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1 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 9. AÇÃO DO VENTO EM EDIFÍCIOS 9.1. A ORIGEM DO VENTO E SEUS EFEITOS O vento pode ser definido como o movimento das massas de ar decorrentes das diferenças de pressão na atmosfera. Na engenharia civil, o estudo da ação do vento tem como principal objetivo a determinação do efeito das forças do vento sobre as estruturas de edifícios, torres, pontes, silos, coberturas, entre outras. Pode-se também definir o vento como um fluxo de ar médio sobreposto a flutuações de fluxo, denominadas rajadas (ou turbulências). As rajadas apresentam um valor de velocidade do ar superior à média, e são responsáveis pelas “forças” que irão atuar nas estruturas. Vale destacar que o vento possui um caráter aleatório quanto a sua intensidade, duração, direção e sentido, o qual deverá ser considerado na determinação das forças (ações) que irão produzir solicitações nas estruturas. A ação do vento em estruturas civis, tais como as edificações, depende necessariamente de dois aspectos: meteorológicos e aerodinâmicos. Os aspectos meteorológicos são responsáveis pela indagação de qual deve ser a velocidade do vento a considerar no projeto de uma dada edificação. Esta velocidade é avaliada a partir de considerações como: ✓ Local da edificação; ✓ Tipo de terreno (plano, aclive, morro, etc.); ✓ Altura da edificação; ✓ Rugosidade do terreno (tipo e altura dos obstáculos à passagem de vento); ✓ Tipo de ocupação. 2 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Fica evidente que esta velocidade deverá considerar todos os aspectos, bem como as dimensões da edificação e as condições do local em que será construída, os quais estão relacionados aos aspectos aerodinâmicos. Outro fator importante a ser considerado é a aleatoriedade do vento que exige, não só a necessidade de realizar medições do vento natural, como também adotar simplificações para poder considerar seus efeitos. A variação da velocidade do vento com a altura é outro aspecto importante a ser observado. DAVENPORT (1963) propôs uma variação exponencial. A figura 9.1 ilustra os perfis da velocidade média propostos para três tipos de terreno: a) região com grandes obstruções – centros de grandes cidades; b) regimes com obstruções uniformes com obstáculos com altura média igual a 10 m; subúrbios de grandes cidades e centros de cidades pequenas; c) região com poucos obstáculos – campo aberto, fazendas. A observação dos perfis de velocidade média, apresentados na figura 9.1, permite concluir a existência de uma velocidade limite denominada velocidade gradiente. Esta velocidade é associada a uma altura, por analogia denominada altura gradiente (identificada como zg na norma brasileira NBR 6123:1988), acima da qual não ocorrem alterações significativas da velocidade. Salienta-se também que, para as edificações, esta altura é suficientemente elevada e varia em função da rugosidade do terreno. Figura 9.1 – Perfis da velocidade média do vento propostos para três tipos de terreno. 3 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Por outro lado, o caráter localizado do vento e os efeitos das rajadas serão os responsáveis pela velocidade do ar que atingem uma dada edificação. Pode-se dizer que num dado instante, a velocidade pode ser expressa por: V(t) = Vm + V(t) Na equação acima, V(t) é a velocidade num dado instante t, Vm é a velocidade média do fluxo de ar, e V(t) representa as variações da velocidade média (o efeito de rajada ou turbulência). A turbulência ou rajada é tratada de várias maneiras, porém, um critério de avaliação simples e de fácil visualização é imaginar a rajada associada a um grande turbilhão, na forma de um “tubo idealizado”, que deverá envolver toda a edificação para que esta seja totalmente solicitada. 9.2. DEFINIÇÕES BÁSICAS Para os efeitos da norma NBR 6123:1988, são adotadas as seguintes definições: Barlavento: região de onde sopra o vento, em relação à edificação. Sotavento: região oposta àquela de onde sopra o vento, em relação à edificação. Reticulado: toda estrutura composta por barras retas. Sobrepressão: pressão efetiva acima da pressão atmosférica de referência (sinal positivo). Sucção: pressão efetiva abaixo da pressão atmosférica de referência (sinal negativo). 4 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Superfície frontal: superfície definida pela projeção ortogonal da edificação, estrutura ou elemento estrutural sobre um plano perpendicular à direção do vento (“superfície de sombra”). 9.3. DETERMINAÇÃO DAS FORÇAS ESTÁTICAS DEVIDAS AO VENTO Na determinação da ação do vento sobre edificações é necessário levar em conta certos aspectos, como a velocidade do vento nas diferentes regiões do Brasil. Outra consideração importante é que a velocidade do vento, para uma dada região, é obtida por meio de medições, porém, não deve ser esquecido que os resultados destas medições não poderão ser adotados como referência inicial sem as devidas considerações de sua variabilidade ao longo do tempo. A vida útil de uma edificação corrente é, em geral, considerada igual a 50 anos, fazendo com que a análise do vento considere esse aspecto. Em outras palavras, é necessário determinar qual a velocidade máxima nesse período de tempo, o que já nos permitirá antever a necessidade de não só obter informações sobre a velocidade em vários locais, como também considerar estatisticamente estas informações. 9.3.1. Velocidade básica do vento A velocidade básica do vento V0 é a máxima velocidade média de uma rajada de 3 s, excedida em média uma vez em 50 anos, a 10 m acima do terreno, em campo aberto e plano. A norma brasileira NBR 6123:1988 fornece os valores da velocidade básica do vento em qualquer região do Brasil na forma de “isopletas”, como ilustrado na figura 9.2. 5 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Figura 9.2 – Isopletas de velocidade básica V0 (m/s) Como regra geral, é admitido que o vento básico pode soprar de qualquer direção horizontal. Em caso de dúvida quanto à seleção da velocidade básica e em obras de excepcional importância, é recomendado um estudo específico para a determinação de V0. Neste caso, podem ser consideradas direções preferenciais para o vento básico, se devidamente justificadas. 6 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 9.3.2. Velocidade característica do vento Como pode ser observada, a velocidade básica é praticamente um padrãode referência a partir do qual se faz necessário determinar a velocidade que atuará em uma dada edificação, denominada velocidade característica, e representada por Vk. Considerando os aspectos particulares da edificação, a NBR 6123:1988 propõe como procedimento para determinação da velocidade característica a seguinte equação: Vk = V0 . S1 . S2 . S3 Na equação acima, V0 é a velocidade básica do vento, enquanto que S1, S2 e S3 são fatores que objetivam corrigir a velocidade básica, da forma como foi inicialmente obtida, para as condições reais da edificação de interesse. Os fatores S1, S2 e S3 são denominados, respectivamente, fator topográfico, fator rugosidade do terreno, dimensões da edificação e altura sobre o terreno e fator estatístico. 9.3.2.1 Fator Topográfico – S1 O fator topográfico S1 considera os efeitos das variações do relevo do terreno onde a edificação será construída. Este fator considera, portanto, o aumento ou a diminuição da velocidade básica em função da topografia do terreno. Sua determinação se dá do seguinte modo: a) terreno plano ou fracamente acidentado: S1 = 1,0; b) taludes e morros: a correção da velocidade básica é realizada a partir do ângulo de inclinação do talude ou do morro. A figura 9.3 ilustra os valores prescritos. 7 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Figura 9.3 – Fator S1 para: (a) taludes e (b) morros. No ponto B, valem as seguintes equações para determinação de S1: θ ≤ 3° S1(z) = 1,0 6° ≤ θ ≤ 17° S1(z) = 1,0 + (2,5 − z d ) . tan(θ − 3°) ≥ 1,0 θ ≥ 45° S1(z) = 1,0 + (2,5 − z d ) . 0,31 ≥ 1,0 OBS.: interpolar linearmente para 3° < θ < 6° e 17° < θ < 45°. 8 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Nas equações acima, z é a altura medida a partir da superfície do terreno no ponto considerado, d é a diferença de nível entre a base e o topo do talude ou o morro e é a inclinação média do talude ou encosta do morro. Entre A e B e entre B e C, o fator S1 pode ser obtido por meio de interpolação linear. c) vales protegidos do vento em todas as direções: S1 = 0,9. 9.3.2.2 Fator de rugosidade do terreno, dimensões da edificação e altura sobre o terreno – S2 O fator S2 considera as particularidades de uma dada edificação, no que se refere às suas dimensões, à rugosidade média geral do terreno na qual a edificação será construída e a altura sobre o terreno. A discussão da influência de cada um destes aspectos na velocidade característica está apresentada a seguir. • Rugosidade do terreno A rugosidade do terreno está diretamente associada ao perfil de velocidade que o vento apresenta quando interposto por obstáculos naturais ou artificiais. A NBR 6123:1988 estabelece cinco categorias de terreno, de I a V, em função de sua rugosidade, transcritas a seguir: Categoria I: superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de 5 km de extensão, medida na direção e sentido do vento incidente. São citados como exemplo: - mar calmo; - lagos e rios; - pântanos sem vegetação. Categoria II: terrenos abertos em nível, ou aproximadamente em nível, com poucos obstáculos isolados, tais como árvores e edificações baixas. A cota média do 9 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM topo dos obstáculos é considerada igual ou inferior a 1 metro. São citados como exemplos: - zonas costeiras planas; - pântanos com vegetação rala; - campos de aviação; - pradarias e charnecas; - fazendas sem sebes ou muros. Categoria III: terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como sebes ou muros, poucos quebra-ventos de árvores, edificações baixas e esparsas. A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual a 3 metros. São citados como exemplos: - granjas e casas de campo, com exceção das partes com matos; - fazendas com sebes e/ou muros; - subúrbios situados a considerável distância do centro, com casas baixas e esparsas. Categoria IV: terrenos cobertos por obstáculos numerosos, pouco espaçados e situados em zonas florestais, industriais ou urbanizadas. A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual a 10 metros. São citados como exemplos: - zonas de parques e bosques com muitas árvores; - cidades pequenas e seus arredores; - subúrbios densamente construídos de grandes cidades; - áreas industriais plena ou parcialmente desenvolvidas. Categoria V: terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes, altos e pouco espaçados. A cota média do topo dos obstáculos é considerada igual ou superior a 25 metros. São citados como exemplos: - florestas com árvores altas de copas isoladas; - centros de grandes cidades; - complexos industriais bem desenvolvidos. 10 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM • Dimensões da edificação e altura sobre o terreno As dimensões da edificação estão relacionadas diretamente com a rajada que deverá envolver a edificação. Quanto maior a edificação, maior é a rajada que envolverá a edificação, e por consequência, menor a velocidade média. Uma maneira de compreender este efeito é como se pudéssemos materializar a rajada do vento como um grande tubo que envolverá a edificação. O tempo que este tubo irá despender para ultrapassar a edificação é considerado o tempo de rajada. É evidente que quanto maiores forem as dimensões da edificação, maiores serão as dimensões do tubo. A NBR 6123:1988 define três classes de edificações e seus elementos, considerando os intervalos de tempo de 3, 5 e 10 segundos para as rajadas. As classes estão transcritas a seguir: Classe A (3 segundos): todas as unidades de vedação, seus elementos de fixação e peças individuais de estrutura sem vedação. Toda edificação ou parte da edificação na qual a maior dimensão horizontal ou vertical da superfície frontal não exceda 20 metros. Classe B (5 segundos): toda edificação ou parte da edificação para a qual a maior dimensão horizontal ou vertical da superfície frontal esteja entre 20 e 50 metros. Classe C (10 segundos): toda edificação ou parte da edificação para a qual a maior dimensão horizontal ou vertical da superfície frontal exceda 50 metros. • Altura sobre o terreno Para a definição do fator S2 é necessário conhecer a categoria do terreno e a classe da edificação. O fator S2 também depende da altura acima do terreno (z), e pode ser obtido por meio da equação abaixo: 11 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM S2 = b . Fr . ( z 10 ) p onde: z é a altura acima do terreno, limitado à altura gradiente (zg), a qual define o contorno superior da camada atmosférica; Fr é o fator de rajada, sempre correspondente à categoria II; b é o parâmetrometeorológico; p é o expoente da lei potencial de variação do fator S2. Os valores de Fr, b e p adotados pela norma brasileira NBR 6123:1988 para cálculo de S2 estão apresentados na tabela 9.1. Tabela 9.1 – Valores de Fr, b e p em função da categoria do terreno e da classe da edificação para cálculo de S2. O fator S2 também pode ser calculado através da tabela 9.2 para algumas alturas acima do terreno (z). Para valores de z (em metro) intermediários àqueles apresentados na tabela 9.2, interpolar linearmente. 12 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Tabela 9.2 – Valores do fator S2. 9.3.2.3 Fator estatístico – S3 Este fator esta relacionado com a segurança da edificação considerando, para isto, conceitos probabilísticos e o tipo de ocupação da mesma. Nesse sentido, a NBR 6123:1988 estabelece como vida útil da edificação o período de 50 anos e uma probabilidade de 63% de a velocidade básica ser excedida pelo menos uma vez neste período. A tabela 9.3 apresenta os valores mínimos do fator S3 sugeridos pela referida norma. 13 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Tabela 9.3 – Valores mínimos do fator S3. A equação abaixo permite a consideração de parâmetros estatísticos para a determinação do valor do fator estatístico S3. S3 = 0,54 . [− ln(1 − Pm) m ] −0,157 onde: Pm é o valor adotado para a probabilidade de a velocidade básica ser excedida pelo menos uma vez no período de retorno m considerado. 9.4. DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO DINÂMICA DO VENTO A velocidade característica do vento (Vk) permite determinar a pressão dinâmica (q), em N/m2, pela seguinte expressão: q = 1 2 . ρ . Vk 2 = 0,613 . Vk 2 onde: é a massa específica do ar, igual a 1,225 kg/m3, na temperatura de 15°C e pressão de 1 atm = 1013,2 mbar = 101320 Pa; Vk é a velocidade característica do vento, em m/s. 14 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 9.5. COEFICIENTES DE PRESSÃO Como a força do vento depende da diferença de pressão nas faces opostas da parte da edificação em estudo, os coeficientes de pressão são dados para superfícies externas e superfícies internas. Para os fins da NBR 6123:1988, entende-se por pressão efetiva p em um ponto da superfície de uma edificação, o valor definido por: ∆p = ∆pe − ∆pi onde: pe é a pressão efetiva externa; pi é a pressão efetiva interna. Assim: ∆p = (cpe − cpi) . q onde: cpe é o coeficiente de pressão externa: cpe = ∆pe q⁄ ; cpi é o coeficiente de pressão interna: cpi = ∆pi q⁄ . Valores positivos dos coeficientes de pressão externa ou interna correspondem a sobrepressões, e valores negativos a sucções. Um valor positivo para p indica uma pressão efetiva com o sentido de uma sobrepressão externa, e um valor negativo para p indica uma pressão efetiva com o sentido de uma sucção externa. 9.6. COEFICIENTES DE FORMA A força do vento sobre um elemento plano de edificação de área A atua em direção perpendicular a ele, sendo dada por: 15 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM F = Fe − Fi onde: Fe é a força externa à edificação, agindo na superfície plana de área A; Fi é a força interna à edificação, agindo na superfície plana de área A. Portanto: F = (Ce − Ci) . q . A onde: Ce é o coeficiente de forma externo: Ce = Fe (q . A)⁄ ; Ci é o coeficiente de forma interno: Ci = Fi (q . A)⁄ . Valores positivos dos coeficientes de forma externo e interno correspondem a sobrepressões, e valores negativos correspondem a sucções. Um valor positivo para F indica que esta força atua para o interior, e um valor negativo indica que esta força atua para o exterior da edificação. Para os casos previstos na NBR 6123:1988, a pressão interna é considerada uniformemente distribuída no interior da edificação. Consequentemente, em superfícies internas planas: cpi = Ci. 9.7. COEFICIENTES DE FORÇA A força global do vento sobre uma edificação ou parte dela Fg é obtida pela soma vetorial das forças do vento que nela atuam. A componente da força global na direção do vento, chamada força de arrasto Fa , é obtida por: Fa = Ca . q . Ae onde: Ca é o coeficiente de arrasto; 16 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Ae é a área frontal (superfície frontal) efetiva, ou seja, a área de projeção ortogonal da edificação, estrutura ou elemento estrutural sobre um plano perpendicular à direção do vento (“superfície de sombra”). De um modo geral, uma componente qualquer da força global é obtida por: F = Cf . q . A onde: Cf é o coeficiente de força, especificado em cada caso: Cx ,Cy, etc.; A é a área de referência, especificada em cada caso. 9.7.1. Coeficientes de arrasto para edificação de seção constante e planta retangular Segundo prescrições da NBR 6123:1988, a determinação do coeficiente de arrasto Ca para edificações (edifícios de múltiplos andares) de planta retangular deve considerar, principalmente, as condições de turbulência ou não do vento que incide sobre a edificação. O vento “não turbulento” ou de “baixa turbulência”, caracterizado pela ausência de obstruções como, por exemplo, em campo aberto e plano, foi o utilizado para a determinação do Ca nos ensaios de túnel de vento. Para este caso, o gráfico da figura 9.4 indica o valor do Ca em função da altura, comprimento e largura da edificação. 17 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Figura 9.4 – Coeficiente de arrasto Ca para edificações paralelepipédicas em vento de “baixa turbulência”. Já o vento considerado como “turbulento”, normalmente observado em grandes cidades (terrenos categoria IV e V), tem como característica principal a diminuição da sucção na parede de sotavento. Neste caso, a força de arrasto deve considerar este efeito e a NBR 6123:1988 determina, de maneira genérica, as condições mínimas para que se possa admitir o vento de “alta turbulência”, e consequentemente, obter o coeficiente de arrasto Ca. As recomendações da referida norma estão transcritas a seguir: 18 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof.Dr. João Kaminski Junior – UFSM - Uma edificação pode ser considerada em zona de alta turbulência quando sua altura não excede duas vezes a altura média das edificações nas vizinhanças, estendendo-se estas na direção e sentido do vento incidente, a distância mínima (dmin) de: • 500 metros, para uma edificação de até 40 metros de altura; • 1000 metros, para uma edificação de até 55 metros de altura; • 2000 metros, para uma edificação de até 70 metros de altura; • 3000 metros, para uma edificação de até 80 metros de altura. Em outras palavras, para definir se uma dada edificação de interesse (já existente ou a ser construída), com altura total H está situada em região de vento de “alta turbulência”, basta que se obtenha uma média das alturas das edificações vizinhas (hmed) situadas a uma distância mínima (dmin) da edificação de interesse (dmin depende de H), na direção do vento incidente, conforme ilustra a figura 9.5, de modo que: H ≤ 2 . hmed Figura 9.5 – Esquema geral: edificação de interesse com edificações vizinhas. Por exemplo, se uma edificação de interesse possui uma altura total H = 50 m, basta tomar as alturas das edificações vizinhas situadas a uma distância de, pelo menos, 1000 m da edificação de interesse, na direção do vento incidente. Se a equação acima for verificada, a edificação de interesse é considerada em zona de “alta turbulência”. Caso contrário, a edificação de interesse é considerada em zona de “baixa turbulência”. 19 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM Admitindo o vento de “alta turbulência” é possível reduzir o coeficiente de arrasto Ca , cujo valor pode ser obtido no gráfico da figura 9.6 abaixo. Figura 9.6 – Coeficiente de arrasto Ca para edificações com planta retangular, situadas em zona considerada com vento de “alta turbulência”. Além de considerações com relação a ventos de alta ou baixa turbulência, a NBR 6123:1988 prevê também a atuação da força de arrasto com excentricidades em relação ao centro de torção da seção transversal da edificação em planta, utilizando para isto a seguinte frase: “Devem ser considerados, quando for o caso, o efeito da excentricidade da força de arrasto”. 20 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 9.8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988. 80 p. GONÇALVES, R. M; SALLES, J. J.; MALITE, M; MUNAIR NETO, J. Ação do vento nas edificações: teoria e exemplos. São Carlos: SET/EESC/USP, 2004. 124 p. BLESSMANN, J. Ação do vento em edifícios. 2ª edição. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1989. 81 p.
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