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APG 26 - INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

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1 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Objetivo 
1. Entender a epidemiologia, agentes etiológicos, 
fatores de risco, mecanismos de transmissão, 
fisiopatologia, manifestações clínicas e formas de 
diagnóstico das ISTs. 
Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) 
 Muitas pessoas com IST não buscam tratamento porque são 
assintomáticas (a maioria) ou têm sinais e sintomas leves e não 
percebem as alterações. As pessoas sintomáticas podem preferir 
tratar-se por conta própria ou procurar tratamento em farmácias ou 
junto a curandeiros tradicionais (BRASIL, 2022). 
↠ As principais manifestações clínicas das IST são: 
corrimento vaginal, corrimento uretral, úlceras genitais e 
verrugas anogenitais. Embora possam sofrer variações, 
essas manifestações têm etiologias bem estabelecidas, o 
que facilita a escolha e a realização dos testes para o 
diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2022). 
CORRIMENTO VAGINAL CORRIMENTO URETRAL ÚLCERAS GENITAIS 
Trichomonas vaginalis Neisseria gonarrhoeae Chamydia tracomatis 
Candida albicans Mycoplasma sp. Herpes simples 
Gardinerella vaginalis Chamydia tracomatis Treponema pallidum 
 Haemophilus ducryu 
 Klebsiella granulomatis 
 
Corrimento vaginal 
↠ O corrimento vaginal é uma queixa comum, que 
ocorre principalmente na idade reprodutiva. Em serviços 
que atendem com frequência casos de IST, é o principal 
sintoma referido pelas mulheres atendidas; entre 
gestantes, é o primeiro ou segundo motivo da consulta, 
após verruga anogenital (BRASIL, 2022). 
As infecções do trato reprodutivo – ITR são divididas em: 
• Infecções endógenas (candidíase vulvovaginal e vaginose 
bacteriana); 
• Infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto); 
• IST (tricomoníase, infecção por C. trachomatis e N. 
gonorrhoeae). 
 A mulher pode apresentar concomitantemente mais de uma 
infecção, ocasionando, assim, corrimento de aspecto inespecífico 
(BRASIL, 2022). 
↠ A vulvovaginite e a vaginose representam as causas 
mais comuns de corrimento vaginal patológico, sendo 
responsáveis por inúmeras consultas. São afecções do 
epitélio estratificado da vulva e/ou vagina, cujos agentes 
etiológicos mais frequentes são fungos, principalmente 
Candida albicans; bactérias anaeróbicas, em especial 
Gardnerella vaginalis; e o protozoário Trichomonas 
vaginalis (BRASIL, 2022). 
 O termo vaginite é o diagnóstico dado às mulheres que se 
apresentam com queixas de leucorreia vaginal anormal acompanhada 
de queimação, irritação ou prurido vulvar (HOFFMAN et al., 2014). 
 Vaginose bacteriana é o desequilíbrio da flora vaginal 
caracterizado pela substituição da flora microbiana saudável (dominada 
por Lactobacillus) por microbiota variável, composta por mistura de 
bactérias anaeróbias e facultativas (FERNANDES, 2018). 
TRICOMONÍASE 
↠ Vulvovaginite menos frequente nos dias atuais, a 
tricomoníase é causada por um protozoário flagelado 
unicelular, o Trichomonas vaginalis, e parasita com mais 
frequência a genitália feminina que a masculina (BRASIL, 
2022). 
Epidemiologia 
↠ Tricomoníase é a infecção sexualmente transmissível 
não viral mais comum no mundo. De acordo com a 
Organização Mundial de Saúde, existem 
aproximadamente 170 milhões de casos reportados 
anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos, a maioria 
(92%) em mulheres de países em desenvolvimento 
(FERNANDES, 2018). 
Diferentemente de outras DSTs, alguns estudos mostram que sua 
incidência parece aumentar com a idade da paciente. A tricomoníase 
é mais comumente diagnosticada em mulheres, uma vez que a maioria 
dos homens é assintomática. No entanto, até 70% dos parceiros 
masculinos de mulheres com tricomoníase vaginal terão tricomonas 
no seu trato urinário (HOFFMAN et al., 2014). 
 O Trichomonas vaginalis tem predileção pelo epitélio 
escamoso, e as lesões podem facilitar o acesso para outras espécies 
sexualmente transmissíveis (HOFFMAN et al., 2014). 
Mecanismos de transmissão 
↠ O parasita Trichomonas vaginalis possui quatro flagelos 
e uma membrana ondulante, responsável por sua grande 
mobilidade. A transmissão é predominantemente sexual, 
embora raramente possam ocorrer outras formas, pois o 
parasita pode sobreviver fora de seu habitat por algumas 
horas em condições de umidade (FERNANDES, 2018). 
 Deve adquirir nutrientes do meio externo para sua 
sobrevivência e consegue isso fagocitando fungos, vírus e bactérias 
como Micoplasmas, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, 
transportando-os ao trato genital superior e facilitando, assim, o 
aparecimento de doença inflamatória pélvica. É importante cofator na 
transmissão e aquisição do HIV (FERNANDES, 2018). 
Fatores de risco 
↠ Como nas demais infecções de transmissão sexual, a 
incidência depende de vários fatores como idade, 
2 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
atividade sexual, número de parceiros sexuais, sexo 
desprotegido, outras ISTs e condições socioeconômicas 
(FERNANDES, 2018). 
 A resposta imune celular ao Trichomonas vaginalis 
pode ser agressiva, com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice 
em mulheres e da uretra em homens. Ocorre intensa infiltração de 
leucócitos, incluindo os da linhagem TCD4, que são alvo do HIV. Ao 
penetrar na vagina, o parasita cobre-se com as proteínas do 
hospedeiro, o que permite a evasão dos mecanismos de defesa locais; 
além disso, possui a capacidade de sobreviver no meio vaginal ácido, 
hostil, durante longos períodos de tempo, permanecendo firmemente 
ligado às células da mucosa vaginal (FERNANDES, 2018). 
 A infecção do trato genital feminino pelo protozoário 
não induz imunidade duradoura, sendo comuns as infecções 
recorrentes (FERNANDES, 2018). 
Quadro clínico 
↠ Seus sinais e sintomas característicos consistem em 
corrimento vaginal intenso, amarelo-esverdeado, por 
vezes acinzentado, bolhoso e espumoso, acompanhado 
de odor fétido (na maioria dos casos, lembrando peixe) e 
prurido eventual, que pode constituir reação alérgica à 
afecção (BRASIL, 2022). 
 
↠ Em caso de inflamação intensa, o corrimento aumenta 
e pode haver sinusiorragia e dispareunia. Também podem 
ocorrer edema vulvar e sintomas urinários, como disúria 
(BRASIL, 2022). 
 Não há complicações sérias na mulher na grande maioria dos 
casos, mas a tricomoníase pode propiciar a transmissão de outros 
agentes infecciosos agressivos, facilitar DIP, VB e, na gestação, quando 
não tratada, pode evoluir para rotura prematura das membranas 
(BRASIL, 2022). 
 Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual 
devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da hemoglobina 
pelo parasita, o que aumenta sua virulência (FERNANDES, 2018). 
↠ No exame especular, percebem-se microulcerações 
que dão ao colo uterino um aspecto de morango ou 
framboesa (teste de Schiller “onçoide” ou “tigroide”). A 
transudação inflamatória das paredes vaginais eleva o pH 
para 6,7 a 7,5 e, nesse meio alcalino, pode surgir variada 
flora bacteriana patogênica, inclusive anaeróbica; por 
conseguinte, se estabelece a vaginose bacteriana 
associada, que libera as aminas de odor fétido, além de 
provocar bolhas no corrimento vaginal purulento (BRASIL, 
2022). 
 
Diagnóstico 
↠ O diagnóstico laboratorial microbiológico mais comum 
é o exame a fresco, mediante gota do conteúdo vaginal 
e soro fisiológico, com observação do parasita ao 
microscópio. Habitualmente, visualiza-se o movimento do 
protozoário, que é flagelado, e um grande número de 
leucócitos (BRASIL, 2022). 
 
↠ O pH quase sempre é maior que 5,0. Na maioria dos 
casos, o teste das aminas é positivo. À bacterioscopia com 
coloração pelo método de Gram, observa-se o parasita 
Gram-negativo, de morfologia característica. A cultura 
pode ser requisitada nos casos de difícil diagnóstico 
(BRASIL, 2022). 
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL 
↠ Candida albicans é o agente etiológico da candidíase 
vulvovaginal – CVV em 80% a 92% dos casos, podendo 
o restante ser devido às espéciesnão albicans (glabrata, 
tropicalis, krusei, parapsilosis) e Saccharomyces cerevisae 
(BRASIL, 2022). 
Epidemiologia 
↠ Durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mulheres 
serão colonizadas por Candida spp., de forma 
assintomática, sem requerer tratamento (BRASIL, 2022). 
↠ Estima-se que 75% das mulheres em idade 
reprodutiva apresentarão pelo menos um episódio de 
3 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
vulvovaginite por Candida sp. durante suas vidas; 50% 
apresentarão dois ou mais episódios e 5% terão episódios 
recorrentes, ou seja, quatro ou mais episódios por ano, 
confirmados clínica e laboratorialmente (FERNANDES, 
2018). 
Mecanismos de transmissão 
 A colonização vaginal por fungos parece ser hormônio-
dependente, já que é rara na infância e pós-menopausa e frequente 
na idade reprodutiva ou em mulheres em uso de terapia hormonal. 
Condições que alterem a concentração hormonal como gravidez e 
uso de contraceptivos de alta dosagem facilitam a proliferação dos 
fungos. A ingestão de antibióticos atua no mesmo sentido, 
provavelmente por alterar a flora protetora lactobacilar (FERNANDES, 
2018). 
↠ Quando o sistema imune não consegue inibir a 
proliferação dos fungos, ocorre a passagem do estado 
saprófita para o patogênico, com consequente 
aparecimento de sinais e sintomas. É importante lembrar 
que a concentração de fungos associada aos sintomas é 
diferente para cada mulher, já que existem diferenças 
individuais de resposta imune. Assim, baixa concentração 
pode levar ao aparecimento de sintomas em uma mulher, 
enquanto outra, mesmo tendo concentração elevada dos 
microrganismos, pode permanecer assintomática 
(FERNANDES, 2018). 
 Tais diferenças individuais têm sido melhor 
compreendidas devido a recentes estudos na atuação da imunidade 
local. Um dos componentes do sistema imune é a proteína “lectina 
ligadora de manose”, presente nos fluidos corporais e na secreção 
vaginal, possuindo a capacidade de reconhecer e ligar-se ao 
polissacarídeo manose que está presente na superfície dos 
microrganismos (inclusive na Candida sp.). Tal ligação desencadeia a 
cascata do sistema complemento, levando à lise celular e à fagocitose. 
Ou seja, a lectina ligadora de manose representa importante 
componente imune no combate às infecções fúngicas. Entretanto, um 
polimorfismo no gene que determina a secreção da mesma resulta 
em menor secreção e consequente diminuição nas concentrações 
dessa proteína; mulheres que possuem tal polimorfismo apresentam 
com maior frequência episódios de candidíase vulvovaginal recorrente 
(FERNANDES, 2018). 
Fatores de risco 
 
Quadro clínico 
↠ O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza-
se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por 
corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com 
aspecto de “leite talhado”); dependendo da intensidade do 
processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, 
dor, disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, é 
frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras 
(FERNANDES, 2018). 
 
 
 A CVV classifica-se em CVV não complicada e CVV complicada. 
É considerada não complicada quando presentes todos os critérios a 
seguir: sintomas leves/moderados, frequência esporádica, agente 
etiológico C. albicans e ausência de comorbidades. Por outro lado, 
considera-se CVV complicada quando presente pelo menos um dos 
seguintes critérios: sintomas intensos, frequência recorrente (CVVR), 
agente etiológico não albicans (glabrata, kruzei), presença de 
comorbidades (diabetes, HIV) ou gestação (BRASIL, 2022). 
Diagnóstico 
↠ Clinicamente, a paciente pode referir os seguintes 
sinais e sintomas diante de uma CVV clássica: prurido, 
ardência, corrimento geralmente grumoso, sem odor, 
dispareunia de introito vaginal e disúria externa. Os sinais 
característicos são eritema e fissura vulvares, corrimento 
grumoso, com placas de cor branca aderidas à parede 
4 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
vaginal, edema vulvar, escoriações e lesões satélites, por 
vezes pustulosas pelo ato de coçar (BRASIL, 2022). 
 
↠ Para a citologia a fresco, utiliza-se soro fisiológico e 
hidróxido de potássio a 10%, a fim de visibilizar a presença 
de hifas e/ou esporos dos fungos. Além disso, a CVV está 
associada a pH normal vaginal (<4,5) (BRASIL, 2022). 
↠ O teste das aminas (whiff test) é negativo na 
candidíase (FERNANDES, 2018). 
VAGINOSE BACTERIANA 
↠ A vaginose bacteriana – VB é a desordem mais 
frequente do trato genital inferior entre mulheres em 
idade reprodutiva (gestantes ou não) e a causa mais 
prevalente de corrimento vaginal com odor fétido. Está 
associada à perda de lactobacilos e ao crescimento de 
inúmeras bactérias, bacilos e cocos Gram-negativos 
anaeróbicos, com predomínio de Gardnerella vaginalis 
(BRASIL, 2022). 
Epidemiologia 
↠ A vaginose bacteriana é uma das infecções vaginais 
mais prevalente entre as mulheres sexualmente ativas, 
responsável por 40 a 50 % dos casos de vulvovaginites 
(DUARTE et al., 2019). 
Mecanismos de transmissão 
↠ Gardnerella vaginalis é uma bactéria que faz parte da 
flora vaginal normal sendo detectada em torno de 20 a 
80% das mulheres sexualmente ativas. Quando, por um 
desequilíbrio dessa flora, ocorre um predomínio dessa 
bactéria (segundo alguns autores em associação com 
outros germes como bacteróides, mobiluncus, 
micoplasmas etc), temos um quadro que convencionou-
se chamar de vaginose bacteriana (DUARTE et al., 2019). 
Fatores de risco 
↠ Não se sabe que fator desencadeia o distúrbio da flora 
vaginal normal. Supõe-se, no entanto, que haja influência 
da alcalinização repetida da vagina, decorrente de coitos 
frequentes ou do uso de duchas vaginais (BEREK, 2014). 
Quadro clínico 
↠ Sem lactobacilos, o pH aumenta e a Gardnerella 
vaginalis produz aminoácidos, os quais são quebrados 
pelas bactérias anaeróbicas da VB em aminas voláteis 
(putrescina e cadaverina), levando ao odor desagradável, 
particularmente após o coito e a menstruação (que 
alcalinizam o conteúdo vaginal), o que constitui a principal 
queixa da paciente (BRASIL, 2022). 
 A VB aumenta o risco de aquisição de IST (incluindo o 
HIV), e pode trazer complicações às cirurgias ginecológicas e à 
gravidez (estando associada a ruptura prematura de membranas, 
corioamnionite, prematuridade e endometrite pós-cesárea). Quando 
presente nos procedimentos invasivos, como curetagem uterina, 
biopsia de endométrio e inserção de dispositivo intrauterino – DIU, a 
VB aumenta o risco de doença inflamatória pélvica – DIP (BRASIL, 
2022). 
Diagnóstico 
↠ A afecção é facilmente identificada ao exame 
especular, que mostra as paredes vaginais em sua maioria 
íntegras, marrons e homogêneas ao teste de Schiller, 
banhadas por corrimento perolado bolhoso em 
decorrência das aminas voláteis (BRASIL, 2022). 
Se a microscopia estiver disponível, o diagnóstico é realizado na 
presença de pelo menos três critérios de Amsel: (BRASIL, 2022). 
• Corrimento vaginal homogêneo; 
• pH >4,5; 
• Presença de clue cells (células guia) no exame de lâmina a 
fresco; 
• Teste de Whiff positivo (odor fétido das aminas com adição 
de hidróxido de potássio a 10%). 
↠ O padrão-ouro é a coloração por Gram do fluido 
vaginal. Quantifica-se o número de bactérias e lactobacilos 
patogênicos, resultando em um escore que determina se 
há infecção (BRASIL, 2022). 
↠ O pH dessas secreções é maior que 4,5 (em geral, 
de 4,7 a 5,7). O exame microscópico das secreções 
vaginais mostra um número elevado de células-alvo e 
notável ausência de leucócitos. Em casos avançados de 
VB, mais de 20% das células epiteliais são células-alvo. O 
acréscimo de KOH às secreções vaginais (o teste das 
aminas) libera um odor de peixe, teste das aminas 
(BEREK, 2014). 
VULVOVAGINITE AGENTE 
ETIOLÓGICO 
CORRIMENTO ODOR pH AMINAS MICROSCOPIA 
Candidíase C. 
albicans 
Branco 
grumoso 
Não 
característico 
Menor 
que4 
Negativo Hifas e 
esporos 
5 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Tricomoníase T. 
vaginalis 
Abundante, 
amarelo 
esverdeado 
Fétido Maior 
que 
4,5 
Positivo Protozoários 
flagelados 
móveis 
Vaginose 
bacteriana 
G. 
vaginalis 
Acinzentado, 
homogêneo, 
cremoso ou 
fluído 
Fétido Maior 
que 
4,5 
Positivo Clue cells, 
ausência de 
lactobacilos 
 
Corrimento uretral 
↠ As uretrites são caracterizadas por inflamação e 
corrimento uretral. Os agentes microbianos das uretrites 
podem ser transmitidos por relação sexual vaginal, anal e 
oral (BRASIL, 2022). 
↠ O corrimento uretral costuma ter aspecto de mucoide 
a purulento, com volume variável, estando associado a 
dor uretral (independentemente da micção), disúria, 
estrangúria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral e 
eritema de meato uretral (BRASIL, 2022). 
↠ Entre os fatores associados às uretrites, foram 
encontrados: idade jovem, baixo nível socioeconômico, 
múltiplas parcerias ou nova parceria sexual, histórico de 
IST e uso irregular de preservativos (BRASIL, 2022). 
 Os agentes etiológicos mais frequentes das uretrites são 
Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Outros agentes, como 
Trichomonas vaginalis, Ureaplasma urealyticum, enterobactérias (nas 
relações anais insertivas), Mycoplasma genitalium, vírus do herpes 
simples (HSV, do inglês Herpes Simplex Virus), adenovírus e Candida 
sp. são menos frequentes (BRASIL, 2022). 
URETRITE GONOCÓCICA 
↠ É um processo infeccioso e inflamatório da mucosa 
uretral, causado por Neisseria gonorrhoeae (diplococo 
Gram-negativo intracelular) (BRASIL, 2022).
 A Neisseria gonorrhoeae (NG), agente etiológico da gonorreia de 
transmissão sexual, é uma bactéria diplococos Gram-negativa, não 
flagelada, não formadora de esporos, encapsulada, e anaeróbia 
facultativa (FERNANDES, 2018). 
Epidemiologia 
↠ A gonorreia apresenta prevalência muito menor que 
a Chlamydia, porém atinge cerca de 1% a 2% da 
população feminina (FERNANDES, 2018). 
↠ A gonorreia é uma DST, permanecendo como um 
problema de saúde pública em todo o mundo. A sua 
importância é significativa, pois pode acarretar sequelas, 
como infertilidade, gravidez ectópica, DIP, trabalho de 
parto prematuro ou prematuridade (FERNANDES, 2018). 
Mecanismos de transmissão 
↠ O risco de transmissão de um parceiro infectado a 
outro é, em média, 50% por ato sexual (BRASIL, 2022). 
↠ O período de incubação costuma ser de dois a cinco 
dias após a infecção (BRASIL, 2022). 
ETIOPATOGÊNESE 
• Adesão: N. gonorrhoeae adere às células das mucosas, 
mediadas pelo Pili, OPA e outras proteínas de superfície; 
• Invasão: os microrganismos são pinocitados por células que 
os transportam da mucosa ao espaço subepitelial; 
• Endotoxina (LOS): prejudica a motilidade ciliar e contribui 
para a destruição das células ciliares; 
• LOS: dano celular e invasão da submucosa por neutrófilos, 
formação de abscessos e exsudação de material purulento; 
• Disseminação do gonococo: devido à incapacidade dos 
anticorpos e à falha do sistema 
 
 
Fatores de risco 
↠ Os fatores de risco para pacientes portadoras de 
gonococos com infecção potencial do trato reprodutivo 
superior são as seguintes: (HOFFMAN et al., 2014). 
• idade igual ou inferior a 25 anos; 
• presença de outras infecções sexualmente 
transmissíveis; 
• antecedente de infecção por gonococos; 
• parceiro sexual recente ou múltiplos parceiros; 
• prática sexual sem preservativos; 
• compartilhamento de seringas ou objetos 
cortantes com resíduo de sangue; 
• profissionais do sexo. 
Quadro clínico 
↠ Os sinais e sintomas são determinados pelos locais 
primários de infecção: membranas mucosas da uretra 
(uretrite), endocérvice (cervicite), reto (proctite), faringe 
(faringite) e conjuntiva (conjuntivite) (BRASIL, 2022). 
↠ A infecção uretral no homem é assintomática em 
menos de 10% dos casos. Nos casos sintomáticos, há 
6 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
presença de corrimento em mais de 80% e de disúria 
em mais de 50% (BRASIL, 2022). 
↠ Nas mulheres, a uretrite gonocócica é frequentemente 
assintomática (BRASIL, 2022). 
↠ O corrimento mucopurulento ou purulento é 
frequente. Raramente, há queixa de sensibilidade 
aumentada no epidídimo e queixas compatíveis com 
balanite (dor, edema, prurido, hiperemia da região 
prepucial, descamação da mucosa e, em alguns casos, 
material purulento e de odor desagradável no prepúcio) 
(BRASIL, 2022). 
 As complicações no homem ocorrem por infecção ascendente 
a partir da uretra, podendo ocasionar orquiepididimite, prostatite e 
estenose de uretra (BRASIL, 2022). 
CERVICITE 
Em decorrência do processo inflamatório desencadeado, a cervicite 
por NG costuma ser quase sempre muito mais exuberante e 
sintomática. Os sinais inflamatórios mais importantes são: (FERNANDES, 
2018). 
• Exsudato purulento ou mucopurulento endocervical visível 
no canal endocervical ou em uma amostra de swab 
endocervical (vulgarmente designado por “cervicite 
mucopurulenta” ou cervicite); 
• Sangramento endocervical facilmente induzido pela 
passagem suave de um cotonete ou escovinha através do 
orifício endocervical. Um ou ambos os sinais podem estar 
presentes. O colo fica edemaciado e aumenta seu volume, 
ficando com aspecto congesto. 
 
Diagnóstico 
Neisseria gonorrhoeae é um cocobacilo gram-negativo que invade as 
células epiteliais colunares e transicionais, passando para o meio 
intracelular. Por essa razão, o epitélio vaginal não é envolvido 
(HOFFMAN et al., 2014). 
↠ Para a identificação do gonococo estão disponíveis os 
testes NAAT que substituíram a cultura na maioria dos 
laboratórios. Anteriormente as amostras ideais eram 
coletadas da ectocérvice ou da uretra. Entretanto, novos 
testes NAAT estão disponíveis para coletas específicas 
de vagina, ectocérvice ou urina. Para as mulheres 
submetidas à histerectomia (sem colo uterino), coleta-se 
amostra da primeira urina da manhã. Para aquelas com 
colo uterino, amostras coletadas por swab vaginal são tão 
sensíveis e especificas quanto aquelas obtidas com swab 
cervical (HOFFMAN et al., 2014). 
URETRITE NÃO GONOCÓCICA 
 É a uretrite sintomática em que a bacterioscopia pela coloração 
de Gram, cultura e detecção de material genético por biologia 
molecular são negativas para o gonococo (BRASIL, 2022). 
↠Vários agentes têm sido responsabilizados por essas 
infecções, como Chlamydia trachomatis, Mycoplasma 
genitalium, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, 
Trichomonas vaginalis, entre outros (BRASIL, 2022). 
Mycoplasma sp. 
↠ Os micoplasmas e os ureaplasmas são bactérias cuja 
maioria das espécies é considerada apenas comensal para 
o ser humano. Entretanto, o Ureaplasma urealyticum e o 
Mycoplasma hominis são conceituados como 
micoplasmas genitais patogênicos e são considerados 
também germes oportunistas, por causarem infecção em 
populações suscetíveis, principalmente em 
imunodeprimidos (FERNANDES, 2018). 
 Esses patógenos estão associados a infecções urogenitais em 
humanos e a infecções respiratórias ou sistêmicas em neonatos 
(FERNANDES, 2018). 
Epidemiologia 
↠ Os micoplasmas podem ser encontrados em até 8% 
e 41% em mulheres assintomáticas sexualmente ativas. 
Estão claramente relacionados à atividade sexual e aos 
hormônios sexuais (FERNANDES, 2018). 
↠ O M. hominis faz parte da flora vaginal e uretral de 
cerca de 20 a 50% de homens e mulheres sexualmente 
ativos, sendo que esse percentual aumenta na puberdade 
e à medida que se estabelecem relações com mais 
parceiros (SANARFLIX). 
↠ Atualmente, o M. genitalium tem se mostrado o mais 
importante causador de uretrites não gonocócicas e não 
clamídicas em homens e responsável por 1 a 6% das 
infecções em mulheres (SANARFLIX). 
Fatores de risco 
↠ Os principais fatores de risco associados ao 
micoplasma são idade até 22 anos, tabagismo, relações 
sexuais recentes e múltiplos parceiros sexuais (PASSOSet al., 2023). 
7 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Quadro clínico 
↠ Cerca de 50% das mulheres são assintomáticas. 
Quando sintomáticas, apresentam sinurragia, cervicite, 
sangramentos de escape e endometrite. Pode apreentar 
febre ou pielonefrite após cateterismo uretral ou 
citoscopia (SANARFLIX). 
 A infecção por Mycoplasma hominis também pode ser 
a causa do aumento do risco de aborto espontâneo e infertilidade, 
com aumento de aproximadamente duas vezes no risco para 
mulheres infectadas (PASSOS et al., 2023). 
DIAGNÓSTICO: A cultura do M. genitalium é extremamente lenta, 
podendo levar meses, motivo pelo qual não é utilizada na prática clínica. 
Mulheres com cervicite recorrente devem ser testadas com teste de 
detecção do organismo por PCR ou outros testes de NAAT e, se 
disponíveis, devem ser realizados testes moleculares para marcadores 
de resistência aos antimicrobianos (macrolídeos e quinolonas). As 
amostras devem ser, preferencialmente, primeira urina da manhã ou 
esfregaço vaginal (PASSOS et al., 2023). 
Chlamydia trachomatis 
↠ A infecção por clamídia no homem é responsável por 
aproximadamente 50% dos casos de uretrite não 
gonocócica. A transmissão ocorre pelo contato sexual 
(risco de 20% por ato), sendo o período de incubação, 
no homem, de 14 a 21 dias. Estima-se que dois terços das 
parceiras estáveis de homens com uretrite não 
gonocócica hospedem a C. trachomatis na endocérvice. 
Estas podem reinfectar sua(s) parceria(s) sexual(ais) e 
desenvolver quadro de DIP se permanecerem sem 
tratamento (BRASIL, 2022). 
↠ Chlamydia trachomatis é uma bactéria Gram-negativa, 
intracelular obrigatória (FERNANDES, 2018). 
↠ A infecção por CT é a mais comum IST causada por 
bactéria em todo o mundo, superando a infecção 
gonocócica e a sífilis (FERNANDES, 2018). 
Epidemiologia 
↠ A infecção é seguramente a mais frequente na 
população feminina (variando de 2% a 30%), com alto 
grau de morbidade e potencial de complicação (de 
trabalho de parto prematuro, endometrite puerperal, DIP 
aguda, esterilidade conjugal e dor pélvica crônica) 
(FERNANDES, 2018). 
Fatores de risco 
↠ Os fatores de risco relacionados são: (SANARFLIX) 
• idade menor que 25 anos; 
• multiplicidade de parceiros ou parceiro novo nos 
últimos 90 dias; 
• solteiros; 
• uso inconsistente de métodos de barreira; 
• ectopia de colo uterino (por maior exposição do 
epitélio); 
• menor nível de escolaridade e socioeconômico, 
• história de IST prévia. 
Quadro clínico 
↠ A uretrite não gonocócica caracteriza-se, 
habitualmente, pela presença de corrimentos mucoides, 
discretos, com disúria leve e intermitente. A uretrite 
subaguda é a forma de apresentação em 
aproximadamente 50% dos pacientes com uretrite 
causada por C. trachomatis (BRASIL, 2022). 
 Entretanto, em alguns casos, os corrimentos das uretrites não 
gonocócicas podem simular, clinicamente, os da gonorreia (BRASIL, 
2022). 
↠ As uretrites causadas por C. trachomatis podem 
evoluir para prostatite, epididimite, balanite, conjuntivite 
(por autoinoculação) e síndrome uretro-conjuntivo-
sinovial ou síndrome de Reiter (BRASIL, 2022). 
CERVICITE 
Quase sempre é assintomática em 70%. Quanto às manifestações 
clínicas da cervicite clamidiana, elas são discretas e frequentemente 
passam despercebidas. Quando apresenta quadro clínico, podem 
ocorrer: colo edemaciado (volume aumentado), hiperemiado, com 
mucorreia (eventualmente purulenta), friável (sangra fácil ao toque); 
acentuação do ectrópio (mácula rubra), dor no ato sexual e à 
mobilização do colo uterino ao exame ginecológico (FERNANDES, 
2018). 
↠ Quando sintomáticos, podem apresentar: (SNARFLIX) 
• Cervicite em 50% das portadoras, com colo uterino 
friável e sangrante em coleta endocervical e com 
secreção mucopurulenta. 
 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
• Uretrite, com sintomas semelhantes à infecção 
urinária, evidenciando-se piúria na análise da urina, 
com cultura negativa. 
• Doença inflamatória pélvica (DIP) e hidrossalpinge, 
quando a infecção ascendo o trato genital superior 
em cerca de 15-30% das mulheres, quando não 
tratada 
• Salpingite, em 7%, sendo que 10 a 40% das 
infertilidades por obstrução tubária são por clamídia. 
Diagnóstico 
↠ A análise microscópica das secreções em preparado 
salino em geral revela 20 ou mais leucócitos por campo 
microscópico. Como exames mais específicos, cultura, 
NAAT e ensaio imunoenzimático (Elisa) estão disponíveis 
para amostras ectocervicais. A alternativa mais utilizada é 
um teste combinado para gonococo e clamídia 
(HOFFMAN et al., 2014). 
 Assim como ocorre para gonorreia, surgiram novos kits de 
NAAT que permitem coletas seletivas de vagina, endocérvice ou urina. 
Os swabs com material de vagina são tão sensíveis e específicos 
quanto os de colo uterino (HOFFMAN et al., 2014). 
IMPORTANTE: Se for diagnosticada C. trachomatis ou houver suspei- ta, 
recomenda-se rastreamento para outras DSTs (HOFFMAN et al., 2014). 
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS PARA URETRITES SINTOMÁTICAS 
Uma vez reconhecidos os sinais e sintomas clínicos de uretrite, devem-
se executar os testes diagnósticos apropriados. Devido às taxas de 
resistência, é fundamental priorizar testes que identifiquem o agente 
infeccioso, principalmente em casos de reinfecção. Segue a descrição 
dos métodos diagnósticos incorporados ao SUS: (BRASIL, 2022). 
Detecção de clamídia e gonococo por biologia molecular: método com 
elevada sensibilidade e especificidade. Além de definir o agente 
etiológico para os casos de infecções sintomáticas, consiste no método 
de escolha para o rastreio de infecções assintomáticas; 
Bacterioscopia: a coloração de Gram é um método rápido e possui 
bom desempenho para o diagnóstico de gonorreia em homens 
sintomáticos com corrimento uretral. A infecção gonocócica é 
estabelecida pela presença de diplococos Gram-negativos 
intracelulares em leucócitos polimorfonucleares. Em mulheres, no 
entanto, o esfregaço de secreções cervicais detecta apenas 40% a 
60% das infecções. Isso ocorre porque a flora vaginal é densa e a 
identificação dos diplococos Gram-negativos pode ficar comprometida. 
Outra razão para essa baixa sensibilidade pode ser o número reduzido 
de gonococos nos esfregaços de amostras da endocérvice ou falha 
técnica na coleta. O diagnóstico de pessoas assintomáticas por 
microscopia não é recomendado. 
Úlceras genitais 
↠ As úlceras genitais representam síndrome clínica, 
sendo muitas vezes causadas por IST, e se manifestam 
como lesões ulcerativas erosivas, precedidas ou não por 
pústulas e/ou vesículas, acompanhadas ou não de dor, 
ardor, prurido, drenagem de material mucopurulento, 
sangramento e linfadenopatia regional (BRASIL, 2022). 
 Embora a úlcera genital esteja frequentemente associada as IST 
na população sexualmente ativa, em particular nos adolescentes e 
adultos jovens, a queixa de ulcera genital não é exclusividade das IST 
e pode estar associada a infecções inespecíficas por fungos, vírus ou 
bactérias (ex.: dermatoses bolhosas, como o penfigo, o eritema 
multiforme e a dermatite de contato) (BRASIL, 2022). 
 Os aspectos clínicos das úlceras genitais são bastante 
variados e têm baixo poder preditivo do agente etiológico (baixa 
relação de sensibilidade e especificidade) mesmo nos casos 
considerados clássicos (BRASIL, 2022). 
LINFOGRANULOMA VENÉREO 
↠ O LGV é causado por Chlamydia trachomatis, sorotipos 
L1, L2 e L3 (BRASIL, 2022). 
↠ Também conhecido por linfogranuloma inguinal, mula, 
bubão ou doença de Nicolas-Favre, caracteriza-se pelo 
aparecimento de lesão genital (lesão primária) de curta 
duração e que se apresenta como ulceração (ferida) ou 
pápula (FERNANDES, 2018). 
 Assim como o cancro mole, o LGV tem baixíssima 
prevalência em nosso meio, sendo diagnóstico de exceção 
(FERNANDES, 2018). 
Fatores de risco 
↠ É uma doença linfoproliferativa, que apresenta como 
fatores de risco: múltiplos parceirossexuais, a 
soropositividade para o HIV e sexo anal (SANARFLIX). 
TRANSMISSÃO: contato sexual. 
Quadro clínico 
↠ A manifestação clínica mais comum é a linfadenopatia 
inguinal e/ou femoral, já que esses sorotipos são 
altamente invasivos aos tecidos linfáticos (BRASIL, 2022). 
↠ A evolução da doença ocorre em três fases: 
inoculação, disseminação linfática regional e sequelas, que 
são descritas a seguir: (BRASIL, 2022). 
• Fase de inoculação: inicia-se por pápula, pústula ou 
exulceração indolor, que desaparece sem deixar 
sequela. Muitas vezes, não é notada pelo paciente e 
raramente é observada pelo profissional de saúde. 
Localiza-se, no homem, no sulco coronal, frênulo e 
prepúcio; na mulher, na parede vaginal posterior, colo 
uterino, fúrcula e outras partes da genitália externa. 
• Fase de disseminação linfática regional: no homem, a 
linfadenopatia inguinal se desenvolve entre uma e seis 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
semanas após a lesão inicial; é geralmente unilateral 
(em 70% dos casos) e se constitui no principal motivo 
da consulta. Na mulher, a localização da adenopatia 
depende do local da lesão de inoculação. 
• Fase de sequelas: o comprometimento ganglionar 
evolui com supuração e fistulização por orifícios 
múltiplos, que correspondem a linfonodos 
individualizados, parcialmente fundidos em uma 
grande massa. A lesão da região anal pode levar a 
proctite e proctocolite hemorrágica. O contato 
orogenital pode causar glossite ulcerativa difusa, com 
linfadenopatia regional. Podem ocorrer sintomas 
gerais, como febre, mal-estar, anorexia, 
emagrecimento, artralgia, sudorese noturna e 
meningismo. 
 
 
ATENÇÃO: Os bubões que se tornarem flutuantes podem ser aspirados 
com agulha calibrosa, não devendo ser incisados cirurgicamente. A 
obstrução linfática crônica leva à elefantíase genital, que na mulher é 
denominada estiomene. Também podem ocorrer fístulas retais, 
vaginais e vesicais, além de estenose retal (BRASIL, 2022). 
Diagnóstico 
O diagnóstico de LGV deve ser considerado em todos os casos de 
adenite inguinal, elefantíase genital e estenose uretral ou retal. Muitas 
vezes, o diagnóstico se dá por exclusão: vírus herpes simples 1 e 2 
(HSV-1 e HSV-2), C. trachomatis (sorovariantes L1, L2, L2a, L2b e L3) 
e Klebsiella granulomatis podem depender da exclusão do diagnóstico 
de sífilis (T. pallidum) e cancroide (Haemophilus ducreyi), associado à 
história de exposição ao risco e a sinais e sintomas clínicos (PASSOS 
et al., 2023). 
↠ Um diagnóstico definitivo de LGV pode ser feito 
apenas com testes moleculares específicos para LGV (p. 
ex., genotipagem baseada em reação em cadeia da 
polimerase [PCR, polymerase chain reaction]). Contudo, 
esses testes não estão amplamente disponíveis, e os 
resultados, em geral, não são entregues em um período 
que influenciaria o manejo clínico. Portanto, o diagnóstico 
é baseado na suspeita clínica, nas informações 
epidemiológicas e na exclusão de outras etiologias para 
proctocolite, linfadenopatia inguinal ou úlceras genitais, 
orais ou retais (PASSOS et al., 2023). 
↠ Lesões genitais ou orais, espécimes retais e espécimes 
de linfonodos (esfregaço de lesão ou aspirado de bubão) 
podem ser testados para C. trachomatis por PCR ou 
cultura (PASSOS et al., 2023). 
 O CDC recomenda o teste de PCR como abordagem preferida, 
já que pode detectar cepas LGV e cepas não LGV de C. trachomatis 
(PASSOS et al., 2023). 
Microimunofluorescência: método mais sensível no diagnóstico da 
doença, capaz de detectar anticorpos específicos aos diferentes 
sorotipos (FERNANDES, 2018). 
HERPES GENITAL 
↠ Os HSV tipos 1 e 2 pertencem à família Herpesviridae, 
da qual fazem parte o citomegalovírus – CMV, o vírus da 
varicela zoster, o vírus Epstein-Barr e o vírus do herpes 
humano (BRASIL, 2022). 
 Embora os HSV-1 e HSV-2 possam provocar lesões em 
qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais 
e do tipo 1 nas lesões periorais (BRASIL, 2022). 
Epidemiologia 
↠ O herpes tem alta prevalência e número significativo 
de infecções assintomáticas (mais de 30% dos 
infectados), porém, ainda assim, contagiosas e sem 
possibilidade de cura definitiva (PASSOS et al., 2023). 
↠ Estima-se que 11,9% das pessoas entre 14 e 49 anos 
estejam infectadas pelo HSV-2 nos Estados Unidos. A 
primoinfecção costuma apresentar-se com sintomas mais 
graves, inclusive sistêmicos (PASSOS et al., 2023). 
↠ A recidiva de herpes genital é frequente e geralmente 
causada pelo HSV-2, podendo chegar a mais de 80%, 
sendo mais comum no primeiro ano. Já a recidiva do 
HSV-1 fica em torno de 50%. Em pacientes HIV-positivos, 
o quadro clínico costuma ser mais grave (PASSOS et al., 
2023). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ A causa mais comum de úlcera genital é a herpes 
genital, principalmente pelo sorotipo HSV-tipo2 
(SANARFLIX). 
↠ Cerca de 50-90% dos adultos têm anticorpos 
circulantes contra HSV-tipo1; e 20-30% contra HSV-tipo2. 
Pacientes portadoras de HSV-tipo 2 têm mais chance de 
contrair o vírus HIV. Muitas pacientes são portadoras 
assintomáticas do vírus, porém contaminantes, o que 
dificulta o controle da doença (SANARFLIX). 
TRANSMISSÃO: A transmissão ocorre por contato sexual 
vaginal, oral ou anal, pela mucosa ou lesão infectante 
(SANARFLIX). 
Quadro clínico 
↠ As apresentações clínicas são divididas em 
primoinfecção, infecção não primária e infecção 
recorrente. Em geral, as mulheres apresentam episódios 
mais intensos na primoinfecção, com duas vezes mais 
propensão que os homens para terem sintomas 
sistêmicos. Nos pacientes soropositivos para HIV, as 
manifestações tendem a ser dolorosas, atípicas e de 
maior duração (PASSOS et al., 2023). 
PRIMOINFECÇÃO 
↠ A primoinfecção herpética tem um período de 
incubação médio de seis dias. Em geral, representa uma 
manifestação mais severa, caracterizada pelo surgimento 
de lesões eritemato-papulosas de um a três milímetros 
de diâmetro, que rapidamente evoluem para vesículas 
sobre base eritematosa, muito dolorosas e de localização 
variável na região genital (BRASIL, 2022). 
 
↠ O conteúdo dessas vesículas é geralmente citrino, 
raramente turvo. O quadro local na primoinfecção 
costuma ser bastante sintomático e, na maioria das vezes, 
é acompanhado de manifestações gerais, podendo cursar 
com febre, mal estar, mialgia e disúria, com ou sem 
retenção urinária. Em especial, nas mulheres, pode simular 
quadro de infeção urinária baixa (BRASIL, 2022). 
↠ A linfadenomegalia inguinal dolorosa bilateral está 
presente em 50% dos casos (BRASIL, 2022). 
↠ Quando o HSV acomete o colo do útero, é comum o 
corrimento vaginal, que pode ser abundante. Entre os 
homens, o acometimento da uretra pode provocar 
corrimento, sendo raramente acompanhado de lesões 
extragenitais. O quadro pode durar de duas a três 
semanas (BRASIL, 2022). 
 
INFECÇÃO NÃO PRIMÁRIA 
↠ Após a infecção genital, o HSV ascende pelos nervos 
periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células dos 
gânglios sensitivos e entra em um estado de latência. 
Nenhuma medida terapêutica reduz a ocorrência de 
infecção do gânglio sensitivo (BRASIL, 2022). 
 Episódios de recorrência são bem mais frequentes entre 
pacientes que apresentam primoinfecção por HSV-2 que por HSV-1. 
Após a infecção genital primária por HSV-2 ou HSV-1, 
respectivamente, 90% e 60% dos pacientes desenvolvem novos 
episódios nos primeiros 12 meses, por reativação viral. Essa reativação 
deve-se a quadros infecciosos, exposição à radiação ultravioleta, 
traumatismos locais, menstruação, estresse físico ou emocional, 
antibioticoterapia prolongada e/ou imunodeficiência (BRASIL, 2022). 
RECORRÊNCIAS 
↠ O quadro clínico das recorrências é menos intenso 
que o observado na primo-infecção e pode ser precedido 
de sintomas prodrômicos característicos, como prurido 
leve ou sensação de “queimação”,mialgias e “fisgadas” 
nas pernas, quadris e região anogenital (BRASIL, 2022). 
 
11 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ A recorrência tende a ocorrer na mesma localização 
da lesão inicial, geralmente em zonas inervadas pelos 
nervos sensitivos sacrais. As lesões podem ser cutâneas 
e/ ou mucosas. Apresentam-se como vesículas agrupadas 
sobre base eritematosa, que evoluem para pequenas 
úlceras arredondadas ou policíclicas. Nas mucosas, é 
incomum a visualização das vesículas, uma vez que seus 
tetos se rompem muito facilmente. Mais raramente, a 
ocorrência de lesões pode ser acompanhada de sintomas 
gerais (BRASIL, 2022). 
↠ As lesões regridem espontaneamente em sete a dez 
dias, com ou sem cicatriz. A tendência natural dos surtos 
é se tornarem menos intensos e menos frequentes com 
o passar do tempo (BRASIL, 2022). 
COMPLICAÇÕES: As complicações extragenitais mais 
comuns são meningite asséptica e retenção urinária por 
disfunção do sistema nervoso autônomo sacral. Contudo, 
elas são incomuns e normalmente ocorrem em 
primoinfecção ou em pacientes imunocomprometidos 
(PASSOS et al., 2023). 
 As gestantes com herpes simples apresentam risco acrescido 
de complicações fetais e neonatais, sobretudo quando a infecção 
ocorre no final da gestação. O maior risco de transmissão do vírus 
acontece no momento da passagem do feto pelo canal de parto. A 
infecção pode ser ativa (em aproximadamente 50% dos casos) ou 
assintomática. Recomenda-se a realização de cesariana sempre que 
houver lesões herpéticas ativas (BRASIL, 2022). 
Diagnóstico 
↠ Após a identificação de lesões sugestivas, o CDC 
orienta que o teste confirmatório seja realizado por teste 
virológico específico por NAAT ou cultura. No entanto, no 
Sistema Único de Saúde (SUS), os métodos citados não 
estão disponíveis, de modo que o diagnóstico é clínico 
(PASSOS et al., 2023). 
• Testes virológicos: Os HSV NAAT são os testes mais 
sensíveis e detectam o vírus em úlceras. Outro 
método disponível é o teste de PCR, ideal para 
pacientes com infecção de sistema nervoso central 
e infecções sistêmicas. Todavia, a não detecção pode 
ocorrer em lesões antigas ou na ausência de lesões 
ativas. A cultura tem sensibilidade de apenas 50% nas 
lesões genitais e exige que a amostra seja colocada 
diretamente em meios de cultura e seja rapidamente 
transportada para o laboratório. 
• Testes sorológicos: Os anticorpos específicos para o 
tipo de HSV se desenvolvem durante as primeiras 
semanas após a infecção e persistem 
indefinidamente. Em pacientes com teste sorológico 
positivo, o teste de anticorpos IgM não é útil para 
discriminar episódios primários e recorrentes de 
infecção por HSV. 
SÍFILIS 
↠ A sífilis é uma doença infecciosa causada pela bactéria 
Treponema pallidum (PASSOS et al., 2023). 
↠ Também conhecida por lues, cancro duro e 
protossifiloma, é uma doença infectocontagiosa, de 
evolução sistêmica (crônica) (FERNANDES, 2018). 
Epidemiologia 
↠ O Brasil vive um período de aumento de casos de 
sífilis. Esse aumento pode ser decorrente do aumento da 
notificação de casos de sífilis, que em 2010 passou a ter 
notificação compulsória. Em 2016, haviam 42,5 casos por 
100 mil habitantes (SANARFLIX). 
TRANSMISSÃO: se dá por meio de relação sexual 
desprotegida, transfusão de sangue ou compartilhamento 
de seringas com sangue contaminado e durante a 
gestação e o parto. Acredita-se que a transmissão sexual 
de T. pallidum ocorra apenas quando lesões sifilíticas 
mucocutâneas estão presentes. Tais manifestações 
clínicas da sífilis são incomuns após o primeiro ano de 
infecção (PASSOS et al., 2023). 
Quadro clínico 
↠ De acordo com o Ministério da Saúde, a sífilis é 
classificada da seguinte forma: (PASSOS et al., 2023). 
• Sífilis primária: Ocorre de 10 a 90 dias após a 
exposição (média de 3 semanas), caracterizando-se 
pela presença de cancro duro ou cancro de 
inoculação, uma úlcera indolor com bordos 
endurecidos no sítio de entrada da bactéria no 
organismo, rica em bactérias e acompanhada de 
linfonodos regionais. Essa lesão desaparece sozinha, 
independentemente do tratamento. 
 
• Sífilis secundária: Ocorre dentro de 6 semanas a 6 
meses após a cicatrização da lesão inicial, 
manifestando-se por manchas no corpo que, em 
12 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
geral, não coçam, incluindo as palmas das mãos e as 
plantas dos pés. São lesões ricas em bactérias que 
também desaparecem espontaneamente, trazendo a 
falsa impressão de cura. Além disso, podem ocorrer 
micropoliadenopatia, linfadenopatia generalizada, sinais 
constitucionais, como mal-estar, febre, cefaleia, dor de 
garganta e falta de apetite, quadros neurológicos, 
oculares e hepáticos. A sífilis secundária representa a 
fase da circulação da bactéria na corrente sanguínea. 
 
 
• Sífilis latente: É a fase assintomática, dividida em 
latente recente (até 1 ano de infecção) e latente tardia 
(mais de 1 ano de infecção). A duração dessa fase é 
variável, podendo ser interrompida pelo surgimento 
de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária. 
• Sífilis terciária: Ocorre entre 1 ano e 40 anos da 
exposição e se manifesta por lesões gomosas e 
nodulares de caráter destrutivo na pele, lesões 
ósseas, como periostite, osteíte gomosa ou 
esclerosante, artrites, sinovites e nódulos justa-
articulares, manifestações cardiovasculares, como 
estenose de coronárias, aortite e aneurisma de aorta, 
manifestações neurológicas, como meningite, gomas 
cerebrais ou medulares, atrofia do nervo óptico, lesão 
do sétimo par craniano, manifestações psiquiátricas, 
tabes dorsalis e quadros demenciais e paralisia geral, 
podendo levar à morte. 
Diagnóstico 
↠ O diagnóstico de sífilis exige correlação entre dados 
clínicos, resultados de testes laboratoriais, história de 
infecções passadas e investigação de exposição recente. 
(PASSOS et al., 2023). 
↠ O rastreamento inicial em âmbito de saúde pública 
deve ser realizado por teste treponêmico (teste rápido) 
e, se positivo, confirmado com teste não treponêmico 
(preferencialmente, VDRL [Venereal Disease Research 
Laboratory]). Os dois testes positivos confirmam o 
diagnóstico de sífilis (PASSOS et al., 2023). 
 Algumas situações especiais indicam o tratamento imediato com 
apenas um teste positivo: vítimas de violência sexual, gestantes, risco 
de perda de seguimento, pessoas com sinais ou sintomas de sífilis 
primária ou secundária e pessoas sem diagnóstico prévio de sífilis 
(PASSOS et al., 2023). 
 No caso de pacientes que tenham feito tratamento anterior para 
sífilis (documentado) e apresentem titulação com queda de pelo 
menos duas titulações após o tratamento, deve-se considerar cicatriz 
sorológica e não repetir o tratamento (p. ex., titulação 1:16 antes do 
tratamento e ≤ 1:4 depois do tratamento) (PASSOS et al., 2023). 
↠ No caso de teste rápido positivo e teste não 
treponêmico negativo, deve-se realizar um novo teste 
treponêmico com metodologia diferente do primeiro e, 
se reagente, considerar sífilis ou cicatriz sorológica. Caso 
esse terceiro teste seja não reagente, considera-se que 
o primeiro teste foi um falso-reagente, excluindo-se o 
diagnóstico de sífilis (PASSOS et al., 2023). 
 
• Os exames diretos são a microscopia em campo 
escuro da lesão primária (exsudato seroso das lesões 
ativas para observação dos treponemas viáveis em 
amostras frescas) e a pesquisa em material corado 
(esfregaço em lâmina ou cortes histológicos com 
diferentes corantes). 
• O teste não treponêmico mais conhecido é o VDRL. 
Ele detecta anticorpos não específicos contra T. 
pallidum, porém presentes na sífilis. Resultados falso-
reagentes podem ocorrer em reações cruzadas com 
HIV, gestação, senilidade, imunizações, uso de drogas 
injetáveis, ou indicar presença de anticardiolipinas, 
doenças autoimunes, hanseníase ou leptospirose. 
• Testes treponêmicos utilizados paraconfirmação, 
como o teste de imunofluorescência (FTA-Abs, 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
fluorescent treponemal antibody absortion test) e o 
ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA, 
enzyme-linked immunosorbent assay), podem 
permanecer positivos indeterminadamente, portanto 
não devem ser usados no monitoramento do 
tratamento. 
• O teste rápido para sífilis é um teste treponêmico de 
fácil execução, com leitura do resultado em, no 
máximo, 30 minutos. Pode ser feito com amostra de 
sangue total coletada por punção digital ou venosa. 
Tem a vantagem de ser realizado no momento da 
consulta. Os testes disponíveis na rede pública 
atualmente têm sensibilidade e especificidade 
superiores a 99,8%. 
CANCRO MOLE 
↠ O cancroide é uma afecção provocada por 
Haemophilus ducreyi, mais frequente nas regiões tropicais. 
Denomina-se também cancro mole, cancro venéreo ou 
cancro de Ducrey (BRASIL, 2022). 
↠ Tem como agente etiológico a bactéria H. ducreyi, que 
pertence à classe dos cocobacilos gram-negativos 
(PASSOS et al., 2023). 
Epidemiologia 
↠ Houve declínio na sua incidência nos últimos anos. 
Porém, ainda se configura como terceira causa mais 
comum de úlceras genitais (SANARFLIX). 
TRANSMISSÃO: contato sexual. 
↠ O risco de infecção em uma relação sexual é de 80%, 
mais frequente em homens (BRASIL, 2022). 
↠ A sua patogênese não é bem conhecida, mas acredita-
se que a contaminação ocorra através de microabrasões 
na pele durante a relação sexual (PASSOS et al., 2023). 
Quadro clínico 
↠ O período de incubação é geralmente de três a cinco 
dias, podendo se estender por até duas semanas (BRASIL, 
2022). 
↠ As lesões são dolorosas, geralmente múltiplas e 
devidas à autoinoculação. A borda é irregular, 
apresentando contornos eritemato-edematosos e fundo 
heterogêneo, recoberto por exsudato necrótico, 
amarelado, com odor fétido, que, quando removido, 
revela tecido de granulação com sangramento fácil 
(BRASIL, 2022). 
↠ No homem, as localizações mais frequentes são no 
frênulo e sulco bálano-prepucial; na mulher, na fúrcula e 
face interna dos pequenos e grandes lábios. Em 30% a 
50% dos pacientes, a bactéria atinge os linfonodos 
inguino-crurais (bubão), sendo unilaterais em 2/3 dos 
casos, observados quase exclusivamente no sexo 
masculino pelas características anatômicas da drenagem 
linfática (BRASIL, 2022). 
 
 
↠ No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa, que 
evolui para liquefação e fistulização em 50% dos casos, 
tipicamente por orifício único. Raramente, apresenta-se 
sob a forma de lesão extragenital ou doença sistêmica 
(BRASIL, 2022). 
 A cicatrização pode ser desfigurante. A aspiração, com agulha 
de grosso calibre, dos gânglios linfáticos regionais comprometidos é 
indicada para alívio de linfonodos tensos e com flutuação. São 
contraindicadas a incisão com drenagem ou excisão dos linfonodos 
acometidos (BRASIL, 2022). 
Diagnóstico 
↠ Para o diagnóstico definitivo, é necessária a 
identificação do H. ducreyi em meio de cultura específica, 
porém nenhum método de identificação tem sensibilidade 
adequada (sensibilidade < 80%). Os principais métodos são 
a cultura ou teste de amplificação de ácidos nucleicos 
(NAAT), mas esses testes não são capazes de fornecer 
resultados rápidos e nem sempre estão disponíveis 
(BRASIL, 2022). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 Dessa forma, os métodos de diagnóstico são pouco 
utilizados na prática médica, devido ao alto custo e à complexidade 
(BRASIL, 2022). 
↠ O CDC-2021 sugere como tendo diagnóstico provável 
aquelas pacientes com uma ou mais úlceras genitais 
dolorosas, com fundo úmido e com adenopatia inguinal 
supurativa (podendo não estar presente). Contudo, é 
necessário que sejam descartados diagnósticos de sífilis 
(por exame de campo escuro ou NAAT do exsudato da 
úlcera, ou teste sorológico no máximo até 14 dias do 
surgimento da úlcera) e herpes (por meio de NAAT ou 
HSV do exsudato da úlcera) (BRASIL, 2022). 
O diagnóstico diferencial é feito com cancro duro (sífilis primária), 
herpes genital, LGV, donovanose e erosões traumáticas infectadas 
(BRASIL, 2022). 
DONOVANOSE 
↠ É uma IST crônica progressiva, causada pela bactéria 
Klebsiella granulomatis. Acomete preferencialmente pele 
e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais 
(BRASIL, 2022). 
↠ O agente etiológico envolvido é K. granulomatis, uma 
bactéria gram-negativa, intracelular, não móvel, que 
raramente pode ser diagnosticada por cultura. Ele 
pertence à microbiota intestinal, e seu período de 
incubação varia de 1 a 12 semanas (PASSOS et al., 2023). 
Epidemiologia 
↠ É pouco frequente, ocorrendo na maioria das vezes 
em climas tropicais e subtropicais (BRASIL, 2022). 
↠ Mais comum em regiões como África do Sul, Índia e 
América do Sul (PASSOS et al., 2023). 
↠ Possui baixa prevalência no Brasil, estando mais 
associada a população com baixo nível socioeconômico, 
principalmente na região Norte (SANARFLIX). 
TRANSMISSÃO: A donovanose (granuloma inguinal) está 
frequentemente associada à transmissão sexual, embora 
os mecanismos de transmissão não sejam bem 
conhecidos, sendo sua transmissibilidade baixa (BRASIL, 
2022). 
Quadro clínico 
↠ O quadro clínico inicia-se com ulceração de borda 
plana ou hipertrófica, bem delimitada, com fundo 
granuloso, de aspecto vermelho vivo e de sangramento 
fácil (BRASIL, 2022). 
↠ A ulceração evolui lenta e progressivamente, podendo 
tornar-se vegetante ou úlcero-vegetante. As lesões 
costumam ser múltiplas, sendo frequente a configuração 
em “espelho” nas bordas cutâneas e/ou mucosas 
(BRASIL, 2022). 
↠ Há predileção pelas regiões de dobras e região 
perianal. Não ocorre adenite, embora raramente possam 
se formar pseudobubões (granulações subcutâneas) na 
região inguinal, quase sempre unilaterais (BRASIL, 2022). 
↠ Na mulher, a forma elefantiásica é uma sequela tardia, 
sendo observada quando há predomínio de fenômenos 
obstrutivos linfáticos. A localização extragenital é rara e, 
quase sempre, ocorre a partir de lesões genitais ou 
perigenitais primárias (BRASIL, 2022). 
 
 
Diagnóstico 
↠ O diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica, 
do exame físico e da história/possibilidade de exposição. 
O diagnóstico laboratorial exige visualização dos corpos 
de Donovan com coloração escura em tecido ou biópsia. 
A cultura tem alto custo e é de cultivo muito difícil 
(PASSOS et al., 2023). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 
RESUMO DE ÚLCERAS GENITAIS 
 
 
Referências 
HOFFMAN, Barbara L.; SCHORGE, John O.; HALVORSON, 
Lisa M.; et al. Ginecologia de Williams. [Digite o Local da 
Editora]: Grupo A, 2014. 
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em 
Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas 
e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo 
Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às 
Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – 
IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. – Brasília: 
Ministério da Saúde, 2022. 
FERNANDES, Cesar E. Febrasgo - Tratado de Obstetrícia. 
Grupo GEN, 2018. 
BEREK, Jonathan S. Tratado de Ginecologia. Grupo GEN, 
2014. 
DUARTE et al. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da 
vaginose bacteriana. Brazilian Journal of Development, 
2019. 
PASSOS, Eduardo P.; MARTINS-COSTA, Sérgio H.; 
MAGALHÃES, José A.; et al. Rotinas em Ginecologia 
(Rotinas). Grupo A, 2023

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