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GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Inclui toda a atualização da legislação tributária federal e os pronunciamentos do CPC até 31 de dezembro de 2009 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Inclui toda a atualização da legislação tributária federal e os pronunciamentos do CPC até 31 de dezembro de 2009 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Sócio-diretor responsável pelo projeto: Henrique Herbel de Melo Campos. EQUIPE RESPONSÁVEL: Coordenadores do projeto: Elizabeth Campos Martins Fontanelli e Humberto Tamarini Perez. Corpo de sócios: Antônio de Pádua Soares Pelicarpo, José Luiz de Souza Gurgel e Marcelo Pereira Gonçalves (revisores); Eduardo Vieira Cipullo, Esmir de Oliveira, Jorge Alberto da Cunha Moreira, José Luiz Sanches, Lúcio Abrahão Monteiro Bastos, Luiz Carlos de Carvalho, Marcelo Faria Pereira, Marcelo Nogueira de Andrade, Marcello Palamartchuk, Márcio Serpejante Peppe, Mateus de Lima Soares, Orlando Octávio de Freitas Júnior, Paulo Ricardo Pinto Alaniz, Phelipe e Silva Linhares e Ricardo Bonfá de Jesus. Corpo de diretores: Mariana Macedo Leme Carissio e Iêda Aparecida Patrício Novais. Corpo de gerentes: Alcides Afonso Louro Neto, Carla Eliane Aguiar Lima, Dário Vieira de Lima, Diego Feliciano Irineu, Eduardo Luiz Rota, Eliardo Araújo Lopes Vieira, Fábio dos Santos Alonso Martins, Fernanda Lima Bezerra Berna, Fernando Eduardo R. dos Santos, Itor Itsuo Takayama, Juliana Leonam Braga, Leonardo da Silva Vilar Gomes, Luciano de Oliveira Sertório, Luiz Carlos Soares da Silva, Marcelo Fichera Lourenzi, Patrícia Isabel Soares da Silva Centeno, Phelipe Gouveia Dias, Renato Abranches de Almeida, Ricardo José Patine Filho, Robinson Meira, Robson Nunes Moura, Ronaldo Reimberg Lima, Ronaldo Silva dos Santos, Sérgio Yassunori Ishikawa, Suzana de Cássia Lopes. Corpo de supervisores: Christian Carlo Cândido, Livia Yanasse Trajano dos Santos, Régis Eduardo Baptista dos Santos e Shaila Santos da Silva. Equipe de apoio: Antônio Donizete Pereira, Luciene dos Anjos Gonçalves Perez e Silvia Luiza Lakatos Varuzza. RESPONSABILIDADE FINAL PELO PROJETO: COMITÊ TÉCNICO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índice para catálogo sistemático: 1. Demonstrações contábeis : Elaboração : Contabilidade 657.3 Guia para as demonstrações contábeis : 2009-2010 / Comitê Técnico da BDO. Henrique Herbel de Melo Campos. Organizador. São Paulo : Trevisan Editora Universitária, 2010. ISBN: 978-85-99519-22-6 1. Demonstrações contábeis I. Comitê de Qualidade e Técnica da BDO-CQT CDD-657.3 08-00238 CONTATO Tel.: 11 3138 5314 relacionamento@bdobrazil.com.br www.bdobrazil.com.br BDO Auditores Independentes, uma empresa brasileira de sociedade simples, é membro da BDO International Limited, uma companhia limitada por garantia do Reino Unido, e faz parte da rede internacional BDO de firmas membro independentes. BDO é o nome comercial para a rede BDO e cada uma das Firmas Membro BDO Esta publicação foi cuidadosamente preparada, no entanto, foi escrita em termos gerais e deve ser considerada somente como uma orientação geral. A publicação não poderá servir de base para cobrir situações específicas e não recomendamos agir ou deixar de agir com base nas informações contidas na publicação sem obter aconselhamento profissional específico. Favor contate a BDO Auditores Independentes para discutir esses assuntos no contexto de suas circunstâncias particulares. A BDO Auditores independentes, seus sócios, profissionais e agentes não aceitam ou assumem quaisquer responsabilidades ou obrigações por qualquer dano decorrente de qualquer ação tomada, ou não tomada, por qualquer pessoa com base nas informações desta publicação ou por quaisquer decisões nela baseadas. EQUIPE EDITORIAL Editor responsável: Antonio Carlos Porto Araujo. Projeto gráfico: CG Studio (atendimento@cgstudio.com.br). Direção de Arte: Cristiana Serpa. Assistentes de Arte: Antonio Bacci Neto, Fabio Hideki Komido, Américo Buono, Rodolpho Araujo Lopes. A Trevisan Editora Universitária agradece o envio de correções e comentários sobre seus livros, inclusive sobre erros tipográficos, de formatação ou outros. Por gentileza, faça uma cópia da página que contém o erro e envie fax para 55 11 3138 5228, ou e-mail para editora@trevisaneditora.com.br. Os livros da Trevisan Editora Universitária estão disponíveis com descontos para quantidades especiais destinadas a promoções de venda e prêmios ou para uso em programas de treinamento corporativo, além de outros programas educacionais. Para mais informações, entre em contato conosco. Trevisan Editora Universitária R. Bela Cintra 934, 7º andar, CEP 01415 000 São Paulo, SP tel. 11 3138 5265 fax 11 3138 5228 e-mail: editora@trevisaneditora.com.br Home page: www.trevisaneditora.com.br 3 APRESENTAÇãO O ano de 2009 começou sob o signo da crise econômica mundial. Havia incertezas em relação ao futuro, retração de crédito, adiamento de projetos e quebras de instituições financeiras no exterior. Em contrapartida, o mundo que experimentara, nos anos anteriores, uma geração de riquezas sem precedentes, parecia ter finalmente encontrado seus limites. O cenário era pouco animador, mas a BDO deu sequência a seus planos. Graças a esse posicionamento firme e otimista (mas nem por isso isento de prudência e ética) alcançamos resultados bem consistentes: até setembro de 2009, a receita combinada de todas as firmas membro BDO (1.138 escritórios em 115 países) atingiu o montante de US$5,1 bilhões de dólares. No Brasil, os resultados foram ainda melhores, pois crescemos 11% em relação ao exercício de 2008, com um faturamento de 104 milhões de reais. Foi um desempenho mais tímido do que aquele alcançado em outros períodos, quando crescíamos ao ritmo de 30% ao ano. Mas, tendo em vista o ambiente pouco favorável à realização de negócios do primeiro semestre do ano, não há motivos para reclamação. Atravessar as labaredas da crise sem sofrer queimaduras graves só foi possível porque a BDO não esmoreceu na busca da qualidade e permaneceu focada na conquista e na fidelização de clientes. Atenta a essas diretrizes, a BDO implantou o projeto single name nos países em que se faz presente. Assim, a partir de 2010 todas as firmas membro da BDO estão abandonando seus eventuais nomes compostos, inclusive no Brasil — nossa equipe foi uma das primeiras a incorporar os novos padrões, em 1º de outubro. Com o País tornando-se um grande ‘player’ mundial, a adoção do single name ganha relevância neste momento em que, para podermos atender às novas demandas contábeis, principalmente a de convergir para o IFRS (International Financial Reporting Standards), damos mostras de que possuímos uma estrutura mundial à plena disposição de nossos clientes de hoje e de amanhã. Convém ressaltar que não nos distanciamos do nosso passado como Trevisan e, posteriormente, BDO Trevisan. Nós ainda somos os mesmos profissionais que construíram uma história de credibilidade e sucesso, e fazemos questão de deixar isso bem claro para o mercado. O iniciador de tudo, Antoninho Marmo Trevisan, com seus 38 anos de atuação profissional, permanece como presidente de nosso Conselho Consultivo. Novos desafios nos aguardam em 2010 e, determinados a prestar serviços com cada vez mais qualidade, superando as expectativas 4 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 de nossos clientes e agregando valor a toda a sociedade, com o objetivo maior de produzir conhecimento para o desenvolvimento sustentável do Brasil e do Mundo, apresentamos o Guia para as Demonstrações Contábeis 2009-2010, que compila as principais mudanças contábeis e tributárias, descreve as perspectivas econômicas para 2010 e incorpora as novidades relativas à governança corporativa. Ressaltamos, porém, que este material não substitui as pesquisas, leituras e conclusões a serem efetuadas, pois nossa responsabilidadereferente às conclusões somente pode ser obtida após as consultas oficiais que nos são encaminhadas. Assim, assuntos pontuais devem ser analisados de forma detalhada. Nossos especialistas estão à disposição, em nossos 15 escritórios no Brasil e nos demais escritórios do mundo. Boa leitura! Atenciosamente, Eduardo Augusto Rocha Pocetti CEO — Chief Executive Officer Janeiro de 2010 5 SUMÁRIO ASPECTOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA BDO em 2009 ........................................................................................................................... 9 Perspectivas econômicas 2010 ................................................................................................. 11 por Luiz Nelson Porto Araujo, consultor da BDO Governança Corporativa e Gestão de Riscos ............................................................................ 21 Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade ......................................................... 23 ASPECTOS CONTÁBEIS CPC .......................................................................................................................................... 27 CVM .......................................................................................................................................... 87 BACEN....................................................................................................................................... 89 SUSEP ....................................................................................................................................... 92 ANEEL ....................................................................................................................................... 95 SPC .......................................................................................................................................... 103 ANS .......................................................................................................................................... 107 CFC .......................................................................................................................................... 115 IBRACON .................................................................................................................................. 119 IASB .......................................................................................................................................... 121 FASB .......................................................................................................................................... 129 ASPECTOS TRIBUTÁRIOS Panorama tributário brasileiro em 2009 ................................................................................... 143 por Lúcio Abrahão Monteiro Bastos, sócio-diretor da BDO Lei 11.941 .................................................................................................................................. 147 Legislação Federal ..................................................................................................................... 149 Legislação Trabalhista e Previdenciária ..................................................................................... 157 Legislação Aduaneira ................................................................................................................ 161 Jurisprudência ........................................................................................................................... 165 ASPECTOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 9 BDO EM 2009 BDO NO MUNDO Até setembro de 2009, a receita total combinada de todas as firmas membros que compõem a rede mundial BDO foi de €3,710 bilhões (US$5,026 bilhões). O aumento foi de 4,5% em relação ao exercício anterior. Os números de profissionais e a quantidade de escritórios da rede também subiram em escala mundial: de 44 mil profissionais em 2008, passamos para 46 mil em 2009, e os escritórios da rede aumentaram de 1.095 para 1.138 no mesmo período. Jeremy Newman, CEO da BDO International, afirma que os resultados mostram o poder de recuperação da rede “Nossas receitas foram afetadas por difíceis condições do mercado, particularmente nas economias de nossas maiores firmas membros, e pela redução significativa em atividade baseada em transações”, explica, acrescentando que os resultados também foram afetados pelas variações cambiais, “Mas estamos bastante satisfeitos com o crescimento das receitas gerais em euro e pelo fato de as receitas gerais expressas em dólares terem sofrido uma redução bem pouco significativa”, assinala o CEO. “É particularmente agradável saber que, numa época em que muitas outras redes de auditoria estão apresentando um declínio nas receitas, as nossas cresceram quase 5% com a exclusão do efeito de variações cambiais”. Segundo Newman, a resistência da BDO deve-se, entre outros fatores, ao crescimento em muitas firmas membros, bem como das novas firmas no Camboja, na Geórgia e na Índia. A rede também passou a ter uma presença consideravelmente mais forte na China, “Esse crescimento é uma demonstração de nosso compromisso com nossos clientes e nossa gente, e mostra que oferecemos serviços consistentes e de alta qualidade em cada país no qual estamos presentes”. Desde o final de seu exercício fiscal, a BDO anunciou o acréscimo de outros cinco países em sua rede, por meio da admissão de novas firmas na África Oriental (Quênia, Tanzânia e Uganda) e Caribe Oriental (St. Lucia e St. Vincent). Portanto, no início de 2010, a rede BDO passa a ter firmas membros em 115 países. RESULTADOS CONSOLIDADOS Faturamento até setembro de 2009 = US$5,026 bilhões Profissionais = 46 mil Países = 115 Escritórios = 1.138 10 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 BDO NO BRASIL O crescimento será de aproximadamente 11%: dos R$94 milhões de faturamento em 2008, passamos para R$104 milhões em 2009, “Estávamos crescendo a um ritmo de 30% ao ano, mas consideramos que esse resultado foi bom, pois seria impossível escapar dos reflexos da crise mundial”, pondera o CEO da BDO no Brasil, Eduardo Pocetti. Em 1º de outubro, a BDO no Brasil, conhecida até então pelo nome BDO Trevisan, passa a se chamar BDO. Com isso reafirmamos nosso compromisso em fornecer serviços com o mesmo padrão de qualidade a todos os clientes em qualquer parte do mundo. Trata-se do resultado de muitos anos de investimento e engajamento, estratégicos e operacionais, e confirma nossa posição de concorrente não só das maiores firmas, mas também de todas que operam em nosso mercado. Antoninho Marmo Trevisan fundou a empresa Trevisan, liderando-a por mais de 25 anos. Nesse tempo, a Trevisan se tornou uma das maiores firmas de auditoria do País em quantidade de clientes e em faturamento. Em outubro de 2004, a Trevisan se uniu à rede internacional BDO, quinta maior do mundo no segmento de auditoria. Para melhor viabilizar o modelo de gestão tradicionalmente praticado pelas grandes empresas mundiais de auditoria, o fundador optou por passar a sociedade a um grupo de profissionais (sócios), que assumiram a empresa, agora em um modelo de partnership. Ao sair da sociedade, Antoninho Marmo Trevisan assumiu o posto de presidente do Conselho Consultivo da BDO. Ele não exerce atividade executiva na empresa, mas continua contribuindo com sua experiência no assessoramento das ações estratégicas da firma. Para 2010, é vislumbrado um cenário que inspira o mais puro otimismo. Está claro que o Brasil alcançará vitórias significativas e que a BDO terá condição plena de crescer, de superar novos desafios e de ampliar presença no mercado. RESULTADOS CONSOLIDADOS Faturamento em 2009 = R$104 milhões Profissionais = mais de 800 Escritórios = 15 instalados em 11 Estados 11 O Brasil é, hoje, a décima maior economia do mundo, com previsão de ser a quinta antes do final desta década. É o segundo maiorexportador de produtos alimentícios, um dos maiores produtores de petróleo e minerais e o quinto maior mercado automobilístico. Nossa economia é a principal referência política e econômica de toda a América Latina. Nossa estrutura de governança é cada vez mais sólida e a democracia parece ter fincado raízes profundas no seio do sistema político e social. Recentemente, no âmbito das discussões sobre a atual crise econômica, o País foi promovido a interlocutor privilegiado no FMI, no G-20 e em outros fóruns mundiais. Sem dúvida, um conjunto de atributos que sinalizam um processo sustentado de crescimento a taxas elevadas, superiores a 5% a.a. para os próximos anos. Este Guia tem acompanhado o desempenho da economia e formulado trajetórias para a economia mundial e brasileira, com maiores detalhes para a segunda. Em todos esses anos, sempre observamos um evento marcante, que acabou por balizar a trajetória esperada. O mesmo se repetiu em 2009. Nesse caso, a fantástica resistência da economia brasileira à crise financeira internacional. Por outro lado, também sempre apontamos os grandes desafios que acabam por condicionar, negativamente, nosso processo de desenvolvimento. Essa abordagem é, mais uma vez, seguida no artigo deste ano. ECONOMIA MUNDIAL As principais economias e seus respectivos mercados financeiros estão se recuperando lentamente do tumulto iniciado há 18 meses nos Estados Unidos. No entanto, os efeitos da desaceleração do crescimento nessas economias devem continuar a deteriorar as perspectivas de crescimento global, mesmo considerando a recuperação econômica dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ou seja, não será capaz de suprir o hiato de demanda derivado dos Estados Unidos e das economias da União Europeia. O funcionamento dos mercados financeiros ainda é limitado e as restrições aos fluxos de crédito, decorrentes de incertezas em relação à estrutura regulatória e à saúde financeira dos potenciais tomadores de empréstimos, estão impedindo a retomada dos financiamentos ao consumo e os investimentos. Neste ano, em continuação ao observado ao final de 2009, os dois principais temas na agenda econômica mundial são: 1) a desmontagem dos mecanismos de incentivo — principalmente de origem monetária — adotados pelos diversos países (particularmente os Estados Unidos) para PERSPECTIVAS ECONÔMICAS 2010 Por Luíz Nelson Porto Araujo * 12 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 mitigar os efeitos da crise; e 2) a discussão dos possíveis efeitos inflacionários gerados por ela. Desde o início da crise, o Federal Reserve Bank — Fed expandiu maciçamente a liquidez do sistema financeiro norte-americano, injetando mais de US$2 trilhões na economia e suavizando o aperto de crédito. Sua atuação como emprestador de última instância contribuiu para mitigar o risco sistêmico, não apenas nos Estados Unidos, como também em outros grandes centros financeiros. Mais ainda, a partir de setembro de 2007, o Federal Open Market Committee — FOMC iniciou um processo de redução da chamada federal funds rate. Em dezembro de 2008, esse Comitê tomou uma decisão histórica, definindo uma meta para o intervalo de zero a 0,25% e anunciando a expectativa de que a frágil situação econômica manteria a meta a níveis historicamente baixos por algum tempo. Ao final de 2009, essa meta mantinha- se inalterada, apesar da fraca sinalização de elevação em algum momento em 2010. Com relação à estabilidade do patamar inflacionário, existe uma possibilidade de o excesso de liquidez implicar em um surto inflacionário, com desdobramentos sobre a desvalorização do dólar nos próximos anos. Isso causa apreensão não apenas aos consumidores mas, particularmente, aos investidores com volumes consideráveis de ativos denominados em dólar. Com o objetivo de minimizar os riscos desse surto, o Fed anunciou a criação de um fundo no qual os bancos locais poderão depositar, como aplicações, o que avaliarem como excesso de reservas bancárias. A expectativa é que sejam “enxugados” do sistema mais de US$1 trilhão. O mecanismo deve ser adotado em alguns meses, quando se considerar que a recuperação da atividade econômica nos EUA mostrar sinais mais robustos. Um terceiro tema, também recorrente, é o desmonte dos mecanismos de incentivo de origem fiscal, que foram adotados quando as perspectivas econômicas eram, literalmente, sombrias. O custo desses incentivos (muitos deles ainda não totalmente quantificados) foram muito inferiores aos efeitos multiplicadores positivos que tiveram sobre a produção e o emprego. No entanto, implicaram em uma mudança estrutural nas finanças públicas dessas economias, cujos efeitos — muito mais importantes — ainda não foram totalmente compreendidos. Conhece-se, apenas, a significativa deterioração da posição de endividamento e, em alguns casos, o eventual questionamento da condição de solvência pública. ECONOMIA BRASILEIRA Ao contrário da análise conjuntural apresentada nos guias anteriores, decidimos por incluir, a partir deste ano, a discussão de temas que possuem uma dimensão mais estrutural. Assim, a análise que se segue trata, inicialmente, de alguns “desafios estruturais” e, em seguida, do desempenho recente e das perspectivas para o crescimento, os investimentos, a inflação e juros, as finanças públicas, o comércio exterior e a taxa de câmbio. DESAFIOS ESTRUTURAIS O Brasil, como outras economias emergentes, se depara com uma série de desafios econômicos, políticos e sociais de natureza estrutural. Esses desafios estão diretamente relacionados com a evolução histórica do país, sua inserção no sistema mundial de governança e os gargalos e disparidades econômicas e sociais que, há séculos, definem a nossa sociedade. A identificação desses desafios é uma tarefa muito mais simples do que a decisão política e a alocação de recursos, físicos e financeiros, para a sua superação. Não é objetivo deste artigo hierarquizar GUIA BDO 2009-2010 13GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 as demandas da sociedade, identificar e caracterizar o processo decisório, avaliar as estratégias e ações adotadas para superá-los, mas é importante observar quatro itens particularmente relevantes: 1) as eleições majoritárias deste ano; 2) a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e 3) o bônus demográfico. Eleições 2010 Neste ano, o Brasil terá eleições majoritárias. Desde a redemocratização, em 1985, iremos eleger, pela sexta vez consecutiva, o presidente da República. Dessa vez, como em 2006, o atual mandatário não pode ser candidato à reeleição. A impossibilidade de permanência no poder por dois mandatos sucessivos foi uma das regras mais estáveis do nosso sistema político, tendo sido mantida durante o regime autoritário após o golpe militar de 1964, e permanecido na Constituição de 1988. O sucesso do Plano Real e as mudanças estruturais na economia, exigidas para sua manutenção, levaram à ideia de que quatro anos é um período curto para a execução de um programa de governo. Assim, em 04/06/97, por meio da Emenda Constitucional nº 16, foi aprovado o instituto da reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos. Em 1998, foram realizadas as primeiras eleições para a presidência e para os governos estaduais sob vigência dessa nova regra. Em 2000, o instituto da reeleição foi aplicado pela primeira vez em eleições municipais. Em todos os casos constatou-se certa tendência de permanência dos candidatos que já estavam exercendo o cargo. Assim, o presidente Fernando Henrique foi reeleito, em 1998, e Lula em 2002. A teoria econômica estuda, há décadas, os chamados ciclos político-econômicos. Uma proposição fundamental desta teoria é a de que os políticos, conhecedores dos efeitos do momento econômico sobre os votos dos eleitores, manipulam as variáveis macroeconômicas, com o objetivo de serem eleitos (ou reeleitos). Assim, com a proximidadedas eleições, os principais instrumentos de política econômica — fiscais e monetários — são direcionados à expansão da economia. Depois do período eleitoral, são adotadas medidas contracionistas a fim de reverter os efeitos adversos da política expansionista adotada anteriormente. Não há muitas dúvidas de que a disputa nas eleições deste ano será, particularmente, muito intensa. Os ativos em jogo — a presidência da República, os governos estaduais e 2/3 do Senado — irão, com certeza, impactar as estratégias da política econômica adotadas pelos candidatos e seus partidos. Os efeitos sobre a economia serão, em um primeiro momento, bastante benéficos e — espera-se — estruturantes. O problema é a ressaca que pode se seguir logo a partir dos primeiros meses de 2011. Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 Em maio de 2009, a Fifa anunciou que Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador foram escolhidas como cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Sediar a Copa significa hospedar 32 equipes e suas comitivas durante um mês e criar estrutura para a realização de 64 partidas, que serão transmitidas pra todo do mundo, no maior evento midiático do planeta (estima-se que durante a Copa de 2014 cerca de três bilhões de telespectadores assistam às transmissões). A infraestrutura e a segurança devem ser os maiores desafios para o sucesso desses dois eventos. Estimativas ainda preliminares apontam que a Copa demandará investimentos superiores 14 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 a US$5 bilhões de dólares. Os valores para as Olimpíadas são inferiores — e devem ser reduzidos por aqueles que serão gastos em 2014 —, mas também são relevantes. Os maiores gastos com infraestrutura nas cidades onde acontecerão os jogos são: reforma e construção de estádios/vilas olímpicas, obras em rodovias, aeroportos, hospitais e sistemas de telecomunicações. A realização da Copa e das Olimpíadas é uma grande oportunidade para antecipar e adensar os investimentos necessários para superar as carências crônicas das cidades-sede, com efeitos multiplicadores sobre toda a economia. O grande desafio, para que os investimentos sejam, de fato, estruturantes, é não repetir os problemas observados quando da realização do Pan 2007, no Rio de Janeiro: 1) orçamentos iniciais superados pelos custos reais; 2) ajuda emergencial do Estado para conclusão das obras; e 3) não melhora da infraestrutura no entorno dos estádios e das cidades. Mais ainda, o Brasil não pode perder a oportunidade de se valer desses dois eventos para alavancar sua projeção no cenário mundial, para melhorar as condições de acessibilidade e mobilidade urbanas e para expandir as condições de acesso a serviços de saneamento, energia, transporte e telecomunicações. Bônus Demográfico A demografia pode ser um dos principais indutores do crescimento do Brasil nas próximas três décadas. A nossa situação é mais favorável agora do que foi nas cinco décadas passadas. De fato, existe um “bônus demográfico” — que só acontece uma vez e somente uma vez pode ser utilizado — que, caso estrategicamente utilizado, pode alavancar as condições socioeconômicas do País. O período de crescimento econômico anterior (1950—1980), caracterizado pelo intenso processo de urbanização e industrialização, lançou as bases da transição demográfica, isto é, redução das taxas brutas de mortalidade e natalidade. Como as taxas de mortalidade caíram primeiro e em ritmo mais rápido do que as taxas de natalidade, houve uma aceleração do crescimento populacional em relação a todos os períodos anteriores. Projeções derivadas do IBGE e das Nações Unidas mostram que estamos iniciando um processo de transição demográfica, que se estende de 1950 a 2030. Nos próximos 20 anos, as taxas brutas de mortalidade vão ficar praticamente estáveis, enquanto as taxas brutas de natalidade vão continuar caindo, o que irá reduzir o ritmo de crescimento vegetativo da população. Uma das principais consequências dessa transição é a alteração da estrutura etária da população, reduzindo a participação relativa das crianças e aumentando, inicialmente, a participação dos adultos e, posteriormente, a participação dos idosos. Assim, o primeiro efeito da transição demográfica é reduzir as taxas de dependência demográfica. Somente a partir de 2025 as taxas de dependência deverão se elevar, ou seja, a “carga econômica” da dependência é muito menor nesse início de século, do que foi em qualquer outro momento da nossa história. Essa menor carga tem impactos econômicos relevantes, em particular, o potencial de aumento da poupança, condição fundamental para a elevação dos investimentos. CRESCIMENTO Desde a adoção do Plano Real, em 1994, se discute o crescimento sustentado da economia brasileira. A discussão, sem dúvida, aprofundou- se ao final da década passada e deve ser um tema recorrente nesse início de século. O cerne dos debates diz respeito aos condicionantes internos GUIA BDO 2009-2010 15GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 da economia brasileira. Será que as próximas décadas podem ser tão positivas em termos de crescimento quanto os “trinta anos de ouro” (1950—1980) da economia brasileira? Naquele período, nossa economia cresceu aproximadamente 7,0% a.a., enquanto a população cresceu menos de 3,0% a.a. Assim, a renda per capita cresceu 4,2% a.a. Esses 30 anos marcaram o melhor período de crescimento de toda a história brasileira, mesmo levando-se em consideração que o país partiu de uma base — e uma matriz econômica — muito baixa e contou com um intenso processo de transformação que implicou na passagem de uma sociedade rural e agrária para uma sociedade urbana e industrial. Os deslocamentos da população do campo para as cidades e a importação de tecnologias avançadas, de países mais desenvolvidos, possibilitaram um salto significativo do PIB e da produtividade do trabalho, a despeito da crescente desigualdade na distribuição da renda e da manutenção das disparidades regionais. As duas décadas subsequentes (1980—2000) foram marcadas, principalmente, por crises econômicas, alta inflação, perda de dinamismo social e um agravamento da violência e da insegurança. O foco estava na tentativa de estabilização da inflação e do controle das contas externas. Essas duas “décadas perdidas” lançaram sérias dúvidas sobre a capacidade da economia brasileira de retomar o desenvolvimento econômico e melhorar as condições de vida da população, particularmente o acesso aos bens públicos básicos. Os resultados obtidos na década passada — sem dúvida, decorrentes da condução da política macroeconômica interna, mas, também, das excepcionais condições dos mercados externos — resgataram o discurso do “Brasil potência”. O desempenho do País na recente crise econômica global — que ainda assola as economias mais desenvolvidas e, localmente, outras economias — e as recentes descobertas de óleo e gás no pré-sal apenas contribuiu para o fortalecimento do discurso ufanista. Mais ainda, o crescimento da economia internacional tem ajudado a recuperação brasileira e é um fator condicionante do futuro. Atualmente, existe um otimismo mundial com o desempenho dos países emergentes, em especial com os países do BRIC. Estimativas preliminares indicam que o PIB real deve ficar próximo de zero no ano de 2009, reduzindo a média observada nos últimos anos, mesmo considerando a expansão dos últimos três trimestres do ano. Para 2010 e, ao menos até a metade desta década, todas as expectativas são extremamente positivas, com um crescimento esperado superior a 5,0% a.a. Esse intervalo — grande — decorre de incertezas de origens externas e internas. Externamente, a maior incerteza decorre, principalmente, da dinâmica da crise mundial. Ainda não se sabe se os efeitos associados às restrições de crédito e à queda dademanda agregada e dos investimentos chegaram ao seu limite inferior nas economias desenvolvidas e, em consequência, se os efeitos nas economias emergentes já se manifestaram em sua totalidade. Internamente, a incerteza decorre dos limites colocados pelas medidas de ajuste à crise financeira, pela infraestrutura física, pela elevada e regressiva carga tributária, pela péssima distribuição da renda e pelo baixo nível de escolaridade da população (especialmente aquela de baixa renda e das regiões menos desenvolvidas do País). Entre as principais medidas adotadas pelo executivo federal no enfrentamento da crise financeira, temos as seguintes: 1) garantia de capital de giro às empresas da construção civil; 2) aumento do capital do BNDES 16 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 (aporte de R$80 bilhões, que se somou ao crédito de R$100 bilhões ao final de 2008); 3) aumento da oferta de crédito com recursos dos depósitos compulsórios; 4) apoio ao setor exportador; e 5) desoneração fiscal de setores específicos da economia. Todas essas medidas, de caráter estritamente conjuntural, buscaram atender às necessidades e pressões pontuais. Na verdade, o Brasil ainda carece da implementação de ajustes importantes — que só podem ser operacionalizados por meio de reformas estruturantes (tributária, trabalhista, regulatória e política) — e de uma estratégia de desenvolvimento que contemple a intensificação da inovação tecnológica, o adensamento das principais cadeias produtivas, a internacionalização das empresas brasileiras de classe mundial, o aumento dos níveis de escolaridade da população (especialmente daquela mais carente), a redução das disparidades regionais (a concentração geográfica do PIB nas regiões sul e sudeste do País e nos 50 maiores municípios é particularmente relevante), o combate à corrupção e o fortalecimento das estruturas de governança pública. INVESTIMENTO A formação bruta de capital fixo (investimento bruto) é um dos principais componentes da demanda. Um dos efeitos positivos do investimento é aumentar a capacidade instalada da economia, o que permite um crescimento mais acelerado sem pressões inflacionárias. Desde 2003, a participação do investimento como proporção do PIB corrente tem crescido e a expectativa é de que em 2009 tenha sido de 19% (versus a média de 16,4% entre 2001 e 2007 e 18,9% em 2008). A execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em 22/01/07, teve efeitos importantes sobre o PIB de 2009 — particularmente em face da retração dos investimentos privados —, mas muito inferiores ao esperado (e mesmo inferiores àqueles associados aos gastos correntes): atrasos no cronograma de várias obras acabaram por limitar os efeitos multiplicadores desses investimentos. Esses atrasos decorreram, principalmente, de problemas de gestão e enxurrada de ações judiciais (desapropriação, licenciamento ambiental, leilões de concessão, etc.) contra as obras do Programa. Com a aceleração do crescimento, o aumento da demanda e a diminuição da capacidade ociosa irão contribuir para o aumento dos investimentos no setor privado que, somados aos investimentos públicos, devem aumentar não apenas o nível, mas também a participação relativa no PIB (podendo atingir até 20%). O agente mais importante na manutenção de níveis elevados de investimento é o BNDES. Essa instituição tem um papel estratégico cada vez mais relevante no financiamento da infraestrutura nacional e deve continuar a tê-lo em 2010, mesmo com o abrandamento das restrições ao crédito por parte das instituições financeiras privadas. No ano passado, o volume de desembolsos do banco somou R$137 bilhões (versus R$92,2 bilhões em 2008) e a expectativa é de que se empreste R$126 bilhões em 2010 (uma redução de 8%). Por fim, a percepção do investidor estrangeiro sobre o estado da economia e as perspectivas de crescimento estão ainda mais positivas do que em 2009, apesar do reposicionamento dos investimentos e dos fluxos de capitais nos mercados globais em decorrência da crise financeira. Desde 2003, o fluxo de investimento direto para o Brasil tem crescido e em 2008 atingiu o seu pico GUIA BDO 2009-2010 17GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 histórico (US$45 bilhões). No ano passado, as estimativas são de que os investimentos atingiram US$25 bilhões. Para 2010, a expectativa é de que esse fluxo seja próximo ao recorde observado em 2008 devido à exploração do pré-sal, à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016. INFLAçãO E JUROS Em 2009, as taxas de inflação medidas por diversos índices e instituições apresentaram uma reversão em suas respectivas trajetórias de ascensão. O IPCA, por exemplo, que baliza o regime de metas de inflação, foi de 4,5% em 2007, 5,9% em 2008 e, pelas estimativas desse início de ano, foi pouco superior a 4% em 2009. O limite superior da meta é de 6,5% ao ano. Já o IGP-M, que indexa os contratos de serviços públicos (água, energia elétrica e telefone), foi de 7,8%, em 2007, 9,8% em 2008 e -1,7% em 2009, apresentando a sua primeira deflação desde que foi calculado pela primeira vez, pela FGV, em 1989). Essa trajetória deve implicar em um resíduo deflacionário importante nas tarifas públicas e aluguéis em 2010. Todos os resultados do ano encerrado superaram a maioria das expectativas do mercado. É importante enfatizar, como temos feito anualmente neste Guia, que todo processo de desenvolvimento econômico sustentado exige uma taxa de inflação baixa e pouco volátil. A conjugação de produção, investimento e geração de emprego com inflação elevada só existe no mundo da fantasia. Não existe, na moderna teoria e boa prática econômica, qualquer argumento plausível para que a taxa de inflação seja elevada. Pior ainda, o aumento da taxa de inflação penaliza não apenas as decisões de investimento, como também — e principalmente — a população mais carente do País. O comportamento dos índices em 2010 não deve exigir mais atenção da autoridade monetária, apesar de as pressões associadas ao ciclo econômico-político e a crise nos mercados de crédito internacionais exigirem dela atenção redobrada. O grande desafio que se apresenta é uma eventual expansão da economia a taxas superiores a 6% a.a. por alguns anos, dados os gargalos assombrosos na capacidade instalada e na infraestrutura nacional. Em 2008, a taxa Selic aumentou de 11,25% para 13,75% a.a., em movimento contrário ao observado nos dois anos anteriores. Em 2009, ela reduziu-se significativamente, atingindo apenas 8,75% a.a. Essa foi uma grande surpresa para a maior parte do mercado, com efeitos muitos positivos sobre as demais taxas praticadas. A grande incógnita de 2010 é a trajetória da taxa básica de juros. O intervalo para a taxa Selic situa-se entre 9,5% e 11,75% a.a., contrastando com os intervalos bem mais estreitos estimados para outros indicadores macroeconômicos. A incerteza também diz respeito à trajetória de ajuste que será adotada pelo Banco Central, mas existe o consenso de que ao final do primeiro semestre a taxa deva ser mais elevada do que aquela de dezembro. Dada a defasagem da política monetária (período entre a redução da taxa e o impacto final sobre os preços) de pelo menos seis meses, a dúvida é se o Banco irá aguardar a confirmação da aceleração do crescimento antes de elevar a taxa básica. FINANçAS PúBLICAS Os gastos públicos em 2009, nas três esferas de governo, contribuíram positivamente para mitigar os efeitos adversos da crise econômica e devem continuar neste ano. A expectativa é de que as despesas não financeiras dos governos federal, estadual e municipal continuarão em alta, mas a 18 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 um ritmo inferior ao observado no ano passado. Somadas, essas despesas correspondem a quase um terço do PIB. A carga tributária foi reduzida neste ano devido aos efeitos da crise econômica: de um lado, aatividade econômica contraiu-se fortemente no primeiro trimestre do ano e, de outro, as desonerações tributárias foram adotadas para diversos setores de atividade. A confusão momentânea na estrutura de governança da Receita Federal do Brasil também contribuiu para a diminuição da receita. Mais recentemente, foram anunciadas e implementadas diversas medidas administrativas e normativas com o objetivo de diminuir a evasão e elisão tributária e aumentar a receita. Os resultados observados a partir do último trimestre de 2009 são bastante positivos. A razão “dívida pública/PIB” ficou próxima de 45% em dezembro de 2009, comparada com 38,8% em 2008, 42,7% em 2007 e 44,7% em 2006. Com a perspectiva de um crescimento de 5% ou mais e um superávit primário de 2% a 2,5% do PIB, essa razão deve voltar a diminuir em 2010, fechando o ano ao torno de 43%. Outros indicadores, como a necessidade de financiamento primário (o chamado superávit/ déficit primário) e de financiamento nominal também foram positivos, mas com um desempenho inferior ao observado em 2008. Em 2009, a meta do superávit primário foi de 2,5% do PIB, com permissão de abatimento de investimentos de até 0,94% do PIB. Para 2010, a meta é de 3,3% do PIB, com possibilidade de desconto de até 0,65%. A expectativa é de que a arrecadação aumentará — por conta da expansão da atividade econômica — e o aumento das despesas correntes não ocorrerá com a mesma intensidade do ano passado, na medida em que os efeitos da crise econômica forem praticamente dissipados no Brasil. Apesar do cenário de expansão das despesas e da contração das receitas, o risco de insolvência do setor público está fora de todos os cenários traçados para os próximos anos. Uma âncora importante da solvência fiscal é a Lei Complementar nº 101 (Lei de Responsabilidade Fiscal), de 04/05/00, que pressupõe dos entes federativos uma ação planejada e transparente com vistas ao controle das contas públicas. COMÉRCIO ExTERIOR E TAxA DE CâMBIO O ano de 2009 deve ser uma referência importante na análise das contas externas do País. O principal motivo é que estamos passando por uma mudança estrutural, com uma tendência de queda dos superávits comerciais e um déficit em transações correntes, que deve se intensificar nos próximos anos. Os efeitos dessa mudança são relevantes, com impactos sobre a taxa de câmbio, o nível das reservas internacionais, a matriz produtiva e a geração de empregos. Até o momento, não é vislumbrado um cenário de deterioração acentuada que comprometa a própria estabilização da economia, mas, sem dúvida, a luz amarela se acendeu. Desde o pós-guerra, o saldo da balança comercial é superavitário (as principais exceções foram nos anos iniciais do Plano Real). Em 2006, o saldo foi de US$46,5 bilhões, caindo para US$40 bilhões em 2007, US$24,9 bilhões em 2008 e US$24,6 bilhões em 2009. A balança comercial brasileira fechou o ano de 2009 com o pior saldo em sete anos. Com a crise econômica, as exportações sofreram a maior queda percentual desde 1950. No ano passado, as exportações atingiram US$152,2 bilhões e as importações US$127,6 bilhões (versus US$197,9 bilhões e US$172,9 bilhões no ano anterior, respectivamente). A redução do fluxo comercial — de quase 24% — decorreu diretamente da crise econômica global. No segundo semestre, GUIA BDO 2009-2010 19GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 com a retomada do crescimento (no mercado local e em alguns mercados internacionais), tanto as exportações quanto as importações cresceram. Por fim, é importante observar que a evolução da taxa de câmbio também teve efeitos negativos sobre o saldo comercial. O fluxo comercial deve crescer este ano, mas não são esperadas variações significativas no saldo da balança comercial, novamente devido ao câmbio e ao crescimento mais acelerado do mercado doméstico. De fato, o saldo comercial em 2010 deve continuar a cair devido ao crescimento mais rápido das importações (principalmente volume) e da menor expansão das exportações (preço e volume): a expectativa é de um saldo inferior a R$10 bilhões, podendo ser negativo. A conta de serviços deve manter seu déficit estrutural, dadas as despesas com o pagamento de empréstimos externos, as remessas de lucros e dividendos, o turismo e os fretes e seguros. O crescimento da atividade econômica e a manutenção da taxa de câmbio são variáveis explicativas importantes do saldo dessa conta. O saldo em transações correntes (que, do ponto de vista econômico, corresponde ao excesso do consumo e investimento sobre o produto, ou o excesso dos investimentos sobre poupança doméstica e, do ponto de vista contábil, é o excesso de importações sobre as exportações de bens e serviços) continua positivo, mas em queda: em 2006 foi US$13,6 bilhões, em 2007 foi US$1,7 bilhões e, em 2008, foi negativo em US$33,9 bilhões. Para 2009, a estimativa é que o saldo negativo tenha piorado ainda mais e que o mesmo ocorra em 2010. Com o acirramento da crise cambial, em setembro de 2008, o real iniciou um processo acelerado de valorização (juntamente com uma maior volatilidade). Os resultados parciais para 2009 mostram, como no ano anterior, que o real foi a moeda que mais se valorizou no mundo (seguida do dólar, do rand, do peso chileno e do dólar neo-zelandês) e a moeda mais volátil entre um conjunto de países das Américas (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México, Peru e Venezula). O resultado do balanço de pagamentos e, principalmente, da balança comercial deve definir a taxa de câmbio R$/US$ no biênio 2010— 2011. Desde 2006, a taxa média de câmbio é decrescente. Para o final de 2010, espera-se uma taxa pouco superior a R$1,7 (algumas estimativas colocam o câmbio a R$1,6 no fim deste ano) e ainda inferior a R$1,85 em 2011. Essa trajetória é esperada mesmo com a pressão adicional sobre o câmbio decorrente da regulamentação do Fundo Soberano do Brasil (FSB), feita pelo governo ao fim de dezembro do ano passado. Por fim, é importante observar na área externa que, desde 2002, com os saldos comerciais em crescimento e a estabilidade nos mercados internacionais, as reservas internacionais do Brasil cresceram bastante: de US$32,8 bilhões para US$239 bilhões ao final de 2009. Entre os países do BRIC, o Brasil foi o que mais aumentou proporcionalmente a suas reservas internacionais, 23,4% — correspondentes a US$45,2 bilhões). A expectativa é de que as reservas continuem a aumentar em 2010, podendo atingir mais de US$275 bilhões. CONCLUSÕES Nossa avaliação e conclusão sobre o desempenho recente e as trajetórias esperadas para a economia mundial e brasileira em 2010 podem ser sumarizadas da seguinte maneira: CENÁRIO ExTERNO A crise econômica e financeira mundial é mais profunda e generalizada e seus efeitos serão mais 20 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 duradouros do que se imaginava. A crise continua a se desenrolar e suas causas e intervenções serão, sem dúvida, objeto de debate por muitos anos. Ainda não temos respostas para todos os problemas e, em muitos casos, não sabemos sequer quais são as perguntas pertinentes. Apesar disso, já observamos o início da retomada do crescimento econômico — geográfica e setorialmente limitada, é claro — ao final do ano passado. CENÁRIO INTERNO A continuidade da política econômica deve ser assegurada pelo executivo federal, pois implica no reconhecimento de que a estabilidade macroeconômica é condição fundamental para o desenvolvimento e a inserção social de milhões de brasileiros. Essa estabilidade se resume ao controle da inflação, à disciplina fiscal e monetária, à gestão pública eficiente e aos programas sociais focados na população mais carente. É óbvio que intervenções pontuais em determinados setores de atividade e o uso de políticas anticíclicas inteligentes devem ser defendidas. No entanto, isso não implica na generalização de medidas descontínuasde ajustes, populistas e de baixa eficiência e eficácia — apesar de todas as pressões políticas em sentido contrário. O cenário atual brasileiro é um dos mais favoráveis do mundo, em praticamente todos os setores de atividade econômica. É claro que a crise financeira mundial deve continuar limitando a produção e o emprego local. No entanto, a participação do setor público e a demanda doméstica compensam seus efeitos negativos e asseguram um crescimento sustentável a taxas elevadas. *Luíz Nelson Porto Araujo Consultor da BDO 21 GOVERNANçA CORPORATIVA: UM PROCESSO EVOLUTIVO Estamos vivenciando o final de um ano de ricas experiências para todos os setores do mercado. A maior lição de todas nesse ano de 2009 foi que toda crise passa e que precisamos estar sempre preparados para ultrapassar as adversidades e aproveitar as oportunidades. O ano de 2009, além do ambiente de gerenciamento de crise e retomada do mercado, foi marcado por importantes fatos ligados à governança e gestão, tais como: Revisão do código de melhores práticas • pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Publicação pelo Banco Central para as • novas regras de gestão de riscos de crédito para as instituições financeiras. Consolidação do processo de convergência • contábil do Brasil para o padrão internacional IFRS. Nossa experiência em projetos desenvolvidos para avaliar gestão, riscos e controles demonstrou certa carência nas empresas de pequeno e médio porte, sobretudo aquelas de controle familiar. Em linhas gerais, as fragilidades encontradas nas empresas têm duas características bem distintas, a primeira delas diz respeito à forte evidenciação das ineficiências nos momentos de menor volume de negócios. Nessas ocasiões, gastos e desperdícios se tornam mais aparentes, bem como a ausência de uma adequada gestão para conter custos, aperfeiçoar processos e estruturas internas das organizações. Quando tudo está indo muito bem, é natural negligenciar controles. Contudo, se pagará um preço caro no futuro. A segunda fragilidade se constata nos momentos de forte crescimento. O que de fato acontece é um distanciamento entre as curvas de ascensão dos negócios e do nível de amadurecimento dos processos e controles, ou seja, há uma defasagem no modelo de governança e gestão que, se não tratado tempestivamente, poderá facilmente comprometer todo o crescimento da organização. Reforçamos neste ponto a necessidade de diagnosticar em qual dessas duas situações a empresa se encontra e qual a melhor solução. Vislumbrando as expectativas promissoras para o mercado em 2010 e resgatando as experiências de 2009, resta reforçar a importância de avaliar o estágio de maturidade dos processos organizacionais, principalmente no que diz respeito ao nível de confiança das informações para tomada de decisão, aos controles de proteção dos ativos, às estruturas que garantem o cumprimento de regras e aos processos que refletem a eficiência e a eficácia das operações. Pensar em governança pode ser traduzido em observar a organização em camadas que precisam de uma adequada comunicação e sinergia. GOVERNANÇA CORPORATIVA E GESTãO DE RISCOS 22 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Podemos exemplificar uma parte disso na figura abaixo: Outra forma de tratar a governança é segmentá-la em áreas de atuação, como governança tributária, em tecnologia da informação, ambiental, em contratos, etc. Em linha com essa tendência, a BDO lançou estudo inédito no Brasil em conjunto com a Associação Nacional dos Gestores de Contratações (ANGC). O objetivo do trabalho foi conhecer as práticas e as ferramentas de governança utilizadas pelas organizações para gerir o ciclo de vida de seus contratos. Os resultados podem ser obtidos por solicitação via e-mail linhares@bdobrazil.com.br. 23 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL A MUDANçA NA VISãO DE SER SOCIALMENTE, AMBIENTALMENTE E FINANCEIRAMENTE RESPONSÁVEL A busca pela responsabilidade social tem deixado de ser encarada como uma despesa ou um ônus e tem passado a ser vista como um bom investimento, reduzindo custos e aumentando a receita. Os empresários passaram a se preocupar cada vez mais com toda a sua cadeia produtiva, repensando seus produtos, fornecedores, processos e tecnologias utilizados na produção, e até mesmo no cliente final. Os administradores estão constatando que ser social e ambientalmente responsável traz enormes benefícios, como a melhora da performance financeira, por meio da redução de riscos e custos, e o consequente aumento nas vendas e continuidade do negócio e da distribuição de riqueza, além da melhoria do rating e da obtenção de menores taxas de financiamento e do acesso facilitado ao mercado de capitais. Tudo isto é fruto da conceituação e estruturação de uma área específica, do constante diálogo com os diversos stakeholders e com a crescente preocupação de manter uma comunicação ética e transparente, por meio de relatórios de sustentabilidade. COMPROMISSO NACIONAL — SETOR SUCROALCOOLEIRO Durante o exercício de 2009 foi assinado, voluntariamente, por mais de 300 empresas do setor o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, o qual visa a garantir novos direitos e qualidade de vida para os trabalhadores da lavoura de cana-de-açúcar. De acordo com o divulgado, os signatários deste Compromisso constituirão a Comissão Nacional de Diálogo e Avaliação do Compromisso Nacional e terão as seguintes atribuições: I. Estabelecer critérios e procedimentos para implementar, acompanhar e avaliar os resultados do Compromisso Nacional, inclusive com a possibilidade de autorizar auditoria independente para o exercício das atividades de monitoramento do cumprimento das práticas empresariais. II. Divulgar o Compromisso Nacional e estimular a adesão das empresas do setor sucroalcooleiro. III. Propor e definir mecanismos para eventuais ajustes na adesão e permanência de empresas aos termos do Compromisso. IV.Deliberar sobre o estabelecimento e a divulgação de mecanismo de reconhecimento das empresas que aderirem e cumprirem as práticas empresariais estabelecidas no Compromisso. V. Propor e debater a revisão do Compromisso. RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE 24 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 ISO 26000 A ISO 26000 será a norma internacional de responsabilidade social e deverá ser lançada no 4º trimestre de 2010. A participação na elaboração da ISO 26000 é multistakeholder, sendo representados seis segmentos sociais: consumidores, empresas, governo, organizações não governamentais (ONGs), trabalhadores e o último segmento que é formado por serviço, suporte, pesquisa e outros. Em 2009, a norma passou para o estágio DIS (Draft International Standard) o que significa que o conteúdo já está bem consolidado e poucas alterações deverão ocorrer no texto. Os membros que participam da ISO votarão sua aprovação e os resultados sairão em março de 2010, seguindo para a próxima fase mais protocolar e rápida, a FIDIS (Final Draft International Standard). A próxima reunião internacional ocorrerá em maio de 2010, em Copenhagen, na Dinamarca, e a data esperada para a publicação da norma ISO 26000 é setembro de 2010. COP 15 O Acordo de Copenhagen sobre mudança climática foi selado entre Estados Unidos, Brasil, China, Índia e África do Sul, em dezembro de 2009, em Copenhagen, na Dinamarca. Em 2010 esse Acordo deverá ser transformado em tratado, com valor legal. Um dos principais pontos previstos neste Acordo é o de reconhecimento da necessidade de se limitar o aumento das temperaturas globais a 2ºC acima dos níveis pré-industriais. A implementação do Acordo de Copenhagen será revista em 2015. CRONOGRAMA DE CONSTRUçãO DA NORMA ISO 26000 ATÉ 2009 Setembro de 2002• — Conselho da ISO cria o SAG (Strategic Advisory Group) Junho de 2004• — ISO decide pelanormatização Janeiro de 2005• — início dos trabalhos do grupo de Responsabilidade Social da ISO — ABNT/SIS Março de 2005• — I Reunião Internacional — Salvador, Brasil Setembro de 2005• — II Reunião Internacional — Bangkok, Tailândia Maio de 2006• — III Reunião Internacional — Lisboa, Portugal Janeiro de 2007• — IV Reunião Internacional — Sidney, Austrália Novembro de 2007• — V Reunião Internacional — Viena, Áustria Setembro de 2008• — VI Reunião Internacional — Santiago, Chile Maio de 2009• — VII Reunião Internacional — Quebec, Canadá ASPECTOS CONTÁBEIS 27 Em 10 de novembro de 2000 foi iniciada a tramitação do Projeto de Lei nº 3.741, cujo objetivo era modernizar o capítulo de práticas contábeis da lei das sociedades por ações (Lei nº 6.404 de 1976), sendo aprovada e publicada no dia 28 de dezembro de 2007, na forma da Lei nº 11.638, vigorando a partir do dia 1º de janeiro de 2008. Considerando que muitas de suas alterações CPC COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS trazem consigo também mudanças culturais, o tempo para adaptação foi curto. Adicionalmente, para incluir os reflexos das mudanças contábeis nas questões tributárias, fizeram-se necessárias mais algumas alterações, trazidas pela Lei nº 11.941/09. As leis nº 11.638 e nº 11.941 trazem em seu bojo como principais alterações comparativas: ANTES DEPOIS Publicação da DOAR (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos). Publicação da DFC (Demonstração dos Fluxos de Caixa). As companhias fechadas com patrimônio líquido não superior a R$1 milhão eram desobrigadas a publicar a DOAR. As companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a R$2 milhões são desobrigadas a publicar a DFC. A DVA (Demonstração do Valor Adicionado) não era exigida. DVA (Demonstração do Valor Adicionado) exigida para as companhias abertas. A escrituração contábil era efetuada de acordo com os princípios de contabilidade geralmente aceitos e pela legislação comercial, podendo registrar nos livros comerciais ou em livros auxiliares os ajustes decorrentes da legislação tributária ou de legislação específica sobre a atividade da sociedade. A escrituração contábil é efetuada de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. Eventuais alterações oriundas da legislação tributária ou legislações especiais devem ser mantidas em livros auxiliares sem prejuízo às práticas contábeis que serão adotadas. A CVM expedia normas contábeis de acordo com os princípios de contabilidade geralmente aceitos. A CVM deve expedir normas contábeis em consonância com os padrões internacionais de contabilidade (IFRS — International Financial Reporting Standards). Não havia obrigatoriedade de aplicação, pelas companhias fechadas, das normas e resoluções da CVM. As companhias fechadas podem optar por observar as normas contábeis emanadas da CVM. Os efeitos de ajustes contábeis (com algumas exceções previstas na legislação tributária) eram considerados na base de incidências dos impostos. Os efeitos de ajustes contábeis decorrentes da mudança de norma contábil não podem ser considerados na base de incidências dos impostos. O ativo permanente era dividido em: investimentos, ativo imobilizado e ativo diferido. O grupo de ativo permanente foi extinto e os novos grupamentos são: investimentos, imobilizado e intangível. O patrimônio líquido era dividido em: capital social, reservas de capital, reservas de reavaliação, reservas de lucros e lucros ou prejuízos acumulados. O patrimônio líquido deve ser dividido em: capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. 28 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 ANTES DEPOIS Os prêmios recebidos na emissão de debêntures, bem como as doações e as subvenções para investimento, podiam ser registrados como reservas de capital. Os prêmios recebidos na emissão de debêntures, bem como as doações e as subvenções para investimento devem integrar o resultado do exercício. Aumentos de valores nos saldos de ativos eram registrados como reserva de reavaliação, no patrimônio líquido. Aumentos ou diminuições de valores nos saldos de ativos e passivos decorrentes de avaliações a preço de mercado devem ser registrados na conta de ajustes de avaliação patrimonial, no patrimônio líquido. Os ativos eram avaliados pelo seu custo ou pelos seus valores de mercado, dos dois o menor, sempre deduzido de provisões para perdas, amortização, depreciação ou exaustão. Os ativos devem ser avaliados pelo custo ou mercado, dos dois o menor, sempre deduzido de provisões para perdas. Para rubricas específicas, é aceita a contabilização pelo valor de mercado. Para os ativos de longo prazo, devem ser efetuados ajustes a valor presente. O produto de operações com instrumentos financeiros deve ser registrado em consonância com as regras especificadas da lei. Periodicamente, a entidade deve avaliar a recuperação dos valores dos ativos imobilizado, intangível e diferido e, sempre que necessário, devem ser ajustados aos seus valores de realização. Os passivos eram avaliados de forma conservadora e acrescidos de todos os encargos, juros, multas, correções e variações cambiais cabíveis. Os passivos serão avaliados de forma conservadora, acrescidos de todos os encargos, juros, multas, correções e variações cambiais cabíveis. Os passivos de longo prazo serão ajustados ao seu valor presente e aos saldos de curto prazo, quando houver efeito relevante. Nas operações de incorporação, fusão ou cisão, os saldos vertidos podiam ser registrados pelos valores contábeis. Nas operações de incorporação, fusão ou cisão, a CVM determinará os critérios contábeis a ser praticados. As controladas deviam ser avaliadas pelo método da equivalência patrimonial. As controladas, sociedades que fazem parte do mesmo grupo que estejam sob controle comum, devem ser avaliadas pelo método de equivalência patrimonial. As companhias abertas eram obrigadas a publicar as suas demonstrações contábeis devidamente auditadas. As companhias fechadas eram obrigadas a publicar suas demonstrações contábeis. As companhias abertas são obrigadas a publicar suas demonstrações contábeis devidamente auditadas. As companhias fechadas são obrigadas a publicar suas demonstrações contábeis. As empresas (ou grupo de empresas sob controle comum) enquadradas como sociedades de grande porte, ou seja, com receita bruta anual superior a R$300 milhões ou ativo total superior a R$240 milhões, mesmo que não constituídas como sociedades por ações, estão obrigadas a observar as práticas contábeis previstas na lei ou na CVM, incluindo a auditoria de suas demonstrações contábeis. CPC A CVM, o BACEN e demais órgãos e agências reguladoras podem celebrar convênio com órgãos técnicos de contabilidade no intuito de emitir normas contábeis. Apesar de o seu nome não estar descrito na lei, o órgão que está desempenhando a função de emitir normas contábeis em consonância com os IFRS e em convênio com a CVM e o CFC é o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis). GUIA BDO 2009-2010 29GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 E sobre esta última alteração que diz respeito ao CPC, foi com certeza uma das principais mudanças, objetivo deste capítulo. É importante ressaltar que a lei não cita diretamente ou institui o CPC, porém o CFC (Conselho Federal de Contabilidade) adiantou- se em 7 de outubro de 2005 criando-o, cujos trabalhos iniciaram. Fazem parte do CPC não somente os representantes dos preparadores de DCs (CFC, Ibracon e Fipecafi), mas também dos usuários (Apimec e Bovespa) e dos tomadores de decisão (Abrasca), para dar-lhe um fórum amplo de discussão. A CVM, o Bacen e a Susep, desde 2007 (ou seja antes da aprovação da Lei nº 11.638/07), definiram que as companhias sob supervisão deveriam apresentar as DCs de 2010 em IFRS preparados pelo IASB. Nesse sentido, o CPC preparou uma agenda de pronunciamentos aserem emitidos com o intuito de adequar as praticas contábeis adotadas no Brasil com o IFRS e até 31 de dezembro de 2009 cumpriu com este compromisso, exceto pelos pronunciamentos (CPCs) nº 34, nº 41 e nº 42 que, para aplicação no Brasil, fazem-se necessárias algumas mudanças nos textos originais do IASB, devidamente sugeridas, porém até o momento não houve posicionamento do IASB. Com isso, o Brasil passa a adotar a mesma métrica contábil que está sendo adotada ou em fase de adoção por mais de 100 países, tendo, assim, os mais modernos princípios contábeis mundiais. Para um melhor entendimento, o CPC emite: pronunciamentos, interpretações e orientações. Os pronunciamentos e as interpretações têm correlação direta com o IFRS e o IFRIC do IASB, respectivamente. As orientações são emitidas somente em casos de especificidades brasileiras, não tendo correlação com documentos emitidos pelo IASB. A seguir segue quadro sintético dos pronunciamentos: CPC Pronunciamentos IASB Pronunciamentos DESCRIÇãO CVM* CFC* CPC 00 Framework Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis 539/08 1.121/08 CPC 01 IAS 36 Redução ao Valor Recuperável de Ativos 527/07 1.110/07 CPC 02 IAS 21 Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis 534/08 1.120/08 e 1.164/09 CPC 03 IAS 7 Demonstração dos Fluxos de Caixa 547/08 1.125/08 CPC 04 IAS 38 Ativo Intangível 553/08 1.139/08 e 1.140/08 CPC 05 IAS 24 Divulgação sobre Partes Relacionadas 560/08 1.145/08 CPC 06 IAS 17 Operações de Arrendamento Mercantil 554/08 1.141/08 CPC 07 IAS 20 Subvenção e Assistência Governamentais 555/08 1.143/08 30 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 CPC Pronunciamentos IASB Pronunciamentos DESCRIÇãO CVM* CFC* CPC 08 IAS 39 - partes Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários 556/08 1.142/08 CPC 09 - Demonstração do Valor Adicionado - DVA 557/08 1.138/08 e 1.162/09 CPC 10 IFRS 2 Pagamento Baseado em Ações 562/08 1.149/09 CPC 11 IFRS 4 Contratos de Seguro 563/08 1.150/09 CPC 12 - Ajuste a Valor Presente 564/08 1.151/09 CPC 13 - Adoção Inicial da Lei no. 11.638/07 e da Medida Provisória no. 449/08 565/08 1.152/09 CPC 14 R1 IAS 32/39 - partes Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação 608/09 1.240/09 CPC 15 IFRS 3 Combinação de Negócios 580/09 1.175/09 CPC 16 IAS 2 Estoques 575/09 1.170/09 CPC 17 IAS 11 Contratos de Construção 576/09 1.171/09 CPC 18 IAS 28 Investimento em Coligada e em Controlada 605/09 1.241/09 CPC 19 IAS 31 Investimento em Empreendimento Controlado em Conjunto (Joint Venture) 606/09 1.242/09 CPC 20 IAS 23 Custos de Empréstimos 577/09 1.172/09 CPC 21 IAS 34 Demonstração Intermediária 581/09 1.174/09 CPC 22 IFRS 8 Informações por Segmento 582/09 1.176/09 CPC 23 IAS 8 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro 592/09 1.179/09 CPC 24 IAS 10 Evento Subsequente 593/09 1.184/09 CPC 25 IAS 37 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes 594/09 1.180/09 CPC 26 IAS 1 Apresentação das Demonstrações Contábeis 595/09 1.185/09 CPC 27 IAS 16 Ativo Imobilizado 583/09 1.177/09 CPC 28 IAS 40 Propriedade para Investimento 584/09 1.178/09 CPC 29 IAS 41 Ativo Biológico e Produto Agrícola 596/09 1.186/09 CPC 30 IAS 18 Receitas 597/09 1.187/09 CPC 31 IFRS 5 Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada 598/09 1.188/09 GUIA BDO 2009-2010 31GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 CPC Pronunciamentos IASB Pronunciamentos DESCRIÇãO CVM* CFC* CPC 32 IAS 12 Tributos sobre o Lucro 599/09 1.189/09 CPC 33 IAS 19 Benefícios a Empregados 600/09 1.193/09 CPC 35 IAS 27 Demonstrações Separadas 607/09 1.239/09 CPC 36 IAS 27 Demonstrações Consolidadas 608/09 1.240/09 CPC 37 IFRS 1 Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade 609/09 1.253/09 CPC 38 IAS 39 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração 604/09 1.196/09 CPC 39 IAS 32 Instrumentos Financeiros: Apresentação 604/09 1.197/09 CPC 40 IFRS 7 Instrumentos Financeiros: Evidenciação 604/09 1.198/09 CPC 43 IFRS 1 Adoção Inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 40 610/09 1.254/09 CPC PME IFRS - SMES Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas - 1.255/09 I-CPC 01 IFRIC 12 Contratos de Concessão 611/09 1.261/09 I-CPC 02 IFRIC 15 Contrato de Construção do Setor Imobiliário 612/09 1.266/09 I-CPC 03 IFRIC 4 e SICs 15 e 27 Aspectos Complementares das Operações de Arrendamento Mercantil 613/09 1.256/09 I-CPC 04 IFRIC 8 Alcande do Pronunciamento Técnico CPC 10 - Pagamento Baseado em Ações 614/09 1.257/09 I-CPC 05 IFRIC 11 Pronunciamento Técnico CPC 10 - Pagamento Baseado em ações - Transações de Ações do Grupo e em Tesouraria 615/09 1.258/09 I-CPC 06 IFRIC 16 Hedge de Investimentos Líquidos em uma Operação no Exterior 616/09 1.256/09 I-CPC 07 IFRIC 17 Distribuição de Lucros in Natura 617/09 1.260/09 I-CPC 08 - Contabilização da Proposta de Pagamento de Dividendos 601/09 1.195/09 I-CPC 09 - Demonstrações Contábeis Individuais, Separadas, Consolidadas e Aplicação do Método de Equivalência Patrimonial 618/09 1.262/09 32 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 * Número da Deliberação CVM ou a Resolução do CFC, exceto quando descrito de outra forma. Seguem as explicações sintetizadas de todos os pronunciamentos emitidos: PRONUNCIAMENTOS CPC 00 — PRONUNCIAMENTO CONCEITUAL BÁSICO — ESTRUTURA CONCEITUAL PARA A ELABORAçãO E APRESENTAçãO DAS DEMONSTRAçÕES CONTÁBEIS Em 11 de janeiro de 2008, o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) divulgou o pronunciamento conceitual básico intitulado “Estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis”, correlacionado às normas internacionais de contabilidade descritas no documento emitido pelo IASB, denominado Framework for the Preparation and Presentation of Financial Statements. Esse importante pronunciamento estabelece os conceitos que fundamentam a preparação e a apresentação de demonstrações contábeis destinadas a usuários externos, não devendo haver qualquer conflito entre o estabelecido nesta estrutura conceitual e os pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC. A finalidade da estrutura conceitual é: Dar suporte ao desenvolvimento de • novos pronunciamentos técnicos e à revisão de pronunciamentos existentes, quando necessário. Dar suporte aos responsáveis pela • elaboração das demonstrações contábeis na aplicação dos pronunciamentos técnicos e no tratamento de assuntos que ainda não tiverem sido objeto de pronunciamentos técnicos. CPC Pronunciamentos IASB Pronunciamentos DESCRIÇãO CVM* CFC* I-CPC 10 - Interpretação sobre aplicação inicial ao Ativo Imobilizado e a Propriedade para Investimento 619/09 1.263/09 I-CPC 11 IFRIC 18 Reconhecimento em Transferência de Ativos dos Clientes 620/09 1.264/09 I-CPC 12 IFRIC 1 Mudanças em Passivos por Desativação, Restauração e Outros Passivos Similares 621/09 1.265/09 O-CPC 01 - Entidades de Incorporação Imobiliária 561/08 1.154/09 O-CPC 02 - Esclarecimentos sobre as Demonstrações Contábeis de 2008 Ofício- Circular CVM/SNC/ SEP nº 01/2009 1.157/09 O-CPC 03 - Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação Ofício- Circular CVM/SNC/ SEP nº 03/2009 1.199/09 GUIA BDO 2009-2010 33GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Auxiliar os auditores independentes a • formar opinião sobre a conformidade das demonstrações contábeis com os pronunciamentos técnicos. Apoiar os usuários das demonstrações • contábeis na interpretação de informações nelas contidas, preparadas em conformidade com os pronunciamentos técnicos. Proporcionar, aos interessados, informações • sobre o enfoque adotado na formulação dos pronunciamentos técnicos. Essa estrutura conceitual básica, ao longo de seu texto, aborda: O objetivo das demonstrações contábeis.• As característicasqualitativas que • determinam a utilidade das informações contidas nas demonstrações contábeis. A definição, o reconhecimento e a • mensuração dos elementos que compõem as demonstrações contábeis. Os conceitos de capital e de manutenção do • capital. CPC 01 – REDUçãO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS O pronunciamento define procedimentos visando assegurar que os ativos (ou conjunto de ativos relevantes relacionados às atividades industriais, comerciais e de serviços) não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de ser recuperado no tempo por uso nas operações da entidade ou em sua eventual venda. Caso existam evidências claras de que os ativos estão registrados por valor não recuperável no futuro, a entidade deverá imediatamente reconhecer a desvalorização, por meio da constituição de provisão para perdas. A entidade deve avaliar, no mínimo em cada data de balanço, se há alguma indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização. Se houver alguma indicação, a entidade deve estimar o valor recuperável do ativo. O valor recuperável é determinado para um ativo isolado, a menos que o ativo não gere entradas de caixa provenientes de uso contínuo, que são em grande parte independentes daquelas provenientes de outros ativos ou de grupos de ativos. Se esse for o caso, o valor recuperável é determinado para a unidade geradora de caixa à qual o ativo pertence, a menos que: (a) o valor líquido de venda do ativo seja maior do que seu valor contábil; ou (b) o valor em uso do ativo possa ser estimado como sendo próximo do valor líquido de venda e este possa ser determinado. Uma unidade geradora de caixa do ativo é o menor grupo de ativos que inclui o ativo em uso e que gera entradas de caixa, que são em grande parte independentes das entradas de caixa provenientes de outros ativos ou grupos de ativos. A identificação de uma unidade geradora de caixa requer bom senso. Se o valor recuperável não puder ser determinado para cada ativo, a entidade identificará o menor grupo de ativos que geram entradas de caixa, em grande parte independentes. CPC 02 – EFEITOS DAS MUDANçAS NAS TAxAS DE CâMBIO E CONVERSãO DE DEMONSTRAçÕES CONTÁBEIS Objetivo Determinar como incluir transações em • moeda estrangeira e operações no exterior nas DCs de uma entidade no Brasil; Definir como converter as DCs no exterior • para a moeda de apresentação das DCs no 34 GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 Brasil para fins de registro da equivalência patrimonial e consolidação; Definir como converter as DCs de entidade no • Brasil para outra moeda. Moeda Funcional O conceito de moeda funcional trazido à legislação brasileira pelo CPC 02 está em linha com as regras aplicadas internacionalmente. Denomina-se moeda funcional aquela do ambiente econômico em que a entidade opera, devendo-se considerar, para sua definição, os seguintes fatores: Primários (devem ser priorizados): A moeda que mais influencia preços de bens e • serviços (receitas); A moeda do país cujas forças competitivas • e regulamentos mais influenciam na determinação do preço de venda; A moeda que mais influencia mão-de-obra, • material e outros custos. Secundários: A moeda pela qual são obtidos os recursos de • suas atividades financeiras; A moeda na qual são acumulados os valores • recebidos de atividades operacionais; Se as atividades da empresa são • desenvolvidas como uma extensão da controladora, adota-se a moeda funcional da controladora; Se a empresa vende e compra basicamente da • controladora; Se os fluxos de caixa da empresa são • dependentes da controladora. As transações no Brasil em moeda estrangeira devem ser contabilizadas, em seu reconhecimento inicial, na moeda funcional, aplicando-se a taxa de câmbio na data da transação, à importância em moeda estrangeira. Nas datas subsequentes, devem-se apresentar os itens monetários convertidos usando-se a taxa de fechamento, os itens não-monetários ao custo histórico (convertidos usando-se a taxa da data da transação) ou ao valor justo (convertidos usando-se as taxas da data em que o valor justo for determinado). Com relação à divulgação dessas transações, a entidade deve: Demonstrar as variações cambiais líquidas, • classificadas em conta específica do PL, e a conciliação dos montantes de tais variações cambiais, no começo e no fim do período e mencionar a partir de que data está aplicando esse procedimento; Quando a moeda de apresentação for • diferente da funcional, esse fato deverá ser citado, juntamente com a divulgação da moeda funcional e a razão para utilização de uma moeda de apresentação diferente; Quando uma entidade apresenta suas DCs em • uma moeda que não a sua moeda funcional ou a moeda de apresentação das DCs, deve: a) identificar claramente as informações como suplementares; b) divulgar a moeda utilizada; e c) divulgar a moeda funcional e o método de conversão para as informações suplementares. CPC 03 – DEMONSTRAçãO DOS FLUxOS DE CAIxA As informações sobre os fluxos de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade da entidade de gerar caixa e equivalentes de caixa e as necessidades da entidade para utilizar esses recursos. O formato GUIA BDO 2009-2010 35GUIA PARA AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2009-2010 adotado para a DFC é o de classificação das movimentações de caixa por grupo de atividades. A classificação dos pagamentos e recebimentos de caixa relaciona-se, normalmente, com a natureza da transação que lhe dá origem. Assim, por exemplo, a compra de matéria-prima para a produção é uma ‘atividade operacional’; a compra de uma máquina utilizada na geração de outros produtos é uma ‘atividade de investimento’; e a compra (resgate) de ações da própria empresa é uma ‘atividade de financiamento’. A natureza da transação deve levar em consideração a intenção da empresa para fins de classificação. Os desembolsos de caixa efetuados em investimentos adquiridos com a intenção de revenda (títulos, máquinas, terrenos, etc.) não devem ser classificados como atividades de investimento, mas como atividades operacionais. Atividades operacionais: • envolvem todas as atividades relacionadas com a produção e entrega de bens e serviços e os eventos que não sejam definidos como atividades de investimento e financiamento. Normalmente, relacionam-se com as transações que aparecem na Demonstração dos Resultados. Atividades de investimentos: • relacionam-se normalmente com o aumento e diminuição dos ativos de longo prazo que a empresa utiliza para produzir bens e serviços. Incluem a concessão e recebimento de empréstimos, a aquisição e venda de instrumentos financeiros e patrimoniais de outras entidades e a aquisição e alienação de imobilizado. Atividades de financiamentos:• relacionam- se com os empréstimos de credores e investidores à entidade. Incluem a obtenção de recursos dos sócios ou acionistas e o pagamento a estes de retornos sobre seus investimentos ou do próprio reembolso do investimento; incluem também a obtenção de empréstimos junto a credores e a amortização ou liquidação destes; e também a obtenção e pagamento de recursos de/a credores via créditos de longo prazo. Existem dois tipos de demonstrações de fluxo de caixa, sendo que as demonstrações podem ser elaboradas pelo “método direto e método indireto”. Nos apêndices anexos ao CPC3 estão divulgados modelos de DFC para entidades que não são instituições financeiras e para instituições financeiras. CPC 04 – ATIVOS INTANGÍVEIS Para fins do Pronunciamento Técnico CPC 04, ativos intangíveis são ativos não monetários identificáveis e sem substância física. Este Pronunciamento estabelece critérios para quando uma entidade deva reconhecê-los, como apurar o valor contábil e exigências quanto a divulgações específicas. Apesar de serem tratados por não possuírem substâncias
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