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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivo 1. Entender a epidemiologia, agentes etiológicos, fatores de risco, mecanismos de transmissão, fisiopatologia, manifestações clínicas e formas de diagnóstico das ISTs. Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) Muitas pessoas com IST não buscam tratamento porque são assintomáticas (a maioria) ou têm sinais e sintomas leves e não percebem as alterações. As pessoas sintomáticas podem preferir tratar-se por conta própria ou procurar tratamento em farmácias ou junto a curandeiros tradicionais (BRASIL, 2022). ↠ As principais manifestações clínicas das IST são: corrimento vaginal, corrimento uretral, úlceras genitais e verrugas anogenitais. Embora possam sofrer variações, essas manifestações têm etiologias bem estabelecidas, o que facilita a escolha e a realização dos testes para o diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2022). CORRIMENTO VAGINAL CORRIMENTO URETRAL ÚLCERAS GENITAIS Trichomonas vaginalis Neisseria gonarrhoeae Chamydia tracomatis Candida albicans Mycoplasma sp. Herpes simples Gardinerella vaginalis Chamydia tracomatis Treponema pallidum Haemophilus ducryu Klebsiella granulomatis Corrimento vaginal ↠ O corrimento vaginal é uma queixa comum, que ocorre principalmente na idade reprodutiva. Em serviços que atendem com frequência casos de IST, é o principal sintoma referido pelas mulheres atendidas; entre gestantes, é o primeiro ou segundo motivo da consulta, após verruga anogenital (BRASIL, 2022). As infecções do trato reprodutivo – ITR são divididas em: • Infecções endógenas (candidíase vulvovaginal e vaginose bacteriana); • Infecções iatrogênicas (infecções pós-aborto, pós-parto); • IST (tricomoníase, infecção por C. trachomatis e N. gonorrhoeae). A mulher pode apresentar concomitantemente mais de uma infecção, ocasionando, assim, corrimento de aspecto inespecífico (BRASIL, 2022). ↠ A vulvovaginite e a vaginose representam as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico, sendo responsáveis por inúmeras consultas. São afecções do epitélio estratificado da vulva e/ou vagina, cujos agentes etiológicos mais frequentes são fungos, principalmente Candida albicans; bactérias anaeróbicas, em especial Gardnerella vaginalis; e o protozoário Trichomonas vaginalis (BRASIL, 2022). O termo vaginite é o diagnóstico dado às mulheres que se apresentam com queixas de leucorreia vaginal anormal acompanhada de queimação, irritação ou prurido vulvar (HOFFMAN et al., 2014). Vaginose bacteriana é o desequilíbrio da flora vaginal caracterizado pela substituição da flora microbiana saudável (dominada por Lactobacillus) por microbiota variável, composta por mistura de bactérias anaeróbias e facultativas (FERNANDES, 2018). TRICOMONÍASE ↠ Vulvovaginite menos frequente nos dias atuais, a tricomoníase é causada por um protozoário flagelado unicelular, o Trichomonas vaginalis, e parasita com mais frequência a genitália feminina que a masculina (BRASIL, 2022). Epidemiologia ↠ Tricomoníase é a infecção sexualmente transmissível não viral mais comum no mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, existem aproximadamente 170 milhões de casos reportados anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos, a maioria (92%) em mulheres de países em desenvolvimento (FERNANDES, 2018). Diferentemente de outras DSTs, alguns estudos mostram que sua incidência parece aumentar com a idade da paciente. A tricomoníase é mais comumente diagnosticada em mulheres, uma vez que a maioria dos homens é assintomática. No entanto, até 70% dos parceiros masculinos de mulheres com tricomoníase vaginal terão tricomonas no seu trato urinário (HOFFMAN et al., 2014). O Trichomonas vaginalis tem predileção pelo epitélio escamoso, e as lesões podem facilitar o acesso para outras espécies sexualmente transmissíveis (HOFFMAN et al., 2014). Mecanismos de transmissão ↠ O parasita Trichomonas vaginalis possui quatro flagelos e uma membrana ondulante, responsável por sua grande mobilidade. A transmissão é predominantemente sexual, embora raramente possam ocorrer outras formas, pois o parasita pode sobreviver fora de seu habitat por algumas horas em condições de umidade (FERNANDES, 2018). Deve adquirir nutrientes do meio externo para sua sobrevivência e consegue isso fagocitando fungos, vírus e bactérias como Micoplasmas, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, transportando-os ao trato genital superior e facilitando, assim, o aparecimento de doença inflamatória pélvica. É importante cofator na transmissão e aquisição do HIV (FERNANDES, 2018). Fatores de risco ↠ Como nas demais infecções de transmissão sexual, a incidência depende de vários fatores como idade, 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck atividade sexual, número de parceiros sexuais, sexo desprotegido, outras ISTs e condições socioeconômicas (FERNANDES, 2018). A resposta imune celular ao Trichomonas vaginalis pode ser agressiva, com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice em mulheres e da uretra em homens. Ocorre intensa infiltração de leucócitos, incluindo os da linhagem TCD4, que são alvo do HIV. Ao penetrar na vagina, o parasita cobre-se com as proteínas do hospedeiro, o que permite a evasão dos mecanismos de defesa locais; além disso, possui a capacidade de sobreviver no meio vaginal ácido, hostil, durante longos períodos de tempo, permanecendo firmemente ligado às células da mucosa vaginal (FERNANDES, 2018). A infecção do trato genital feminino pelo protozoário não induz imunidade duradoura, sendo comuns as infecções recorrentes (FERNANDES, 2018). Quadro clínico ↠ Seus sinais e sintomas característicos consistem em corrimento vaginal intenso, amarelo-esverdeado, por vezes acinzentado, bolhoso e espumoso, acompanhado de odor fétido (na maioria dos casos, lembrando peixe) e prurido eventual, que pode constituir reação alérgica à afecção (BRASIL, 2022). ↠ Em caso de inflamação intensa, o corrimento aumenta e pode haver sinusiorragia e dispareunia. Também podem ocorrer edema vulvar e sintomas urinários, como disúria (BRASIL, 2022). Não há complicações sérias na mulher na grande maioria dos casos, mas a tricomoníase pode propiciar a transmissão de outros agentes infecciosos agressivos, facilitar DIP, VB e, na gestação, quando não tratada, pode evoluir para rotura prematura das membranas (BRASIL, 2022). Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da hemoglobina pelo parasita, o que aumenta sua virulência (FERNANDES, 2018). ↠ No exame especular, percebem-se microulcerações que dão ao colo uterino um aspecto de morango ou framboesa (teste de Schiller “onçoide” ou “tigroide”). A transudação inflamatória das paredes vaginais eleva o pH para 6,7 a 7,5 e, nesse meio alcalino, pode surgir variada flora bacteriana patogênica, inclusive anaeróbica; por conseguinte, se estabelece a vaginose bacteriana associada, que libera as aminas de odor fétido, além de provocar bolhas no corrimento vaginal purulento (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ O diagnóstico laboratorial microbiológico mais comum é o exame a fresco, mediante gota do conteúdo vaginal e soro fisiológico, com observação do parasita ao microscópio. Habitualmente, visualiza-se o movimento do protozoário, que é flagelado, e um grande número de leucócitos (BRASIL, 2022). ↠ O pH quase sempre é maior que 5,0. Na maioria dos casos, o teste das aminas é positivo. À bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, observa-se o parasita Gram-negativo, de morfologia característica. A cultura pode ser requisitada nos casos de difícil diagnóstico (BRASIL, 2022). CANDIDÍASE VULVOVAGINAL ↠ Candida albicans é o agente etiológico da candidíase vulvovaginal – CVV em 80% a 92% dos casos, podendo o restante ser devido às espéciesnão albicans (glabrata, tropicalis, krusei, parapsilosis) e Saccharomyces cerevisae (BRASIL, 2022). Epidemiologia ↠ Durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mulheres serão colonizadas por Candida spp., de forma assintomática, sem requerer tratamento (BRASIL, 2022). ↠ Estima-se que 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentarão pelo menos um episódio de 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck vulvovaginite por Candida sp. durante suas vidas; 50% apresentarão dois ou mais episódios e 5% terão episódios recorrentes, ou seja, quatro ou mais episódios por ano, confirmados clínica e laboratorialmente (FERNANDES, 2018). Mecanismos de transmissão A colonização vaginal por fungos parece ser hormônio- dependente, já que é rara na infância e pós-menopausa e frequente na idade reprodutiva ou em mulheres em uso de terapia hormonal. Condições que alterem a concentração hormonal como gravidez e uso de contraceptivos de alta dosagem facilitam a proliferação dos fungos. A ingestão de antibióticos atua no mesmo sentido, provavelmente por alterar a flora protetora lactobacilar (FERNANDES, 2018). ↠ Quando o sistema imune não consegue inibir a proliferação dos fungos, ocorre a passagem do estado saprófita para o patogênico, com consequente aparecimento de sinais e sintomas. É importante lembrar que a concentração de fungos associada aos sintomas é diferente para cada mulher, já que existem diferenças individuais de resposta imune. Assim, baixa concentração pode levar ao aparecimento de sintomas em uma mulher, enquanto outra, mesmo tendo concentração elevada dos microrganismos, pode permanecer assintomática (FERNANDES, 2018). Tais diferenças individuais têm sido melhor compreendidas devido a recentes estudos na atuação da imunidade local. Um dos componentes do sistema imune é a proteína “lectina ligadora de manose”, presente nos fluidos corporais e na secreção vaginal, possuindo a capacidade de reconhecer e ligar-se ao polissacarídeo manose que está presente na superfície dos microrganismos (inclusive na Candida sp.). Tal ligação desencadeia a cascata do sistema complemento, levando à lise celular e à fagocitose. Ou seja, a lectina ligadora de manose representa importante componente imune no combate às infecções fúngicas. Entretanto, um polimorfismo no gene que determina a secreção da mesma resulta em menor secreção e consequente diminuição nas concentrações dessa proteína; mulheres que possuem tal polimorfismo apresentam com maior frequência episódios de candidíase vulvovaginal recorrente (FERNANDES, 2018). Fatores de risco Quadro clínico ↠ O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza- se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”); dependendo da intensidade do processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, é frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras (FERNANDES, 2018). A CVV classifica-se em CVV não complicada e CVV complicada. É considerada não complicada quando presentes todos os critérios a seguir: sintomas leves/moderados, frequência esporádica, agente etiológico C. albicans e ausência de comorbidades. Por outro lado, considera-se CVV complicada quando presente pelo menos um dos seguintes critérios: sintomas intensos, frequência recorrente (CVVR), agente etiológico não albicans (glabrata, kruzei), presença de comorbidades (diabetes, HIV) ou gestação (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ Clinicamente, a paciente pode referir os seguintes sinais e sintomas diante de uma CVV clássica: prurido, ardência, corrimento geralmente grumoso, sem odor, dispareunia de introito vaginal e disúria externa. Os sinais característicos são eritema e fissura vulvares, corrimento grumoso, com placas de cor branca aderidas à parede 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck vaginal, edema vulvar, escoriações e lesões satélites, por vezes pustulosas pelo ato de coçar (BRASIL, 2022). ↠ Para a citologia a fresco, utiliza-se soro fisiológico e hidróxido de potássio a 10%, a fim de visibilizar a presença de hifas e/ou esporos dos fungos. Além disso, a CVV está associada a pH normal vaginal (<4,5) (BRASIL, 2022). ↠ O teste das aminas (whiff test) é negativo na candidíase (FERNANDES, 2018). VAGINOSE BACTERIANA ↠ A vaginose bacteriana – VB é a desordem mais frequente do trato genital inferior entre mulheres em idade reprodutiva (gestantes ou não) e a causa mais prevalente de corrimento vaginal com odor fétido. Está associada à perda de lactobacilos e ao crescimento de inúmeras bactérias, bacilos e cocos Gram-negativos anaeróbicos, com predomínio de Gardnerella vaginalis (BRASIL, 2022). Epidemiologia ↠ A vaginose bacteriana é uma das infecções vaginais mais prevalente entre as mulheres sexualmente ativas, responsável por 40 a 50 % dos casos de vulvovaginites (DUARTE et al., 2019). Mecanismos de transmissão ↠ Gardnerella vaginalis é uma bactéria que faz parte da flora vaginal normal sendo detectada em torno de 20 a 80% das mulheres sexualmente ativas. Quando, por um desequilíbrio dessa flora, ocorre um predomínio dessa bactéria (segundo alguns autores em associação com outros germes como bacteróides, mobiluncus, micoplasmas etc), temos um quadro que convencionou- se chamar de vaginose bacteriana (DUARTE et al., 2019). Fatores de risco ↠ Não se sabe que fator desencadeia o distúrbio da flora vaginal normal. Supõe-se, no entanto, que haja influência da alcalinização repetida da vagina, decorrente de coitos frequentes ou do uso de duchas vaginais (BEREK, 2014). Quadro clínico ↠ Sem lactobacilos, o pH aumenta e a Gardnerella vaginalis produz aminoácidos, os quais são quebrados pelas bactérias anaeróbicas da VB em aminas voláteis (putrescina e cadaverina), levando ao odor desagradável, particularmente após o coito e a menstruação (que alcalinizam o conteúdo vaginal), o que constitui a principal queixa da paciente (BRASIL, 2022). A VB aumenta o risco de aquisição de IST (incluindo o HIV), e pode trazer complicações às cirurgias ginecológicas e à gravidez (estando associada a ruptura prematura de membranas, corioamnionite, prematuridade e endometrite pós-cesárea). Quando presente nos procedimentos invasivos, como curetagem uterina, biopsia de endométrio e inserção de dispositivo intrauterino – DIU, a VB aumenta o risco de doença inflamatória pélvica – DIP (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ A afecção é facilmente identificada ao exame especular, que mostra as paredes vaginais em sua maioria íntegras, marrons e homogêneas ao teste de Schiller, banhadas por corrimento perolado bolhoso em decorrência das aminas voláteis (BRASIL, 2022). Se a microscopia estiver disponível, o diagnóstico é realizado na presença de pelo menos três critérios de Amsel: (BRASIL, 2022). • Corrimento vaginal homogêneo; • pH >4,5; • Presença de clue cells (células guia) no exame de lâmina a fresco; • Teste de Whiff positivo (odor fétido das aminas com adição de hidróxido de potássio a 10%). ↠ O padrão-ouro é a coloração por Gram do fluido vaginal. Quantifica-se o número de bactérias e lactobacilos patogênicos, resultando em um escore que determina se há infecção (BRASIL, 2022). ↠ O pH dessas secreções é maior que 4,5 (em geral, de 4,7 a 5,7). O exame microscópico das secreções vaginais mostra um número elevado de células-alvo e notável ausência de leucócitos. Em casos avançados de VB, mais de 20% das células epiteliais são células-alvo. O acréscimo de KOH às secreções vaginais (o teste das aminas) libera um odor de peixe, teste das aminas (BEREK, 2014). VULVOVAGINITE AGENTE ETIOLÓGICO CORRIMENTO ODOR pH AMINAS MICROSCOPIA Candidíase C. albicans Branco grumoso Não característico Menor que4 Negativo Hifas e esporos 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Tricomoníase T. vaginalis Abundante, amarelo esverdeado Fétido Maior que 4,5 Positivo Protozoários flagelados móveis Vaginose bacteriana G. vaginalis Acinzentado, homogêneo, cremoso ou fluído Fétido Maior que 4,5 Positivo Clue cells, ausência de lactobacilos Corrimento uretral ↠ As uretrites são caracterizadas por inflamação e corrimento uretral. Os agentes microbianos das uretrites podem ser transmitidos por relação sexual vaginal, anal e oral (BRASIL, 2022). ↠ O corrimento uretral costuma ter aspecto de mucoide a purulento, com volume variável, estando associado a dor uretral (independentemente da micção), disúria, estrangúria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral e eritema de meato uretral (BRASIL, 2022). ↠ Entre os fatores associados às uretrites, foram encontrados: idade jovem, baixo nível socioeconômico, múltiplas parcerias ou nova parceria sexual, histórico de IST e uso irregular de preservativos (BRASIL, 2022). Os agentes etiológicos mais frequentes das uretrites são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Outros agentes, como Trichomonas vaginalis, Ureaplasma urealyticum, enterobactérias (nas relações anais insertivas), Mycoplasma genitalium, vírus do herpes simples (HSV, do inglês Herpes Simplex Virus), adenovírus e Candida sp. são menos frequentes (BRASIL, 2022). URETRITE GONOCÓCICA ↠ É um processo infeccioso e inflamatório da mucosa uretral, causado por Neisseria gonorrhoeae (diplococo Gram-negativo intracelular) (BRASIL, 2022). A Neisseria gonorrhoeae (NG), agente etiológico da gonorreia de transmissão sexual, é uma bactéria diplococos Gram-negativa, não flagelada, não formadora de esporos, encapsulada, e anaeróbia facultativa (FERNANDES, 2018). Epidemiologia ↠ A gonorreia apresenta prevalência muito menor que a Chlamydia, porém atinge cerca de 1% a 2% da população feminina (FERNANDES, 2018). ↠ A gonorreia é uma DST, permanecendo como um problema de saúde pública em todo o mundo. A sua importância é significativa, pois pode acarretar sequelas, como infertilidade, gravidez ectópica, DIP, trabalho de parto prematuro ou prematuridade (FERNANDES, 2018). Mecanismos de transmissão ↠ O risco de transmissão de um parceiro infectado a outro é, em média, 50% por ato sexual (BRASIL, 2022). ↠ O período de incubação costuma ser de dois a cinco dias após a infecção (BRASIL, 2022). ETIOPATOGÊNESE • Adesão: N. gonorrhoeae adere às células das mucosas, mediadas pelo Pili, OPA e outras proteínas de superfície; • Invasão: os microrganismos são pinocitados por células que os transportam da mucosa ao espaço subepitelial; • Endotoxina (LOS): prejudica a motilidade ciliar e contribui para a destruição das células ciliares; • LOS: dano celular e invasão da submucosa por neutrófilos, formação de abscessos e exsudação de material purulento; • Disseminação do gonococo: devido à incapacidade dos anticorpos e à falha do sistema Fatores de risco ↠ Os fatores de risco para pacientes portadoras de gonococos com infecção potencial do trato reprodutivo superior são as seguintes: (HOFFMAN et al., 2014). • idade igual ou inferior a 25 anos; • presença de outras infecções sexualmente transmissíveis; • antecedente de infecção por gonococos; • parceiro sexual recente ou múltiplos parceiros; • prática sexual sem preservativos; • compartilhamento de seringas ou objetos cortantes com resíduo de sangue; • profissionais do sexo. Quadro clínico ↠ Os sinais e sintomas são determinados pelos locais primários de infecção: membranas mucosas da uretra (uretrite), endocérvice (cervicite), reto (proctite), faringe (faringite) e conjuntiva (conjuntivite) (BRASIL, 2022). ↠ A infecção uretral no homem é assintomática em menos de 10% dos casos. Nos casos sintomáticos, há 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck presença de corrimento em mais de 80% e de disúria em mais de 50% (BRASIL, 2022). ↠ Nas mulheres, a uretrite gonocócica é frequentemente assintomática (BRASIL, 2022). ↠ O corrimento mucopurulento ou purulento é frequente. Raramente, há queixa de sensibilidade aumentada no epidídimo e queixas compatíveis com balanite (dor, edema, prurido, hiperemia da região prepucial, descamação da mucosa e, em alguns casos, material purulento e de odor desagradável no prepúcio) (BRASIL, 2022). As complicações no homem ocorrem por infecção ascendente a partir da uretra, podendo ocasionar orquiepididimite, prostatite e estenose de uretra (BRASIL, 2022). CERVICITE Em decorrência do processo inflamatório desencadeado, a cervicite por NG costuma ser quase sempre muito mais exuberante e sintomática. Os sinais inflamatórios mais importantes são: (FERNANDES, 2018). • Exsudato purulento ou mucopurulento endocervical visível no canal endocervical ou em uma amostra de swab endocervical (vulgarmente designado por “cervicite mucopurulenta” ou cervicite); • Sangramento endocervical facilmente induzido pela passagem suave de um cotonete ou escovinha através do orifício endocervical. Um ou ambos os sinais podem estar presentes. O colo fica edemaciado e aumenta seu volume, ficando com aspecto congesto. Diagnóstico Neisseria gonorrhoeae é um cocobacilo gram-negativo que invade as células epiteliais colunares e transicionais, passando para o meio intracelular. Por essa razão, o epitélio vaginal não é envolvido (HOFFMAN et al., 2014). ↠ Para a identificação do gonococo estão disponíveis os testes NAAT que substituíram a cultura na maioria dos laboratórios. Anteriormente as amostras ideais eram coletadas da ectocérvice ou da uretra. Entretanto, novos testes NAAT estão disponíveis para coletas específicas de vagina, ectocérvice ou urina. Para as mulheres submetidas à histerectomia (sem colo uterino), coleta-se amostra da primeira urina da manhã. Para aquelas com colo uterino, amostras coletadas por swab vaginal são tão sensíveis e especificas quanto aquelas obtidas com swab cervical (HOFFMAN et al., 2014). URETRITE NÃO GONOCÓCICA É a uretrite sintomática em que a bacterioscopia pela coloração de Gram, cultura e detecção de material genético por biologia molecular são negativas para o gonococo (BRASIL, 2022). ↠Vários agentes têm sido responsabilizados por essas infecções, como Chlamydia trachomatis, Mycoplasma genitalium, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, Trichomonas vaginalis, entre outros (BRASIL, 2022). Mycoplasma sp. ↠ Os micoplasmas e os ureaplasmas são bactérias cuja maioria das espécies é considerada apenas comensal para o ser humano. Entretanto, o Ureaplasma urealyticum e o Mycoplasma hominis são conceituados como micoplasmas genitais patogênicos e são considerados também germes oportunistas, por causarem infecção em populações suscetíveis, principalmente em imunodeprimidos (FERNANDES, 2018). Esses patógenos estão associados a infecções urogenitais em humanos e a infecções respiratórias ou sistêmicas em neonatos (FERNANDES, 2018). Epidemiologia ↠ Os micoplasmas podem ser encontrados em até 8% e 41% em mulheres assintomáticas sexualmente ativas. Estão claramente relacionados à atividade sexual e aos hormônios sexuais (FERNANDES, 2018). ↠ O M. hominis faz parte da flora vaginal e uretral de cerca de 20 a 50% de homens e mulheres sexualmente ativos, sendo que esse percentual aumenta na puberdade e à medida que se estabelecem relações com mais parceiros (SANARFLIX). ↠ Atualmente, o M. genitalium tem se mostrado o mais importante causador de uretrites não gonocócicas e não clamídicas em homens e responsável por 1 a 6% das infecções em mulheres (SANARFLIX). Fatores de risco ↠ Os principais fatores de risco associados ao micoplasma são idade até 22 anos, tabagismo, relações sexuais recentes e múltiplos parceiros sexuais (PASSOSet al., 2023). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck Quadro clínico ↠ Cerca de 50% das mulheres são assintomáticas. Quando sintomáticas, apresentam sinurragia, cervicite, sangramentos de escape e endometrite. Pode apreentar febre ou pielonefrite após cateterismo uretral ou citoscopia (SANARFLIX). A infecção por Mycoplasma hominis também pode ser a causa do aumento do risco de aborto espontâneo e infertilidade, com aumento de aproximadamente duas vezes no risco para mulheres infectadas (PASSOS et al., 2023). DIAGNÓSTICO: A cultura do M. genitalium é extremamente lenta, podendo levar meses, motivo pelo qual não é utilizada na prática clínica. Mulheres com cervicite recorrente devem ser testadas com teste de detecção do organismo por PCR ou outros testes de NAAT e, se disponíveis, devem ser realizados testes moleculares para marcadores de resistência aos antimicrobianos (macrolídeos e quinolonas). As amostras devem ser, preferencialmente, primeira urina da manhã ou esfregaço vaginal (PASSOS et al., 2023). Chlamydia trachomatis ↠ A infecção por clamídia no homem é responsável por aproximadamente 50% dos casos de uretrite não gonocócica. A transmissão ocorre pelo contato sexual (risco de 20% por ato), sendo o período de incubação, no homem, de 14 a 21 dias. Estima-se que dois terços das parceiras estáveis de homens com uretrite não gonocócica hospedem a C. trachomatis na endocérvice. Estas podem reinfectar sua(s) parceria(s) sexual(ais) e desenvolver quadro de DIP se permanecerem sem tratamento (BRASIL, 2022). ↠ Chlamydia trachomatis é uma bactéria Gram-negativa, intracelular obrigatória (FERNANDES, 2018). ↠ A infecção por CT é a mais comum IST causada por bactéria em todo o mundo, superando a infecção gonocócica e a sífilis (FERNANDES, 2018). Epidemiologia ↠ A infecção é seguramente a mais frequente na população feminina (variando de 2% a 30%), com alto grau de morbidade e potencial de complicação (de trabalho de parto prematuro, endometrite puerperal, DIP aguda, esterilidade conjugal e dor pélvica crônica) (FERNANDES, 2018). Fatores de risco ↠ Os fatores de risco relacionados são: (SANARFLIX) • idade menor que 25 anos; • multiplicidade de parceiros ou parceiro novo nos últimos 90 dias; • solteiros; • uso inconsistente de métodos de barreira; • ectopia de colo uterino (por maior exposição do epitélio); • menor nível de escolaridade e socioeconômico, • história de IST prévia. Quadro clínico ↠ A uretrite não gonocócica caracteriza-se, habitualmente, pela presença de corrimentos mucoides, discretos, com disúria leve e intermitente. A uretrite subaguda é a forma de apresentação em aproximadamente 50% dos pacientes com uretrite causada por C. trachomatis (BRASIL, 2022). Entretanto, em alguns casos, os corrimentos das uretrites não gonocócicas podem simular, clinicamente, os da gonorreia (BRASIL, 2022). ↠ As uretrites causadas por C. trachomatis podem evoluir para prostatite, epididimite, balanite, conjuntivite (por autoinoculação) e síndrome uretro-conjuntivo- sinovial ou síndrome de Reiter (BRASIL, 2022). CERVICITE Quase sempre é assintomática em 70%. Quanto às manifestações clínicas da cervicite clamidiana, elas são discretas e frequentemente passam despercebidas. Quando apresenta quadro clínico, podem ocorrer: colo edemaciado (volume aumentado), hiperemiado, com mucorreia (eventualmente purulenta), friável (sangra fácil ao toque); acentuação do ectrópio (mácula rubra), dor no ato sexual e à mobilização do colo uterino ao exame ginecológico (FERNANDES, 2018). ↠ Quando sintomáticos, podem apresentar: (SNARFLIX) • Cervicite em 50% das portadoras, com colo uterino friável e sangrante em coleta endocervical e com secreção mucopurulenta. 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Uretrite, com sintomas semelhantes à infecção urinária, evidenciando-se piúria na análise da urina, com cultura negativa. • Doença inflamatória pélvica (DIP) e hidrossalpinge, quando a infecção ascendo o trato genital superior em cerca de 15-30% das mulheres, quando não tratada • Salpingite, em 7%, sendo que 10 a 40% das infertilidades por obstrução tubária são por clamídia. Diagnóstico ↠ A análise microscópica das secreções em preparado salino em geral revela 20 ou mais leucócitos por campo microscópico. Como exames mais específicos, cultura, NAAT e ensaio imunoenzimático (Elisa) estão disponíveis para amostras ectocervicais. A alternativa mais utilizada é um teste combinado para gonococo e clamídia (HOFFMAN et al., 2014). Assim como ocorre para gonorreia, surgiram novos kits de NAAT que permitem coletas seletivas de vagina, endocérvice ou urina. Os swabs com material de vagina são tão sensíveis e específicos quanto os de colo uterino (HOFFMAN et al., 2014). IMPORTANTE: Se for diagnosticada C. trachomatis ou houver suspei- ta, recomenda-se rastreamento para outras DSTs (HOFFMAN et al., 2014). MÉTODOS DIAGNÓSTICOS PARA URETRITES SINTOMÁTICAS Uma vez reconhecidos os sinais e sintomas clínicos de uretrite, devem- se executar os testes diagnósticos apropriados. Devido às taxas de resistência, é fundamental priorizar testes que identifiquem o agente infeccioso, principalmente em casos de reinfecção. Segue a descrição dos métodos diagnósticos incorporados ao SUS: (BRASIL, 2022). Detecção de clamídia e gonococo por biologia molecular: método com elevada sensibilidade e especificidade. Além de definir o agente etiológico para os casos de infecções sintomáticas, consiste no método de escolha para o rastreio de infecções assintomáticas; Bacterioscopia: a coloração de Gram é um método rápido e possui bom desempenho para o diagnóstico de gonorreia em homens sintomáticos com corrimento uretral. A infecção gonocócica é estabelecida pela presença de diplococos Gram-negativos intracelulares em leucócitos polimorfonucleares. Em mulheres, no entanto, o esfregaço de secreções cervicais detecta apenas 40% a 60% das infecções. Isso ocorre porque a flora vaginal é densa e a identificação dos diplococos Gram-negativos pode ficar comprometida. Outra razão para essa baixa sensibilidade pode ser o número reduzido de gonococos nos esfregaços de amostras da endocérvice ou falha técnica na coleta. O diagnóstico de pessoas assintomáticas por microscopia não é recomendado. Úlceras genitais ↠ As úlceras genitais representam síndrome clínica, sendo muitas vezes causadas por IST, e se manifestam como lesões ulcerativas erosivas, precedidas ou não por pústulas e/ou vesículas, acompanhadas ou não de dor, ardor, prurido, drenagem de material mucopurulento, sangramento e linfadenopatia regional (BRASIL, 2022). Embora a úlcera genital esteja frequentemente associada as IST na população sexualmente ativa, em particular nos adolescentes e adultos jovens, a queixa de ulcera genital não é exclusividade das IST e pode estar associada a infecções inespecíficas por fungos, vírus ou bactérias (ex.: dermatoses bolhosas, como o penfigo, o eritema multiforme e a dermatite de contato) (BRASIL, 2022). Os aspectos clínicos das úlceras genitais são bastante variados e têm baixo poder preditivo do agente etiológico (baixa relação de sensibilidade e especificidade) mesmo nos casos considerados clássicos (BRASIL, 2022). LINFOGRANULOMA VENÉREO ↠ O LGV é causado por Chlamydia trachomatis, sorotipos L1, L2 e L3 (BRASIL, 2022). ↠ Também conhecido por linfogranuloma inguinal, mula, bubão ou doença de Nicolas-Favre, caracteriza-se pelo aparecimento de lesão genital (lesão primária) de curta duração e que se apresenta como ulceração (ferida) ou pápula (FERNANDES, 2018). Assim como o cancro mole, o LGV tem baixíssima prevalência em nosso meio, sendo diagnóstico de exceção (FERNANDES, 2018). Fatores de risco ↠ É uma doença linfoproliferativa, que apresenta como fatores de risco: múltiplos parceirossexuais, a soropositividade para o HIV e sexo anal (SANARFLIX). TRANSMISSÃO: contato sexual. Quadro clínico ↠ A manifestação clínica mais comum é a linfadenopatia inguinal e/ou femoral, já que esses sorotipos são altamente invasivos aos tecidos linfáticos (BRASIL, 2022). ↠ A evolução da doença ocorre em três fases: inoculação, disseminação linfática regional e sequelas, que são descritas a seguir: (BRASIL, 2022). • Fase de inoculação: inicia-se por pápula, pústula ou exulceração indolor, que desaparece sem deixar sequela. Muitas vezes, não é notada pelo paciente e raramente é observada pelo profissional de saúde. Localiza-se, no homem, no sulco coronal, frênulo e prepúcio; na mulher, na parede vaginal posterior, colo uterino, fúrcula e outras partes da genitália externa. • Fase de disseminação linfática regional: no homem, a linfadenopatia inguinal se desenvolve entre uma e seis 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck semanas após a lesão inicial; é geralmente unilateral (em 70% dos casos) e se constitui no principal motivo da consulta. Na mulher, a localização da adenopatia depende do local da lesão de inoculação. • Fase de sequelas: o comprometimento ganglionar evolui com supuração e fistulização por orifícios múltiplos, que correspondem a linfonodos individualizados, parcialmente fundidos em uma grande massa. A lesão da região anal pode levar a proctite e proctocolite hemorrágica. O contato orogenital pode causar glossite ulcerativa difusa, com linfadenopatia regional. Podem ocorrer sintomas gerais, como febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, artralgia, sudorese noturna e meningismo. ATENÇÃO: Os bubões que se tornarem flutuantes podem ser aspirados com agulha calibrosa, não devendo ser incisados cirurgicamente. A obstrução linfática crônica leva à elefantíase genital, que na mulher é denominada estiomene. Também podem ocorrer fístulas retais, vaginais e vesicais, além de estenose retal (BRASIL, 2022). Diagnóstico O diagnóstico de LGV deve ser considerado em todos os casos de adenite inguinal, elefantíase genital e estenose uretral ou retal. Muitas vezes, o diagnóstico se dá por exclusão: vírus herpes simples 1 e 2 (HSV-1 e HSV-2), C. trachomatis (sorovariantes L1, L2, L2a, L2b e L3) e Klebsiella granulomatis podem depender da exclusão do diagnóstico de sífilis (T. pallidum) e cancroide (Haemophilus ducreyi), associado à história de exposição ao risco e a sinais e sintomas clínicos (PASSOS et al., 2023). ↠ Um diagnóstico definitivo de LGV pode ser feito apenas com testes moleculares específicos para LGV (p. ex., genotipagem baseada em reação em cadeia da polimerase [PCR, polymerase chain reaction]). Contudo, esses testes não estão amplamente disponíveis, e os resultados, em geral, não são entregues em um período que influenciaria o manejo clínico. Portanto, o diagnóstico é baseado na suspeita clínica, nas informações epidemiológicas e na exclusão de outras etiologias para proctocolite, linfadenopatia inguinal ou úlceras genitais, orais ou retais (PASSOS et al., 2023). ↠ Lesões genitais ou orais, espécimes retais e espécimes de linfonodos (esfregaço de lesão ou aspirado de bubão) podem ser testados para C. trachomatis por PCR ou cultura (PASSOS et al., 2023). O CDC recomenda o teste de PCR como abordagem preferida, já que pode detectar cepas LGV e cepas não LGV de C. trachomatis (PASSOS et al., 2023). Microimunofluorescência: método mais sensível no diagnóstico da doença, capaz de detectar anticorpos específicos aos diferentes sorotipos (FERNANDES, 2018). HERPES GENITAL ↠ Os HSV tipos 1 e 2 pertencem à família Herpesviridae, da qual fazem parte o citomegalovírus – CMV, o vírus da varicela zoster, o vírus Epstein-Barr e o vírus do herpes humano (BRASIL, 2022). Embora os HSV-1 e HSV-2 possam provocar lesões em qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais e do tipo 1 nas lesões periorais (BRASIL, 2022). Epidemiologia ↠ O herpes tem alta prevalência e número significativo de infecções assintomáticas (mais de 30% dos infectados), porém, ainda assim, contagiosas e sem possibilidade de cura definitiva (PASSOS et al., 2023). ↠ Estima-se que 11,9% das pessoas entre 14 e 49 anos estejam infectadas pelo HSV-2 nos Estados Unidos. A primoinfecção costuma apresentar-se com sintomas mais graves, inclusive sistêmicos (PASSOS et al., 2023). ↠ A recidiva de herpes genital é frequente e geralmente causada pelo HSV-2, podendo chegar a mais de 80%, sendo mais comum no primeiro ano. Já a recidiva do HSV-1 fica em torno de 50%. Em pacientes HIV-positivos, o quadro clínico costuma ser mais grave (PASSOS et al., 2023). 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A causa mais comum de úlcera genital é a herpes genital, principalmente pelo sorotipo HSV-tipo2 (SANARFLIX). ↠ Cerca de 50-90% dos adultos têm anticorpos circulantes contra HSV-tipo1; e 20-30% contra HSV-tipo2. Pacientes portadoras de HSV-tipo 2 têm mais chance de contrair o vírus HIV. Muitas pacientes são portadoras assintomáticas do vírus, porém contaminantes, o que dificulta o controle da doença (SANARFLIX). TRANSMISSÃO: A transmissão ocorre por contato sexual vaginal, oral ou anal, pela mucosa ou lesão infectante (SANARFLIX). Quadro clínico ↠ As apresentações clínicas são divididas em primoinfecção, infecção não primária e infecção recorrente. Em geral, as mulheres apresentam episódios mais intensos na primoinfecção, com duas vezes mais propensão que os homens para terem sintomas sistêmicos. Nos pacientes soropositivos para HIV, as manifestações tendem a ser dolorosas, atípicas e de maior duração (PASSOS et al., 2023). PRIMOINFECÇÃO ↠ A primoinfecção herpética tem um período de incubação médio de seis dias. Em geral, representa uma manifestação mais severa, caracterizada pelo surgimento de lesões eritemato-papulosas de um a três milímetros de diâmetro, que rapidamente evoluem para vesículas sobre base eritematosa, muito dolorosas e de localização variável na região genital (BRASIL, 2022). ↠ O conteúdo dessas vesículas é geralmente citrino, raramente turvo. O quadro local na primoinfecção costuma ser bastante sintomático e, na maioria das vezes, é acompanhado de manifestações gerais, podendo cursar com febre, mal estar, mialgia e disúria, com ou sem retenção urinária. Em especial, nas mulheres, pode simular quadro de infeção urinária baixa (BRASIL, 2022). ↠ A linfadenomegalia inguinal dolorosa bilateral está presente em 50% dos casos (BRASIL, 2022). ↠ Quando o HSV acomete o colo do útero, é comum o corrimento vaginal, que pode ser abundante. Entre os homens, o acometimento da uretra pode provocar corrimento, sendo raramente acompanhado de lesões extragenitais. O quadro pode durar de duas a três semanas (BRASIL, 2022). INFECÇÃO NÃO PRIMÁRIA ↠ Após a infecção genital, o HSV ascende pelos nervos periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células dos gânglios sensitivos e entra em um estado de latência. Nenhuma medida terapêutica reduz a ocorrência de infecção do gânglio sensitivo (BRASIL, 2022). Episódios de recorrência são bem mais frequentes entre pacientes que apresentam primoinfecção por HSV-2 que por HSV-1. Após a infecção genital primária por HSV-2 ou HSV-1, respectivamente, 90% e 60% dos pacientes desenvolvem novos episódios nos primeiros 12 meses, por reativação viral. Essa reativação deve-se a quadros infecciosos, exposição à radiação ultravioleta, traumatismos locais, menstruação, estresse físico ou emocional, antibioticoterapia prolongada e/ou imunodeficiência (BRASIL, 2022). RECORRÊNCIAS ↠ O quadro clínico das recorrências é menos intenso que o observado na primo-infecção e pode ser precedido de sintomas prodrômicos característicos, como prurido leve ou sensação de “queimação”,mialgias e “fisgadas” nas pernas, quadris e região anogenital (BRASIL, 2022). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A recorrência tende a ocorrer na mesma localização da lesão inicial, geralmente em zonas inervadas pelos nervos sensitivos sacrais. As lesões podem ser cutâneas e/ ou mucosas. Apresentam-se como vesículas agrupadas sobre base eritematosa, que evoluem para pequenas úlceras arredondadas ou policíclicas. Nas mucosas, é incomum a visualização das vesículas, uma vez que seus tetos se rompem muito facilmente. Mais raramente, a ocorrência de lesões pode ser acompanhada de sintomas gerais (BRASIL, 2022). ↠ As lesões regridem espontaneamente em sete a dez dias, com ou sem cicatriz. A tendência natural dos surtos é se tornarem menos intensos e menos frequentes com o passar do tempo (BRASIL, 2022). COMPLICAÇÕES: As complicações extragenitais mais comuns são meningite asséptica e retenção urinária por disfunção do sistema nervoso autônomo sacral. Contudo, elas são incomuns e normalmente ocorrem em primoinfecção ou em pacientes imunocomprometidos (PASSOS et al., 2023). As gestantes com herpes simples apresentam risco acrescido de complicações fetais e neonatais, sobretudo quando a infecção ocorre no final da gestação. O maior risco de transmissão do vírus acontece no momento da passagem do feto pelo canal de parto. A infecção pode ser ativa (em aproximadamente 50% dos casos) ou assintomática. Recomenda-se a realização de cesariana sempre que houver lesões herpéticas ativas (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ Após a identificação de lesões sugestivas, o CDC orienta que o teste confirmatório seja realizado por teste virológico específico por NAAT ou cultura. No entanto, no Sistema Único de Saúde (SUS), os métodos citados não estão disponíveis, de modo que o diagnóstico é clínico (PASSOS et al., 2023). • Testes virológicos: Os HSV NAAT são os testes mais sensíveis e detectam o vírus em úlceras. Outro método disponível é o teste de PCR, ideal para pacientes com infecção de sistema nervoso central e infecções sistêmicas. Todavia, a não detecção pode ocorrer em lesões antigas ou na ausência de lesões ativas. A cultura tem sensibilidade de apenas 50% nas lesões genitais e exige que a amostra seja colocada diretamente em meios de cultura e seja rapidamente transportada para o laboratório. • Testes sorológicos: Os anticorpos específicos para o tipo de HSV se desenvolvem durante as primeiras semanas após a infecção e persistem indefinidamente. Em pacientes com teste sorológico positivo, o teste de anticorpos IgM não é útil para discriminar episódios primários e recorrentes de infecção por HSV. SÍFILIS ↠ A sífilis é uma doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum (PASSOS et al., 2023). ↠ Também conhecida por lues, cancro duro e protossifiloma, é uma doença infectocontagiosa, de evolução sistêmica (crônica) (FERNANDES, 2018). Epidemiologia ↠ O Brasil vive um período de aumento de casos de sífilis. Esse aumento pode ser decorrente do aumento da notificação de casos de sífilis, que em 2010 passou a ter notificação compulsória. Em 2016, haviam 42,5 casos por 100 mil habitantes (SANARFLIX). TRANSMISSÃO: se dá por meio de relação sexual desprotegida, transfusão de sangue ou compartilhamento de seringas com sangue contaminado e durante a gestação e o parto. Acredita-se que a transmissão sexual de T. pallidum ocorra apenas quando lesões sifilíticas mucocutâneas estão presentes. Tais manifestações clínicas da sífilis são incomuns após o primeiro ano de infecção (PASSOS et al., 2023). Quadro clínico ↠ De acordo com o Ministério da Saúde, a sífilis é classificada da seguinte forma: (PASSOS et al., 2023). • Sífilis primária: Ocorre de 10 a 90 dias após a exposição (média de 3 semanas), caracterizando-se pela presença de cancro duro ou cancro de inoculação, uma úlcera indolor com bordos endurecidos no sítio de entrada da bactéria no organismo, rica em bactérias e acompanhada de linfonodos regionais. Essa lesão desaparece sozinha, independentemente do tratamento. • Sífilis secundária: Ocorre dentro de 6 semanas a 6 meses após a cicatrização da lesão inicial, manifestando-se por manchas no corpo que, em 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck geral, não coçam, incluindo as palmas das mãos e as plantas dos pés. São lesões ricas em bactérias que também desaparecem espontaneamente, trazendo a falsa impressão de cura. Além disso, podem ocorrer micropoliadenopatia, linfadenopatia generalizada, sinais constitucionais, como mal-estar, febre, cefaleia, dor de garganta e falta de apetite, quadros neurológicos, oculares e hepáticos. A sífilis secundária representa a fase da circulação da bactéria na corrente sanguínea. • Sífilis latente: É a fase assintomática, dividida em latente recente (até 1 ano de infecção) e latente tardia (mais de 1 ano de infecção). A duração dessa fase é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária. • Sífilis terciária: Ocorre entre 1 ano e 40 anos da exposição e se manifesta por lesões gomosas e nodulares de caráter destrutivo na pele, lesões ósseas, como periostite, osteíte gomosa ou esclerosante, artrites, sinovites e nódulos justa- articulares, manifestações cardiovasculares, como estenose de coronárias, aortite e aneurisma de aorta, manifestações neurológicas, como meningite, gomas cerebrais ou medulares, atrofia do nervo óptico, lesão do sétimo par craniano, manifestações psiquiátricas, tabes dorsalis e quadros demenciais e paralisia geral, podendo levar à morte. Diagnóstico ↠ O diagnóstico de sífilis exige correlação entre dados clínicos, resultados de testes laboratoriais, história de infecções passadas e investigação de exposição recente. (PASSOS et al., 2023). ↠ O rastreamento inicial em âmbito de saúde pública deve ser realizado por teste treponêmico (teste rápido) e, se positivo, confirmado com teste não treponêmico (preferencialmente, VDRL [Venereal Disease Research Laboratory]). Os dois testes positivos confirmam o diagnóstico de sífilis (PASSOS et al., 2023). Algumas situações especiais indicam o tratamento imediato com apenas um teste positivo: vítimas de violência sexual, gestantes, risco de perda de seguimento, pessoas com sinais ou sintomas de sífilis primária ou secundária e pessoas sem diagnóstico prévio de sífilis (PASSOS et al., 2023). No caso de pacientes que tenham feito tratamento anterior para sífilis (documentado) e apresentem titulação com queda de pelo menos duas titulações após o tratamento, deve-se considerar cicatriz sorológica e não repetir o tratamento (p. ex., titulação 1:16 antes do tratamento e ≤ 1:4 depois do tratamento) (PASSOS et al., 2023). ↠ No caso de teste rápido positivo e teste não treponêmico negativo, deve-se realizar um novo teste treponêmico com metodologia diferente do primeiro e, se reagente, considerar sífilis ou cicatriz sorológica. Caso esse terceiro teste seja não reagente, considera-se que o primeiro teste foi um falso-reagente, excluindo-se o diagnóstico de sífilis (PASSOS et al., 2023). • Os exames diretos são a microscopia em campo escuro da lesão primária (exsudato seroso das lesões ativas para observação dos treponemas viáveis em amostras frescas) e a pesquisa em material corado (esfregaço em lâmina ou cortes histológicos com diferentes corantes). • O teste não treponêmico mais conhecido é o VDRL. Ele detecta anticorpos não específicos contra T. pallidum, porém presentes na sífilis. Resultados falso- reagentes podem ocorrer em reações cruzadas com HIV, gestação, senilidade, imunizações, uso de drogas injetáveis, ou indicar presença de anticardiolipinas, doenças autoimunes, hanseníase ou leptospirose. • Testes treponêmicos utilizados paraconfirmação, como o teste de imunofluorescência (FTA-Abs, 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck fluorescent treponemal antibody absortion test) e o ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA, enzyme-linked immunosorbent assay), podem permanecer positivos indeterminadamente, portanto não devem ser usados no monitoramento do tratamento. • O teste rápido para sífilis é um teste treponêmico de fácil execução, com leitura do resultado em, no máximo, 30 minutos. Pode ser feito com amostra de sangue total coletada por punção digital ou venosa. Tem a vantagem de ser realizado no momento da consulta. Os testes disponíveis na rede pública atualmente têm sensibilidade e especificidade superiores a 99,8%. CANCRO MOLE ↠ O cancroide é uma afecção provocada por Haemophilus ducreyi, mais frequente nas regiões tropicais. Denomina-se também cancro mole, cancro venéreo ou cancro de Ducrey (BRASIL, 2022). ↠ Tem como agente etiológico a bactéria H. ducreyi, que pertence à classe dos cocobacilos gram-negativos (PASSOS et al., 2023). Epidemiologia ↠ Houve declínio na sua incidência nos últimos anos. Porém, ainda se configura como terceira causa mais comum de úlceras genitais (SANARFLIX). TRANSMISSÃO: contato sexual. ↠ O risco de infecção em uma relação sexual é de 80%, mais frequente em homens (BRASIL, 2022). ↠ A sua patogênese não é bem conhecida, mas acredita- se que a contaminação ocorra através de microabrasões na pele durante a relação sexual (PASSOS et al., 2023). Quadro clínico ↠ O período de incubação é geralmente de três a cinco dias, podendo se estender por até duas semanas (BRASIL, 2022). ↠ As lesões são dolorosas, geralmente múltiplas e devidas à autoinoculação. A borda é irregular, apresentando contornos eritemato-edematosos e fundo heterogêneo, recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido, que, quando removido, revela tecido de granulação com sangramento fácil (BRASIL, 2022). ↠ No homem, as localizações mais frequentes são no frênulo e sulco bálano-prepucial; na mulher, na fúrcula e face interna dos pequenos e grandes lábios. Em 30% a 50% dos pacientes, a bactéria atinge os linfonodos inguino-crurais (bubão), sendo unilaterais em 2/3 dos casos, observados quase exclusivamente no sexo masculino pelas características anatômicas da drenagem linfática (BRASIL, 2022). ↠ No início, ocorre tumefação sólida e dolorosa, que evolui para liquefação e fistulização em 50% dos casos, tipicamente por orifício único. Raramente, apresenta-se sob a forma de lesão extragenital ou doença sistêmica (BRASIL, 2022). A cicatrização pode ser desfigurante. A aspiração, com agulha de grosso calibre, dos gânglios linfáticos regionais comprometidos é indicada para alívio de linfonodos tensos e com flutuação. São contraindicadas a incisão com drenagem ou excisão dos linfonodos acometidos (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ Para o diagnóstico definitivo, é necessária a identificação do H. ducreyi em meio de cultura específica, porém nenhum método de identificação tem sensibilidade adequada (sensibilidade < 80%). Os principais métodos são a cultura ou teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT), mas esses testes não são capazes de fornecer resultados rápidos e nem sempre estão disponíveis (BRASIL, 2022). 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck Dessa forma, os métodos de diagnóstico são pouco utilizados na prática médica, devido ao alto custo e à complexidade (BRASIL, 2022). ↠ O CDC-2021 sugere como tendo diagnóstico provável aquelas pacientes com uma ou mais úlceras genitais dolorosas, com fundo úmido e com adenopatia inguinal supurativa (podendo não estar presente). Contudo, é necessário que sejam descartados diagnósticos de sífilis (por exame de campo escuro ou NAAT do exsudato da úlcera, ou teste sorológico no máximo até 14 dias do surgimento da úlcera) e herpes (por meio de NAAT ou HSV do exsudato da úlcera) (BRASIL, 2022). O diagnóstico diferencial é feito com cancro duro (sífilis primária), herpes genital, LGV, donovanose e erosões traumáticas infectadas (BRASIL, 2022). DONOVANOSE ↠ É uma IST crônica progressiva, causada pela bactéria Klebsiella granulomatis. Acomete preferencialmente pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais (BRASIL, 2022). ↠ O agente etiológico envolvido é K. granulomatis, uma bactéria gram-negativa, intracelular, não móvel, que raramente pode ser diagnosticada por cultura. Ele pertence à microbiota intestinal, e seu período de incubação varia de 1 a 12 semanas (PASSOS et al., 2023). Epidemiologia ↠ É pouco frequente, ocorrendo na maioria das vezes em climas tropicais e subtropicais (BRASIL, 2022). ↠ Mais comum em regiões como África do Sul, Índia e América do Sul (PASSOS et al., 2023). ↠ Possui baixa prevalência no Brasil, estando mais associada a população com baixo nível socioeconômico, principalmente na região Norte (SANARFLIX). TRANSMISSÃO: A donovanose (granuloma inguinal) está frequentemente associada à transmissão sexual, embora os mecanismos de transmissão não sejam bem conhecidos, sendo sua transmissibilidade baixa (BRASIL, 2022). Quadro clínico ↠ O quadro clínico inicia-se com ulceração de borda plana ou hipertrófica, bem delimitada, com fundo granuloso, de aspecto vermelho vivo e de sangramento fácil (BRASIL, 2022). ↠ A ulceração evolui lenta e progressivamente, podendo tornar-se vegetante ou úlcero-vegetante. As lesões costumam ser múltiplas, sendo frequente a configuração em “espelho” nas bordas cutâneas e/ou mucosas (BRASIL, 2022). ↠ Há predileção pelas regiões de dobras e região perianal. Não ocorre adenite, embora raramente possam se formar pseudobubões (granulações subcutâneas) na região inguinal, quase sempre unilaterais (BRASIL, 2022). ↠ Na mulher, a forma elefantiásica é uma sequela tardia, sendo observada quando há predomínio de fenômenos obstrutivos linfáticos. A localização extragenital é rara e, quase sempre, ocorre a partir de lesões genitais ou perigenitais primárias (BRASIL, 2022). Diagnóstico ↠ O diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica, do exame físico e da história/possibilidade de exposição. O diagnóstico laboratorial exige visualização dos corpos de Donovan com coloração escura em tecido ou biópsia. A cultura tem alto custo e é de cultivo muito difícil (PASSOS et al., 2023). 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck RESUMO DE ÚLCERAS GENITAIS Referências HOFFMAN, Barbara L.; SCHORGE, John O.; HALVORSON, Lisa M.; et al. Ginecologia de Williams. [Digite o Local da Editora]: Grupo A, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. FERNANDES, Cesar E. Febrasgo - Tratado de Obstetrícia. Grupo GEN, 2018. BEREK, Jonathan S. Tratado de Ginecologia. Grupo GEN, 2014. DUARTE et al. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da vaginose bacteriana. Brazilian Journal of Development, 2019. PASSOS, Eduardo P.; MARTINS-COSTA, Sérgio H.; MAGALHÃES, José A.; et al. Rotinas em Ginecologia (Rotinas). Grupo A, 2023
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