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Ação de Exigir Contas - Novo CPC

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Izabela Portolan - FAG
Aulas c/c Curso de Direito Processual Civil - Vol. 02 - Humberto Theodoro Jr.
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AÇÃO DE EXIGIR CONTAS
- Contexto – O CPC/73 previa dois procedimentos especiais distintos, sob o rótulo de ação de prestação de contas, um para dar contas e outro para exigi-las. O novo CPC/2015, manteve apenas ação de exigir contas, regulada nos arts. 550 a 553.
- A administração de bens ou negócios alheios gera sempre, para o gestor, o dever de prestar contas. Assim, coexistem sempre as duas pretensões, a de exigir e a de dar contas. O que a nova lei fez foi submeter a procedimento especial apenas a pretensão de exigir contas. Portanto, a ação de dar contas será processada pelo procedimento comum.
1. Objetivos – o objetivo da ação é liquidar relacionamento jurídico existente entre as partes no seu aspecto econômico, de tal modo que, afinal, se determine, com exatidão, a existência ou não de um saldo, fixando, no caso positivo, o seu montante, com efeito de condenação judicial contra a parte que se qualifica como devedora. O montante fixado no saldo será conteúdo de título extrajudicial, nos termos do art. 552, CPC, de modo que poderá ser exigido nos próprios autos, segundo o procedimento de cumprimento de sentença (arts. 513 e ss.). Art. 552, CPC: “A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial”.
 - Segundo Rocco, seu principal objetivo é o de obter a condenação do pagamento da soma que resultar o débito de qualquer das partes no acerto das contas. A ação principal é a de acertamento de condenação quanto ao resultado final do relacionamento jurídico-patrimonial existente entre as partes, não importa qual delas saia credora. 
2. Natureza jurídica – ação especial de conhecimento com predominante função condenatória.
3. Hipóteses de cabimento – sempre que houver relação jurídica onde uma das partes fique com bens alheios sob guarda e administração. Qualquer contrato, enfim, que gere múltiplas e complexas operações de débito e crédito entre as partes reclama prestação de contas se não há constante e expresso reconhecimento dos lançamentos que um contratante faz à conta do outro.
4. Prazo prescricional – o prazo varia conforme a natureza da obrigação. O STJ estabelece uma tese, a qual não é unânime, no sentido de não prescrever dita ação no prazo geral do art. 205, CC, mas sim no prazo especial para o exercício da pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa, fixado em três anos pelo art. 206, §3º. Sempre que não há hipótese taxativa de prescrição, o prazo é de 10 anos. Art. 205, CC: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”; Art. 206, §3º, IV, CC: “Prescreve: §3º Em três anos: IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa”; Art. 27, CDC: “Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”; Art. 25-A, Estatuto da OAB: “Prescreve em cinco anos a ação de prestação de contas pelas quantias recebidas pelo advogado de seu cliente, ou de terceiros por conta dele”.
5. Prestação de contas dos administradores judiciais – de acordo com o art. 553, CPC, as contas devidas pelos administradores judiciais (inventariante, tutor, curador, depositário, etc), devem ser prestadas em apenso ao processo em que tiver ocorrido a nomeação. Art. 553, CPC: “As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado”.
 5.1. Punições – quanto ao aspecto sancionatório, estatui a norma legal que, julgadas as contas, com a condenação do administrador a pagar o saldo e, não sendo cumprida a sentença no prazo legal, sujeitar-se-á a: I – destituição do cargo; II – sequestro de bens sob sua guarda; III – glosa do prêmio ou gratificação a que teria direito; IV – outras medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo. Art. 553, CPC, parágrafo único: “Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo”.
6. Sociedade e prestação de contas – para admissibilidade da ação de prestação de contas é, em tema de sociedade, indiferente a situação de regularidade ou irregularidade da instituição da sociedade. Ações entre sócios, nas sociedades irregulares, são admitidas para que eles se demandem reciprocamente pela restituição dos bens que entraram para a sociedade, pela partilha dos lucros havidos em comum e pela prestação de contas. Faz-se necessário aprovação por assembleia ou subscrição dos balanços e documentos contábeis, que implicam em acertamento de contas. 
7. Ações matrimoniais – não é possível durante a relação matrimonial a prestação de contas. Se houver lapso entre o fim da relação e a partilha de bens, torna-se possível. Não é possível demonstrar a existência de autorização ou mandato entre os ex-cônjuges em torno da administração do patrimônio comum para justificar o pleito judicial de acerto de contas. Para o STJ, desde a separação de fato, o cônjuge que retiver todo o patrimônio comum do casal, se sujeitará a prestar contas, como acontece com qualquer gestor e bens alheios, evitando-se, com isso, prejuízos ao outro consorte na futura partilha. 
8. Organização das contas – as contas, tanto prestadas pelo autor (art. 551, §2º) como pelo réu (art. 551, caput), devem ser apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver. O detalhamento consiste em organizar as diversas parcelas que as compõem em colunas distintas para débito e crédito, fazendo-se todo o lançamento por meio de histórico que indique, quantifique e esclareça a origem de todos os recebimentos e o destino de todos os pagamentos. Outro dado importante é a sequência cronológica dos dados lançados. Art. 551, §2º, CPC: “As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver. § 2o As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5o, serão apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo”.
 - Esse demonstrativo tanto pode ser elaborado em documento à parte como pode ser incluído no próprio corpo da petição do interessado. Pode o juiz determinar o saneamento caso as contas não sejam prestadas como o determinado. 
 8.1. Prova das contas – dispõe a lei que as contas devem ser instruídas com os documentos justificativos, (art. 551, §2º, CPC). Não é empecilho à apresentação das contas a inexistência de prova documental para uma, algumas ou todas as parcelas arroladas. Outros meios probatórios podem existir ao alcance da parte, e o próprio Código, refere-se, por exemplo, à possibilidade de perícia contábil, art. 550, §6º, CPC: “Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias. § 6o Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário”. O que importa é que as parcelas, se não determinadas, sejam pelo menos determináveis no curso de instrução probatória. Impugnada alguma parcela por falta ou deficiência de prova a solução será encontrada, ao longo do processo, segundo as regras gerais do ônus da prova (art. 373, CPC) e não pela sujeição do prestador de contas, ao rigor inflexível de um sistema legal de prova obrigatória que não transija com outro elemento de convicção que o
documental. (as contas foram apresentadas, mas o autor contesta que está divergente, abre-se prazo para provar (art. 551, §1º)). 
 - Um caso em que as cotas quase nunca poderão ser acompanhadas de completa prova documental é aquele em que, por inércia do réu, a elaboração delas se transfere para o autor. 
9. Procedimento da 1ª fase
 9.1. Petição inicial – o autor deverá especificar detalhadamente, na petição inicial, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-as com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem (Art. 550, §1º). Não se tolerará ajuizamento desse tipo de ação sem que o autor demonstre na inicial a existência efetiva de relação jurídica material entre as partes, capaz de justificar a pretensão de exigir contas, de modo, ainda, a delimitar no tempo o objeto da certificação postulada. Deferida a inicial, realiza-se a citação do réu, assinando-lhe o prazo de 15 dias para que: apresente as contas ou conteste a ação (art. 550, caput, CPC: “Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias”.)
 9.2. Resposta do réu
 9.2.1. Apresentar contas – se o réu atende à citação mediante exibição das contas reclamadas pelo autor, opera-se o reconhecimento do pedido, provocando o desaparecimento da lide quanto à questão que deveria ser solucionada na primeira fase do procedimento. Facultar-se-á, então, ao autor manifestar sobre as contas em quinze dias, aceitando-as ou impugnando-as. Ocorrendo a aceitação expressa ou tácita (deduzida da falta de impugnação), o processo será logo encerrado por sentença que aprovará as contas do réu (art. 355, I, CPC: “O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas”). Se houver impugnação, deverá ela ser fundamentada e específica. 
 9.2.2. Apresentação das contas e contestação – prestando as contas em juízo, lícito será ao réu contestar a ação para demonstrar a injustiça da atitude ao autor na recusa pré-processual das parcelas elaboradas e, em consequência, pleitear a aprovação de suas contas e a sujeição do demandante aos encargos da sucumbência, o que será possível independentemente de reconvenção, já que a ação tem caráter dúplice por sua própria natureza. 
 9.2.3. Revelia – o juiz encontra-se impossibilitado de julgar a lide antecipadamente, se a contestação e apresentação de contas pelo réu estiverem ausentes, independentemente de prova dos fatos alegados pelo autor, que, no caso, se presumem verdadeiros (arts. 355 e 550, §4º). A decisão da primeira fase será, então, para impor ao réu revel a condenação de prestar as contas reclamadas na inicial, no prazo de 15 dias, sob pena de autorizar-se o próprio autor a elaborá-las, sem que o condenado as possa impugnar (art 550, §5º, CPC). Trata-se de decisão interlocutória e, não de sentença, embora o conteúdo seja de mérito (reconhecimento do dever de prestar contas). Mesmo não se defendendo o réu, o juiz pode extinguir o processo sem apreciação do mérito, se ausentes pressupostos processuais ou condições da ação. Pode até mesmo julgar improcedente o pedido se os fundamentos da inicial e os elementos trazidos aos autos por ela não evidenciarem a existência da pretensão substancial às contas exigidas do demandado. Não quer dizer que o autor ganhou a causa apenas devido a revelia!
 9.2.4. Contestação sem negar a obrigação de prestar contas – se o réu contesta apenas por questões preliminares, ao rejeitá-las, o juiz desde logo condená-lo-á a apresentar as contas, na forma e sob as cominações do art. 550, §§4º e 5º. Tudo se fará de imediato, em julgamento antecipado da lide, sem dependência de instrução e debate em audiência (art. 355, CPC). 
 9.2.5. Contestação com negativa do dever de prestar contas – contestado o pedido com a negativa da existência de obrigação de apresentar contas, a primeira fase da ação deve assumir o rito comum, diante da regra geral do art. 318, CPC. 
Apenas a exibição de contas pelo réu, no prazo de resposta, sem contestação, mantém o rito especial. Todas as demais atitudes, levam a primeira fase à observância do procedimento comum. 
 9.3. Decisão da 1ª fase – quando se acolhe o pedido de contas, o juiz não mais profere uma sentença, mas uma decisão interlocutória. O recurso contra este será o agravo de instrumento. O recurso manejável, porém, não acarretará paralisação do processo em primeiro grau, nem sequer será processado nos autos da causa, mas em autuação apartada, formada diretamente no tribunal ad quem. 
 - Natureza interlocutória – se deferir: art. 550, §5º, CPC, agravável: art. 1.015, II, CPC; se indeferir: art. 1.012, CPC. A natureza muda conforme deferimento e indeferimento. 
10. Procedimento 2ª fase – se o pedido é rejeitado, o processo se encerra e não há que se cogitar de qualquer outra fase; tem força condenatória, impondo ao réu a obrigação de formular e apresentar as contas devidas ao autor, que deverá fazê-lo no prazo de 15 dias (art. 550, §5º, CPC). O caso é, pois, de condenação a uma obrigação de fazer. A aprovação das contas não será automática pelo juiz, a quem cabe determinar a realização de perícias, caso não encontre nas contas do autor fundamentação suficiente (art. 550, §6º, CPC). Antes de passar a faculdade para o autor, tem o réu duas oportunidades para cumprir sua obrigação de apresentar as contas devidas: nos quinze dias que se seguem à citação e nos quinze dias após sua decisão condenatória. 
 - Apresentadas as contas pelo réu em qualquer das duas oportunidades, segue-se um mesmo procedimento: a) abre-se o prazo de 15 dias ao autor para impugná-las (art. 550, §2º, CPC). b) não havendo impugnação, seguir-se-á, de plano, a sentença de aprovação das contas e fixação do saldo; c) havendo impugnação, caberá ao juiz fixar um prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados. Caso haja necessidade, poderá o juiz determinar a realização de exame pericial; d) a sentença é condenatória quanto ao saldo fixado e, em virtude do caráter dúplice da ação, poderá voltar-se tanto contra o réu como contra o autor; e) o recurso cabível é a apelação, com efeito suspensivo (art. 1.012, CPC). 
 - Havendo, porém, interposição de agravo com obtenção de efeito suspensivo (art. 1.019, I, CPC), o prazo de prestar contas ficará sustado e só voltará a fluir do trânsito em julgado do acórdão que negar provimento ao recurso. 
 10.1. Não apresentação de contas pelo réu – a inércia do réu no cumprimento da condenação transfere para o autor a faculdade de elaborar, em quinze dias, as contas devidas pelo primeiro (art. 550, §6º, CPC). Além disso, a lei impõe a interdição do direito de impugnar as contas do autor. 
 10.2. Sentença – a sentença final deverá, segundo o art. 552, CPC, declarar o saldo das contas deduzidas em juízo. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial. Não importa de quem tenha partido a iniciativa do processo: a sentença gerará título executivo pelo saldo apurado contra qualquer dos litigantes que venha a se colocar na posição final de devedor. 
11. Sucumbência – a primeira fase encerra-se, de ordinário, por mera decisão interlocutória, o que afasta o cabimento de verbas sucumbenciais. Assim, o problema de ressarcimento de gastos processuais, inclusive honorários de advogados da parte vencedora, só virá a ser enfrentado na sentença pronunciada ao termo da segunda fase. Art. 523, CPC – 15 dias para o pagamento, §1º se inadimplir, mais 10% de multa de 10% de honorários.

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