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Disseccao Raias

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA 
ZOOLOGIA DE CORDADOS 
Relatório de Dissecção de Gymnura altavela (Linnaeus, 1758) - Grupo B
Sabrina Behar Jorge
Bacharelado em Ciências Biológicas
Matrícula: 20161110006
DISSECÇÃO
Rio de Janeiro, 2 de Setembro de 2018
Chondrichthyes
1.Introdução
	Conhecimentos anatômicos são identificados antes de períodos pré-históricos (TALAMONI, 2014). Singer (1958) tráz como exemplo, um elefante com uma marca na área do seu coração. Também, desenhos cravados na caverna de Mas d’Azil, em 1500 a.C (Mioicos) já exibiam técnicas de disseção descritiva a partir do cortorno de músculos da cabeça de um cavalo (SINGER, 1958). No Egito o estudo anatômico era muitas vezes relacionados a símbolos culturais (Idem). A anatomia num sentido científico tradicional iniciou mais ou menos na Grécia Antiga (que contava com a aquisição de conhecimento através de relações entre outros povos) e com ela, seus métodos, aplicações e nomenclaturas (Idem). Fragmentos de Alcmaeon de Croton (± 500 a.C.) já tem representados nervos ópticos de animais dissecados. Aristóteles (384-322 a.C.) é responsável por descrições anatômicas ilustradas e é a ele atribuída a criação da Anatomia Humana e Animal Comparadas (SINGER, 1958; TALAMONI, 2014). Ao longo do tempo, foram aprimorados conhecimentos das estruturas orgânicas junto às técnicas de dissecção. Com isso, puderam ser conhecidos novos formatos das mesmas estruturas ou novos órgãos e funções. Ainda hoje, a dissecção é tida como uma excelente forma de análise morfo-fisiológica de organismos e processos neles existentes, importante, inclusive, para fins de fixação através de vivência do conteúdo aprendido apenas teoricamente.
	De acordo com os autores subsequentes, a espécie dissecada, Gymnura altavela (Linnaeus, 1758) encontra-se dentro da classificação filogenética disposta a seguir:
Filo Chordata (IUCN, 2018)
	Cordados são caracterizados por conter cavidade corporal interna repleta de líquido celomático. São ramificação dos Bilateria, determinados por simetria bilateral, linhagem dos Deuterostômios devido à características embriológicas (KARDONG, 2016). Nesses, a clivagem é radial e a boca surge secundariamente, após a formação do ânus a partir do blastóporo. Os principais grupos de cordados compartilham ao menos cinco aspectos ainda que só presentes no período embrionário. Esses são: notocorda, fendas faríngeas, endóstilo ou glândula tireoide, cordão nervoso dorsal oco e cauda pós-anal (KARDONG, 2016). Aos poucos, os cordados passaram a depender da faringe muscular para alimentação, o que caracterizaria o grupo dos primeiros Vertebrados.
Subfilo Vertebrata (Craniata) (KARDONG, 2016)
	De acordo com Kardong (2016), a tendência inicial na evolução dos vertebrados foi desenvolver mecanismos ciliares e musculares para movimentação das correntes para a alimentação. Desse modo, a predação ativa caracterizou a evolução dos vertebrados. Essa bomba muscular faríngea também satisfez as demandas energéticas, já que permitiram especialização das brânquias, bolsas faríngeas musculares enquanto órgãos respiratórios pregueados complexos com redes integradas de capilares (KARDONG, 2016). Desse modo, os primeiros vertebrados, aptos para busca ativa de atimentos e agilidade como estratégia de defesa, com sistema nervoso cefalizado e órgãos sensoriais principalmente encontrados na região cefálica (Idem).
Superclasse Gnathostomata (BENEDICTO, 2016; KARDONG, 2016)
	O desenvolvimento de maxilas nos peixes ancestrais, derivados de um par anterior de arcos faríngeos, foram mecanismos importantes para diversidade e irradiação de vertebrados. As maxilas deram aos indivídios viventes a habilidade de selecionar e capturar presas específicas. (KARDONG, 2016).
	Maxilas permitiam também aos indivíduos agarrarem, morderem ou esmagarem suas presa (Idem). Desse modo, peixes que apresentavam maxilas poderiam capturar e processar alimentos maiores (Ibid.), ocupando novos nichos.
	Atualmente, Gnathostomata inclui quase todas as espécies conhecidas de craniados. O grupo é suportado por três sinapomorfias (BENEDICTO, 2016): 1.presença das maxilas as maxilas divididas em uma porção dorsal e outra ventral; 2.apêndices pares representados pelas nadadeiras peitorais e pélvicas e suas respectivas cinturas; 3. terceiro canal semicircular no ouvido interno, alinhado horizontalmente em relação aos outros dois, já presentes em grupos de cordados primitivos.
	Gnatostomados evoluíram em duas linhas principais: Chondrichthyes (peixes secundariamente cartilaginosos) e Teleostomi (outros vertebrados) (KARDONG, 2016).
Classe Chondrichthyes (IUCN, 2018)
	Os membros desse grupo têm esqueletos compostos predominantemente por cartilagem impregnada de cálcio (KARDONG, 2016). São representados por 1.200 espécies, incluindo tubarões, raias e quimeras num grupo monofilético. Sua cartilagem é apomórfica e denominada cartilagem prismática calcificada (BENEDICTO, 2016). O esqueleto dérmico presente nos craniados basais é modificado em Chondrichthyes em placas diminutas semelhantes a dentes, chamadas de escamas placoides ou dentículos dérmicos (BENEDICTO, 2016; KARDONG, 2016) que revestem a maior parte do tegumento dos tubarões e das raias (BENEDICTO, 2016). A terceira sinapomorfia que sustenta esse grupo é a modificação de alguns raios das nadadeiras pélvicas (dos machos) em um órgão copulador, tornando a fecundação sempre interna (Idem). Por esse motivo, associado a baixa fecundidade e maturação sexual tardia, as populações de Chondrichthyes são relativamente restritas se
comparadas às dos peixes teleósteos (Ibid.).
	Os condrictes recentes consistem em duas principais linhas evolutivas: os tubarões e as raias (elasmobrânquios) e as quimeras (holocéfalos) (KARDONG, 2016). As espécies recentes apresentam coluna vertebral composta principalmente por cartilagem, primeira fenda branquial reduzida, podendo permanecer “aberta como uma fenda pequena e arredondada denominada espiráculo”, caso especial de Elasmobranchii (Idem).
Subclasse Elasmobranchii (IUCN, 2018)
	A evolução dos Chondrichthyes está relacionada a maiores especializações nos sistemas de alimentação e locomoção. Os representantes da radiação contemporânea de elasmobrânquios englobam os tubarões e raias viventes (POUGH et al, 2008). Os elasmobrânquios viventes apresentam características esqueléticas ausentes nas primeiras radiações (Idem). A maioria dos membros apresenta o rostro sobressaindo à boca, ventral. Além disso, desenvolveram vértebras, sólidas e calcificadas com porções de notocorda e material semelhante ao esmalte recobrindo os dentes (KARDONG, 2016)
	De acordo com Benedicto (2016) Compagno, em 1977, definiu um grupo de elasmobrânquios modernos, denominado de Neoselachii (BENEDICTO, 2016) a partir dos caracteres: 1.fusão das metades da cintura pélvica; 2.fusão das metades da cintura peitoral; 3.existência de um a três segmentos cartilaginosos entre o clásper e a cartilagem basal da nadadeira pélvica.
Infraclasse Neoselachii (BENEDICTO, 2016)
	Os Neoselachii incluem duas linhagens irmãs: Galea e Squalea. Os Galea incluem os tubarões
Heterodontiformes, Orectolobiformes, Lamniformes e Carcharhiniformes. Os Squalea incluem os tubarões Hexanchiformes, Squaliformes, Squatiniformes (cações-anjo), Pristiophoriformes (tubarões-serra) e as raias, ordem Batoidea (BENEDICTO, 2016).
Ordem Batoidea (ou Rajiformes) (IUCN, 2018; BENEDICTO, 2016)
	Os Elasmobranchii viventes de fendas branquiais na superfície ventral do corpo (raias) possuem aproximadamente 456 espécies reconhecidas (POUGH et al, 2008) e olhos na superfície dorsal (KARDONG, 2016). Suas especializações estão relacionadas à extrema adaptação a hábitos bentônicos e durofágicos (POUGH et al, 2008; BENEDICTO, 2016). Possuem placas dentígeras formadas por dentes de coroas achatadas (Ibid). Sua rápida protração oral cria sucção, aumentando a eficiência de obtenção de alimentos (POUGH et al, 2008). Suas nadadeiras peitorais, expandidas lateralmentee fusionadas com a cabeça, resultam no achatamento dorsoventral do corpo, de forma discóide (BENEDICTO, 2016; KARDONG, 2016; POUGH et al, 2008).
	O achatamento dorsoventral de seus corpos possibilita muitas espécies de enterrarem-se, camuflando-se bem no substrato (BENEDICTO, 2016; KARDONG, 2016). Além disso, a expansão lateral do rostro permitem uma ampla área de distribuição das ampolas de Lorenzini (POUGH et al, 2008). Suas caudas costumam ser reduzidas e sua propulsão se dá principalmente pelo batimento das nadadeiras (KARDONG, 2016). Possuem espiráculo circular dorsal, situado atrás dos olhos (Idem). Algumas retomaram secundariamente o habito pelágico. É comum que possuam estruturas macroscópicas derivadas dos dentículos dérmicos em suas superfície, tais quais espinhos caudais, ferrões e tubérculos (BENEDICTO, 2016).
	De acordo com GOMES et al (2010) as espécies de raias podem ainda ser subdivididas em ainda mais um nível de Ordem, abaixo de Batoidea, relacionadas à características morfológicas gerais. As espécies de Gymnura se encontram, aqui, representadas dentro do grupo Myliobatiformes devido à presença de disco largo, nunca redondo ou oval, nadadeiras peitorais bem expandidas lateralmente, ausência de órgãos elétricos, focinho não prolongado, sem forma de serra e cauda afilada, em forma de chicote, com ferrão. Seguindo a chave de identificação subsequente, a família Gymnuridae é representada pela ausência de nadadeira dorsal sobre a cauda e largura do disco corporal muito maior do que o comprimento do corpo (GOMES et al, 2010).
Familia Gymnuridae (IUCN, 2018; GOMES et al, 2010)
	As raias dessa família são conhecidas como raias-borboleta. Gymnura tem origem no termo grego gymnos que significa “nua” associado ao termo oura que indica cauda (FISHBASE 2018 Apud Romero 2002). São cosmopolitas em águas tropicais e temperadas, normalmente se encontram associada a substratos arenosos ou lamosos (GOMES, et al, 2010), marinhas ou de regiões estuarinas e costeiras, podem ser capturadas por rede de arrasto (Idem). Seu habitat preferencial lhes dá vulnerabilidade em relação à pescarias costeiras (YOKOTA & CARVALHO, 2017). Sua distribuição global em três regiões: Índico e Indo-Pacífico, Pacífico Leste e Atlântico (incluindo o Mar Mediterrâneo) (Idem). São facilmente distinguíveis de outros batoideos com corpos bem achatados de cauda delgada e reduzida (GOMES et al, 2010; YOKOTA & CARVALHO, 2017). Suas nadadeiras peitorais são contínuas às laterais cefálicasnão formando projeções ou lobos carnosos (GOMES, et al, 2010). Seus espiráculos localizados unidos aos olhos, no topo da cabeça, podem apresentar tentáculos (GOMES, et al, 2010). Possuem dentes pequenos com uma única cúspide e não apresentam nadadeiras dorsais ou caudais (GOMES et al, 2010). A maioria das espécies tem pele lisa (Idem). Alguns espécimes podem apresentar tubérculos em número variável (Ibid.). A família é representada por dois gêneros que possuem entre 10 e 13 espécies válidas(25 espécies nominais disponíveis) (YOKOTA & CARVALHO, 2017).
	Gymnura altavela (Linnaeus, 1758) é uma espécie de distribuição geográfica do Atlântico Ocidental, englobando Inglaterra, EUA Brazil (ROBINS & RAY, 1986) à Argentina (MENNI & LUCIFORA, 2007.), além do Atlântico Oriental, de Portugal a Ambriz, Angola (incluindo o Mar Mediterrâneo e Ilhas Canárias) (FISHBASE, 2018). É frequentemente relatada nas áreas quentes oceânicas, normalmente marginais (CAPAPÉ, 1981). É assim, espécie subtropical, de latitude entre 47°N - 39°S, 98°W – 42°E (IUCN, 2018) de 5 a 100 metros de profundidade (BRITO, 1991). As capturas destes espécimes são relativamente raras (CAPAPE, 1981). A sistemática de G. altavela é bastante estudada, principalmente no que diz respeito a morfologia e caracteres diagnósticos tais quais dentes (Idem), havendo pouco trabalho sobre as sutilezas de sua osteologia (Ibid.). Pode haver diferenças entre caracteres morfológicos entre populações de áreas diferentes (Ibid.). Seu tamanho máximo costuma ser de 400 cm (STEHMANN, M., 1981) e seu tamanho comum é de 200 cm (STEHMANN, M., 1981). O maior peso já publicado é de 60.0 kg (FISHBASE, 2018 apud International Game Fish Association, 1991).
	Apresenta cauda curta com ferrão, disco amplo e nadadeiras dorsais e ventrais curtas (ROBINS & RAY, 1986). Sua coloração dorsal varia entre marrom escuro a acincenzado, enquanto a superfície ventral costuma ser branco, rosé ou bege (BIGELOW & SCHROEDER, 1953). Apresenta ovoviviparidade (também conhecida como viviparidade aplacentária). Tardiamente, seus embriões recebem nutrição adicional absorvendo indiretamente, por estruturas especializadas, fluidos intrauterinos enriquecidos com muco, gorduras, proteínas. São dióicos e a cópula é antecedida de um abraço (BREDER & ROSEN, 1966). Fishbase (2018) afirma que essa espécie é usada para fins comerciais e é uma espécie vulnerável e inofensiva mesmo apresentando ferrão.
Materiais e Métodos
Para dissecção do espécime foram utilizados: a.Uma Bandeja grande; b.Uma Bandeja pequena, c.Tesoura cirúrgica reta; d. Duas Pinças cirúrgicas grandes; e.Um espécime de G. altavela; g.Régua de 30 cm; h.Luvas nitrílicas; i.Água para lavagem dos órgãos.
	O espécime foi adquirido a partir de pescadores na Praia de Copacabana. O animal fresco foi disposto na bandeja grande com o dorso voltado para cima. A raia foi manuseada pela professora responsável pela disciplina a fim de apontar e descrever as estruturas morfológicas externas dorsais e ventrais. Em seguida, o espécime foi manuseado para medição com a régua em sentido longitudinal e transversal. Em seguida, posicionando o indivíduo com o ventre voltado para cima, foi realizado um corte com a tesoura grande a partir da cloaca, na região da cintura pélvica até a cintura escapulacróide. A pele da área foi segurada com a pinça enquanto eram realizados cortes transversais com a tesoura em cada extremidade do corte longitudinal a fim de amplificar a região aberta. Foi medido com a régua o tamanho do fígado.
	As brânquias, expostas, foram identificadas e contadas. Com a região peritoneal aberta, o fígado foi retirado e então, foram recortados (com a tesoura e auxílio da pinça) os tecidos peritoneais que recobrem os órgãos, a fim de expô-los. O tubo digestivo foi extraído, lavado e posicionado linearmente na bandeja menor. Após a separação, alguns órgãos foram abertos com o uso da tesoura reta em conjunto com a pinça para compreensão de seus conteúdos. Com a retirada dos órgãos digestivos, as estruturas mais dorsais puderam ser observadas apenas por manuseio de tecido com as pinças, como gônadas, rins e esqueleto axial. Esses não foram retirados a fim de preservar o máximo possível do espécime, para que pudesse ser posteriormente fixado e adicionado a coleção. Para tanto, o espécime dissecado foi comparado com um espécime (maior do que a G. altavela) de Dasyatis hypostigma da dissecção do grupo antecedente, disposta sobre uma bandeja grande e os órgãos em uma bandeja pequena. Suas estruturas foram manipuladas com auxílio de mão e pinça.
Resultados e Discussão
	Em vista dorsal, o espécime estudado possuía 27,5 cm de comprimento total do eixo principal (incluindo a cauda de 7 cm) e 45 cm de envergadura, contado a partir das extremidades das nadadeiras peitorais. Desse modo, sua cauda curta em relação ao comprimento axial do corpo. Sabendo que o tamanho comum de adultos dessas espécies é de 200 cm (STEHMANN, 1981) e ±2m de largura (GOMES et al, 2010), enquanto de de neonatos entre de 25 a 30cm de largura (Idem) trata-se de uma espécie filhote. Não apresenta nadadeiras ímpares desenvolvidas (dorsais ou ventrais) ou clásperes associado ao par de nadadeiras pélvicas. O clásper, quando presente, é duplo e tem seu canal mantido pela estrutura cartilaginosa e rígida das nadadeiras. A Figura 1 possui um desenho esquemático da espécie.
Figura 1: Desenho esquemático de G.altavela em vista dorsal.
Modificado de: SERET, B ; IRD & MNHN (2006)
Sua envergadura maior que a altura; presença de 1 ou mais ferrõesserrilhados na cauda; e tentáculo na margem posterior do espiráculo corrobora a classificação de acordo com Gomes et al, 2010 como Gymnura altavela, diferenciada de outras famílias e da única outra espécie do mesmo gênero das águas brasileiras. Seu ferrão possui 2,2 cm e se apresenta disposto em linha longitudinal com a cauda. E em vista ventral, possui 22 cm da ponta do focinho a cloaca.
	Sua coloração dorsal é castanha com pequenas manchas mais escuras dispostas irregularmente, ratificando as análises de Gomes et al (2010) e apresenta ventre bege claro. Isso parece ser caráter convergente em inúmeros espécimes marinhos de médio a grande porte em função de não refletir a luminosidade solar quando vista dorsalmente na água e também não contrastar com essa mesma luminosidade quando vista de baixo, se camuflando melhor no meio (RUPPERT, et al, 2005). Seu corpo apresenta muco produzido por poros não aparentes na pele e pele lisa sem dentículos dérmicos aparentes com o toque, o que configura espécimes dessa família (YOKOTA & CARVALHO, 2017). No entanto, não foi observada a epiderme no microscópio ou lupa para corroborar ou não esse dado. O muco também parece ser responsável por produção de pressão (como ventosa) em contato com o substrato, dificultando sua retirada do meio por pesca tradicional.
	O espécime apresenta raios que indicam o sistema de linha lateral ventral e dorsal, tal qual identificados por Ragno (2013). A fim de ilustração, selecionamos o esquema ilustrado por Maruska (2001) de Gymnura micrura (Figura 2) representando o padrão de distribuição do sistema de linha lateral, provavelmente similar por pertencer ao mesmo gênero do nosso espécime.
Figura 2: Sistemas de linha lateral dosal e ventral de Gymnura micrura, respectivamente
 
Extraído de MARUSKA (2001).
Devido aos hábitos bentônicos da espécie, o espiráculo é o principal responsável pela entrada e saída de água para as brânquias, com função de respiração. O espiráculo do espécime apresenta flaps, posteriores, permitindo abertura e fechamento desses, o que lhes possibilita um maior período de sobrevida após a retirada da água. Ainda, de acordo com Barry & Boord (1984), o espiráculo apresenta funções mecanorreceptoras, o que justifica a presença do tentáculo espiracular observado. As ampolas de lorenzini, principalmente localizadas nas margens do tronco e das nadadeiras peitorais e focinho, foram identificadas ao pressionar os tecidos da raia como poros por onde saiam quantidades visíveis de muco gelatinoso.
	De acordo com Benedicto, 2016, na maioria das raias a locomoção é feita por movimentos ondulatórios das nadadeiras peitorais, fusionadas à cabeça no esquema representado pela Figura 6. A Figura 3 apresenta um espécime in natura com suas nadadeiras em movimentos. As ceratotríquias, extremamente articulada, apresentavam inúmeros raios, visíveis principalmente em vista ventral. Também, em espécimes adultas, é nas nadadeiras peitorais são as principais origens de fonte alimentar humana, com maior concentração de músculos.
Figura 3: G.altavela in natura
Fonte: Carmelo Lopes
Observado em 14 de set de 2016; Santa Cruz de Tenerife, ES-CN, ES
Disponível em: https://www.inaturalist.org/observations/4422965
Contrapondo o ventre homogeneamente claro, o espécime apresentava hemorragia nas partes mais externas das ceratotríquias, que se apresentavam avermelhadas, tal qual a Figura 4. Pela ausência de clásper, o espécime se tratava de uma fêmea.
	Como apresentada na Figura 4, o espécime foi aberto em sentido postero-anterior a partir da cloaca até a região da cintura escapular, expondo o abdome recoberto ventralmente pelo fígado, enorme. O figado, de 9 cm de comprimento e 7 cm de largura foi retirado. Esse tamanho é principalmente grande se comparado com os 7,5 cm comprimento de cavidade abdominal. O fígado desenvolvido é importante para os Chondrichthyes, já que, na ausência de órgãos que acumulem ar em seu interior, auxilia na flutuação com o acúmulo de óleos (BENEDICTO, 2016). O órgão se encontra normalmente bilobado, sendo 1 dos lobos ainda subdividido (não visível no espécime analisado). Aqui, a vesícula biliar é incrustada no fígado em vez de uma pequena esfera apendicular, tal observada em outros vertebrados. A bile é produzida pelo fígado e armazenada pela vesícula, responsável pela hidrólise da gordura no processo digestivo (Idem). Retirando o fígado, foi possível identificar baço e pâncreas associados à membrana peritoneal. Mais internamente, foi identificado o estõmago em forma de “J”, clássico em elasmobrânquios. Esse pode ser dividido nas porções cardíaca e pilórica e é ligado anteriormente ao esôfago e posteriormente ao intestino (Ibid.). Desse modo, o estômago foi retirado do espécime em conjunto com o esôfago, esbranquiçado. Com a abertura do órgão, foram identificadas vilosidades próprias do grupo. Foi encontrada uma esfera rígida e branca no material estomacal, junto a areia. A espécie é conhecida por se alimentar de peixes, crustáceos, moluscos e plâncton (FISHBASE, 2018). Desse modo, a esfera pode representar conchas ou material ósseo, incluindo otólito.
Figura 4: Hemorragia nas Nadadeiras 			Figura 5: Visceras após a retirada do
e Início do Processo de Dissecção				Sistema digestório 
	 	
JORGE, BS (2018)						JORGE,BS(2018)
									
	A seguir, retirando e abrindo o intestino, foram identificadas as pregas características que correspondem à válvula espiral. Como trata Benedicto (2016), essa válvula nos Chondrichthyes proporciona aumento da superfície de digestão e absorção alimentar, aumentando a permanência do alimento no trato digestório. Isso afeta a taxa de consumo desse grupo, que é geralmente baixa, limitando por sua vez, as taxas de crescimento e a reprodução (Idem). 
	A Figura 5 apresenta o interior das vísceras sem o sistema digestório. Em posição mais dorsal, é visível a musculatura, ligamentos e gônadas laterais. Gomes (2010) aponta que o tamanho médio de maturidade sexual já é estudado para machos (±80 cm) embora o de fêmeas ainda não seja claro. Ao retirar suas gônadas, percebemos a visível imaturidade sexual por se encontrarem diminutas. A espécie é conhecida por ser ovovivípara de gestação de 6 meses e 4 a 7 embriões produzidos por gestação (FISHBASE, 2018). Seus rins compridos, se encontram pareados dentro da coluna vertebral. Chondrichthyes excretam ureia e possuem uma glândula retal próxima ao término do intestino, responsável pela homeostase. Algumas espécies podem tolerar longos períodos em água doce (BENEDICTO, 2016).
Seu coração muscular, na região subinterbranquial, como mostrado na Figura 6, possui ventrículo aurícula, cone arterial e artérias branquiais aferentes e eferentes (esquerda e direita) (KOBELKOWSY, 2012) . Dorsalmente, as artérias eferentes saem das brânquias com sangue oxigenado em direção ao restante do corpo.
Figura 6: Posição do Coração, Brânquias, Bases das Nadadeiras e Fígado de Dasyatis sabina
	
Extraído de KOBELKOWSY (2012)
	D. hypostigma também é uma raia da ordem Myliobatiformes. O espécime já era adulto e sexualmente maduro com gônadas desenvolvidas. Seu ferrão maior possuía 7 cm, seguido por um ferrão menor em desenvolvimento. Sua narina possui flaps responsáveis pelo direcionamento de água, permitindo que os fluxos de entrada e saída de água se misturem o mínimo possível para maior eficiência olfativa. Seus dentes são mais ásperos ao toque, projetados na região oral. Nesse espécime foi visualizado os 5 pares de brânquias. Cada brânquia, formada por duas hemibrânquias, separadas por um tabique central cartilaginoso, está associadas a filamentos e uma fenda branquial própria. A estrutura de suporte, associada aos arcos branquiais cartilaginosos, é responsável por manter as brânquias rígidas, proporcionando a otimização da passagem de água e aproveitamento do oxigênio dissolvido. O espécime foi então levantado a partir da cintura escapulacróide, e com isso, pudemos observar a firmeza e resistência da estrutura, já que, de acordo com Benedicto(2016), é firmemente unida à coluna vertebral nas raias, ao contrário da cintura pélvica.
Referências
1. BARRY, M & BOORD, R. (1984). The spiracular organ of sharks and skates: anatomical evidence indicating a mechanoreceptive role. Science, 226(4677), 990–992. 
2. BENEDITO, E. (2015) Biologia e ecologia dos vertebrados. Grupo Gen-EDa Roca Ltda. PAGINAS
3. BIGELOW, HB & SCHROEDER, WC. (1953). Sawfishes, guitarfishes, skates and rays. In J. Tee-Van et al. (eds.) Fishes of the western North Atlantic. Pt. 2. New Haven, Sears Found. Mar. Res., Yale Univ. p. 1-514.
4. BREDER, CM & ROSEN, DE. (1966). Modes of reproduction in fishes. T.F.H. Publications, Neptune City, New Jersey. 941 p.
5. BRITO, A. (1991). Catalogo de los pesces de las Islas Canarias. Francisco Lemus, la Laguna. 230 p.
6. CAPAPÉ, C. (1981). Nouvelle description de Gymnura altavela (Linnaeus, 1758)(Pisces, Rajiformes, Gymnuridae). Bulletin de l’Institut National Scientifique et Technique d’Oceanographie et de Pêche Salambô, 8, 59-68.
7. FISHBASE (2018). World Wide Web electronic publication, Disponível em <www.fishbase.org>. Acesso em 02/09/2018
8. GOMES, UL; SIGNORI, CN; GADIG, OBF & SANTOS, HRS. (2010). Guia para identifcação de tubarões e raias do Rio de Janeiro 1. ed.Rio de Janeiro : Technical Books. 234 p.
9. IUCN (2018). The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2018-1. Disponível em <http://www.iucnredlist.org> . Acesso em 02/09/2018. 
10. KARDONG, KV. (2016) Vertebrados: Anatomia Comparada, Função e Evolução. ­ 7. ed. ­ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1172 p.
11. KOBELKOWSY, A. 2012. Anatomía del corazón y las arterias branquiales aferentes de las rayas (Chondrichthyes: Batoidea). Hidrobiológica 22(1): 35-41.
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