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Trovadorismo e Humanismo
Faça a leitura com atenção e depois resolva os exercícios.
Movimentos literários
 A literatura – assim como as outras artes – está diretamente ligada às transformações históricas e ao estilo individual de cada escritor, que recria a realidade a partir de sua perspectiva ideológica e de suas escolhas pessoais. Para facilitar a compreensão da produção literária ao longo do tempo, é possível dividi-la cronologicamente nos chamados movimentos literários, que favorecem a percepção de rupturas e de continuidades no modo de conceber os textos. 
Esses períodos, também chamados de escolas literárias, seguem principalmente parâmetros europeus e, de certo modo, agregam textos que refletem o modo de vida das pessoas da época e as suas ideias sobre si mesmas e sobre o mundo. 
Entretanto, é importante ter consciência de que as fronteiras cronológicas que demarcam o início e o fim de cada movimento literário podem aproximar autores e obras bastante diferentes entre si. É o caso, por exemplo, de Álvares de Azevedo e Castro Alves, dois poetas do chamado Romantismo brasileiro. Embora ambos tenham escrito no mesmo período histórico, o século XIX, e seus textos sejam marcados por certo idealismo predominante na época, cada um possuía preocupações e maneiras de escrever muito particulares. 
Além disso, entre um movimento literário e outro há, geralmente, um período de transição, em que valores antigos e novos se misturam, dando origem a obras de difícil classificação. Por isso, devemos considerar que os movimentos literários são balizas cronológicas que funcionam para organizar a produção literária e o conhecimento produzido sobre ela, mas, por vezes, alguns autores podem se distanciar das elaborações estéticas predominantes em sua época, escrevendo de maneira especialmente original ou antecipando tendências artísticas, por exemplo. 
Para facilitar o estudo das literaturas escritas em português, que têm percursos e características próprias, esta coleção trilha dois caminhos simultâneos e complementares: o da abordagem histórica e o da abordagem comparativa. Isso significa que, além de serem apresentados autores e obras de maneira cronológica, acompanhando a história literária de cada país, também serão estudados textos em diálogo. 
Essa opção pelo comparatismo favorece a percepção de semelhanças e diferenças textuais e culturais e leva à compreensão das especificidades de cada produção literária nacional.
 Neste capítulo serão estudados o Trovadorismo e o Humanismo, dois movimentos literários que se desenvolveram durante a Idade Média e que constituem as origens da literatura portuguesa e o momento inaugural da tradição literária escrita em língua portuguesa.
 Hoje, oito séculos depois, essa tradição está multiplicada e diversificada em textos de autores espalhados por quatro continentes: Europa (Portugal), América (Brasil), África (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) e Ásia (Timor-Leste).
O Trovadorismo na História 
O Trovadorismo, que corresponde ao primeiro período da literatura medieval, é um movimento literário que se desenvolveu na Europa, a partir do século XII, e que compreende, principalmente, cantigas – poemas acompanhados de música – e novelas de cavalaria.
 Durante a Idade Média, a Igreja católica acumulou grandes territórios e seu poder cresceu muito, tornando-se até maior que o poder dos monarcas (soberanos vitalícios e, comumente, hereditários, de uma nação ou Estado). Por isso, a sociedade medieval era profundamente teocêntrica (centrada em Deus). Praticamente toda a cultura letrada ficou sob o domínio da Igreja, que, em seus mosteiros, conventos e igrejas, também se tornou responsável pela educação.
As cantigas trovadorescas
 O termo “trovadorismo” surgiu em consequência das atividades dos trovadores, ou seja, dos poetas que compunham textos para serem cantados e recitados pelos chamados jograis. O jogral interpretava a cantiga sempre acompanhado por músicos, também chamados de menestréis. Escritas pelos nobres, as cantigas possuíam fortes traços de oralidade e eram divulgadas pelos jograis e menestréis quando eles circulavam por aldeias, feiras e castelos. 
Em Portugal, o auge da produção das cantigas trovadorescas se deu entre 1250 e 1350. Elas estão registradas em três cancioneiros (coleções): o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Vaticana. Tradicionalmente, as cantigas são divididas em dois grandes tipos: as líricas e as satíricas. Cada um desses tipos, por sua vez, divide-se em outros dois. As cantigas líricas podem ser de amor ou de amigo, e as satíricas podem ser de escárnio ou de maldizer.
 Cantigas líricas Cantigas de amor O teocentrismo medieval apresenta-se, nas cantigas de amor, representado pela submissão do trovador a Deus e às damas. O princípio básico que orienta a composição desse tipo de cantiga é o código do amor cortês, que apresenta regras bem definidas sobre o comportamento de homens e mulheres.
 Assim, o tema central das cantigas de amor é o suposto sofrimento amoroso do trovador por uma mulher inatingível. Essa dama, muitas vezes referida como “mia senhor” (“minha senhora”), é um símbolo de superioridade, virtude e castidade, e possui um tipo físico característico: traços delicados, cabelos claros, pele alva, riso sutil.
 Em relação à sua amada, o trovador deve colocar-se de maneira servil, numa espécie de espelhamento das relações de dependência e submissão que organizavam a sociedade feudal. Nesse sentido, o cavaleiro apaixonado que canta seu amor não correspondido possui, assim como os vassalos, uma série de obrigações e deveres, como ser fiel e discreto. 
No universo convencional (pautado por regras e convenções) das cantigas de amor, o sofrimento do homem apaixonado chama-se coita de amor, e sua relação de submissão à mulher ideal é chamada de vassalagem amorosa.
A primeira cantiga escrita em galego (ou em galego-português) de que se tem notícia é intitulada “Cantiga da ribeirinha”, assinada por Paio Soares de Taveirós. É interessante perceber que esse texto inaugural da literatura portuguesa é uma exceção entre o conjunto das cantigas de amor. Isso porque o eu lírico fere uma das principais regras do amor cortês: ele se mostra indiscreto ao dizer que viu sua amada “em saias”, ou seja, sem o seu manto. Segundo os padrões morais da época, essa situação seria considerada imprópria.
Cantigas de amigo 
Assim como as cantigas de amor, as cantigas de amigo são pautadas por convenções e caracterizam-se por possuir um eu lírico feminino, isto é, por expressar a perspectiva da mulher sobre a relação amorosa. Isso significa que, embora fossem escritas por homens (na Idade Média, praticamente todas as mulheres eram analfabetas), os autores assumiam uma identidade feminina e falavam da experiência amorosa como se fossem mulheres.
 De modo geral, as cantigas de amigo são construídas em forma de diálogo, em que a moça apaixonada, de origem simples, dirige-se à mãe, às irmãs, às companheiras ou até à natureza para reclamar da ausência de seu amado (chamado de “amigo”). Essas situações dialogadas frequentemente acontecem num cenário campestre, que remete ao universo rural, bastante próximo da natureza: ao pé de fontes, à beira-mar, em um pinheiral ou bosque.
 É importante notar que as cantigas de amigo são bastante sonoras e têm muitas repetições, o que torna a linguagem dessas composições mais simples do que a das cantigas de amor. As rimas têm tanto a função de favorecer a coesão dos textos, ao promover a recorrência de determinados sons, como também a de favorecer a memorização. Pelo uso dos paralelismos e dos refrões, que provavelmente eram entoados por um coro, é possível perceber quanto esse tipo de texto estava ligado à música e à dança. 
Cantigas satíricas
 As cantigas satíricas tinham o objetivo de criticar determinadas pessoas que faziam parte do grupo social do trovador, ou que haviam ficado famosas na corte por atitudes consideradas socialmente transgressoras. Essas cantigas revelavamaspectos típicos da vida cortesã, como a bebedeira exagerada, a avareza de um senhor feudal ou o conflito entre um trovador e os jograis que tentavam igualar-se a ele. 
As modalidades de cantigas satíricas mais conhecidas são:
 • cantigas de escárnio – apresentam críticas sutis, geralmente por meio de frases ou palavras de duplo sentido, e não nomeiam a pessoa atingida; 
• cantigas de maldizer – apresentam uma crítica mais direta, um vocabulário mais grosseiro e individualizam a pessoa que é alvo da crítica feita pelo trovador.

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