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Thaís Pires 1 DSTs – Cervicites e DIP 1) Cervicites a. Definição: o colo uterino é formado por dois epitélios: ESCAMOSO (ectocérvice) e GLANDULAR (endocérvice) – A cervicite/endocervicite mucopurulenta é a inflamação do epitélio COLUNAR ENDOCERVICAL, ou seja, DO EPITÉLIO GLANDULAR!! b. Agentes Etiológicos – os principais agentes são Chlamydia trachomatis e a Neisseria gonorrhoeae, embora também possa ser causada por Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealiticum, HSV, Trichomonas vaginalis, bactérias da flora vaginal. Quanto aos dois principais agentes, existem fatores predisponentes para a infecção: < 25 ANOS E SEXUALMENTE ATIVA; MÚLTIPLOS PARCEIROS; PARCEIROS COM IST; HISTÓRIA PRÉVIA DE IST; USO IRREGULAR DE PRESERVATIVOS. a. Neisseria gonorrhoeae – é um DIPLOCOCO GRAM NEGATIVO INTRACELULAR que apresenta tropismo pelo epitélio COLUNAR e TRANSICIONAL do trato geniturinário, embora também infecte faringe, conjuntiva e articulações. É, portanto, o AGENTE DAS URETRITES GONOCÓCICAS e um dos patógenos primários da DIP. b. Chlamydia trachomatis – é um BACILO GRAM NEGATIVO INTRACELULAR OBRIGATÓRIO que tem tropismo pelo epitélio da conjuntiva, da URETRA, ENDOCÉRVICE e TROMPAS. É, portanto, o agente mais comum das URETRITES NÃO GONOCÓCICAS e um dos patógenos primário da DIP. Há 17 SOROTIPOS dessa bactéria, sendo os D a K responsáveis pelas infecções GENITURINÁRIAS e os L1, L2, L2 pelo LINFOGRANULOMA VENÉREO! c. Quadro Clínico – apresenta-se ASSINTOMÁTICA em 70-80% dos casos, sendo o principal ponto não o quadro clínico momentâneo, mas sim as COMPLICAÇÕES FUTURAS! Um cervicite prolongada pode se estender ao ENDOMÉTRIO, TROMPAS, causando uma DIP + COMPLICAÇÕES – as principais complicações de uma cervicite não tratada são: DIP; GRAVIDEZ ECTÓPICA E INFERTILIDADE!!! Nos 20-30% dos casos sintomáticos, apresentam-se SINTOMAS GENITAIS LEVES como CORRIMENTO VAGINAL; DISPAREUNIA; DISÚRIA. À inspeção, o colo pode estar EDEMACIADO, apresentar SECREÇÃO MUCOPURULENTA, SANGRAR facilmente ao toque da espátula de Ayre. EM GESTANTES – há associação com PREMATURIDADE, RPM, RCIU, febre puerperal EM RN – a principal manifestação é a CONJUNTIVITE PURULENTA (oftalmia neonatal – pode levar a cegueira), embora também possa ocorrer septicemia, artrite, abscessos de couro cabeludo, pneumonia, meningite, endocardite, estomatite / Obs: a CONJUNTIVITE por clamídia é MENOS GRAVE!! d. Abordagem Etiológica – Vale lembrar que o CUSTO para identificar os agentes envolvidos nas cervicites é ALTO, por isso é comum que se faça o tto CONJUNTO para gonococo e clamídia! a. Cervicite por Gonococo – Cenário em que se tem auxílio laboratorial: na mulher, a sensibilidade é de apenas 30% para o método de COLORAÇÃO GRAM! Por isso, a via de escolha é a CULTURA DO GONOCOCO EM MEIO SELETIVO (Thayer-Martin Modificado) por meio de coletas cervicais... Além desse específico para o gonococo, pode-se utilizar BIOLÓGIA MOLECULAR (NAAT e CAPTURA HÍBRIDA) i. Sem Laboratório: a principal estratégia é o TTO DE HOMENS (PARCEIROS) PORTADORES DE URETRITE! ii. Oftalmia Neonatal Gonocócica – o método de COLORAÇÃO GRAM é altamente sensível e específico, sendo indicado para o esfregaço! Caso só esteja disponível o DIAGNÓSTICO CLÍNICO, toda criança com oftalmia neonatal deve receber TTO para GONOCOCO E CLAMÍDIA b. Cervicite por Clamídia – o diagnóstico definitivo é feito pela CULTURA EM CÉLULAS DE McCoy, que é pouco acessível e muito complexo; pela IMUNOFLUORESCÊNCIA DIRETA de material coletado. Para a população de baixo risco, ou seja, aquela população em que a suspeita de clamídia é difícil, os testes de triagem mais SENSÍVEIS são aqueles que detectam DNA NA AMOSTRA URINÁRIA!! Na triagem, Thaís Pires 2 deve-se priorizar as GESTANTES (pelos riscos de complicação) e as ADOLESCENTES (prevenir infertilidade futura) e. Abordagem Sindrômica – o protocolo de ISTs do MS não disponibiliza fluxograma f. Abordagem Terapêutica Thaís Pires 3 2) DIP Conceitos – Para configurar DIP, é preciso que os microorganismos ascendam pelo canal do colo uterino e passem pelo ORIFÍCIO INTERNO, que é o marco anatômico divisor entre TRATO GENITAL FEMININO SUPERIOR (TGFS) – INFERIOR!! Sendo assim, DIP é um CONJUNTO DE SINAIS E SINTOMAS (síndrome?) que ocorre quando há disseminação (espontânea ou por manipulação) de microorganismos no TGFS, sejam eles provenientes da vagina, sejam do endocérvice. Ao ascenderem, podem acometer ÚTEROS, OVÁRIOS, PERITÔNEO... A DIP é a principal complicação das ISTs!! Epidemiologia – Por ser uma das principais complicações das ISTs, a DIP, como é de se esperar, é comum (70% dos casos) em MULHERES JOVENS (15-25 anos), sendo o risco de desenvolver DIP 3x MAIOR nessa faixa etária. Vale destacar que a investigação epidemiológica de DIP é prejudicada por: • O diagnóstico depende da realização de testes LABORATORIAIS E IMAGEM que sejam simples, baratos e eficazes • Os CRITÉRIOS CLÍNICOS dificultam a definição de casos de DIP, uma vez que não há SINAIS PATOGNOMÔNICOS • Sistemas de notificação precários A mortalidade reduziu significativamente após o uso adequado dos antibióticos, porém a morbidade ainda é elevada, uma vez que a DIP apresenta COMPLICAÇÕES A LONGO PRAZO: • Infertilidade por FATOR TUBÁRIO – aumenta com o número de episódios • Aumento da incidência de GRAVIDEZ ECTÓPICA • Dispareunia e Dor pélvica crônica – 18% das acometidas!! Agentes Etiológicos – aqueles tidos como AGENTES PRIMÁRIOS (2/3 dos casos) são C. trachomatis e N. gonorrhoeae, embora seja entendido que o evento inicial da DIP é de caráter POLIMICROBIANO, principalmente no que diz respeito a BACTÉRIAS FACULTATIVAS ANAERÓBIAS (da própria flora vaginal). De uma forma geral, a DIP é um processo AGUDO, com exceção para aquelas causadas por TUBERCULOSE E ACTINOMICOSE, uma vez que são de caráter insidioso decorrente da disseminação hematogênica dos microorganismos (então NÃO SÃO SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS). Actinomyces israelli – mulheres que fazem uso de DIU Coinfecção por HIV tem os mesmos dois principais agentes etiológicos, o que muda é que existem outros tipos de INFECÇÃO CONCOMITANTE! (M.hominis, cândida, estreptococos, HPV) Fatores de Risco • Idade < 25 anos – adolescentes com vida sexual ativa apresentam 3x maior risco, uma vez que fatores BIOLÓGICOS + COMPORTAMENTAIS influenciam na aquisição do microorganismo – baixa prevalência de anticorpos para clamídia; muco cervical mais permeável; JEC mais externa • Início precoce da atividade sexual • Estado Civil – mais comum em mulheres solteiras, uma vez que tem maior probabilidade de apresentarem mais de um parceiro sexual • Estado Socioeconônimo – mais desfavorecidas são mais cometidas por DIP • Tabagismo/Alcoolismo/Drogas – cofatores imunossupressores • Múltiplos Parceiros Sexuais – possibilidade de salpingite aumenta de 4-6x • Parceiro Sexual Portador de Uretrite • História de IST ou DIP prévia/atual – pessoas com infecção por clamídia, micoplasma e/ou gonococo apresentam risco aumentado de DIP – até 30% DOS CASOS DE CERVICITE POR CLAMÍDIA evoluem para DIP • Vaginose Bacteriana – acredita-se que a coinfecção facilite a ascensão pelo trato genital Thaís Pires 4 • Métodos Contraceptivos – Métodos de barreira são PROTETORES contra DSTs e DIP; Anticoncepcionais Orais são contraditórios, pois o fármaco altera o muco cervical de forma a dificultar a ascensão pelo OI, porém o comportamento sexual é muito mais “ousado”; DIU apresenta risco maior nas 3 PRIMEIRAS SEMANAS APÓS A INSERÇÃO Fisiopatologia – Geralmente, a DIP inicia com uma CERVICITE por clamídia ou gonococo, que ascende pelo orifício interno e leva a uma INFECÇÃO POLIMICROBIANA NO TGFS! Os agentes etiológicos primários causam alterações BIOQUÍMICAS E IMUNOLÓGICAS, que favorecem a CHEGADA, INSTALAÇÃO E PROLIFERAÇÃO dos agentes secundários!! O processo de ascensãodos microorganismos pelo canal do colo é facilitado em dois períodos: PERIMENSTRUAL e PÓS MENSTRUAL IMEDIATO, uma vez que há ABERTURA DO COLO, FLUIDEZ DO MUCO (resposta estrogênica), SUCÇÃO DO CONTEÚDO VAGINAL pela contratilidade uterina. No endométrio - Todo o processo começa com uma ENDOMETRITE, que é caracterizada pela presença de PLASMÓCITOS no estroma endometrial – essa fase é a responsável por causar DOR À MOBILIZAÇÃO DO COLO + DOR INFRAUMBILICAL. O PRINCIPAL SINTOMA da DIP é a presença de DESCARGA VAGINAL PURULENTA acompanhada de DOR INFRAUMBILICAL + DOR EM TOPOGRAFIA ANEXIAL + DOR A MOBILIZAÇÃO DO COLO + FEBRE!!! Pode haver, ainda, uma manifestação com SINTOMAS ATÍPICOS, como sangramento uterino anormal (hipermenorreia ou metrorragia), dispareunia e, até mesmo, ASSINTOMÁTICA! Disseminação – Após a endometrite, o processo infeccioso pode se dirigir as TROMPAS, onde a Clamídia e o Gonococo irão causar LESÃO DIRETA E INDIRETA no epitélio ciliar, induzindo uma INTENSA REAÇÃO INFLAMATÓRIA = edema e infiltrado leucocitário → DOR A PALPAÇÃO DOS ANEXOS / A inflamação da superfície tubária pode acarretar a formação de ADERÊNCIAS, o que justifica a DOR PÉLVICA CRÔNICA em algumas pcts! Essas aderências podem, ainda, causar a OCLUSÃO DO LÚMEN TUBÁRIO ou a formação DE TRAVES → justifica a INFERTILIDADE POR FATOR TUBÁRIO (ambos) e a GRAVIDEZ ECTÓPICA (as traves). Em alguns casos, as fímbrias envolvem o ovário e causam um ABSCESSO TUBO-OVARIANO, que pode progredir para a CAVIDADE PERITONEAL. O conteúdo dos abscessos pode cair na cavidade e formar um ABSCESSO EM FUNDO DE SACO DE DOUGLAS, fase em que a pct apresenta SINAIS DE IRRITAÇÃO PERITONEAL!! Na infecção por Clamidia e Gonococo, podem haver pequenos abscessos na superfície hepática, causando a SÍNDROME DE FITZ-HUGH-CURTIS – na fase aguda, ela é caracterizada por EXSUDATO PURULENTO VISÍVEL NA CÁPSULA DE GLISSON → Na fase CRÔNICA, há ADERENCIAS DO TIPO CORDAS DE VIOLINO entre a parede abdominal anterior e a superfície hepática Diagnóstico – É difícil de ser realizado em função da grande VARIAÇÃO DE SINAIS SINTOMAS (até a ausência deles) e por não haver um DIAGNÓSTICO DEFINITIVO! Por isso, embora impreciso, geralmente o diagnóstico é BASEADO EM ACHADOS CLÍNICOS – ser bom o suficiente para detectar casos subclínicos e evitar antibioticoterapia em mulheres não infectadas. Não existe padrão ouro!! Critérios Diagnósticos – tradicionalmente são 3 MAIORES + 1 MENOR ou 1 CRITÉRIO ELABORADO Thaís Pires 5 CRITÉRIOS MAIORES – relacionados a dor CRITÉRIOS MENORES – alterações no EF e nos exames laboratoriais CRITÉRIOS ELABORADOS – alterações em procedimentos elaborados Sinais e Sintomas – Na fase inicial, é comum que seja ASSINTOMÁTICA. A medida que progride, há DESÂNIMO, FÁCIES DE SOFRIMENTO e ANSIEDADE. Disúria pode acontecer em 20% dos casos, corrimento genital purulento em 50% e a febre em 30-40% dos casos. Dor pélvica que exacerba com a palpação; mobilização do colo dolorosa Thaís Pires 6 TTO – deve ser iniciado IMEDIATAMENTE para jovens sexualmente ativas, com dor ou desconforto pélvico que PREENCHAM OS CRITÉRIOS CLÍNICOS para DIP!
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