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Circuitos Lógicos Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Renan Cardoso Melli Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Fundamentos de Circuitos Lógicos Fundamentos de Circuitos Lógicos • Apresentar os conceitos e fundamentos de análise, interpretação e aplicação dos elementos básicos integrantes de Circuitos Lógicos; • Conhecer os elementos básicos aplicados na implementação de Circuitos Lógicos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Constantes e Variáveis Booleanas; • Representação de Funções Lógicas; • Operação de Funções com Formas de Onda nas Entradas; • Expressões Lógicas ou Equações Booleanas; • Circuitos Lógicos Digitais e Expressões Lógicas. UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Contextualização Atualmente, o termo “Digital” é tão comum em nosso vocabulário que nem pensamos o que essa palavra realmente significa. O termo é derivado da forma com que os computadores realizam operações, contando dígitos, e disso se tratam os sistemas microprocessados: computar a maior quantidade de dados possível. É isso que torna possível o funcionamento de elementos como computadores, robôs, médicos eletrônicos, transportes e entretenimento, dentre muitos outros. Nesta Unidade, vamos identificar como os Circuitos Digitais interpretam sinais de entrada e os transformam em outros tipos de sinais, criando maior conversa- ção entre dispositivos. 8 9 Constantes e Variáveis Booleanas A Álgebra Booleana difere da Álgebra comum porque constantes e Variáveis Booleanas podem ter apenas dois valores possíveis, 0 ou 1. Uma Variável Booleana é uma quantidade que pode, em momentos diferentes, ser igual a 0 ou a 1. Variáveis Booleanas são frequentemente usadas, por exemplo, para representar o nível de tensão em um circuito. Por exemplo, num dado Sistema Digital, o valor lógico Booleano “0” pode ser atribu- ído a qualquer valor de tensão na faixa entre 0 a 1,5V, enquanto o valor lógico Booleano “1” pode se referir a qualquer valor na faixa entre 3,5 a 5,0V. Assim, os níveis 0 e 1 Booleanos não representam números reais e sim o estado de uma variável, definido como nível lógico. Nesse sentido, uma tensão em um circuito digital é interpretada como nível lógico 0 ou nível lógico 1 de acordo com o seu valor numérico real. Representação de Funções Lógicas Um Sistema Digital é composto por uma série de elementos que operam as variáveis e constantes Booleanas. Uma forma comum de representarmos esses elementos é utili- zando uma série de simbologias conhecidas como portas lógicas. A seguir, veremos as principais portas lógicas e seus métodos de funcionamento. Existem três funções lógicas fundamentais: soma (conhecida como “OR”, em Inglês e “OU” em Português), multiplicação (“AND”, em INGLÊS e “E” em Português) e inversão (“NOT” e “NÃO”, respectivamente). A partir delas, outras funções lógicas podem ser derivadas, complementando os ele- mentos disponíveis para representar as operações lógicas realizadas em circuitos digitais. A porta lógica AND (E) representa uma operação de produtos entre variáveis. Seu funcionamento diz que a saída será 1 somente se todas as entradas operadas pela fun- ção forem iguais a 1 simultaneamente, nos demais casos, a saída será sempre 0. A Figura 1 apresenta, em (a) a representação simbólica da função AND e, em (b), sua respectiva Tabela verdade para o tratamento de duas variáveis de entrada A e B: F igura 1 – Porta Lógica AND (a) e respectiva Tabela verdade da função para duas variáveis (b) Fonte: Adaptado de TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 9 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Em Lógica, dizemos que o valor 0 significa FALSO (F) e normalmente é representado por um nível de tensão 0V, isto é, um nível baixo de tensão ou BAIXO ou, ainda, LOW. Já o valor 1 significa VERDADEIRO (V) e é representado por um nível de tensão +VCC, ou seja, um nível alto de tensão ou ALTO ou, ainda, HIGH. A porta lógica OR (OU) representa uma operação de soma entre variáveis. Seu funcionamento diz que a saída será 1 se pelo menos uma das entradas operadas pela função for igual a 1. Sua saída será 0 somente se todas as variáveis operadas pela função forem iguais a 0 simultaneamente. A Figura 2 apresenta, em (a), a representação simbólica da função OR e, em (b), sua respectiva Tabela verdade para o tratamento de duas variáveis de entrada A e B: Figura 2 – Porta Lógica OR (a) e respectiva Tabela verdade da função (b) para duas variáveis Fonte: Adaptado de TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 A porta lógica NOT (NÃO) representa uma operação de inversão ou complementa- ção de uma variável. Seu funcionamento diz que a saída será o complemento lógico de sua entrada ou, em outras palavras, seu estado lógico inverso. A Figura 3 apresenta, em (a), a representação simbólica da função NOT e, em (b), sua respectiva Tabela verdade para o tratamento de uma variável de entrada A: Figura 3 – Porta Lógica NOT (a) e respectiva Tabela verdade da função (b) para duas variáveis Fonte: Adaptado de TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 Complementarmente, a partir da combinação dessas três funções lógicas elementa- res, é possível obtermos outras duas variações de funções lógicas: as funções NAND (NÃO E) e NOR (NÃO OU). A Figura 4 apresenta, em (a) e em (c), as respectivas representações simbólicas das funções NOR e NAND e, em (b) e em (d), suas respectivas Tabelas verdade para o trata- mento de duas variáveis de entradas A e B. 10 11 Figura 4 – Porta Lógica NOR (a) e respectiva Tabela verdade da função (b) para duas variáveis. Porta Lógica NAND (c) e respectiva Tabela verdade da função (d) para duas variáveis Fonte: Adaptado de TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 Por fim, o conjunto das funções lógicas é completado definindo-se duas variações específicas de funções lógicas de soma: a função EX-OR (OU Exclusiva) e a função EX-NOR (OU Não Exclusiva ou Coincidência). A Figura 5 apresenta, em (a) e em (c), as respectivas representações simbólicas das funções EX-OR e EX-NOR e, em (b) e em (d), suas respectivas Tabelas verdade para o tratamento de duas variáveis de entradas A e B. Figura 5 – Porta Lógica EX-OR (a) e respectiva Tabela verdade da função (b) para duas variáveis. Porta Lógica EX-NOR (c) e respectiva Tabela verdade da função (d) para duas variáveis Fonte: Adaptado de TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 Em nosso Material Complementar, há um link para um simulador on-line de Circuitos Eletrô- nicos Digitais, com o qual você poderá montar e testar Circuitos Lógicos de forma intuitiva e entender seu funcionamento. Não perca esta chance de praticar seus conhecimentos! 11 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Operação de Funções com Formas de Onda nas Entradas Na maioria das aplicações, as entradas de uma porta não apresentam níveis estacio- nários, mas são formas de onda de tensão que variam frequentemente entre os níveis lógicos ALTO e BAIXO. No entanto, uma função lógica obedece a operação de uma Tabela verdade independente se as entradas recebem níveis lógicos constantes ou níveis que variam entre ALTO e BAIXO. Vejamos um exemplo para a função AND na Figura 6. A e B são as variáveis de entrada que recebem os sinais digitais ao longo do intervalo de tempo t1 a t5: Figura 6 – Porta Lógica AND submetida a um trem de pulsos Fonte: FLOYD, 2007 Como se observa no diagrama de estados da Figura 6, o nível lógico da saída X da porta lógica acompanha a variação dos estados lógicos nas entradas A e B da função. As entradas A e B são nível ALTO (1) durante o intervalo de tempo t1, tornando a saída X nível ALTO (1) durante esse intervalo de tempo. Durante t2, A vai para nível BAIXO (0), forçando a saída X para nível BAIXO (0) neste intervalo. Sucessivamente, ao longo dos intervalos t3, t4 e t5, o nível da saída X é atualizado à medida que as entradas A e B são atualizadas. Em todos os casos, a saída da função obedece às condições previstas na Tabela verdade da porta lógica. O mesmo raciocínio anterior pode ser aplicado a qualquer funçãológica. Na Figura 7 a seguir, é exemplificado o comportamento da saída X de uma porta OR de duas entra- das A e B. Para cada instante de transição dos sinais de entrada, observa-se a respectiva alte- ração no comportamento do nível da saída X, acompanhando às respectivas condições previstas para a função OR. 12 13 Figura 7 – Porta Lógica OR submetida a um trem de pulsos Fonte: FLOYD, 2007 Expressões Lógicas ou Equações Booleanas George Boole (1815-1864), matemático e filósofo britânico, desenvolveu um Sistema Matemático de Análise Lógica conhecido como Álgebra de Boole ou Álgebra Booleana. Esse sistema permitiu elaborar expressões conhecidas como funções lógicas, que possibilitaram o desenvolvimento da Eletrônica Digital. Para facilitar o tratamento ana- lítico das diversas funções lógicas possíveis de serem implementadas através de portas lógicas, utiliza-se a representação da função lógica por meio de equações Booleanas, conforme demonstrado na Tabela 1: Tabela 1 – Representação das portas lógicas por equações Booleanas Função Lógica Equação Booleana Correspondente AND x A B= ⋅ OR x A B= + NOT x A= NOR x A B= + NAND x A B= ⋅ EX-OR x A B= ⊕ EX-NOR x A B= ⊕ Álgebra de Boole A Álgebra de Boole é formada por um conjunto de regras e Leis aplicadas ao estudo e ao desenvolvimento de Circuitos Lógicos. Essas regras permitem generalizar a interpretação e a avaliação das propriedades de Circuitos Digitais, otimizando as condições de projeto e implementação desses circuitos. Leis da Álgebra de Boole Na álgebra Boolena, utilizam-se três das Leis fundamentais da Álgebra convencional: as leis comutativas para a adição e multiplicação, as leis associativas para a adição e multiplicação e a lei distributiva. 13 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Essas leis são aplicadas às análises de circuitos digitais independentemente da quan- tidade de variáveis presentes no sistema. • Lei Comutativa: essa Lei diz que a ordem das variáveis na qual a função OR ou a função AND é aplicada não faz diferença: A B B Ae AB BA+ = + = • Lei associativa: essa Lei diz que quando é aplicada uma operação OR ou AND em mais de duas variáveis, o resultado é o mesmo independente da forma de agrupar as variáveis: ( ) ( ) ( ) ( ) A B C A B C e A BC AB C+ + = + + = • Lei distributiva: essa Lei diz que a operação AND de uma única variável com o resultado de uma operação OR aplicada em duas ou mais variáveis é equivalente a uma operação OR entre os resultados das operações AND entre uma única variável e cada uma das duas ou mais variáveis: ( )A B C AB AC+ = + Regras da Álgebra Booleana A Álgebra de Boole apresenta 12 teoremas básicos a partir dos quais as operações lógicas entre variáveis são realizadas. Os teoremas e propriedades da álgebra Booleana permitem a simplificação de Cir- cuitos Lógicos. A Figura 8 reúne estes 12 teoremas fundamentais da álgebra Booleana: Figura 8 – As 12 regras fundamentais da álgebra de Boole Fonte: FLOYD, 2007 Teoremas de De Morgan De Morgan propôs dois teoremas complementares às regras de Boole que implicam a ve- rificação de equivalência entre as funções NAND e NOR. O primeiro teorema enuncia que: 14 15 • O complemento de um produto de variáveis é igual a soma dos complementos das variáveis: XY X Y= + O segundo teorema enuncia que: • O complemento de uma soma de variáveis é igual ao produto do complemento das variáveis: X Y XY+ = Vamos utilizar um exemplo conjunto, em que ambos os Teoremas são aplicados na mesma simplificação. Como simplificar a expressão a seguir para outra que contenha apenas variáveis simples invertidas? ( ))(z A C B D= + + Utilizando o primeiro teorema, fazemos ( )A C X+ = e ( )B D Y+ = e podemos reescrever a expressão anterior como: ( ) ( )z A C B D= + + + Agora que a inversão foi separada, podemos tratar os termos utilizando o segundo Teorema para sua simplificação: z = (AC) + (BD) Na sequência, cancelamos as inversões duplas e obtemos: z AC BD= + De forma semelhante, vejamos mais alguns exemplos da aplicação dos Teoremas de De Morgan. Exemplo 1 z A BC= + ( )z A BC= z A B C = = + ( )z A B C= + 15 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Exemplo 2 ( )( )z A BC DEF= + ( ) ( )z A BC D EF= + + + ( ) ( )z ABC DEF= + ( ) ( )z A B C D E F = + + + z AB AC DE DF= + + + Em nosso Material Complementar, há um link para uma calculadora de funções Booleanas, com o qual você poderá praticar técnicas de otimização de expressões Booleanas e avaliar sua aprendizagem. Será que você consegue otimizar as expressões lógicas tão bem quanto uma calculadora? Propriedade Universal das Pontas NAND e NOR As portas NAND e NOR são elementos lógicos especiais, pois podem ser aplicadas como portas universais, ou seja, as portas NAND e NOR podem ser combinadas e mo- dificadas para realizarem as demais operações lógicas. Uma porta NAND pode realizar as funções NOT, AND, OR e NOR. Já uma porta NOR pode realizar as operações NOT, AND, OR e NAND. A Figura 9 ilustra as associação necessárias para obtenção das funções lógicas a partir de portas NAND: Figura 9 – Obtenção de funções lógicas utilizando-se portas NAND Fonte: Adaptado de FLOYD, 2007 16 17 De forma semelhante, a Figura 10 ilustra as associação necessárias para a obtenção das funções lógicas a partir de portas NOR: Figura 10 – Obtenção de funções lógicas utilizando-se portas NAND Fonte: Adaptado de FLOYD, 2007 Circuitos Lógicos Digitais e Expressões Lógicas Todo Circuito Lógico executa uma expressão Booleana correspondente e, por mais complexo que seja o circuito, ele sempre será composto pela interligação dos blocos lógicos básicos apresentados na seção anterior. Para obter a expressão lógica equivalente a um circuito digital, é preciso averiguar cada uma das operações realizadas com as variáveis presentes no sistema, de acordo com a sua precedência no circuito, e aplicar as expressões apresentadas na Tabela 1, operação por operação, até completar o circuito. Vejamos um exemplo na Figura 11, na qual começamos a análise pelas entradas mais à esquerda e, percorrendo o circuito até a saída final, escrevemos a expressão para cada porta lógica: Figura 11 – Identifi cando a expressão resultante conforme as operações em um circuito lógico Fonte: TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 17 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos A expressão ([ )x D A B CE= + + representa a operação da saída x do circuito lógi- co acima constituído pela combinação de portas lógicas e entradas próprias ao sistema. De forma equivalente, é possível obter um circuito lógico a partir de uma dada ex- pressão. Por exemplo, para a expressão y AC BC ABC= + + , temos o circuito digital corres- pondente apresentado na Figura 12: Figura 12 – Obtendo o circuito lógico resultante a partir de uma expressão Booleana Fonte: TOCCI; WIDMER; MOSS, 2007 Para finalizarmos esta discussão, observamos que o conjunto de técnicas e métodos apresentado ao longo desta Unidade será utilizado para o projeto, simplificação e imple- mentação dos Circuitos Lógicos na próxima seção. É sempre preferível um circuito mais simples para se trabalhar, desde que represente a mesma lógica que o circuito original, uma vez que no circuito simplificado há um nú- mero menor de portas e, portanto, será mais simples implementar e mais barato do que o circuito original. Além disso, a confiabilidade será melhorada devido ao menor número de ligações, diminuindo, assim, uma das causas potenciais de falhas no circuito. Então, não deixe de exercitar e participar dos fóruns para sanar todas suas dúvidas. Nós nos vemos lá. Abraços! 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites CircuitVerse – Simulador Online e Gratuito de Circuitos Lógicos https://bit.ly/3mmMXXE Electronics Course – Calculadora de Álgebra Booleana https://bit.ly/3muZZ5D Livros Elementos de eletrônica digital CAPUANO, F. G. Elementosde eletrônica digital. 41.ed. São Paulo: Erica, 2012. Fundamentos de eletrônica digital: sistemas combinacionais TOKHEIM, R. Fundamentos de eletrônica digital: sistemas combinacionais. Porto Alegre: AMGH, 2013. v. 1. Leitura Introdução do mundo do hardware reconfigurável: Conhecendo as FPGAs https://bit.ly/3gU5Rnx 19 UNIDADE Fundamentos de Circuitos Lógicos Referências CAPUANO, F. G. Elementos de eletrônica digital. 41.ed. São Paulo, Erica, 2012. (e-book) FLOYD, T. Sistemas Digitais: fundamentos e aplicações. 9.ed. Porto Alegre: Book- man, 2011. (e-book) TOCCI, R. J.; WIDMER, N. S.; MOSS, G. L. Digital Systems: principles and applications. 10 ed. New Jersey: Pearson. 2007. 20