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das A Gabarito utoatividades FILOLOGIA PORTUGUESA Centro Universitário Leonardo da Vinci Rodovia , nº .BR 470 Km 71, 1 040 Bairro Benedito - CEP 89130-000 I daialn - Santa Catarina - 47 3281-9000 Elaboração: Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI 2018 Prof. Luiz Henrique M. Queriquelli 3UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A GABARITO DAS AUTOATIVIDADES DE FILOLOGIA PORTUGUESA Centro Universitário Leonardo da Vinci Rodovia , nº .BR 470 Km 71, 1 040 Bairro Benedito - CEP 89130-000 I daialn - Santa Catarina - 47 3281-9000 Elaboração: Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI 2018 UNIDADE 1 TÓPICO 1 Questão única: Leia o texto a seguir para responder à questão: Os estudos dos períodos anteriores ao século XIX eram muito esparsos e baseados em suposições muitas vezes infundadas, como a de que o latim derivava diretamente do grego, e este diretamente do hebraico, a suposta língua original cujo dialeto mais antigo Adão teria falado. Aos poucos, as hipóteses que ligavam o latim e o grego ao hebraico foram sendo descartadas, em grande parte devido ao interesse crescente pelas línguas do Oriente, que passaram a ser mais bem conhecidas pelo Ocidente europeu em virtude dos contatos crescentes entre os povos, derivados de um trânsito comercial e colonialista mais intenso, acirrado pelos movimentos expansionistas europeus. Muitos estudiosos, principalmente aqueles que participaram dos estudos linguístico-comparativos entre o século XIX e começo do século XX, descobriram semelhanças também entre diversas línguas da Europa, organizando essas línguas em famílias linguísticas, que, por sua vez, também eram aparentadas entre si. Exemplos mais comuns são justamente as línguas românicas, como o francês, o espanhol, o italiano, o romeno, o português etc., cujo percurso do latim até seu estado moderno foi documentado através dos mais diversos tipos de texto (políticos, literários, jurídicos etc.), e também as línguas germânicas, como o inglês, o holandês, o alemão, o islandês, o dinamarquês etc., que descendem de uma língua chamada de protogermânico. Fonte: GONÇALVES, Rodrigo Tadeu; BASSO, Renato Miguel. História da Língua. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2010. p. 12. 4 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A A partir desta leitura, julgue as afirmações a seguir: I. A revolução ideológica pela qual a Europa passou a partir de meados do séc. XVII, as navegações ultramarinas e a consequente expansão do conhecimento sobre as línguas humanas pelo mundo fizeram com que a compreensão sobre a natureza e a mudança das línguas humanas mudasse, dando origem aos estudos filológicos modernos. II. A filologia pode ser compreendida como “o estudo dos textos antigos”, pois inicialmente ela consistia no estudo de textos antigos, para fins de estabelecimento, interpretação e edição, embora na Idade Moderna os filólogos tenham passado a assumir também a tarefa de descrever e explicar o desenvolvimento histórico das línguas com base nos textos antigos. III. Os estudos indo-europeus, além de serem um marco da filologia, fizeram nascer a ciência que dominaria os estudos da linguagem, a linguística, relegando para a filologia um campo de ação mais limitado. IV. A história do latim ao surgimento do português pode ser resumida nos seguintes estágios: latim vulgar (levados pelos soldados à Ibéria) > romance ibérico (com influências germânicas e árabes) > elevação do romance ibérico falado no Condado Portucalense à condição de língua quando esse condado se torna o Reino de Portugal. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I, II e IV. c) ( ) I, III e IV. d) (x) Todas as afirmações estão corretas. TÓPICO 2 Questão única: Leia o seguinte trecho da obra Linguística Histórica, de Carlos Alberto Faraco, para responder à próxima questão: Se contrastarmos o português falado hoje na maioria das regiões brasileiras por pessoas de gerações bem diferentes, vamos observar, por exemplo, que na fala dos mais idosos (digamos, a geração de mais de 75 anos), o último som de palavras como mal, papel, lençol é ainda, muitas vezes, uma consoante lateral, semelhante ao primeiro som de palavras como lama, leite, lado; enquanto na fala das outras gerações o último 5UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A som é a semivogal /w/, idêntica ao último som de palavras como mau, céu, vendeu. Houve aí um processo de mudança sonora que alterou a realização do /l/ em fim de sílaba e cujas formas antiga e nova ainda coexistem, embora a mudança já́ esteja praticamente consolidada em todo o Brasil, sobrevivendo a forma antiga apenas em algumas variedades regionais ou na fala das gerações mais velhas. Fonte: FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica. 2. ed. rev. e amp. São Parábola: São Paulo, 2005. p. 21-22. A análise feita por Faraco nesse trecho pode ser considerada típica da linguística histórica, e não da linguística diacrônica, porque: a) ( ) Trata de uma transformação histórica, e não diacrônica. b) ( ) Mostra a mudança ao longo do tempo. c) (x) Explica a mudança ao longo do tempo recorrendo não apenas a fatores linguísticos, mas também a fatores sociais, como a idade dos falantes (as diferenças entre gerações). d) ( ) Explica a mudança ao longo do tempo recorrendo estritamente a fatores linguísticos. TÓPICO 3 1 Em que medida podemos afirmar que a identidade de uma língua está carregada de historicidade? Que exemplos poderíamos dar em relação ao português brasileiro? R.: Sendo a língua uma instituição humana, logo, podemos dizer que ela tem historicidade, pois ela evolui no tempo reativamente às mudanças do meio social e natural onde é usada, embora sempre guarde consigo memórias, registros, marcas dos seus estágios anteriores. Se admitirmos que a língua humana tem historicidade, veremos que, embora ela tenha uma história, ela também se faz no presente, por meio de uma negociação entre aqueles que a usam, isto é, o uso das línguas decorre de um confronto entre passado e presente: entre a memória dos usos que já se fizeram dela e as necessidades ou contingências do presente. A Unidade 2 traz uma série de aspectos históricos do português brasileiro, como vocalismo e o alçamento vocálico, o consonantismo, os clíticos, a dupla negação, o gerúndio continuativo, o condicional analítico, os particípios rizotônicos e o dativo com infinitivo. 6 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A 2 Como a língua se conecta à identidade de uma pessoa? R.: Existem muitas conexões entre língua e identidade subjetiva, mas em geral podemos dizer que parte importante da nossa identidade é a língua que falamos, ou seja, nós somos quem somos porque falamos do jeito que falamos. Por exemplo: “eu sou brasileiro, por isso eu falo fila, e não bicha, trem, e não comboio”; “eu sou brasileiro, por isso falo estou fazendo, e não estou a fazer”; “eu sou do sul, por isso prefiro tu ao invés de você”; “eu sou caipira, por isso falo po[ɹ]que, e não po[ɾ]que”; etc.; eu sou homem, por isso falo engraçado, e não fofinho”; etc. 3 Em que medida é possível afirmar que somos o que somos porque falamos a língua que falamos? R.: A resposta já está no gabarito da questão anterior. 4 O que é a identidade gramatical de uma língua? R.: A identidade gramatical de uma língua corresponde a uma combinação única de aspectos gramaticais disponíveis em um universo de línguas naturais possíveis.É, portanto, a unicidade da combinação – e não a exclusividade de um ou outro aspecto – que confere identidade gramatical a uma língua. TÓPICO 4 1 Analise os excertos a seguir para responder à questão: Assim como o português saiu do latim, pela corrupção popular desta língua, o brasileiro está saindo do português. O processo formador é o mesmo: corrupção da língua-mãe. A cândida ingenuidade dos gramáticos chama corromper ao que os biologistas chamam evoluir. [...] É risível o esforço da carrança, curto de ideias e incompreensível, que deblatera contra esse fenômeno natural, e tenta paralisar a nossa evolução linguística em nome dum respeito supersticioso aos velhos tabus portugueses [...] que corromperam o latim. (LOBATO, J. B. M. Dicionário brasileiro. RBR, v. 16, n. 64, p. 63, abr. 1921). Partindo do pressuposto de que a colocação pronominal brasileira é predominantemente proclítica, visto que nessa variedade não há pronomes oblíquos propriamente átonos, [...] a anteposição de o, a ao verbo (como em o vi) formaria um vocábulo fonético iniciado por vogal, situação em que se 7UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A manifesta a tendência à aférese dessa vogal (como em magina por imagina etc.). Ora, no nível sintático, essa vogal desempenha o papel de argumento do verbo, e assim sua perda acarretaria um prejuízo na organização da oração. Vem daqui sua substituição por ele, que se transforma na estrutura do PB numa forma invariável, apta a desempenhar a função de nominativo ou de acusativo. Não é necessário, portanto, recorrer à influência de falares crioulos para justificar essa construção, como fizeram diversos autores. (MATTOSO CÂMARA Jr., J. M. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1957, p. 43). Os processos linguísticos que ainda podem ser observados nas comunidades de fala afro-brasileiras podem refletir processos de variação e mudança muito representativos na história linguística do Brasil, sobretudo entre os séculos XVII e XIX; período em que o português tinha de conviver com centenas de línguas indígenas e africanas. E considerando que, desde então, os falantes nativos do português europeu e seus descendentes diretos constituíam apenas um terço de toda a população, esses processos de variação e mudança induzidos pelo contato entre línguas podem estar na base de tudo isso que se denomina português brasileiro. (LUCCHESI et al. O português afro-brasileiro. Salvador: UFBA, 2009. p. 82-83). Considerando os estudos que você realizou sobre a formação do português brasileiro, é possível afirmar que os três excertos apresentados representam, respectivamente, as teses: a) ( ) Biologista, externalista e internalista. b) ( ) Externalista, biologista e internalista. c) (x) Biologista, internalista e externalista. d) ( ) Internalista, externalista e biologista. UNIDADE 2 TÓPICO 1 1 Pense que você é um professor de língua portuguesa e, no meio de uma aula, um estudante diz ou escreve no quadro palavras como aspro (ao invés de áspero), pêsco (ao invés de pêssego), urça (ao invés de úlcera), figo (ao invés de fígado). Os demais colegas, então, começam a rir desse estudante. Como você reagiria, ciente dos estudos que fizemos neste tópico? 8 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A a) ( ) Corrigiria imediatamente o estudante, enfatizando que aquelas palavras não existem. b) ( ) Reprovaria a atitude da turma, dizendo que não há certo e errado na língua, e que todos podem se expressar como quiserem, sem medo de sofrer alguma reprovação. c) (x) Explicaria para a turma que a maneira como o estudante escreveu reflete um fenômeno típico da língua portuguesa, que é a redução das vogais átonas, e que esse fenômeno se manifesta, por exemplo, no dialeto daquele estudante, embora aquelas formas sejam incorretas conforme a norma culta. d) ( ) Explicaria para a turma que a maneira como o estudante escreveu decorre de uma dislexia da qual ele sofre, e diria que ele não pode ser zombado por isso. 2 Por que, no Brasil, para diferenciar o presente e o perfeito de verbos terminados em -ar na 1ª pessoa do plural, é comum usarmos o presente contínuo em oposição ao passado (estamos cantando vs. cantamos), usarmos as formas cantamo vs. cantemo, ou ainda usarmos advérbios para marcar o tempo (cantamos agora vs. cantamos ontem), ou mesmo usarmos outras estratégias? Como isso se explica pela história da língua? R.: No português brasileiro, ocorre uma neutralização morfológica entre o presente e o perfeito do indicativo para a 1ª pessoa do plural (dizemos cantamos agora e cantamos ontem: a forma é igual, mas o sentido é diferente). Para resolver essa neutralização e evitar a ambiguidade, é comum usarmos o presente contínuo em oposição ao passado (estamos cantando vs. cantamos), usarmos as formas cantamo vs. cantemo, ou ainda usarmos advérbios para marcar o tempo (cantamos agora vs. cantamos ontem), ou mesmo usarmos outras estratégias. Na história da formação do português, alguns dialetos desenvolveram uma oposição entre /a/ e /ɐ/ (cantamos vs. cantámos), e isso explica o atual português europeu, ao passo que essa oposição não se desenvolveu em outros dialetos, por exemplo, naqueles que formaram o português brasileiro. A história dessa neutralização remonta ao latim: no latim literário do período clássico, nos verbos de primeira conjugação, havia diferenciação entre o presente e o perfeito tanto no nível morfológico quanto no fonológico. Assim, havia amauimus para o perfeito e amamus para o presente. Entretanto, no latim tardio, a semivogal [u] nesse contexto (assim como em inúmeros outros) foi sincopada por conta das mudanças prosódicas já discutidas nas seções anteriores: na passagem do latim para o protorromance, a língua mudou para o padrão acentual e, logo, as síncopes se tornaram sistemáticas. Isso teria feito 9UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A com que as terminações do perfeito -aui, -auisti, -auimus, -auistis, -auerunt passassem para -ai, -asti, -aut, -amus, -astis, -arunt, de que resultaram, segundo leis fonéticas normais, as formas portuguesas. TÓPICO 2 Questão única: Novamente, imagine-se como um professor de língua portuguesa. No meio de uma aula, um estudante diz ou escreve frases como “o home é forte”, “fizemo uma viage longa”, ou “os menino foru jogar bola”. Como você usaria seus conhecimentos de filologia portuguesa para explicar que existem motivos históricos para que ele se manifeste dessa maneira, embora a norma culta brasileira difira da norma dialetal desse estudante? Como você o estimularia a aprender a norma culta, sem menosprezar o vernáculo dele, isto é, a língua que ele traz de casa? R.: É importante explicar que essas formas vernaculares manifestadas pelo estudante decorrem de um fenômeno milenar na língua, que acontecia já no latim arcaico (o apagamento de -s e nasal final). Portanto, ao usarmos o nosso vernáculo, não há nada de errado em se expressar dessa maneira; afinal, trata-se de uma regra da variedade vernácula. Na norma culta, porém, a regra difere, e o apagamento desses sons (que eventualmente constituem marcas de concordância) é uma infração à regra. Por isso, para que não sejamos prejudicados nas situações em que a norma culta é exigida, é importante que também a aprendamos. TÓPICO 3 1 Continuando a pensar nas aplicações práticas dos conhecimentos aqui obtidos para o ensino de língua portuguesa, o que você responderia a um estudante caso este lhe perguntasse: “Como devo dizer: o personagem ou a personagem, o alface ou a alface, o quiche ou a quiche, o herpes ou a herpes, o cônjugeou a cônjuge, o echarpe ou a echarpe, o entorse ou a entorse, o grafite ou a grafite, o mascote ou a mascote?” a) ( ) Você pensa em como atribui gênero a esses vocábulos e responde conforme as regras do seu idioleto, isto é, eu digo “o personagem”, “o alface”, “o quiche”, “a herpes”, “o cônjuge”, “o grafite”, “o mascote”, e informo essas atribuições de gênero como as corretas. 10 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A b) ( ) Você diz que o gênero de “personagem, cônjuge e mascote” depende do sexo do ser ao qual nos referimos; nos demais casos, o certo é “o alface”, “o quiche”, “a herpes” e “o grafite”. c) (x) Você explica que o gênero de “personagem, cônjuge e mascote” depende do sexo do ser ao qual nos referimos; nos demais casos, o gênero é vacilante (pode ser “o/a alface”, “o/a quiche”, “o/a herpes” e “o/a grafite”), pois são nomes de tema em e, e os nomes dessa classe não têm gênero predefinido, o que faz com que eles possam ter o gênero vacilante. d) ( ) Você sugere aos estudantes procurar consultar um dicionário para verificar qual é o gênero correto. 2 Imagine que um estudante, ao ouvir seu colega dizer “não entendi isso aqui não”, advirta-o ironicamente dizendo: “Então você entendeu! Quem nega duas vezes, está afirmando, não é, professora?” O que você responderia a esse estudante? Como você usaria seus conhecimentos filológicos para elaborar uma resposta construtiva? R.: Nesse caso, é importante explicar ao estudante que nem sempre a dupla negação gera uma afirmação positiva. Em algumas línguas do mundo, isso acontece, mas na grande maioria (em praticamente todas as línguas latinas, por exemplo) a dupla negação é enfática e gramatical, isto é, é uma regra da gramática natural dessas línguas e historicamente surgiu para dar ênfase à negação. Esse é o caso do português brasileiro. Portanto, dizer que “quem nega duas vezes, está afirmando” não se aplica a todas as línguas naturais, como é o caso do português. TÓPICO 4 1 Leia o texto abaixo para responder à questão a seguir: Quero pedir permissão à língua portuguesa para usar duas palavras que, na verdade, são inexistentes oficialmente, quais sejam: crackudo e vacilão. Crackudo é originário do termo crack. A palavra foi recentemente criada para identificar o indivíduo que é usuário dessa droga, ou seja, crackudo nada mais é do que o consumidor do crack. Quanto a vacilão, tal palavra é originada do verbo vacilar, que significa não estar firme, cambalear, enfraquecer, oscilar. Vacilão, na 11UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A linguagem popular, nada mais é do que o indivíduo que não mede as consequências dos seus atos e sempre ingressa em algo que não é bom para si e que só lhe traz malefícios ou aborrecimentos. E, em assim sendo, o crackudo é um vacilão! FONTE: Disponível em: <www2.forumseguranca.org.br/ node/22783>. Acesso em: 12 ago. 2011 (com adaptações). O sufixo [-ão] opera como uma desinência formadora de aumentativos, superlativos e agentivos em português, como indicado no exemplo apresentado no texto acima. Tem-se, também, o sufixo [-udo], que indica grande quantidade de X; em seu uso mais típico, X é igual à parte aumentada (orelhudo, narigudo, beiçudo, barrigudo etc.). Considerando essas informações e o texto acima, conclui-se que o vocábulo “vacilão” possui um sufixo: a) ( ) Agentivo, como o que se observa em “caminhão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, ocorre a mesma motivação semântica existente em “beiçudo”. b) ( ) Agentivo, como o que se observa em “mijão”, e que o sufixo [-udo] em “crackudo” apresenta a mesma motivação semântica existente em “orelhudo” e “narigudo”. c) (x) Agentivo, assim como o vocábulo “resmungão”, e que o uso do sufixo [-udo] em “crackudo” resulta em uma formação vocabular incomum na língua portuguesa. d) ( ) Aumentativo, como o que se observa em “macarrão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, se observa a mesma motivação semântica existente nos vocábulos “orelhudo” e “sisudo”. e) ( ) Aumentativo, como o observado em “panelão”, e que, no caso do sufixo [-udo] em “crackudo”, se observa uma construção incomum na língua portuguesa, dada a produtividade baixa do referido sufixo. 2 Considerando que, como vimos, o gerúndio ablativo latino vem se expandindo progressivamente nas línguas românicas e, particularmente, no português brasileiro, como avaliar o chamado gerundismo, o famoso “vamos estar atendendo”, caricaturado na fala de atendentes de telemarketing? Perceba que temos aí o verbo auxiliar de futuro (ir) + a perífrase formada como gerúndio continuativo (uma forma extremamente antiga na língua). É cabível ridicularizar esse emprego? R.: Não é cabível ridicularizar esse emprego como se ele fosse fruto da ignorância dos falantes ou de um vício de linguagem, já que (1) a formação do futuro analítico com o verbo ir já está plenamente consolidada na língua há séculos; e (2) o gerúndio continuativo (estar atendendo) é uma permanência 12 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A histórica do latim na nossa língua. Portanto, a compreensão de que se trata de um vício de linguagem, fruto de baixa escolarização, é falsa. 3 Considerando os processos de formação de particípios rizotônicos que estudamos na terceira seção deste tópico, imagine que um falante de português brasileiro (você, por exemplo!) quisesse empregar o mais que perfeito composto (por ex.: eu tinha aberto) do verbo cantar e quisesse usar o particípio rizotônico (aquele mais curtinho), por achá-lo mais bonito. Que forma você usaria? Reflita sobre a sua escolha e disserte sobre ela aqui. R.: A opção mais provável nesse caso seria a forma eu tinha canto. Isso se deve ao fato de que, atualmente na nossa língua, o processo mais produtivo para geração de particípios rizotônico é o espelhamento da forma da 1ª pessoa singular do indicativo presente (1PIndP) (por ex., eu canto), assim como acontece em eu pago, eu tinha pago, eu trago, eu tinha trago etc. Esse é um processo antigo, que data pelo menos desde o período do português clássico. 4 Imagine que você decidiu explicar aos seus alunos que tanto a construção “pra mim fazer” quanto a construção “pra eu fazer” eram possíveis no português antigo e tinham correspondência no latim. Então, um de seus alunos resolve perguntar: então eu posso escrever “pra mim fazer” na redação? Como você explicaria para esse aluno que essa forma não é apropriada numa redação, apesar de ser justificável estruturalmente na língua? R.: É importante explicar que essa forma vernacular (pra mim fazer) decorre de um fenômeno milenar na língua, que se manifestava já no latim (o dativo de agente). Portanto, ao usarmos o nosso vernáculo, não há nada de errado em se expressar dessa maneira; afinal, trata-se de uma regra da variedade vernácula. Na norma culta, porém, a regra difere, e a construção com o pronome oblíquo (mim, ti) é uma infração à regra, que prescreve o uso do pronome reto com o infinitivo preposicionado (para eu fazer, para tu fazeres etc.). Por isso, para que não sejamos prejudicados nas situações em que a norma culta é exigida, é importante que também a aprendamos e a saibamos usar com adequação. 13UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A UNIDADE 3 TÓPICO 1 Questão única: Leia o texto para responder à questão a seguir (adaptado de Enade 2014): Todas as nossas manifestações verbais mediante a língua se dão como textos, e não como elementos linguísticos isolados. Esses textos são enunciados no plano das ações sociais situadase históricas. Bakhtinianamente falando, toda manifestação linguística se dá como discurso, isto é, como uma totalidade viva e concreta da língua, e não como uma abstração formal que se tornou o objeto preferido e legítimo da linguística. O enunciado ou discurso não é um ato isolado e solitário, tanto na oralidade como na escrita. O discurso diz respeito aos usos coletivos da língua, que são sempre institucionalizados, isto é, legitimados por alguma instância da atividade humana socialmente organizada. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA B.; BRITO, K. S. (Org.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. Com base no fragmento de texto apresentado a respeito das manifestações verbais orais ou escritas, avalie as afirmações a seguir. I. Não são independentes das estruturas sociais e, por isso, são coletivas e socialmente organizadas. II. São constituídas por/nas ações sociais e, portanto, são dotadas de dinamicidade e historicidade. III. Podem ser consideradas estáticas e institucionalmente convencionalizadas e, portanto, são ações sociais situadas. É correto o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) III, apenas. c) (x) I e II, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) I, II e III. 14 GABARITO DAS AUTOATIVIDADES UNIASSELVI NEAD F I L O L O G I A P O R T U G U E S A TÓPICO 2 Questão única: Leia o texto a seguir para responder à questão (adaptado de Enade, 2005): O trecho é parte da transcrição de uma entrevista oral, concedida por uma senhora de 84 anos, moradora de Barra Longa (MG). Pertence ao corpus de uma pesquisa realizada na cidade, envolvendo pessoas idosas com pouca ou nenhuma escolaridade e que não habitaram outros lugares. A entrevistada fala sobre a existência da figura folclórica do lobisomem. é... eu veju contá qui u... a mulher tava isfreganu ropa.... i quanu ea istendeu ropa nu secadô veiu um leitãozim... i pegô a fuçá a ropa dela... ea foi... cua mão chuja di sabão ea deu um tapa assim nu... nu... nu... nu fucim du leitão... u leitão sumiu.... quanu ea veiu i chegô dentru di casa... ea tinha dexadu u mininu nu berçu... quanu ea chegô u mininu tava choranu... eli tava cua marca di sabão [Obs.: Nessa transcrição, as reticências indicam pausas] (Adaptado de E. T. R. Amaral. “A transcrição das fitas: abordagem preliminar”.) Quanto aos aspectos fônicos e seu estatuto sociolinguístico, é correto afirmar que o falar da senhora entrevistada: a) ( ) Exemplifica processos como a supressão de segmentos em tava, contá e pego, que são frequentes em localidades rurais isoladas, mas raros nas variedades linguísticas contemporâneas de outras localidades do Brasil. b) (x) Registra alterações presentes em distintas variedades do Português do Brasil, como a harmonização vocálica em mininu e uma alteração específica, a assimilação de ponto de articulação em chuja, frequentemente estigmatizada na língua. c) ( ) Apresenta processos característicos das variedades urbanas cultas, como o apagamento de segmentos em leitãozim e ea. d) ( ) Concentra traços de arcaísmo linguístico condicionados pela idade avançada da senhora, como a nasalização da vogal tônica sucedida por consoante nasal (quanu, isfreganu). e) ( ) É inovadora quanto à redução do ditongo /ow/ chegô, pegô, ropa, pois esse processo emerge na língua a partir da segunda metade da década de 1980. TÓPICO 3 Questão única: Leia o diálogo a seguir, entre um professor de português e seu ex-aluno, para responder à questão: 15UNIASSELVI NEAD GABARITO DAS AUTOATIVIDADES F I L O L O G I A P O R T U G U E S A E aí, Professor Pedro, tudo bem? Lembra de mim? Oi, Vitor. Claro que lembro de você! Como vai? O que anda fazendo? Pois então, acabei de chegar na cidade. Estava viajando a trabalho. Agora sou representante comercial. Que coisa boa! Fico feliz em ver o sucesso dos meus ex-alunos. Obrigado, professor. É muito bom ver o senhor também. O senhor me dá licença, que eu preciso ir no banheiro? Ops... Preciso ir ao banheiro. Ao banheiro! Claro, fique à vontade, Vitor. Foi um prazer revê-lo. Pra mim também, professor. Tudo de bom! A partir dos estudos que fizemos neste tópico, eleja a alternativa CORRETA: a) ( ) O ex-aluno se corrige ao dizer “ir no banheiro”, optando por “ir ao banheiro”, porque de fato a primeira variante não existe, e ele se envergonhou ao usá-la diante de seu ex-professor de português. b) ( ) O ex-aluno se corrige ao dizer “ir no banheiro”, optando por “ir ao banheiro”, mas não se corrige ao dizer “cheguei na cidade”, porque este último uso está correto na norma culta, enquanto que o primeiro está errado. c) (x) O ex-aluno se corrige ao dizer “ir no banheiro”, optando por “ir ao banheiro”, mas não se corrige ao dizer “cheguei na cidade”, e isso mostra que o uso da preposição em com verbos de movimento, além de antigo, é normal no vernáculo brasileiro, mas ainda é hipercorrigido em alguns empregos particulares, como “ir no banheiro”. d) ( ) O ex-aluno se corrige ao dizer “ir no banheiro”, optando por “ir ao banheiro”, mas não se corrige ao dizer “cheguei na cidade”, porque neste último uso não temos o emprego de um verbo de movimento.
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