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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Processos Criativos Criatividade nas Organizações Aula 5 Prof. Jheison Holthausen CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Nesta aula, vamos focar na criatividade não só de cada um de nós, mas de como podemos trabalhar a criatividade nas empresas como um todo. Como perceber oportunidades de mudança, necessidades, como modificar a cultura da organização (ou pelo menos tentar, já que isso pode ser bem difícil), e que tanto podemos nos envolver nesses assuntos. Não estamos falando necessariamente de organizações alheias: pode ser nossa própria empresa, ou a própria agência na qual trabalhamos. Também vamos falar de como a criatividade, no trabalho com publicidade, não se limita ao departamento de criação. Por último, vamos falar dos limites que temos como criativos, e de como precisamos elaborar materiais não necessariamente criativos, mas, sim, adequados. Para saber mais sobre os objetivos e temas desta aula, assista ao vídeo de introdução que está disponível no material on-line! Contextualizando A criatividade não é exclusiva da publicidade e nem a publicidade é exclusiva da agência. Estudar a criatividade e suas possibilidades em outros âmbitos nos prepara tanto para trazer elementos dos outros âmbitos como para descobrir de quais maneiras podemos exercer a criatividade nesses outros âmbitos. Pensando em um viés mais prático, pode acontecer das atividades da publicidade ultrapassarem os limites da comunicação e participarem da concepção de novos produtos, ou descobrirem a necessidade de mudanças em processos nas próprias empresas. Acesse o material on-line e assista ao vídeo com os comentários do professor Jheison sobre o assunto! Criatividade em organizações – Parte 1 Vamos falar sobre criatividade no contexto de uma organização. E não estou falando somente de agências de propaganda. Estou falando de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 organizações de modo geral, como empresas, organizações não governamentais (ONGs), órgãos do governo, indústrias, lojas, entre outras. E por que nos interessa abordar esses assuntos, se eu vou trabalhar em uma agência cheia de pufes e quadros brancos para pôr post-its? Podem acontecer várias coisas. Você pode trabalhar dentro de uma dessas empresas ou ONGs, em uma agência “in-house”. Também pode acontecer de questões supostamente limitadas à comunicação precisarem serem revistas na empresa como um todo. Também pode acontecer de você abrir a sua própria empresa. Como já vimos – e vamos continuar martelando essa ideia –, criatividade não é exclusiva de publicitários, nem de artistas. Então, falar em criatividade nas empresas não se limita à comunicação. Estamos falando de possíveis inovações em processos, em abordagens, em vários aspectos da empresa. Vamos falar em linhas bem gerais, para que esses princípios possam ser aplicados nos mais diversos tipos e tamanhos de organizações. Segundo John Kao (apud PREDEBON, 2010, p. 179), estamos na era da criatividade1. Ele percebe que, no contexto da era do conhecimento2, a criatividade está sendo valorizada de várias maneiras, com muita gente trabalhando em atividades criativas, com gerências que controlam menos e facilitam mais, e com empresas que precisam se reinventar. Predebon contrapõe a visão de Kao com a visão da empresa de consultoria Price Waterhouse (apud PREDEBON, 2010, p. 179-180), que aponta que as mudanças nas empresas não mudam o tanto que deveriam, devido principalmente a quatro fatores restritivos: práticas e tecnologias obsoletas, organização inadequada, foco na produção e não no consumidor e a cultura da empresa. 1 O livro foi publicado faz 20 anos, mas considero que o que ele disse ainda continua valendo. 2 Não estávamos na era da criatividade? Também estamos na do conhecimento? Pelo jeito estamos nas duas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 No geral, organizações não são abertas à criatividade ou à inovação. Tentativas de mudança podem ser percebidas como anomalias que ameaçam o equilíbrio da organização mais do que como oportunidades de melhorias. Então, contrapondo as duas visões, podemos pensar na contradição de abraçar a mudança, mas priorizar a segurança da empresa. Para viabilizar a criatividade em uma organização, podemos pensar em dois fatores fundamentais: a equipe e a estrutura. Vamos falar um pouco da equipe. Uma equipe competente e motivada, formada por pessoas com diferentes habilidades e conhecimentos, com um líder – e não um chefe – criativo, pode alcançar resultados fantásticos. Predebon (2010, p. 181) diz que as características fundamentais para ser esse líder são duas: desapego e segurança. Desapego para delegar trabalho aos subordinados, e que estes consigam fazer o trabalho e sejam merecedores do sucesso. Segurança, para não pensar que o sucesso dos subordinados pode ser uma ameaça. Também é importante que o trabalho da equipe não seja atrapalhado por estruturas hierárquicas muito rígidas. O outro fator é a estrutura da empresa. Comumente a empresa acaba reprimindo novas ideias, sendo que, para conseguir inovar, deveria facilitar o surgimento e implantação de novas ideias. Vamos abordar esses assuntos na próxima aula. Antes de continuar sua leitura, assista ao vídeo com as explicações do professor Jheison. Acesse o material on-line! Criatividade em organizações – Parte 2 Vamos começar com uma citação importante: “Inovação promovida pelas mudanças e produzida pela criatividade só pode acontecer num sistema pelas transformações das pessoas que o compõem” (PREDEBON, 2010, p. 184). É muito difícil mudar a cultura de uma empresa inteira, mas não temos como mudar a cultura da empresa em si a não ser mudando a cultura das pessoas que a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 compõem. Predebon sugere algumas atitudes, que podem ser consideradas fases, para que aprendamos a aceitar as mudanças. ■ Pensar: precisamos descobrir nossas reações e aprender a mudá-las. Se a primeira reação costuma ser a rejeição, precisamos transformá-la em otimismo diante da mudança. ■ Localizar: encontrar em processos e projetos as partes inovadoras, observá-las sob novos ângulos e não julgá-las da mesma maneira que faríamos com qualquer processo. ■ Aceitar: aprender a não se deixar levar pelo emocional. O emocional se sente mais à vontade com o que já é conhecido, e precisamos nos descondicionar e receber o que é novo. ■ Propor mudança: vencido o que nos condicionava, agora podemos propor mudanças. Esse é um bom começo para mudar as atitudes diante de projetos criativos. Predebon também aponta alguns “inimigos” da criatividade presentes nas organizações: ■ Excesso de normas: áreas inteiras que acabam sendo pequenas fortalezas de resistência à mudança. ■ Estratégias rigidamente frontais: é necessário admitir e até estimular “atalhos” para a solução de problemas. Uma estrutura rígida demais quanto a processos, que impede soluções menos formais, acaba prejudicando qualquer tentativa de inovação. ■ Postura séria e contida: é pouco provável que um ambiente excessivamente formal e sisudo, com funcionários se sentindo policiados, estimule qualquer tipo de mudança. ■ Estrita obediência a números: a cobrança de números e dados fundamentados pode ser impossível de ser atendida em projetos inovadores, servindo, assim, para desestimular a inovação. ■ Segmentação total de processos: uma excessiva segmentação impede fluxos de informação entre diferentes partes de uma empresa, dificultando CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 o surgimento de conhecimento e de soluções interdisciplinares, o queseria desejável para a inovação. ■ Obediência cega ao consenso: toda tentativa de inovação implica, em maior ou menor medida, em quebrar algumas regras. Ter que obedecer a regras dificulta os processos de inovação. ■ Cultura da segurança total: inovar implica riscos, o que é desestimulado em ambientes que prezem pela segurança total. Veja o que mais o professor Jheison tem a dizer sobre esse assunto. Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! Criatividade em organizações – Parte 3 Por enquanto falamos muito de mudança, de inovação, de criatividade, mas falamos pouco de resultados – que é o que realmente vai contar na hora da organização decidir se aposta na criatividade ou se mantém as coisas do jeito que estão. Predebon (2010, p. 189) nos dá três razões principais e concretas de como a criatividade pode ajudar em uma organização – e reparemos que podemos aplicar essas razões fora de uma organização também: ■ Substitui recursos e queima etapas nos processos de otimização: estamos falando de como uma ideia nova pode solucionar problemas de uma maneira mais eficiente do que métodos tradicionais contemplados nos regulamentos da organização. A ideia não precisa ser inovadora em si, mas a inovação pode estar na maneira em que conseguimos um recurso. Digamos que precisemos de pilhas para algum aparelho. Não temos muitas maneiras de inovar na troca de pilhas em si, mas talvez possamos ter as pilhas em mãos mais rápido se precisarmos passar por menos departamentos para autorizarem a compra. Ou se conseguirmos convencer algum dos departamentos que investir em pilhas recarregáveis pode ser uma solução melhor. Ou, melhor ainda, se os departamentos estiverem dispostos a inovar na hora de comprar pilhas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 ■ Contribui para a competitividade: já falamos que criatividade também passa por encontrar oportunidades. Achar uma necessidade do mercado, ou algum problema a ser solucionado também é uma atitude criativa. E, em organizações, isso se traduz em oportunidades de negócio. ■ Sintoniza a empresa com a vanguarda: melhor que prever o futuro é criá-lo. Dessa maneira, já estaremos lá, à frente de outras organizações. E como conseguimos esses resultados? Já vou avisando que não vai sair de graça. Mudar a cultura de uma organização pode ser bem complicado porque implica em mudar a atitude de várias pessoas. Algumas não vão querer mudar, porque acham que está tudo muito bem assim. Outras podem querer mudar e até podem ter tentado, mas, diante da atitude de pessoas que não querem mudar, desistiram. Outras podem querer mudar, mas quem já tentou mudar as desestimulam. É difícil mesmo. Mas aqui temos quatro elementos que precisam ser trabalhados na organização (PREDEBON, 2010, p. 191): ■ Diminuição e flexibilização das normas: como já falamos, é difícil inovar se precisarmos seguir à risca várias normas que provavelmente foram feitas para desestimular a inovação e deixar a empresa na segurança e conforto do “sempre fizemos desse jeito”. ■ Controle e avaliação: não podemos pensar que uma atitude vai ter bons resultados somente pelo fato de ser inovadora. Tem inovações que, sem os devidos cuidados, podem ser catastróficas – ou gerar problemas o suficiente para que se decida acabar com essas ideias malucas e voltar tudo como era antes. Então é necessário controlar os resultados das inovações e corrigir o rumo. ■ Clima de participação e diálogo: por um lado, tem pessoas que vão ter que ceder para dar espaço a inovações. Por outro, quem inova tem que saber ouvir. ■ Estímulo às iniciativas: é a soma dos três elementos anteriores. Se uma organização tiver normas menos rígidas, controlar o andamento de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 inovações, e tudo isso em um clima propício ao diálogo, está aberta a porta para a inovação. Para que a inovação aconteça de fato, são necessários o estímulo e engajamento de todas as pessoas do organograma. Não adianta querer inovar se a direção não está engajada nos mesmos processos, e vice-versa. Vamos continuar nossos estudos sobre o assunto deste tema? Então, assista ao vídeo que o professor Jheison preparou! Acesse o material on- line! Criatividade nos diferentes departamentos da agência A gente está acostumado a ver anúncios e talvez o nosso primeiro impulso ao querer trabalhar com publicidade tenha sido motivado pela vontade de criar anúncios como esses, que vendem produtos, que melhoram a imagem de uma marca, ou que pelo menos tiram um sorriso de quem os vê. Porém, esses anúncios não dependem somente da criação e, sim, são consequência do esforço de vários profissionais. Assim como em outros tipos de empresas, agências de publicidade podem se beneficiar da criatividade em setores que supostamente não podem ser criativos. Ser criativo não é exclusivo das agências de publicidade e muito menos do departamento de criação. Aqui vamos ver algumas oportunidades em que a criatividade tem que aparecer em outros setores da agência – ou melhor, oportunidades que podem ser aproveitadas de maneira criativa já que a criatividade não vai aparecer sozinha, segundo José Predebon (2000, p. 98- 115). Criatividade em planejamento e pesquisa É comum que essas atividades sejam feitas festejando a “racionalidade” dos processos e das técnicas. Essa maneira de pensar pode levar a resultados pobres, surgidos a partir de fórmulas estabelecidas porque sempre deram certo. Um olhar criativo sobre as pesquisas pode, por exemplo, levar a repensar as CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 perguntas feitas durante a pesquisa. Perguntas melhor elaboradas geram mais informação e a mesma quantidade de trabalho tanto de quem pesquisa como de quem as responde. Podemos ser criativos na hora de escolher a amostragem, incluindo pessoas ou grupos de pessoas cuja opinião também pode ser valiosa. A interpretação da pesquisa também pode se beneficiar do modo de pensar divergente, encontrando significados escondidos nas respostas. Criatividade e mídia Novamente a questão é a relação entre criatividade e a – suposta – frieza dos números. Audiência, público-alvo, são termos que também podem ser analisados de maneira criativa, nos ajudando a entender o que está por trás desses números. Predrebon (2000, p. 106) cita o exemplo de uma marca de carros de luxo que anunciou em uma revista especializada em viagens. Isso por si só já foge um pouco da lógica, mas a marca o fez para atingir médicos. Os resultados foram ótimos e o melhor: foram previstos pela agência, não foi uma experiência louca que deu certo por acaso. Fugir da mídia tradicional também pode ser uma atitude criativa. Além de anunciar em programas e revistas menos óbvios, encontrar novas maneiras – mais baratas e eficientes – de atingir o público requer criatividade. No começo dos anos 2000, falava-se muito em “marketing de guerrilha”. O termo se referia a ações feitas na rua que tinham um impacto direto em poucas pessoas, mas que tinham repercussão na mídia. Durante a Copa de 2002, circulou em vários jornais uma foto de uma bola de futebol de uns quatro metros de diâmetro que estava pendurada em um teto, caiu em cima de um carro de luxo e o danificou por completo. Lembro de vários jornais noticiando o “acidente”. Os jornalistas ignoraram que se a bola estivesse pendurada, ela não pesaria o suficiente para danificar o carro desse jeito. Além disso, ignoraram o enorme logotipo da Nike estampado na bola. Resultado? Propaganda de graça no mundo inteiro, e só precisaram estragar um BMW – e nem foi tão caro porque era um modelo antigo. Atualmente, com a difusão de programas de anúncios em redes sociais da internet, a criatividade em mídia pode se manifestar de outras maneiras, e CCDD – Centro de Criaçãoe Desenvolvimento Dialógico 10 com muitas oportunidades para fazer testes, testar novos públicos-alvo, novas palavras-chave, sem medo de perder muito em caso de erro. Criatividade e promoção de vendas Juntar cupons, trocar por brindes, leve dois pague três – ou era ao contrário? –, são lugares comuns da promoção de vendas. Mas que tal sair um pouco das fórmulas? Ou mudar alguma coisa na fórmula, para que ela seja mais eficiente? Ou talvez seja necessário solucionar algum problema da ideia mirabolante que tivemos. Para todas essas situações é necessário ser criativo. Um exemplo de criatividade em promoção eram os sorvetes que vinham com um iPod – daqueles pequenininhos – de brinde. Não era um palito premiado, nem um vale brinde, quem abrisse o picolé premiado se deparava com o próprio aparelho. Além da ideia em si, que contou com alguém cujo cérebro fez as conexões necessárias para chegar nessa ideia, foi necessário criatividade para superar possíveis problemas – um deles era como fazer para que o picolé com o brinde não fosse descoberto porque era mais pesado ou mais leve. Ainda bem que quem ganhasse o iPod também tinha direito a outro picolé, porque iPods, afinal, não refrescam. Criatividade no atendimento A galera do atendimento é mais do que uma central de recados entre criação e cliente. Dependendo da agência, o atendimento pode passar por vários outros setores. Nessa interação com vários setores é que aparece a criatividade do atendimento, que é encontrar oportunidades e ideias. Pelo seu trato com o cliente, e pelo conhecimento do processo como um todo, o atendimento pode ter acesso a mais informações, o que facilitaria essas ideias. Agora, as explicações são por conta do professor Jheison! Acesse o material on-line e assista ao vídeo que está disponível para você! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Adequação Já que estamos falando de criatividade no atendimento, Predebon (2000, p. 109) adverte que o atendimento não pode deixar de lado a qualidade que mais se espera dele, que é a organização. O autor também fala de como o atendimento tem a ingrata tarefa de frear possíveis excessos de criatividade. Parece contraditório que uma disciplina cujo objetivo é estimular e ensinar a sermos criativos venha falar em limites. Mas eles existem e o desafio não é somente ser criativo, mas ser criativo respeitando esses limites, chegando em uma solução adequada ao problema. Voltando ao que Predebon fala sobre o atendimento, ele exemplifica que uma campanha extremamente ousada pode gerar ressentimento por parte do cliente diante de um insucesso imediato, ou diante de críticas de terceiros, e se sentir “traído” pela agência. Essa situação diz respeito à criatividade de duas maneiras. Uma é a maneira como as ideias são “vendidas” ao cliente, que pode ser feita de forma criativa. Não estou falando de apresentações espetaculares e, sim, de mostrar que a ideia é boa e que ele deve confiar na agência. Por outro lado, diz respeito aos objetivos da criatividade e da agência. O objetivo da agência não é ser criativa, é comunicar. E a criatividade, como vimos, não se limita à criação de anúncios. Então, lembre-se de seus objetivos. Ideias mirabolantes, sozinhas, não fazem nada. A sua criatividade tem um objetivo e, se não cumprir esse objetivo, não adianta. Ela também tem limites e, se sua criatividade não os reconhecer, ela não está funcionando como deveria. Se você não se preocupou com o orçamento e apresentou uma ideia que o extrapola, a sua ideia não serve. Se você teve uma ideia que não se comunica com o público-alvo, a sua ideia não é adequada. Se pediram um filme e sua ideia só serve para o impresso, comece de novo. Infelizmente vamos topar com essas limitações, não tem jeito. E treinar nosso lado criativo precisa levar isso em conta. Não adianta depois reclamar que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 o atendimento não soube vender a ideia ao cliente. Ser adequado deve ser seu objetivo desde o começo. E para finalizar os estudos deste tema, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Trocando ideias Na entrevista a seguir, Rui Santo, professor de criatividade e inovação, fala da criatividade e da inovação nas empresas, das características dos profissionais criativos, de como inovar sem correr riscos desnecessários, entre outros. Leia, compare com o que foi visto na aula e discuta com seus colegas no fórum desta disciplina! Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! Por que a criatividade é essencial às empresas? Por Patrícia Bispo para o RH.com.br O que faz o diferencial nas organizações são as pessoas. Essa frase, pelo menos em sua essência, já foi mencionada milhares de vezes por especialistas, empresários e gestores que direcionam suas atenções para o capital intelectual. Dentro desse universo de pessoas que dão vida às empresas, cada vez mais são valorizadas competências como, por exemplo: espírito de equipe, comunicação interpessoal, capacidade de lidar com o novo, empreendedorismo, entre outras. Somando-se a esse conjunto, surge a criatividade - apontada com um dos principais diferenciais dos talentos que hoje são tão cobiçados pelas companhias. Afinal, por que as empresas valorizam tanto a criatividade e o que isso significa para o negócio? O que desperta o potencial criativo de um indivíduo? Qualquer pessoa é capaz de externalizar sua criatividade no âmbito organizacional ou há fatores inibem que esse "fenômeno" aconteça? Qual o grau de proximidade entre criatividade e inovação? Esses são apenas alguns dos questionamentos que certamente inúmeros profissionais que lidam com a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Gestão de Pessoas devem estar fazendo nesse momento. Para responder essas e outras perguntas, o RH.com.br entrevistou Rui Santo, professor de Criatividade e Inovação em vários MBAs. Ele é autor de várias ferramentas de criatividade e também responsável pelo desenvolvimento da Balança da Inovação - primeiro instrumento de medidas de Ideias, e responsável pelo site www.galaxiacriativa.com.br. "O profissional inovador precisa ter uma visão muito ampla, ter um lado criativo e outro inovador, precisa conhecer detalhes do mercado onde atua e estar antenado com as tendências e as preferências dos clientes e da concorrência", comenta. A entrevista com Rui Santo é, no mínimo, um convite para que você reflita sobre o seu potencial criativo e o que pode ser feito, na prática, para que sua equipe torne-se inovadora. Uma ótima leitura! RH.com.br – Qual a relação existente entre inovação e criatividade? Rui Santo – A inovação é derivada das ideias. Aquilo que não passou pela cabeça dos criativos, ninguém usa, compra, vende, aprende, ensina, conversa. Ninguém nada! Confúcio, o filósofo chinês, há 2.500 anos colocou o criativo e o receptivo como os "batentes de uma porta", por onde tudo passa. Ao criativo, diz Confúcio, tudo se deve. Assim, as ideias pertencem às pessoas criativas, enquanto a concretização dessas ideias pertence às empresas inovadoras. Em 2009, o Ano Europeu da Inovação, esse conceito foi fortemente reafirmado. Então, temos dois momentos bem distintos e separados, mas necessariamente interligados - a criação e a concretização. RH – Esses dois conceitos são confundidos, principalmente no campo organizacional? Rui Santo – Não está clara a sequência, que necessariamente tem que ser seguida, sem sobreposição de fases e com ações devidas e típicas de cada fase. De modo geral, há muita atenção ao processo de inovação, telhado - efeitos, e pouca atenção para a criatividade, fundações e estruturas - causas escondidas. Resultado: o fracasso chega a 94% dos casos. Desse modo, http://www.galaxiacriativa.com.br/ CCDD – Centro de Criação e DesenvolvimentoDialógico 14 sucesso só ocorre por acaso. Mudamos o método radicalmente. Há anos, nossos alunos aprendem a medir, a calcular matematicamente as ideias e descobrem o "Sentido Universal de Direção de Ideias para Inovação". Assim, os riscos e as incertezas devidos às ideias são minimizados ao ínfimo. Com a Gestão das Ideias antecedendo a Gestão da Inovação, esta vira uma atividade quase burocrática, quase sem riscos nem incertezas. Não há nada de novo nesse método, embora seja uma mudança radical na inovação. Se você vai construir uma ponte, depois que termina o projeto - Gestão das Ideias - estruturas, acessos etc., abre a concorrência para execução e depois constrói a ponte. Esse processo é natural. Anormal é inverter e sobrepor essas fases. RH – É possível separar as vertentes da inovação e da criatividade? Rui Santo – Não só é possível como é indispensável separá-las. São ações diferentes, praticadas em momentos sequenciais e não simultâneos, com ferramentas típicas de cada fase - por isso não devem ser simultâneos. Estamos construindo uma tabela com mais de 90 itens que separa as características e as ações da Gestão das Ideias da Gestão da Inovação como, por exemplo: Gestão de Ideias - Fase de criação: 80% de criatividade com 20 % de racionalidade. Gestão da Inovação - Fase de implementação: 80% de racionalidade com 20% de criatividade. É o método usado em engenharia. Na fase de projeto e criação, o valor está nas ideias - 80%, enquanto na fase de construção e implementação, a racionalidade é valorizada 80%. Isso não impede que na implementação surjam novas ideias, mas elas estão limitadas à execução. RH – Em sua opinião, quais as principais características de um profissional inovador? Rui Santo – O profissional inovador precisa ter uma visão muito ampla, ter um lado criativo e outro inovador, precisa conhecer detalhes do mercado onde atua e estar antenado com as tendências e as preferências dos clientes e da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 concorrência. O inovador precisa estimular os criativos, para que ampliem a abrangência das ideias, de modo sistemático, isto é, baseado em dezenas de técnicas de criatividade. Para essa ação tem surgido o agente de inovação, um consultor externo especializado em técnicas de criatividade que acompanha, apoia e estimula os criativos da corporação a produzirem múltiplas aplicações das ideias. As empresas ficam com a aplicação de seu interesse, e licenciam as outras para segmentos diferentes. É uma forma criativa do profissional inovador de diminuir os riscos e aumentar o retorno do investimento, além de produzir sinergia entre segmentos. RH – E as características de um talento criativo? Rui Santo – Basicamente identificamos dois tipos. O tipo Miguelangelo - todo o trabalho de Michelangelo está centrado exclusivamente em pintura e escultura - é original, com ideias de sustentação e continuidade, mais do mesmo, melhoria contínua. Esse tipo também é conhecido como "dentro da caixa". O tipo Leonardo Da Vinci - todo o trabalho de Da Vinci está distribuído em diversas áreas, inclusive pintura e escultura - é criativo com ideias de ruptura, revolucionarias radicais, disruptivas. Esse tipo também é conhecido como "fora da caixa". Na verdade os criativos circulam dentro e fora da caixa conforme as requisições que lhe são feitas e as possibilidades disponíveis. Por exemplo, Fernando Pessoa era contador - pior é difícil - e Kant era tão metódico que os vizinhos acertavam o relógio pela passagem dele na rua. Há ambientes próprios para criativos, mas há também laboratórios cheios de ratos onde pesquisadores criativos têm insights maravilhosos. Assim, qualquer coisa que se diga sobre os criativos, pode ser encontrada o oposto. A eles, tudo se deve. RH – Quais os principais fatores que têm levado as empresas a atraírem atentos criativos e inovadores? Rui Santo – As empresas precisam de gente que pense dentro e fora da caixa, se quiserem se manter atuantes. Há alguns anos, dizíamos que a busca CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 por pessoas criativas estaria entre os três primeiros requisitos de qualquer profissional do futuro. Uma pesquisa da IBM, realizada em 2011, mostrou que essa já é a primeira condição, globalmente. Assim, ousaria dizer que em breve, talvez em dez anos, a criatividade será "o único" talento requerido, uma vez que qualquer capacidade humana - negociação, liderança, inovação, habilidade de decisão, entre outros, dependem da criatividade, da intuição desenvolvida. As outras funções serão informatizadas. Entre os 20 cursos mais procurados na Internet, três são de produção de ideias. Isto é, de um modo ou de outro, os profissionais estão percebendo a força desse requisito, cujo poder ainda não é claro. RH – Profissionais criativos e inovadores costumam permanecer muito tempo nas empresas? Rui Santo – Os criativos não ficam muito tempo numa mesma empresa. Nem mesmo quando é a empresa deles. Por quê? Porque cansam. Entram em processo de repetição. Fica chato. Gera a sensação de algum tipo de perda que não dá para identificar ali. Parece que a eficiência, a evolução pessoal estagnou com tendência a retroceder. Nem mesmo pessoas reconhecidamente muito criativas ficam muito tempo em suas próprias empresas. Pelé não ficou a vida inteira no "Santos Futebol Clube". Ele foi jogar nos Estados Unidos. Bill Gates faz tempo que saiu da Microsoft. Steve Jobs iniciou na Apple em informática, saiu, voltou para o segmento de mobile. RH – Quais as razões que, geralmente levam esses profissionais a procurarem outras organizações para atuarem? Rui Santo – Diria que é a busca de evolução pessoal, de novos movimentos, dado que o movimento é sagrado para a criatividade. A sensação de estar patinando fica forte quando se está muito tempo repetindo o mesmo trabalho na mesma posição, gerando a sensação de perda de algo de valor. Não há produção de novas sinapses mentais e o criativo sente essa falta, como se CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 estivesse autoagredindo-se, sufocando-se. Não diria que são novos desafios como habitualmente se comenta. Há muita perda em desafios e criativos não gostam de perdas em contendas e competições, que soam como algo tortuoso, imaturo, infantil, que retrocede. Criativos precisam de espaços para sentir que estão contribuindo, avançando, criando, evoluindo verticalmente. Quando é difícil sair da instituição, caso de funcionário público concursado, a alternativa é a invenção e a prática de algum hobby que exija dedicação cognitiva. RH – Em sua opinião, o que mais deprecia a inovação e a criatividade no meio organizacional? Rui Santo – De longe, ocupando nove dos dez primeiros lugares, é a metodologia. As práticas atuais geram perdas de todas as ordens: financeira, desmotivação, incerteza, alto risco, instabilidade, descrença, descrédito, sensação de incompetência, entre outras. A metodologia de inovação praticada na maioria das empresas é inadequada em qualquer utilização. Por exemplo, se você vai dar um presente para sua namorada e busca um presente de sua conveniência - risco número 1 - e do seu gosto - risco número 2 - o resultado só pode ser alto risco elevado ao quadrado. Até um presente para a namorada vira alto risco e incerteza com essa metodologia que se concentra no próprio umbigo, praticada por muitas empresas que querem ser inovadoras. A incerteza e alto risco não são inerentes à inovação. Se procurarmos um presente da conveniência e do gosto da namorada - e não do próprio umbigo do presenteador -, os riscos e a incerteza praticamente desaparecem. Akio Morita já explicou isso no século passado. Não que não exista risco. Mas existe tanto quanto um carro fabricado há dez anos e que por um erro de montagemo fabricante tem que fazer recall. O risco da inovação não pode ser maior que isso. RH – Qual o caminho para diminuir os riscos e as incertezas? Rui Santo – Para diminuir os riscos e as incertezas desenvolvemos diversas ferramentas que são bastante simples, obvias e já são ensinadas há CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 anos em diversos MBAs onde sou professor. Vou somente relacionar algumas como, por exemplo: a. Primeira condição e a mais importante é que o foco deve ser do usuário/consumidor, sempre! O homem é a medida de todas as coisas. É o usuário/consumidor quem, desde sempre, decide o que e como quer. As ideias tem que estar centradas no ponto de vista dele. b. As ideias destinadas à inovação são medidas, quantificadas, calculadas matematicamente. Todos nós, desde sempre, calculamos ideias de modo inconsciente. Assim, desenvolvemos cinco métodos de medição de ideias. O primeiro é uma formulação matemática onde surge a unidade de medida - IUR, o segundo método é por comparação de alguns itens que podem ser alterados conforme o projeto, o terceiro apenas quantifica as ações, o quarto método é tratado como "a prova dos nove" e o "alarme sonoro/financeiro. O quinto e último método é a Balança da Inovação - patente requerida - o primeiro instrumento para medição de ideias, tratado pelos alunos por "Ovo de Colombo". c. Do cálculo matemático da ideia surge o "Sentido Universal de Ideias para Inovação" - é único e milenar, sempre foi assim, nunca foi diferente. Não foi encontrado exceção. Esse item é fundamental para compreensão da formulação matemática. Talvez seja mais importante que o número calculado da ideia. Esta descoberta é análoga à descoberta do número zero pelos hindus no ano 150 a.C. que deu o sentido de direção da numeração - 0 para 9, vazio para cheio. d. Do primeiro e segundo método surge o Periscópio do Futuro, uma maneira bem simples de enxergar o futuro imediato de produtos e serviços. Esse item vai poupar muito desperdício de ideias aos criativos e aos inovadores. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 e. Do primeiro e segundo método também surge o ponto de atração e convergência da sustentabilidade e das ideias para inovação. Esse item é muito importante para os especialistas em sustentabilidade, uma vez que fica esclarecido "para onde" ela se encaminha, matematicamente. É a expressão da natureza inspirando os criativos à proteção da terra, de um modo muito bonito. Tenho a impressão que os alunos gostam muito desse conhecimento. RH – Quer recursos estão sendo mais usados para estimular o potencial criativo nas empresas? Rui Santo – As empresas estão usando o "agente de inovação", como expliquei acima, mas também estão criando os Espaços Lúdicos, inéditos no Brasil. Os Espaços Lúdicos são ambientes projetados para Inspiração Criativa, Produção de Epifanias. É uma forma mais clara e direta da empresa dizer publicamente que aceita, incentiva, estimula a produção de ideias. Diferente de uma sala de café ou de descanso, os Espaços Lúdicos têm a função de estimular a mente ao extremo, com objetos, decoração, clima e tudo mais que despertem os cinco sentidos, mais dois, a percepção, a intuição, desbloqueiam a mente levando o profissional a ter insights, mesmo os que se acham incapazes de tais feitos. Há outras iniciativas como os Diálogos Coletivos - envolve todos que quiserem - e Diálogos da Administração - só para gerentes. São mais usados para dissuadir os "gerentes médios" de seus hábitos, os piores resistentes às novas ideias nas empresas. RH – Por que toda organização precisa libertar a criatividade e a inovação que se encontram adormecidas nos profissionais? Rui Santo – Porque se impedir a criatividade mata a inovação. Porque é uma questão de saúde mental que evita o Mal de Alzheimer à medida que o proprietário do cérebro, aumenta a sua rede neural. A criatividade precisa ser CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 praticada em todo lugar, especialmente nas corporações que devem contribuir com a qualidade cognitiva dos colaboradores. Fonte: RH.com.br. Disponível em: http://www.rh.com.br/Portal/Criatividade/Entrevista/8227/por- que-a-criatividade-e-essencial-as-empresas.html Acesso em 02/06/2016. Na prática Imagine que você é o responsável por fazer uma campanha interna de uma fábrica de pães de forma e bolos. O objetivo é motivar os funcionários para que eles sugiram inovações para a empresa. Como você faria essa campanha? Quais informações você levantaria para poder começar a trabalhar? Trabalharia com quais recursos? Pensaria em alguma ação ou só peças de comunicação tradicionais, como cartazes? Veja o que o professor Jheison tem a dizer sobre a atividade prática no vídeo que está disponível no material on-line! Síntese A criatividade está presente nos mais diversos lugares, e em alguns casos, estimular soluções criativas e inovações pode ser muito benéfico. Há obstáculos diferentes a serem vencidos, mas também se trata de um exercício diferente para a nossa criatividade, para não “adestrá-la” para fazer anúncios. Também vimos como a criatividade pode se fazer presente em uma organização mais conhecida dos publicitários, que é a própria agência. Não é por trabalhar com criação que a própria agência vai ser, em si, uma organização criativa. Relacionado a todos esses assuntos, fechamos a aula falando em adequação, ou seja, como a criatividade, em partes, se submete à necessidade de resolver um problema e não é tão protagonista quanto alguns de nós podemos pensar. http://www.rh.com.br/Portal/Criatividade/Entrevista/8227/por-que-a-criatividade-e-essencial-as-empresas.html http://www.rh.com.br/Portal/Criatividade/Entrevista/8227/por-que-a-criatividade-e-essencial-as-empresas.html CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Para as considerações finais do professor Jheison, assista ao vídeo que está no material on-line. Referências PREDEBON, José. Criatividade na propaganda. In: PREDEBON, José (org.). Propaganda: profissionais ensinam como se faz. São Paulo: Atlas, 2000. _________. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente… 7ª edição. São Paulo: Atlas, 2010.
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