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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS GESTÃO DE PROCESSOS DE PRODUÇÃO Autor: Alfredo Pieritz Netto 658.5 S593p Netto, Alfredo Pieritz. Gestão de Processos de Produção/ Netto, Alfredo Pieritz. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial, Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 152. p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-339-6 1. Administração de Processos 2. Administração de Produção I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Carla Eunice Gomes Corrêa Revisão Gramatical: Profa. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. Engenheiro de Produção Mecânica com experiência de mais de 23 anos de atuação em Gestão Empresarial, Vendas e Marketing, Desenvolvimento de Novos Produtos, Gestão Financeira e Custos, com diversos trabalhos de Recuperação e Organização Financeira, Estratégias de Vendas e Organização de Equipes de Vendas Nacionais e Internacionais, Alinhamento de Processos de Produção. Experiência internacional nos EUA, Bolívia e Peru nas áreas de Vendas e Produção. Mestrado em Administração pela FURB (2002), com especialização em Gerenciamento de Marketing (FURB – INPG - 1997) e Gerenciamento de Produção, Produto e Marketing (FURB -INPG – 1989), graduação em Engenharia de Produção Mecânica pela UFSC - 1988. Atua, também, como professor universitário na FAMEG - UNIASSELVI – nas disciplinas de Planejamento Estratégico, Administração Mercadológica, Gestão de Produto e Processo, Análise de Valor, Pesquisa em Administração, Gestão Comercial, Gestão de Preços e Canais de Distribuição. Palestrante e escritor de livros na área da Engenharia de Produção e diversos artigos técnicos e para revistas. Eng. Alfredo Pieritz Netto Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 A História da Evolução da Produção ........................................ 9 CAPÍTULO 2 Estratégias de Produção e Processos de Decisão ............... 25 CAPÍTULO 3 Planejamento Tecnológico ...................................................... 63 CAPÍTULO 4 Gerenciamento da Capacidade de Produção, dos Estoques e Suprimentos .................................................... 79 CAPÍTULO 5 Gerenciamento de Produtos, Processos, Layout e os Sistemas Modernos de Produção ......................................115 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): A Engenharia de Produção tem assumido um grau de importância muito alto dentro das organizações que estão preocupadas com seu crescimento, com os resultados, e cada vez mais têm exigido profissionais preparados para assumirem os postos de trabalho. O campo de atuação do engenheiro de produção envolve conhecimentos relacionados à gestão de pessoas, dos recursos disponíveis e do conhecimento para que possam ser efetivos em sua atuação. Sabemos que a prática, associada ao conhecimento, faz diferença no exercício da função de Engenharia de produção nas empresas e, neste caderno, buscamos trabalhar temas importantes para o aperfeiçoamento profissional. No primeiro capítulo, tratamos da história da evolução da produção, buscando levar ao aluno temas para a compreensão da evolução dos métodos produtivos, desde o início da industrialização até as metodologias atuais, para que possa se situar e conhecer as principais características de cada era evolutiva da produção e sua gestão. O capítulo dois trabalha o foco das estratégias de produção e os processos decisórios, buscando levar ao pós-graduando as principais teorias relacionadas ao tema, bem como as ferramentas de apoio a decisão gerencial na produção. Neste capítulo será estudada, ainda, a metodologia da PM – Project Management, conforme o PMBOK do Project Management Institute – PMI. Os planejamentos tecnológico, de sistemas e logístico, são estudados no capítulo três, e buscamos conhecer os principais fatores tecnológicos e de logística que influenciam um sistema produtivo. O capítulo quarto trabalha o tema de gerenciamento da capacidade de produção, dos estoques e dos suprimentos, trabalhando os seus principais conceitos e buscando compreender as funções exercidas pelos gestores da produção, almoxarifado e de suprimentos e as suas interrelações. O quinto e último capítulo desenvolve o tema gerenciamento de produtos, processos, layout, os sistemas modernos de produção e fecha o ciclo de produção, estudando o gerenciamento de produtos e dos processos produtivos para a sua fabricação, o layout produtivo. Neste capítulo, estuda-se, ainda, as principais diferenças relacionadas aos sistemas modernos de produção e sua influência nos resultados da fábrica. Lembre-se, o aproveitamento deste material está relacionado ao grau de aprofundamento de seu estudo e ele é um dos caminhos para aprimorar o seu conhecimento sobre este tema. Mas para que o ciclo possa ser completo, você precisa buscar aprofundamento com as leituras complementares, exercícios apresentados e, principalmente, com a prática na linha de produção. A todos bons estudos! Prof. Alfredo Pieritz Netto Professor Autor CAPÍTULO 1 A História da Evolução da Produção A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer a perspectiva histórica da evolução dos modelos. 9 Compreender a evolução dos métodos produtivos, desde o início da industrialização até as metodologias atuais. 9 Identificar as principais características de cada era vivenciada pelos modelos produtivos. 9 Avaliar os modelos produtivos que as organizações estão vivenciando atualmente, mapeando possíveis pontos para trabalhar melhorias nos processos produtivos de uma organização. 10 Gestão de processos de produção 11 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 Contextualização Quando trabalhamos a Gestão de Processos de Produção, buscamos a integração dos conhecimentos adquiridos nas diversas áreas de conhecimento e trabalho da Engenharia de Produção para que possamos gerir adequadamente os recursos fabris da organização, de modo a atingirmos os resultados esperados pela empresa. Assim, este capítulo desenvolverá a temática da evolução histórica ocorrida na gestão da produção a partir do estabelecimento de uma linha do tempo, incluindo as principais técnicas e metodologias desenvolvidas para auxiliar nos diversos campos de trabalho da gestão de produção. É essencial que você entenda esse resgate histórico, pois ele explicita como cada fase auxiliou as seguintes em seu processo de consolidação. Com o conhecimento desses nortes históricos, vivenciados pelos sistemas produtivos, trabalharemos os fatores que caracterizam cada uma das épocas na produção, buscando listar suas principais características. Esse conhecimento é importante para que você possa analisar as condições de trabalho e os processos de gestão em sua empresa e, futuramente, tenha subsídios para desenvolver planos de melhoria nos processos de gestão da produção. Ao conhecer a história da evolução dos processos de gestão da produção, você entenderá melhor porque ainda encontramos muitos problemas de gestão em nossasempresas e encontrará mais alternativas para solucioná-los. Ao longo do estudo deste capítulo, possivelmente, você relembrará alguns conceitos já conhecidos, porém também haverá outros de que você nunca ouviu falar, portanto, anote as suas dúvidas, pesquise na internet, troque ideias com seus colegas e tutor. Essas ações permitirão que você tire todas as vantagens deste material, que trata de um tema tão importante para as nossas organizações. A Origem da Industrialização Atualmente, na gestão da produção temos muitas ferramentas que favorecem o processo de gestão, neste caso, você certamente deve ter pensado nas máquinas, já que estas facilitam os processos fabris, e nas pessoas, cujas diversas especializações contribuem para a melhoria da condução do negócio. Mas, se voltarmos na história da produção, veremos que a evolução transcorreu em diversas etapas, algumas das quais ainda podem ser vistas em diversas fábricas. Quando falamos na modernidade dos processos de gestão e de nossas fábricas, imaginamos fábricas com robôs trabalhando, sistemas informatizados de 12 Gestão de processos de produção ERP (Enterprise Resource Planning) para gestão das atividades da empresa, softwares de CAD/CAM, BI (Business Inteligence), etc. Contudo, essa não é a realidade da maioria das organizações, ou melhor, 80 a 90% das empresas brasileiras estão fora desta realidade ou iniciando os primeiros contatos com tais tecnologias. Diante desse cenário é que iniciaremos agora nossos estudos sobre a evolução da história da industrialização. Só para lembrá-lo: Enterprise Resource Planning (ERP) corresponde a um software empresarial que integra informações de todas as áreas da empresa e auxilia nos processos operacionais e de gestão do negócio. A industrialização teve início com as primeiras ferrarias, nas quais foram desenvolvidas as ferramentas para a agricultura e para a guerra, como enxadas, pás, espadas e outros acessórios. Houve, também, outra vertente da industrialização, os teares para fabricação dos primeiros tecidos rústicos. A produção cresceu muito, estimulada por novas necessidades de consumo. Os artesãos organizaram os primeiros sistemas informais de produção e contrataram auxiliares para ajudá-los a produzir as encomendas cada vez mais crescentes de produtos. Mas a produção artesanal tinha os seus limites de fornecimento de produtos ao mercado consumidor, fora as questões relacionadas aos custos e à demora de entrega, além de existirem poucos artesãos com habilidades disponíveis. No ano de 1764, James Watt apresentou outra grande descoberta ao mundo e iniciou uma nova história no processo de industrialização: ele inventou a máquina a vapor, que serviria de base para a modernização das fábricas e dava início, assim, à chamada Revolução Industrial. Um invento que simplesmente revolucionou todos os conceitos ligados à produção até então vigentes na sociedade. Os artesãos começaram a agrupar-se e formaram as primeiras unidades fabris. No ano de 1766, conforme Martins e Laugeni (2005), foi utilizada a terminologia produtividade, termo cunhado pelo francês François Quesnay, buscando referenciar as necessidades dos empresários da época em relação à sobrevivência e ao resultado de suas empresas. A fórmula padrão para a produtividade até hoje é definida como: No ano de 1766, conforme Martins e Laugeni (2005), foi utilizada a terminologia produtividade, termo cunhado pelo francês François Quesnay, buscando referenciar as necessidades dos empresários da época em relação à sobrevivência e ao resultado de suas empresas. 13 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 PRODUTIVIDADE = MEDIDA DO OUTPUT MEDIDA DO INPUT Megginson, Mosley e Pietri (1998) descrevem que outro marco importante para a nova revolução na época surgiu no ano de 1776 quando Adam Smith, um economista escocês, publicou o seu livro A Riqueza das Nações, difundindo os conceitos de divisão do trabalho e a sua especialização. Na época, os donos das empresas buscavam aumentar a eficiência e os controles dos processos produtivos; já os operários aceitavam uma rigorosa e estafante rotina de trabalho nas fábricas. Conforme Martins e Laugeni (2005), no ano de 1790, Eli Whiteney introduziu o conceito de padronização de componentes na fabricação de armas (mosquetões), o que deu início aos registros documentais através de desenhos e croquis das peças, padronizando-os, além de permitir a intercambialidade de peças. Começa a existir a função de projeto de produto dentro das fábricas. Além desses grandes eventos, apresentamos no quadro 1 alguns eventos importantes que marcaram essa fase da industrialização. Quadro 1- Alguns eventos que auxiliaram no desenvolvimento industrial ANO INVENTOR DESCRIÇÃO 1725 Bouchon Tear controlado por cartão perfurado 1775 Maudsley Torno mecânico - Inglaterra 1818 Tear Jackard com cartão perfurado - França 1840 Whitney Fresadora – USA 1860 Princípio da linha de montagem – USA 1864 Retificadora – USA 1889 Dobrowolsky Patente do motor elétrico trifásico - Rússia Fonte: O autor. Faça uma análise de como seriam as condições atuais das empresas se ainda estivéssemos nos primórdios da industrialização. Reflita sobre os processos produtivos, tipos de produtos disponíveis, sistemas de gestão e outros pontos importantes para as organizações. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 14 Gestão de processos de produção Vamos estudar a seguir a evolução da era industrial e identificar os principais pontos de cada evolução. A Era Industrial Com o advento das novas máquinas e inventos diversos, o ser humano começou a migrar do ambiente agrícola, agrupando-se ao redor das cidades, nas quais buscava oportunidades de crescimento e novos desafios. Conforme estudamos, esse ressurgimento de novidades estava fazendo evoluir os processos produtivos em diversas frentes, estimulando novas tecnologias em máquinas produtivas, novas teorias, processos de gestão, produtos para consumo, etc. Vamos relembrar, a seguir, algumas dessas teorias para que você perceba como evoluímos na gestão da produção. a) Administração científica – Taylor Essa abordagem científica da produção foi iniciada pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor, considerado o “pai da Administração Científica”. Conforme Morgan (1996), o trabalho de Taylor no setor de tornos na empresa Midvale Steel Works, situada na cidade de Filadélfia, buscou definir os princípios científicos para a Administração das empresas e, assim, resolver os conflitos gerados pelas relações entre os patrões e os empregados dentro das fábricas. Conforme Ferreira, Reis e Pereira (1997), os principais focos do Taylorismo estão na organização racional do trabalho, utilizando-se dos seguintes princípios: • seleção científica do trabalhador; • uso de tempo padrão; • plano de incentivo salarial; • trabalho em equipe; • os gerentes são pagos para planejar, os operários para executar; • divisão do trabalho; • supervisão no trabalho; • ênfase na eficiência. Esse ressurgimento de novidades estava fazendo evoluir os processos produtivos em diversas frentes, estimulando novas tecnologias em máquinas produtivas, novas teorias, processos de gestão, produtos para consumo, etc. Conforme Ferreira, Reis e Pereira (1997), os principais focos do Taylorismo estão na organização racional do trabalho. 15 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 b) As funções gerenciais - Fayol Enquanto Taylor trabalhava a Administração Científica, outro estudioso, Henri Fayol, desenvolvia os Princípios da Administração. Esse momento na história da Administração ficou conhecido como escola clássica. Megginson, Mosley e Pietri (1998) apresentam os quatorze Princípios Geraisda Administração, desenvolvidos por Fayol a partir da análise de sua experiência como gerente, os quais apresentamos a seguir: 1. Divisão do trabalho: considera a especialização das tarefas e dos operários para produzir mais. 2. Autoridade e responsabilidade: autoridade com responsabilidade, direito de dar ordens e conseguir obediência. 3. Disciplina: todos precisam trabalhar com disciplina e se busca a obediência às ordens, pode-se agir com penalidades em quem não as cumpre. 4. Unidade de comando: cada empregado deve receber ordens de apenas um chefe. É o princípio da autoridade única. 5. Unidade de direção: todas as unidades da organização devem seguir em direção aos mesmos objetivos. 6. Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: os interesses gerais devem sobrepor-se aos interesses individuais de cada funcionário. 7. Remuneração: o salário deve ser justo para o empregado e para a organização. 8. Centralização: refere-se à centralização da autoridade no topo da hierarquia de comando da organização. 9. Hierarquia: a hierarquia da autoridade deve partir do escalão mais alto da organização, seguindo para os níveis mais baixos. 10. Ordem: as pessoas e os materiais devem estar no lugar certo e no tempo certo para uso, com a maior eficiência possível. 16 Gestão de processos de produção 11. Equidade: assegurar que todos sejam tratados com justiça em toda organização. 12. Estabilidade do pessoal: a rotatividade da mão de obra deve ser minimizada, pois tem um impacto negativo sobre os resultados e a eficiência geral da organização. 13. Iniciativa: os operários devem desenvolver a capacidade de planejar e implementar melhorias pessoais como profissionais. 14. Espírito de equipe (grupo): a direção deve desenvolver nos operários o espírito de harmonia e integração entre os funcionários da organização, para um trabalho em grupo. Fonte: Adaptado de Megginson, Mosley e Pietri (1998, p. 46). O estudo das funções gerenciais realizadas por Fayol orientou a evolução das demais atividades de organização e gestão da área de produção. Atividade de Estudos: 1) Na Engenharia da Produção precisamos trabalhar com modelos para realizar avaliações de processos, sistemas, projetos, etc. Faça uma análise sobre os 14 princípios apresentados por Fayol, analisando cada um deles na empresa em que você trabalha. 1. Divisão do trabalho: 2. Autoridade e responsabilidade: 3. Disciplina: 4. Unidade de comando: 5. Unidade de direção: 6. Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: 7. Remuneração: 8. Centralização: 9. Hierarquia: 10. Ordem: 11. Equidade: 12. Estabilidade do pessoal: 13. Iniciativa: O estudo das funções gerenciais realizadas por Fayol orientou a evolução das demais atividades de organização e gestão da área de produção. 17 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 14. Espírito de equipe (grupo): Qual foi a sua conclusão? _________________________ _____________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ No quadro a seguir, apresentamos uma avaliação comparativa entre o modelo científico de administração e o modelo clássico para que você possa compreender mais facilmente a diferença entre eles. Quadro 2- Diferenças entre administração científica e administração clássica ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA PRECURSOR Frederick Taylor Henri Fayol ORIGEM Chão de fábrica Gerência administrativa ÊNFASE Adoção de métodos racionais e padronizados. Máxima divisão de tarefas. Estrutura formal da empresa. Adoção de princípios adminis- trativos pelos altos escalões. ENFOQUE Produção Gerência Fonte: Ferreira, Reis e Pereira (1997, p. 25). c) Produção seriada – Ford Com a evolução dos conhecimentos dentro da fábrica, Henri Ford buscou tornar os produtos mais acessíveis à população em geral. Desenvolveu o conceito de produção em massa, criando em 1914 uma linha de montagem para produção de automóveis. Conforme Megginson, Mosley e Pietri (1998), as contribuições de Ford foram muito importantes para a industrialização moderna, das quais citamos: • adoção da linha de montagem; • intercambialidade de peças e de partes; • montagem simplificada; • redução do ciclo de tarefas executadas por um operário; • divisão das tarefas (trabalho físico / mental); 18 Gestão de processos de produção • criação da figura do engenheiro industrial (Planejamento e Controle da Produção - PCP); • uma tarefa para cada trabalhador; • trabalho para redução do esforço humano; • foco no aumento de produtividade; • diminuição dos custos, barateando os produtos; • aumento do volume produzido. Figura 1- Linha de montagem da Ford Fonte: Disponível em: <http://www.ensp.unl.pt/lgraca/history_ cars_jakob_highres.jpg>. Acesso em: 3 mar. 2010. d) Toyotismo Após a segunda Guerra Mundial, no Japão, Taiichi Ohno desenvolveu uma nova forma de pensar e trabalhar o processo de produção, incorporando novos conceitos à produção. Esse sistema foi chamado de Toyotismo, também conhecido como modelo Toyota de produção, e foi desenvolvido utilizando conceitos de produzir somente o necessário, em pequenos lotes, baixos estoques (flexibilização da produção) e com qualidade total. Analisando os conceitos desenvolvidos por Monden (1984) e Shingo (1996), identificamos as principais características do Toyotismo como sendo: • Qualificação dos trabalhadores, tornando-os polivalentes em diversas funções e áreas diferentes do sistema produtivo da empresa. Esse sistema foi chamado de Toyotismo, também conhecido como modelo Toyota de produção, e foi desenvolvido utilizando conceitos de produzir somente o necessário, em pequenos lotes, baixos estoques (flexibilização da produção) e com qualidade total. 19 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 • Flexibilização da produção de modo a produzir apenas o necessário, focando a redução ao mínimo de estoques intermediários e de processos. • Automatização das linhas de produção, permitindo ao operador desligar toda a linha de produção caso ocorresse qualquer problema no processo. • Just-in-time (apenas a tempo): desenvolveu-se a cultura de se produzir apenas o que estava vendido, não se produzindo para estoque. • Uso de controle visual (Kanban - etiqueta ou cartão) em todo o processo de produção, acompanhando e controlando o processo produtivo de todas as etapas até o produto final. • O trabalho em equipe se tornou o foco para reduzir tempos produtivos e melhorar a qualidade do processo. • Implantação do conceito de Controle de Qualidade Total (CQT), em que todos os trabalhadores da produção são responsáveis pela qualidade do produto. Atividade de Estudos: 1) Faça uma comparação entre os modelos Fordista e Toyotista de produção. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Você verificou que existem muitos elementos desses modelos que utilizamos ainda hoje dentro de nossas fábricas. Na Engenharia de Produção, precisamos conhecer as diversas formas de administrar a produção para que possamos desenvolver modelos adequados para as nossas indústrias. No próximo tópico, você estudará a evolução temporal da Administração Industrial. 20 Gestão de processos de produção A Linha do Tempo da Evolução na Administração Industrial São muitas as mudanças que ocorreram desde os primórdios da industrializaçãoaté os dias de hoje. Muitos dos métodos e conceitos que estamos utilizando atualmente em nossas empresas têm raízes nas diversas escolas da Administração, as quais trouxeram contribuições mais ou menos significativas para a administração moderna. Vemos hoje o Engenheiro de Produção envolvido em diversas frentes de trabalho, mas uma das mais importantes é a gestão da inteligência organizacional e dos processos de gestão empresarial. Devido a esse cenário, percebemos a importância de estudar a história da evolução dos sistemas produtivos. Peter F. Drucker (apud FALCONI, 2009, p. 23) descreve que “os fatores tradicionais de produção – terra, mão-de-obra e até dinheiro, pela sua mobilidade – não mais garantem vantagem competitiva a uma nação em particular. Ao invés disso, o gerenciamento tornou-se o fator decisivo de produção”. Podemos ver essa evolução nos sistemas de gestão e em sua forma de abordagem nas figuras 2 e 3, a seguir, as quais apresentam as principais metodologias relacionadas à produção e o ano aproximado de sua divulgação. Figura 2 - Evolução das abordagens administrativas Fonte: Megginson, Mosley e Pietri (1998, p. 42). Peter F. Drucker (apud FALCONI, 2009, p. 23) descreve que “os fatores tradicionais de produção – terra, mão-de-obra e até dinheiro, pela sua mobilidade – não mais garantem vantagem competitiva a uma nação em particular. Ao invés disso, o gerenciamento tornou-se o fator decisivo de produção”. Tempo Preocupação da administração com a produção 1. Abordagem por tentativa-e-erro 2. Abordagem Científica 3. Abordagem Comportamental 4. Abordagem Quantitativa 5. Abordagem Sistemática 6. Abordagem de Contingência Preocupação da administração com os subor- dinados e com relações humanas ÊNFASE MAIOR INÍCIO FUTURO 21 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 Para conhecer melhor as abordagens administrativas, você poderá aprofundar os seus conhecimentos nos seguintes livros: FERREIRA, Ademir Antonio; REIS, Ana Carla Fonseca; PEREIRA, Maria Isabel. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias - evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1997. MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando Piero. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. A figura 3 traz uma linha de tempo, demonstrando as diversas abordagens e as principais ferramentas e metodologias desenvolvidas para administração da produção. Esse material foi desenvolvido através do agrupamento de informações de diversas referências, sendo as principais citadas na fonte, porém as mais recentes são levantadas pelo ano aproximado de utilização em maior escala nos meios de produção. Figura 3 - Abordagens administrativas e ferramentas da produção Fonte: Adaptado de Morgan (1996); Ferreira, Reis e Pereira (1997); Martins e Laugeni (2005). Assim, diante de tantas abordagens, podemos entender que cada vez mais estaremos vivenciando a complexidade dos processos produtivos em nossas fábricas. Morgan (1996, p. 20) se sentiu perplexo diante dessa nova face da produção quando descreveu: 22 Gestão de processos de produção Vivemos em um mundo que está se tornando crescentemente complexo. Infelizmente, os nossos estilos de pensamento raramente acompanham essa complexidade. Frequentemente, terminamos por nos persuadir de que tudo é mais simples do que realmente é, lidando com a complexidade de forma a presumir que ela realmente não exista. Isso fica muito evidente pelo modo como modismos dominam as abordagens para a análise organizacional e resolução de problemas, caracterizando um interesse em um tipo de solução ou conjunto de técnicas que rapidamente dão lugar a outras. [...] as organizações são geralmente complexas, ambíguas e paradoxais. O real desafio é aprender a lidar com essa complexidade. Encontraremos visões parecidas com a de Morgan (1996) em Monden (1984), Ferreira, Reis e Pereira (1997), Megginson, Mosley e Pietri (1998), Martins e Laugeni (2005) e em outros autores, e é o que estamos sentindo atualmente dentro das fábricas. Assim, o engenheiro busca conciliar as necessidades fabris com a tecnologia disponível, com a mão de obra (competência e conhecimentos) e com as questões relacionadas à gestão. Atividade de Estudos: 1) Procure mais informações sobre o ambiente produtivo na época do Fordismo. Faça uma comparação com o que vivenciamos atualmente em nossas organizações. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 2) Analise a seguinte frase de Kaoru Ishikawa: “só é gerenciado aquilo que se mede”. Considerando os quatro modelos de administração, (Administração Científica, Clássica, Fordismo e Toyotismo), em qual delas a frase melhor se ajusta? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 23 A História da Evolução da Produção Capítulo 1 3) Correlacione as características apresentadas na primeira coluna com um dos quatro modelos de administração: (A) Administração Científica (C) Fordismo (B) Administração Clássica (D) Toyotismo ( )Seleção científica do trabalhador ( ) Just-in-time ( ) Hierarquia ( ) Kanban ( ) Autoridade e responsabilidade ( ) Uma tarefa para cada trabalhador ( ) Os gerentes são pagos para planejar e os operários para executar ( ) Unidade de comando ( ) Cria a figura do engenheiro industrial (Planejamento e controle da produção - PCP) ( ) Qualificação dos trabalhadores, tornando-os polivalentes em diversas funções e áreas diferentes do sistema produtivo da empresa. ( ) Supervisão no trabalho ( ) Adoção da linha de montagem ( ) Flexibilização da produção de modo a produzir apenas o necessário, focando a redução ao mínimo de estoques intermediários e de processos. ( ) Centralização Algumas Considerações O estudo deste capítulo evidenciou que, atualmente, verificamos dentro das organizações, nos processos produtivos, um misto dos modelos Fordista e Toyotista, mesmo que, muitas vezes, o responsável pelo desenvolvimento das linhas produtivas não conheça essas terminologias. Precisamos ficar atentos aos modismos que surgem a todo o momento para os gestores da produção, prometendo milagres em termos de melhoria de processos e produtividade. A perspectiva é muito promissora para os sistemas produtivos, pois estão despontando novas realidades com a evolução tecnológica, que age nos campos de máquinas produtivas, sistemas de automação produtiva e softwares de gestão. Entretanto, precisamos lembrar que quem está por trás de tudo isto são as “pessoas”. Precisamos de pessoas para acompanhar todas as evoluções dentro das empresas. 24 Gestão de processos de produção Quando você estiver envolvido em um projeto de estruturação industrial, ou de gestão, resgate os pontos importantes que estudamos. Aprofunde seus estudos para dirimir todas as suas dúvidas, pois aqui temos diversos pontos importantes que devemos considerar na vida profissional. No próximo capítulo, analisaremos as Estratégias de Produção e os Processos de Decisão, buscando entender como poderemos tomar decisões melhores dentro da produção. Referências FALCONI,Vicente. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009. FERREIRA, Ademir Antonio; REIS, Ana Carla Fonseca; PEREIRA, Maria Isabel. Gestão empresarial: de Taylor aos nossos dias - evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1997. MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando Piero. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MEGGINSON, Leon C.; MOSLEY, Donald C.; PIETRI, Paul H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Harbra, 1998. MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de produção. São Paulo: IMAM, 1984. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. SHINGO, Shigeo. Sistemas de produção com estoque zero: o sistema Shingo para melhorias contínuas. Porto Alegre: Bookman, 1996. CAPÍTULO 2 Estratégias de Produção e Processos de Decisão A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer as principais teorias relacionadas às questões estratégicas da produção, operações e decisões estratégicas na produção. 9 Compreender as principais ferramentas de apoio à decisão gerencial na produção. 9 Conhecer as boas práticas do gerenciamento dos processos de uma cadeia produtiva. 9 Conhecer conceitos básicos relacionados a projetos, utilizando como base a metodologia da PM – Project Management, conforme o PMBOK do Project Management Institute – PMI. 9 Identificar as melhores ferramentas a utilizar em um processo decisório na produção. 9 Trabalhar com as ferramentas de apoio à decisão e gerenciamento dos processos produtivos. 9 Desenvolver estratégias focadas nas boas práticas de produção. 26 Gestão de processos de produção 27 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Contextualização As estratégias de produção e operação são foco constante de estudo e aprimoramento dos gestores de produção, visto que tal área gera diversas dúvidas relacionadas aos processos produtivos: mão de obra, matéria-prima, gargalos de produção, automação industrial, manutenção, prioridades de produção, etc. Consequentemente, os gestores têm sido obrigados a tomar decisões importantes, referentes às mais diversas questões estratégicas do setor, para que possam atingir o sucesso na produção de bens e serviços nas organizações. A partir da visão holística do conjunto Boas Práticas da Produção e Operações, Estratégias de Produção e Processo Decisório, traçamos um caminho para o desenvolvimento da capacidade analítica do gestor, que age diretamente nos problemas vivenciados dentro da produção de nossas empresas, e para a formação de seu conhecimento, a fim de transformá-lo em um líder na organização. Para tanto, precisamos estudar e entender as estratégias de produção e operação, trabalhar com projetos e compreender o processo de tomada de decisão. Dessa forma, desenvolveremos nossa habilidade para tomar decisões mais acertadamente dentro da área produtiva e, assim, tornar-nos-emos profissionais essenciais para as organizações. Estratégias de Produção e Operação O trabalho dos gestores de produção dentro das fábricas tem se tornado cada vez mais complexo, devido aos diversos campos de ação em que estão envolvidos e as suas influências no resultado final esperado do setor. Como exemplo dessa complexidade, podemos citar os constantes processos nas fábricas de solução de conflitos imediatistas (popularmente conhecidos como “apagar o incêndio ou fogo”), os quais levam a decisões superficiais que não resolvem o problema, apenas o solucionam momentaneamente. Assim, para entendermos as questões estratégicas relacionadas à gestão da produção, precisamos inicialmente compreender o que está envolvido nesse processo, definido por Freitas (apud BATALHA, 2008, p.41) como sendo o “conjunto das ações de planejamento, gerenciamento e controle das atividades operacionais necessárias à obtenção de produtos e serviços oferecidos ao mercado consumidor”. Desse modo, no processo de gestão, merecem especial atenção a gestão da rotina da linha de produção e a gestão estratégica, que vai gerar novos resultados para a organização. Gestão da produção, definido por Freitas (apud BATALHA, 2008, p.41) como sendo o “conjunto das ações de planejamento, gerenciamento e controle das atividades operacionais necessárias à obtenção de produtos e serviços oferecidos ao mercado consumidor”. 28 Gestão de processos de produção O gerenciamento das rotinas tem tomado um tempo precioso dos gestores, o que reduz o tempo para pensar nas melhorias e nas estratégias de médio e longo prazo para a produção. Shingo (1996, p. xiii) descreve que “quanto mais gerentes de produção entenderem e apreciarem ‘funções da produção essenciais e abrangentes’, começaremos a observar melhorias e avanços significativos no desenvolvimento de sistemas de produção inovadores”. Dessa forma, concluímos que não será trabalhando a rotina de forma emergencial, que fará os gestores da produção melhorarem a produção de sua empresa. Costa (2007), ao descrever sobre estratégias, apresenta a visão tradicionalista de trabalhar, ainda muito presente no processo de gestão do setor produtivo, cujas ações são frequentemente reflexo do passado, conforme podemos ver na figura 4. Essa percepção se confirma a partir de expressões como “sempre foi assim” ou “em time que está ganhando não se mexe”. Contudo, falando-se de processos produtivos, precisamos investir constantemente na sua modernização e no aumento de sua produtividade. Não podemos mais ficar amarrados ao passado para justificar nossas ações. Figura 4 - Atitude tradicionalista Fonte: Costa (2007, p. 11). Precisamos desenvolver uma visão estratégica para administrarmos o setor produtivo de nossas empresas, como bem ilustra a figura 5. As decisões tomadas no passado devem servir como situação de aprendizado ao gestor. As projeções que influenciam os resultados da produção deverão ser trabalhadas no presente para que sejam atingidas as metas futuras referentes a exigências do setor e da organização. Figura 5 – Atitude estratégica Fonte: Costa (2007, p. 13). 29 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 A figura 6 condensa três tipos de mentalidade, ou seja, a imediatista, a operacional e a estratégica, com um horizonte de tempo de trabalho para o gestor da produção. O horizonte estratégico pode mudar de empresa para empresa, porém se recomenda, no mínimo, uma visão de 2 anos para trabalhar as estratégias de produção da empresa. Figura 6 – Mentalidade Imediatista, Operacional e Estratégica Fonte: Costa (2007, p. 15). Dentro de uma organização, a visão imediatista está relacionada a soluções com pouco ou nenhum estudo aprofundado sobre o problema e as suas causas. A mentalidade operacional, diferentemente da imediatista, analisa os processos buscando uma melhor solução para o problema, mas trabalha de forma a gerar também uma solução momentânea, não analisando as consequências no médio ou longo prazo. Por isso, é comum o ressurgimento do mesmo problema no futuro próximo. A busca da visão estratégica na produção é o foco deste tópico, para tanto, vamos desenvolver a atividade apresentada a seguir. Atividade de estudos: 1) Faça uma análise da forma trabalhada em relação à mentalidade imediatista e estratégica na empresa onde você trabalha ou de que você tenha algum conhecimento. Fale com seus colegas e tutores e promovam um debate sobre o tema, pois ele é muito importante para que as empresas possam melhorar a sua competitividade. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________30 Gestão de processos de produção Para conhecer melhor as atitudes imediatistas, operacional e estratégica, sugiro o livro: COSTA, Elieser Arantes da. Gestão estratégica: da empresa que temos para a empresa que queremos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Para desenvolver estratégias de produção, precisamos conhecer quais são os principais elementos que influenciam os resultados da produção em seu todo. Os seis principais focos de trabalho na gestão de produção nas empresas são: o produto; o sistema produtivo; pessoas; matéria-prima; sistema de informações; suporte, conforme podemos ver na figura 7. Figura 7 – Os seis influenciadores nas estratégias de produção. Fonte: O autor. Dentro de cada um desses campos de trabalho, são diversos os fatores que podem influenciar os resultados. No quadro 3, listamos alguns dos principais influenciadores para atingi-los. Os seis principais focos de trabalho na gestão de produção nas empresas são: o produto; o sistema produtivo; pessoas; matéria- prima; sistema de informações; suporte. 31 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Quadro 3 - Focos da gestão da produção INVENTOR Influenciadores Produto • Mix de produto • Dificuldades de fabricação Sistema Produtivo • Processos de fabricação • Máquinas e Equipamentos • Ferramental • Lotes de produção • Restrições / gargalos • Flexibilidade Pessoas • Motivação • Qualificação Matéria-prima • Lotes de aquisição • Prazo de entrega • Estocagem • Variedades Sistema de informações • ERP • CAD / CAM • Sistema dedicado de planejamento da produção e controle de produção Suporte • PCP • Qualidade • Compras • Financeiro • Tempos e métodos • Custos industriais • Manutenção • Layout Fonte: O autor. Assim, as estratégias de produção estão relacionadas a solucionar um ou mais problemas gerados em um dos seis focos de trabalho da gestão de produção. O profissional que busca alcançar alta performance na gestão da produção deverá desenvolver estratégias de médio e longo prazo para cada um desses focos. Conhecendo os seis focos das estratégias de produção, iremos, no próximo tópico, estudar o que fazer para gerar boas práticas no gerenciamento de processos. O profissional que busca alcançar alta performance na gestão da produção deverá desenvolver estratégias de médio e longo prazo para cada um desses focos. 32 Gestão de processos de produção As Boas Práticas do Gerenciamento dos Processos de uma Cadeia Produtiva De forma geral, a gestão das organizações, especialmente da sua cadeia produtiva, tem se tornado cada vez mais complexa, exigindo dos profissionais uma preparação cada vez maior. Nesse sentido, como sugere Drucker (apud FALCONI, 2009, p. 23), “os fatores tradicionais de produção – terra, mão de obra e até o dinheiro, pela sua mobilidade – não mais garantem a vantagem competitiva de uma nação em particular. Ao invés disso, o gerenciamento tornou-se o fator decisivo de produção”. Trabalhar o conceito de Boas Práticas Gerenciais é uma tarefa complexa, pois envolve diversos parâmetros, desde questões de cunho pessoal, conhecimentos técnicos até o comportamento da equipe de trabalho. Vamos conhecer alguns conceitos básicos para, a seguir, tratarmos do estudo das boas práticas. O primeiro conceito é o de Trabalho que, conforme Cusins (1994, p.6), “é o esforço dirigido para a obtenção de algum tipo de resultado”. O segundo conceito é o de trabalho operacional, definido como uma “tarefa realizada para colher resultados através de esforços próprios e não através de esforços de outros” (CUSINS, 1994, p.7). O trabalho de gerência é definido por Cusins (1994, p.7) como “o esforço de planejar, organizar, liderar, coordenar e controlar, a fim de assegurar resultados por meio de outros”. Na figura 8, temos uma representação das atividades do gerenciar. Figura 8 – As atividades do gerente. Fonte: Adaptado de Cusins (1994). Para Drucker, “os fatores tradicionais de produção – terra, mão de obra e até o dinheiro, pela sua mobilidade – não mais garantem a vantagem competitiva de uma nação em particular. Ao invés disso, o gerenciamento tornou-se o fator decisivo de produção”. 33 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Atividade de estudos: 1) Faça uma análise de como você desenvolve a atividade de gerenciar e preencha o quadro a seguir (se não for gerente ou um supervisor em sua empresa, avalie como você gerencia suas atividades diárias no local em que trabalha). ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Atividade Avaliação pessoal Acompanhar o passado Visualizar o futuro Acompanhar inter- namente Acompanhar exter- namente 34 Gestão de processos de produção Analise o que você escreveu no exercício anterior. Possivelmente, você verá que não é tão fácil assim trabalhar o gerenciamento eficaz. Muitas vezes, escutamos que é fácil gerenciar, que é somente dar ordens e ficar em uma sala com ar-condicionado, porém estamos falando de desenvolver as boas práticas e, consequentemente, gerar resultados diferentes para a organização. Adolpho J. Fernandes Junior (apud NÓBREGA, 2004) descreve que a gestão não deve ser de esforço, mas sim de resultado. Então, como vamos ter bons resultados se a todo instante somos chamados a “apagar um incêndio dentro da produção”? Para trabalharmos as boas práticas no gerenciamento de um processo produtivo, precisamos desenvolver seis pontos principais: Primeiro: nossa capacidade de gerir, de forma planejada, organizada, com liderança adequada, controlando as metas traçadas para o setor produtivo. Segundo: definir metas claras e objetivas a serem alcançadas pela produção. Falconi (2009, p.13), em seu último livro, O Verdadeiro Poder, descreveu os três fatores fundamentais para a obtenção de resultados em uma organização (vide figura 9) ou em qualquer iniciativa humana, que são os próximos pontos que compõem as boas práticas de gestão. Figura 9 – As atividades do gerente. MÉTODO LIDERANÇA CONHECIMENTO DO PROCESSO Fonte: Falconi (2009, p. 13). Assim a terceira prática a ser desenvolvida é a da liderança. Falconi (2009, p.13) aponta que a liderança é o fator mais importante a ser desenvolvido pelo gestor, pois “de nada adianta método ou conhecimento técnico se não existe liderança para fazer acontecer”. O autor é ainda mais ríspido ao falar sobre liderança quando expõe que “a única definição de liderança que interessa as organizações é: Liderar é bater metas consistentemente, com o time e fazendo certo” (FALCONI, 2009, p.14). Adolpho J. Fernandes Junior (apud NÓBREGA, 2004) descreve que a gestão não deve ser de esforço, mas sim de resultado. 35 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 O texto apresentado a seguir complementa a visão de Falconi para desenvolvimento da liderança nas pessoas. Boa leitura! Partindo do pressuposto de que a boa governança é condição fundamental do exercício da liderança, desenvolver o conteúdo da liderança, de acordo com a figura a seguir é: Figura10 - Modelo de agenda do líder (conteúdo da liderança) baseada na definição de liderança. Fonte: Falconi (2009, p. 14). 1. Criar um sistema que possa atribuir a todas as pessoas metas que sejam críveis e desafiadoras. Estas metas devem ser calculadas a partir de lacunas previamente identificadas. 2. Promover o domínio do método pela equipe com crescimento constante nas técnicas e recursos de análise, bem como num perfeito gerenciamento da rotina. 3. Promover a aquisição de conhecimento técnico pela equipe. 4. Garantir o estabelecimento e melhoria contínua de um sistema de recrutamento e seleção (padronizar o processo). Participar 36 Gestão de processos de produção do recrutamento e seleção de sua equipe. Selecionar, entre os recrutados, pessoas excepcionais e garantir um crescimento mais rápido para estes, permitidos por seu potencial mental, como definido por Maslow (algumas poucas pessoas excepcionais fazem a grande diferença em uma organização). 5. Participar das várias formas de treinamento de sua equipe, exercendo a função de professor em alguns casos. Estabelecer e melhorar continuamente um treinamento especial para pessoas excepcionais. Reconhecer que entre as pessoas excepcionais existem pouquíssimas super-excepcionais. Estas pessoas são imperdíveis e podem mudar a história de uma organização. Entender o processo de aprendizado humano e que o aprendizado de uma empresa é a somatória do aprendizado das pessoas. Entender o conceito de potencial mental humano como formulado por Maslow e a necessidade de que as pessoas tenham condições de aprender continuamente. Este aprendizado deve ser realizado, preferencialmente, por meio do método de solução de problemas, com metas bem estabelecidas. 6. Inspirar as pessoas. Nós não trabalhamos somente pelo dinheiro que recebemos. O ser humano gosta de realizar um sonho. Sonhe grande, promova o sonho e inspire as pessoas. Sonhar grande dá o mesmo trabalho que sonhar pequeno. 7. Fazer Coaching. Supervisionar a maneira de trabalhar de sua equipe e aconselhar, fazendo ajustes de procedimento. O coaching é um treinamento no trabalho. 8. Promover a meritocrácia. Garantir o estabelecimento de melhoria contínua de um sistema de avaliação do desempenho (padronizar o processo). Promover uma avaliação do desempenho de seu time de forma honesta e construtiva, dando feedback contínuo (pelo menos uma vez por ano). Demitir quando necessário. Afastar de 5 a 10% por ano daqueles mais mal avaliados do time, abrindo espaço para novos valores e dando a oportunidade para que os demitidos possam encontrar tarefas que amem fazer e nas quais possam ser mais felizes e valorizados. 9. Alinhar os sistemas das pessoas com os da organização por meio de um sistema de incentivos. 10. Cuidar da cultura predominante da organização, trabalhando no sentido de fixar valores que garantirão o seu futuro. Estes valores devem estar incluídos nos quesitos da avaliação do desempenho. 11. Promover uma cultura de alto desempenho, “esticando” as metas e atribuindo valor aos que a superam. 37 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 12. Promover a cultura de tomar decisões com base em fatos e dados. Incentive a prática da análise e da síntese como elemento principal do planejamento e fundamental no processo de aprendizado. Exija a apresentação das análises em suas reuniões. Valorize a honestidade intelectual. Valorize a busca da verdade contida nos fatos e dados. 13. Promover uma cultura de enfrentamento dos fatos que valoriza a verdade e não tem medo de ver os fatos como são. É a cultura na qual se espera que os gerentes comuniquem, para o time e para cima, não somente os bons resultados, mas também o que o que não está indo bem e precisa ser encarado como é, de tal modo que possa ser concertado. Uma cultura onde se valoriza a busca de fatos e dados para analisar eventos e não somente opinião e intuição. Esta Agenda do Líder, apresentada por Falconi, é fácil de listar, mas nem sempre é de simples implementação. Um aspecto importante é que essas coisas levam tempo para serem conseguidas e é por isso que penso que a liderança deve ser cultivada. Fonte: FALCONI, Vicente. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009. p. 14 -16. A liderança precisa ser praticada em todos os momentos. Precisamos entender que estamos lidando com pessoas, buscando o melhor delas para atingir os resultados. O quarto ponto a ser trabalhado é o conhecimento técnico do processo, pois como vamos gerir a produção de uma empresa se não temos conhecimento de causa do processo produtivo e dos assuntos correlacionados à produção? O engenheiro de produção e o gestor de produção precisam aprofundar o conhecimento dos processos produtivos da empresa, do produto, das máquinas, dos equipamentos, etc. O quinto ponto é o método, pois o gestor precisa desenvolver um método de trabalho, de análise e de solução de problemas. Esses dois últimos pontos são fundamentais para caracterizar um bom gestor da produção, o qual é constantemente cobrado sobre esses temas. Por último, temos o controle de resultado. Das seis atribuições para se chegar às boas práticas da gestão, o controle de resultado é consequência das cinco questões anteriores, pois o controle ocorre sobre o que foi planejado e executado nessas etapas. Assim, para realizarmos um controle efetivo, A liderança precisa ser praticada em todos os momentos. Precisamos entender que estamos lidando com pessoas, buscando o melhor delas para atingir os resultados. 38 Gestão de processos de produção precisamos de dois pontos fundamentais que são as metas a serem atingidas e as métricas que definem quais são os resultados esperados (figura 11). Figura 11 – Fatores de suporte ao controle. Fonte: O autor. As métricas também podem ser conhecidas, dentro das organizações, como índices de produtividade, indicadores. Métrica pode ser entendida, conforme Farris e colaboradores (2007, p.15), como “um sistema de mensuração que quantifica uma tendência, uma dinâmica ou uma característica”. Thomson (apud FARRIS et al., 2007, p.15) descreve que “quando você pode medir algo sobre o qual está falando e expressá-lo em números, você sabe alguma coisa; mas quando não consegue medir, quando não consegue expressar algo em números, seu conhecimento é escasso e insatisfatório.” Kaoru Ishikawa (apud FALCONI, 2009, p. 3) vai além e expressa que “só é gerenciado aquilo que se mede”. Dentro da produção, e principalmente nas estratégias que desenvolvemos para alcançar as nossas metas, existem diversas métricas que podemos utilizar para controle de nossos objetivos. Essas métricas podem ser abertas de forma diária, através da medição dos fatores relacionados à produção mensal e, até anual, dependendo do que estamos medindo. O processo de controle, para ser completo, precisa ser acompanhado do sistema de medição e do acompanhamento das métricas, bem como da ação sobre os pontos que estão fugindo dos objetivos esperados pelo gestor. Podemos ver esse processo completo na figura a seguir: CONTROLE METRAS MÉTRICAS O processo de controle, para ser completo, precisa ser acompanhado do sistema de medição e do acompanhamento das métricas, bem como da ação sobre os pontos que estão fugindo dos objetivos esperados pelo gestor. 39 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Figura 12 – Processo de controle Fonte: O autor. Esses seis pontos são os elementos essenciais para que você possa desenvolver as boas práticas no gerenciamento dos processos de uma cadeia produtiva e estão apresentados de forma sucinta na figura 13. Figura 13 – Seis focos para trabalhar as boas práticas da gestão da produção Fonte: O autor. Estude e analise detalhadamente este tópico para que você possa também dominar esses pontos e desenvolver as boas práticasda gestão de produção na sua empresa, tornando-se um profissional mais completo. 40 Gestão de processos de produção Conhecendo-se as boas práticas do gerenciamento dos processos de uma cadeia produtiva, vejamos o que precisamos fazer para desenvolver estratégias focadas nessas práticas. Vamos nos ocupar também em promovê-las em nossas indústrias. Desenvolvendo Estratégias Focadas nas Boas Práticas de Produção O desenvolvimento de estratégias produtivas em uma indústria está relacionado às ambições futuras da organização. Quanto maior é o horizonte de tempo visualizado para o futuro de uma organização, mais opções para criar o futuro o gestor tem para trabalhar. A figura 14 representa como pode ser a visão de trabalho de um gestor: • a primeira situação decorre do gerenciamento mediano ou, muitas vezes, abaixo da média, gerado pelo “acomodismo” da gestão das rotinas diárias, ou de curto prazo, dentro do setor produtivo; • a segunda situação decorre de quando o gestor busca trabalhar a efetividade do setor, ou seja, de apontar metas, de forma a criar novas condições de trabalho no setor produtivo. Essa diferença gerada entre uma situação de rotina e da efetividade é que chamamos de gestão das boas práticas produtivas. Falconi (2009) chama de gerenciamento pelas diretrizes. Figura 14 – Visão da vantagem competitiva para o gestor e da meta em relação à linha de produção. Fonte: Adaptado de Falconi (1996) 41 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Para conhecer melhor o gerenciamento por diretrizes, recomendamos a leitura de: FALCONI, Vicente. Gerenciamento pelas diretrizes. Belo Horizonte, MG: Fundação Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG, 1996. As consequências da figura 14 estão apresentadas na figura 15, cujos resultados da gestão são representados pela variável tempo versus resultados das ações, as quais são mostradas no gráfico através da área ocupada em cada situação. Analisando-o de forma prática, percebemos que as ações planejadas para os processos de médio e longo prazo geram resultados mais consistentes para a produção. Figura 15 – Do gerenciamento de rotina para a gestão estratégica. Fonte: O autor. Ao pensar as prioridades competitivas e as estratégias de produção, o gestor tem como foco principal quatro pontos, conforme Ritzman e Krajewski (2004): custo, qualidade, tempo e flexibilidade. Vamos acrescentar mais dois tópicos, os quais acreditamos complementar as questões estratégicas que o gestor deverá trabalhar no processo produtivo: produto e processo de produção. 42 Gestão de processos de produção Atividade de Estudos: 1) Faça uma análise sobre planejamento estratégico das atividades produtivas, comparando as figuras 14, 15 e as seis questões estratégicas. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Vamos estudar em detalhes cada uma dessas prioridades competitivas e as estratégias de produção que podemos utilizar. O importante a ser considerado pelo gestor que desenvolve as estratégias é que o material apresentado tenha os principais focos, a partir dos quais podem ser desenvolvidas estratégias para as boas práticas de produção. Contudo, podem surgir outras estratégias devido a condições específicas da empresa analisada. Muitas das estratégias apresentadas a seguir podem influenciar mais de um foco estratégico. a) Produto Tudo o que fazemos na produção tem o foco principal no produto. Assim, existem diversas estratégias relacionadas a produtos (veja o quadro a seguir) para as quais precisamos ficar atentos dentro de nossas empresas. 43 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 Quadro 4 - Estratégias relacionadas a Produtos Estratégias de Produção Relacionadas ao Produto 1.Tipo de produto 2. Mix de produtos 3. Inovação nos produtos 4. Projeto do produto 5. Dificuldades de fabricação 6. Automação da linha de produção 7. Máquinas equipamentos e linha de produção, etc. Fonte: O autor. As estratégias de produto são influenciadas por fatores como o projeto, já que é neste documento que são detalhadas muitas características que podem dificultar ou não a produção. Outro fator ligado ao projeto e às questões de mercado é a modernidade do produto. Tal característica pode ser responsável pela queda de vendas e, consequentemente, influencia no volume de produção da empresa. A relevância do produto para as organizações pode ser entendida a partir das considerações de Back e colaboradores (2008, p.159): “a importância do planejamento de produtos reside na necessidade de as organizações atuarem em mercados cada vez mais competitivos. A competitividade tem sido promovida, em grande parte, pela inovação em produtos, que precisa ser contínua e rápida”. O produto é um elemento muito importante para as estratégias de produção das organizações, o que exige grande atenção dos gestores. b) Processo de produção Definidas as questões relacionadas aos produtos, o segundo elemento mais importante dentro das estratégias produtivas são os processos de produção. Em uma visão macro, podemos dizer que todos os demais pontos estratégicos ligados à produção são influenciados pelos processos. Conforme Moreira (2008), os produtos são desenvolvidos conforme o processo produtivo das empresas e, em algumas situações, as empresas precisam adquirir novas competências para a sua produção. Os processos produtivos podem ser contínuos, intermitentes e de produção por grandes projetos. O produto é um elemento muito importante para as estratégias de produção das organizações, o que exige grande atenção dos gestores. 44 Gestão de processos de produção Quadro 5 - Estratégias relacionadas aos processos de produção Estratégias de produção relacionadas aos processos de produção 1. Processos de fabricação 2. Máquinas e Equipamentos (disponibilidade, layout, idade dos equipamentos, etc.) 3. Ferramental 4. Lotes de produção 5. Restrições / gargalos 6. Mão de obra (MOB) (Treinamento, rotatividade, experiência, etc.) 7. Capacidade produtiva x necessidade do mercado 8. Matéria-prima (abastecimento da matéria-prima, mudança de MP, etc.) 9. Espaço físico 10. Layout (produtivo, circulação, material secundário, etc.) 11. Logística interna 12. Terceirização 13. Planejamento da produção (PPCP) 14. Curva de experiência de produção 15. Padronização dos produtos e processos 16. Estudo de tempos e movimentos 17. Organização da produção 18. Processo de gestão Fonte: O autor. O quadro 5 apresenta algumas das principais estratégias que podem ser desenvolvidas em relação aos processos de produção, bem como elementos importantes na sua gestão. Retratando a complexidade relacionada aos processos produtivos, Martins e Laugeni (2005, p. 6) descrevem: As atividades desenvolvidas por uma empresa visando atender aos seus objetivos de curto, médio e longo prazo se inter- relacionam, muitas vezes, de forma extremamente complexa. Como tais atividades, na tentativa de transformar insumos, tais 45 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 como matérias-primas, em produtos acabados e/ou serviços, consomem recursos e nem sempre agregam valor ao produto final. É o objetivo da Administração da produção / operações a gestão eficaz dessas atividades. No capítulo 5, você perceberá que são muitos os fatores que influenciam o bom andamento e a operacionalizaçãodos processos produtivos, cujo desenvolvimento é um ponto primordial para o sucesso de um setor fabril. A curva de aprendizado em processos produtivos tem uma influência grande nos resultados do setor de produção. Veja como o texto a seguir aborda essa questão. Curva de Aprendizagem - Antecedentes Escala e aprendizagem são direcionadores de um projeto, apresentando características comuns. Quanto maior a escala de um projeto, maior a quantidade produzida e, quanto maior a quantidade produzida acumulada, maior o efeito de aprendizagem. Deve-se observar que o fenômeno aprendizagem já era conhecido desde, pelo menos, o século XVIII, quando a produção de relógios em quantidades crescentes permitiu que seu custo baixasse, o que barateou este produto para o mercado. Uma das primeiras observações quantificadas do efeito de aprendizagem foi feita pelo comandante da base aérea da Wright- Patterson, nos Estados Unidos, em 1925. Ele observou que o número total de horas para montar determinado modelo de avião decrescia com o número de aparelhos montados. Esta relação entre o custo da mão de obra direta e o número acumulado de aviões montados ficou conhecida como a CURVA DE APRENDIZAGEM. Na década de 1960, a empresa Boston Consulting Group (BCG), já em um contexto em que este fenômeno era geral, fez levantamentos que mostravam que, à medida que o volume acumulado de produção dobra, o custo total (administrativo, vendas, marketing, distribuição, manufatura, outros) cai de forma previsível 46 Gestão de processos de produção e constante. O BCG mudou o nome para curva de experiência, de modo que este nome ou curva de aprendizagem hoje são sinônimos. A CURVA DE APRENDIZAGEM OU DE EXPERIÊNCIA A Figura 16 permite visualizar uma curva de aprendizagem de 85%: Figura 16 - Curva de aprendizagem Fonte: O autor. Uma curva de aprendizagem de 85% implica que, cada vez que a produção acumulada dobra, o custo de produção cai para 85% do valor anterior. A curva de aprendizagem permite introduzir uma dinâmica na previsão de custos e que deve ser incorporada ao projeto. A fórmula para se fazer o cálculo com a curva de experiência é a seguinte: Cq = Cn (q/n) –b Onde: q = produção acumulada até a data. n = produção acumulada até a data anterior. Cq = o custo da unidade q em valor constante. Cn = o custo da unidade n em valor constante. b = uma constante que depende da taxa de aprendizagem. Por exemplo, no caso da curva 85%, o coeficiente b = 0,235 Para calcular este coeficiente, basta impor a condição de aprendizado na equação. No caso de aprendizado de 85%, tem-se: 47 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 85/100 = (2000/1000) –b 100/85 = (2) –b ln 0,85 = -b ln 2 -b = - 0,1625/0,6931 b = 0,235 A tabela seguinte contém alguns valores deste expoente: CURVA DE EXPERIÊNCIA (%) b 95 • 0,074 90 • 0,152 85 • 0,235 80 • 0,322 75 • 0,415 FONTES DO APRENDIZADO As reduções de custo não ocorrem por acaso, sendo o resultado de um processo consciente e constante de aperfeiçoamento. As causas mais comuns apontadas para o efeito experiência podem ser resumidas do seguinte modo: EFICIÊNCIA DO TRABALHO Com a repetição de uma mesma atividade ou tarefa, as pessoas melhoram o seu desempenho e procuram modos mais eficientes de realizar a tarefa. Este aprendizado, que pode ser aplicado a todas as áreas, acaba aumentando a eficiência de modo geral. Este efeito pode ser aumentado se houver um esforço direcionado pela empresa neste sentido, como já foi demonstrado pelos japoneses nos processos de produção enxuta, melhoria contínua, células de produção, processos de benchmarking e outros. ESPECIALIZAÇÃO E MELHORIA DOS MÉTODOS A especialização do trabalho aumenta a eficiência, como já era observado por Adam Smith no seu livro A riqueza das nações, com o exemplo da fábrica de alfinetes. Dividir uma operação em etapas e analisar como aumentar a eficiência em cada etapa é a base dos processos de melhoria de tempos e métodos. 48 Gestão de processos de produção NOVOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO A melhoria dos processos de produção é uma fonte importante de aprendizagem, sobretudo nas indústrias intensivas em capital. Esse é o caso da indústria de semicondutores e de circuitos integrados, que vem obtendo ganhos em curvas de experiência de 70% a 80%, sobretudo através de melhorias na tecnologia aplicada aos processos de design e desenvolvimento dos produtos, integrada aos processos de produção. Esta é a abordagem que a empresa Intel vem adotando com sucesso para o desenvolvimento e produção de microprocessadores, por exemplo. OBTENÇÃO DE DESEMPENHO MELHOR DOS EQUIPAMENTOS DE PRODUÇÃO Quando uma fábrica nova começa a operar, o rendimento dos equipamentos fica bem abaixo do esperado. A curva de aprendizagem da operação dos processos faz com que a eficiência aumente em um prazo previsível. Nas fábricas de celulose, esta curva de aprendizagem tem uma estimativa de chegar ao nível esperado de produção adequado em quatro anos. Depois, é possível que estes mesmos equipamentos tenham a sua capacidade de produção efetiva aumentada além da capacidade nominal prevista pelo fabricante à medida que as equipes testam os limites e descobrem modos inovadores para aumentar a produção. MUDANÇAS NO MIX DE INSUMOS Com o aumento da experiência, é possível alterar o mix de recursos, substituindo recursos mais caros por outros mais baratos. O caso mais comum é a substituição de mão de obra especializada por mão de obra mais barata, como tem acontecido com a migração das fábricas dos países desenvolvidos para os menos desenvolvidos (por exemplo, dos Estados Unidos e Japão para a China). PADRONIZAÇÃO DO PRODUTO A padronização dos componentes de um produto simplifica a operação e facilita o aprendizado ao longo de toda a cadeia de produção. O exemplo histórico mais citado é o da produção do Ford Modelo T: no período 1909-23, a padronização dos componentes e mais o aprendizado no novo conceito de linha de produção fez com que o preço pudesse ser reduzido em uma curva de experiência de 85%. Atualmente, a indústria automobilística procura reduzir o escopo 49 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 de produtos e trabalhar com blocos de componentes modulares, como é o caso da fábrica de caminhões tipo Consórcio Modular da Volkswagen em Resende, estado do Rio de Janeiro. REDESIGN DO PRODUTO Com a experiência, o consumidor e o produtor ganham uma compreensão melhor do uso e dos requerimentos do produto, o que permite um redesign mais funcional, frequentemente com ganhos no consumo de material e mesmo nos processos de produção. Os japoneses vêm demonstrando grande capacidade nesta área, sendo que os produtos copiados por eles, em um processo conhecido como engenharia reversa, são reprojetados, do que resulta praticamente um novo produto. Fonte: Woiler e Mathias (2008, p. 142-146). O conhecimento e detalhamento do processo de produção de um produto é um ponto muito importante para o sucesso de um gestor de produção. Geralmente, buscamos conhecer os processos produtivos: quanto mais detalhado for o seu estudo dentro de nossas empresas, melhores serão os resultados em relação à produtividade do setor. Um estudo detalhado dos processos pode ser obtido com os estudos desenvolvidos na área de Organização, Sistemas e Métodos (OSM), Tempos e Movimentos, etc. e pode nos auxiliar a definir melhor as estratégias de ação. Falconi (1992, p.1) descreve que: [...] no entanto, a experiência tem demonstrado que a situação brasileira no tocante à padronização não é boa: falta literatura e faltam educação e treinamento das pessoas que ocupam cargos de chefia. Nas raras empresas que se consideram padronizadas, este assunto tem sido relegado aos técnicos, quando de fato é um encargo essencialmente gerencial. 50 Gestão de processos de produção Figura 17 – Processos de produçãoFonte: Disponível em: <http://www.areaseg.com/ler/ler31.jpg>. Acesso em: 11 abr. 2010. c) Custo As estratégias relacionadas a custo, fator essencial para a sobrevivência de nossas organizações, estão diretamente relacionadas aos dois itens anteriores estudados, mas optamos por abordá-lo como um item separado em relação às estratégias produtivas. No quadro 6, apresentamos as principais estratégias a serem trabalhadas em custo. Os sistemas de custos, conforme Batalha (2008, p. 81), “podem ajudar a gerência da empresa basicamente de duas maneiras, auxiliando o controle e o processo de decisão”. Assim, as estratégias que trabalham os custos dentro da produção precisam ser relacionadas a melhorias da produtividade ou ações relacionadas à redução dos custos do produto final. Conforme descrito por Ritzman e Krajewski (2004, p.14), “muitas vezes a redução de custo requer investimentos adicionais”, os quais podem ser em novas instalações industriais, em processos produtivos, ferramentas de produção, organização da linha de produção, etc. Quadro 6 - Estratégias relacionadas a custos Estratégias de Produção Relacionadas aos Custos Produtivos 1. Melhorias nos produtos 2. Melhorias nos processos produtivos 3. Erros nos cálculos dos custos (às vezes os custos administrativos são altos e influenciam os preços finais dos produtos e tentam melhorar os custos de produção e não vão à raiz do problema) 4. Formas de rateio dos custos industriais diretos e indiretos As estratégias que trabalham os custos dentro da produção precisam ser relacionadas a melhorias da produtividade ou ações relacionadas à redução dos custos do produto final. 51 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 5. Metodologia de cálculo dos custos 6. Redução de preço das matérias-primas e insumos 7. Altos custos indiretos de produção 8. Operações de custo reduzido 9. Trocas de equipamento de baixa produtividade por alta produtividade Fonte: O autor. O quadro 6 nos apresenta os principais pontos relacionados à estratégia de formação de custo de um produto em uma organização. Atente para a importância dos custos e os focos estratégicos que o engenheiro de produção poderá desenvolver em seu trabalho nas fábricas. d) Qualidade Um elemento importante nas questões operacionais são as estratégias relacionadas à qualidade da empresa, assim como o custo. Devemos desenvolver elementos que garantam a qualidade final de nosso produto. Muitas vezes, as estratégias estão relacionadas a situações de “controle da qualidade”. Conforme Ritzman e Krajewski (2004, p.14), “qualidade é uma dimensão do produto ou serviço que é definida pelo cliente”. Lourenço Filho (1987, p.13) define-a como um “sistema amplo e complexo; abrange todos os setores da empresa, em um esforço comum e cooperativo; tem em vista estabelecer, melhorar e assegurar a qualidade da produção em níveis econômicos, para satisfazer os desejos dos consumidores”. Deming (apud MOREIRA, 2008, p.553), introduziu o conceito de “reação em cadeia, ligando qualidade, custos e rentabilidade”. Estes três elementos estão intimamente ligados ao sucesso de uma organização. Conforme Walton (apud MOREIRA, 2008, p.553): a) Melhorar a qualidade implica que os custos baixem pela diminuição do trabalho refeito, dos erros, atrasos e empecilhos e pelo melhor uso de materiais e do tempo das máquinas. Conforme Ritzman e Krajewski (2004, p.14), “qualidade é uma dimensão do produto ou serviço que é definida pelo cliente”. 52 Gestão de processos de produção b) O que por sua vez implica que a produtividade aumente. c) O que leva a conseguir o mercado com uma qualidade melhor e um preço mais baixo. d) Tornando, portanto, mais fácil à empresa ficar no negócio. e) Tendo como benefícios oferecer empregos e aumentar oferta. No quadro 7, apresentamos algumas estratégias relacionadas à qualidade que influenciam o resultado do processo produtivo. Quadro 7- Estratégias relacionadas à qualidade Estratégias de Produção Relacionadas à Qualidade 1. Consistência do sistema de qualidade na empresa 2. Treinamento da mão de obra para trabalhar com qualidade 3. Padrões de qualidade fora do esperado pelos clientes 4. Projeto do produto 5. Projeto do processo produtivo 6. Máquinas e equipamentos produzindo fora do padrão de qualidade exigido. 7. Ferramentas da qualidade (ISO 9000, FMEA, CEP, etc.) 8. Operações de custo reduzido 9. Trocas de equipamento de baixa produtividade por alta produtividade Fonte: O autor. Moreira (2008), Martins e Laugeni (2005), Ritzman e Krajewski (2004) descrevem que a qualidade de um produto pode ser definida através de duas condições básicas: pela conformação, ou seja, os processos de fabricação, ou pelo projeto, o qual, se bem elaborado, ajuda na qualidade final do produto. Muitas estratégias de produção são formuladas objetivando resolver estes dois focos de trabalho: custo e qualidade. Para tanto, os gestores precisam conhecer e desenvolver estratégias consistentes, de médio e longo prazo, as quais também podem envolver investimentos mais altos. e) Tempo, Prazo de entrega O tempo tem se tornado um fator de cobrança corriqueiro dentro das empresas. As vendas estão cada vez mais buscando atender aos clientes no menor prazo possível, o que tem gerado muitos problemas aos processos produtivos. Conforme Ritzman e Krajewski (2004, p. 16), são quatro os principais 53 Estratégias de Produção e Processos de DecisãoCapítulo 2 focos de cobrança em relação ao tempo: “prazo de entrega rápido; entrega pontual; velocidade de desenvolvimento; e concorrência baseada no tempo”. Considerando esses pontos, as principais estratégias relacionadas ao prazo de entrega estão apresentadas no quadro 8. Quadro 8 - Estratégias relacionadas a prazo de entrega Estratégias de Produção Relacionadas a Prazo de Entrega 1. Capacidade produtiva instalada 2. Mix de produtos e volume de vendas 3. Dificuldades de fabricação 4. Projeto do produto otimizado (engenharia simultânea, QFD, etc.) 5. Baixa produtividade 6. Máquinas, equipamentos e ferramentais inadequados 7. Set-up do processo Fonte: O autor. O prazo de entrega dos produtos é um fator muito importante para a competitividade das organizações, o que tem levado os engenheiros de produção a desenvolver diversos trabalhos nas linhas de produção das empresas, buscando uma melhor eficácia nas entregas. Atividade de Estudos: 1) Faça uma análise em seu ambiente de trabalho a fim de identificar os principais problemas relacionados ao prazo de entrega e possíveis soluções. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 54 Gestão de processos de produção f) Flexibilidade A flexibilidade da linha de produção está correlacionada à capacidade de entrega do mix de produtos que o mercado deseja. É importante destacarmos que nos referimos aqui a produtos customizados, diferenciados, o que requer atenção nas linhas de produção, projetadas para a produção de grandes lotes, mas não para um set-up rápido. Quadro 9- Estratégias relacionadas à flexibilidade da linha de produção Estratégias de Produção Relacionadas à Flexibilidade da Linha de Produção. 1. Set-up da linha de produção 2. Mix de produtos 3. Sistema de trocas rápidas de ferramentas 4. Linhas de produção flexíveis 5. Células de produção 6. Teoria das restrições (TOC – Livro a Meta) 7. Sistema de produção 8. Fornecimento de matéria-prima 9. Tamanhos de lotes de produção Fonte: O autor. As estratégias acima podem auxiliá-lo no processo de melhorar a flexibilidade na linha de produção de sua empresa e no livro A meta você tem material complementar
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