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Prof. Me. Roni Cleber Boni Vertedores Vertedor ou descarregador é um dispositivo utilizado para medir e/ou controlar a vazão em escoamento por um canal. Trata-se basicamente, de um orifício de grandes dimensões no qual foi suprimida a aresta do topo, portanto, a parte superior da veia líquida, na passagem pela estrutura, se faz em contato com a pressão atmosférica. Vertedores A presença do vertedor, que é essencialmente uma parede com abertura de determinada forma geométrica, colocada, na maioria dos casos, perpendicularmente à corrente, eleva o nível d’água a sua montante até que este atinja uma cota suficiente para produzir uma lâmina sobre o obstáculo, compatível com a vazão descarregada. A lâmina líquida descarregada, adquirindo velocidade, provoca um processo de convergência vertical dos filetes, situando-se, portanto, abaixo da superfície livre da região não perturbada de montante. Vertedores Os vertedores são estruturas relativamente simples, mas de grande importância prática devido a sua utilização em numerosas construções hidráulicas, tais como: - sistemas de irrigação - estações de tratamento de água e esgotos - barragens - medição de vazão em córregos - etc. Classificação e Nomenclatura Crista ou soleira: é a parte superior da parede em que há contato com a lâmina vertente. Se o contato da lâmina se limitar, como nos orifícios de parede fina, a uma aresta biselada, o vertedor é de parede delgada; já se o contato ocorrer em um comprimento apreciável da parede, o vertedor é de parede espessa. vertedor de parede delgada Classificação e Nomenclatura Carga sobre a soleira (h): é a diferença de cota entre o nível d’água a montante, em uma região fora da curvatura da lâmina em que a distribuição de pressão é hidrostática, e o nível da soleira. Em geral, a uma distância da montante do vertedor igual a seis vezes a carga, a depressão da lâmina é desprezível. Classificação e Nomenclatura Altura do vertedor (P): é a diferença de cotas entre a soleira e o fundo do canal de chegada. Largura da luz da Soleira (L): é a dimensão da soleira através da qual há o escoamento. Vertedores Os vertedores podem ser classificados de diversas maneiras: a) quanto à forma geométrica da abertura: retangulares, triangulares, trapezoidais, circulares, parabólicos. b) quanto à altura relativa da soleira: descarga livre se P > P’, (são os mais usados) e descarga submersa se P < P’, isto é, se o nível de água de saída for superior ao nível da soleira. P: altura do vertedor Classificação e Nomenclatura vertedor retangular Vertedores Os vertedores podem ser classificados de diversas maneiras: c) quanto à natureza da parede: parede delgada se a espessura da parede for inferior a dois terços da carga, e < 2/3 h, e de parede espessa caso contrário, e > 2/3 h. delgada espessa Vertedores Os vertedores podem ser classificados de diversas maneiras: d) quanto à largura relativa da soleira: sem contrações laterais se a largura da soleira for igual à largura do canal de chegada, L = b, e com contrações laterais se a largura da soleira for inferior à largura do canal de chegada, L< b. Vertedores Os vertedores podem ser classificados de diversas maneiras: e) quanto à inclinação do paramento da estrutura com a vertical, podem ser: vertical ou inclinado. f) quanto à geometria da crista: de crista retilínea, circular e poligonal ou em labirinto. Vertedor Retangular Os vertedores retangulares de parede fina sem contrações corresponde a uma placa delgada, com soleira horizontal e biselada, instalada perpendicularmente ao escoamento, ocupando toda a largura do canal sem contrações laterais e com o espaço sob a lâmina vertente ocupado por ar à pressão atmosférica. Um vertedor com estas características, em geral utilizado para medidas de vazão com boa precisão, é denominado descarregador Bazin. 2 3 2 3 2 hLgCQ d ou 2 3 hLCQ onde gCC d 2 3 2 Vertedor Retangular seção longitudinal do escoamento sobre um vertedor retangular Cd: coef. descarga, L: largura da soleira e h: carga por sobre a soleira A determinação experimental do coeficiente de vazão e sua relação com a geometria e condições de escoamento, como carga h, altura da soleira P e largura do canal b = L, faixa de vazão etc, foi objeto de estudo de vários pesquisadores. As formulações mais utilizadas são as definidas por Bazin, Rehbock, Francis e Kindsvater & Carter. Nas formulações as condições e limites dos parâmetros experimentais conduzem, do ponto de vista prático na engenharia, valores aceitáveis com variação dos resultados na faixa de 5%. Valores do Coeficiente de Vazão Cd Formulação de Bazin (1889) Formulação de Rehbock (1912) Valores do Coeficiente de Vazão Cd Formulação de Francis (1905) Para P/h > 3,5 o valor da carga cinética de aproximação é pequeno e o coeficiente médio da equação de Francis torna-se Cd = 0,623, o que resulta na fórmula prática: Valores do Coeficiente de Vazão Cd expressão mais utilizada na prática devido a sua simplicidade e que resulta a valores aproximados. Nas medidas de vazão em campo, sejam em canais artificiais ou em córregos naturais, não se tem as situações encontradas em laboratórios. Uma destas situações corresponde a instalação de um vertedor retangular de largura L no meio de um canal de largura b > L, o que provoca o aparecimento de contrações laterais. Com a finalidade de manter a validade das equações e os valores do coeficiente de vazão, considera-se, em vez da largura L da soleira, a largura efetivamente disponível para o escoamento. Influência da Contração Lateral Segundo Francis, a contração lateral em um vertedor retangular, com o bordo vertical afastado da parede do canal mais de 4 h e largura L > 3h, é igual a um décimo da carga h. Para uma contração lateral dupla, a largura efetivamente ocupada pelo escoamento deve ser a largura geométrica da soleira diminuída em 2h/10. Assim, a fórmula prática e aproximada de Francis, para um vertedor retangular, de parede fina e com duas contrações laterais é dada por: Influência da Contração Lateral Influência da Contração Lateral Formulação de Francis para vertedor retangular com contrações laterais 2 3 20,0838,1 hhLQ 2 3 10,0838,1 hhLQ L: largura efetivamente disponível para o escoamento, em decorrência das contrações laterais no canal e h: carga sobre a soleira. Vertedor triangular de parede fina Os vertedores triangulares são particularmente recomendados para medição de vazão abaixo dos 30 L/s, com cargas h entre 0,06 m e 0,50 m. É um vertedor tão preciso quanto os retangulares na faixa de 30 a 300 L/s. A figura mostra um vertedor triangular de parede fina com ângulo de abertura e carga h. Vertedor triangular de parede fina Dentre os vertedores triangulares, o mais usado nas medições práticas é aquele com ângulo de abertura () igual a 90°. Para esta abertura as fórmulas experimentais mais usadas são: a) Thompson b) Gouley e Crimp Vertedor trapezoidal de parede fina Os vertedores trapezoidais não encontram tanto interesse de aplicação como os vertedores retangulares e triangulares. O principal vertedor trapezoidal é o vertedor denominado Cipoletti, em forma de um trapézio isósceles. A inclinação das paredes laterais do vertedor é 1H : 4V. A vazão pode ser determinada pela equação: 2 5 861,1 hLQ sujeito a: 0,05 < h < 0,60 m a > 2 h L > 3 h b (largura do canal) de 30 a 60 h Vertedor de Soleira Espessa Horizontal O vertedor retangular de parede espessa é uma elevação no fundo do canal de uma altura “P”, largura “b” e um certo comprimento “e” suficiente para produzir a elevação do nível d’água a sua montante. O comportamento da veia líquida é o que aparece na figura, na qual se observa uma depressão da veia nas proximidades do bordo de montante e, em continuação, um escoamento praticamente paralelo à crista. Vertedor de Soleira EspessaHorizontal A vazão pode ser obtida pela equação: O coeficiente Cd (vide tabela) é função das relações h/P e h/e e também da rugosidade da crista e do fato de a aresta do bordo de ataque ser em ângulo vivo ou arredondado. 23704,1 hLCQ d Vertedor de soleira espessa horizontal Descarregadores de Barragens Em obras projetadas para o controle de vazões, como nos aproveitamentos hidrelétricos, a geometria do vertedor não depende somente das condições hidráulicas. Com efeito, a estabilidade estrutural da obra, as características do subsolo, a topografia e o tipo de barragem devem ser igualmente levados em consideração. No caso de grandes vazões, é comum o uso de vertedores-extravasores que são essencialmente grandes vertedores retangulares, projetados com uma geometria tal que promova o assentamento da lâmina vertente por toda a soleira. Descarregadores de Barragens Nestes casos, a soleira espessa de um descarregador é do tipo normal, projetada para que o jato tenha aderência à soleira do vertedor com um coeficiente de descarga máximo. A soleira espessa de um descarregador é dita normal, para uma determinada vazão Q e seu perfil é tal que se verifica a pressão atmosférica local ao longo da soleira, quando veiculando a vazão Q. Descarregadores de Barragens Em um vertedor de soleira normal, a carga hd chamada de carga de projeto é medida em relação ao ponto mais alto do perfil (crista). A lei de descarga de um vertedor-extravasor, de largura L, segue a expressão básica: ΔH = 0,12 h vertedor de parede fina vertedor-extravador de soleira normal O coeficiente de vazão C*d, relativo à carga de projeto hd, relaciona-se ao coeficiente de vazão Cd através da seguinte expressão: Como ΔH = h - hd = 0,12 h, portanto hd = 0,88 h, a relação anterior fica: Segundo dados experimentais realizados pelo WES (Waterways Experiment Station), relacionando h/hd o coeficiente de vazão resulta em: 2 3 * d dd h h CC Descarregadores de Barragens Q*d = 1,211 Cd Exercícios 1) Com o objetivo de medir a vazão de um riacho, foi construído no seu leito um vertedor retangular, sem contrações laterais, com soleira de 2,0 m de largura e instalada a 0,90 m do fundo do riacho. Pede-se para estimar, qual a vazão medida neste vertedor quando a carga for de 30 cm? Resolução: Dados: vertedor retangular sem contrações laterais Largura da soleira: L = 2,0 m carga: h = 30 cm P = 0,90 m A vazão para o vertedor retangular (sem contrações laterais) é dado pela seguinte relação: Q = 2/3 Cd x L x h 3/2 x (2g)0,5 Na definição da vazão, devemos conhecer Cd. Para tanto, calculando Cd pela fórmula de Francis: Cd = 0,615 x [1 + 0,26 x (h/h + P)²] Cd = 0,615 x [1 + 0,26 x (0,3/0,3 + 0,9)²] Cd = 0,625 (coef. de descarga ou vazão) assim, Q = 2/3 x 0,625 x 2,0 x 0,30 3/2 x (19,62)0,5 Q = 0,60 m³/s P Exercícios 2) Uma soleira retangular de arestas vivas, com espessura de 3,0 metros, está instalada sobre o fundo de um canal retangular com 1,5 m de largura. A soleira tem altura de 1,0 m, contado a partir do fundo do canal, no qual flui a vazão de 2,0 m³/s. Determine a elevação do nível de água a montante da soleira, a carga h e o nível de água sobre a soleira. Considerar Cd = 0,85 vertedor de parede espessa horizontal Resolução: Dados: soleira de fundo retangular espessura: e = 3 m largura do canal retangular: b = 1,5 m altura da soleira: 1,0 m Q canal = 2 m³/s A vazão no canal retangular, com uma soleira de fundo, é dada pela seguinte expressão: Q = Cd x 1,704 x b x h 3/2 2 = 0,85 x 1,704 x 1,5 x h3/2 h3/2 = 0,921 h = 0,95 m (carga sobre a soleira) Conhecido a carga sobre a soleira, é possível determinar o nível de água a montante da soleira, que é dado por: NA mont. = h + 1,0 NA mont = 0,95 + 1,0 = 1,95 m Por fim, determinando o nível d’ água sobre a soleira, que no caso corresponde a uma profundidade crítica. Resolução: Por fim, determinando o nível d’ água sobre a soleira, que no caso corresponde a uma profundidade crítica. yc = (q²/g)1/3 onde q: vazão unitária a vazão unitária é dada pela relação entre a vazão Q no canal e sua largura b. Assim: Q/b = q q = 2,0/1,5 = 1,33 m³/s.m a profundidade critíca será: yc = (1,33²/9,81)1/3 yc = 0,56 m (que corresponde a profundidade do nível d’água sobre a soleira). Exercícios 3) Em um distrito de irrigação, existe um canal trapezoidal, com largura de fundo igual a 1,20 m, declividade de fundo i = 0,0003 m/m, inclinação dos taludes 1V:2H, revestido de cimento de n = 0,02, transportando em regime uniforme, uma certa vazão com altura d’água igual a 0,45 m. Desejando-se, em uma determinada seção, aumentar o tirante d’água para 0,75 m, optou-se pela instalação de um vertedor retangular de parede fina, com duas contrações laterais e largura da soleira L = 1,50 m. Qual deve ser a altura da soleira P? Resolução: Dados: largura do canal trapezoidal = 1,2 m i = 0,0003 m/m taludes 1V:2H coeficiente Manning: n = 0,02 Q =? lâmina inicial de y = 0,45 m aumento da lâmina y = 0,75 m com instalação de um vertedor retangular de parede fina, com duas contrações laterais e largura da soleira L = 1,50 m. determinando inicialmente a vazão transportada pelo canal trapezoidal, através da aplicação da fórmula de Manning: para tanto, definindo a razão de aspecto m: m = b/y = 1,2/0,45 m = 2,67 dado que o talude Z = 2 ao canal trapezoidal, e conhecendo-se o valor da relação b/y, através da tabela 8.2 define-se o coeficiente de forma K. Resolução: da tabela 8.1, foi observado que: y/b = 2,6 K = 1,592 y/b = 2,8 K = 1,623 logo, para m = 2,67, tem-se: K = 1,592 + 1,623/2 K = 1,607 sabendo-se que o coeficiente dinâmico M é dado por: M = (n x Q/io,5)3/8 e que y = M/K, tem-se: y x K = (n x Q/io,5)3/8 1,607 x 0,45 = (0,02 x Q/(0,0003o,5)3/8 0,723 = 1,055 Q3/8 Q3/8 = 0,685 Q = 0,365 m³/s Conhecida a vazão, a carga sobre a soleira do vertedor retangular, com duas contrações laterais, é definida pela equação: Q = 1,838 x (L – 0,2 h) h3/2 0,365 = 1,838 x (1,5 – 0,2 h)3/2 h = 0,265 m (carga sobre a soleira) Resolução: definindo o valor da carga h, calcula-se a altura P da soleira: sendo y = 0,75 m a lâmina sobre a soleira do vertedor retangular, tem-se: P + h = 0,75 P = 0,75 – h = 0,75 – 0,265 P = 0,485 m
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