na mesma área de duas ou mais espécies de nematoides de ampla gama de hospedeiros, por exemplo, Meloidogyne incognita eM. javanica. c) A resistência do produtor em cultivar diferentes plantas em rotação, devido à falta de conhecimentos fitotécnicos, máquinários, implementos e também de mão de obra especializada. Possivelmente, um horticultor interessado em controlar M. arenaria não adotará a cultura do algodão em rotação, ainda que esta planta seja recomendada para o manejo do nematoide. d) A falta de rentabilidade para a maioria das culturas utilizadas em rotação com a cultura comercial ou dificuldade de crédito para culturas de menor expressão econômica. Determinadas plantas recomendadas para adubação verde, a exemplo da mucuna e da crotalária reduzem drasticamente a população de fitonematoides e devem ser usadas em casos de alta infestação da área. Todavia, não possuem valor comercial e podem ser preteridas pelo produtor. e) A falta de adaptabilidade de determinadas culturas comerciais menos suscetíveis aos nematoides, em razão de fatores . edafoclimáticos. Por exemplo, a aveia é naturalmente resistente às - 110 Ferraz e al. principais espécies de Meloidogyne que ocorrem no Brasil. No entanto, não se presta ao cultivo em clima quente e sec? Já o amendoim é uma cultura de retomo econômico e resistente a Meloidogyne incogn ita , porém não é recomendada para plaI~ti.o em solos muito argilosos, pouco profundos, mal drenados ou sujeito a encharcamento. A chave do sucesso de qualquer esquema de rotaçãode culturas é a escolha de plantas não hospedeiras ou hospedeiras desfavoráveis, em que se podem incluir as variedades resistent -s. Para facilitar tal escolha, veja Tabela 13.2. O cultivo de plantas não hospedeiras precedendo o plantio de variedades resistentes ao nernatoide-alvo, quando di ponív 1S, permite reduzir a pressão de seleção sobre os genes de resi tência, Essa estratégia é recomendada para o manejo de nematoides fi rmadorcs de cistos, como Heterodera e Globodera. Esses nematoides dificilmcnt são controlados apenas pela rotação con1 planta nu h spedeiras, porque podem sobreviver no solo por até 10 ano na f I la d . ci tos, c a eclosão dos juvenis é estimulada por exsudato radi u r -, liberados por hospedeiros suscetíveis. Com isso, a utiliza ri ultivares resistentes estimula a eclosão dos juvenis m 111 i 1 reprodução subsequente (HALBRENDT; LaMONDIA, 2 -no . exemplo, na ausência de hospedeiro, o declínio de G." t ich! 'nsis 11 rnatoide de cisto da batata, foi de aproximadarnent - 30 ( . r ano (BRODIE, 1984), enquanto com a utilização d ulti ar "'r i t ntes de batata, a redução da população do nematoi e fOI d - 80-( -;';0 por ano (BRODIE, 1976). Similarmente, o declínio anual do 11 matoide do cisto do fumo (G. tabacumi foi de aproximadarnente 40% na presença de culturas não hospedeiras, enquanto o plantio de cultivares resistentes reduziu a população do patógeno a níveis similares aos conseguidos com fumigação (LaMONDIA, 1995). , É importa~te ressaltar que fitonematoides frequentemente oco:r~m em comunIdades com múltiplas espécies, e o manejo de uma esp~cIe pode .f~vorecer a multiplicação de outra. O plantio de milho em areas tradícionatmeme cultivadas com soja, por exemplo, pode ser rec~mendado para o controle de H glycines, Rotylenchulus renifonnb e, al,n?a, de Meloidogyne spp., dependendo do nível de resistência do genótipo da gramínea. Todavia, esta mesma planta pode permitir a Rotação de culturas 111 multiplicação de Pratylenchus brachyurus, atualmente um dos principais nematoides que atacam a cultura no cerrado, Logo, a gama de hospedeiros dos fitonematoides presentes na área deve ser conhecida, incluindo espécies de plantas daninhas, que podem atuar corno hospedeiras alternativas do patógeno na ausência de culturas comerciais (Tabela 13.2). Tabela 13.2 - Plantas hospedeiras e culturas recomendadas para rotação/sucessão no controle de algumas espécies de nematoides Nematoide Principais Plantas Hospedeiras Culturas Recomendadas para Rotação Melo idogyn e incognita Melo idogyn e javanica Melo idogyn e arenaria Meloidogyne exigua Meloidogyne mayaguensis Algodão, soja, cana, fumo, café, várias culturas olerícolas, frutíferas, cereais, leguminosas Soja, feijão, várias culturas olerícolas, cereais, frutíferas, leguminosas Amendoim, soja, várias culturas olerícolas Café, seringueira, melancia, pimenta, cebola Goiaba, fumo, tomate, pimentão, batata-doce, melancia, café, feijão, beterraba, brócolis, batata, berinjela, Amendoim, mamona, crotalárias (Crotalaria spectabilis, C.juncea, C. mucronata), mucuna-preta, mucuna- cinza, centeio, cevada, Digitaria decumbens, Paspalum notatum, Brachiaria brizantha, Brachiaria decutnbens, Panicum niaximum cv. Guiné Algodão, amendoim, D. decumbens, B. brizantha, B. decumbens, P. maximum cv. Guiné, Eragrotis curvula, crotalárias (C. spectabilis, C. juncea, C. mucronata, C. paulinai Algodão, milho, sorgo, gergelim, mamona, pimenta, D. decumbens Sorgo, arroz, algodão, fumo, amendoim, P. maximum, crotalárias (C. spectabilis, C. juncea, C. paulinai, mucuna-preta C. spectabilis, Arachis pintoi melão, soja Amendoim, morango, Milho, aveia, cevada, trig?, algodão, arroz várias culturas espinafre, rabanete, centeio, 1 r I ntre elas melancia Digitaria decumbens° enco as, e, ' _ cen°ura, bata ta, !~~~~~ ------:----------. ------------------------------------------------------- C:ontlllua... Meloidogyne hapla ...------------------ ------ 112 Ferraz et alo Tabela 13.2 - Cont. Nematoide Principais Plantas Hospedeiras Culturas Recomendadas para Rotação Heterodera glycines Pratylenchus penetrans Pratylenchus brachyurus Pratylenchus zeae Rotylenchulus reniformis Radopholus similis lielicotylenchus l1'lulticinctus Soja, feijão, caupi, ervilhaca, feijão- adzuki, ervilha, alfafa, trernoço Soja, crisântemo, alho, maça, mandioquinha- salsa, ervilha, tomate, milho Soja, milho, arroz, cana, trigo, algodão, café, citros, abacaxi, batata, tomate, quiabo Arroz, milho, cana, fumo, algodão, sorgo Algodão, abacaxi, soja, fumo, maracujá, tomate, melão, café, alface Banana, gengibre, pimenta-do-reino, amendoim, sorgo, maracujá, abacaxi, batata-doce, macadâmia Banana, cana, café, cacau Milho, sorgo, arroz, trigo, aveia, algodão, girassol, grão-de-bico, rnilheto, aveia-preta, aveia-branca, mucuna-preta, cana, amendoim mucuna-cinza, nabo forrageiro, B. brizantha, B. decumbens, crotalárias (C. spectabilis, Ci juncea, C. breviflora) Aveia, cravo-de-defunto, milheto Milheto, crotalárias (C. spectabilis, C. mucronata, C. paulinar; aveia- preta, Brachiaria ruziziensis, azevém, Panicum tnaximum Feijão-mungo, caupi, gergelim, feijão-de-porco, girassol, cravo-de- defunto, crotalárias (C. paulina, C. junceai Sorgo, milho, cana, arroz, milheto, trigo, amendoim, feijão-mungo, mostarda, gergelirn girassol, mucuna-preta, crotalárias (C. paulina. C. breviflora, C. lanceolata, C. mucrouatcà, nabo forrageiro, aveia-branca, D. decumbens Cana, cravo-de-defunto, melancia, soja-perene, gergelim, B. decumbens, B. brizantha, C. juncea Fumo, mandioca, capim-pangola, arroz, gergelim, crotalárias (C. spectabilis, C.juncea), Digitaria decumbens Trigo, triticale, aveia, centeio, cevada Mesocriconema Pêssego, cereja, xenoplax damasco, amêndoa, alface, cravo, Crotalaria spectabilis, -----------------------------_ç:_C!!_q!_C!.!..i a jUI1 cea --- --------------------------------------------------------------------------------- Continua ... Rotação de culturas 113 Tabela 13.2 - Cont. Nematoide Principais Plantas Culturas Recomendadas para Hospedeiras Rotação Scutellollema Inhame, ca.rá, caupi, Amendoim, pimenta, fumo aIgodão, bradys tomate, quiabo milho ~ Fonte: RHOADES, 1976; HUANG et a1., 1980; CARJ'JEIRO: CARNEIRO, 1982: SASSER et aI., 1982; SHARMA et a1., 1982; HAROON; SMART .IR., 1983a,b; REDDy et al., ,1986; BRITO; FERRAZ, 1987 ab: SILVA et al.. 1989a,b~ RODRIGUEZ-KABANA et aI., 1990; SILVA et al.. 1990a; ALMEIDA: C~MPOS, 1991b; CAS~ELL et aI., 1991; RODRÍGUEZ-KÁBANA ct al., 1991b: BELAIR, 1992; RODRIGUEZ-KÁBANA; CANULLO, 1992; CHARLES, 1995: VALLE et aI., 1996ab; WHITEHEAD, ] 998; BRINGEL; SIL VA, 2000: CARNEIRO et ~1. 2001; DIAS-ARIElRA ct a1., 2002; D1AS-ARIEIRA ct aL 2003; GUIMARAES et al., 2003; SANTANA et a1., 2003; OLIVEIRA et al., 2005: SIKORA et al., 2005; CARNEIRO et aI., 2006b. o manejo de populações mistas de nematoides é bastante complexo, uma vez que exige um monitoramento mais minucioso das espécies de infestantes e pode demandar períodos mais longos de rotação, ainda que plantas não hospedeiras tenham sido adotadas no sistema de cultivo (PERRY; MOENS, 2006). No município de Jaíba- MG, por exemplo, o cultivo de crotalárias (Crotalaria spectabilis e C. junceai, mucuna-preta (Mucuna pruriens var. utilis), mostarda-preta (Brassica nigrumi ou milho (Zea maysi por 120 dia não foi suficiente para viabilizar a produção comercial de cenoura em solo infestado com a população mista de Meloidogyne incovnita raça 1 e Mt javanica (CHARCHAR et al., 2007). No entanto, apesar das dificuldades, é possível manejar populações mistas d nematoides com rotação de culturas. Algumas gramíneas e leguminosas utilizadas em adubação verde apresentam propriedades antagonistas a várias espécies de nematoides, por exemplo o milho, as braquiárias, as crotalárias e as mucunas (Tabela 13.2). Weaver et aI. (1998) avaliaram o efeito da gramínea forrageira Paspalum notatum e de mucuna (M. pruriens) no controle da população mista de Heterodera glycines,Meloidof!Yne incognita e M. arenaria em soja. Ambas as plantas reduziram drasticamente as populações dos nematoides, permitindo o cultivo de soja suscetível ern sequência. Além disso, o aumento na produção ?a cultura foi de 98 e 85% em rotação com mucuna e grama-batatais, respectivamente. A principal diferença entre as .dua~ culturas usad:s na rotação é que o efeito supressor da .mucuna f~l maior que a :otaçao com a gramínea, possibilitando maior reduçao da populaçao dos patógenos no momento da colheita. 114 Ferraz et alo Rotação de Culturas para Controle dos Principais Gêneros de Nernatoides - Meloidogyne Os nematoides de galhas, Meloidogyne spp., possuem ampla gama de hospedeiros, o que dificulta a escolha de plantas para rotação, principalmente considerando as duas principais espécies do gênero, M. incognita e M. javanica. No entanto, diversas espécies vegetais já foram indicadas para rotação, com o objetivo de controlar esses patógenos, incluindo algumas espécies de gramíneas, crucíferas, leguminosas de adubação verde, entre outras (WHITEHEAD, 1998). Por exemplo, certas espécies de crotalária (Crotalaria spp.) e de cravo-de-defunto (Tagetes spp.) são resistentes ou imunes a Meloidogyne spp. (Tabela 13.2). Essas espécies podem atuar como plantas-armadilhas, permitindo a penetração, mas impedindo a reprodução dos nematoides, no caso de crotalária, ou produzindo compostos nematotóxicos, como o alfatertienil, produzido por cravo- de-defunto, impossibilitando a alimentação dos nematoides nas raízes das plantas. Nesses casos, os nematoides morrem, e a população no solo é drasticamente reduzida (WHITEHEAD, 1998). A eclosão de juvenis de Melo idogyn e spp. ocorre principalmente em resposta a condições físicas, como temperatura e umidade, mais do que estímulos de plantas hospedeiras. Consequentemente, em muitos casos, a densidade populacional desses nematoídes pode ser reduzida rapidamente após a rotação de culturas por apenas um ciclo de cultivo. Por exemplo, o plantio de algodão em solo infestado com M. arenaria raça 1 reduziu a população do nematoide, não causando dano à cultura do amendoim no ciclo ~eguinte (RODRÍGUEZ-KÁBANA et aI., 1987a). Já em solo Infestado com M. incognita, o plantio de amendoim reduziu a infestação do patógeno permitindo o cultivo de algodão (KIRKPATRICK; SASSER, 1984). No Brasil, os problemas com M. incognita e M. javanica na cultu:a do fumo podem ser contornados com rotação de culturas. O plantio de crotalári~, mucuna ou guandu pode ser recomendado em locais onde a colheita do fumo se encerra no início de janeiro. Nas Rotação de culturas 115 regiões em que a colheita vai até março r d ' , b' ,especles e Inverno (ervIlhaca, tremoço, na o-forragelrO e aveia-preta) sã ,.., , (SUDO ao as opçoes maisinteressantes , 1997). Ainda que algumas d r , , ' , , essas especies selam suscetíveis a ambos os nematoldes a incorp ,.., d b' :J , oraçao a iomassa verde das plantas favorece a redução acentuada da uoouíaca d""' a popu açao os patógenos, nao afetando o plantio do fumo na área (SUDO, 1997), , GramÍ~eas f~rrageiras podem ser boas alternativas para o manejo de M. zncognzta e M.javanica, principalmente em regiões com tradição na pecuária, Brito e Ferraz (1987b) estudaram o comportamento de várias gramíneas perante a M. javanica. As plantas que apresentaram capacidade antagônica mais pronunciada foram Brachiaria brizantha (capim-brizanta), B. decumbens (capim- braquiária) , Digitaria decumbens cv. Pangola (capim-pangola), Eragrotis curvula (capim-chorão] e Panicum maximum cv. Guiné (capim-guiné). Anos mais tarde, Dias-Arieira et aI. (2002) verificaram que juvenis de segundo estádio de M. incognita e M. javanica penetraram nas raízes de Brachiaria brizantha, B. decumbens e P. maximum cv. Guiné, mas não foram capazes de atingir a fase adulta, o que resultou em redução acentuada na população de ambos os nematoides. Na Costa do Marfim, o cultivo de P. maximum por mais de três anos praticamente eliminou a população de M. incognita, permitindo que espécies suscetíveis como berinjela, alface e melão fossem cultivadas em sequência, durante ciclos consecutivos, sem apresentarem qualquer problema com nematoides (NETSCHER, 1985). A possibilidade de cultivo de capim-pangola (D. decumbens cv. Pangola) para o controle de Meloidogyne spp. foi muito explorada por Raroon e Smart Jr. na década de 1980, na Flórida-EUA. Aos 16 dias após a inoculação de M. incognita, apenas juvenis foram observados no interior do sistema radicular dessa planta, não havendo formação de adultos (HAROON; SMART IR., 1983a). Possivelmente, o efeito antagônico da planta deve-se à presença de compostos nematotóxicos formados nas raízes (HAROON; SMART IR., 1983b). Esta gramínea também pode ser usada para controlar M. javanica, M. hapla (HAROON; SMART IR., 1983c) e Rotylenchulus reniformis (CASWELL et aI., 1991). O controle de populações mistas, ~e M. incognita ~ M. iavan; " d Nordeste brasileiro pode ser realizadoca em canaVIaIS o .' . _, adotando-se a seguinte estratégia: cultivo de milho (abril-junho), 116 Ferraz et al, sucedido por amendoim (julho-outubro) e, por fi~, um perío?o de pousio com revolvimento de solo durante o penodo de eSÍlagem (outubro-abril) (MOURA, 1991). Adubos verdes, como crotalária e mucuna, são opções interessantes para o manejo de nematoides de galhas (Tabela 13.2). Charchar e Aragão (2003) propuseram o cultivo de C. spectabilis por quatro meses previamente ao plantio da sequência tomate-salada, feijão-de-vagem e pimentão, em área infestada com M. javanica no Distrito Federal. A mesma espécie de nematoide também pode ser controlada por C. spectabilis e C. juncea, além de sorgo granífero e milheto (INOMOTO et aI., 2008). Os cultivares resistentes, quando disponíveis, são importantes ferramentas no planejamento de rotação de culturas. Além de permitir a redução populacional de nematoides, esses genótipos possibilitam que o produtor não abra mão do plantio de culturas comerciais, cujo retomo econômico não é conseguido com algumas plantas não- hospedeiras. Ciente disso, Carneiro et aI. (2000) propuseram um sistema de rotação para o manejo de Meloidogyne spp. em hortaliças no Rio Grande do Sul (Tabela 13.3). Além de M. incognita e M. javanica, outras espécies do gênero são importantes patógenos de diversas culturas e, dependendo da região, podem apresentar um dos principais entraves para o cultivo de determinadas plantas. Meloidogyne arenaria é um dos .mais importantes patógenos da cultura do amendoím nos EUA, em especial no Alabama. O manejo dessa espécie pode ser realizado por meio do cultivo de mamona, algodão, gergelim, milho, sorgo, Aeschynomene americana, Cassia fasciculata" mucuna ou Crotalaria spectabilis, en!re outras (RODRIGUEZ-KABANA; IVEY, 1986; RODRÍGUEZ- KABANA, 1988 ab; RODRÍGUEZ-KÁBANA, 1990; McSORLEY et aI., 1994; RITZINGER; McSORLEY, 1998; TIMPER et aI., 2001). Meloídogyne exígua acarreta sérios danos em cafezais, e seu co~trole ~ode ser realizado por meio do plantio de milho, arroz, sorgo, soja, Pa~lculn lna~~lnum, C. spectabilís e mucuna-preta (Tabela 13.2). A r?taçao co~ feijão, sorgo e P. lnaxiJnU111por um ano permitiu ° CUltIVO?e cultIvares suscetíveis de cafeeiro em áreas infestadas com ° nematoide (ALMEIDA; CAMPOS, 1991 ab). RotaçãO de culturas 117 Tabela 13.3 - Sistema de rotação sugerido po C . r arnerro et aI. 2000 - Nematoide-alvo Cultivares' M.javan ica P' Época de PlantioIm~:ltão. Ali big ou Híbrido Tango Agosto-dezembro Agnao PIcante do Seco Março-junho Couve Manteiga Ano todo M. incognita raça 3 Agrião Picante do Seco Couve Manteiga Couve-flor Teresópolis Gigante ou Bola de Neve M. arenaria raça 2 .Pimentão All big ou Híbrido Tango Agrião Picante do Seco Couve Manteiga Abobrinha Caserta ou Branca de Virgínea Melão Híbrido Piel deI Sapo ou Yellow Start Espinafre Viro FIay ou Nova Zelândia Pepino SMR58 ou Marketer M. hapla Alface Crespa Rápida Março-j unho Ano todo Fevereiro-abril Agosto-dezembro Março-junho Ano todo Janeiro- fevereiroou setembro-dezembro Janeiro Janeiro-dezembro Janeiro-fevereiro ou agosto-dezembro Janeiro-dezembro Fonte: CARNEIRO et aI., 2000. Dentre as espécies recomendadas para a rotação de cultura visando ao controle de Meloidogyne hapla estão: n1ilho, espinafre, rabanete, aveia, cevada e trigo. A rotação envolvendo cenoura-cebola- aveia-cenoura possibilitou a redução do nematoide e o aumento significativo na produção de cenoura (BELAIR, 1992). Atualmente, Meloidogyne mayaguensis é um dos principais patógenos da cultura da goiabeira, principalmente no Nordeste brasileiro. Apesar das dificuldades intrínsecas relacionadas à rotação de culturas envolvendo plantas perenes, como a goiabeira, o plantio de C. spectabilis pode reduzir consideravelmente a população de M. mayaguensis, por se tratar de uma planta imune ao nematoide (GUIMARÃEs et aI., 2003). - Heterodera Os nematoides do gênero Heterodera, conhecidos como nematoide dos cistos, caracterizam-se por apresentarem restrita gama de hospedeiros, quando comparados com Meloidogyne e Pratylenchus, p~r exemplo. Esta peculiaridade facilita a escolha de plantas nao 118 Ferraz et c 1, hospedeiras para serem adotadas em sistema de rotação. O nematoide do cisto dos cereais, H. avenae, pode ser controlado substituindo cereais por culturas que não sejam gramíneas. O cultivo de Vicia spp. por três anos reduziu em 98% a população desse nematoide (ROMERO et aI., 1991). Já H. carotae é um problema sério em áreas de produção de cenoura, em países como a França. Itália e Alemanha. A gama de hospedeiros do nematoide é restrita a espécies dos gêneros Daucus e Torilis. No entanto, o nonitorarnenm da população de Heterodera spp. deve ser cuidadosament realizado. uma vez que este nematoide pode permanecer viável no 010 por períodos prolongados, na forma de cistos (WHITEHEAD~ 199 ). No Brasil, H. glycines, conhecido como nematoide do isto da soja, é a espécie de maior importância econômica do g n 1'0, c a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e cultivares resistentes é a chave para o manejo desse paté gen . O cultivo de plantas não hospedeiras por dois anos é geralmente fi" nte para o controle da doença, porém, em caso de infesta ão eleva a, um ano adicional de cultivo de não hospedeiras é recomen do. ultivo de soj a resistente à população de campo pode ser iliz em rotação no lugar de uma cultura não hospedeira todav i mais que por uma safra, devido à pressão de seleção e à alt ilidade genética do patógeno (FREITAS et al., 1999) . . No Brasil, a rotação COJU rnilh em i a opção adotada pelos produtores para o controle d nu ide. O milho é uma das culturas mais utilizadas em rota ao om oj a, apresentando bons resulta~os no cO,ntrole de H. glycines (WEA VER et aI., 1988; RODRIGUEZ-KABANA et aI., 1991d; DIAS et al., 1995; GARCIA et ~1.~1999), por não permitir a penetração de juvenis de segundo estádio (J2) do nematoide em seu sistema radícular (SCHMITT; RIG~S, 1991). Na Tabela 13.4 é apresentado um programa de ma~eJo de H. glycines por meio de rotação de milho com cultivares resistentes ou suscetíveis à soja. . A~ém do milho, outras espécies vegetais são indicadas para o c~ltIvo pnmavera-verão no Brasil, por exemplo arroz, algodão, sorgo, girassol e mamona (GARCIA et aI., 1999). ~:.::ãO~de__CU_l_w_ras _l~ 119 Tabela 13.4 - Programa de rotação COIU milho vis ' _ população do nematoide de cisto 'da s~~ado(Hare1du.çao)da _ ,,' '. J •gyClnes SequenCla Nível Po ulaciona] do Nematoide S I 1 . B' (30 no o o 100 cm 3 de solo de Cu tIVO aIXO <. Oovos Médio (300-600 ovos 5 ) Alto (>600 ovos ou . ou CIstos ou 5-10 cistos) MIlho Milho >1 O cistos) Milho Milho Soja resistente Milho MilhoSoja suscetível 10 ano de rotação Soja suscetível 10 ano de rotação Soja resistente Milho . Milho Soja suscetível 10 ano de rotação Fonte: Adaptada de ASMUS; ANDRADE, 1999; GARCIA et aI., 1999. Leguminosas de adubação verde, como é o caso das crotalárias (C.juncea, C. paulina, C. striata), apresentam potencial de uso no controle de H. glycines (RIGGS, 1987; RIGGS; WRATHER, 1992; DIAS et al., 1995; VALLE et aI., 1996a), com a vantagem de serem resistentes a outros nematoides que parasitam soja, como Meloidogyne spp., Pratylenchus spp. e Rotylenchulus reniformis (SILVA et al., 1989ab, 1990a). As mucunas também são opções para serem adotadas no manejo de H. glycines (RODRÍGUEZ-KÁBANA et aI., 1992; WEAVER et aI., 1993; DIAS et al., 1995; WEAVER et aI., 1998). Em área de campo naturalmente infectada pelo nematoide de cisto da soja (média de 15 cistos viáveis por 100 crrr' de solo), um ciclo de mucuna reduziu em 68% o número de cistos viáveis no solo (GARCIA; SILVA, 1997). O potencial das mucunas para o controle de H. glycines também foi confirmado por Valle et aI. (1996a). Após 120 dias de cultivo em solo infestado mantido em vasos, mucuna-anã e mucuna-preta reduziram o número de ovos para apenas 42% (992) e 48% (1.143), respectivamente, quando comparado ao número de ovos remanescentes após 120 dias de alqueive (2.34~). Isso de"mo~stra claramente que o efeito dessas plantas supera a SImples ausencia de Uma planta hospedeira. . As raízes de mucuna-preta são mac~çamente ?e~~tr~das .po,~ Juvenis de H. glycines, superando íncíusíve a sOJa. Cnstah~a (suscetível) J' vou que seus lixiviados radIculares tem. a se compro ,..,' " . pronunciado efeito estimulatório sobre a eclosao de juvenis in vitro 120 Ferraz et al. (VALLE et aI., 1997). Uma vez que o nematoide não se desenvolve nessa espécie vegetal, ela apresenta as características de uma boa planta-armadilha. Na ausência de plantas hospedeiras, os cistos do nematoide podem sobreviver no solo por até nove anos (SCHIMITT; RIGGS, 1991). Dessa forma, o estímulo à eclosão dos juvenis, induzido por mucuna-preta, reduz a sobrevivência do nematoide no solo. Outras leguminosas que poderiam ser incorporadas em esquemas de rotação para o controle desse nematoide seriam: guandu (Cajanus cajan), Aeschynomene americana e Indigofera hirsuto (VALLE et aI., 1996a; RODRÍGUEZ-KÁBANA et aI., 1990). Os adubos verdes, apesar de eficientes, podem ser preteridos pelos agricultores por não apresentarem retomo econômico. Embora a exploração da cultura da soja caracterize-se por áreas extensas, o nematoide normalmente ocorre em reboleiras e não em toda a propriedade. Dividindo-se a propriedade em talhões, a rotação pode ser realizada apenas naqueles talhões infestados pelo nematoide. Dessa forma, a área a ser rotacionada com os adubos verdes ficaria ben1menor, contribuindo assim para a viabilidade do sistema. O cultivo de milho ou de adubos verdes por apenas um ciclo pode não ser suficiente para reduzir a população do nematoide (GARCIA; SILVA, 1997). Para tais casos, uma opção poderia ser: soja-adubo verde em um ano; adubo verde-milho no ano seguinte; novamente soja-adubo verde, e assim sucessivamente, Isso permitida o plantio de soja a cada dois anos, intercalado CaIU dois ciclos de plantas não hospedeiras (YORINORI, 1994). A integração entre agricultura e pecuária é comum em várias regiões produtoras do Brasil. A rotação de' soja com pastagens pode representar uma boa alternativa para esses agricultores-pecuaristas e ainda contribuir rpara o cor;trole de H. glycines, além de alguns fungos de solo (RODRIGUEZ-KABANA et al., 1994) e de Meloidogyne spp (BRITO; FERRAZ, 1987b). Considerando o manejo do nematoide de cisto da soja, a rotação com pastagens permanentes oferece a vantagem de se ter plantas no campo durante todo o ano, e não apenas durante a estação de cultivo. A cobertura do solo ainda pode reduzir a disseminação dos cistos do nematoide para outras áreas, por manter o solo protegido (FERRAZ et aI., 1999). RotaçãO de culturas ~~---------------------------- 1~2~1 Paspalu111notaturn 'Pensacola' é urna gramí , .. ~. inea com potencial Para o conu ole de populaçocs nustas de nen1atoides N AI bc . .0 aamaa rotação dessa 101T~geIra CO~1 soja durante dois anos permitiu' o aU111ento= produçao, de 1,1010, eIn comparação com o monocultivo dalegun11no~a, em area Infestada com H. glycines raça 4 e M. arenaria, vanando de 33% para o cultivar 'Leflore' (resistente a H. g{ycz'nes ra?a 4), a 233% para o cultivar 'Braxton' (suscetível). O número de juvenis de ambos os nematoides no solo foi drasticamente reduzido pela rotação com P. notatum (RODRÍGUEZ-KÁBANA et aI., 1989b). No Brasil, em testes em casa de vegetação, o cultivo por 92 dias de Andropogon guayanus 'Planaltina', Brachiaria brizantha 'Brizantha comum' e 'Brizantão', B. decumbens, B. humidicola e Panicum maximum 'Guiné', 'Tobiatã' e 'Vencedor' reduziu em cerca de 30% o número de ovos e em aproximadamente 60% o número de fêmeas de H. glycines em raízes de soja cultivada em sucessão, em comparação ao alqueive (VALLE et aI., 1996b). O nível de eficiência entre as gramíneas foi similar entre elas e comparável ao plantio de mucuna-preta. Em locais onde a pecuária é atrativa, a rotação com gramíneas forrageiras pode ser ferramenta importante para o manejo deH. glyc ines . - Pratylenchus Espécies de Pratylenchus são endoparasi~os ~igradores: A penetração e movimentação dos nematoides no Int~nor das r~I~es causam a destruição do sistema radicular e, em razao desse, hábito parasitário são conhecidos como nematoides de lesões radiculares, (WHITEHEAD, 1998). , Pratylenchus spp. parasitam inúmeras espécies vegetaNls, . lui r tai fruteiras entre outras. ome uindo cereais, olericolas, omamen aIS, . , ~f{; B ' r - P b chyurus P zeae, P. cojjeae,rasil, as principais especles sao: . ra ,. " r m fator P. penetrans e P. vulnus. O polifagismo dessas especies e u q d'fi io d tação de culturas.Ue 1 iculta o controle por meio e ro ,_ " blema relacionado a produçao de . Atualmente, o pnn~lpal, pro Centro-Oeste brasileiro é a sOJa em sistema de plantio direto no 'd' mais comum na oc " . E e nematol e e oorrencla de P. brachyurus. ss ,..' d 960/( valor muito Cultu da soí Gr OIn frequencla e 0, . ra a soja no Mato osso, c. (23%) e R. reniformis Superior a H. glycines (35%), Metoidogyn« 122 Ferraz et al, (4%) (RIBEIRO, 2008). O esquema de rotação de culturas mais empregado no Centro-Oeste é o cultivo de soja com gramíneas (milho, braquiária, sorgo, entre outras). No entanto, todas essas plantas são suscetíveis ao ataque do nematoide, permitindo o aumento ou a manutenção de sua população no campo (Tabela 13.2). Além disso, ° próprio sistema de plantio direto pode ter contribuído para o aumento da incidência de P. brachyurus em culturas como a soja (INOMOTO, 2008). Se por um lado a redução na movimentação do solo e a redução da erosão reduzem a disseminação do nematoide, a degradação lenta das raízes infectadas por nematoides e a ausência de exposição direta ao sol permitem a sobrevivência do nematoide por mais tempo, principalmente até o plantio seguinte, que, via de regra, envolve também uma planta hospedeira (INOMOTO, 2008). Em seu artigo de revisão, Inomoto (2008) propõe as seguintes estratégias de manejo de P. brachyurus na cultura da soja, incluindo a rotação de culturas: a) Flexibilização do plantio direto: embora os beneficios do sistema de plantio direto para a agricultura sejam incontestáveis, recomenda -se, em locais com alta incidência do nematoide, arar ou gradear o terreno após a colheita da soja ou antes do plantio dessa cultura. b) Plantio do milheto na primavera: por ser considerado mau hospedeiro de P. brachyurus, o milheto poderia ser plantado na primavera (setembro ou outubro), antes do plantio da soja. Nesse caso, se a flexibilização do plantio direto for adotada em conjunto com o plantio do milheto, o solo deverá ser preparado após a colheita de soja. c) Uso de forrageiras desfavoráveis a P. brachyurus na integração lavoura-pecuária: ainda que a maioria das forrageiras seja suscetível ao nematoide, a aveia-preta, a Brachiaria humidicola e B. dictyoneura, por exemplo, podem ser recomendadas com restrições, pois são más hospedeiras do nematoide. Antes de fazer a dessecação da pastagem para posterior plantio da soja é necessário determinar a população de P. brachyurus. Se a população tiver ultrapassado o limite de tolerância da soja ao nematoide (200 indivíduos/200 em' de solo), o agricultor deve desistir de plantar a cultura ou adotar os procedimentos mencionados no tópico "a", com o objetivo de reduzir a população desses organismos. d) Suspensão da cultura safrinha: as sucessões soja-milho, soja-sorgo granífero e soja-algodão na safrinha permitem o aumento RotaÇãO de culturas-- 123 da população do nelnatoide. COll1 a ausência d ' . . dã I - . - e genotIpos de mIlho Sorgo e algo ao a tamente resIstentes ao nelnatoide ibilid ' I ." ,a POSSI1 1 ade demanter o so o com pOUSIOou Implantar urna planta ' h dei . d ma ospe eira ounão hospedeIra e P. brachyurus deve ser consideracla 1 . 1 ' , por exemp o ogIraSSO . e) Sucessão ~u rotação com Crotalaria spectabilis e C. breviflora: as duas espec~es em questão são plantas não hospedeiras de P. brachyurus e tambem podem contribuir para redução de H. glycines, M. ja;anica e M'. incognita. O principal entrave à adoção dessas plantas e o seu creSCImento lento, o que dificulta o manejo de plantas daninhas na área. f) Redução da disseminação de P. brachyurus: evitar a disseminação do nematoide fazendo a lavagem do maquinário e realizando operações nos talhões não infestados e depois nas áreas infestadas. g) Adoção de cultivares resistentes: alguns cultivares apresentam resistência moderada a P. brachyurus, por exemplo a BRSGO 204 Goiânia, BRSGO Chapadões e BRS Aurora e devem ser adotados somente em áreas que não estão altamente infestadas comP. brachyurus. - Rotylenchulus A principal espécie do gênero, R. reniformis, parasita importantes culturas de interesse econômico, como algodão, soja, tomate, melão, abacaxi, entre outras (WHITEHEAD," 1~98!- Populações elevadas desse nematoide são encontradas nos pnnclpa:s municípios sul-mato-grossenses produtores de algodão e soja (ASMUS, 2008a). . . " ":D s de manejOA rotação de culturas é uma das prmcipais orma ., " do nematoíde. O cultivo de gramíneas como milheto, sorgo, ?raqUIana e n - d Iação desse patogeno emo .ranicum permite a redução a popu I . campo (ASMUS 2008a). Em Dourados, MS, o sistema de. p antro di , ." b forrageiro no .Ireto (soja-milho, no verão; e trigo-ave: a-na. °b 'ária a 'cada InVerno), a integração lavoura-pecuária (rotaçao SOja-"raquI êdi d . ." reduziram em me la, OIS anos) ou o cultivo contínuo de braquIana , ão com o e " ifc m is em comparaçarn tnals de 99%, a população de R. ren~ or . ' I t ção dos sistemas tnonocultivo de soja aos oito anos apos a imp an: hospedeiras a (SEREIA et aI., 2007). O cultivo de plantas nao , 124 Ferraz et alo exemplo do milho, trigo, aveia, nabo forrageiro e braquiária, foi determinante na redução populacional do patógeno. A densidade populacional de R. reniformis decresce naturalmente durante a entressafra. No entanto, o cultivo de culturas de cobertura resistentes permite que essa redução seja mais rápida e acentuada. - Helicotylenchus e Radopholus similis Os nematoides H. multicinctus e R. similis são especialmente importantes para a cultura da bananeira, e algumas plantas são recomendadas para o controle (Tabela 13.2). O cultivo de braquiária após a remoção do bananal, no município de Eldorado Paulista, SP, foi bastante eficiente em reduzir as populações de R. similis e Helicotylenchus spp. (COSTA, 2000). Esses resultados foram semelhantes aos obtidos na Costa Rica (FIGUEROA et aI., 1990). Em Israel, o trigo é cultivado por dois a três anos entre os ciclos de banana, para controlar H. multicinctus e Meloidogyne spp. (GOWEN; QUÉNÉHERVÉ, 1990). Para o controle de R. similis, Inomoto (1994) recomendou a utilização de melancia e soja perene em sistemas de rotação. Em bananais do Maranhão, H. multicinctus é um dos nematoides mais frequentes e nocivos à cultura e pode ser controlado por meio do cultivo de arroz e crotalárias (C. spectabilis e C. juncea) (BRINGEL; SILVA, 2000). - Mesocriconema xenoplax Mesocriconema xenoplaxt=Criconemelln xenoplax), causador da morte lenta do pessegueiro, também pode ser eficientemente controlado através da rotação de culturas. Entre as espécies indicadas para o controle desse nematoide estão: trigo, triticale, aveia-branca, centeio e cevada. Três anos de cultivo dessas espécies em pré-plantio proporcionaram resultados comparáveis à fumigação do solo com brometo de metila (NYCZEPIR et aI., 1992). Carneiro et aI. (1998) su.geriram o uso de sorgo, milho, mucuna-anã, feijão-de-porco, mIlheto e feijão-miúdo (Vigna sinensis) como culturas de verão, e ~veia-branca, aveia-preta, azevém e nabo forrageiro como culturas de Inverno. Deve-se tomar cuidado com o cultivo de crotalárias (Crotalaria speaabilis e C. juncea), ervilhaca (Vicia sativa) e feijão- comu.m em áreas infestadas com M. xenoplax, pois essas espécies permItem a multiplicação do nematoide. RotaçãO de culturas 125 A rotação de culturas é uma prática benéfica e deve ser encorajada na agricultura, não apenas do ponto vista fitossanitário, mas também por permitir ao agricultor diversificar a produção. No entanto, deve ser planejada criteriosamente, principalmente se visar ao controle de nematoides, pois ainda que a rotação seja eficiente quando bem realizada, a inclusão de plantas hospedeiras no sistema, por descuido ou desconhecimento, pode favorecer o aumento de populações de outros nematoides. Capítul RESISTÊNCIA GENÉTICA A resistência genética de plantas aos nematoides é um dos métodos mais eficientes e econômicos de evitar as perdas ocasionadas por estes (ROBERTS, 2002). A partir do conhecimento prévio da população de nematoides presentes na área de cultivo, basta ao agricultor escolher e realizar o plantio de genótipos resistentes. Aos interessados em aprofundar o conhecimento sobre as diversas vertentes do estudo da resistência, os autores recomendam a leitura das revisões de Cook e Evans (1987), Trudgill (1991), Roberts (1992), Williamson e Hussey (1996), Opperman e Conk1ing (1998), Roberts et aI. (1998), Williamson (1998), Young (1998), Vrain (1999), Davis et aI. (2000), Silva (2001), além do livro editado por Starr et aI. (2002). 'Iermínologtas e Classificação da Resistência Ao longo deste capítulo, alguns termos serão constantemente mencionados, principalmente, imunidade, resistência, suscetibilidade, tolerância e intolerância. Portanto, antes de discutir os demais aspectos relacionados à resistência de plantas a nematoides, é essenCIal esclarecer e reforçar estes e outros conceitos (Tabela 14.1). . Algumas plantas são imunes aos nematoides. A imunidade é definida como condição da planta que leva à incapacidade do de~envolvlmento e da reprodução dos nematoides no interior dos seus te?ldos, usualmente por mecanismos que inibem a penetração já no seU rntcio Essas plantas não sofrem danos causados por esses organismos. Resistência genética 127 Re~istência é quando", determinada planta inibe a reprodução do nematolde em. comparaçao com genótipos suscetíveis, ou seja, aqueles que permitem a sua reprodução e a expressão da doença (TRUDGILL, 1991). Os termos tolerância e intolerância são usados para descrever a resposta da planta ao parasitismo, considerando-se que uma planta tolerante apresenta menor supressão na produção do que uma intolerante, com similar nível de parasitismo (COOK' EVANS 1987', " TRUDGILL, 1991; ROBERTS, 2002). Infelizmente, claras distinções entre resistência, suscetibilidade, tolerância e intolerância não são sempre possíveis, com menores ou moderados níveis de resistência sendo frequentemente relevados como resistência. Similarmente, suscetibilidade é usualmente tratada como intolerância (ROBERTS, 2002). Tabela 14.1 - Terminologias comumente adotadas em estudos envolvendo resistência de plantas a nematoides e suas definições Terminologias Definições Imunidade Refere-se à incapacidade da planta em perrrutir o desenvolvimento e a multiplicação dos nematoides no interior dos seus tecidos, usualmente impedindo a penetração desse patógeno . . '. . . _ Capacidade da planta.em restringir ou prevemr a multiplicação do nematoide, por mero de genes específicos _ Capacidade da planta em permitir abundante reprodução do nematoide C id d da planta em suportar ou se recuperar de danosapacI a e I '.ç _ causados pelos nematoides, mesmo sob a ta llllecçao. , Plantas intolerantes apresentam crescimento reduzido ou ate mesmo morrem quando infectadas. id causar doença ou danoPatogenicidade Capacidade do nematoi e em _ (usualmente mensurado por redução na produtividade) em culturas agrícolas. 'fi de biótipos de nematoides Combinação cultlvar-especl ica d Populações de campoencontra os em , reproduzir em plantas portadoras Habilidade do patogeno en:-s: . lficos de resísrencia de genes especi d - do nematoide em plantas I .d de de repro uçao ,..'ncapaci a íficos de resistência - portadoras de genes especI A 2001' ROBERTS 2002. Fonte: ROBERTS, 1990; TRUDGILL, 1991; SILV" ' Resistência Suscetibi lidade Tolerância Intolerância Raça Virulência Avirulência 128 Ferraz et al. É importante ressaltar que só se pode afirmar que determinado genótipo é resistente ou tolerante quando comparado ao desempenho de outro genótipo da mesma espécie de planta, notadamente ~u~cet!ve] ou intolerante (SIKORA et aI., 2005). A relação entre reslstencla e tolerância não está bem elucidada para a maioria dos genótipos resistentes. Sabe-se que tais características podem ser herdadas de forma independente. Logo, plantas resistentes podem ser intolerantes~ sofrendo injúrias, mesmo sob baixa infecção (ROBERTS, 1990). A resistência pode ser classificada em três categorias, de acordo com o número de genes responsáveis por essa característica: a) monogênica (um único gene de resistência, por exemplo o gene Mi em tomate); b) oligogênica (dois a três genes de resistência, como a resistência a H. glycines em soja); e c) poligênica (vários genes de resistência envolvidos) (SILVA, 2001). Por sua vez, os efeitos fenotípicos expressados pelos genes de resistência podem ser resultado de genes de efeitos principais imajor genes) ou de genes de efeito secundário iminor genes). Do ponto de vista epidemiológico, a resistência pode ser dividida em vertical (raça-específica, qualitativa - efetiva contra variantes intraespecíficas do patógeno) ou horizontal (raça não específica, quantitativa - efetiva contra todas as variantes do patógeno) (VANDERPLANK, 1963). A resistência vertical é usualmente conferida por um ou poucos genes de efeito principal, enquanto a resistência horizontal é conferida por genes de efeito secundário (poligênica), com pequenos efeitos aditivos e com herança quantitativa (SILVA, 2001). Mecanismos de Resistência a Nematoides , Algumas substâncias produzidas por determinadas espécies vegetais e lIberadas ao solo por meio de exsudatos radiculares pOSsuem efeí!o repelente ou nematícida, impedindo que ° nematoíde penetre. as. ralzes~ re~u~tando em ünunidade às plantas. É o caso do alfatertJel11l,da mmbldma e do pirocatecol, produzidos por cravo-de- d:funto (Tagetes spp,), rum (Azadirachta indica) e capim-chorão (Eragrotzs curvulas. respectIva mente (HUANG, 1985), Os mecanismos nos quaIs os processos infecciosos do nematoide são completamente Imbldos são conhecidos como reações de resistência pré-infeccionais (ROBERTS et aI., 1998). Resistência genética 129 . Ainda ~u~ o ~em~toide penetre as raízes das plantas, mecanISn1?S pos-Infec~IonaIs de resistência podem inibir o desenvolVImento do patogeno. Primeiramente ocorre o reconhecimento do nematoide (elicito~). por células da plan~a (receptor) (KAPLAN; DAVIS, 1987). O elicitor provavelmente é produzido na glândula esofag~ana do nemat?ide e injetado no tecido do hospedeiro 'através do estilete, A partir do reconhecimento do elicitor sinais de hipersensibilidade são emitidos pela planta, envolvendo' ativação de genes, síntese de m-RNA e transcrição de DNA. No caso de nematoides endoparasitos, como Meloidogyne spp. e Heterodera spp., as secreções das glândulasesofageanas, principalmente a dorsal, estão intimamente relacionadas com a suscetibilidade das plantas (SILVA, 2001), pois, a partir delas, modificações celulares são induzidas e mantidas, como os sítios específicos de alimentação (células gigantes, em Melo idogyn e, e sincícios, em Heterodera) do nematoide (HUSSEY, 1985). Após InICIar o processo de sinalização, modificações bioquímicas ocorrem nos tecidos da planta, impedindo, por exemplo, o desenvolvimento normal dos sítios de alimentação, que se degeneram (SILVA, 2001). Dessa forma, em raízes de plantas resistentes, poucos nematoides desenvolvem-se até a fase adulta, há formação de maior número de machos e, quando eventuais fêmeas se reproduzem, ocorre menor taxa de fecundidade (ROBERTS et aI., 1998). Além da inibição da formação de sítios de alimentação nas raízes, após a penetração, os nematoides também podem ser afetados por substâncias nematotóxicas preexistentes nos tecidos vegetais, por exemplo compostos fenólicos, ácido clorogênico, terpenoides, entre outros (HUANG, 1985; CHITWOOD, 2002). Adicionalmente, algumas plantas, especialmente as leguminosas., podem rapidamente sintetizar compostos antimicrobianos, de balxo_ peso molec~lar, chamados fitoalexinas, em resposta a penetraçao de nematoides (SILVA, 2001). Em plantas de soja inoculada~ com M. inc~gnita, a produção e o acúmulo da fitoalexina gliceolina foram maiores no cultivar Centennial (resistente) que no cultivar Picke~ 71 (~uscetível). Entretanto, quando Centennial foi inocula.do com lv!.}a~anlCa, ao qual é suscetível não houve acúmulo expressivo de gliceolina (KAPLAN et aI., 1980~; 1980b). M. incognita parece ser mais sensível à ~ç~o da gliceolina que M. javanica (HUANG, 1985). O aumento da atividade 130 Ferraz et alo de determinadas enzimas, como catalase, peroxidase e polifenoloxidase, também é um do~ fa~ores que pode inibir o desenvolvimento do nematoide no mtenor dos tecidos vegetais (ROBERTS et aI., 1998; SILVA, 2001). Estudo da Resistência o primeiro passo a ser dado na obtenção ~e "ge~ótipos resistentes é a identificação da(s) fonte( s) de resistência. As variedades comerciais adaptadas e com alto potencial produtivo são a primeira opção a ser buscada, seguida por variedades menos produtivas, germoplasma selvagem ou por introduções de plantas (SILVA, 2001). Espécies selvagens têm sido importantes fontes de resistência a nematoides, a exemplo do que é realizado 110 melhoramento da cultura da batata (SolanU111 tuberosumi, do tomate (Solanum esculentum) e do fumo (Nicotiana tabacums (STARR; ROBERTS, 2004). Quanto menor a distância genética entre elas e a espécie cultivada, menor será a dificuldade para a transferência dos genes. Com o avanço da biotecnologia, as limitações em se obterem cultivares advindos de cruzamento interespecífico podem ser superadas por meio da hibridização somática através de fusão de protoplasto, por exemplo. É o caso da combinação do genoma da espécie selvagem Solanum sisymbriifolium; resistente a nematoides, com a espécie suscetível de berinjela (So/anU}]1 111elongena), além da fusão de protoplasto de Lycopersicon peruvianum, espécie selvagem com resistência a Meloidogyne spp., com S. esculentunl, tomateiro comercial, suscetível ao nematoide (GLEDDIE et aI., 1985). . Após a escolha do genitor suscetível, usualmente portador de atrIbutos agronômicos desejáveis, os cruzamentos são realizados com o objetivo de obter populações segregantes (F2, retrocruzamentos, 1mbagensre~ombinantes etc.) (RESENDE; SILVA, 200 I). Por fim, as populaçoes segregantes são analisadas quanto à reação ao parasItIsmo e reprodução dos nematoides. No entanto todo esse processo d . d ' . po e ser muito emorado e trabalhoso uma vez que envolve or~s~lamento de raças específicas do nematoide, a inoculação nas P ,gentes a serem testadas e a avaliação do nível de dano nas IAnLumMeErIDasAhnhagensdo programa de melhoramento (ABDELNOOR; 1999) O' . . ' . surgInlento e o apnmoramento de técnicas de Resistência genética 131 melhoramento assistido por marcadores moleculares (SAM) 1" d " " " 1 Iga os a [ocos de resistência, c onage~ de genes de resistência e bioengenharia pOdeITIacelerar o desenvolvImento de cultivares resistentes (STARR' ROBERTS,2004). ' Marc~dores moleculares são segmentos de DNA que estão fisicamente ligados a locos que determinam caracteres de interesse (ALZATE-MARIN et aI., 2005). Os marcadores fortemente ligados ao gene de resistência cossegregam com a resistência e, por isso, têm sido utilizados em diversos programas de melhoramento de plantas (SILVA, 2001; RESENDE; SILVA, 2001). A seleção assistida por marcadores apresenta várias vantagens sobre o método tradicional de seleção, entre elas: a) dispensa a manutenção de populações de nematoides e inoculação em plantas; b) facilita a análise de um número elevado de linhagens em tempo menor; c) possibilita a identificação precoce das plantas resistentes, permitindo a eliminação de tipos indesejáveis nas fases iniciais do desenvolvimento das plantas, economizando tempo de serviço e liberando espaço em casa de vegetação para outros usos, além de reduzir o número de linhagens para a seleção pelos melhoristas; e d) economiza mão de obra necessária para conduzir todo o processo de melhoramento (ABDELNOOR; ALMEIDA, 1999; SILVA, 2001). Marcadores do tipo RFLP (Restriction Fragment Lenght Polymorphism), RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA), AFLP (Amplified Fragment Lenght Polymorphismi e os microssatélites (SSR) têm sido muito úteis na seleção de plantas para a resistência a nematoides (TAMULONIS et aI., 1997a-c; SILVA et aI., 2001b; YUE et aI., 2001' ALZATE-MARIN et aI., 2005). A ampliação dos estudos acerca dos' marcadores moleculares certamente possibilitará a maior rapidez no desenvolvimento de cultivares resistentes. Informações complementares sobre marcadores moleculares podem ser encontradas em Alzate-Marin et aI. (2005). Benefícios e Considerações Gerais sobre a Resistência Genética de Plantas Aplicada ao Controle de Nematoides A"d "fi - desenvolvimento e o lançamento de um1 enti tcaçao, o . Cultl' " d d muita pesqutsa e, consequentemente,var resistente eman am b 132 Ferraz et aI. muito tempo. No entanto, o retomo financeiro advindo de apenas uma variedade resistente a um patógeno de relevante importância econômica pode ser alto, tanto para os responsáveis pela pesquisa quanto para os agricultores. Em um dos poucos estudos sobre os beneficios econômicos da resistência, verificou-se que o investimento de US$ 1 milhão para o desenvolvimento de um cultivar com resistência a Heterodera glycines resultou em benefícios de US$ 400 milhões, nos Estados Unidos (BRADY; DUFFY, 1982). Estas cifras refletem o aumento de produção proporcionado pelo cultivo de plantas resistentes em detrimento ao plantio de genótipos suscetíveis em solo infestado. Além do aumento na produção das culturas e da redução na reprodução do nematoide, o cultivo de plantas resistentes não demanda equipamentos especiais para utilização, além de ser uma tecnologia ambientalmente segura (ROBERTS, 2002). No entanto, é importante notar que cultivares resistentes podem sofrer consideráveis reduções na produtividade devido à infecção causada pelos nematoides, quando comparadas com áreas não infestadas (Tabela 14.2), exigindo cuidados na utilização de tais genótipos. Tabela 14.2 - Exemplos do efeito da resistência na produção de culturas em áreas infestadas ou não infestadas por nematoides Cultura Nematoide Cultivar Soja Heterodera glycines Suscetível Resistente Soja Heterodera glycines Suscetível Resistente Amendoim Meloidogyne arenaria Suscetível Resistente Fumo Meloidogyne incognita Suscetível . Produção Are as Areas Não Infestadas Infestadas 2.141 kglha 3.170 kg/ha 2.908 kg/ha 3.177 kg/ha 2.383 kg/ha 3.810 kg/ha 3. 177 kg/ha 3.541 kg/ha 914 kglha 4.678 kg/ha 3.771 kglha 5.155 kg/ha 301 g/parcela 504 g/parcela 407 g/parcela 477 g/parcela 530 kg/ha 1.100 kg/ha Resistente Algodão Meloidogyne incognita Suscetível Resistente Fonte:Adaptada de STARR et al., 2002. N~ Brasil,. v~ri~s programas de melhoramento genético de~envolvI.dos e,~ Inst~tuIções públicas de pesquisa e em empresas pnvadas VIsam a IdentIficação e incorporação de genes em cultivares p ResiStência genética 133 comerciais que confiram resistência a diversos patógenos. O sucesso desses programas tem contribuído muito para a agricultura brasileira, disponibilizando aos produtores materiais genéticos resistentes a importantes espécies de nematoides. Todavia, vale a pena ressaltar que, considerando o alto potencial de recursos genéticos, a disponibilidade de genótipos resistentes aos nematoides ainda é pequena para grande parte das culturas e praticamente nula em culturas com baixo retomo financeiro, o que limita a adoção mais generalizada da tecnologia. Em todo o mundo, a maioria das variedades resistentes é destinada ao controle de nematoides endoparasitos sedentários, a exemplo de Meloidogyne, Heterodera e Globodera, ou de semiendoparasitos sedentários, como Rotylenchulus e Tylenchulus. Existem poucos exemplos de resistência a grupos de patógenos menos especializados, como os endoparasitos migradores (Aphelenchoides e Pratylenchus) e os ectoparasitos (Xiphinema) (R'OBERTS, 2002). Isso é reflexo das diferenças coevolucionárias entre grupos de nematoides e hospedeiros. Entretanto, o desafio de lançar variedades resistentes aos nematoides menos especializados deve ser vencido pelos melhoristas, pois muitos dos principais nematoides que ocorrem nos trópicos pertencem ao grupo dos endoparasitos migradores, que causam a destruição das células sem modificar o hospedeiro, como é o caso de Radopholus e Pratylenchus (LUC et aI., 2005). Ao escolher o genótipo a ser plantado, devem-se levar em consideração, além da resistência aos nematoides, a adaptação e o potencial produtivo do material na regiao (SILVA, 2001). Adicionalmente, as populações dos nematoides infestantes na área de cultivo devem ser conhecidas de forma precisa, inclusive com relação às raças do patógeno. Embora uma espécie ou raça de nematoide POssapredominar em determinada área, a ocorrência de populações POliespecíficas é muito comum, e tal fato pode limitar a utilização de v~riedades resistentes (SILVA, 2001). Por isso, em alguns casos, aInda que um cultivar resistente seja implantado, alguns produtores preferem adotar medidas extras de controle. Na Carolina do Norte - EUA, 97% dos 84.000 hectares cultivados com fumo eram compostos Por variedades resistentes a M. incognita (ST ARR et aI., 2?02). TOdavia, além dessa alta percentagem de uso da resistência, mars de 70% da cultura era tratada com nematicidas, o que, dentre outros 134 Ferraz et aí. esença de M arenaria e M.fatores estava relacionado com a pr .' javani~a, contra os quais a resistência não era efetiva. . . Além disso, o cultivo contínuo de determinado matenal . t espécie ou raça pode favorecer o aumenn,resisten e a uma . r _ populacional de outras espécies ou raç~s present~s na area, ~ue nao estavam em alta população antes da implantação do genotipo ern questão, como demonstrado com Globodera spp., em bratata, e Heterodera glycines, eIU soja (TURNER, 199~; x.OUNG; HARTWIG, 1992). Nos Estados Unidos, o cultivo de soja resistente a M. incognita aumentou consideravelmente a po~ul~ção de AI. arenaria CFASSULIOTIS, 1987). Em regiões tropicais, corno no Brasil, a seleção de nematoides virulentos, ou raças dentro de urna população mista no campo, pode ser ainda mais rápida, uma vez que o ciclo de vida de nematoides é reduzido, permitindo que várias gerações sejam completadas dentro do mesmo ciclo de cultivo (SILVA, 2001; ROBERTS, 2002). O piramidamento de genes de resistência poderia aumentar a durabilidade da resistência no campo (STARR; ROBERTS, 2004). Por exemplo, a resistência de feijão-caupi (Vign unguiculatai a Meloidogyne spp., baseada nos genes Rk + rk3, é efetiva contra várias populações de nematoides e pode ser mais durável que quando apenas o gene Rk está envolvido (EHLERS taL, 2000). Todavia, considerando que o lançamento de materiais 0111 resistência múltipla não é uma tarefa tão simples, a pres ão d seleção exercida por populações de nematoides sobre detenuinado cultivar resistente pode ser reduzida pelo plantio de cultivares COIUgenes de resistência distintos (quando disponíveis) ou pela integração com outras práticas de controle, por exemplo o cultivo de plantas não hospedeiras precedendo os genótipos resistentes (ROBERTS et aI. 1998 STARR; ROBERTS, 2004). ' , A. sensibilidade ao calor é outro fator agravante no uso de certas vanedades resistentes (ROBERTS et aI. 1998) O Mi em. , , . gene , tomateiro, e o clássico exemplo desse fenômeno com quase completa perda de resistência a 28-30 °C (DROPKIN 196'9) E P buco, I' , .memam de cu tívares de tomateiro IPA-5, Caline IPA-6 e Viradoro, portadores o gene Mi; foram suscetíveis a M. incognita raça 1 e apresentaram apenas reslstencla moderada aM. javanica quando cultivados em casa ------- Resistência genética 135 de vegetação, com temperatura média do solo igual a 36°C (GUIMARÃES et aI., 2001). Considerando que na maior parte do território de países tropicais, como o Brasil, temperaturas superiores a 28°C são comuns durante grande parte do ano, os programas de melhoramento devem buscar genes de resistência que não apresentem tal limitação. Alguns genes estáveis a temperaturas superiores a 34°C já foram identificados em Lycopersicon peruvianum (VEREMIS; ROBERTS, 2000; AMMIRAJU et aI., 2003). Ainda é importante ressaltar que, em alguns casos, as características produtividade e resistência a nematoides são inversamente correlacionadas, ou seja, variedades com alta produtividade mostram-se suscetíveis aos principais nematoides da cultura, conforme observado para a cana-de- , açucaro A transformação genética de plantas e a utilização de marcadores moleculares poderão ser importantes aliados no desenvolvimento de cultivares resistentes, uma vez que aceleram o processo de melhoramento e facilitam a incorporação de genes de interesse. Pesquisadores de diversas partes do mundo têm procurado incorporar genes de resistência aos nematoides por meio da engenharia genética. Informações complementares sobre esta abordagempodem ser encontradas em Atkinson et aI. (2003). Perspectivas A resistência genética é uma poderosa ferramenta no manejo de doenças em qualquer sistema agrícola, por aliar eficiência, praticidade e segurança ambiental. Todavia, a indisponibilidade de genótiposresistentes não permite que essa forma de manejo seja mais amplamente adotada. A prospecção por novas fontes de resistência deve ser contínua, ampliando o estudo em diferentes bancos de germoplasma,principalmente visando resistência múltipla. A durabilidade da resistência pode ser prolongada pela integração com outras formas de controle, por exemplo a rotação de culturas. Na Tabela 14.3 é apresentada uma lista de genótipos e cultivaresresistentes a algumas espécies de nematoides. 136 Ferraz et alo Tabela 14.3 - Exemplos de genótipos e cultivares resistentes a nematoides" Nematoides Culturas S~a _ Meloidogyne incognita BR 36, BRS 211, BRS 233, BRS 239, BRS 261, BRS 279RR, BRS 282, BRS 285, BRS 8560RR, BRS Cambona, BRS Candeia, BRS Macota, BRSGO 204 (Goiânia), BRSGO Caiapônia, BRSGO Iara, BRSGO Indiara, BRSGO Paraíso, BRSMG 68 (Vencedora), BRSMG 790A, BRSMG 811CRR, BRSMG 850GRR, BRSMG Garantia, BRSMG Liderança, CD 201, CD 202, CD 203, CD 208, CD 217, CD 218, CD 224, CD 226RR, CD 231RR, FMT Matrinxã, IAC 12, IAC 8, MG/BR 46 (Conquista), MSIBR 19 (Pequi), MS/BR 34 (Empaer 10), TMG 103 RR, UFV/ITM 1. BRS 211, BRS 233, BRS 239, BRS 261, BRS Celeste, BRS Corisco, BRS Favorita RR, BRS Pétala, BRS Rairnunda, BRS Valiosa RR, BRSGO 204 (Goiânia), BRSGO 7963, BRSGO 8360, BRSGO Luziânia, BRSGO Garantia, BRSMS Piapara, CD 201, CD 203, CD 208, IAC 8, MGIBR 46 (Conquista), MSIBR 19 (pequi), TMG 103 RR. BRS 231 (I, 3), BRS 262(1, 3), BRS 263(1, 3>, BRS 8460RR(1, 3), BRS Invernada'!' 3>,BRS Jiripoca'v ", BRS Piraiba':3), BRSGO Araçu'!: 3), BRSGO Chapadões'! 2, 3, 4, 5, 14),BRSGO Edéia(3), BRSGO Iara'", BRSGO Ipameri-': 14), BRSGO Raíssa-", BRSMG (Nobrczaj-'r", BRSMG 251 (3), BRSMG 810C(I,3), BRSMG 811CRR(3), BRSMG Liderança'J', BRSMT Pintado-':", CD 217(3), CS 801(3), FMT Cachara'!: 3), FMT Matrinxã'!: 3), FMT Tabarana(1, 3), FMT Tucunaré'!' 3), Foster (IACi3), M-Soy 7901 (3),M-Soy 8001 (1,3),M-Soy 8200(3),M- Soy 8400(3), M-Soy 8757(3), NK 7059RR(3), NK 7074RR(3), NK 412113(3), P98N71(1, 3), P98N82(3), TMG 113RR(1, 3), TMG 115RR(I, 3) TMG 117RR(3), TMG 121RR(I, 3) , BRSGO Jataí, BRSGO 204 (Goiânia), DM 309, M- Soy 8866, P98Cll, P98C81 Melo idogyn e javanica Heterodera glycines Pratylenchus brachyurus Rotylenchulus reniformis BRS Invernada, BRS Jiripoca, BRS Valiosa RR, BRSMG 68 (Vencedora), BRSMG 250 (Nobreza), CD 201, M-Soy 8001, TMG 113RR, TMG 115RR, --------------------_____________ TMG 121RR _ --------------------------------------------------------------------------------------------- Continua .. · ___ Res~::~re~n~Cí_a~g_e_n_étic_'_a _LlZ 137 Tabela 14.3 - Cont.- Nematoides Culturas - Meloidogyne incognita Meloidogylle javanica Milho Agrião Seco Picante, Alface Romana Balão, Alface Salad Bowl (Mimosa), Alface Great Lakes 659-700, Alface Simpson, Alface Grand Rapids, Alface Salinas, Couve Manteiga, Couve-flor Teresópolis Gigante, Couve-flor Bola de Neve, Tomate Nemadoro Agrião Seco Picante, Alface Romana Balão, Alface Salad Bowl (Mimosa), Alface Great Lakes 659-700, Alface Simpson, Alface Grand Rapids, Alface Salinas, Couve Manteiga, Pimentão All Big, Tomate Monte Carlo, Tomate Híbrido RPT 1095, Tomate RPT '1570, Tomate Nemadoro Agrião Seco Picante (2), Couve Manteiga (2), Pimentão All Big (2), Tomate Monte Carlo, Tomate Master Abobrinha Caserta, Abobrinha Branca da Virgínia, Alface Crespa Rápida, Espinafre Viroflay, Espinafre Nova Zelândia, Melão Híbrido PieI de Sapo, Melão Yellow Start, Pepino SMR 58, Pepino ~arketer Café 'IAPAR-59 (CojJea arabica), Café IPR 100 (C. bi ) Café 'IAC 4810' (CojJea canephora),ara ica , + ) C fi' 'IAC APOATÃ 2258' (C. canephora C:f~ IAC 4810 (C. canephora), Café 'IPR 100' (C. arabica), Pêssego 'Okinawa, Pêssego Aurora-I, Pêssego Dourado-l . . + ---!iL~'2~~_l!Il!~_~~,!!_ip_f!!!f}_~~~!!~Ç_i_~~l}_f!}_~}~_§!Y!_!!~g_~~-~,_!_C}_'}_qj!_t}_~_!!_ifq_f~q_~q__----C------t-~--------- on Inua ... ,Pratylenchus brachyurus Meloidogyne incognita Meloidogyn ejavanica Meloidogyne arenaria Meloidogyne hapla Meloidogyne exígua Meloidogyne incognita P30F33, P30F80, P3027,P30K73, P30F90 A 2288, A 2555, A 2560, A 3663, A 4545, A 4646, AVANT, BR 106, BRS 1010, BRS 2114, BRS 2160, BRS 3123, BRS 4150, AG 1051, AG 3010, AG 5011, AG 5016, AG 6018, AG 6690, AG 7575, AG 9010, AG 9020, AG 9090, AGN 3050, AGN 3150, AGN 3180, AGN 32A42, AS 3477, CD 301, CD 302, CD 305, CD 3121, DKB 440, DKB 606, DKB 747, DKB 806, DKB 901, DKB 911, DKB 929, DOMINIUM, EXCELER, FLASH, MASTER, PX12975H, P30F33, P30F80, P30F88, PX1297H, P32R21, P30R21, P3027, P3081, P3071, PREMIUM, TRAKTOR (G-186 C), TORK, XB 7012, XL 357, XL 355, XL 221, SHS 4040, 2B587, 2B707 P30K75, BRS 2114, BRS 3123 Olerícolas 138 Ferraz et al, Tabela 14.3 - Cont. Nematoides Culturas Olerícolas Pratylenchus jaelini Citrange Carrizo +, Citrumelo Swingle +, Poncirus trifoliata +, Tangerina Cleópatra +, Tangerina Sunkt _ Culturas diversas Milheto ADR 300(1)' Milheto ADR 500(1), Sorgo BR- 304(1), Sorgo BR 60 I (I, 3), BRS 306 (I, 3), Sorgo 732(1), Sorgo Planta Baixa'!', Algodão IAC 96/414(3), Algodão IAC 24, Algodão IAC 25 RMD Milheto ADR 300, Milheto ADR 500, Arroz Guarani, Arroz IAC 47, Arroz IAC 238, Arroz BRlIRGA 409, Arroz BRlIRGA 413 Meloidogyne incognita Pratylenchus brachyurus Meloidogyne graminicola Fonte: CARNEIRO; MORAES, 1993; CAMPOS; FERRAZ, 1993; FERRAZ, 1993; SALIBE; JAEHN, 1996; SILVA et aI., 2001a; SALGADO et aI., 2002; MANSOTE et aI., 2002; SALGADO et aI., 2005; CHARCHAR et aI., 2003; ASMUS; SCHIRMANN, 2004; CARNEIRO et aI., 2005; CHARCHAR; MOITA, 2005; MAYER et aI., 2005; TOMAZINI et aI., 2005; CAMPOS; SILVA, 2006; BARBOSA et aI., 2007; CALZAVARA et aI., 2007; DIAS et aI., 2007; RIBEIRO et aI., 2007ab; TOIGO et aI., 2007; ASMUS, 2008b; EMBRAP A, 2008; GALBIERI et aI., 2009; LORDELLO; LORDELLO, 2009. *Os genótipos apresentados nesta tabela foram classificados como resistentes, após experimentação científica. Cabe aos autores das pesquisas referenciadas neste capítulo a responsabilidade pelos resultados apresentados. Todos os genótipos estão inscritos no Registro Nacional de Cultivares (www.agricultura.gov.br). Acesso em: 24 de junho de 2009. (n) Números entre parênteses representam as raças de nematoides às quais os genótipos apresentam resistência. ~aterial usado corno porta-enxerto. Capítul CONTROLE BIOLÓGICO A grande maioria dos fitonematoides passa pelo menos parte do seu ciclo de vida no solo, e sua atividade é influenciada pela variação de fatores físicos (temperatura, umidade e aeração), químicos (defensivos, fertilizantes) e também biológicos. O componente biológico do ecossistema do solo é particularmente importante em limitar ou estabilizar as populações dos nematoides, através de mecanismos de competição, parasitismo, predação e produção de compostos tóxicos. A ação desses organismos na manutenção das populações de nematoides a níveis inferiores do que ocorreria na sua ausência é geralmente conhecido como "controle biológico" (STIRLING, 1991). Esse fenômeno pode ocorrer naturalmente, através do equilíbrio biológico natural da microbiota do solo, ou de forma induzida, por meio de introduções artificiais de antagonistas no ambiente ou estimulando sua atividade no solo (FERRAZ; SANTOS, 1985; JATALA 1986' STIRLING, 1991)., , Vários organismos são considerados inimigos na~rais de fi;onematoides, por exemplo nematoides, ~redadores, tardígrados, VIrus, artrópodes, ácaros, fungos e bactenas (STIRLING, 1_991). Apesar dessa di idade de antagonistas, nem todos esses organismosIversl , " apresentam t . 1 para serem utilizados na prática no controle. po encla . . . bIOlógico de nematoides. Para que ~m, ~lcrorganIsmo seJ.a Considerado um bom agente de controle biológico, ele deve pOSSUIr -- 140 Ferraz et al, vários atributos (KERRY, 1989; FREITAS et aI., 1999), como: a) não ser patogênico a plantas, seres humanos e outros animais; b) ser eficiente em reduzir ou suprimir a população de nematoides em alta densidade; c) sobreviver a condições extremas do solo na ausência do hospedeiro; d) parasitar diversas espécies de fitonematoides; e) ser capaz de disseminar assim que aplicado ao solo, garantindo o seu estabelecimento; f) ser facihnente e economicamente produzido em massa; g) permanecer infectivo após longo tempo de armazenamento; h) ser compatível com fertilizantes, defensivos químicos e outras práticas culturais; e i) não modificar as práticas culturais habituais do agricultor para a sua aplicação. Apesar de ser praticamente impossível reunir todas essas características em um microrganismo, os fungos e as bactérias são grupos que apresentam o maior número de características desejáveis (JATALA, 1986; STIRLING, 1991; FERRAZ; SANTOS, 1995), razão pela qual serão enfatizados neste capítulo. Fungos Os fungos são os inimigos naturais dos nematoides mais pesquisados (CHEN; DICKSON, 2004). Os primeiros relatos envolvendo fungos nematófagos datam do século XIX. Em 1852, Fresenius isolou e descreveu Arthrobotrys oligospora, sem perceber o hábito predatório desse microrganismo, apenas relatado por Zopf, em 1888. Em 1874, Lohde descreveu o fungo nematófago endoparasítico Harposporium anguillulae (GRAY, 1988). Os primeiros experimentos para o controle de nematoides utilizando fungos nematófagos foram realizados no Havaí, por Linford e Yap (1939). Os pesquisadores testaram a eficiência de A. oligosp ora , A. musiformis, Monacrosporium ellipsosporum, M. thaumasium e Dactylaria candida no controle de Meloidogyne sp., em plantas de abacaxi (Ananas comosus). Durante 15 meses de cultivo da planta emsolo infestado, apenas M. ellipsosporum restringiu as injúrias causadas pelo nematoide. No Brasil, o primeiro relato de fungos parasitando nematoides foi feito por Freire e Bridge (1985). Na oportunidade, os autores observaram que ovos, juvenis e fêmeas de Meloidogyne incognita eram parasitados por Paecilomyces lilacinus e pochonia chlalnydosporia (=Verticillium chlamydosporium). Controle biológico 141 Em razão do crescente interesse por este grupo particular de fungos e do pro~~sso nas pesquisas, os cientistas puderam verificar que centenas de especies de fungos se alünentaln de nematoides adotando. , diferentes. estratégias de ação, o que permite agrupá-los em: a) endoparasitas; b) predadores; c) parasitas de ovos e fêmeas; e d) produtores de metabólitos tóxicos (STIRLING, 1991; CHEN; DICKSON, 2004). Fungos Endoparasitas Os fungos endoparasitas produzem esporos móveis (zoósporos) que se aderem à cutícula do nematoide hospedeiro. Estes esporos germinam e emitem hifas que atravessam a cutícula do nematoide e usam o conteúdo pseudocelomático para sua nutrição. Após utilizar a fonte de alimento, conídios do fungo são produzidos e liberados no meio externo, quando se aderem novamente a outros nematoides. A maioria dos fungos endoparasitas depende do parasitismo de nematoides e apresenta fase saprofitica limitada. Além disso, não produzem quase nenhum micélio no solo e completam seu ciclo no interior do corpo do nematoide, não desenvolvendo hifas externamente ao nematoide parasitado. Hirsutella rhossiliensis, Catenaria auxiliaris, Nematophthora gynophila, Drechmeria coniospora, Nematoctonus spp., Acrostalagmus spp., Harposporium spp., Myzocytium spp. e Haptoglossa spp. são exemplos de fungos endoparasitas estudados no controle biológico de nematoide (STIRLING, 1991; SIDDIQUI; MAHMOOD, 1996; CHEN; DICKSON, 2004). O potencial de uso de fungos endoparasitas em programas de controle biológico é limitado, devido aos seguintes fatores: a) a locomoção e a atividade dos zoósporos dependem da presença de água no solo; b) crescimento limitado em meio de cultura, o que dificulta a produção massal; c) baixa habilidade de sobrevivência saprofitica; e d) suscetibilidade de seus esporos ao efeito micostático (SIDIQUI; MAHMOOD, 1996). Fungos Predadores Os fungos predadores são comuns e abundantes em solos naturais, agrícolas e em todo tipo de material orgânico (BARRON, 1977). --..-------------------------------- 142 Ferraz et al, Esses fungos permanecem no solo mesmo na ausência do nematoide, apresentam pouca especificidade pelo nematoide-alvo, são facilmente produzidos em meio de cultura e produzem estruturas especializadas de captura ao longo de suas hifas, conhecidas como armadilhas. A formação dessas estruturas ocorre em resposta do fungo à presença do nematoide, substâncias derivadas deles ou outros compostos de origem biológica. Condições adversas de cultivo, como escassez de água e, ou, de nutrientes, também podem induzir a formação de armadilhas (BALAN; GERBER, 1972). A ação da hifa pode ocorrer dentro de 24 horas e numerosas estruturas de captura podem ser produzidas (PRAMER, 1964). Quanto maior a motilidade dos nematoides, maior o estímulo do fungo para a produção de armadilhas (NANSEN et al., 1988). Essas armadilhas apresentam características particulares, conforme a espécie de fungo, podendo ser: a) hifas a~esivas não o modificadas; b) hifas adesivas tridimensionais; c) nodulos adesivos; d) anéis constritores; e) anéis não constritores (Figura 15.1). Os principais gêneros de fungos predadores são Monacrosporium e Arthrobotrys. A~ 11 B Figura 15.1 - D E F I H ~ G Órgãos de captura d .Ç, do, o e lungos predadores: nódulosa eSIVOSsesseis (A)' r d I o ,dI' no u os adesIvos em talos (B)'no u os adesi.ç , _ o vos com rorrnato de ampulheta (C)· anel nao constrItor (D)' 1 o , (F)' o _ ,ane constrItor fechado (E) e aberto, ramIficaçoes ad . o bidi o esivas (G)' rede adesiva I rmensionsj (H)' d o o' o , e re e adeSIva tndIn1ensional (I). Controle biológico 143 o tipo de armadilha mais comum em fungos predadores são as redes adesivas, encontradas em várias espécies como Arthrobotrys musifornús, A. oligospora e Monacrosporium thaumasium. Os nódulos adesivos são células morfologicamente distintas, cobertas por uma substância adesiva, sendo encontradas em M. phymatopagum e M. ellipsosporum. Anéis não constritores são raros e ficam passivamente alojados no corpo do nematoide e, na tentativa de se livrar do anel, o nematoide agita o seu corpo, encaixando ainda mais o anel ao redor do corpo. Monacrosporium leptosporum e A. candida são exemplos de fungos predadores que utilizam essa estratégia de predação. Os anéis constritores são considerados os esquemas de armadilhas mais agressivos e são constituídos por três células arcadas ou arqueadas, unidas à hifa por um talo curto com cerca de 20 a 40 uix: de diâmetro interno. São observados em A. dactylo ides , A. brochopaga eM. bembicoides, O anel, seja de constrição ou não, pode desprender-se do micélio ou se manter ligado a ele; contudo, em qualquer uma das situações, ocorrerá a posterior invasão fúngica no interior do nematoide, consumindo o seu conteúdo e lançando para o meio externo as suas estruturas vegetativas e reprodutivas (BARRON, 1977; GRAY, 1988; FERRAZ; SANTOS, 1995; NORDBRING- HERTZ et aI., 2002). Os fungos predadores que produzem redes tridimensionais são bons saprófitas e crescem bem em meio de cultura; porém, são menos efetivos na captura de nematoides quando comparados com aqueles que produzem ramificações ou nódulos adesivos e anéis constritores (JANSSON; NORDBRING-HERTZ, 1980; NORDBRING-HERTZ et aI., 2002). No Brasil, as pesquisas envolvendo o uso de fungos predadores foram intensificadas a partir da década de 1990, envolvendo, principalmente, espécies dos gêneros Arthrobotrys e Monacrosporium e em condições de casa de vegetação (DAL LA PRIA, 1992; DIAS; FERRAZ, 1994; CAMPOS; CAMPOS, 1997; D'ANGIERI FILHO; CAMPOS, 1997; RIBEIRO et aI., 1999; OLNEIRA et aI., 2002; LOPES et aI., 2007b). No entanto, nem sempre os resultados animadores obtidos com a aplicação de fungos predadores em condições controladas são confirmados no campo (SIDDIQUI; MAHMOOD, 1996; CHEN; DICKSON, 2004). Por exemplo, na década de 1970 foi lançado na França um produto à base de Arthrobotrys superba (ROYAL 350®) para controle de nematoides 144 Ferraz et aI. em tomateiro (Tabela 15.1), luas o desempenho do produto em diferentes áreas de cultivo era inconsistente (STIRLING, 1991). Possivehnente, tal inconsistência seja explicada pelo fato de que nem sempre a época de maior atividade das armadilhas coincide com o período em que os estádios infectivos dos nematoides endoparasitas sedentários estão presentes no solo, por exemplo Meloidogyne e Heterodera (SIDDIQUI; MAHMOOD, 1996). A partir do momento em que os nematoides penetram nas raízes da planta hospedeira, eles ficam protegidos do parasitismo dos fungos predadores e, dessa forma, os antagonistas devem esperar pela eclosão de novos juvenis. Além disso, esses fungos são suscetíveis ao antagonismo de outros fungos e dependentes da presença de matéria orgânica no solo (STIRLING, 1991). Para ocorrer a predação é necessário que haja crescimento micelial e formação de armadilhas. Os dois processos requerem energia, que pode ser suprida por carboidratos presentes na matéria orgânica (STIRLING, 1991). Dessa forma, a aplicação em conjunto com alguma fonte de matéria orgânica poderia aumentar a germinação dos esporos, o crescimento micelial, a atividade predatória do fu~go e favorecer a competição desses fungos com os demais organismos do solo. Tabela 15.1 - Alguns bionematicídas formulados a partir de fungos antagonistas Nome do Produto ES]2écieFúngica Ti]2o de Fungo PaísRoyal350'Bl Arthrobotrys superba Predador FrançaNematofagin.gj P Arthrobotrys Predador Rússia oligospora Bíoact", Bíocon'" Paecilomyces lilacinus Parasita de ovos e Filipinas Soybean Root P. lilacinus fêmeas Bioprotectanr" Parasita de ovos e
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