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POLÍTICA DE SEGURIDADE SOCIAL – ASSISTÊNCIA SOCIAL AULA 3 Profª Neiva Silvana Hack 2 CONVERSA INICIAL Estamos iniciando a aula sobre a trajetória histórica da assistência social no Brasil. Recordemos que, para uma boa compreensão sobre um assunto, não se pode estudá-lo de forma estática; é preciso considerar os determinantes que o tornaram o que é no presente. Assim, faz-se indispensável conhecer a história que compõe um objeto de estudo e, neste caso, a história da política pública de Assistência Social. Para isso, será feito um resgate temático desde as primeiras expressões de assistência social no país, quando era uma ação de caráter apenas voluntário e caritativo. Passaremos pela relação do Estado com a assistência e pelas formas como conduziu suas ações em diferentes fases políticas: Era Vargas, Ditadura Militar, Pós-Constituição de 1988. Discutiremos aspectos históricos que influenciam a forma de atuação da assistência social até os dias de hoje e trataremos de conquistas que foram alcançadas na perspectiva dos direitos sociais. TEMA 1 – ASSISTÊNCIA SOCIAL, CARIDADE E FILANTROPIA O reconhecimento da Assistência Social como política pública se deu em 1988, com sua inserção no tripé da seguridade social, juntamente com as políticas de saúde e previdência social (BRASIL, 1988). Contudo, sua história antecede tal marco histórico, com diferentes características em cada momento. A assistência social no Brasil inicia-se a partir de ações de caridade, organizadas por entidades da sociedade civil, em geral religiosas. Destaca-se nesta história o papel das Santas Casas de Misericórdia, que prestavam serviços de assistência e de saúde aos pobres. Tratava-se, na época, de uma prática voluntarista, fundamentada principalmente nas doutrinas religiosas acerca da caridade e solidariedade (SPOSATI et al, 2014). Trata-se da mesma base que caracteriza certas ações e instituições como filantrópicas, cujo termo de origem grega significa “amor à humanidade”. Não havia até a década de 1930 uma responsabilização estatal sobre tais ações. 3 TEMA 2 – ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO GETÚLIO VARGAS A partir da década de 1930, durante o Governo Getúlio Vargas, inicia-se um novo posicionamento do Estado brasileiro acerca das ações de Assistência Social. O momento político contava com maior organização dos trabalhadores, exigindo maior responsabilização do governo com as demandas sociais. Foram consolidadas conquistas no campo dos direitos trabalhistas e da previdência social. Na área da assistência social, o Governo Vargas destaca-se pela criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), voltado à organização e ao subsídio de ações de assistência de instituições privadas e públicas, e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), cujo objetivo inicial era atender às famílias dos soldados enviados para a guerra, mas teve sua abrangência ampliada para o atendimento das famílias empobrecidas. A gestão da assistência social pelo governo sob os modelos do CNSS e da LBA era centralizada e reforçava o caráter voluntário e filantrópico das ações. TEMA 3 – CONSELHO NACIONAL DE SERVIÇO SOCIAL Devemos destacar que, apesar de seu nome, o Conselho Nacional de Serviço Social não estava relacionado à algo estrito à profissão do Serviço Social, mas dizia respeito a ações de assistência social. Tais aplicações de nomenclaturas ao longo da história incidem em confusões de conceitos até os dias de hoje. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, determinou a extinção do CNSS, bem como a criação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Assim, temos um emprego mais adequado de terminologias, bem como foram definidas funções que correspondem à perspectiva do controle social e participação neste novo Conselho. No antigo CNSS, não havia mecanismos de controle social pela população. Ele era composto por pessoas indicadas diretamente pelo Presidente da República, em geral vinculadas a iniciativas filantrópicas. Ao CNSS incumbia avaliar pedidos de subvenção e de isenções tributárias para organizações da iniciativa privada. 4 TEMA 4 – ASSISTÊNCIA SOCIAL, DIREITO CONQUISTADO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Como já vimos, a Assistência Social passa a ser reconhecida como direito e como política pública a partir da aprovação da Constituição Federal de 1988. Alguns aspectos merecem especial destaque: Sua inserção no conjunto de políticas constitutivas da seguridade social; O reconhecimento como política não contributiva destinada a quem dela precisar; A delimitação de públicos destinatários de suas ações, sendo principalmente a família, a infância, a adolescência, a velhice e as pessoas com deficiência; A instituição de um benefício mensal equivalente a um salário mínimo para pessoas idosas ou com deficiência que não consigam suprir seu próprio sustento ou tê-lo garantido por sua família; A determinação de considerar recursos do orçamento público para a área; A indicação das diretrizes de gestão descentralizada e participativa (BRASIL, 1988). Foram conquistas resultantes de lutas populares pela defesa dos direitos sociais. TEMA 5 – LOAS E NOBS (Lei Orgânica de Assistência Social e Normas Operacionais Básicas) Para que um direito constitucional possa ser materializado, é necessário que os artigos que lhe dizem respeito na Constituição sejam regulamentados por lei específica. Assim aconteceu com a assistência social. Os artigos 203 e 204 da Constituição Federal foram regulamentados pela Lei 8.742, em 7 de dezembro de 1993, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Na LOAS estão detalhados os objetivos, os princípios e as diretrizes da assistência social em todo o território nacional. Ela define a necessária participação das três esferas de governo (municípios, estados e União) na gestão e cofinanciamento desta política. Determina parâmetros para o controle 5 social e classifica as ações da Assistência Social em benefícios, serviços, programas e projetos. Recomendamos, neste momento, que você pesquise por esta lei e faça a leitura de seu texto, na íntegra. Para a execução da LOAS, constam normativas específicas: as Normas Operacionais Básicas (NOBs). NA PRÁTICA Para fixar o conteúdo desta aula, faça o seguinte exercício. Construa uma linha do tempo da assistência social. Faça uma linha que inicie na década de 1930 e encerre na década de 2010. Sinalize datas importantes para a assistência social ao longo deste período e o fato marcante em cada data. FINALIZANDO Chegamos ao final de mais uma aula. Nesta oportunidade pudemos conhecer mais sobre a trajetória histórica da assistência social no Brasil. Compreendemos que inicialmente as ações de assistência não eram asseguradas como direito da população, mas a materialização de princípios de caridade e de solidariedade. As primeiras ações organizadas de assistência social estão principalmente vinculadas a entidades religiosas. Aprendemos que a partir da década de 1930, com o Governo Vargas, houve maior responsabilização do Estado pelas demandas sociais, como resposta a uma sociedade que se organizava e exigia seus direitos, principalmente dentre a classe trabalhadora. Nessa perspectiva foram constituídos o Conselho Nacional de Serviço Social e a Legião Brasileira de Assistência, que eram conduzidos pelo Estado, mas ainda replicavam práticas de cunho voluntário. Finalizamos com os textos legais que reconheceram a assistência enquanto direito. 6 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Casa Civil, 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 22 set. 2017. _____. LOAS – Lei Orgânica da AssistênciaSocial. Lei Federal n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Brasília: Casa Civil, 1993. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm>. Acesso em: 22 set. 2017 _____. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Especial apresenta história da Assistência Social no Brasil (filme). Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=qPE5MdntV2Y>. Acesso em: 22 set. 2017 PEREIRA, P. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2011. SPOSATI, A. et al. A assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
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