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INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO I O Nome "Novo Testamento" vem do latim "Novum Testamentum", tradução do grego HE KAINE DIATHEKE = "A Nova Aliança". O conceito de Aliança vem do Velho Testamento, quando Deus toma a iniciativa de fazer uma Aliança (berith = concerto, pacto) com um povo escolhido - o judeu. Como toda a aliança, esta tem também condições: o povo devia obediência, temor e adoração a Yahweh; o povo não conseguiu cumprir a sua parte no acordo, fazendo-se necessária uma nova aliança, a Nova Aliança, ou Novo Testamento, tendo em vista a redenção do homem e a instalação e confirmação do domínio de Deus sobre a criatura decaída, definitivamente. Esta Aliança, descrita e citada principalmente em Jr 31.33, tem sua confirmação nas palavras e atos de Jesus, segundo Lc 22.20. CONTEÚDO "O conteúdo do Novo Testamento consiste na revelação deste novo pacto por meio das palavras escritas de Jesus Cristo e dos seus seguidores." (Tenney). Basicamente narra a vida de Jesus Cristo, desde o seu nascimento até sua morte e ressurreição, continuando a narrar o nascimento e expansão da igreja de Cristo, abordando vários problemas surgidos no decorrer dos anos, não se limitando a fatos terrenos, mas explorando com propriedade fatos divinos, que por vezes transcendem à nossa compreensão. Não parando aí, tem em seus escritos proféticos representantes legais da transcendência dos próprios escritos históricos, abordando num contexto de perseguição e injúria, aspectos futurísticos de nossa crença, mostrando fidelidade e misericórdia de Deus para com o homem que insiste em lhe ser infiel. Dá ao homem a descrição histórica e a interpretação da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Apresenta ao homem a oportunidade de se redimir de sua condição de pecador através da fé naquele que foi, é e há de ser! COMPOSIÇÃO: É composto por 27 livros que se dividem: 1. Divisão natural: a) Os 4 Evangelhos; b) O Livro de Atos dos Apóstolos; c) 21 cartas escritas pelos apóstolos ou "homens apostólicos", d) O Livro de Apocalipse. 2. Caráter literário: a) Livros históricos: Os 4 Evangelhos e Atos. b) Livros doutrinários: Rm, 1-2 Co, Gl, Ef, Fp, Cl, 1-2 Ts, Hb, Tg, 1-2 Pe, Jd, 1 Jo. c) Livros pessoais: 1-2 Tm, Tt, Fl, 2-3 Jo d) Livro profético: Apocalipse. 3. Segundo os autores: São 27 livros de 9 autores diferentes, a não ser que se considere Hebreus como sendo de Paulo (então 8). Todos os autores são judeus, com exceção de Lucas. Mateus, Pedro e João faziam parte do corpo apostólico; Marcos, Judas e Tiago eram bastante conhecidos e trabalhavam na Igreja Primitiva; Lucas e Paulo mantiveram contato com os apóstolos podendo conferir seus escritos. A palavra KANON do hebraico "qâneh" = vara ou régua usada para manter algo em linha reta. Os clássicos gregos = regra, norma ou padrão. Paulo usa Kanon em Gl 6.16 como regra moral ou lei moral; e em 2 Co 10.13-16 como a esfera de ação demarcada por Deus. Na patrística toma o sentido de "canon eclesiástico" = cânon da igreja, regras de doutrina e prática. Somente no Século IV a patrística aplica o termo às Escrituras se referindo a ela como escritos aprovados pela igreja. Na luta contra os pagãos e hereges, a igreja produz a lista de escritos ou dos livros aceitos como inspirados e do modo como estão escritos. Os livros do Velho Testamento eram chamados "canônicos" porque eram considerados padrão de conduta! DEFINIÇÃO "Cânon é o corpo de escritos havidos por únicos possuídos de autoridade normativa para a fé cristã, em contraste com escritos que não o são, ainda que contemporâneos.” (Bittencourt, B.P.). CRITÉRIO CANÔNICO Para fazer face à controvérsia com hereges e descrentes, foram adotados alguns critérios de seleção: 1. Apostolicidade: era necessário ter sido escrito por um dos apóstolos ou ter a sua aprovação (imprimatur). Os evangelhos deveriam manter o padrão apostólico de doutrinas, em especial o que dizia respeito à encarnação. Deveria ser um evangelho completo e não apenas porção de um. 2. A Circulação e Uso do Livro: muitas vezes a identificação apostólica era difícil. Mas o uso do livro no decorrer do tempo lhe atribuía autoridade e recebia o "imprimatur" da sociedade cristã universal. 3. O Caráter Concreto do Livro: muitos escritos, apesar de não contrariarem padrões ortodoxos, eram meras ficções, como p.ex.: "Atos de Paulo e Tecla". 4. Ortodoxia: deveriam seguir o que Paulo chama de "padrão de doutrina” (Rm 6.17), "padrão de sãs palavras" (2 Tm 1.13) ou "depósito" (1 Tm 6.20). 5. Autoridade Diferenciadora: mesmo antes de serem mencionados juntos, alguns recebiam a mesma autoridade dos escritos do Antigo Testamento, como p.ex. quando Barnabé em sua epistola (c. 130) usa Gegraptai para citar Mateus. 6. A Leitura em Público: havia escritos que eram aconselháveis para a leitura em particular, e outros, que recebiam autoridade para serem lidos em público, p. Ex. Vd. 1 Tm 4.13. O cânon foi fixado como o conhecemos hoje apenas no Séc IV. No oriente o ponto definitivo foi a Trigésima Nona carta pascal de Atanásio (367 d.C.), onde encontramos pela primeira vez os 27 livros reunidos como os conhecemos hoje. No ocidente, foi fixado por decisão do Concílio de Cartago, em 397 d.C., quando o "Cânon Atanasiano" foi definitivamente aceito. O MUNDO POLÍTICO Já temos conhecimento da história do povo de Israel desde o chamado de Abraão até o exílio Babilônico. Este período que compreende cerca de 1250 anos da história da humanidade, é, sem dúvida, o período mais conhecido pelos historiadores - mesmo os que estudam a história universal. Todos os povos registram fartamente a odisséia de seus heróis, o que nos proporcionou conhecermos diferentes meios de Deus agir para fazer cumprir Sua vontade em relação a Seu próprio povo. No entanto, há uma época na história do povo de Deus, especificamente, que praticamente não foi registrada: é o período que denominamos "Período Intertestamentário". Trata-se do período compreendido entre o final do livro de Malaquias e o começo da história narrada nos Evangelhos. Neste período, de alguma forma, Deus retira o foco das atenções da Palestina e nos mostra como Ele prepara o mundo para a vinda do Messias. O Período Intertestamentário. Por várias e múltiplas razões será necessário considerar mais detalhadamente o período que precede o nascimento de Jesus. Ainda que os estudantes tenham uma idéia geral dos acontecimentos da história do Antigo Testamento, muito poucos sabem algo a respeito dos importantes eventos ocorridos durante a época intertestamentária, devido em primeiro lugar a que estes não estão relatados em nossas Bíblias. No entanto, este período tem um significado especial ao estudante. Houve, entre os judeus, modificações tão profundas nas áreas política, econômica, social e religiosa que aquele que desconhecer estes fatos não é capaz de entender o Novo Testamento. A Bíblia não diz nada acerca dos eventos ocorridos durante estes 400 anos. Estas informações nos são providas pelos autores seculares como Josefo e os livros Apócrifos. A história da Pérsia, Grécia e Roma também oferece muito material sobre o período. Divisões do Período A história entre os dois Testamentos se divide em quatro partes, que consideraremos seguindo sua ordem cronológica. (1) Império Persa, 538 (400) - 332 a.C.; (2) Império Grego, 332 -167 a.C.; (3) independência Hebréia, 167- 63a.C.; (4) Império Romano, 63 a.C. - 70 d.C Os Judeus sob o Domínio dos Persas Não é necessário detalhar a história da Pérsia, nem como conquistou o domínio sobre os judeus ao dominar a Babilônia no ano de 538 a.C. Os judeus, sendo cativos da Babilônia foram subjugados pelos persas, por Ciro, o Grande. Sob Ciro e os governantes que lhe seguiram, os judeus obtiveram muitos privilégios e favores. Ciro lhes prometeu que voltariam a sua terra de origem e lhes assistiu completamente na empresa. Os judeus foram tratados imparcialmente pelos governantes persas, tanto em seu território como na Palestina. Naturalmente não eram livres,mas enquanto reconheciam a supremacia persa e observavam as leis que a governavam, não foram molestados e nem se abusou deles. Quando termina o Antigo Testamento no ano de 400 a.C. aproximadamente, o povo judeu de Judá ainda estava sob o domínio persa. Este continuou, sem queixa aparente por parte dos judeus, até que o poder persa passou a diminuir para terminar finalmente com as conquistas de Alexandre, o Grande, da Grécia. Ascensão da Grécia ao Poder Os gregos, que deveriam afetar tão profundamente o transcurso da história, emergiam como nação vários séculos antes de Alexandre, o Grande, ocuparam as margens sudeste da Europa e algumas ilhas do Mar Egeu, território que ainda pertence à Grécia sob o nome de Ilhas de Peloponeso. A menção da palavra Grécia traz à mente alguns dos gestos memoráveis dessa raça notável. Destacaram-se em quase todos os aspectos da atividade humana. A antiga Atenas era o centro intelectual na época que precedeu o cristianismo. Ali as artes floresceram e alcançaram os mais altos cimos. Desenvolveram o idioma mais eficiente do mundo. Sua contribuição no campo da filosofia, literatura, escultura, arquitetura e outras artes livres nunca foi igualada por ninguém. Deram ao mundo homens como Tucídides, Aristarco, Xenofonte, Sócrates, Platão, Aristóteles, Diógenes, Alexandro, Demóstenes e muitos outros. No século Quarto antes de Cristo sua cultura foi levada por apóstolos cheios de zelo até mesmo ao oriente. Os Judeus sob Alexandre Durante toda a sua campanha militar, Alexandre pareceu ser parcial e favoreceu aos judeus. Admirava suas excelentes qualidades e lhes concedeu os privilégios de cidadania em Alexandria e em outras cidades. Parece que, enquanto viveu Alexandre, os judeus nunca foram vítimas de discriminação. Não duvidamos de que ele insistiu para que aceitassem a filosofia helênica, ainda que em nenhum lugar se diga que os obrigara a renunciar sua fé. No entanto, depois de sua morte, os judeus conheceram a época de maiores sofrimentos em toda sua longa história. Quando Alexandre morreu no ano de 323 a.C. não havia nenhum homem suficientemente capacitado para suceder-lhe e manter o vasto império que havia conquistado. Seu reino se dividiu no ano de 323 a.C., entre quatro de seus generais que eram Ptolomeu, Lisímaco, Cassandro e Seleuco. Estas divisões se chamam normalmente: a ocidental, ou grega; a do norte, ou Armênia; a oriental, ou Síria; e a do sul, ou egípcia. A Síria, governada por Seleuco, era fronteiriça com a Palestina pelo norte. A do sul, ou egípcia, estava sob Ptolomeu e fazia fronteira com os judeus pela parte sul de seu pequeno país. Na realidade, os judeus estavam entre duas forças e eram pretendidos pelos seleucidas e pelos ptolomeus. Pouco tempo depois da divisão do reino de Alexandre, a Palestina caiu em poder dos ptolomeus do Egito. Ptolomeu Sotero era o mandatário e o príncipe foi muito severo em seu trato com os judeus. No entanto, chegou a apreciar suas boas qualidades e foi cordato com eles. A numerosos judeus concedeu lugares de autoridade e privilégio. Sotero foi sucedido por Filadelfo, que também lhes teve em estima. Este foi um governante muito capaz, e foi o responsável direto de muitas obras. Construiu o famoso farol de Alexandria na boca do Nilo. Mais importante ainda foi a grande biblioteca e o museu que fundou em Alexandria, importante centro de cultura no Mediterrâneo durante séculos, e que foi queimado pelos muçulmanos no Século VII d.C.. O Significado do Helenismo Com o objetivo de poder apreciar realmente o problema com que os judeus tiveram que se enfrentar nesta época, o estudante deve compreender algo sobre o que significa o helenismo (a filosofia dos gregos), pois o enfrentavam a cada momento. O helenismo era uma forma de vida radicalmente distinta da dos judeus e de qualquer pessoa oriental. Não é de admirar que depois das conquistas de Alexandre, o grego ganhou o mundo em pouco tempo. As formas e costumes de vida eram completamente diferentes das orientais. Seus vestidos eram chamativos e faustuosos, e levavam mantos e gorros largos. Sua ênfase ao estilo próprio e a atenção que davam à apresentação pessoal era considerado frívolo e perverso pelos judeus. Toda classe de prazer era desejável além de lícita. A vida deve ser desfrutada hoje porque pode ser que amanhã não possamos. A religião e, de forma particular o que concerne à vida futura, tinha pouco lugar em sua forma de pensar. O problema que os judeus tiveram que enfrentar enquanto estavam sob o jugo dos gregos foi o seguinte: podiam aceitar o helenismo e ficar fiéis à religião de seus pais ao mesmo tempo? Alguns criam que era possível, ainda que muito poucos o aceitassem abertamente. A grande maioria pensava que não poderiam ser helenistas sem trair a sua fé, e deveriam resistir a esse paganismo até à morte se fosse necessário. Os Judeus sob os Seleucidas Os seleucidas e ptolomeus estavam frequentemente envolvidos em guerras, e o vencedor das batalhas quase sempre estava inseguro. Apenas 25 anos depois da morte de Alexandre, Jerusalém já havia trocado de mãos sete vezes. Durante os 125 anos (323 - 198 a.C.) que os ptolomeus dominaram a palestina, houveram tantas guerras que não se pôde estabelecer seu números com exatidão. Finalmente, em 198 a.C., na batalha de Bânias, os ptolomeus foram derrotados pelos seleucidas, assumiram o governo desse pequeno país que havia sido oprimido por tanto tempo por seus vizinhos do norte. Assim os judeus se viram sujeitos ao domínio de outra raça de conquistadores. Antíoco III, chamado o Grande (223 - 187 a.C.), era o governador do reino seleucida quando a Palestina foi tomada dos ptolomeus em 198 a.C... Nada aconteceu de importante em seu reinado. Os tempos difíceis para os judeus vieram com Antíoco Epífanes, o sucessor de Seleuco IV. Antíoco Epífanes Antíoco IV, neto de Antíoco o Grande, teve dois sobrenomes. Por era conhecido por "Epífanes" (ilustre) e por outros "Epímares” (estúpido). Ambos tem sua razão de ser, devido a que, em muitos aspectos, era um governante lúcido, e em outros se comportava como um verdadeiro cretino. Era um apaixonado devoto do helenismo e a sua ambição foi a de introduzir esta filosofia, ainda que pela força das armas, na vida de todos os seus súditos. Por isso os judeus passaram um dos períodos mais críticos de sua história. Pouco depois de assumir o trono Antíoco Epífanes teve problemas com os judeus de Jerusalém porque nomeou um sumo-sacerdote que eles não aceitavam. O mesmo aconteceu mais tarde de novo, e trouxe como resultado um relacionamento arredio entre o rei e seus vassalos. No ano 169 a.C. Antíoco se encontrava lutando no Egito quando chegou o informe a Jerusalém de que ele havia sido morto. Os judeus celebraram a notícia em seguida, mas logo foram informados de que a notícia era infundada. Quando Antíoco voltou a Jerusalém, descarregou sua vingança sobre a cidade e saqueou o templo. A desordem e a amargura apenas aumentaram. Antíoco se dedicou pessoalmente, e com zelo fanático, a subjugar os judeus severamente. Alguns de Jerusalém, que haviam aceitado o helenismo, foram convencidos pelo rei a se unir aos esforços de convencer os demais. Muitos judeus ortodoxos foram presos; 40 mil mortos e outros tantos vendidos como escravos. Um pouco mais tarde, enviou emissários a todas as sinagogas, onde se reuniram em dia de sábado, e mataram milhares de homens, mulheres e crianças. Antíoco determinou destruir o culto a Jeová. O templo foi tomado à força e anulou todas as festas. Aos judeus proibiu de lerem as escrituras, observar os sábados e celebrar o rito da circuncisão. Duas mulheres que desafiaram o edito e mandaram circuncidar seus filhos, foram detidas e, com os filhos atados no colo, conduzidas até um despenhadeiro perto dos muros e ali lançadas para a morte. Para demonstrar o desprezo pela fé dos judeus, sacrificou uma porca no altar de ofertas, cozinhou a carne e derramou o caldo sobre as paredes do edifício. Mandou construir um altar ao deusgrego Zeus no átrio do templo. Estas profanações foram a causa principal da revolta dos judeus. A princípio sua resistência foi passiva, mas mais tarde, já desesperados, a oposição chegou a ser como uma chama acesa. O ilustre Antíoco subestimou a devoção que os judeus tinham por sua fé. As circunstâncias pareciam demonstrar que não havia possibilidade de que sua causa se recuperasse, ainda que não fosse este o caso. Sem que imaginassem se encontravam no umbral de uma das épocas mais gloriosas de sua história como nação. A Dinastia Macabéia Uma das famílias mais notáveis e aptas para governar, ao longo de toda história da raça judia foi a dos macabeus. O pai desta família era um ancião sacerdote que vivia num pequeno povoado chamado Modim, situado ao oeste de Jerusalém, perto da planície filistéia. Tinha cinco filhos, João, Simão, Judas, Eleazar e Jonatan. Ele liderou uma revolta e sua família se viu a frente do governo do povo hebreu. Às vezes se chama a família de Asmoneus, título derivado de um de seus antepassados, ainda que o nome mais frequente para denominar-lhes seja macabeus. Matatias em Modin Durante os dias mais acirrados da perseguição de Antíoco (167 a.C.), teve lugar em Modin um acontecimento que fez estourar uma revolução. Uns emissários do rei apareceram por lá para por à prova a lealdade do povo ao rei. Edificaram um altar a Zeus e ordenaram a Matatias e seus filhos, como cidadãos destacados, que oferecessem sacrifício ao deus pagão, prometendo-lhes uma grande recompensa e o favor do rei. O velho sacerdote não quis obedecer. Quando, na presença de todos, um jovem judeu se aproximou para oferecer sacrifício no altar de Modin, Matatias se indignou até se estremecer e, não podendo conter sua ira degolou o jovem e ao enviado do rei, além de destruir o altar. Dando conta de seu ato, Matatias fez um grande chamamento para que todos os judeus leais se unissem a ele. Ele e seus cinco filhos, com um bom número de partidários, fugiram para as montanhas para declarar guerra aberta a Antíoco. Uma vez tomado este passo arriscado, grandes grupos de judeus se animaram e se uniram à causa, recrutando, assim, um grande exército. O trabalho de dirigir o levante era muito pesado para o ancião, e, dentre seus cincos filhos, escolheu Judas para continuar a rebelião. O novo líder se adaptou admiravelmente bem em tão difícil empreitada. Era intrépido e valente, além de hábil estrategista que aparecia e desaparecia rapidamente. A geografia do país lhe era familiar. Conhecia os acidentes, as montanhas e cavernas. Façanhas de Judas Macabeu É impossível, neste capítulo, dar detalhes sobre as guerras havidas contra Seleuco. Mencionaremos brevemente quatro batalhas. O general Apolônico foi enviado para sufocar a rebelião comandada por Judas. Em algum lugar perto de Samaria, Judas saiu ao encontro do general Sírio, lhe derrotou, matou e se apoderou dos despojos provendo-se do material necessário. Depois, o chefe do exército do rei da Síria, chamado Serão, foi a Palestina com um exército e se propôs a entrar em Jerusalém pelo vale de Bet-Horon. Ali lhe esperava Judas que destruiu a quase todos seus inimigos no vale e conseguiu um imenso despojo. A terceira tentativa de derrotar Judas foi conduzida por três generais, cujas forças juntas somavam 50 mil homens. Ao sul de Mispá, Judas com um exército de apenas 6 mil homens, tomando a iniciativa, infligiu-lhes uma derrota espantosa. O quarto exército a lutar contra Judas foi comandado por Lísias como comandante em chefe. Suas forças somavam 60 mil homens. Judas atacou ao norte de Hebrom com 12 mil homens e os derrotou. Os sírios se retiraram e decidiram não voltar à carga até depois da morte de Antíoco Epífanes, que ocorreu dois ou três anos mais tarde. A Adoração é Restaurada Judas Macabeu, aproveitando a ausência dos sírios, entrou com suas forças em Jerusalém e limpou os átrios do templo. Choravam enquanto viam a profanação e os restos que estavam diante de seus olhos. Destruíram todos os altares pagãos e destruíram seus deuses; levantaram um altar a Jeová repararam o templo e puseram a cidade em ordem. No dia 25 de dezembro de 165 a.C. voltaram a dedicar o templo ao culto a Deus. Esta ocasião foi sempre recordada como a "festa da dedicação" (João 10.22). Depois Judas procedeu a guerra contra vários povos vizinhos que simpatizavam com os sírios. Derrotou os edomitas no sul, capturando mais tarde a Hebrom e também afastou os filisteus. Cruzou o Jordão para derrotar os amonitas, e foi pelo oeste até as portas de Damasco. Com o fim das campanhas de guerra, chegou a conquistar a maior parte da Palestina. Independência Judaica Antíoco Epífanes morreu de uma doença repugnante, respirando ameaças de morte contra seus inimigos, os judeus. Lísias voltou à Palestina com um exército fabuloso composto por 100 mil homens de infantaria, 20 mil cavalos e 32 elefantes adestrados para a guerra. Judas dando-se conta de que suas forças eram muito inferiores, decidiu evitar o confronto direto e se retirou para Jerusalém para defender-se. Lísias sitiou a cidade com o propósito de aniquilar definitivamente a Judas, mas foi informado de que havia problemas sérios em Antioquia, e se retirou. No entanto, antes de partir fez um acordo com Judas pelo que se garantia a liberdade religiosa aos judeus. Judas havia conseguido o que Matatias havia suplicado em oração a Deus. Os judeus podiam, agora, adorar a Jeová sem serem molestados, ainda que politicamente não fossem livres. Os helenistas não estavam de acordo com o trato e começaram novos conflitos. O valente Judas se viu obrigado a lutar de novo com os siros e morreu no campo de batalha em 161 a.C. Mesmo em assombrosa diferença de forças, havia salvado seu povo e sua religião do maior dos perigos. Seu nome estava eternizado, e nem mesmo o fato do traidor de Jesus ter o mesmo nome, apagou sua glória. Fariseus e Saduceus Durante o período que estamos estudando, os fariseus e saduceus emergiam como as duas seitas religiosas mais importantes. Ambas se opunham em quase tudo, e a rivalidade era tão acentuada que por vezes tomou timbres amargos. Os patriotas que haviam estado ao lado de Judas Macabeu desejam tão profundamente a liberdade religiosa que poderiam dar a vida por ela. A estes se conhecia com o nome de Hasidim. Assim que conseguiram a liberdade religiosa, deixaram de lutar, pois não tinham ambições políticas. Foi deste grupo que surgiram os fariseus. O outro grupo (saduceus) era formado por alguns judeus que aceitavam o helenismo e criam que podiam aceitá-lo, e ao mesmo tempo, permanecer fiéis à fé de seus pais. Eles pertenciam, em sua maioria, à classe aristocrática e, ainda que não fosse um grupo tão numeroso quanto os fariseus, tinham muita influência nos assuntos nacionais. O antagonismo destes dois grupos foi tão grande, que conseguiu destruir o reinado macabeu e hipotecar a liberdade política dos judeus. João Hircano morreu em 105 a.C. e seu sucessor foi Aristóbulo I, que governou apenas um ano. A ele sucedeu Alexandre Janeu, que viveu até 78 a.C.. Esses dois últimos governos eram saduceus. Janeu foi um homem vicioso e muito severo em seu relacionamento com os fariseus. Quando morreu lhe sucedeu sua esposa, Alexandra, que era fariséia. Durante seu governo, os fariseus tratavam os saduceus sem misericórdia. Quando Alexandra morreu, em 69 a.C., eclodiu uma guerra civil entre os partidários de seus dois filhos, Hircano II e Aristóbulo II. Esta triste luta durou 6 anos, e nenhum dois conseguiu ganhar a batalha que definisse a guerra. O general romano Pompeu entrou em cena, e com o seu surgimento o período de liberdade dos judeus chegou ao fim. O Império Romano No ano de 63 a.C., com a conquista da Síria, Pompeu esperou até ver o desenvolvimento dos acontecimentos na Palestina. Na Palestina se desdobrava a guerra civil entre os partidários de Hircano II e Aristóbulo II. Cada um deles, vendo que era impossível ter êxito sem ajuda externa, e dando-se conta de que Pompeu estavaprestes a invadir a Palestina, resolveram apelar ao general romano. Cada um apresentou seu caso a Pompeu oferecendo-lhe seus recursos e pedindo ajuda. Esta era a ocasião propícia que Pompeu desejava, e pediu tempo para resolver a questão. Finalmente anunciou suas preferências por Hircano, e Aristóbulo apressou para defender Jerusalém ante o iminente ataque de Pompeu. Depois de três meses de sitiou, Pompeu dominou a cidade, prendeu Aristóbulo e o enviou como prisioneiro a Roma junto com alguns de seus partidários. Quando o general romano tomou a Jerusalém horrorizou os judeus, pois entrou no lugar santíssimo e profanou os objetos sagrados que havia no lugar de culto. Havendo se livrado de Aristóbulo, nomeou Hircano rei-sem-coroa da Palestina. Também impôs enormes tributos anuais a serem pagos a Roma. Era o final da independência judia. Os seguintes 50 anos foram anos cheios de intrigas, batalhas sangrentas e mudanças. Apesar disso, o imperador romano, César também mostrou uma atitude muito benevolente para com os judeus, não somente os residentes na Palestina, como também para com os espalhados pelo Império lhes concedendo concedeu favores especiais, entre os quais deve destacar-se a total liberdade religiosa (único povo a ter essa liberdade). Herodes o Grande Herodes, filho de Antípater, nasceu em 74 a.C. e morreu em 4 d.C., ou seja, pouco depois do nascimento de Cristo. Em sua carreira política e de governo representou como nenhum outro o Império romano em suas relações com os judeus. Era um governador hábil, que fez muito por sua nação, ainda que os judeus o odiassem intensamente. Em seus momentos de candura parecia demonstrar que desejava ajudar os judeus e que queria seu bem estar. A maior obra que fez em seu favor foi a reconstrução do templo. Esperava que com esse generoso gesto, os judeus fossem se aproximar amigavelmente dele, mas fracassou em seu intento. Os historiadores contam que seus últimos dias foram horrorosos. Atacado por uma enfermidade suja, seu leito de morte era um montão de podridão pastosa. Padeceu de sofrimentos indescritíveis, talvez menos torturadores que a memória dos crimes cometidos e a aversão que sentiam todos quantos lhe conheciam. Morreu no ano de 4 a.C.. O Nascimento de Jesus Um pouco antes da morte de Herodes tiveram lugar acontecimentos transcendentais desconhecidos por muitos. Haviam sido 400 anos de silêncio. Deus havia falado outra vez aos fiéis de seu povo. O anjo Gabriel havia anunciado a uma serva de Nazaré a vinda do Messias o verdadeiro Rei do judeus. Enquanto Herodes se encontrava em seu palácio de Jerusalém no leito de morto, Maria deu a luz a seu filho primogênito num humilde estábulo em Belém. Este recém nascido era Jesus Cristo, Rei dos judeus O MUNDO DA ÉPOCA A Influência do Helenismo: com o advento de Alexandre e causou sérios problemas como vimos nos antecedentes históricos, mas como o estado judaico era parte do Império romano, estava sujeito a influência do helenismo em Roma. Os romanos adotaram a maioria dos ensinamentos gregos, tendo inclusive escravos professores. O idioma do Império era "grego koiné", dialeto do grego original e clássico, mas acessível a toda população. Para os judeus a língua oficial era o aramaico embora o hebraico antigo fosse falado nas sinagogas. Percebe-se também a transliteração de termos militares do latim na literatura rabínica da época. Os nomes usados eram gregos: Filipe e André; Os jogos gregos eram muitos usados. A planície marítima fora praticamente tomada por gentios com suas práticas e costumes pagãos; mesmo na Galiléia, Peréia e Judéia havia muitos gentios. Apesar da grande influência do helenismo, as bases morais do judaísmo resistiram: caráter distintivo Padrões Morais Para a maioria dos historiadores, o padrão é baixo! A base para se saber se o nível moral é bom, é Romanos 1.18; 3.20, onde Paulo trata do padrão moral do Império e dos hebreus em relação a isso! HAVIA DECADÊNCIA MORAL: A vida humana em pouca conta: assassinatos frequentes; divórcio fácil e bem aceito na sociedade; enjeitamento de criancinhas era comum; superstições e falsidades de toda a natureza; corrupção política; devassidão; fraude no comércio: dolo; superstição religiosa; tudo isto tornava a vida em Roma desanimadora para a maioria e insuportável para alguns. Na época de Jesus o sistema de trocas (moedas) permitia permutas corriqueiras. Várias moedas eram usadas: peças de bronze e moedas de prata, dracma grega, asse e denários romanos, a mina e o souz fenícios. Equivalências utilizadas Denário = 1 dia de serviço trabalho rural 1 denário = 16 asses, ou 64 quadrantes, ou 128 leptes 1 ciclo de prata = 4 denários = 4 dracmas = 2 didracmas 1 libra = 40 denários = 10 ciclos 1 mina = 100 denários 1 talento = 6.000 denários Havia muito comércio, principalmente nos grandes centros como Jerusalém. Cada produtor vendia ali seu produto; havia a fiscalização, a assembléia local para controlar os preços e medidas; vendedores ambulantes; artesãos e lojistas com barracas na rua de sua profissão. Em Jerusalém, muitos mercados: o de gado (consumo e sacrifício); o de cereais; frutas e legumes; madeira; escravos, também vendidos no mercado. Jerusalém grande centro comercial, mas também mais caro; pouca água, pouca matéria prima e montanhas = transporte difícil; havia especulação principalmente animais de sacrifício que chegavam a ser 100% mais caros que o preço do mercado. O MUNDO RELIGIOSO O cristianismo não se desenvolveu num mundo destituído de religião. Pelo contrário, a busca do homem em descobrir e querer determinar as coisas, seu medo em relação aos mistérios da vida, proporcionou, em todas as épocas, o surgimento de religiões e crenças por vezes muito diversas entre si. Deuses de povos conquistados muitas vezes se misturavam com os dos conquistadores; filosofias e teorias eram divulgados e difundidos, e ganhavam adeptos. Nos tempos de Jesus, havia uma série de religiões que se opuseram ao avanço do cristianismo, que tinham suas origens desde o remoto oriente até a capital, Roma. Destacaremos cinco. O Panteão Greco-Romano No começo de sua história a religião de Roma era basicamente animista. Cada agricultor, cada aristocrata tinha um deus para si, ou vários, dependendo do que se quisesse: deus da chuva, da terra, da água, da plantação, da colheita etc. Com as conquistas, principalmente sobre o império grego, a religião romana incorporou o panteão grego com seus semideuses e deuses, tratando apenas de identificá-los com os nomes dos deuses romanos. Deus Grego Deus Romano Atribuição ZEUS JÚPITER DEUS DOS CÉUS HERA JUNO ESPOSA DE ZEUS POSIDEON NEPTUNO DEUS DO MAR HADES PLUTÃO DEUS DOS INFERNOS À medida que a situação evoluísse novos deuses surgiam, novos templos eram construídos, novos cultos iniciados com novos adeptos. A religião se baseava num deus local, sendo-lhe atribuída a defesa da localidade. Com as conquistas, muitos deuses locais perderam seus adoradores porque era um deus fraco! Com o surgimento do movimento filosófico em grande escala, o panteão perdeu muitos adeptos em vista da imoralidade de seus deuses, que, segundo filósofos, eram um mau exemplo para a juventude. Logicamente que toda a ação desencadeia uma reação, e os adoradores radicais surgiam. Exemplos: temos em At 19 quando Paulo suscitou a ira dos adoradores de Diana em Éfeso, deusa da castidade, a princípio e depois das forças produtivas da natureza. Um grande exemplo do politeísmo reinante é o incidente de At 17, quando Paulo se depara com o monumento “ao Deus desconhecido”. Em Corinto se adorava Afrodite, deusa do amor e da beleza. O Culto ao Imperador Não foi imposto no princípio, surgiu naturalmente dadas as muitas atribuições dos imperadores. Sendo responsável pela vida de todos, passou-se lhe atribuir aspectos da divindade. Os seleucidas e Ptolomeu tinham elevado seus monarcas à posição de divindades; como mostram seus nomes: kyrios (Senhor), Soter (Salvador), Epiphanes (divindade manifesta). Em Roma asatribuições sobre-humanas dos imperadores fizeram com que o senado lhes divinizasse depois da morte (Augustus). As Religiões de Mistério Desenvolveram-se a partir da necessidade que o homem tinha de manter um relacionamento mais direto com a divindade. Os rituais de adoração aos deuses não satisfaziam. Com o advento da filosofia, surge também o pensamento “individualista". O choque entre os deuses locais e a percepção da limitação territorial desses deuses, fez o homem perceber que os deuses que ele havia criado eram maiores apenas em poder, mas não em moral. Em certo ponto, a despeito de todos os enganos, a filosofia abriu os olhos dos homens à uma busca de si mesmo e de uma divindade que de alguma forma pudesse salvar-lhe a alma. O deus não poderia ser local; teria de ser universal. As filosofias de Platão, por exemplo, trouxeram um pequeno vislumbre à crença de um Deus único e verdadeiro. A confusão e desesperança tomava conta do homem que passou então à busca desse deus, fazendo romarias as seus templos de predileção, oferecendo presentes caros, com sacrifício, na esperança de alcançar alguma graça, favor do deus. Em parte os pregadores estóicos foram os precursores dos pregadores cristãos, pois tentavam responder à questão que o homem mais fazia: "senhores que faremos para ser salvos?". Para Angus, "eles foram vozes que clamaram no deserto do paganismo, preparando o caminho do Senhor"! As religiões de mistério resolviam parte do problema, porque supostamente colocavam o indivíduo em contato com a divindade - comunhão. Composta por mitos e lendas mágicas que eram conhecidas apenas aos que mantinham um compromisso com a religião, ofereciam deuses interessados na prosperidade pessoal e na salvação da alma! As religiões de mistério podem ser divididas em 2 tipos: religiões gregas de mistério e religiões orientais de mistério. A diferença entre os dois é que a primeira tem seus fundamentos no panteão grego, e a segunda baseia-se nos cultos de vários deuses de diversos países do oriente. Dos 2 tipos, o que mais influência tinha era o das religiões orientais de mistérios; havia vários tipos: o culto a Isis e Osíris - deuses mitológicos do Egito; o culto a Átis e Cibele - deuses da Frigia; o culto a Ishtar e Tammuz - da Babilônia; o culto a Adônis e Afrodite - Chipre e Biblos; Mitraismo - Deus Mitra - Irã. Existem várias semelhanças entre estas religiões. Todas elas diferiam nos pormenores, mas eram semelhantes no geral. Todas: a) Criam num deus que havia morrido e ressuscitado; b) Ritual de fórmulas e purificações, representando experiências com o deus; quem participasse era candidato à imortalidade (ritos mágicos); c) Fraternidade: escravo-senhor, rico-pobre; d) satisfazia o desejo da imortalidade; e) saída à emoção - experiência religiosa extremamente pessoal; f) eram politeístas com moral voltada ao sensualismo. Apesar de serem fortes rivais do cristianismo, desapareceram até o Séc. V, sendo que o cristianismo prevaleceu. Mas não há dúvidas que as religiões de mistério foram também uma porta ao cristianismo. Semelhante à todas as religiões de mistério, a adoração e culto, caracteriza-se pela busca da manipulação dos poderes não compreensíveis do Universo, mas perceptíveis de modo vago. Confiança na magia; augúrios e predições do futuro pelo exame de entranhas de animais mortos; observação do vôo das aves; exorcismo. O povo judeu entrou em contato com estas práticas no exílio (At 8.9-24; 13.6- 11). Veja também At 19.19 - os pagãos também praticavam. Era proibido pela lei (Dt 18.10-12; Mq 5.12; 1 Co 10.20,21). Havia fórmulas mágicas para expulsar demônios. Havia também a astrologia, que surgiu na Babilônia, onde o céu noturno era propenso à observação das estrelas; o seu movimento passou a ser relacionado com a vida primeiro dos monarcas, depois da pessoa comum também. O céu foi mapeado e através disso passou-se a determinar caráter e até o futuro das pessoas. Com o Heliocentrismo de Copérnico, a astrologia decaiu em importância, mas nos tempos de Jesus era bastante usado (vd. Magos do oriente, p.ex.). As principais filosofias da época de Jesus foram: platonismo, gnosticismo, estoicismo, epicurismo, cinismo. Estas eram as principais correntes filosóficas nos tempos de Jesus. A VIDA DE JESUS O Sobrenatural nos Evangelhos O estudante ficará impressionado ao ver as frequentes menções de feitos milagrosos nos Evangelhos. O Novo Testamento começa com relatos sobrenaturais, e os Evangelhos acabam com o relato da ressurreição e ascensão de Jesus. Uma e outra vez os escritores narram estes acontecimentos com uma naturalidade que faz com que sejam parte integrante da narrativa. Uma pergunta se impõe: "Podemos aceitar os feitos como autênticos?" Ocorreram estes milagres? Devemos atentar para 2 fatos: a) Os relatos de feitos sobrenaturais são parte natural e integrante dos Evangelhos. Não se pode simplesmente tirá-los do relato; b) O que realmente envolve toda a questão é nosso conceito sobre Deus e sobre Jesus. Devemos considerar se Jesus é um mero resultado da evolução do homem. Esta distinção é importante sob todos os pontos de vista. Se Jesus é simplesmente um homem que veio dar-nos sua opinião sobre Deus, é um personagem interessante que nos oferece uma valiosa ajuda no tocante a bons exemplos, mas nunca um salvador do pecado que deva ser nosso objeto de adoração. Mas, sim, como cremos e sabemos, é o Filho de Deus que morreu na cruz pelos pecados do mundo, não há dúvidas de que Deus podia manifestar-se de forma pouco comum na vida, morte e ressurreição de Jesus. A Pré-existência de Cristo Todos sabemos que a vida de Jesus não começou com o seu nascimento em Belém. É certo que seu nascimento foi o princípio de sua vida como homem, mas sua existência como Filho de Deus remonta ao princípio dos tempos. Esta verdade é declarada de modo simples no Evangelho de João (leia João 1.1-4). Segundo João, as raízes da vida de Jesus remotam à eternidade. Declara-se ser Ele Filho de Deus, igual a Deus e com poder para criar. Estava com Deus; quando chegou a "plenitude dos tempos", se fez carne e habitou entre os homens. Sua encarnação é descrita por Paulo: (leia Filipenses 2.5-8). O grande milagre do nascimento de Jesus é a encarnação; Deus fazendo-se carne habitou entre os homens. Talvez não consigamos compreendê-lo, mas podemos crê-lo. "Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam" (Jo 1.11). O Cristo eterno nasceu como qualquer outra criança em Belém e viveu entre os homens durante 33 anos. Este pequeno arco no círculo da eternidade é descrito às vezes como "os dias da carne". Nestes dias revelou a Deus e fez com que os homens o compreendessem. Cronologia de Sua vida Os orientais não tinham a consciência do tempo que nós, ocidentais, temos hoje. Ao escrever a biografia de um personagem, ordenamos todos os detalhes de sua vida em ordem cronológica, mas os escritores dos Evangelhos não fizeram assim com o relato da vida de Jesus. É óbvio que são cronológicos enquanto começam com o nascimento e terminam com sua morte e ressurreição, mas não se preocupam muito em ordenar os detalhes de sua vida seguindo a pauta em que ocorrem os feitos; interessavam-lhes os assuntos mais importantes. Portanto, um acerto cronológico da vida de Jesus só é possível com os fatos mais óbvios, como o nascimento, infância, batismo, morte e ressurreição. Segundo nos relata todo o Novo Testamento, o nascimento de Jesus foi algo sobrenatural e cercado de eventos sobrenaturais: a)) As Anunciações: (Lc 1.5-72; Mt 1.18-25). O anjo Gabriel fez 3 anunciações: a Zacarias, o Sacerdote; a Maria em Nazaré; a José. São manifestações transcendentais que rompem um silêncio de 400 anos! Lc 1.5-25: Zacarias era sacerdote do turno de Abias. Por ano, havia 24 turnos de 2 semanas cada. O privilégio de queimar incenso acontecia só uma vez na vida = nasce João, o Batista! Lc 1.26-38: Não se sabe muito sobre Maria e José. Ele era carpinteiro, morava em Nazaré da Galiléia. Provavelmente classe média.A concepção de Maria causa problemas: o noivado era levado muito a sério. É necessário uma nova anunciação a José (Mt 1.18- 25). Obs: Lucas escreve do ponto de vista de Maria; Mateus escreve do ponto de vista de José = por isso também diferença nas genealogias: um apresenta Jesus como herdeiro de Abraão e legítimo Rei descendente de Davi; outro apresenta Cristo como herdeiro de Adão, sendo por conclusão, herdeiro direto de Deus! Em Lucas 2.8-20, registra-se outra anunciação, agora aos pastores de ovelhas. Mt 2.1-12: a visita dos reis magos do oriente: não se sabe quem eram; não se sabe de onde vieram; não se sabe quantos eram; não se sabe como vieram (estrela?) O fato de Mateus nos contar a visita dos magos do oriente tem cunho apologético e exortativo. O Evangelho foi escrito aos judeus, e esse fato histórico prova a Universalidade do "Kerigma" cristão desde a sua origem! Igualmente exorta os judeus a também reconhecerem a Jesus como Messias como o fizeram os gentios ilustres do oriente. A Infância de Jesus Sabe-se quase nada a respeito desta fase da vida do Mestre. Parece que as tradições nada tinham a dizer sobre o assunto, mesmo porque o que realmente importou aos evangelistas foi: "E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52). Ou ainda: "Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele". (Lc 2.40). O único relato que temos sobre este período é o de Lc 2.41-52! O desfecho, no entanto, é um "gancho" para o relato que se segue; procura mostrar que desde pequeno Jesus se mostrava consciente de sua missão! Provavelmente Jesus tenha aprendido o ofício do Pai (Mc 6.3), o que era de praxe naquela época. JOÃO BATISTA Foi o grande precursor de Jesus. Foi o responsável por restabelecer a comunicação Deus-povo. Quase 400 anos se passaram até que surgisse o profeta João para preparar o caminho do Senhor. Mateus 3.4 "Vestes de pelo de camelo, cinto de couro" = 2 Reis 1.8 = Elias; Marcos 1.6; Lucas 3.1,2 - começa como começaram os escritos dos profetas! O ministério de João Batista não foi tão extenso como foi o do Senhor Jesus, mas o impacto foi determinante. João foi o iniciador do movimento cristão: os primeiros discípulos de Jesus vieram de João = as pessoas vinham de João a Cristo (Jo 1.35-51). O discurso de João era semelhante ao dos profetas: "Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus". Isto é, provavelmente, apenas um resumo do discurso de João e é citado apenas por Mateus 3.2. Marcos 1.4 e Lucas 3.3 descrevem o conteúdo. Mas, sem dúvida, era um discurso de impacto, e a expressão "está próximo o reino dos céus" talvez fosse o mesmo que dizer "o dia do Senhor" (grande e terrível) está próximo. A expectativa messiânica pregava a vinda de um precursor: Malaquias 3.1-5; 4.5,6; Isaías 40. 3-11 ! Seu discurso retomou a voz profética e o resultado foi "arrependimento" = 'metanoia' (Lucas 3.3,10- 14). A multidão passou a pensar que João fosse o próprio Messias, mas tanto ele (João 1.19-28) quanto Jesus o identificaram como o precursor, o "Elias" (Malaquias 4.5,6 = Mateus 11.7-19; Lucas 7.24-34). O ministério de João Batista terminou quando o de Jesus já estava em andamento. Os Evangelhos nos contam que ele foi preso e morto no cárcere. Mas na prisão João teve dúvidas a respeito de Jesus, que foram devidamente elucidadas pelo Senhor, que lhe respondeu citando o profeta Isaías falando a respeito do Messias. Mesmo não sendo o Cristo, João teve vários adeptos, mesmo na prisão, e talvez alguns deles tenham chegado à Éfeso. O Batismo de João Lucas 3.3 - "pregando o batismo de arrependimento para remissão de pecados" "arrependimento": gr.: "metanoia"; heb.; "shub" Significa simplesmente voltar-se (shub) do pecado para Deus. É um conceito do AT: "Convertei-vos e apartai-vos dos vossos ídolos; e dai as costas a todas as vossas abominações” (Ez 14.6). Idéia de voltar ao Senhor: (Isaías 19.22; 55.7; Ezequiel 33.11; Oséias 14.1; Joel 2.13). É muito importante ressaltar a diferença entre: "metamelomai" - "mudar de opinião"; "lamentar-se"; entristecer-se por haver feito algo (2 Co 7.8-10 - onde Paulo ressalta que 'metamelomai' leva ao verdadeiro arrependimento: metanoia). Judas 'lamentou' (metameletheis = metamelomai) ter traído Jesus, mas não encontrou a 'metanoia‘! "metanoia" - "mudar de opinião"; "arrependimento"; "conversão"; idéia de o homem todo voltar-se do que está fazendo para fazer outra coisa completamente diferente. No caso, voltar-se do pecado para Deus. O batismo de João é a identificação do homem com a idéia de 'metanoia'! "Não é um ato formal chamado 'batismo' de arrependimento que resulta no perdão dos pecados, mas o batismo de João é a expressão do arrependimento que resulta no perdão dos pecados" Metanoia: "No Novo Testamento (...) seu sentido é aprofundado, e denota primariamente uma mudança de entendimento, passando a ter uma visão sábia do passado, incluindo o pesar pelo mal praticado e levando a uma mudança de vida para melhor" (BERKHOF, Lois. Teologia Sistemática, p.483) Epistrophe: "conversão", EPISTREPHO: "voltar-se para trás"; "ser convertido". Também usado para traduzir 'shub' = inclui o elemento "fé"! Não pode ser usado ao lado de "pisteuo" (crer, ter fé), ao passo que 'metanoia' pode. O Batismo de Fogo. Mateus 3.11,12 apresenta dois elementos: Espírito Santo e Fogo! Lucas 3.16,17 e Marcos 1.8 – apresenta 1 elemento: Espírito Santo! Primeiro Ponto: devemos reconhecer uma forte influência da experiência pentecostal nos relatos; Segundo Ponto: João Batista adotava uma linguagem profética, e o derramamento do Espírito Santo foi amplamente divulgado no AT (Ml 4.1;Na 1.6; Is 30.33; Sf 1.2-6; 1.14-18) em forma de "fogo consumidor” e também Is 44.3-5; 32.15; Jl 2.28-32; Ez 36.27 = como Espírito derramado. Terceiro Ponto: como visto, o derramamento do Espírito faz parte do grupo e terrível "dia do Senhor" = JUÍZO! Quarto Ponto: A diferença entre Espírito Santo e fogo é: para os que se arrependem - Espírito! Para os ímpios, fogo! São 2 elementos do mesmo batismo escatológico! A idéia de juízo aqui é confirmada por Jesus em Jo 3.16- 21. O MINISTÉRIO DE JESUS A duração do ministério de Jesus não é certa. Eruditos crêem que foi entre 2 anos e 6 meses e 3 anos e 4 meses, (no máximo 40 meses). Seu ministério pode ser dividido em 3 partes: a) O ano de retiro: ministério obscuro na Judéia. É mais abordado por João; a não ser por ele, nada temos a respeito deste período: conhecimento da situação; primeiros discípulos; dá-se a conhecer; b) O ano da popularidade: transcorreu quase todo na Galiléia. Fez milagres; ensinou as multidões e criou fama nacional; c) O ano da oposição: Primeira parte na Galiléia; depois vários lugares. Popularidade decadente; oposição sempre maior (pelos líderes religiosos e políticos); repúdio e crucificação em Jerusalém! O Batismo de Jesus O batismo de Jesus marca também o início de seu ministério. Seu batismo era necessário para uma identificação com a humanidade, uma aceitação do ministério de João como precursor. "Para se cumprir toda a justiça“. O início do ministério de Jesus é confirmado sobrenaturalmente "se lhe abriram os céus”. A voz que se fez ouvir, usa de textos messiânicos em Is 42.1 e Sl 2.7 - o próprio Deus confirmando o ministério de Jesus! Apesar de não estar descrito desta maneira, vemos a Trindade se manifestar no batismo de Jesus: O Filho: submete-se ao batismo; O Pai: identifica o Filho; O Espírito: O unge! A Tentação de Jesus Os 3 Evangelhos sinóticos mostram que logo após o batismo Jesus foi guiado pelo Espírito ao deserto para ser tentado (Hb 4.15 = à nossa semelhança). O ministério de Jesus começa no deserto, num jejum de 40 dias. De alguma forma existe uma comparação com o povo de Israel. A primeira missão de Jesus é enfrentar o adversário da mesma maneira que o povo de Israel o fez, com a missão específica de vencer as tentações. A pregação de Jesus era para arrependimento = Perdão dos pecados! Segundo Lucas,Jesus ensinava quando trouxeram o paralítico. Aparentemente, o paralítico buscava ouvir os ensinamentos de Jesus antes da cura, ou seja, buscava primeiro cura espiritual; e é a isto que os Evangelhos chamam de fé = ele creu na Palavra de Jesus, e estas operaram a primeira cura = a cura interior = Perdão! Mas como houvesse quem duvidasse, o paralítico recebeu também a restauração física: somente Deus poderia restaurar, recriar membros atrofiados. A prova de que o paralítico creu nas palavras de Jesus, bem como entendeu terem vindo de Deus, foi que voltou para casa glorificando a Deus, e não a Jesus. A Escolha dos Discípulos Raymond Brown os chama de "Núcleo do Povo de Deus“. Sua missão: (ver: Mt 10.5-15; Mc 6.7-13; Lc 9.1- 16) Características: a) Teriam que estar com Ele (Mc 3.14); b) Enviados a pregar as boas novas do Reino; c) Exercer autoridade para expulsar demônios. A base do ministério de Jesus está descrita em Mt 9.35-38: "E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças e enfermidades. Como vimos, à medida que ensinava também operava curas, exorcismos e milagres. De alguma maneira os milagres acompanhava o ministério de Jesus e eram demonstração de poder (de Deus), mas o que faziam mesmo era ensinar acerca do Reino, pregando (é verdade que os milagres em si mesmos já são uma pregação à parte, não é?!). O ensino de Jesus era completamente diferente de tudo o que o povo estava acostumado a ouvir (veja Mc 1.22; Lc 4.32), Jesus tinha autoridade, vinda de um relacionamento íntimo com Deus (Jo 3.31,32). Era o próprio Deus falando! Seus Métodos Parábola: "por em paralelo" "Metáfora extensa, a descrição de qualquer ação ou objeto comum como ilustração duma verdade espiritual (...). O ponto de aplicação da palavra era claro e, por vezes, era mesmo aplicado por uma frente de conclusão” (ex. Mt 25.13). Finalidade da Parábola: o ouvinte médio entenderia prontamente: era arte de seu cotidiano; eram fáceis de serem lembradas; sua aplicação espiritual sempre aplicada à necessidade do ouvinte; por causa da crescente oposição, falava em parábolas para que ninguém entendesse, somente os discípulos. Epigramas: "Uma afirmação concisa e que se fincava na mente do seu ouvinte como uma seta com rebarba" (Mt 5.3-12 = Bem aventuranças; Mt 10.39). Argumentação: Sempre baseada nas Escrituras (Mt 22.15-45) Pergunta e resposta: (Mt 9.5; 16.26; Mc 8.27,29) Discussão Livre: Os discípulos expunham seus problemas e Jesus respondia (Jo 13.31 - 14.24) Lições objetivas: As coisas usadas na lição estavam presentes na hora (Mt 18.1-6; Lc 21.1-4) O ensino de Jesus se encontra espalhado pelos Evangelhos, e é difícil uma passagem em que não haja ensino. Mas às vezes o encontramos em blocos: a) O ensino ético: Sermão do Monte (Mt 5-7); b) As Parábolas do Reino: (Mt 13); c) O Ensino Escatológico: (Mt 24 e 25; Mc 13; Lc 21); d) O Ensino sobre Sua Pessoa: (Jo 5.19-47): "Pão da vida" (Jo 6.32-59); natureza de sua pessoa e missão (Jo 8.12-59); pastor e ovelhas (Jo 10.1-30); preparação dos discípulos para sua morte (Jo 13.31-16.33). Jesus não teve intenção de elaborar e codificar todos estes ensinamentos. Eles não têm autoridade como código elaborado, mas sua autoridade reside no que Jesus é! Sua Doutrina Jesus apresentou: a) Deus como Pai: Mt 11.27; Jo 20.17; Mt 6.9; Jo 1.12. "Pai" exprime a atitude de Deus para com os homens: Seu amor e justiça (Mt 5.44,45); Seu interesse e participação na sua obra da criação (Mt 10.29,30); Sua previdência e propósito (Mt 20.23); Sua atitude de perdoar (Lc 15.11-32); Sua determinação final quanto ao destino dos homens (Jo 14.2). No Evangelho de João a expressão "Pai Nosso" aparece mais de 100 vezes, e é a forma usual de Jesus se dirigir a Deus. O Reino de Deus/Reino dos céus: todos os Evangelhos mencionam o Reino (Mt 6.33; Mc 1.15; Lc 4.43; Jo 3.3 - João só 2x: Jo 3.3-5; 18.36); é a esfera plena do governo de Deus; tem natureza espiritual; sua manifestação plena ainda não chegou - só quando o Rei voltar pessoalmente (Mt 25.1,31; Lc 22.16); O Reino "é chegado" (Mt 3.2; Mc 1.15); aos discípulos é dado conhecer seus mistérios (Mt 13.11; Lc 8.10); sua doutrina está ligada ao AT; chama ao arrependimento (Mt 4.17); obediência aos mandamentos (Mt 5.19); realização da vontade de Deus (Mt 7.21) mas de todo o coração; é o governo que Deus estabelecerá na terra quando Jesus voltar = alcançar a perfeição através de Jesus, o redentor e Rei. A Si Mesmo: - tinha obrigação para com o Pai (Lc 2.49); era o "Filho de Deus Vivo" (Mt 16.16) = perante os discípulos; sua pré-existência e divindade (Jo 8.42,58; 10.30-33,36; Mt 22.41-45) = perante seus inimigos (ver Lc 8.39; 9.43); Digno de adoração (Jo 9.38; 20.28,29); Está acima da lei (Mt 5.21,22); tem poder para perdoar os pecados (Mc 2.9-11). Sua Missão: veio pregar o Evangelho do Reino (Lc 4.43); chamar pecadores ao arrependimento (Mt 9.13); buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10); enviado pelo Pai (Jo 20.21); cumpriu a missão (Jo 17.4); revelação e redenção; anunciou sua morte e ressurreição (Jo 2.19; 3.14; 6.51; 12.24; Mt 16.21; Mc 10.33,34); sua volta para o juízo (Mt 25.31-46) A PAIXÃO DE CRISTO A paixão de Cristo tem início logo após a confissão de Pedro (Mt 16.13-33). Parece que quando Jesus viu que seu propósito de se revelar estava cumprido começou a predizer e a ensinar a respeito de sua morte. Logo após a confissão de Pedro os Evangelhos relatam ter ocorrido a "transfiguração" = Moisés e Elias conversando com Jesus sobre a sua partida! (Lc 9.31- 9.51). A partir daí as coisas tomaram outro rumo - era chegada a hora! Jesus pedisse 3 vezes a sua morte: 1º - Mt 16.21,22 = Mc 8.31-33 = Lc 9.22; 2º- Mt 17.22,23 = Mc 9.30-32 = Lc 9. 43-45; 3º- Mt 20.17-19 = Mc 10.32-34 = Lc 18.31-34. As ocorrências deram-se na seguinte ordem: a) Entrada Triunfal em Jerusalém (Mt 21.1-11; Mc11.1- 11; Jo 12.12-19; Lc 19.28-44): Purificação do Templo (Mt 21.12-17; Mc 11.15-18; Lc 19.45,46); perceber que apesar da afronta Jesus continuou a ensinar no Templo com a aprovação popular (Lc 19.47,48 e par.; Lc 20.37,38); prestar atenção ao ensino de Jesus em Jerusalém = Lc 19.47 - 20.38; a Páscoa - A Última Ceia (Ler Lc 22.14-38); só os 12 presentes ! Lembre- se da missão do discípulo: estar com ele: a prisão de Jesus (Lc 22.47-53); a multidão que veio prender a Jesus é formada por: principais sacerdotes/capitães do templo/anciãos (Sinédrio?). CRUCIFICAÇÃO (Lc 23.26-49): As Palavras de Jesus na Cruz: 1. "Eli, Eli, lemá sabactâni" (Mt 27.46 = Sl 22.1 também Mc 15.34); 2. "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". (Lc 23.34); 3. "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso". (Lc 23.43); 4. "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!" (Lc 23.46); 5. "Mulher, eis aí o teu filho (...) Eis aí a tua mãe" (Jo 19.26,27); 6. "Tenho sede!" (Jo 19.28); 7. "Está consumado" (Jo 19.30) A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO DA RESSURREIÇÃO À ASCENSÃO DE JESUS No período pós-ressurreição Jesus apareceu a todos os que o acompanhavam em seu ministério: mulheres, discípulos e a um grupo de c. 500 pessoas juntas! Lucas nos conta que durante este tempo, que foi 40 dias, Jesus ensinou-lhes as coisas concernentes ao reino de Deus (At 1.3). Pouco antes de partir Jesus transmitiu as ordens que os discípulos deveriam cumprir em Sua ausência física: é o que chamamos de Grande Comissão: Mateus 28.18-20; Marcos 16.15-18 (19-20); Lucas 24.44-49 (50-53) = Atos 1.1-11; João 20.19-23; Os apóstolos reunidos em Jerusalém (At 1.12-14); com 120 pessoas; a necessidade de outro apóstolo e suas características (At 1.21-22). A Experiência de Pentecostes A festa de Pentecostes está ligada à renovação da Aliança feita com Noé e depois com Moisés. No período inter- bíblico passou a ser considerado o dia em que a Lei outorgada a Moisés no Sinai. Também chamada "Festa das semanas" por se realizar 7 semanas depois da Páscoa. Marcava o fim da colheita de cevada. Era um dia de regozijo =eram apresentadas ofertas de gratidão, de reconciliação = perdão de pecados! Lembrava-se da libertação da escravidão e da união do povo com Deus pela Aliança. Houve sinais vindo do céu: "som como um vento impetuoso"; "Línguas como de fogo"; uma sobre cada um deles; falar em outra línguas; 14 nações representadas ouviram falar em seu próprio idioma. Era uma manifestação VISÍVEL DE DEUS! A Igreja crescia em número assustador. Em Atos 4.1 vemos seu número chegando a 5000! Em nenhum momento o Espírito deixou de atuar nos apóstolos, que através do conhecimento adquirido com Jesus e agora com a orientação segura do Espírito eram personalidades marcantes em Jerusalém, e sua fama correu o mundo. A sociedade de então passou a conviver com um grupo completamente diferente de todos que já haviam aparecido. As características daquela igreja eram: unidade; adoração; instrução; louvor; comunhão; alegria; companheirismo; simplicidade; liberalidade; fraternidade. Aquele grupo de discípulos "iletrados e incultos" se transformou num grupo com atos e pregações arrojados, cujo único propósito era realizar a vontade do seu Senhor Jesus Cristo! Um Problema Social (At 4.32 - 5.11) Muitos tentam comparar aquela situação a uma espécie de comunismo. Mas devemos nos lembrar que a situação pedia atitudes de doação porque muitos estavam necessitados. Devemos perceber que tudo era feito voluntariamente, e não sob coação. Outro fator a ressaltar é que a Bíblia apresenta esta atitude como virtuosa e, mesmo parecendo uma sociedade utópica, funcionou por causa do caráter cristão da situação toda. A negação de bens em favor dos necessitados foi considerada louvável por Lucas, sendo que começa o relato com a frase "da multidão dos que creram eram um o coração e a alma" (At 4.32). Popularidade e Perseguição Parece que a base para a popularidade dos apóstolos eram os milagres (sinais e prodígios - At 5.12). Mas vemos que, realmente, os "sinais acompanham aos que crêem", quando lemos os vários discursos de Pedro e, principalmente, At 4.29, At 4.30,33; 5.20,42. O poder de Deus (dynamis) não está restrito a palavras ou sinais. O poder de Deus está em ambos e muito mais, no entanto só vai se manifestar onde Seu nome for proclamado! A característica do cristão é o amor e sua mensagem diferenciadora, que vem acompanhada de manifestações sobrenaturais. Às vezes, a ordem dos fatores se inverte (At 3), mas os sinais e prodígios sempre acompanham a proclamação (Kerygma). Mas, apesar dos milagres atraírem multidões para ouvirem a mensagem, a primeira comunidade foi conhecida e estimada pela principal característica, o amor fraternal (At 2.47 = "contando com a simpatia de todo o povo"). A popularidade dos apóstolos, em especial, era sinônimo da impopularidade dos sacerdotes e saduceus. Estes começaram uma perseguição mordaz, que culminou com o apedrejamento de Estevão e a expulsão dos cristãos de Jerusalém (At 6.8 - 8.3). Por duas vezes os apóstolos foram presos: At 4 = Pedro e João; At 5 = todos os doze. Mas depois da soltura, havia sempre o regozijo de toda igreja. Veja principalmente At 5.41,42. Mesmo a dispersão teve um efeito positivo, para o desespero dos judeus (At 8.4-8). O Testemunho dos Diáconos (At 6.1 - 8.1) Os "diáconos" foram escolhidos para ajudarem os apóstolos na distribuição de comida às viúvas cristãs de fala grega. A função de "diácono" não é diretamente mencionada, mas está implícita na tarefa a ser executada, traduzida por "distribuição" (diakonia). Percebe-se que todos os escolhidos tem um nome grego, ou seja, eram helenizantes. Os requisitos de cada um deles (At 6.3) se assemelham aos dos homens escolhidos para ajudar Moisés quando estava em dificuldades semelhantes (Ex 18.21-23; Dt 1.13); todos eles foram revestidos de poder, como mostra o ministério de Estevão (At 6.8) e o de Filipe (At 8.4-8). O arrojo de Estevão o levou à morte! Foi o primeiro cristão a morrer por causa do nome de Jesus! Todas as palavras de Jesus lhe vieram à mente enquanto era apedrejado: At 7.56 = Gn 28.12,13 = Jo 1.517.60 = Lc 23.60 ; 7.59 = Lc 23.46; Ele conseguiu uma identificação completa! Quem viu, quem participou, se converteu = At 6.15. Estevão estava no Sinédrio, e o relato contém pormenores que só poderia contar quem estivera lá. A obediência de Filipe o levou a testemunhar a um etíope - o Evangelho chegaria aos confins da Etiópia! Começa-se a traçar o desenvolvimento da expansão do Evangelho aos gentios de todo o mundo. A grande multidão de cristãos em Jerusalém era, em sua maioria, de judeus. O ministério aos gentios começa a ser desenhado: Estevão - Saulo - Filipe. Devemos lembrar de At 1.8: Jerusalém - Judéia - Samaria e confins. Veja principalmente At 8.1-3! (não judeus) Evangelho Para Todos At 8.1 cumpre-se At 1.8; At 8.3 cumpre-se Lc 21.14- 19; Mt 23.3-14. A dispersão dos cristãos é oportunidade para proclamação na Judéia e Samaria (8.4)! Com Filipe, o Evangelho chega à Samaria (compare Jo 4.39 com At 8.5-8). Pedro e João são designados pela igreja a irem até a Samaria para completar a obra de Filipe = o dom do Espírito Santo. Aqui, claramente, existe diferença de experiências (At 8.14-25). Filipe é enviado para o caminho de casa para evangelizar o eunuco etíope = o Evangelho chega à Etiópia. Mesmo em situação de perseguição o Evangelho se propagou muito rapidamente. O Senhor escolhe um servo que terá uma missão especial = Saulo! Ele vai proclamar o evangelho entre os gentios (At 9.15). A igreja continua crescendo e se desenvolvendo = At 9.31. "A igreja, na verdade, tinha paz por toda Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescendo em número". "Conforto" = "paraklesei" = (conforto, encorajamento; exortação) de "parakleo" = falar de perto; exortar; encorajar; implorar. Em textos como o de At 9.32-43, em que o poder de Deus, aparentemente, se manifesta sem palavras, podemos concluir que a manifestação do poder de Deus desperta e reaviva a fé das pessoas. Percebamos que a liberação do poder de Deus para a ressurreição se dá em meio a cristãos (v. 36 = "discipula") e que veio a reafirmar a fé das pessoas. Em At 10.1 - 11.18 temos o relato do episódio do centurião Cornélio e suas consequências = os gentios também têm o direito à vida (11.17ss). Veja At 11.19-26, quando Saulo volta à cena (Gl 2.21). O Evangelho definitivamente alcança os gregos e, através do trabalho de todos os discípulos, alcança o mundo inteiro.
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