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SISTEMAS DE PRODUÇÃO I Ricardo da Silva e Silva A administração científica de Taylor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Entender a influência da Revolução Industrial nos sistemas de pro- dução. � Reconhecer a importância do estudo dos tempos e métodos de produção. � Identificar os primeiros desperdícios na produção. Introdução A administração surgiu em 3000 a.C., a partir do povo sumério, que, na intenção de fixar raízes em um único local e deixar de ser nômade, desenvolveu técnicas para aumentar a produção a fim de prover sua subsistência e solucionar problemas cotidianos. Assim, surgiram os pri- meiros traços da administração. No entanto, a administração como ciência encontrou um precursor em Frederick W. Taylor, considerado o pai da administração científica e que, impulsionado pela Revolução Industrial, desenvolveu princípios e técnicas que balizaram a administração por muitos anos, ainda hoje influenciando empresas e suas definições de métodos de trabalho, como o estudo dos tempos e movimentos e a observância das falhas nos métodos de produção. Neste capítulo, você vai compreender como a Revolução Industrial impulsionou os estudos de Taylor no desenvolvimento do entendimento sobre administração científica e os sistemas de produção, observar e compreender a importância do estudo dos tempos e movimentos no período taylorista e a influência desse estudo no contexto contemporâ- neo e, ainda, analisar o histórico do desperdício nos sistemas de produção. 1 Revolução Industrial e sistemas de produção Se indicássemos apenas um fator que tenha impulsionado o capitalismo como sistema econômico, certamente ele seria a Revolução Industrial, que teve início no século XVIII e a partir da qual foram alteradas as relações de trabalho, do mercado e, por consequência, os aspectos organizacionais nas empresas. Desse modo, compreender as mudanças sociais nas relações de consumo e no funcionamento das empresas decorrentes da Revolução Industrial é fundamental para entender a administração como ciência. A partir da Revolução Industrial, com a utilização do maquinário a vapor e o surgimento de uma série de novas fábricas, houve um grande aumento nos quadros de funcionários, bem como da produção e, por consequência, da necessidade de controle de uma nova forma produtiva. Segundo Maximiano (2012), com a Revolução Industrial, a produção relacionada a conhecimentos administrativos passou a ser balizada pela inovação do período — a empresa industrial. Da produção artesanal à maquinofatura A empresa industrial passou a ser uma referência nas relações de trabalho, no mercado de consumo e, por consequência, na forma como eram fabricadas as mercadorias. Entretanto, outras fases da produção a precederam, cada uma com características distintas. Inicialmente, o sistema de produção era total- mente artesanal, caracterizado pelo trabalho totalmente manual, que visava a atender apenas uma demanda local. A atividade produtiva ocorria em oficinas caseiras e o artesão, responsável pelo sistema produtivo, conhecia todas as etapas da produção e era proprietário dos meios produtivos. A expansão mercantilista marcou a necessidade de aumentar a produção e deu início ao processo manufatureiro, período a partir do qual o trabalho passou a ser organizado em grandes galpões. Nesse momento, mesmo que rudimentar, começou a se dar o processo de divisão de trabalho, em que o trabalhador continuou conhecedor de todas as etapas do processo de produção e, com a expansão dos mercados, o trabalho assalariado passou a se consolidar. A administração científica de Taylor2 A invenção da máquina a vapor e o acesso a outras fontes de energia também marcaram o início da Revolução Industrial, com o surgimento das grandes indústrias e a produção em larga escala, o que representou um grande aumento na capacidade produtiva, e o fato de o trabalhador passar a ser um operador de máquinas, alienado do sistema produtivo. A Figura 1 apresenta as diferentes fases da produção, indicando as principais características de cada uma delas e sua relação com os aspectos pertinentes à produção. Figura 1. Fases da produção. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). ERA ARTESANAL ERA DA MANUFATURA ERA DA MAQUINOFATURA Produção para demanda local Artesão responsável por todas as fases da produção Meios de produção e lucros eram dos artesãos Produção manual Divisão do trabalho Produção em escala Consolidação da classe capitalista Racionalização do trabalho Trabalho em galpões de produção Consolidação do trabalho assalariado O trabalhador conhece as fases do sistema produtivo Período antes da Revolução industrial Primeira Revolução industrial Segunda Revolução industrial Contudo, cabe destacar que, apesar de as separações temporais do esquema na Figura 1 representarem rupturas, algumas características e, inclusive, a própria fase produtiva ocorreram de modo concomitante. Atualmente, por exemplo, ainda há a produção de produtos artesanais, mas com um caráter de exclusividade, e não para atender ao padrão industrial de fabricação. 3A administração científica de Taylor Gerenciamento dos sistemas de produção: taylorismo e fordismo A Revolução Industrial influenciou as novas empresas e elevou a produção industrial a outro patamar, moldando os sistemas de produção das grandes organizações da época. Para Gaither e Frazier (2006, p. 7), “[…] esse avanço envolveu dois elementos principais: a difundida substituição da força humana e da água pela forma mecanizada e o estabelecimento do sistema fabril [...]”. Os sistemas produtivos das organizações passaram então de uma produção que atendia apenas a um mercado local a uma que atendia a uma grande demanda, o que levou à necessidade da administração da produção nas fábricas. Corrêa e Corrêa (2011, p. 24) definem a administração da produção como a: [...] atividade de gerenciamento estratégico dos recursos escassos (humanos, tecnológicos, informacionais e outros), de sua interação e dos processos que produzem e entregam bens e serviços visando atender necessidades e/ou desejos de qualidade, tempo e custo de seus clientes [...]. Frederick W. Taylor foi um dos precursores no gerenciamento das atividades produtivas e o maior teórico da administração científica, também conhecida como taylorismo, que reunia uma série de teorias e técnicas de administração das indústrias no período da Revolução Industrial. Suas ideias tinham como maior objetivo aumentar a produtividade por meio da readequação dos métodos de produção, padronizando o trabalho e, por consequência, reduzindo custos. Segundo Gaither e Frazier (2006, p. 8), Taylor teorizou sobre “[...] a aplicação de racionalidade e métodos científicos à administração do trabalho nas fábricas [...]”. Já Quelhas (2008, p. 1) entendem que Taylor “[...] tratava a administração como ciência baseada na observação, medição, análise e aprimoramento dos métodos de trabalhos [...]”. Porém, o principal teórico da administração científica observava alguns entraves para o aumento da produtividade, já que, para ele, conforme Costa (2009, p. 1): [...] não havia incentivo para melhorar o desempenho do trabalhador; muitos trabalhadores não cumpriam as suas responsabilidades; não havia integração entre os departamentos da empresa; as decisões se baseavam em intuições e palpites; os trabalhadores eram colocados em tarefas para as quais não tinham aptidão [...]. A administração científica de Taylor4 Nesse sentido, Taylor desenvolveu a administração científica em três mo- mentos distintos, conforme apresentado na Figura 2, em que se destacam as diferentes fases e os princípios que as regem. Figura 2. Fases da administração científica. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012). Primeira fase Ataque ao problema dos salários. Estudo sistemático do tempo. De nição de tempos-padrão. Sistema de administração de tarefas. Terceirafase Consolidação dos princípios. Proposição de divisão autoridade e responsabilidade dentro da empresa. Distinção entre técnicas e princípios. Segunda fase Ampliação do escopo da tarefa para a administração. De nição de princípios de administração do trabalho. A administração científica de Taylor trouxe valiosas contribuições para a administração, visando à organização e à racionalização do trabalho, cujos efeitos podem ser sentidos até hoje. Entre as contribuições do teórico, podemos ressaltar a metodologia científica para realização das tarefas, a especialização e a divisão do trabalho, a seleção e o treinamento por meio de uma abordagem científica e, ainda, a supervisão e orientação dos operários a partir dessa mesma abordagem metodológica. Ainda no período da Revolução Industrial, outro importante pensador da administração e do gerenciamento do sistema de produção foi Henry Ford, engenheiro mecânico e fundador da Ford Motor Company. Suas principais contribuições foram uma série de inovações com base nos estudos da adminis- tração científica, elevando a produção a um novo patamar pelo desenvolvimento de sua linha de montagem móvel, em que o processo de fabricação ocorria em esteiras móveis. Segundo Maximiano (2012, p. 45): Assim como o nome de Taylor está associado à administração científica, o nome de Henry Ford está associado a linha de montagem móvel. Foi Henry Ford que elevou ao mais alto grau os princípios da produção em massa, que é a fabricação de produtos não diferenciados em grande quantidade: Peça padronizada e trabalho especializado. 5A administração científica de Taylor Ford foi influenciado pelo taylorismo principalmente quanto aos aspectos da divisão do trabalho, à preocupação com os desperdícios e com a linha de montagem. Por suas inovações, possibilitou-se a produção em massa, para atender ainda mais a amplos mercados e a queda dos custos de produção. O taylorismo sofreu diversas críticas ao longo da história, sobretudo em relação ao fato de desconsiderar o lado social e humano do trabalhador. Outro ponto negativo destacado eram as rígidas formas de tratar os operários, com foco exclusivamente na produtividade. Os críticos apontavam que a administração científica tratava o homem como um apêndice da máquina, sem nenhum tipo de vontade ou desejo. Essa crítica é eviden- ciada de forma brilhante no filme Tempos modernos, de 1936. A seguir, detalharemos as principais teorias da administração científica, principalmente os aspectos inerentes à racionalização do trabalho e ao des- perdício no processo produtivo, além dos reflexos de tais contribuições para a administração contemporânea. 2 Estudo dos tempos e movimentos de Taylor Uma das principais características da administração científica consistiu na otimização e na racionalização do trabalho, adicionando maior eficiência à produção das grandes fábricas, além de proporcionar maiores lucros e custos reduzidos para os proprietários. A receita de Taylor compreendia organizar o trabalho por meio de metodologias que estruturavam o processo de fabricação e motivar financeiramente os colaboradores para que fossem mais eficientes. A administração científica de Taylor6 Segundo Taylor, havia a necessidade de controlar e orientar os operários de fábrica para um aumento de produtividade, tendo apontado como os prin- cipais problemas das fábricas, na obra Princípios da Administração Científica (de 1911), considerada a principal que escreveu, a falta de integração entre departamentos e o fato de as decisões serem em geral intuitivas. Outro aspecto que observava residia na ineficiência dos operários, já que, segundo Taylor (1990), havia um grande prejuízo para as fábricas gerado pela ineficiência da falta de orientação aos colaboradores, os quais, segundo o autor, eram negligentes, preguiçosos e realizavam movimentos inadequados nos processos de trabalho. Embora possamos tecer diversas críticas ao posicionamento de Taylor, é importante destacar que o contexto da época para suas formulações era diferente, e a obra foi muito importante para aquele período, assim como sua influência na administração contemporânea. Chiavenato (2011, p. 65) aponta: [...] As críticas não diminuem o mérito e o galardão de pioneiros e desbrava- dores da nascente teoria da Administração. Na época, a mentalidade reinante e os preconceitos, tanto dos dirigentes como dos empregados, a falta de co- nhecimento sobre assuntos administrativos, a precária experiência industrial e empresarial não apresentava condições propícias de formulação de hipóteses nem o suporte adequado para elaboração de conceitos rigorosos. Nesse contexto de crítica ao comportamento e à falta de ineficiência dos operários, Taylor realizou o estudo dos tempos e movimentos, o qual visou a eliminar dos processos de trabalho todo o movimento desnecessário, tentando simplificar as operações. A partir da observância sobre o fato de as ferra- mentas e os locais de trabalho serem adequados para a realização das tarefas, modificavam-se as sequências de operações caso houvesse necessidade, assim como se facilitavam os movimentos realizados pelos trabalhadores. O expe- rimento proporcionou um aumento da produtividade pela redução do tempo para a execução das tarefas. Segundo Oliveira (2013), o principal objetivo dos estudos foram os ganhos para os proprietários e empregados, a otimização do processo produtivo e a economicidade, pela redução do uso de matéria-prima. O estudo dos tempos e movimentos trouxe várias contribuições para as empresas. Muitas organizações, sobretudo as indústrias, utilizam esses prin- cípios para observar os tempos de trabalho e redefinir processos no intuito de racionalizá-los. Para Taylor, o gerenciamento científico das atividades consiste em preparar as tarefas e sua execução. 7A administração científica de Taylor Racionalização industrial: estudo de tempos e métodos Taylor racionalizou as tarefas e definiu o tempo como uma maneira de mensurar a máxima produtividade e eficiência. Sob essa perspectiva, as empresas atuais utilizam técnicas para o controle dos tempos de produção, processo que leva o nome de estudo de tempos e métodos. Conforme Razmi e Shakhs-Niykee (2008), o estudo de tempos e métodos define-se como uma estratégia para aprimorar a produtividade, realizando conexões entre o tempo despendido e as formas de execução de tarefas. Slack, Chambers e Johnston (2009), por sua vez, apontam esse estudo como a aplicação de técnicas que possibilitam analisar o tempo que um trabalhador leva para realizar uma tarefa. A alta competitividade empresarial, a necessidade da redução de custos e de aumento da lucratividade apontam para a necessidade de empregar métodos de racionalização nos processos de produção. Neste capítulo, serão destacadas três técnicas de estudos de tempos e métodos muito utilizados no ambiente industrial: lead time, takt time e o cronometrismo. O lead time representa o ciclo de um processo produtivo medido, conside- rando o período de duração desde seu início até seu fim, ou seja, todo o processo de produção de uma mercadoria, desde a aquisição de matéria-prima até o momento de sua entrega para o consumidor. Para Ballou (2001, p. 84), o lead time é “[...] o lapso de tempo entre a colocação do pedido do cliente, o pedido de compra ou a requisição de um serviço é colocado e o momento em que o produto é recebido pelo cliente [...]”. Sob o prisma do sistema produtivo, o lead time abrange a mensuração do tempo empregado para que uma matéria-prima seja transformada em produto acabado. Quanto menor o lead time, maior a capacidade da empresa de atender a demanda de modo mais ágil mantendo as quantidades de estoques a baixos níveis. Segundo Corrêa e Corrêa (2011, p. 97), “[...] nessa abordagem os estoques são considerados úteis por proteger o sistema produtivo de problemas que podem causar a parada do fluxo de produção (falta de peças, atrasos fornecedores, etc.)[...]”. Já o takt time consiste na medida de tempo que as mercadorias de uma empresa devem ser produzidas, levando-se em conta a demanda de consumo, ou seja, o tempo que a empresa gasta para atender a sua demanda. Para obter esse cálculo, é necessário mensurar o tempo gasto para a fabricação de uma mercadoria e a demanda de consumo. Segundo Alvarez e Antunes (2001, p. 5), o “[...] takt time é o ritmo de produção necessário para atender a um determinado nível considerado de demanda, dadas as restrições de capacidade da linha ou célula [...]”. A administração científica de Taylor8 Para o cálculo do takt time, imagine uma fábrica que opera 9 horas por dia, em que se incluem 1 hora para o intervalo e mais 20 minutos de manutenção de máquinas e demais paradas programadas. Dessa forma, podemos contabilizar que a empresa produz efetivamente 7 horas 40 minutos por dia ou 460 minutos diários (7 horas = 420 minutos (+) 40 minutos) ou 27.600 segundos (460 minutos × 60 segundos). Pense também que a demanda mensal da empresa é de 18.000 unidades do produto comercializado: se dividirmos a quantidade produzida pelos dias que a empresa opera (nesse caso, levaremos em conta os 30 dias do mês), teremos 600 peças diárias (18.000 peças/30 dias). Para descobrir o takt time da empresa, basta dividirmos os segundos operacionais diários pelo número de peças diárias que atendem à demanda: Takt time = 27.600 / 600 = 46 A empresa tem um takt time de 46 segundos, ou seja, o tempo limite que uma peça deve demorar para ser fabricada é de 46 segundos. Fonte: Novidá (2020) Por fim, a cronoanálise consiste em observar e mensurar o tempo de todas as etapas do processo produtivo, podendo também ser utilizada na mensu- ração do lead time e do takt time. Para empregarmos essa técnica, torna-se fundamental observar algumas etapas, como a análise anterior dos processos mensurados, detalhando, além do processo por completo, as pessoas envolvidas e as ferramentas utilizadas. O processo deve ser fracionado, pois não é útil cronometrar e registrar um processo do início ao fim, sendo mais eficaz medir cada parte da atividade e, então, determinar o tempo de execução de cada processo no ciclo produtivo. Para Peinado e Graeml (2014), a cronoanálise é um método que permite medir e controlar de maneira estatística as tarefas realizadas, em que o cronometrista consegue observar a velocidade e o ritmo na execução de uma atividade. Como você pôde observar, a influência de Taylor para as técnicas de tempos e métodos é evidente. De acordo com Novaski e Sugai (2002), a administração científica e os estudos de tempos e movimentos idealizados por Frederick W. Taylor representaram uma verdadeira racionalização do trabalho, tornando-se a base do sistema de estudo de tempos. 9A administração científica de Taylor 3 Primeiros desperdícios na produção Como vimos, os estudos de Taylor e a administração científica encontram res- paldo ainda hoje na modelagem da execução de tarefas e na busca do aumento da produtividade, além dos importantes princípios da divisão do trabalho, dos estímulos financeiros como forma de motivar os trabalhadores, entre outros. O teórico desenvolveu seus estudos da administração científica motivado por aquilo que observava como displicência dos operários, já abordada neste texto, e falta de profissionalismo dos gerentes. Taylor (1990) indicava como principais males das organizações os falhos sistemas de administração, que, em sua visão, eram ineficientes, além do desconhecimento da gerência quanto aos métodos e às rotinas de trabalho e a falta de uniformidade nas rotinas de trabalho. Ainda, afirmava que os aspectos expostos acarretavam um grande desperdício, tanto no tempo de realização das tarefas quanto no excesso de matéria-prima utilizada. Dessa forma, a administração científica caracterizou- -se pela ênfase nas tarefas, e preocupação de Taylor voltou-se à organização no trabalho, preocupando-se com os aspectos pertinentes à racionalização das tarefas no sentido de minimizar o desperdício. Estudos de Taylor e desperdício Para compreender a preocupação de Taylor com o desperdício em relação ao sistema produtivo, é necessário analisar o contexto pré-Revolução Indus- trial. Na produção artesanal, que precedeu o período das grandes indústrias, o processo produtivo envolvia apenas o artesão, responsável pela aquisição e pela coleta de insumos e cuja produção se destinava ao atendimento de uma demanda local. Nesse período, em razão da baixa demanda de consumo, o desperdício também era reduzido. A produção manufatureira marcou o início do processo de divisão do trabalho e de uma produção com capacidade para atender a uma demanda maior. Entretanto, pela baixa especialização dos operadores dos maquinários utilizados nos galpões nos quais as mercadorias eram produzidas, havia des- perdício de insumos. Nesse período, os proprietários dos meios de produção não detinham do controle sobre a maneira como os operários realizavam as atividades. A passagem da fase da manufatura para a maquinofatura marcou o aumento dos níveis de produção em larga escala, o que também contribuiu para um maior desperdício ao longo do sistema produtivo. Taylor (1990) evidenciava um alto grau de desperdício relacionado às atividades rotineiras, situação em não havia, por parte dos colaboradores, uma metodologia empírica eficiente. A administração científica de Taylor10 A partir da administração científica, foi possível organizar uma série de princípios e técnicas, visando à organização racional do trabalho e à redução de desperdício, com o controle de todos os passos do trabalho vivo e de todos os tempos e movimentos do trabalhador, como você pode observar no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Taylor (1990). Princípios � Atribuir as tarefas conforme as habilidades dos operários � Solicitar o máximo de produtividade dos operários Técnicas � Utilizar a técnica conforme as particularidades de cada tipo de empresa � Fazer a análise metódica e o estudo dos tempos e movimentos � Fornecer informações aos operários quanto aos procedimentos de trabalho � Separar as funções de execução e preparação � Fazer a seleção científica dos colaboradores � Especializar e treinar os operários na realização das tarefas � Implementar a divisão do trabalho Quadro 1. Princípios e técnicas de redução do desperdício Os estudos de Taylor contribuíram para um significativo aumento da pro- dutividade, para a organização do trabalho e, principalmente, para a redução do desperdício no processo produtivo, tornando-se eficaz na substituição dos movimentos inúteis dos operários, bem como para processos de treinamento mais adequados e contratações que consideravam as habilidades dos operários. Taylor acreditava que, quanto mais tarefas o empregado soubesse fazer, melhor ele desempenharia seu papel. Desperdício, produtividade e controle de qualidade Ainda no contexto atual, a busca pela redução do desperdício, ou seja, dos custos de produção, constitui uma realidade no contexto organizacional: a maximização da produtividade e da qualidade nos processos e atividades organizacionais tornou-se uma busca constante para as organizações no atual cenário global de extrema competitividade. Nesse sentido, os princípios de Taylor mostram-se de grande importância ainda hoje e, apesar de terem se modernizado, refletem os princípios modernos da qualidade total. 11A administração científica de Taylor Mas quais são os principais desperdícios das empresas na atualidade? E quais os principais custos podem ser reduzidos na produção? Inicialmente, devemos considerar que o contexto das organizações mudou. A indústria passou pela terceira Revolução Industrial, que marcou a indústria automa- tizada e o uso de computadores e, posteriormente, a internet no processo de fabricação. Esse período marcou a transição do controle do desperdício idealizado por Taylor pelo controle de qualidade modelo Toyota,que iniciou após a Segunda Guerra Mundial e marcou o início da produção enxuta. O toyotismo apresentou algumas técnicas, como: os 5’s, que visam à organização dos espaços de trabalho; o kanban, como técnica de controle da produção; o just in time, uma técnica que prioriza o estoque mínimo, apenas para atender à demanda; o kaizen, que representa uma filosofia de melhoria contínua nos sistemas de produção; etc. Segundo Maximiano (2011, p. 134), “[...] o sistema Toyota de produção foi criado por Eiji Toyoda, da família proprietária da Toyota e Taiichi Ohno, chefe de engenharia da empresa. Os dois princípios básicos mais importantes do sistema Toyota são: eliminação do desperdício e fabricação com qualidade [...]”. Atualmente, os principais desperdícios nas organizações estão relaciona- dos às operações de transportes e às dificuldades na compreensão a suprir a demanda, promovendo eventualmente a superprodução de mercadorias e a fabricação de produtos defeituosos. Para Antunes et al. (2008), as perdas, ou seja, aquelas atividades que não agregam valor aos produtos, podem ser o retrabalho, refugos de produção, tempos prolongados de manutenção de maquinários, transporte e movimentação desnecessária, entre outras. A história das técnicas que objetivam reduzir os desperdícios é a história do controle de qualidade nos processos de fabricação. O controle de qualidade no período taylorista e fordista, apesar de apresentar um grande avanço para o período, limitava-se apenas a inspecionar as tarefas dos operários. Esse controle evoluiu para um controle estatístico de peças produzidas, com base em amostragens de peças produzidas e, posteriormente, para um controle total da qualidade, quando as prioridades passaram a ser o interesse do consumidor e a garantia dos produtos oferecidos, e a qualidade estar presente em todas as áreas de uma empresa, e não apenas no processo produtivo. As normas ISO de qualidade e o ciclo da melhoria contínua apontam para a importância da qualidade das organizações, o que impacta não somente as finanças das organizações, mas também a redução de desperdício dos recursos naturais e impactos ao meio ambiente. A administração científica de Taylor12 Ao encerrar este capítulo, é necessário fazer uma reflexão sobre o futuro do controle do desperdício e da qualidade nas organizações. A revolução tecnológica e o uso da inteligência artificial, o big data e os poderosos algo- ritmos são tendências que já representam um profundo avanço no controle do desperdício no contexto organizacional. Basta agora estar preparado para os próximos passos do controle de qualidade e da racionalização do trabalho. ALVAREZ, R. R.; ANTUNES JR., J. A. V. Takt-time: conceitos e contextualização dentro do Sistema Toyota de produção. Gestão & Produção, São Carlos, v. 8, n. 1, p. 1–18, 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2 001000100002&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 06 out. 2020. ANTUNES, J. et al. Sistemas de produção: conceitos e práticas para projeto e gestão da produção enxuta. Porto Alegre: Bookman, 2008. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2001. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. Rio de Janeiro: Cam- pus, 2011. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. 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